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ATO EDUCATIVO – CONTEXTO

E INTERVENIENTES
UFCD - 10648

Duração do Módulo 25h


MANUAL DE FORMAÇÃO - UFCD 10648 - ATO EDUCATIVO : CONTEXTO E INTERVENIENTES

ATO EDUCATIVO – CONTEXTO E


INTERVENIENTES
INDICE

Conceito de educação......................................................................................................................................................................................5
Destinatários......................................................................................................................................................................................................11
Valor da educação ..........................................................................................................................................................................................12
Contextos de atendimento à criança/jovem ................................................................................................................................22
Estabelecimento Escolar........................................................................................................................................................22
Domicílio...........................................................................................................................................................................................24
Instituições De Acolhimento ...............................................................................................................................................26
Hospital..............................................................................................................................................................................................29
Centro De Atividades De Ocupação De Tempos Livres ....................................................................................30
Atividades De Ocupação De Tempos Livres .............................................................................................................31
Principais Agentes Educativos...............................................................................................................................................................33
Criança ...............................................................................................................................................................................................33
Família................................................................................................................................................................................................34
Representantes Legais ............................................................................................................................................................35
Comunidade ...................................................................................................................................................................................35
Educadores .....................................................................................................................................................................................37
Papel Do Educador Como Agente Educativo E Seu Perfil Psicopedagógico...................................... 41
Interação Estabelecimento Escolar/Instituições De Apoio/ Família-Comunidade ........................... 43
Bibliografia ................................................................................................................................... 45

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INTERVENIENTES

OBJETIVOS GERAIS DO MANUAL

 Definir o conceito de ato educativo.


 Identificar os destinatários do ato educativo.
 Reconhecer o valor da educação.
 Explicar a importância da interação estabelecimento de educação, instituições
de apoio, família e comunidade.
 Identificar o perfil e o papel do educador como agente educativo.

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INTERVENIENTES
INTRODUÇÃO

Aprender e ensinar faz parte da existência humana, como dela fazem parte a
linguagem, o amor, o ódio, o medo, a curiosidade, então, não há como aprender e
ensinar sem essas atividades humanas.

Seria realmente impensável que um ser “programado para aprender”, inacabado,


mas, consciente das suas limitações, pois, nós seres humanos estamos sempre à procura
de algo mais, curioso em torno de si e com o mundo, sempre preocupado com o
amanhã, num infinito processo de formação.

Este manual aborda temas como o conceito da educação e os seus valores, os


contextos de atendimento da criança e jovens, os principais agentes educativos e destaca
a importância tanto do papel do educador como da interação entre a escola – família.
Afinal o que será o Ato Educativo?

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CONCEITO DE EDUCAÇAO INTERVENIENTES

A educação pode ser definida como sendo o processo de socialização dos


indivíduos. Ao receber educação, a pessoa assimila e adquire conhecimentos. A
educação também envolve uma sensibilização cultural e de comportamento, onde as
novas gerações adquirem as formas de se estar na vida das gerações anteriores.
O processo educativo é materializado numa série de habilidade e valores, que
ocasionam mudanças intelectuais, emocionais e sociais no indivíduo. De acordo com o
grau de sensibilização alcançada, esses valores podem durar toda a vida ou apenas
durante um determinado período de tempo.
A educação pode ser vista como um verdadeiro sistema, já que ela abrange
alguns procedimentos e também ferramentas. Ou seja, ela não funciona sozinha.

Por exemplo: a educação escolar ou universitária faz uso de livros para que os
alunos adquiram conhecimento com auxílio deles e do professor que ministra as aulas.
Educação física, educação ambiental, educação visual e vários outros tipos partem de
conceito de ensinar e aprender que é a educação em si.

No caso das crianças, a educação visa fomentar o processo de estruturação do


pensamento e das formas de expressão. Contribui para o processo de maturidade
sensório-motor e estimula a integração e o convívio em grupo.
A educação formal ou escolar, por sua vez, consiste na apresentação sistémica
de ideias, factos e técnicas aos alunos. Uma pessoa exerce uma influência ordenada e
voluntária sobre outra com a intenção de a formar. Assim, o sistema escolar é a forma
pela qual uma sociedade transmite e preserva a sua existência coletiva entre as novas
gerações.

Por outro lado, convém salientar que a sociedade moderna atribui grande
importância ao conceito de educação permanente ou contínua, que defende que o
processo educativo não se limita meramente à infância e à juventude, já que o ser
humano deve adquirir conhecimentos ao longo de toda a sua vida.

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No campo da educação, outro aspeto fundamental é a avaliação, que apresenta
os resultados do processo de ensino e de aprendizagem. A avaliação ajuda a melhorar a
educação e, de certa forma, nunca tem fim, pois cada atividade realizada por um
indivíduo é submetida a uma análise para determinar se alcançou ou não os objetivos
pretendidos.

Uma pessoa é vista pelos demais como alguém educada quando ela possui um
amplo conhecimento em alguma área da ciência, por exemplo. E ainda, pessoas que
possuam uma formação superior como doutoramento, por exemplo, são vistas como
sendo as mais educadas pelas demais pessoas.
Muitos relacionam educação com conhecimento, julgando se tratarem de
sinónimos. No entanto não é bem assim. Podemos afirmar que a educação trata-se de
um tipo de conhecimento, porém não podemos afirmar que o conhecimento é um tipo
de educação.
Tendo como exemplo a citação anterior sobre alguém que possui conhecimento
ter educação, um pessoa que possui conhecimento sobre drogas sintéticas não pode ser
considerada alguém que possua educação.
O mesmo não acontece com alguém que tenha conhecimento em astronomia, por
exemplo, qual é conhecido como alguém que tem educação.
Conhecimento é essencial para qualquer área, atividade ou ação, enquanto o
conhecimento pode ser visto como algo mais relacionado, de alguma forma, com a
formação moral do indivíduo. Com tudo o que fora visto até aqui, podemos concluir que
a educação também está ligada a socialização, tendo em vista que a formação moral
existe por causa do ato de se socializar.

Para Quintas e Muñoz “todo educador é necessário que possua uma ideia clara
de educação”, contudo, o conceito de educação não é definido numa única perspectiva,
mas sim em várias, dependendo sobretudo da base psicológica de apoio ou do tipo de
aprendizagem, pode ainda ser definido em sentido amplo e estrito; Segundo Vianna, a
“educação, em sentido amplo, representa tudo aquilo que pode ser feito para

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desenvolver o ser humano e, no sentido estrito, representa a instrução e o
desenvolvimento de competências e habilidades”.
Dentre as várias perspetivas da conceção de educação, evidenciamos três
fundamentais cuja classificação tem como critério a forma como se dá a aprendizagem,
seja ela por receção, por autoconstrução ou por construção guiada, tais formas por sua
vez se alicerçam respetivamente nas teorias psicológicas comportamentalista (Skinner),
humanista (Rogers) ou psico – construtivista (Piaget) e sócio – construtivista
(Vygotsky).

De acordo com Quintas e Muñoz, as Aprendizagens podem ser classificadas


segundo o grau de planificação e estruturação da informação em:
o Receptiva: O aluno recebe a informação previamente estruturada
pelo professor, deste modo, o professor é o único que tem a responsabilidade de
investigar e estruturar a matéria, elaborando resumos que posteriormente fornece
aos seus alunos, tal como o seguinte esquema:

o Por descoberta autónoma: O aluno é quem investiga e estrutura


a informação com facilitação do professor, enfatiza-se apenas a interação entre o
aluno e a matéria, conforme as palavras de Aranha, de que “o conhecimento é
concebido como resultado da acção que se passa entre o sujeito e um
objecto…mas resulta da interacção entre ambos”, isso pode ser representado no
esquema abaixo:

o Por descoberta guiada: O aluno é quem investiga e estrutura a


informação com mediação do professor, enfatiza-se tanto a interacção entre o

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aluno e a matéria, como a interacção social entre o aluno e o professor ou
colegas, o que pode ser esquematizado da seguinte forma.

EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA CONDUCTISTA OU COMPORTAMENTALISTA

Na aprendizagem recetiva entendemos a educação no sentido amplo como sendo


um processo de transmissão de conhecimentos e atitudes de gerações adultas para
gerações novas e no sentido estrito como um processo de transmissão de conhecimentos
e atitudes aos alunos pelo professor. É nesta linha de pensamento que se integra o
conceito de que, a educação é um processo que consiste na transmissão aos alunos de
um conjunto de conhecimentos e valores sociais acumulados pela comunidade
científica, como verdades universais, verdades estas, que geralmente, estão dissociadas
da experiência dos alunos e das realidades sociais para estes autores, a educação na
perspetiva condutista “caracteriza-se pela transmissão de saberes técnicos mediante um
adestramento experimental centrado no reforço”;
É uma conceção de educação que privilegia métodos didáticos centrados no
professor, tais como o expositivo e o demonstrativo, nos quais as atividades do
professor concentram-se em explicar, ditar e dar exercícios, enquanto as dos alunos são
de observar, ouvir ou escutar, anotar, responder, exercitar ou repetir, decorar ou
memorizar. Essa conceção de educação integra-se no modelo educativo tradicional e
condutista ou tecnicista, que segundo Gervilla apoia-se na base psicológica do
condutismo ou comportamentalismo, em que por sua vez, a programação curricular
baseia-se nos objetivos operativos ou nos comportamentos observáveis e na
aprendizagem memorística. Considera-se uma ideia de educação que estabelece um tipo
de relação de comunicação ao nível da sala de aulas caracterizado, conforme Quintas e
Muñoz, pelo controlo do conhecimento por parte do professor, que é o único a tomar
decisões e a controlar, pelo papel recetivo – passivo do aluno, pela existência de uma
comunicação linear e pela inexistência de relações entre os alunos.
O entendimento da educação como um processo de transmissão do
conhecimento ao aluno permite-nos determinar a organização das mesas na sala de
aulas, que geralmente encontram-se dispostas em filas e colunas, não favorecendo a
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interação face a face nem o trabalho em equipa nos alunos, o que por sua vez não
garante o desenvolvimento de competências sociais e do espírito de tolerância nos
alunos; Tal organização das mesas encontrasse representada na figura 1.

EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA HUMANISTA E PSICO – COGNITIVA

Na aprendizagem por descoberta autónoma ou pura compreendemos a educação


no sentido amplo como um processo de desenvolvimento intelectual do ser humano e no
sentido estrito como um processo de facilitação da autoconstrução de conhecimentos e
atitudes nos alunos pelo professor. De acordo com Aranha, nesta perspetiva de educação
“o professor não comanda o processo de aprendizagem, mas é antes um facilitador da
atividade do aluno. …predomina a não – diretividade, pela qual o mestre não dirige,
mas cria as condições de atuação da criança”. Para Gago, esta forma de educação
constitui-se como um processo no qual o aluno “vai construindo gradualmente o
conhecimento da realidade segundo um modelo próprio”, ele vai organizando e
relacionando o novo conhecimento com os previamente adquiridos e em seguida
armazena o novo conhecimento na estrutura mental. Dentre as características
integrantes desta conceção de educação destacam-se o aprender a aprender,
pedocentrismo (aluno como centro do ensino), o privilégio do processo de descoberta
do conhecimento em detrimento da transmissão de conteúdos.
Apresentam-se ainda como características, o princípio do aprender – fazendo
(metodologia ativa e criativa) “tornando-se o professor apenas um facilitador da
aprendizagem”, a dinâmica de grupo desenvolvida por Carl Rogers “em que dez a

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quinze pessoas interagem sob a observação de um monitor, que intervém no mínimo
possível” para dissolver as relações de autoridade que surgem. Logo, evidencia-se como
método didático deste modelo de educação o trabalho independente quer ao nível de
cada aluno ou de grupos de alunos, como no caso de experimentação, atividade
individual, análise e síntese individual de dados ou informações.
Por conseguinte, a conceção de educação como um processo de facilitação da
autoconstrução do conhecimento no aluno integra-se no modelo educativo Humanista
de Rogers e Psico – cognitivo de Piaget, que tem a inteligência ou esquemas mentais
como fator de aprendizagem, que considera o aluno como um ser pensante capaz de
construir o seu conhecimento ao interagir com o ambiente de aprendizagem e que
enfatiza a avaliação do comportamento escolar (atitude na aula, síntese da matéria,
organização, realização de tarefas escolares).

Nesta conceção de educação estabelece-se na sala de aulas um tipo de relação de


comunicação no qual o conhecimento está no grupo, o professor funciona como
animador estimulando e dinamizando os alunos durante a realização das atividades, os
alunos podem organizar-se livremente, a relação professor – aluno é individual e
permanente e as inter-relações entre alunos são livres; As mesas são organizadas em
círculo, o que melhora
a interação livre entre
alunos, porém reduz a
distância emocional
entre eles e impede o
professor de se
movimentar
livremente, conforme
mostra a figura 2.

EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA SÓCIO – COGNITIVA

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Na aprendizagem por descoberta guiada a educação é compreendida no sentido
amplo como sendo um processo de desenvolvimento integral do ser humano, no sentido
estrito a educação é vista como um processo de mediação da construção de
conhecimentos e atitudes nos alunos pelo professor. Constitui um conceito de educação
que corresponde a pedagogia histórico – crítica, considerada por Saviani como uma
nova formulação teórica da educação, na qual “a educação é entendida como mediação
no seio da prática social global”. É uma conceção de educação em que cabe ao professor
guiar o aluno na construção do conhecimento, segundo Gago,
De acordo com Gervilla, esta conceção de educação corresponde ao modelo
educativo integrador (por incluir princípios do modelo condutista e psico – cognitivo)
ou sócio – cognitivo, que tem como fator de aprendizagem a interação social, em que o
aluno é visto como um ser pensante e social que constrói o seu conhecimento ao
interagir com o professor e colegas sobre a matéria e enfatiza-se a avaliação do
comportamento escolar e social (ajuda, iniciativas de projetos sociais).
Trata-se de uma conceção de educação que estabelece uma relação interativa na
sala de aulas, em que o conhecimento encontra-se no professor e no material (livro), o
professor é orientador e facilitador da aprendizagem, os alunos se colocam em grupo
segundo as tarefas a realizar e consultam a documentação livremente, e as
comunicações são livres e estão baseadas no trabalho em equipa. E ainda, as mesas são
organizadas em grupos de 4 ou 6 alunos, o que permite a “realização escolar, a
tolerância e a aceitação da diversidade e o desenvolvimento de competências sociais”,
na medida em
que os alunos
dialogam sobre a
matéria e se
ajudam
mutuamente na
compreensão da
mesma, como
mostra a figura 3.

DESTINATARIOS
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“A aprendizagem ao longo da vida expressa a ideia de que a
aprendizagem é um processo contínuo que tem lugar ao longo de toda a
vida, e que se torna necessário pelo facto de a informação estar a
aumentar rapidamente e a mudar durante a nossa vida. A aprendizagem
não pára quando uma pessoa sai da escola ou de uma instituição de
ensino formal. O mundo da aprendizagem tornou-se parte da vida do dia-
adia e também do mundo do trabalho. Um aluno ao longo da vida é
alguém que compreende diferentes estratégias de aprendizagem e que
tem a capacidade de aplicar a estratégia adequada à tarefa de
aprendizagem que tem em mãos (p. 190).”

O Processo educativo não se limita meramente à infância e à juventudo, já que o


ser humano deve adquirir conhecimento ao longo de toda a sua vida.

Educação, é um direito fundamental de todos, perpassa o desenvolvimento


humano por meio do ensino e da aprendizagem, visando desenvolver e potencializar a
capacidade intelectual do indivíduo.

A Educação constitui um processo único de aprendizagem associado às


formações no contexto familiar, escolar e social.

A educação é um processo contínuo ao longo da vida.

VALOR DA EDUCAÇAO
A educação vai muito além do que se pode e deve aprender na escola. Em casa,
a educação não se resume ao acompanhamento do desempenho escolar. Às famílias
pede-se que eduquem através do exemplo, que não se deve resumir à forma com que se
entregam ao seu emprego.
A educação para os valores realiza-se em todos os momentos, permeia o
programa educativo e também todas as interações interpessoais na escola e as relações
desta com a família e a sociedade.
A educação, no seu sentido mais nobre e verdadeiro, não tem relação alguma
com ter ou não ter curso superior. Mais do que conhecer os valores, ser bem-educado é
ser valioso.

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O problema hoje passa por uma sociedade em que as pessoas apostam quase
todo o seu tempo e as suas forças a trabalhar, a fim de conseguirem alcançar o dinheiro
de que precisam para viver aquilo que julgam ser uma boa vida.
Mas será que o consumismo, que nos seduz a cada dia, não exige que nos
convençamos de que precisamos de muito mais do que é, na verdade, suficiente? Há
muita gente que até seria mais feliz se tivesse menos!
Há um limiar mínimo de rendimento abaixo do qual a vida perde a sai dignidade.
Mas acima dele, a infelicidade já depende mais das escolhas do que do dinheiro
existente.
Será que as crianças que passam os dias a ver os seus pais a apostar tudo nas
carreiras, como se isso fosse o mais importante, aprendem a ser felizes? Afinal, o que é
importante? O trabalho ou a família? A escola ou a família?
Até há quem chegue, cego do seu papel, a culpar a escola pela má-educação dos
filhos!
Será que os adultos que se demitem de educar, julgando que isso é uma
obrigação das escolas, acreditam que a felicidade dos filhos só depende do seu
rendimento escolar?
A nossa sociedade não é justa, na medida em que nem sequer premeia os que são
melhores.
Por que razão continuamos a acreditar que sim? E ensinar aos nossos filhos que
sim?
Quantos de nós julgam que o desemprego é um justo pântano para inúteis?
Ameaçamos os nossos filhos com a infelicidade suprema que é a dos outros nos
desprezarem…como se as multidões não estivessem quase sempre erradas! Chegamos
mesmo a acreditar que os nossos filhos nos valorizam em função do trabalho e do
salário de quem somos capazes!
A educação que mais importa não é a da formação cultural, é a boa educação. De
que importa ter um curso universitário para se ser simples e puro? Nada. Há analfabetos
que não são heróis e doutorados que são vilões. A sabedoria consiste, muitas vezes, em
libertar-se das coisas que não têm significado nenhum!
Aos pais cabe cuidar e educar através das regras, dos exemplos, do tempo e da
atenção que dedicam aos seus filhos. O trabalho deve ser um meio e nunca um fim, tal

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como a escola, tem o seu lugar, mas não é o essencial. A verdadeira alegria vem de
dentro, não nos chega através de nenhum recibo de ordenado nem de uma classificação
final.
O maior problema dos jovens de hoje parece ser o seu insaciável consumismo,
que os levará para longe da paz e os escrivará até ao limite Mas será que a
responsabilidade é só deles?
A educação é o que fica depois das adversidades do mundo nos terem obrigado a
despir as nossas superficialidades.

