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o RErI'ORNO 1\ 0 DI~SEKro
•• N i\ S()LII))\O DOS Ci\lvlP()S I)E AI-lGOOf\O

•e (~Ot\i1BATE DE Nl~GI{C) l~ DE CÃES

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LE'I'ÍCIA CO URA ---, ! I
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•• S~\} EorrORA HUCrI'EC


São Paulo, 1995

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t:;> 1994 bv Les Éditions de Minuit. Direitos de tradução (de, pela •e
ordem em que aparecem nesta ed ição, RoôertZucco, Taõataôo, Le
Rt'lour nu Dárrt, Dans la Solitl4d~ dt!S-C/ltll!lpS d~ Colo" c Combm t/t
N;grr. fI dt, Chiem') e de publicação reservado" pela Editora de
••
Humanismo, Ciência e Tecnologia "Hucirec" Ltda., Rua Gil
Eanes, 713---04-601-042SãoPaulo, Brasil. Telefones: (01 l)5309,?OR ••
••
!: 5,13 ·0('53. Fac-símile: (Ol1)535-41R7 .

ISBN 85.271.0289.7
Foi feito o depósito legai.
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•• i\ origem deste livro 9

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Beatriz Azevedo/Letícia CaUTa
Uma dramaturgia que perturba, pro v {)m, revela,
questiona e fascina 11

•• Fernando Peixoto .

•• TEATRO DE 13ERNAHD-~vlAHIE KOLTI~S

e Roberto Zueeo
Tabataba 47
19

•• O Retorno ao Deserto .13


Na Solidão dos Campos de Algodão t"J'9

•• ( ~ ( 'Jllbate de Negro e de C ãe s / OS

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•• BEATRIZ AZEVEDO / LETÍCIA COURA

•• CABARET BABEL

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•e !lt'I'IJIIlt/-iJf{Jfie KO/I()S, nascido na França, foi
"/)1'1"10
um europeu
e apaixonado pela J\/Í'1à' e pelas Américas. SUfI.i !)(fI,i
";,III/lO.\' rnnrcistas com profissionais que IItJ!){J/h(I/ (I/!/ rom SI/(/
ohra. ( ;o/lh('({'/!/os 11m pouco mais sobre o IIIÚ'Vt'/ :W til' A'o!/h-

I. ••
/1'11/1111/ qnrstõrs qu« 1/0S dizem respeito muito riirrtamentc; e/e percorrendo os (fIfés árabes que ele /I"(;'qtiefl/m..'(J , o bfli/TO onde
ronhrre o Brasil como ningué1l/, Il/OmV(I, o II/{'/,./i que /0 maca, flmb/m/eJ que marcam profun-
11.1.1';11/ ('011/0 Bn;cht ofoi para fl tI/mr/tI til' fiO, acreditamos quc dnmcntr .W (/ r/mmflturgifl.
15olll/ld-,JlI/I1e Koltês será 1111/11/(//"(0 jJflm o teatro brasiteiro dl/ Seu inn.io François Kottês nos presenteou ('(}!II suas obras

••
dá 11(!tI r/l' (){7, mediras. f flillr/fl em Paris 1/lIVflmOS o primeiro contara tom
:1 {,'ia . (.'{J/Jflr('t B(//){'/, moolda por Il/lla "pflix(lo ti pl1mt'im :11. JirÔIJ/C I .in do 11 , editor de Ko!lfJ I/(J França ((difioll.\' r/(
Icirma quc aconteceu II{J Espanha em /99J, realizou 1/0 ano se- ,Jlifl ll i /) , o q/lI 'j)o.\Si!Ji!itOIl esta publim{r1o.

•• ,f!,l l i l/ /t o (;ido til' Leitura e PI:'Sq//ÚII da obra de I\o/tes 1/(/ il/illl/ -


(lI 1-"'(/1/((;.1'11 til' S(IO PIIU!O. Traduzimos e !t'1I/0S todas fI,i .fIl(IS

1)('(11.1' /J,'{/JIimr/fls 11a França. Partiriparam do tido' atores. ar-


Dr 'i..'O/ /11 rIO Rmsi! WIJ/ lodo f sse matcria]
11/0.1' O Cido r inirinmos os t'II'\"(/ÍOS d(J
esp et ácul o !'í'.I'II!/(Jr!o desse mergulho pl"ojúlldo
r)pOt'
11(1 IJ/r/O

{ :'tf}(1JI1I
rrtoma-
IUf lO,

obm r/f

••
11(1

/; S/IIS pids/i(os, músicos f inrclcctuois, e o rntusiasmo J/llgir/o /lOS !\o!/h-.


k~'OII (I Paris ('11/ /JIISUI de mais i/~rOml(I(/jI'S soln» o (////01'. f,fll/((u/OJ simultnnra mcnt», pr'((/ r licrofnsrn: rI(1 r.'irl, (,'"b(l-

•• /';11/ UII/ II/(~i pcnonrmos ()J / I'II/IOS ondr JI/IIS o!lmjrí hllVilllll
.Iir/o ( /l O'/l II r/II S, recolhemos artigos, ('I/t/"{!Y)ÚfaS, fotos, fomos "
/Urlio Francc CU!fure OI/de suas petas estão graoadas, reali-
1"(/Na/)I'! r drl Fdilom f l uritr: !)oll/as-dr-!(I!/«(I 111'.1".1'11 oll,wdir/
ncressdria: jJII/JIimr jJl'!(/ primrirn vez 110 /lIf/.l'i! (I 0/)/(/ r/('
Rt/7/(II"{!-.II(//ie Ko!/éJ ,

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•• IJMA DRA1\1ATlJRGIA QlJf1~ PERrrIJR]~A,
•e I{I~VB:LA, QlJr~S'I'I()NA l~: 1~'ASC~INA
I)ROVOCA,

•• I;'ERNI\NDO PEIXOTO

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-,

.Vo dia 10 de maio de 1990>rlli (/Oteatro ,)challúiihlle, e/ll /Jt'lll1rbtldor:!f'm/lro q/lt'por fi ~t;U 11.1 insta nresfiçuei mesmo olha li-
Rn /i/ll, assistir a mais recente encenaç ão de 11m dos mais exp res- do flSPCSSOflJ çu« I/afjuele momento passavam pelfl Lr/miner Plat »

••
.lÍL'OS diretores contemporâneos, por q/lem semp re rioe grande UI/de cstd [ocalizada ,1 casa de espetriculos, no centro do que em
/u1l1lira(r1o ~ P;t;;:~~FvEu1Jf70 conhecia nem o texto, Roberto entâo Berlim Uridenta], efiquei examinando cada um, sobretudo
Zucco, nem o autor, o francês Bernard-Mnrie Koltês. Desde as os maisjooens. pensando que a~t;/lém poderia ser como o personn-

•• jJrilllúras cenas fiquei fascinado e surpreso: eu jrí havia oisto


dn .crsos lral/fllhos de S/ei1J e é evidente que o vigor e a f O/FI da
gem que havia cisto em cena: um jovem que comete uma série de
assassinatos com a/l.wlula tra11fjüilidade, COIIIO fi/OS cotidianos

•• /illg/lf/grlll cênica não foram II1f1a novidade, mas a permanente e


i//(/lIir((/ inocnção e criatividade do texto, a sucessão de cenas
il/t'sjJt'!f/dfls construindo uma narmtiua de drmna/lllgia imá/i/tl
11 orm a is, sem motivos, sem ódio, sem ser provocar/o, flfI verdade
se1l/ ser (/qui/o que normalmente classificamos COIIIO 1111/ "doente"
assassino.

••
0/1 /1111

(' j)(}/(im, (()11/ instantes de tlllI realismo crI/ti em seguida snãsti- No dia segl/inle /lem cedo corri parti (I Livraria Fran cesa de
(II/t/OS por fllll quase teatro de absurdo, a mescla conturbada e Redim Ptlrtl ver se encontrava outros textos do mesmo autor. A

•• rontraditária entre lima temdtica social e individual, a luta de


rlassrs e a intimidade da família, cria ndo imagens feitas de
leitura atenta do excepcionalprograma distribuído aos espectado-
rrs da Sch(wbiihne já me havia dado as primeiras informaç ões

••
simbolos e mitos, do cotidiano e do imngindrio, me deixaram sobre Kolrês e SI/fi obra. l11gl/flS companheiros do teatro alemão
rcalmrnt« perplexo. Algumas seqüências são para mim alé hoje fl(Jfjl/tla mesma noite haoinm me/alado sobresua obra como uma
inrsçurcioeis, assim como me marcou muiro fi pOHibilidade dl' n"Uda(tlo únirrt, e /flllI/lém que Koltis, nascido em Alcrz. ('11/ f) de

•• uma dramaturgia que às oezesparecia lima rigorosareproduçâo


n'(t/islfl , ris Vi'US parecia próxima do universo poético e moral de
dt Jean_p eneI, às oezes trazia fiam (J rena o realismo
abril de 1.948, havia [aleado em Paris em 15 de a/lril de 1989.
Comprei três liv I'OS , o que havia,jllstammte as outras trêsPt'(flS
qUf, j""/fll!/{'1//t' Roberto Zucco e o IJlroiuimo mas
e O/J/ i/S

(lfIdit'iulIal 0/1 o rralismo dirJ!ili(() dr Brcdu. SflÍ do teatro


('()!II ( 0 111

admirrice! didlogo Tub utaba, esrâo agora reunir/os aqu] neste

•• (fIlTfg(l!Jdo o impacto e a dilacerante tem ática como algo vivo e volume: O Retorno ao Deserto, Na Solidão dos Campos de

•• )1
ir
.'., ', , 1" \ i il'..T
Algodão e (.~}m);m;,<:el""egro.c dcães. C ('.omccn
, .a aeoora-tos
J ' • I trndusi« par« o a/mujo a pera Cai s Oeste {It? Koltis (fllid.\', .1' .'/(/
••
no mesmo tii;' lI: ml'/kotl\"n cerlr~ de que estaua diant« do mais


, :\~t1 ~ .,.:: :,;~ . ,! ;, .·:1t·,).· ,. ;;:.·ú;I.'f~fnr~ tl 'nmillj,rgv tio ft"{/!ro/ill"cêscontem-
prímám ptra encenada 1/0 IJrnsi], !1'IIr/O t'stn·{/t/o ('1lJ Sdo / 'fI/tiO 110
Teatro Pf';O/ em 8 dt' figoslo rll' IlN.,'t) ;'1/1 /mr/II(rlo r/t I ';flli/;o ri; ••
p I;/i/llev . Em' OJ {ex/os, e~lom/1{fo 1I111f1 temritica sempre

di(tlnlle i : inesprraria, Koltis conseglle IIItrgulh{/r (/ f undo ,,(1


'i.'{'f(/ fl t/f ' m il tl i/di}ô/ú/ e r!;/f/rf /'fllltc rio ser h 11111m/v, .I'lia {'x isth/d,!
Biasi (dinj l 70 de. Jfarcdo iJfan:h;oro). Itliillt:r afirma qt« /\o/!h'
f to» (,);{'/11 p/o ra /O /1(/ dra mar«l'J!.il/ r onIfm/)()râ /1[(1: "/is /Jt '(t1J do.'
(){I II'O S autores grl'tI / IIJt' II !C p ossua n fI/IC//(/,í IIlIJa rst r u tttr « dr
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, _~ - '1" ..•.•- -- ---,. . - - - - - .- • .• -

('/lll /um to .rlJdi'(.,J/r(II,o cenqua nto. p art e de uma estrutura socia l


/OI1!IfJ i/fI
,
,k it~iuJ'tj(l.d c oiolénda, ,'1l1flJ( ;"r/t';,,/r;//vt!/wlqlll' rm
- - ._ .- - .. • . ..

i /l l n :!!,tl l' fi ;I!t/~!!,(I / ( '(I!/.W/;·;)(/ no teatro . I~' /m{el'li d tornar


obsru r« r ";;/I/;/l f/I'{'s/a rsrrura r/t ;"'I! ~[?I. ~'~~'. }"·(!!!h', (/0 ('f) 11 trrir i o,
••
j )( IJI/ll!/ f'Il /(, "/I~d(/fl(fi . I': sem dúv;r!11 estes trxtos, m il/o 1/(/ vf'l'f!flde
tOr/i l fi O!JIt1 de K()/(h', s/io i!J!IÍJlIl/OS oigorosos para fi ronstruçâo
\ . .,,- . . " -_ -- . . "
hrí 1111/(/ estrutura df.jrJ..;L Isso lfilf'! ' (;;';.:('1' fl"Co (111/01' rst.! ma is 011
~;;~~;~;-;;i;;·;,~~/~;;~~,,-~:j;/{'J(;'// re{,/1/ Si'fIS textos, cin seusjJCI :W!l rl ,!!,tli S. I,;/I ••
••
til' (>/>d tÍm !o.\ onde r/ imaginação e ti im){;'Il(/io necessariamente al'ho isso /lI1I;/O imponanre. fi 0 l'!jllt' neste momento rr t t /l dà/fúl
((lrlO que .i/t/'s!illI/~ · qll;liq;~~~·: -(t,hdllU:i;;;; ·c;~/:; :··J10 .co ncencionai. gera] t: 1/ {'x t i l/{rlO do ali/OI'. fi e.\ jJlti,:r7o do antordo tesro ( 1t"1I1/1// 1II

/)('.i(o/m· Itltllb/lil ofnsctnio de HeitlerJfii//i.'I'[Jor Kalrês. Af l'Smo do !M11'0 . l por isso fjlle A.o//ó· nofuI/do r!o IÍ 11;1'0 filie ///1' in/rrrss«
mio .filiand o {mAces,, () qUf' (.'(lU SO/l po/e"m;(.'(l 11t1 t:/) (){ 'll ...lfNI/fr 11(/ I/O 'CV/ d li'lIl/(lllIIgia" .

••
II ••
I:o/Í("S nasceu ePI IUc tz : no interior da Fra1J(II, elll.9 de abril de
I tf/ ,\'. Itcixou (I âd(/de com dezessete, dezoito (más, Viajo« em
tris (11/ 0.1' .\'('11/

dt/)(J/:\', afirma :
esa rocr nada c, num« rutrro isra a L. l' . l ln», til/ OS

"qllflllr/O '1.;01/"; I1 ('S(.'I'I.1.'('I', [ oi ('fJIII /JII'/f llJ/f'Il lf'


••
sf:~!i id/l /1(/1"(10 (''rI11f1dd e para Novo Yorl: Em !970, com ointe
\
('riois anos..foi pela primeira vez (10 teatroe.ficouemocionado
I '
com
'
tI~krrntr ".
.VO ano S(!!,lIill!( oinjo « par a I / N':i;éli(/, r/(:jJois jJ fl l'll oa ri os ••
o I/"f 'V i II , ,(;ob,re!ltdo com 'a atriz illaria Casares. 'I<: começou em OIl!I'f),\ pn/srs da ,.(/iim e chtx olI(I passarseis meses 1/(/ g t)"!fII'. fl /fI ,
,l'f :'.!..lI i d fl (I cscrroer-snà iprimeira pt'(fl, Lcs Arncrtumcs, npartir 1979 , OI/de csrrece« ç~~.~ltC de Negro c de .~~_~ 1' .\fg Ulltio
do rom a nce I IlfJância de G,ârki, o't exto Ioi enrenndo em Estrasbur.. ele, " 1111'" povoado onde nrlo.lf17(,vrwifie7;;(,."jJ('!iítol". E'/IJ 1981,
••
go nomesmo fI,no. C014v;t!ndo por/Jubel1 GigJlollx, qlle (l SSÚ tiU fiO
{'.ljJc l dnt/o , ingresJo////o Teatro Nnáo1JaldeE J/nlsl"' rgoeescrcuell
jJassou qll{//I'O meses em Nova Yod.· t !leste mesm o Imo .l"IIfI pe(fI r~a
N li i r JLI ste A V ~lIH Les f o r<~ rs é f!la:I/ar!a fllJ jJtlIis, /l O Pc!i! ••
'l ·ril'ÍlJ.I I('xtos f{IIe.f{;/((~n mOfltadosj)e/os flIO r tJ!(JlII1WJ. E studofl