O professor na sala de aula bem como a escola no seu todo, naquilo que explicita
e não explicita, no que diz permitir e no que proíbe, no que incentiva e no que faz por
desconhecer, ensinam aquilo que valorizam, o que acham, justo e não justo, em suma,
ensinam valores. O ensino dos valores não se pode evitar. Todas as atividades em que se
envolve o professor desde os livros ou textos que sugere ou escolhe, as experiências que
seleciona, os trabalhos de casa que recomenda ou pede, tudo isto implica uma hierarquia
de valores. Mas não é apenas o professor, são também as regras de jogo da própria
escola, as relações entre Conselho Diretivo, professores e alunos, as circulares e ordens
de serviço, o que se pode ou não fazer no pátio, as atividades extracurriculares que se
fomentam, aquilo que é premiado ou considerado indesejável, são todas estas situações
e muitas outras que, explícita ou implicitamente, revelam os valores que se privilegiam.

O valor da educação manifesta-se nas reuniões, na sala de aula, na definição dos


capazes e dos incapazes, na maneira como são recebidas as minorias, pobres ou ricos,
frágeis ou bem constituídos, etc. Manifesta-se na aula de Ciências, nos métodos
utilizados, no maior ou menor uso de argumentos de autoridade, no maior ou menor
rigor com que se colhem os dados, na exigência de verdade nos relatos, na tolerância e
compreensão em relação à abordagem de cada um em busca de sentido para as suas
experiências. Manifesta-se na aula de História ou Estudos Sociais, nos problemas em
que o professor mais se envolve ou detém, nos documentos históricos a que se dá mais
ênfase. Manifesta-se nas aulas de Português, nos textos escolhidos, na caracterização
das personagens, na auto-expressão que é mais premiada, desencorajada ou mesmo
reprimida. Manifesta-se nos regulamentos disciplinares, nos contactos de trabalho com

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o professor, nas desculpas que se invocam. Manifesta-se na gestão da escola, nos
comentários e argumentos adoptados no Conselho Pedagógico, nas greves que se fazem
ou que se desconhecem, nas personalidades que se consideram exemplares e notáveis,
nas pessoas da comunidade que se convidam para entrarem na escola, nos sorrisos
laterais que aqui e ali, quase despercebidos, se lançam sobre esta ou aquela pessoa, este
ou aquele comentário, ou posição.

A questão moral surge a todo o momento sempre que alguém seleciona ou se


manifesta a favor ou contra qualquer comportamento, situação, pessoa ou objeto. Mas,
tudo isto acontece mesmo que não se enfrente e discuta a questão da educação para os
valores na escola.

Será que a sociedade está decidida a envolver-se nesta tarefa de ajudar


explicitamente os alunos no desenvolvimento de valores e a considerá-la como uma
legítima e desejável tarefa e, em caso afirmativo, como fazê-lo.

A teoria da clarificação de valores - Segundo os autores desta teoria, este


processo deve fazer-se sem grandes ambições iniciais, isto é, partir de um primeiro
passo em que apenas se chama a atenção das pessoas para os aspetos da sua vida que
podem indiciar algo que valorizam. Trata-se de lhes prender a atenção sobre os seus
interesses, aspirações, sentimentos, inquietações, objetivos, ou então pode seguir-se
outra via, introduzindo-a em discussões gerais da vida, mais pessoais ou sociais, tais
como a amizade, a lealdade, a ternura, a política, a lei, a ordem, etc., etc.
Um trabalho deste tipo impõe, àquele que o põe em prática, algumas regras de
jogo fundamentais, nomeadamente que se considere as posições do outro sem
julgamento ou avaliação, isto é, exige a aceitação da pessoas do outro tal como é, no
sentido de facilitar que o outro se aceite a si próprio também, e seja honesto consigo e
com os outros, por mais confusos que estejam os seus pensamentos e sentimentos.
Contudo, embora a aceitação seja uma etapa necessária, deve dar lugar a um convite à
reflexão mais séria e, sobretudo, mais alargada. Convite a que se façam escolhas mais
ponderadas, com a consciência mais esclarecida daquilo que o indivíduo realmente
estima e com uma maior integração do valor relativo das escolhas.

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Raths e seus discípulos afastam-se da definição do termo valor, considerando
como mais importante a questão do processo de aquisição dos valores de cada
indivíduo, a partir de um conjunto disponível. É o processo de recriação permanente dos
valores em cada tempo que, dizem, se pode oferecer aos jovens e que lhes servirá pela
vida fora, nas situações diversificadas em que tiverem de fazer opções. Einstein
caracterizava o nosso tempo como um em que há perfeição nos meios e confusão nos
objetivos. Muito do insucesso dos jovens, manifestando por apatia, confusão, ou
comportamento irracional pode ter lugar numa certa dificuldade relativamente ao que
vale a pena valorizar e consagrar tempo e energia. Os autores apresentam a sua
metodologia como uma via de guiar os educadores na ajuda aos alunos, para que se
tornem mais voluntariosos, mais entusiastas, mais positivos, mais coerentes e
integrando melhor a razão, as emoções e os comportamentos.
Para Raths, como se disse, interessa mais o processo de aquisição de valores.
Para cada pessoa, os valores não são verdades longínquas e inacessíveis, mas o
resultado do moldar do estilo de vida num certo conjunto de ambiente e, nesta
perspetiva, para que algo se diferencie como um valor deve passar o teste de preencher
em simultâneo certos requisitos. Caso contrário, poderá constituir uma crença ou
atitude, mas não um valor. Os sete critérios que se referem ao processo de valorização e
a que se deve submeter algo, para que seja considerado um valor, são:
(1) escolha livre;
(2) escolha de entre alternativas;
(3) escolha feita depois da consideração ponderada das consequências de cada
alternativa;
(4) ser capaz de ser elogiado e aplaudido;
(5) ser capaz de ser afirmado publicamente;
(6) manifestar-se no nosso viver e no nosso comportamento;
(7) manifestar-se em várias situações e ocasiões, isto é, ser frequente e repetir-se.
Resumindo, para que algo atinja o nível de um valor vemos que deve ser
escolhido livremente e, com a consideração das consequências de várias alternativas,
deve ser apreciado e deve manifestar-se na atuação daquele que tem esse valor. Daqui
resulta que nem tudo em nós são valores. Temos objetivos, aspirações, crenças, que não
sendo ainda ou nunca venham a ser valores, são por vezes os seus indícios ou, nos

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termos de Raths, indicadores importantes e em relação aos quais se deve iniciar o
processo de clarificação. Entre estes indicadores, estão além dos nossos objetivos,
aspirações e crenças, as nossas atitudes, interesses, sentimentos e convicções, atuações,
aborrecimento, problemas, obstáculos.
Neste processo o educador encoraja a criança, o jovem ou o adulto, a clarificar
aquilo que valorizam, e não intenta persuadi-los a aceitarem um conjunto
preestabelecido de valores. Para levar a cabo esta tarefa, o educador deverá encorajar as
crianças e jovens a fazerem mais escolhas e a fazê-las livremente, ajudar a descobrir
alternativas e a reflectir nas consequências de cada uma, ao mesmo tempo que encoraja
a considerarem o que apreciam e a afirmarem-no, quando necessário e oportuno, bem
como a actuarem e a comportarem-se de acordo com as escolhas, de maneira
sistemática. Este tipo de estratégia deverá sempre aparecer como um convite e não
como uma obrigação.

ATIVIDADES DE CLARIFICAÇÃO DE VALORES

 FOLHAS DE VALORES

São pequenas histórias, afirmações ou um conjunto de questões contendo implicações


de valores para os alunos refletirem e escreverem sobre elas, como, por exemplo, esta
sobre a amizade.

1.O que significa para ti a amizade?


2. Se tens amigos, escolheste-os ou ficaram teus amigos por acaso?
3. De que modos mostras a amizade?
4.Que importância atribuis ao facto de desenvolveres e manteres amizades?
5. Se pensas modificar o teu modo de ser, que mudanças pensas fazer? Se não pensas
fazer mudanças, escreve <Não há mudanças>.

 INCIDENTES

São relatos de pequenos incidentes, em relação aos quais se procura a reação ou opinião
dos outros.
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“Alguém foi apanhado a copiar no teste. Quando o professor o apanhou, caíram várias
folhas que serviam para copiar. O aluno afirmou que não lhe pertenciam. O professor
informou o aluno de que ia apresentar queixa ao Conselho Diretivo. O aluno acabou
por ser expulso. O rapaz tinha sido aceite para uma bolsa no ano seguinte e isto
implicava que já não a poderia utilizar, pois deste modo não completaria o secundário.
Quando os colegas souberam ficaram contentes. Serão eles cruéis ou estão apenas
satisfeitos por o caso não se ter passado com eles?”