{F/ ter/o lia l'SCO/ (J d o 7:!\fL\~ e em {971 ele IIlt:.rmo montou . flaqur/a
Or/O)//, por.ll'al/..I.llc /Jo/!/ (' R;ml'd FOl/lfIllfl . RegreSJOu/lO f/1/0
segu;lItt (I ,~/o'Ua rod' eem 7983fillallll l'll/t' es/ti;rl 1111 F Ii'I/l{fI , ( 0111
( idar/e, r ,a ~L~ich.e t' Pro~cs Ivre. No filIO segui nte fi rddio !'nl11cc rlirq,'(/o r/f' 1),/11';((' Chll ('{/II , Comb ate de Negro e de Cks, /lO
••
( .'! I/IIIIi' //{ lJisl1li/ill (! perfi L' Hédtage. f('!ldo i Jf tl! ?fI Dl/Jaris (:01f/O Thài//(: r!es : i lll{/ ll d i et:l" de fI/fl ll lr.nr, tendo IIIiche/P;rmli (' j JhilljJ/J(!
"I{i:~ prill ájJal.' 01111"".1' texto s JelJs st10 ena:llar!OJ 011 fnl!lsmitidos Léo!flleI á.liC:II/e do t/tllro. N U lllfI t:1ltl t"'iJÍJta a Nj(/l!1i SiIllO//, em
••
por /i/rlio. Fui 19?7, /lO Fe.fliva/"Q[l" de il vigllOI1 , t's/rim, ('01n 1983 , Ko//ts der/tlroll: "N" refi /idade, essa obrfl llflJ ( 't:1I rle U1II(/
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.\IIft' dm '[/io, L ;l N uir Jliste Avant Les Forêrs: eltíhf1'l..';f/ paJsado visdo jiI/ Jií..'f'1 i!'l nd, !/l/lS el1()/'IIll'lIIe11/l' ('!IlOÚ0 1/{lfl le: lIIill :}a /Jli -
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mrirn 'uiVlo dfl l Í/i i cfI ! Q//fllldo desci do aoiâo, me senti ag,.u/ido existe fi ordem normal, !IIf/S sim uma outra ordem O,,70.W, quefoi
e .w /Jf"CI"dopdo tremendocalor q//e 1IIe pesaoa 11f1 11 uca, que arrasa , seformando ". E prossegue: "Senti oontndedefaiardesre peqllello

•• r 11/I(,IIfIJ rll~i1'0}S.ici
fi lVi-im '1/ /1(' ctt
(/S aeroporto, todas as id/ias .W!J/f?
pOI1t1S do
trazia se solidificaram utuna cena: 11m policia!
mundo, qt« é excrprional e, apesar r/isso, 1Ir10 110.1' pnrcce
((/1110 do
estranho;eugostaria rlt' conla resta rstrnnlia impressâo qllese S('II te

•• IIlgro úfllifl com c ioléncin em ,,11I rir Sl'II S irmãos. Avr/1/rei e rle
I r/H'IIlc I/~(, rnronrrr!com essa úllnált inois/oe', 1IIflJ oniprcsrntr,
1/ 1/1' div'irlifl úlll!Jo/imlllm,1' os RmwO.I· c os Negros. Olhá para os
r/O arraoessnresteeSpfl(O imenso , apnrrntemente deserto,com ri IlIz
tjll(, vai 1/II/drlllrlo r/O passar ria 11 o itc. os rntdos rios jJII.I'.WS r as
cozes ql/e I'('SSO(/III. a(l.,TUllll a reu Iado. 1111/(/ /I/f/O qt« .l1IiJil(l/l/ m l ('

•• 'v1:r:.ms , /0;" sruria í.,t'I :r:.0IlI,tl dos 11I1'111'.,' mas IIO\' olhos rlr/r,1 In11/11/1. '11 11' aga rt r:". F tlll!r/fl ('//1 I ()Sfi rstn'in, I!O F",I't1i 'lt/ til' .h)f'.."ol/,
1111/ rid i o Irll) 1/1/1'11.1'0 , 11/1(' 11/(' I/.I'SIIJ/ri (' (1)1'11 fl llI 'tI o /(u/o d os , '.lj !);ILIl Ll, /1'tII1Sllti/ir/o jlt'!ll1'tír/IO rtn . 1' (Ir' tlgr J.I'/II .

•• lt rnnros ".
/-:11I ! (1)''; I\o/Ih)oi pnm o ,..\'emg tl !. [<; pII;';imll 1111I 1"01111/1/((',

I ,;I FlIit~ } C lle v;I\ Trcs Loin Duns b Vitlc,


f ()S7 / o ano r/l' rstn'ia rle Na Sol id;\() dlls
Algod~o cnr Nantrrr« ('011I
(: :lIl1POS

direçãorlePntrirr ( ,'hái·("' . S{g ílllr!O o


de

••
IJ" e hflvit'/ escrito pn5/Jl70 I\o/I{\, "e umn histôrin de dois po'SolJagt'!/s, IIIIIt'/ roncrr-
em f f)7ó. Afirmo/l fJlIC seu grrl!lrl(' sonho era o de escreoer romau- J{/ , 11m didlogo à maneira do século .\ 1'111". Sobre .l1IfI cnrcnaçâo,
rrs; II/fl S n/lo rsarcin. /}()I'f{I{(' IIr/O /}()r!trifl oi orr disso. r:1t/n '(/1I rltr/fI 1'01/1/1I/11f1 rntrroist« fi Didir«, I/('/'{'II':.(' ('1/1 f f)S7: "ru

•• 1-:11I I f)SS I\ó/I/ s crio no NmJi/! 1': sll'f)l' no RIO d('.Ifl!l(lm I' ('111
_ _ ___0_. 1 .__ . - ' --.- - ---. .-- . .... .---- . ...
· · -, -·- - - -1 · -· - -- - · ~

S(/I) I 1111I / 0 , jJf'!o menos. De SI/O l'au]» ('S(I'("t'('/III1f/a mIM, dflladfl


~ -- -- - .
/)1'0011('1 ao 11I(.1'11/0 Iml/)(} /}('I'11If/!/((er 1/(/'" I{(/f/OI' r a'riro r, sobrr-
111r/O, /)('1'/"11//1'(('1' rr/riro. rft amar Koltês por f/f/ui/o IJIII·,.j,. /, r/t

•• dl' li de dezembro de 1985, ti S('II 11'111r/o ,


Pilldo /1 (l/liIO 1/I('lho/': 1I1/1f1 NOVfI ror!: lalilla ,!Jfll..,dhenlfl,
sa, I /,(//)fl (('inl; /)(11"(1 mim,
onde comenta:

sou antrs '"11 raro IJ'"' 111/1 /fI,f.!,III/0,


"SI/O
ronf«:
tr ntri-]» (,(Jl I/ O 1111/ fi 1110,. como 0 .1' outros. Se ri/.e."lf/II ('01.111
flgll/rirl, ~'!.CJ!fl/t'Ce_mJUlo-úJNg{/, l'II sei que droo ///{' r/i.,,.,.. 1<; rll
IJ!!()/do o Sl'II texto dfl mcsm« maneira (0/110 fI/!(Jldo SIt(I!.·('J/Jt'fln '
1Ir/1) 1/1('

••
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1'1I me emociono mais jOgfll/rlO é'/II maquinas eletrõniras 1III/IIfI 011 1 I/tIII·Cf/1(.\', Jt'!Ido i/~j;d fi d e (0/110 Imito o hrí!Jilo de ser r'()/II
(,S/I/(Il' rir' corrrdor sórdido de bus.. f()I1~1' de St/O Pal//o do qll(, eles. Diro isso, se (0/11((0 fi ler referências (11/ n/fl(rlO ri O/J/(I rft'

•• jJf/.l'sUllldo ao 101lgo r/OJ quiiãmctros de praias do Rio ( ...)".


FlII f 986 t'.l'/Iiifl 110 l'ltéii/rc deJ Amrl11r1iersrle Nr/lllerre ri perfi
Koltês, IIr/O sr70 sel1f/o l e/('rlllcias
p e(fls filie t'II jd eIl(eIlci. Sl'II tMlro
tirfldas da expetiêlltia rll' Jllf/J
11(/0 se pfll"cre fi IIclJhum 01111'0

•• '-
(: ~I is Oeste [01/1 dil"C(t/o de Palrl[e G!térâill e lendo Alaria Casa-

d, ri./ii'IlINlo e/mro. (,'01l1enlrl Kolles: "1\0 oeslede Novfl YorÁ.',


.I/ rlllhr/II/W , 1I111!1 [(/fIlo do Wesl E 11 ri, onde eslá o velho pOll0,
('11/
IJllepOSJfI {'x isl i r , (/ lIenhulIl alltor-mesmo cOlllemporâneo -
{'li Ifllhfl fII;n,fldo - com o GC1Ie/, por exell/plo ",
f 988 llllll fll/O de II/lIilOJ flcol1lecime1/l0s. Em NfllllelTe,
filie

CO/ll

•• (,.\' /:'/1'11I fI~r.;lIl1 S Itflllgfurs; há 11m em pflltlr///flr, aballdollarlo, 11111


gm ll r/c !tflllgflrVfl.ÚO, olldepflJJel rtlg'I1Ilt1J noill's escondirlo. J~ 11111
rlilt'(iío d e1.1It:·llolldy, eslrlifl IIl1lfllmdu(liofellfl por Ko/I{\ de 1111/
texlo de Shflü.ljJef/!"C, Conto de Inverno. So!Jn: fi (,XjJl'riàláfl ,

•• /lI grl" SI/1IlrNllflI!e estmllho, 11m refúgio rir 1/IfIlr/(f.!,OS, birhflJ , Cflme-
Ms, 1ft run10 rle mlltflJ, 1111/ /lIgarollr!r fi p'o/kifl lIrlo entra 111l11rf/,
jJo/' obsmms mzões. Rf/sta mIm,. e você se dá c011ta rle qlle eslrí
df'dflroll Ko/lfJ em-ell/revisla fl r. fiaI/e.' "F. C'UitlCl1Il' IJ/I{' nt IIr/O
/}(/S.l'tIlifl fi vidalmdllzillrlo, II/flS dl' vez fll/ tjllflllt!O
me prodllz mll;lo pmze,., é IIl1/fl
t .1'/1'Im!Jfllho

eXfJCliêllâa fi mflis. (. ..) 1;'(/f/IIÚI

e IIfllll /lIgarp,ivllegifltio d~ Intl1ldo, IImfl eJpéâe de quadrado mú- SltflÁ'e.ljJefll"C permite 'ver como ele (OIlSll'lIla SllflS o/J///S e ('O!n qUi'

•• Iff70,íflI1lenle flbandonado em meio flllm jardim, onde flS pltmtas


podC/iflm ler lfr,sr:ido de mfllleim d~lerehle: um 11Igflr onde nr/o
li!Jt'rr/rJr/e"./<: rJindfl f.flermo, com t/iI"C(r1ode Chéref/ll, tem/o i Ui d reJ
Pi((o/i á./irllte do elenco, es/dia O Retorno ao I)cscrro. Em

•• 13

•-
entrcuisra fi i~l. Ge1/S01l, afirma Koltês: "Eu cstnua 1'I1l IJl t'/Z em nhas fit'(/I S, e« (/111'11I0: !·: S/{/I!l(}.I' cercados rldfl. Os 1!I%I'ÍS!t{,\' rm •--•
I f}(íO. Jll'lI pai era oficia]e naquela tÍJOCtI c oltan da Jl rgilia. 11 fém
disso, (} m/égio ')ftlll/ -Clémcnl estaca situado 0 11 p/mo /;(tÍl'I'f)
seus amomooei: s.io de 1I/1l(/ f..Jio/tm:ill, de 1I!1/(/ mllldade trrrror],
r -:/r/o />1 o.'! los /1(1/(1 11/(//(/1' (/ i odos ". I': OJII ti»1111: "Os l'ill 'f)jlr'l/S rut
os O(itil'lI/tlis, s/io os vo (/atlá ro,\ monstros. j';xis/(III SOJJ1('JI -
••
••
ri m /I!', Fivi a lhegar/a do Genem] Mnssu , (/,1" t>"p/OJiJ{,J nos {I/PI' .f!/'I II!,

(; 1(1 /1('.1' , t/lr/o de longe, sem lo' uma opinião, e apenas meficaram Ir OJ IJ/l llfI,f,"(l n t. i , (1'1(' ( (I (/(110 (//;."()/(I /1/111(// te ma,!!,1I (fiá).i /}(Jl'tjflt

i///!I 1l '.i W)('S , 1/.1 opiniões eu só as tive mais tard«. Nr70 qu;.'i escrecer /)()SSII O)/ [{Jl/O nohrcz«, (1l"iSloOllâfl incrioe]. floll/lp.o/ me
/111/(/

nmn pe(fI sobre fi guerr(/ da il rgilia, 1IJ(1J, sim, mostrar como [Um
dii:~,( ' (111oscocêpode' sentir emoções ri partirde acontecimentos /fIlC
f>tll "ty e f) único poú do 1JI1I11f!o, assim ('()JlJO 1I1J/{/ ilha, /)(1/(1 mim.
onder« li": njilgimitt. (...) f'II tenho V()!I /(ltlo ltj idal'lúS,iO. jJois (1.1' ••
se r/r.' ·m'{)o/'i.)tJfJ na exterior. No interior, utdo transcorria de modo
(,,/m llho: a Argt!lifl parecia n ão existir e, apesar disso, os (afú
coaoa»: pdos ares e osdraoes eramjogados no r/o. Haoia estetipo
mi"/J(/J pr(flJ [ala m disso. ( isso
csa rcer /111/(/ /Jt(tl. Sâo tiS
fi//( '

c ezcs coler«: tomo essa".


t: (liJlda em 191."/1.) que A'o!th' cscreoc Roberto Zucco, sem
pot!t' III( daI" a idâ(/ tft

••
(/"L ,i o/i1UÚI (1 que 11111(1 criança é seusioel, ainda qu« 11/10 a
(OIll/) u ,t INl a . Entre os doz« i:' os 'dezesseú rJuos as impressões s.io
dlÍ'l.!idr/ seu /i'XIO/lla;sj(l.ifÚ/I/J/!t I:' pt:ltlIrvflrlor.
O/Jlr/ !J(IStf,r!tl nn [atos reais, a o m enos lI/til/ /JeIJu!!(/,!!,r/ll fJltt
Trata -se rÍt' lIJ1Ja
••
du ·is/vas. creio filie a/se decide tudo. Tudo . No mc« ((/.1'0, eoidcn-
tcntrnrc. raloez tenha sido isso() que me Ieoo« Ii me interessar mnis
rralmcntr existi», {/IJI dia A'v//h' v iu lllllJl "mrtrõ" nm
"!JflJ((/ -SC" COIll asfotosde 1/ IJIjovt'1J/ (I fiehavia assassinado ,'( IJI Pfi -
/ /// 'lrI Z rir
••
••
/n/ os cstra ngeiros tio que pe/os [rnnceses. (:0111 prel'Jlrii tn li i/o (friO /ú';aí. FirvfI/t/StÚ/IIJo como rostor(/ IJt/rza riojO'()(,IJI, SO l tI rsrrcuo
(/ 111' (,/fi /ll o snngi« novo ria França. que se a França ciccssc rlr/Jois assistiu, !)t!tl /c/I'UiJr70 , a o mesmo
e tlllllqiii/o . l 'oucosdias
somente do sangue dosfranceses se canoertcria nutn pcsadeto, em I tlj>flZ, q//(' !I(i v';f/ sido preso, {Jm/Jallt/o pelos /elhados ria pliS(IO,
(/( f!.lJ nnrecido li S II /( /I . A esterilidade /0/(/1 no plano nrttstico e em

lodoJ os n/I /l OS li.