Pensar:

1. Qual a tua primeira reação. Usa só palavras. Não são precisas frases.
2. Como te identificas com o rapaz?
3. Como te identificas com o professor?
4. O autor do texto levanta uma questão sobre os colegas. Comenta-a.
5. Copiar ou não copiar? Qual a justificação para cada posição?
6. Que alternativas se colocaram ao aluno? E ao professor? E aos outros colegas?

 COLOCAÇÃO POR ORDEM

Nesta técnica pede-se aos alunos que diferenciem entre possíveis alternativas em termos
de melhores ou piores e para analisarem e clarificarem as suas preferências em termos
de prioridade.
As escolhas apresentadas aos alunos podem variar das mais simples às mais complexas,
das mais triviais espécies de preocupações às de maior significado.

Considerem primeiro alguns exemplos:


— um grupo de amigos;
— dinheiro;
— inteligência;
— amor;
— curiosidade;
— emprego;
— cultura
— estudar
— liderança
— fama

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ATO EDUCATIVO – CONTEXTO E


INTERVENIENTES
 TELEGRAMAS COM RECOMENDAÇÕES

Cada um vai pensar em alguém da sua vida a quem gostaria de mandar uma carta que
comece com estas palavras : "Eu peço imenso que..."
Todas as cartas devem ser assinadas.
Pedir para que todos façam uma leitura em grupo

Exemplo:
Ao meu vizinho:
“Peço-lhe imenso que considere o facto de não termos outro lugar para jogar à
bola e que não chame tantas vezes a polícia!” João.

Uma das coisas que os alunos aprendem com a clarificação de valores é a descobrir o
que eles próprios na verdade querem. Ajuda na reflexão.

Pensar nas pessoas que conhecem, a quem uma carta começando com “” precisasse de
ser enviado. Em segundo lugar, ajuda os alunos a encontrarem vias alternativas para
conseguirem o que precisam e querem.

 JOGO DE PAPEIS

Aqui vamos explorar sentimentos no lugar de outras pessoas reais ou imaginárias em


situações onde os seus sentimentos e valores vêm ao de cima. Incidentes com valores e
dilemas morais proporcionam muitas possibilidades.

1. A apresentação e a introdução dos dilemas a ser explorados.


2. Seleção dos alunos para os vários papéis que, de preferência, devem
corresponder aos desejos individuais dos alunos.
3. Preparação dos restantes alunos, que não representa, para a observação e
avaliação.
4. Preparação do cenário.
5. Atuação: o principal objetivo é levar os alunos a adquirirem uma visão dos
sentimentos e valores dos outros.

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6. Discussão e avaliação de cena.
INTERVENIENTES
7. Representações subsequentes: uma oportunidade para reatarem o dilema com
diferentes alunos e alargamento de situações.
8. Discussão geral.
9. Generalização. Nesta altura, o professor pede à turma para tirar conclusões e
para pensar no que é que as pessoas naquelas circunstâncias sentiriam e porquê?

 COISAS QUE GOSTO DE FAZER

Pedir aos alunos para escreverem num papel números de 1 a 20. Em seguida,
sugere-se que escrevam tão rapidamente quanto possível vinte coisas que gostem
realmente de fazer na vida. Deve insistir-se em que os papéis não serão recolhidos ou
corrigidos e que não há respostas certas ou erradas sobre os gostos das pessoas. Não se
deve invadir de qualquer modo a privacidade individual. Quando toda a gente tiver
escrito os seus vinte itens pode passar-se à segunda fase, a da codificação das respostas.
Eis alguns exemplos de códigos que se podem indicar aos alunos:
1.Colocar um sinal de € em cada item que custe mais de 100€.
2. Pôr um R à frente de cada item, que envolva algum risco. O risco pode ser
físico, intelectual ou emocional. (Quais as coisas que embora envolvam algum risco,
gosta realmente de fazer?)
3. Usando a letra P, registe na sua lista os itens que pensa que os seus pais teriam
objetivos semelhantes se lhes tivessem pedido para fazerem quando tinham a sua idade.
4.Coloque, quer a letra C ou a letra S antes de cada item. C pode ser usado para
os itens que prefira realizar em conjunto com outras pessoas. S para aqueles que preferir
realizar sozinho.
5. Ponha o número 5 à frente de cada item que pensa que não estará na sua lista
daqui a 5 anos.
6. Finalmente, volte a ler a lista e coloque junto a cada item a data de quando
realizou pela última vez ou quando pretende atingir.

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INTERVENIENTES
Vejam a vossa lista como qualquer coisa que diz muito sobre vós próprios. Tentem
completar cada uma das frases seguintes e partilhem connosco algo daquilo que
aprenderam.
Eu aprendi que...
Eu notei que...
Eu fiquei surpreendido em ver que...
Eu fiquei desapontado porque...
Eu fiquei satisfeito de que...

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INTERVENIENTES
CONTEXTOS DE ATENDIMENTO A CRIANÇA/JOVEM

 ESTABELECIMENTO ESCOLAR

Promover o acolhimento que favoreça a adaptação da criança na escola é um


fator que será importante para todo o ano letivo e, talvez, por toda a vida escolar da
criança. Evitar constrangimentos, traumas e rejeição à escola deve ser uma tarefa
inerente aos educadores comprometidos com o bem-estar do educando como requisito
da aprendizagem.
Diante disso, a escola pode promover ações simples que servirão de “quebra-
gelo” para a inserção na vida escolar ou à nova escola.

A orientação da família para a preparar o aluno


Já no ato da matrícula, instruir a família sobre os procedimentos de adaptação da
criança será fundamental, especialmente para os que iniciam o processo escolar.
Atitudes como levar a criança para conhecer a escola previamente e conversa
sobre como ela funciona podem dar-lhe a segurança necessária para separar-se da
família.
Para criança com mais dificuldades de desligar-se da família, a sugestão é que o
responsável acompanhe a criança na escola, por períodos decrescentes de tempo por
alguns dias, até ela sentir-se mais segura.
Promover pequenas experiências de ficar, sem os pais e irmãos, em casa de
familiares e amigos pode ser útil para algumas crianças, pois já possibilita acostumar-se
com a ausência dos entes mais próximos.
O tour pela escola: conhecendo o espaço escolar e fazendo novos amigos
Os primeiros dias de aula podem ser utilizados para promover um clima de
interação entre alunos “veteranos” e “caloiros” de forma harmoniosa e divertida.
Uma prática bem interessante de realizar essa interação é criando a oportunidade
de alunos realizarem uma visita completa às dependências da escola, explicando todo o
funcionamento para os mais novos. Esse passeio pode ser ainda mais interessante se os

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INTERVENIENTES
veteranos forem motivados a criar surpresas e atividades interativas para surpreender e
acolher os novos alunos.
A escola ainda pode optar por alguém do quadro de funcionários, que seja
dinâmico e divertido para realizar essa apresentação. Usar uma caraterização (mascote
da escola ou personagem relacionada) pode ser especialmente motivador.
A recepção calorosa dos professores
A orientação para que os professores recebam de forma mais afetiva os novos
alunos parece ser redundante, mas reiterar a garantia desse tipo de atitude é
fundamental. Afinal, expor uma criança, que muitas vezes já apresenta traços de timidez
e pouca sociabilidade, pode ser uma forma cruel de castrar todas as expectativas em
relação à sua nova escola.
Desta forma, priorizar atividades coletivas, com o cuidado de não colocar
ninguém em evidência nos primeiros dias de aula, pode ser um alívio e também um
estímulo saudável para aqueles alunos que precisam de um pouco de mais tempo para se
integrarem.
Garantindo que a adaptação da criança na escola seja tranquila, são aumentadas
as possibilidades de sucesso em toda a dinâmica escolar, que será consolidada de forma
natural e contínua. Afinal, nem mesmo todos os adultos são produtivos em lugares em
que nunca estiveram.
Um acolhimento bem-sucedido mostra à criança que a escola é um ambiente
em que ela pode sentir-se bem, divertir-se e fazer novas amizades, podendo ser ela
mesma, mesmo sendo mais tímida ou extrovertida.
Além disso, a segurança oferecida por uma escola recetiva será o caminho para
crianças que sofreram traumas, abusos e perdas encontrarem uma educação uma forma
de modificar a sua realidade de forma positiva.