soldo ji'llllflr/O/l t'!fIS (ri ma rn s dr l(kL/ I~iriO, rlr:saj!(wrlo o munrio,
dugalldo afiouso de cuecas, ate ser n :mf1Ifl;,atio. VO//lfl/(/O a ser ••
Fstfl é uma temritica quase p enl/fl1lell/e em Koltês: os mnrgj-

I/ fI/ ", os fSIrrll1geiroJ, fi pol/tit't] {' ti PO/fCifl, (I vio/êllt.ia gml,ti/a

( lI'. ,\ 'lI l1/fl Ol/tr:,vistflll KI(ifIJ Gnmau e SrlIJilll' Sf~/tlf, e/tl / : 1ft
fil eso, écn(('I Tar/o 1;,'(/11 hosp ila I pJi(/uirí/rim r sIIiátil, -se do meslJlo
f!iodo Iflle havia fOJlletido seu primeiro oimt' (o priJllriro rle /lilli-
10.1 ou!ro.l) fjfl(IIIr/O maloll SO l pní/Jlio pai ('OtJj II/H'//tl.l (/flill:<',(,
••
OltlU/ll'O de 1988, e/e/a,z" 1~/i't'1llfiçiieJ {JflSI(I1I/e c/tlI'IIS: "l'.:II lilll/UI ) aI/os.

mit)(í"I'Í idé/flJpoHúals lias millha.sj>t(fls, i1gente ndo f .lO't;ve jJe('tl'; \ A:o!/tJ 1II0/TC t'/II /S de aóril r/t 1989, ('(}II/ fJ/lan!!l/a e 1"" (IJ/OS. ••
( O/li idà (IS, t7 gente escn"ve pe(as {Otn pessoas. Fu, Si' qUÚ{:f', eu \ E Roberto Zucco tem Jlla es/dia IIl1l1ldifl/tl/J 12 dca/Jril rlt /991 7

('.iO(' ,,'O !Im Pt1f1f/do pO/líico, fIlm eu !lão fa(o panflelos políticos ) 1111 Scha/lóiillllt: l'1JI f]edilll, com din'(tio r/t: PtterStcill , D/I,w/lr os

peÇfls. 1';/1 não lenho Ilfllhlllllll I'lIziio jJlII'II f'SOl!'uer I etlSttiOJ, 110 IIIf:J t!"/FJerúro, Slá// ('(m(t 't!etllIlllfI!Ollgfl clllrrvis/f/
••
••
IltlS minhas

lIIJ/fI fl t(fl, 1/ Il rlo sel' o/ a/o tieesu't'tN:'I', éo finico E em 0"'1'0 l,.edlO i ti Ali1l1? j.rIl(J i'l/ /, ria qlla/ l'xtli'lIíI/O,l /l1IJ trccho c.lpecia/tJj e17tl'
li.

(/r. \J1/ tl .i Ulltl o '11ff'dW!/!fI de (:/irm~·t'ses médios li: "Seépreâ.w/I1I'III·/ t').jJlê.l'Sivo .w /" I(' Sl l t l vú /iV do ft'X/O di' Hemal'{/-ll{arit' Ao/ti',\':

rir IJ/fllgillflis em lermos de violência, srio eles. Os veniadeiros'


/fl mrios s/lo os /Jllrgllescs do in/erior. Eu qllú mOJ'lral' que
"Df/as ('O':S(/ S lIIe ill!rreJj'(11ll pmliclI/al'lIlente nes/a ;) 1'{rI , li
S!io\
p,imál il é flmtl illterrog{/(âo sobre (J t:xiJ!êllcia hIJlJ/fIIf(f t' I',I'!(/ ••
/~/:'lId(.I' flue (/ gefl~e TlrlO considera COtn.o mfllgif1a~S, :/Il'.Jiio elí'J 0..1' igllol'llllcia onde t'J! fJ1f/OS fi I t .\jJci/o d(l ol igem desl/l (/gl'{'ssi'~.úr/(/de.
IIJ i l / '().I', os {(JJaSSl1Ios. Quando mellClOfiflm ti 'V/Olt'l/f'/fI 1/tlJ Iflf- Dl: onde v em 1i (/(d o ril?J!rf/fÍvíI ,\('/!/ lI/oli·v o.7(:O1!/{) dll J f./Ol/ilf/!')
••
j..J
••
••
••
.\'1)1 r/il/Jo/lloS r/I' /or/os OS lII oddo.l til' discursos f'.\jJ/ial /it ,oS 1//(1' r//((' jJlISSII Ii srr iJllt'r/;II/rlllll'l/l(' a fontr r/(' todos os /Jt'mr/oJ c o /Jn:f!,11
iI .lS/:'-'.. /(/{/ 1JI qur I ) i'll/o r/o (//II /Jil'll /I' , rIo utrio socini. , l /rIS mlli/o OJ r/t'I/ JI'.1rI intrrcir. NII e d h a //{Iglrlill, o homcn: agi rl afn- uor ou

r/t'jJJi ·s.w '~ ·'I'IIIOS 'l''!' CS/rlS an rilisrsndo s/io .l'II j i·(I·I'II /c.I . RI's/ rl rntâo contra II .I0(;N /rl rit' qur disruriasuas ações. F!Jl !/I ((O , o /: O!Jl(,II/, o

•• 111Il/fI/o u k III t'r/O, r/t'

/rh 'tI. .1 c.\'i.l/rl1tÍrl dc


ronfnsâo, dr irritatrio. P rIS.1'rI a ser iurontro-
/( /11 111 ntndor, dI' /(111 '[azrdor r/c rI / OS
'[azrrior' , 1/170 tem /lO//: /1111 ronta lo ('()IJ/ rrsociedade .1'/' nrio lo: (()III
(I so(icr!(/(/t rIo ('sjJc/rÍm lo, qur SI' ron/(1/ /11 ('11/ O/goli,. 0.1'/ 11/0.1e /Ir/O

•• Iki /!'II /icos m il / /110 .1' 011/1'0.1' r' (() !I trn si 1II{'.I/1/0, .I{'111 nrn]: /(111

11/),111 'li /f' , o/l l ·ir.:.rl II n /It/ il' f' 1I .i f' ({)I!;)o ll lrl l' rom (I iu rrrtr-:a t' rr

1!lí ~ 'il/r l if) /IJi' o (()1II/)()I'/IIIIIt'I//O do h0 1ll1'111 f'1II gt'lfll. :\'(1 OO:!!..t'lII
moric o disrmir mais nada.
II srr o n i l / l l'/ l rI.I
, l / as as 1I0.l'Sil.\ .Wrir'r/rlr/I'S !lI/O r.'s/i/o I't'!/I/Úr!II .'

isso? :1jil//( tlO r/I' !/l ir'f) / I'(,.I-,i/l.i l-ilil l · os ,"dhos

.W J//I O.l /l t'II!i( OS.. 111/.1 11/(,.I!JlO .1'1'/11 mora], ( (}!Jl0 to rto» o., /Inú; i . t'it'

•• I /' '.1/11 rilícil /rl rstr), .1'0 1/ r/lí f 'ir/rl,

,1.I (.i
rssr srntintrnto fjl/{ ' ror/os nos tenros
1i//i!JIo.i II IIO.i , r/(/ 1I0.lStl ilJl/)()!I :Jlr-ir1 /Jrl l ll /II ~('I' 11( i!,/(/ J,'r l coisa :
f1n á stI d i ' IlJIlr l II jJO/('O.i(': / o j ÚII r/a / ' /{ iI . 'rlll /O fi"ift- 0 ///10

[unrion rtrin: /)t'I.tá/ll ji -;r'~/I , /l1I/11.iÍ//I{/ ( I/o di' r'/: orl lll ' nrtrrior. "

•• 11.', 111 iíJ ul.r);


,;/Ii / il r/() 011
II/gf/JIi';;111', / 1t'II.II11' OI /lm Nr!l/ rls. F S.if' 1t'I I/ill/(/I/O do

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l /l ll li I! O ; '/ j l' jJl'o/II r'lI/ II .I, f! F II/ rl.'.!,fI,I/O IIr 0// (,'I r/ rll '/"';" . Il tI /' !I !l ,.. !,-(/:I; '/' 101.'

,II Jli "'·OI /Ii Il / ·.i,' i lll t'r/i ll /illllr'lI/I ' I 'OIIl O ill.l"l /II" I / / ()I', tl/'.l· //lI fi.~ ·OS , ((III /Ir l i /.iSlt!/o ri O /) o l /sd l l ' Rrru ]: .i r:'..', .'l i rio III1 f! Ji.l r/ O rft- n / I ";,' i . I 'il//IIIO! /I I

,I 111t'."III II.\ , lo /I/ /i l r/ li /(I I hlllllrl l/il, rtlll /UI r/ /1f1//I Ji '-;',t/ I 'Ir. O l/ rÍt' (' ( ; J/r'fl hOldi OJ/rll' o: 1/.I.\rl//I III /I'.1' / JlIf/o rllJ/ 1{'; '111 .I"If '/ ·~ ' irl/ I {o/ i

•• 1111 11 11/ 1"111 11111(1 .~ 'f'I dr/(lci/l/ /(J -::. r1o dr:.. -i: -rr (' r/r ' .1'('1' IIl11hOIJl('III ; / 'OI'

'/ II( r's míhn o S('1r' 011 o IJi~1 sr /)()df'llIOS/~ / ~('1' 11111 '-;:'r/ /I /Jillg '; S r/ O
r/i rll/ rl, (',\"('O l/rll ' assassinatos / I"r/l/.w : i / i r/o.l dÚi '/ rlllll'II /t' /I d rl /d r'·

, ·i.li / O r 'I~/ '~o ' r"I//n'~·i.i/rll' n J/I'Ii-z.'I /J dll/"lIII/I' l odfl ri ,1:1,1 : ·il/'.!,II/I

•• '/ /Ir '.i / ;;(',i 111 11i /o ,!!,/o /}(tis , tnuito .~~t'I "I/ Ú r/ IIC .11' CS(()I1r/CIlI (1/I IÍS rio
r/II ·,.'i o /r lt't·i ri i IIS/ i ll / i v rl . :\ '1/ 0 / 11/JI imrh II cr: Il r/ hi.llririrl rIo trarro
0 11 r/rlli /cJ'lI / l lIi'/ /fil e sr i!l/IYJr/II.'Zo 11111 '(/ / 0 1' crim in oso' srin
/1'I11f/

IIIOlic rl-
(flm/I/ill. A: ol//'s frr-;; n/i 'dlllill f'.\jJl/rilll a (,SSf' [ato. 1 111(1) //I tI//1 ri

rril /ll Crl .w /Jos o /hos r/a 11/li l / i r/i/O , /(11/ ,I!,Iillltlr' 11 líIJ//'ro rit'/Jr '.iS(/r/.l ri ur

romcntn (/ 11(1/ 0 . : I!i l/ h (/ JI:'..!


,1l/l rlt/ illln'!'o,!!/I(r/o / : 1/1/(' j>a/ld I't'/J!'t'-

•• ( ti o . . 1/rIS / II /Jlilllr'im vez l/f/C d(' ,: II/JI't'SI'IIIIIr/O

!l/orill. .Vrís (//m ll / f(lIlI O.l III/fi/o.l rlll l"(s/litÍJ r/r: RO/J('I/o, p";!/f'!jJa!-
sem 1I1'I//:/(JlJfl senta a '(,'iO/Óltill, OI/ o criminoso r SIIfI (I(r/o rrilllillltl, r/i!!,rIlIlOS "

'li / OI' ailllillo.w ' 1/(/ OIJ;III';-;'(/(r/O /J.fú//lim ria 1I0 SJ(/ SOI-;,.r/illlt'; :1

•• II/f'II/(, f' 1JI (,'(,11('/, I/1rl.1' d t's são !I//(i/o IJIrli.' S('! lI ;IIIf/l /l tiJ (' fl/1 (' %

,(I/ /ido II/lIi/o 1I/11iJ !Jlol"rlis. Nri.l r'1/((JJI/Ii'/!JlO.l lIil/r/1I r'!Jl C'I'IIf'! o

X/X.
a(r/o I r i lll ; I/ OS(/ J't'f>/{'JI'I//Ol/ S('/II / I /{' 101/ j>aprl 1/11 t'(()I/O/lt1il rlll

Sooú/llrlt, drl / ('/I/rlo illdis/h 'll slhd. /1d 11/1/ /('111/10 II /l'ríS,I;tI -sc 111/11

••
\'m / i ll/f'J/l l t!i .lJll o (' o !Jloli't!i.wlO r/o .f / n t!o A'o//I\ ('(JI//(/ II Illlti/O illlr'li ·S.l/ · os (//O.i rlt' 111l/'L'/lli'I rios n illlillo.los. () I/ o/iliritio

/ ,i, / r)l 'lrl rk i sl' .Irl' I~W/llr/O, r!t'.I.I(, /)()/m ' ,l!,1Im/o rIr 11/ 0.1' ;1/('.\j)/i((Í'<. 'ti.l / Jo/; r i rt! J't/JII"S('/I /fl'i.'11 //11/ /) II/)d /I 'rllm/jilllr/rlll/l'II/111. : I / i/ is , .1'0 1/

r' il/f'.\ j ilim r/ns ( OJII 1/ll/rl /lotá/r"1 (l/I/Ol ltlir/llr/t', (' .1'1'/1/ j) mr/ll ~il' II / or/os os g m ll r/l's /l1f/lrll/o/{'.I, (, '/ill'II/IIl'SI/ rl 0/1 . I / II I /Jt'//:, IIr/O hrí

•• II.'r l /OI (fJll dtl.lf/o !JlOI /tI. f i o ((}/I/llílio, hrí 1/11 / h'(ll (()1//líI/IO.l

11/(/(//11'.1 (() II / / rl /or/OJ OS rlid/(\, JCI/ / i ll/l 'II /0S r' 'Ut!O/{'J, NO/J('I/o
1('1// 1'0.'