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 DOMICÍLIO INTERVENIENTES
Pequena, mas com vontades próprias, as crianças necessitam de disciplina
para conhecerem os limites e valores importantes como o respeito. No entanto, a
disciplina não deve ser reservada exclusivamente para os momentos em que as
crianças se portam mal deve ser algo contínuo para que a criança saiba ela própria
distinguir entre o que é certo e o que é errado. Mune-se destas estratégias para ter
sempre crianças bem comportadas.
Regras e limites: a melhor forma de facilitar a disciplina de uma criança é
estabelecer regras e limites claros, ou seja que sejam claramente percetíveis pela
criança. As regras e os limites são fundamentais para a criança aprender o
autocontrolo, para saber o que está certo e errado, facilitando a vivência dentro e
fora da esfera familiar Conhecidas as regras, a vida torna-se mais fácil para pais e
crianças.
Consequências claras: da mesma forma que as regras para crianças têm de
ser simples e claras, também as consequências devem ser. Se existe um castigo para
o mau comportamento – ir para a cama mais cedo, não poder ver televisão ou
brincar com um certo brinquedo – é importante que essa consequência se
materialize. Só assim é que as crianças vão perceber que não podem contornar as
regras, nem desafiar os limites sem terem de lidar com as consequências. Por mais
que lhe possa custar, há que cumprir as consequências – nunca ninguém disse que a
disciplina ia ser fácil, mas mais importante do que isso é que seja eficaz. Ao longo
prazo valerá a pena.
O respeito é muito bonito. Ensinar a criança a respeitar não só os adultos,
mas todas as pessoas que a rodeia passa por coisas tão simples como aprender a
dizer “por favor” ou “obrigado”. Não gritar ou bater são outras ações que devem ser
controladas, para limitar a agressividade nas crianças. Fale com a criança da mesma
forma que gostaria que ela falasse consigo e nos dias em que a pequenada se exaltar
(Acontece a todos) peça-lhe para se sentar quieta durante 5 minutos para se acalmar
antes de voltar a falar consigo. É importante que a criança possa falar e expressar
tudo o que lhe apetece, mas sempre com respeito pelo outro,

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INTERVENIENTES
Sim em vez de não. Quando se pensa em disciplina para criança, a palavra
que vem imediatamente À cabeça é “não”, porém, esta deve ser substituída pelo
“sim” sempre que possível, ou seja, troque o “não deves” por “deves”. Ao focar o
comportamento que quer ver em vez daquele que não quer ver, é mais fácil a criança
aprender – por exemplo, em vez de dizer “não batas com os carrinhos na mesa” diga
“vamos fazer uma competição de carrinhos no chão, mas primeiro vamos fazer a
nossa pista”.
Descobrir as causas. Se o mau comportamento é uma constante e todos os
atos de disciplina estão a ser infrutíferos, é importante avaliar a situação e perceber
qual o motivo por de trás da desobediência: será que aconteceu alguma coisa na
escola? Será que a criança não se sente bem? Estará a dormir o suficiente? O mau
comportamento nem sempre é capricho infantil, por isso, converse com a criança
depois de ela se acalmar e tente avaliar melhor a situação e a forma como a pode
resolver.
Seja firme. O segredo por de trás do sucesso da disciplina infantil é a
capacidade de manter-se firme, ou seja, se a criança já sabe que não pode levar
brinquedos para a escola, não ceda só porque ela resolveu fazer uma birra gigante;
se a hora de dormir é as 20h30, não ceda porque a criança quer brincar mais um
bocadinho. No momento em que ceder, a criança vai continuar a testar os limites
vezes sem conta.
Gosto de ti. Ser firme não significa que não pode dizer à criança quando
gosta dela ou dar-lhe um abraço depois de lhe chamar a atenção a atenção pelo mau
comportamento ou de explicar porque não gostou de determinada ação ou palavra. É
uma forma interessante de mostrar À criança que a disciplina não significa que se
goste menos um do outro e que apesar dos conflitos tudo vai acabar bem.
O poder é seu. Não há volta a dar, os pais são quem mandam, por isso,
utilize isso para seu benefício, As crianças observam e copiam tudo aquilo que seja
do mundo adulto, por isso, se estiver sempre a gritar com a pequenada, eles vão
pensar que não há nada de errado com isso e serão certamente um espelho do
mesmo tipo de comportamento. Ao respirar fundo e pensar duas vezes antes de
falar, pode faze-lo de forma calma, lembrando à criança que é assim que se fala e se

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INTERVENIENTES
deve comportar. Cabe a si estabelecer o tom das situações, que as crianças acabam
por seguir esse caminho.
Cuide-se. As crianças são os seres mais maravilhosos do mundo, mas a
Rotina diária e as diferentes fases do seu desenvolvimento podem revelar-se
verdadeiros desafios para qualquer mãe ou pai. Daí a importância de cuidar de só –
encontre tempo de qualidade para estar sozinho, mas também com o seu
companheiro(a), faça atividades que lhe permitem aliviar o stress – dessa forma
estará mais preparado para enfrentar, de forma calma e exemplar, os desafios da
disciplina infantil.
Avanços e recuos. Disciplinar uma criança não é algo que acontece de um
dia para o outro e, embora seja mais fácil perceberam as regras À medida que vão
crescendo, isso não significa que de vez em quando não haja uma grande birra,
portas a bater, irmãos a brigar ou outros comportamentos menos positivos. Esteja
preparado para tudo.

 INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO

O acolhimento em instituições é uma das medidas de promoção dos direitos e


proteção de crianças e jovens em perigo previstas no nº1 do artigo 35º da lei de Proteção
de Crianças e Jovens em Perigo (Lei de Proteção). Consiste na colocação da criança ou
do jovem aos cuidados de uma entidade que disponha de instalações e equipamentos de
acolhimento permanente e de uma equipa técnica que lhes garanta os cuidados
adequados às suas necessidades e lhes proporcione condições que permitam a sua
educação, bem-estar e desenvolvimento integral.
O acolhimento institucional pode ser de curta duração ou prolongado.

No primeiro caso, tem lugar em casa de acolhimento temporário (CAT), por


prazo não superior a seis meses, período que apenas pode ser excedido quando, por
razões justificadas seja previsível o retorno à família ou enquanto se procede ao
diagnóstico da respetiva situação e à definição do encaminhamento subsequente.

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INTERVENIENTES
Já o acolhimento prolongado tem lugar em lar de infância e juventude (LIJ) e
ocorre quando as circunstâncias do caso aconselhem um acolhimento de duração
superior a seis meses.
A entrada numa instituição, é necessariamente, uma ocasião delicada, que
normalmente se sucede a um momento imediatamente anterior de igual modo
traumático: a retirada da família natural.
O processo de admissão em sentido estrito – entrada na instituição e não, como
poderia ser, toda a fase posterior à retirada do menos da família natural – inicia-se com
a receção da criança ou do jovem na casa. Mas, desde a deteção da situação de perigo
até à entrada na casa de acolhimento, cada criança e jovem já percorreu um caminho a
que se chamará processo de institucionalização.
Pode sintetizar-se que, após a deteção de perigo (muitas vezes assegurada pelas
entidades de primeira linha, como os estabelecimentos de ensino, os serviços de saúde e
as instituições particulares de solidariedade social), as crianças ou jovens são
encaminhados para os CAT e lares, em regra, pelos tribunais ou pelas comissões de
proteção de crianças e jovens, mas sempre em articulação com os serviços da Segurança
Social.
De resto, há que contar com os casos de institucionalização após intervenção das
forças policiais, designadamente nas situações de emergência. E, embora tal situação
ocorra no momento atual, residualmente ainda se encontram nas casas alguns jovens
que, em tempos, foram acolhidos após mera solicitação familiar (e existem casos
poderão nunca ter sido comunicados ao tribunal, para a competente regularização).
Quase sem exceção, a receção é assegurada apenas por um dos adultos que
trabalha na casa, o qual pode ser chamado(a) coordenador(a), diretor(a), técnico(a), uma
vez que é indistinta a utilização destes diferentes títulos para designar, no essencial, o
mesmo desempenho de tarefas de chefia do pessoal da instituição.
De qualquer forma, o momento da chegada dos novos residentes é quase sempre
confiado, individualmente, ao principal responsável do grupo de profissionais que
trabalha na casa, ainda que sempre que possível haja apoio por parte de psicólogos ou
de técnicos de ação social, caso as instituições disponham de recursos humanos
naquelas áreas.

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INTERVENIENTES
Quando a chegada à casa acontece durante a noite – em resultado de uma
retirada de emergência da família natural – a incumbência passa a ser, quase
invariavelmente, da funcionária que assegura a vigilância noturna.
Recomenda-se que se procure assegurar, na medida do possível, que o momento
do acolhimento também compreenda, pelo menos, a apresentação do mesmo aos outros
menores e alguns momentos de contacto com todos os residentes, se possível.
Outro aspeto essencial desta primeira fase de permanência na instituição diz
respeito, por um lado, à preparação da receção por quem já reside na casa e, por outro
lado, à informação que é fornecida ao novo habitante da casa.
Quanto ao primeiro aspeto, destaca-se a circunstância de não estar generalizado
o hábito de fazer uma especial preparação das outras crianças e dos jovens já residentes
nas instituições.
De resto, a receção consiste, no essencial, numa conversa com o novo utente
seguido da sua apresentação aos restantes habitantes da casa. Em qualquer caso, em
regra há a tradição de designar uma pessoa como única ou principal responsável para
assegurar a recebimento dos novos elementos.
A explicação inicial dos direitos e deveres dos novos utentes apenas pode ser
feita adequadamente em conversa(s) informais, uma vez que não seria aceitável que o
momento do recebimento de um menor prementemente carecido de proteção desse lugar
a uma palestra técnica sobre direitos e obrigações legais.

Como é bom de ver, os direitos das crianças e jovens em acolhimento são os que
resultam do artigo 58º da Lei de Proteção e podem ser elencados da seguinte maneira:
a) Contactos pessoais regulares com a família e outras pessoas com
quem tenham especiais relações afetivas, com condições de privacidade;
b) Educação adequada ao desenvolvimento integral da
personalidade;
c) Cuidados de saúde, formação escolar e profissional, participação
em atividades culturais, desportivas e recreativas;
d) Espaço de privacidade e grau de autonomia na condução da sua
vida;
e) Dinheiro de bolso;

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f)
INTERVENIENTES
Limitação das transferências às situações do seu interesse;
g) Contactos confidenciais com as comissões de proteção, o
Ministério Público, o juiz e os advogados.