":1/(/.1' !l oir', o /)(J/)d rio 'a/o I' aimil/o.I'O' (IImllllll /llIIrl I/ O'V II

• /lrlSS II i l .1('1' 11.'J i JII O t'r'I'r/rl r/Ú I'O 1/0/1/1'/1/. ..I 'h t' m i'Zo(/ ( i i o ' / il/ cvi/d-

~'d :1//11/ r/o JIIa;.1 / O f S11/ell/ rl r/fI Img/r/i(/: ((Ir/ri hOI!lt'1!l /fl/ ('frloz,
1I('(('.,· úr/(/Iit'. r/ldo jJrl.\s(/ Ii J( I' j Jlí /J/illl. p ll/ rl .ft:I' ((JII l rl r/o. j )llss il.'d

r/I' Stl' r/ijill/r/ido IIr/ R f'/ní!JIim rios (,fllll(/f'()eS r/O 1fI(S1I/0 /e/!/jJo

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d' Ol//I"rl.'· ojJ( tJt'J. j)Ol'fjl/(' df' /f'l1l rOI/ Jriél/tÍa rlfSJl' a .uflJJ1l/alo. o

hOllll'/II .1'15 j}{)r/r (oIJ/f//-lo mlll II!/la t/I).IC t'x/m rft hl/ásr', 11 mjill '()/.
fjl/{'I'/!/ Rnjill/ . 1'()r/('-S(,//~t'I' 111//11 rOflf'xiio Illlllldirt/ do l/olititÍlio

/Jolitirll. : l g I/{ 'J'I (/ lIr1o /poJsiL-'t/pOl'agom ,/Je!o 111 {'/I 0 .1 1/0 (kir/t'I//(', '

(' rIr' Ii/I(I//I' 11 illrlil'lÍ///o Otirlê1l/It/, tom/(///a rll' 'l'iol/llrirl OI.'!! ,IIII;

•• IS
----------------------------r•
~. {/drl ,

r!tSi(' \
sente-s» sempre 110 desejo -- e 11(1 jlOs1(/io _.- de j>(lItiâjJ(Jr
O / O,i criminosos. /':le éI'raticamcmrforçado a 'prlltiáptlr'.
criminoso, fjll t' fI/}() II/rl SOl r ccoi: ... rrpnra o ! V i (iJ (f) rio
iljJ ()II!(it!fI 11 0

1'('/ /111, t rm VO//fI o jJú/;/;(() Im/il armir fi ({I(,!l(l/O /JOI ' lI/li ;IIS/flll/t
••
;.: como uma (/;':Cllf/(f70. Tudo, em torno de nós, t: ciÍlIlp/ia: desse
('.1' / (/(/ 0 de coisas. Nos aeroportos, oshomens te reoisram, rc tocam,
c /1'1' ,1'1'/1 momento d(' g lti6fl , ('111 /I/Oitl fl{tlO, I/f/S Idas dL' /dl'i,.'islio,
() públiro J!n 'âsf~ 'ter e.\j h'l'ià láfIS', Os po breJ criminosos trrml- ••
If'/J!'f/Jrlf m n fisicamente/J(1/YI açõesterroristas. Pensando nisso 011
n.i o, f'Jf(/1 I1()J mergulhados JltJJfJ tensão . (iNando a viagem (/(01/-
11'((' sent urna hisrôria, de uma certafo rtna , hd 111I;'1 d{'(cp('/io. St.'
na»: send o 'CI timas : d rs SIl O os fi torrs fjllt'/(/~em o h'fI/ ro, rir's/fl zf'lII
() /I' flbfl/IJO
-t:o
pcio: outros.
contado Ih'S/rI cena de Roberto Zucco, tlqllc/tI fjUi'
fillt' t;
••
(I (i!,1I m.t coisa acontece, esM-Jepresente com fi fá mnra, nenhuma

1/1-:./iO jJII/{1 "rio se fl!)foxilflflr, todas as I(I ZiJ('.1 para pf,'/úripa l',
t'lI prefir o. I'~ a rrnn centro], fI mrl ;S oonita, li IIIftÍ.I' longa, n mnis

OIl ,Wt!fI, F/fi in //ll ol(i,'/ lot!fI (I Ilj i !i !íll 0';StlO tia IH'(f1 ronto 1011 ••
Trm-sr I!!l'.WlO n teutaçdo de se colornrcm pt'ligo, l i (limara estd IOdo , ,.

••
III
••
Fillftllllen/e, para cncerrur f stn ;Il/rodlt(/io
(f}!Il/Jlt'x a e tâo rica, fi uma dramaturgia onde o social eo indiv/rl"o
fi uma oãra /i/o SO!I/'{' fi IM 11'0 r sun «/ilizfI{tlo, soorc t/~' 1I do fl /l(' d I' /1 0(1(' mil /(/1' . (. .. ,1
NtI 1'f.'(lIit!m/t IIIr/O isso po(/trifl .1'(' resm»i 1 1/0 St'II /imul lo qttr a gm te ••
••
sr II /{ 'sdm ll numa fdflCf70 íOllfllllJf1r!fI c rlitl l/:i:Il, l'!uj/(('I1Iln trmn jJ(J,iS II; til' se srnrl» tliflll/(, flr 1111I gOl/fr/, ' auto r. II llll! tlt.'/{'UllillfUlo

I (II //{;/, 1/11111 reiacion amento conturoaao f dilacerante, em eSI)(J{O,f momento , a gel/ li' St' e!J('(JI//,.fI no cro ncnr: rom (/.1' mesmas /raçõcs:
(:i/(' I / O\' e /rdlfldos, em qt« é p OSJí v el a SI"PI't'Sfl pel'fllt7llt'llle de fi tldlllitll(/if) c f/ ('.I'/l/j}('jfl(rlO , S o/!/os S!I/ ! J/'t,t'l /(l id o.l' f}OI'tJI/(, S I/ fi

/( m /lhu'(/'IIIos o 1/0.1',1'0 r/;/(Io.:mdo cotidiano que nem e'Jt'llIjJ!'t'.f{íâl


fk ifkll /~jlm nllos em fl OJ.W dia-a-dia, nadn mclhor 1"e as !>alfl-
escritura m/O((I .1(/IIpI'e turra .1'/ 1'/(' inu mcrrit.c] til.' ql/tS/f)(,S. DI' (Illdl'
V t' 1II isso? COI!IO d I' rscrccr? flor (I"r cxruamenrc isso! /)(:i/a/(II" ••
'~ ' l iI \ r/l' gl//1ldr. con àcrcdor, qur encenou oririas dns IJf('/J fft
111"

A'o///:r c rir quem foi gmllr/e amigo: Patrice ehtre/IU, N lI lIl rl 1.' fI -
uruist«, on rJII/II/lro til' 1987, a Didirr Jilfrmzl', SIII!-!,t' t i jJOglIlI-
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conhecendo
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Ko'ti»?". F a resposta {/t Chéreflll: " 'lia/o fico lI c/tiro tlt'srle o medir/a, esl tl ,'dfl((I O é IflIlIIJill/ 1111I(1 rr/l l {iío d" j idel ;r!ot!r. Mfls i
jJIÚIO/' io, l'~ lima r tfrl (rJo a IImf/ eSDi/llrtl. Ou fJnlt'S, fi 11111(/
I/ufdir/mle, a lil!ltlfOl{a de utiliz..//(ão d e umfJ língua - fi nossrl ,
!1I1111 fitldidm/e que 1ldo ri Ido'! til! fIJJeg ll l'(/ r. Uma fitldidtl dc
d%l'o;tl, di/lá!. FOI'r/llf 11(10 épnáso,'ic,.rego t' sfI,I,'erqllf St' es/ill!I(J.\' ••
••
ojÍfllld,i - - e (lO que Kol/i:'S Ihe/n.z dizer, do que (I peça rt!fl/a. Ou COII Ctliodo,l' tlt' qllt' I/II/tl tias pe((/J não é boa, m/o devemos "/OI/ ltÍ-
.i,j d , a I't.'/f l (áo 'l I/f! }·:o//es es/aóelece elt' fII e.illiO ('OfII o mlllldo, (.'01'1 /a , P O ilj/((', ,l'O/J/ ( / lI tiO, se lIIo"lfl l'!lm til/lo,. ( 'OIl / O Ilj> Olii l/({) lIi/o ri
/('i// f'(). , l/ t',i1ll0 qlle ell ntlo /t'lJha fi flU'SJlla V Ú{/ o 1ue d e ,I'O/; I'f t i Illl lh ll el..'i d l'll /i' j}()I' tic/ill i(tlo, is.iO é t tilltia 11/('1/0.1' fjl/fll/do se Il flla