 HOSPITAL

A admissão de uma criança no hospital só deve ter lugar quando os cuidados


necessários à doença não possam ser prestados em casa, em consulta externa ou em
hospital de dia.
Uma criança hospitalizada te direito a ter os pais ou os seus substitutos, junto
dela, dia e noite, qualquer que seja a sua idade ou o seu estado.
Os pais devem ser encorajados a ficar junto do seu filho, devendo ser-lhes
facultadas facilidades materiais sem que isso implique encargo financeiro ou perda
salarial. Os pais devem ser informados sobre as regras e as rotinas próprias do serviço
para que participem ativamente na assistência à criança.

As crianças e os pais tem direito a receber informação sobre a doença e os


respetivos tratamentos, adequada à idade e à sua compreensão, a fim de poderem
participar nas decisões que lhes dizem respeito.
Deve evitar-se todo o exame ou tratamento que não seja indispensável. As
agressões físicas ou emocionais e a dor devem ser reduzidas ao mínimo.
As crianças não devem ser admitidas em serviços de adultos. Devem ficar
reunidas em grupos etários para beneficiarem de jogos, recreios e atividades educativas
adaptadas à idade, com toda a segurança. As pessoas que as visitam devem ser aceites
sem limite de idade.
O hospital deve oferecer às crianças um ambiente que corresponda às suas
necessidades físicas, afetivas e educativas, quer no aspeto do equipamento, quer no do
pessoal e da segurança.
A equipa de saúde deve ter a formação adequada para responder às necessidades
psicológicas e emocionais das crianças e da família.

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INTERVENIENTES
A equipa de saúde deve estar organizada de modo a assegurar a continuidade dos
cuidados que são prestados a cada criança.
A intimidade de cada criança deve ser respeitada. A criança deve ser tratada com
cuidado e compreensão em todas as circunstâncias.

 CENTRO DE ATIVIDADES DE OCUPAÇÃO DE TEMPOS LIVRES

A ocupação dos tempos livres, sendo uma necessidade da parte dos pais de
ocuparem os seus filhos após a saída da escola, é vista como um complemento
educativo que deverá reforçar o processo de socialização da criança e das suas
aprendizagens a par da escola.
As aprendizagens têm de ser feitas de uma forma agradável e lúdica,
promovendo a imaginação e a criatividade de cada criança.
É preciso estar com elas, saber escutar as suas experiências e os seus sonhos,
tentar minimizar as suas preocupações e problemas, saber entrar no jogo e na aventura
que elas quiserem viver.

O CATL deve:
Criar um ambiente propício ao desenvolvimento de cada criança
ou jovem, promovendo a expressão, a compreensão e o respeito mútuo;
Promover as relações sociais em grupo;
Favorecer a relação entre
família/escola/comunidade/estabelecimento, para um melhor aproveitamento e
rentabilização de todos os recursos;
Proporcionar atividades de animação cultural que a criança pode
escolher e nas quais participa voluntariamente, tendo em conta as caraterísticas
dos grupos e tendo como base o respeito mútuo;
Melhorar a situação social e educativa, e a qualidade de vida das
crianças;
Promover a interação e integração das crianças com deficiência,
em risco e em exclusão social e familiar;

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INTERVENIENTES
 ATIVIDADES DE OCUPAÇÃO DE TEMPOS LIVRES

Os tempos livres e as atividades a estes associados são, na sociedade


contemporânea, um fenómeno de extrema importância. Têm particular destaque em
determinadas faixas etárias, designadamente crianças e jovens, durante o período de
férias escolares.
As atividades de tempos livres, realizadas nos períodos pós-escolares, designam
ações de formação e desenvolvimento pessoal de crianças. Contribuem para um
crescimento saudável, com destaque para a criação de novas relações sociais e de novos
valores.
É nas férias de verão que a maioria das crianças tem maior disponibilidade
horária para as ocupações de tempos livres. Por conseguinte, esta é a época em que os
miúdos podem concretizar todos os seus desejos.
Nesta altura, fazem-se novos amigos, partilham-se experiências novas e
diferentes, fortalecem-se laços relacionais e criam-se espaços de interesses comuns.
Existe tempo para dialogar, para aprender a ouvir e para sentir-se ouvido.
Adicionalmente, estimulam-se as competências pessoais e sociais, que ajudam as
crianças na sua aprendizagem constante ao nível da gestão das emoções e dos
comportamentos.

Os Centros de Atividades de Tempos Livres (CATL) são ideais para ocupar as


crianças com exercícios em várias áreas. No verão, estas instituições oferecem
atividades lúdico-pedagógicas, recreativas, culturais e livres. Entre estas, inserem-se:
 Visitas de estudo;
 Jogos didáticos e cooperativos;
 Expressão artística e dramática;
 Yoga e mindfulness

Os CATL têm progredido, ao longo do tempo, em termos quantitativos e


qualitativos, na acessibilidade às atividades que oferecem. Estas instituições destacam-
se pelo acompanhamento que dão a crianças e jovens.

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INTERVENIENTES
OS centros disponibilizam uma panóplia de ações adequadas às diversas
camadas etárias. Dessa forma, permitem a ocupação salutar do tempo livre dos mais
novos. Por outro lado, dão uma resposta dos pais que não conseguem estar todo o
período de férias com s filhos.
A procura por instituições de ocupação de tempos livres cresceu de forma
exponencial nos últimos anos. Tal revela que os pais estão mais sensibilizados para
estas questões e que não hesitam em procurar respostas sociais.
Os CATL têm vindo a revelar-se de grande importância. São espaços que
contribuem para o desenvolvimento do comportamento, atitude, conhecimento e
capacidade de socialização das crianças e jovens.
As atividades organizadas por estes centros são também essenciais para
promover os talentos e aptidões naturais das crianças. Ao mesmo tempo, permitem que
os mais novos desenvolvam capacidades de socialização. Assim, não estão tão
suscetíveis a problemas de saúde como ansiedade e depressão, cada vez mais comuns
nestas faixas etárias.
Está provado que a exposição a muitos estímulos provoca um stress acumulado
às crianças e jovens. Isto porque, além de não serem capazes de processar toda as
informações, são também forçadas a um crescimento demasiado rápido.

Como pais, queremos dar o melhor aos nossos filhos. No entanto, nem sempre
agimos da maneira mais adequada. As crianças passam demasiado tempo nas escolas.
Ao oferecer-lhes uma variedade tão grande de dispositivos móveis (computadores,
consolas, telemóveis e tablets), fazemos com que brinquem superficialmente. Dessa
forma, os mais novos não são estimulados a desenvolver a imaginação e ficam
igualmente ansiosos e deprimidos.

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INTERVENIENTES
PRINCIPAIS AGENTES EDUCATIVOS

 CRIANÇA

O desenvolvimento motos, social, emocional, cognitivo e linguístico da criança é


um processo que decorre da interação entre a maturação biológica e as experiências
proporcionadas pelo meio físico e social.
As relações e as interações que a criança estabelece com adultos e com outras
crianças, assim como as experiências que lhe são proporcionadas pelos contextos sociais
e físicos em que vive constituem oportunidades de aprendizagem influencia e é
influenciada pelo processo de desenvolvimento físico e psicológico da criança,
sobretudo numa fase da vida em que essa evolução é muito rápida. Por isso, em
educação de infância, não se pode dissociar desenvolvimento e aprendizagem.

A interligação das caraterísticas intrínsecas de cada criança (o seu património


genérico), do seu processo de maturação biológica e das experiências de aprendizagem
vividas, faz de cada criança um ser único, com caraterísticas, capacidades e interesses
próprios, com um processo de desenvolvimento singular e frmas próprias de aprender.
Assim, as normas do desenvolvimento estabelecidas ou as aprendizagens
esperadas para um determinada faixa etária/idade não devem ser encardas como etapas
pré-determinadas e fixas, pelas quais todas as crianças têm de passar, mas antes como
referências que permitem situar um percurso individual e singular de desenvolvimento e
aprendizagem.
Embora muitas das aprendizagens das crianças aconteçam de forma espontânea,
nos diversos ambientes sociais em que vivem, num contexto de educação de infância
existe uma intencionalidade educativa, que se concretiza através da disponibilização de
um ambiente culturalmente rico e estimulante, bem como do desenvolvimento de um
processo pedagógico coerente e consistente, em que as diferentes experiências e
oportunidades de aprendizagem têm sentido e ligação entre si. Neste processo, o
desenvolvimento de relações afetivas estáveis, em que a criança é acolhida e respeitada,

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INTERVENIENTES
promove um sentimento de bem-estar e a vontade de interagir com os outros e com o
mundo.
Contudo, cada criança não se desenvolve e aprende apenas no contexto de
educação de infância, mas também em outos em que viveu ou vive, nomeadamente no
meio familiar, cujas práticas educativas e cultura própria influenciam o seu
desenvolvimento e aprendizagem. Neste sentido, importa que o/a educador/a estabeleça
relações próximas com esse outro meio educativo, reconhecendo a sua importância para
o desenvolvimento das crianças e o sucesso da sua aprendizagem.

 FAMÍLIA

Como família entendemos um conjunto de pessoas, normalmente ligadas por um


grau de parentesco, que formam um grupo social que é influenciado e que, por sua vez,
influencia outras pessoas e/ou grupos. É pois, no seio da família, que uma criança obtém
a sua base emocional/educacional que a acompanhará toda a sua vida.
É extremamente importante que haja uma boa comunicação e relacionamento
entre a criança e a família a que pertence, de modo a promover o seu crescimento, no
que diz respeito a formação de caracter, estabelecimento de regras sociais, de boa
educação, interação com os outros e participação nas atividades familiares. Deste modo,
desenvolvem-se conceitos importantes para uma correta e saudável integração na
sociedade.
Um modo de promover esta interação, é organizar atividades em família,
aproveitando os tempos livres. Atividades como passeios, visitas a parques, museus,
prática de desporto são ótimos meios para desenvolver e aprofundar o bom
relacionamento familiar. Disponibilize tempo para passar com os seus filhos,
acompanhando-os ao longo do seu crescimento, e vai ver que não poderia ter feito
melhor investimento do que este.

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INTERVENIENTES
 REPRESENTANTES LEGAIS

O representante legal é aquele a quem a norma jurídica confere poderes para


administrar bens alheios, como o pai ou mãe, em relação ao filho menor.
A representação legal presta-se para servir aos interesses do incapaz. Nesses
casos, o poder de representação decorre diretamente da lei, que estabelece a extensão do
âmbito da representação, os casos em que é necessária, o poder de administrar e quais as
situações em que se permite dispor dos direitos do representado.

 COMUNIDADE

As organizações educativas são contextos que exercem determinadas funções,


dispondo para isso de tempos e espaços próprios e em que se estabelecem diferentes
relações entre os intervenientes. A organização dinâmica destes contextos educativos
pode ser vista segundo uma perspetiva sistémica e ecológica. Esta abordagem assenta
no pressuposto de que o desenvolvimento humano constitui um processo dinâmico de
relação com o meio, em que o individuo é influenciado, mas também influencia o meio
em que vive.

Para compreender a complexidade do meio, importa considera-lo como


constituído por diferentes sistemas que desempenham funções específicas e que,
estando em interconexão, se apresentam como dinâmicos e em evolução. Assim, o
individuo em desenvolvimento interage com diferentes sistemas que estão eles próprios
em evolução.
Nesta abordagem, importa distinguir os sistemas restritos e imediatos, com
características físicas e materiais particulares – a casa, a sala de jardim de infância, a
rua, etc. – em que há um interação direta entre atores que aí desempenham diferentes
papéis – pai ou mãe, filho/a, docente, aluno/a, etc. – e desenvolvem formas de relação
interpessoal, implicando-se em atividades específicas que se realizam em espaços e

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tempos próprios. São exemplos destes sistemas restritos, com particular importância
para a educação da criança, o meio familiar e o contexto de educação pré-escolar.
As relações eu se estabelecem entre estes e outros sistemas restritos formam um
outro tipo de sistema com características e finalidades próprias (as relações entre
famílias e o contextos de educação de infância). Por seu turno, estes sistemas são
englobados por sistemas sociais mais alargados que exercem uma influência sobre eles
(por exemplo, a organização da educação de infância no sistemas educativo e no sistema
social influenciam o funcionamento dos jardins de infância).

A abordagem sistémica e ecológica constitui, assim, uma perspetiva de


compreensão da realidade que permite adequar, de forma dinâmica, o contexto do
estabelecimento educativo às caraterísticas e necessidades das crianças e adultos,
tornando-se, ainda, um instrumento de análise para que o/a educador/a possa adaptar a
sua intervenção às crianças e ao meio social em que trabalha, pois possibilita:
 Compreender melhor cada criança, ao conhecer os sistemas em
que esta cresce e se desenvolve, de forma a respeitar as suas características
pessoais, cultura e saberes já adquiridos, apoiando a sua maneira de se relacionar
com os outros e com o meio social e físico;
 Contribuir para a dinâmica do contexto de educação pré-escolar
na sua interação interna (relações entre crianças e crianças e adultos) e na
interação que estabelece com outros sistemas que também influenciam a
educação das crianças (relação com as famílias) e ainda com o meio social
envolvente e a sociedade em geral, de modo a que esse contexto se organize para
responder às suas caraterísticas e necessidades;
 Perspetivar o processo educativo de forma integrada, tendo em
conta que a criança constrói o seu desenvolvimento e aprendizagem, de forma
articulada, em interação com os outros e com o meio;
 Permitir a utilização e gestão integrada dos recursos de
estabelecimento educativo e de recursos que, existindo no meio social
envolvente, podem ser dinamizados;
 Acentuar a importância das interações e relações entre os sistemas
que têm uma influência direta ou indireta na educação das crianças, de modo a

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tirar proveito das suas potencialidades e ultrapassar as suas limitações, para
alargar e diversificar oportunidades educativas das crianças e apoiar o trabalho
dos adultos.
 Tendo em conta os diferentes sistemas em interação, analisam-se
seguidamente algumas características relevantes para a organização do ambiente
educativo na educação pré-escolar:
o Organização do estabelecimento educativo;
o Organização do ambiente educativo da sala;
o Organização do grupo;
o Organização do espaço;
o Organização do tempo;
o Relações entre os diferentes intervenientes.

 EDUCADORES

Qualquer que seja a composição do grupo, a relação individualizada que o/a


educador/a estabelece com cada criança é facilitadora da sua inclusão no grupo e das
relações com as outras crianças. Na educação de infância, cuidar e educar estão
intimamente relacionados, pois ser responsável por um grupo de crianças exige
competências profissionais que se traduzem, nomeadamente, por prestar atenção ao seu
bem-estar emocional e físico e dar respostas às suas solicitações (explícitas ou
implícitas). Este cuidar ético envolve assim a criação de um ambiente seguro, em que
cada criança se sente bem e sabe que é escutada e valorizada.
A relação que o educador estabelece com as crianças assume diversas formas,
que têm de ser intencionalmente pensadas e adaptadas às situações. Estar atento/a e
escutar as crianças, ao longo dos vários momentos do dia, permite ao educador perceber
os seus interesses e ter em conta as suas propostas para negociar com elas o que será
possível fazer, ou para se decidir em conjunto o que é de continuar ou o que está
terminado, para se passar a uma nova proposta. Neste processo relacional o educador:
 Apoia as atividades escolhidas pelas crianças e a realização das
que propõe;

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 INTERVENIENTES
Valoriza de forma empática os trabalhos apresentados pelas
crianças, as suas descobertas e as soluções que encontram para resolver
problemas e dificuldades;
 Estimula quem tem mais dificuldade em partilhar o que pensa;
 Modera debates e negociações; propõe ainda ideias que levem as
crianças a terem vontade de melhorar o seu trabalho.

As dinâmicas de interação que se estabelecem têm implicações nos processos de


aprendizagem, no sentido de promover:
 Respeito por cada criança e sentimento de pertença a um grupo –
a forma como o educador está atento e se relaciona com as crianças, apoia as
interações e relações no grupo, contribuem para o desenvolvimento da
autoestima e de um sentimento de pertença que permite às crianças tomar
consciência e si mesmas na relação com os outros. A vivência num grupo social
alargado constitui ainda a base do desenvolvimento da área de formação pessoal
e social e da aprendizagem da vida democrática, o que implica que o educador
crie situações diversificadas de conhecimento, atenção e respeito pelo outro,
bem como de desenvolvimento do sentido crítico e de tomada de decisões
baseada na negociação.
 Trabalho cooperado – o trabalho entre pares e em pequenos
grupos, em que as crianças têm oportunidade de confrontarem os seus pontos de
vista e de colaborarem na resolução de problemas ou dificuldades colocadas por
uma tarefa comum, alarga as oportunidades educativas, ao favorecer uma
aprendizagem cooperada em que a criança se desenvolve e aprende,
contribuindo para o desenvolvimento e para a aprendizagem das outras.
Trabalhar em grupos constituídos por crianças com diversas idades ou em
momentos diferentes de desenvolvimento permite que as ideias de uns
influenciem as dos outros. Este processo contribui para a aprendizagem de todos
na medida em que constitui uma oportunidade de explicitarem as suas propostas
e escolhas e como as conseguiram realizar.
 Entendimento da perspetiva do outro – o desenvolvimento social
faz-se através de duas vertentes contraditórias: a necessidade de relação de
proximidade com os outros e o desejo de afirmação e de autonomia pessoal.
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Neste sentido, o educador deve apoiar a compreensão que as crianças
têm, desde muito cedo, dos sentimentos, intenções e emoções dos outros,
facilitando o desenvolvimento da compreensão do que os outros pensam, sentem
e desejam. Cabe também ao educador em situações de conflito, apoiar a
explicitação e aceitação dos diferentes pontos de vista, favorecendo a negociação
e a resolução conjunta do problema.
 Regulação da vida em grupo – a participação das crianças no
processo educativo através de oportunidades de decisão em comum, de regras
coletivas indispensáveis à vida social e À distribuição de tarefas necessárias à
organização do grupo constituem experiencias de vida democrática que
permitem tomar consciência dos seus direitos e deveres.

As razões das normas que decorrem da vida em grupo (por exemplo: espera pela
sua vez, arrumar o que desarrumou, etc) terão de ser explicitadas e compreendidas pelas
crianças, como o respeito pelos direitos de cada uma, indispensáveis à vida em comum.
Estas normas e outras regras adquirem maior força e sentido se todo o grupo participar
na sua elaboração, bem como na distribuição de tarefas necessárias À vida coletiva (por
exemplo: regar as plantas, tratar de animais, encarregar-se de pôr a mesa, distribuir
refeições, etc).
Participação no planeamento e avaliação – ao participarem no planeamento e
avaliação, as crianças estão a colaborar na construção do seu processo de aprendizagem.
Planear e avaliar com as crianças individualmente, em pequenos grupos ou no grande
grupo são oportunidades de participação e meios de desenvolvimento cognitivo e da
linguagem. Esta participação é uma condição de organização democrática do grupo,
sendo também suporte da aprendizagem nas diferentes áreas de conteúdo.
O desenvolvimento e aprendizagem da criança ocorrem num contexto de
interação social, em que a criança desempenha um papel dinâmico. Desde o nascimento,
as crianças são detentoras de um enorme potencial de energia, de uma curiosidade
natural para compreender e dar sentido ao mundo que as rodeia, sendo competentes nas
relações e interações com os outros e abertas ao que é novo e diferente.
O reconhecimento da capacidade da criança para construir o seu
desenvolvimento e aprendizagem supõe encará-la como sujeito e agente do processo

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educativo, o que significa partir das suas experiências e valorizar os seus saberes e
competências únicas, de modo a que possa desenvolver todas as suas potencialidades.
Esse papel ativo da criança decorre também dos direitos de cidadania, que lhe
são reconhecidos pela Convenção dos Direitos da Criança (1989), a saber:
- O direito de ser consultada e ouvida, de ter acesso à informação, a liberdade de
expressão e de opinião, de tomar decisões em seu benefício e do seu ponto de
vista ser considerado.

Garantir à criança o exercício destes direitos tem como consequência considera-


la o principal agente da sua aprendizagem, dando-lhe oportunidade de ser escutada e de
participar nas decisões relativas ao processo educativo, demonstrando confiança na sua
capacidade para orientar a sua aprendizagem e contribuir para a aprendizagem dos
outros.
Cabe ao educador apoiar e estimular esse desenvolvimento e aprendizagem,
tirando partido do meio social alargado e das interações que os contextos de educação
de infância possibilitam, de modo a que, progressivamente, as escolhas, opiniões e
perspetivas de cada criança sejam explicitadas e debatidas. Deste modo, cada criança
aprende a defender as suas ideias, a respeitar as dos outros e, simultaneamente, contribui
para o desenvolvimento e aprendizagem de todos) crianças e educador).

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PAPEL DO EDUCADOR COMO AGENTE EDUCATIVO E
SEU PERFIL PSICOPEDAGÓGICO
O educador tem um papel muito importante no desenvolvimento de uma criança.
Entre as suas atribuições, é responsável por propiciar experiências que ajudem a criança
a desenvolver as suas capacidades cognitivas (atenção, memória, raciocínio, entre
outras). Trata-se de um processo longo, desenvolvido de forma contínua e dinâmica a
partir dos primeiros anos de vida.
Dentro desse processo, o professor deve impor limites às crianças na escola.
Ainda que a atitude de dizer “não” possa ser prejudicial ao desenvolvimento da criança,
em determinadas situações é essencial que os educadores tenham o compromisso ético
de combater, por exemplo, possíveis apelidos pejorativos colocados entre os alunos.

Ao impor limites, evita-se expor a criança a alguma situação embaraçosa. Aliás,


tema atual que deve ser debatido em sala de aula.
Outro ponto ao qual o professor deve estar atento está ligado às preferências. É
essencial que o tratamento a todos os alunos seja igual. Elogios a um aluno e
comparações entre um e outro podem fazer uma criança se sentir rejeitada. Portanto,
todos os alunos devem receber o mesmo tratamento, sem exceções.

O educador é o personagem que, além dos pais, será um espelho para a criança.
Assim, uma boa educação infantil tem o papel de formar a criança e transformá-la no
futuro num homem ou uma mulher que faça a diferença na sociedade. Tudo isso começa
pela sala de aula da escola de educação infantil.
As escolas enfrentam um grande desafio: lidar com as dificuldades de
aprendizagem e ao mesmo tempo traçar uma proposta de intervenção capaz de
contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem dos alunos. Dessa forma,
defende-se a importância do Psicopedagogo, como um profissional qualificado, que se
baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, no
sentido de não apenas identificar possíveis perturbações no processo de aprendizagem,
mas para promover orientações didático-metodológicas no espaço escolar de acordo
com as caraterísticas dos indivíduos e grupos.

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INTERVENIENTES
O trabalho psicopedagógico terá como objetivo principal trabalhar os elementos
que envolvem a aprendizagem de maneira que os vínculos estabelecidos sejam sempre
bons. A relação dialética entre sujeito e objeto deverá ser construída positivamente para
que o processo ensino-aprendizagem seja de maneira saudável e prazerosa. O
desenvolvimento de atividades que ampliem a aprendizagem faz-se importante, através
dos jogos e da tecnologia que está ao alcance de todos.
Com isso, há a procura da integração dos interesses, raciocínio e informações
que fazem com que o aluno atue operativamente nos diferentes níveis de escolaridade.
Por isso, a educação deve ser encarada como um processo de construção do
conhecimento que ocorre como uma complementação, cuja lalados constituem de
professor e aluno e o conhecimento construído previamente.
Ao chegar a uma instituição escolar, muitos acreditam que o psicopedagogo vai
solucionar todos os problemas existentes (dificuldade de aprendizagem, evasão,
indisciplina, desestimulo docente, entre outros).
No entanto, o psicopedagogo não vem com as respostas prontas. O que vai
acontecer será um trabalho de equipa, em parceria com todos que fazem a escola
(gestores, equipa técnica, professores, alunos, pessoal de apoio, família). O
psicopedagogo entra na escola para ver o “todo” da instituição.

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INTERVENIENTES
INTERAÇAO ESTABELECIMENTO
ESCOLAR/INSTITUIÇOES DE APOIO/ FAMILIA-
COMUNIDADE

Os pais são indubitavelmente os que mais e melhor conhecem os seus filhos,


bem como aqueles que, pelo poder implícito da relação de vinculação significativa, mais
influência têm no seu desenvolvimento e na facilitação das mudanças desejadas ou
necessárias.
As famílias devem ser encaradas como experts e como um recurso, na medida
em que providenciam uma visão compreensiva da história de vida dos seus filhos,
oferecem novas perspetivas sobre eles, e são também aliados fundamentais nos
processos de intervenção. Aceder à perceção dos pais acerca do bem-estar psicológico
dos seus filhos é um input importante na compreensão dos seus comportamentos
emoções.

Também o Psicólogo Escolar se deve assumir como um expert e um recurso da


comunidade educativa, que toma em consideração as vivências de todos os aspetos da
vida dos alunos, nos contextos de envolvimento das famílias, com vista a alcançar
resultados positivos, não só ao nível do desempenho académico mas do
desenvolvimento integral das crianças e jovens.

Torna-se fundamental que o Psicólogo explore formas diferentes e alternativas


de manter o contacto das famílias com a escola e da escola com as famílias, sobretudo
quando estas estão relutantes ou tiveram experiências passadas negativas ou de menor
participação.
 O envolvimento Familia/Escola promove um clima global escolar positivo.
 Os psicólogos escolares facilitam o estabelecimento de laços fortes entre os
profissionais da escola e as famílias.
 Ter as famílias mais envolvidas com a Escola gera mais cooperação entre os
alunos.

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 As crianças cujos pais estão maisINTERVENIENTES
envolvidos na sua educação apresentam
melhores níveis de assiduidade escolar, de concretização dos TPC’s e das tarefas
escolar e de desempenho escolar.
 As famílias mais envolvidas facilitam o funcionamento cognitivo e
socioemocional das crianças, bem como o aumento da sua autoestima, melhorias
no comportamento e atitudes mais positivas face À escola.
 Os adolescentes estão menos predispostos ao envolvimento com
comportamentos de risco quando percebem uma forte ligação entre a sua família
e a Escola.
 A cooperação Escola/Família prevê a generalização das estratégias de
intervenção por parte dos jovens e das famílias.
 Por comparação com as intervenções individuais, as intervenções que envolvem
o apoio das famílias estão associadas a uma redução dos problemas de
comportamento das crianças.
 As famílias envolvidas no desenvolvimento de planos de intervenção reportam
níveis mais elevados de autoeficácia, o que por sua vez se relaciona com um
maior investimento no processo de intervenção, reduzindo o tempo despendido
no mesmo.
 As famílias mais envolvidas reportam níveis mais elevados de autoestima, o que
se traduz numa modelagem mais positiva para os seus filhos.
 Procurar feedback junto das famílias faz com que estas sintam uma melhor
resposta às necessidades dos seus filhos.
 Integrar o feedback das famílias no processo de intervenção cria um sentido de
responsabilidade partilhada acerca do bem-estar dos seus filhos e aumenta a
probabilidade de concretização dos objetivos de intervenção.

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INTERVENIENTES
BIBLIOGRAFIA

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constitucionais. Universidade Aberta, Lisboa.

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