••
(J

I l't,'i'ir/a (/t. t il 'mIJo fi impre,utlorlc fIlt'olimm/ardrs/f/ IdflCrlO. Sem til' Ao/rh·. l l l/ll fw/orexllfll/fIlIlCtl/f! r:Olllp / t'.\'() , FII /O!lh'': ( Olls(ifll -
t!ÚO;t!fI pO"fllt' há fOr/fi ' ' '!tI
IJtl!'!t' de JlltIY pli~(jmjJ(l(õ('S I/(/S fjil{//j· da disso ainda /l'lrtl!J{l/hfl!/r/o tIIllll /) (,(1I mil/o Na Solid:1O d(,s
( li 11/1 ' I'fl'OlIl/{'(o f qllt' ji'na/lJIt:'fll( c'tI /)(.'.i ':/lO fl.l' 1I1t'Jl!Jf/.l' r/úoid'lJ Ca ll1pm de A!got!iío .. ._. fllI fI/tltl, rtl/Ill do IlIflis, 1/lIIM/fio agori/

••
••
LI

.l;:'() Ó / O.J.IIJ,1/ 'o I Jl/J(f o !I,\, 'O.l!Jj.I ;/ (' .. ) .W / -P ";J.J IU o ""!-),J./{!;7 ' .WPIJI/.J.JI{'} 1l/,7.I(~rw.J,}{!,I·IJII,I'.J.\'

,l/.I'!.\:} {I.r ;1/ ,1 0 11/0 ) :./ ·IJ/ .I".l .\',} ,lf-/ .JII!J l/.II){/ O/-PP"/iJ O,I,!.J,J.If! ~'/ 'O/ l U / l I

., ·O.l.U / li! IJII /I!/ /1O) ,O!l)I)).I.I(/I~/: I)/S,}P oP,U'iJ),I' o 'O!.I;!/S.I/I' o O/!"/11 ,}j·-.IIJ.//.I"OIl/ ().\p.J.lc/ ;! 'IJ/XlJ.! »s .10/111) lI/li 0pllIJ!I!J '0l!/II :./

'OP!lJlU/ /1,1/10(/ "1.1' Oll/SJIII-, O!!)IJ.).J..I(/I~/: IJIIS J./(/O S ,r! 1)/lI o.ntot] /1111 ' IJ.J! IIÇj.l.J/)/II/ o!!.\'! [)(/ IJ[(/11.1.1.1" ,J.J.U l l c/ 0,1'.1'/ '0/11!.O/l 1/.1no lU 0/ .J.\' 0.11/1.1/

.I.)(/I),I·,lP 0LI)I),I'II.lj· I) 0lf/l'~l .. ·.1! " / 0 .'),.' !.J lU ' O,Jl/ Oc/ 1III1.1,}),I'/J/{ !iJ li,} 1J.1lJc/.I.J.1r7.l.JJ,} I) l}/ /I,l/IlIJ.J! /l 1I .J.I'-./IJ./iJI).WO .1 ,JF'.),}P ,m !J 1I1;I!1'JiF ' .I"! I)//(
,r?//o.y ,}! .II)/ F -jJ. lIJl l l.7l1 "P I)),}(j mi,!,\p.lc/ l' ·J(l 7. IJ.\:l.IO/ II I) 11111 O/l/O.J IIIJ/j!XJ opu J.I'/JII!J ,m !J . f.}~!P 0/11.1",1/11 1/!-.J.I'-.lJPOd ·.I:U O/ll I) ,I'(J) )/ (I( !

'Z:,H2.I)PW I) ' .r!I)/II O,J1!Oc//lII/.I!.I(/O.).I:'P.lP './IJ.IJc/SJJpO '.I.l·Z IJ./c/ 0.1/"0 O/!"/11 [(/,7/r!.\':./ '.7/ II I/ /.I 0 {/ III ! O/!III" jl l)jJ ,JI/!J.l0d '';P I/ jJ! f-/P ! / I) / ,I",lP

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• CO~/lBATE DE NEGRO E DE CÃES
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••
••
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••
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I
••
Em 11111 pois do A/rico Ocidental, do Senegol à Nigéria,
canteiro de obras públicos de uma empresa estrangeira.
11m

••
PERSONAGENS
••
Horn, sessenta anos, chefe do canteiro de obras.
Alboury, um negro misteriosamente introduzido na
dade.
CI-
•e
Léone, uma mulher trazida por Horn.
Cal, na casa dos trinta, engenheiro. ••
LUGARES
••
A cidade, rodeada de cercas e torres de vigilância, onde
vivem os funcionários e onde é depositado o material:
- um jardim de buganvílias; uma caminhonete parada.
••
embaixo de uma árvore;
- uma varanda, mesa e espreguiçadeira, uísque; ••
- a porta entreaberta de um dos bangalôs.
O canteiro de obras: um rio o atravessa, uma ponte inaca-
bada; ao longe, um lago.
••
Os chamados da guarda: barulhos de língua, de garganta, ••
••
batida de ferro sobre ferro, de ferro na madeira, pequenos
gritos, soluços, cantos breves, assobios, que correm sobre o
arame farpado como uma risada ou uma mensagem em
código, barreira ao barulho da savana, em volta da cidade.
A ponte: dois blocos simétricos, brancos e gigantescos, de
cimento e de cabos, vindos de cada lado da areia vermelha e
••
que não se encontram, em um grande vazio de céu, acima de
um rio de lama. ••
•••
••

.•
•• "EIe havia chamado a criança que lhe havia nascido
no exílio Nouofia, o que significa concebido no deser-

•• to" .
A/bo/ll)': rei de Douiloff (Ouolof) no século XIX, que se
opõe à penetração branca.

••
rouba/;: denominação comum do branco em certas regiões
da Africa.

e
•e Traduções para a língua ouolof por Aliounc Badura Full.

••
•••
••
••
••
••
••
••
••
•• 107


--------------------------------------~r
••
••
••
-

••
••
••
"O c!Iocal lanço-se sobre uma carcaça mal lavada, arranca
prtcipi/adamen/ealgunspedaços, come depressa, incapturdoe!e ••
••
impmiltn/e assaltante, assassino de segunda-mão.

"Dosdoislodosdo Cap', erao perda certa, e, 1/0 meio,a montanha


de gelo, sobre a qual o cego quese chorasse nela seria condenado.

Duranteolongosufocamento desua oitima,emumgozomeditatioo


••
e rituol, aôscuramente, a leoaselembrados possessões do amor. "
••
••
••
I A palavra mp usada para indicar uma ponta de terra que avança sobre
é

o mar, ou direção para onde aponta um navio ou avião; como o autor


utiliza a palavra com inicial maiúscula, pode estar se referindo tamb ém
••
à Província do Cap, antiga colônia inglesa da África, coberta pelas
montanhas do Nieuwewcld c do Drakenberg. (NT.)
••
108 ••
,• com a polícia e com as autoridades locais; eu me felicito por

•• "/nÍJ dos ImgfUltJfliflS, 110 cmpúscuto.


ISSO.

ALBOURY - Desde que o canteiro de obras COIll Cc,:O li , a

••
aldeia fala muito do senhor. Então eu disse: aqui está a
I IOl{N - Eu bem que tinha visto, de longe, alguém, atrás oportunidade de ver o branco de perto. Eu tenho ainda,
da árvore . senhor, muitas coisas pra aprender e cu disse a minha alma:


-
ALBO URY - Eu sou Alboury , senhor; cu vim buscar o corra até as minhas orelhas e escute, corra até os meus olhos
corpo; a mãe dele foi até o canteiro de obras colocar ramos e não perca nada do que você vai ver.
sobre o corpo, senhor, e nada, ela não encontrou nada; e a HORN - Em todo caso, você se exprime admiravelmente

•• mãe dele rodará a noite inteira na aldeia, dando gritos, se


não lhe derem o corpo. Uma noite terrível, senhor, ninguém
em francês; além do inglês e de outras línguas, sem dúvida;
vocês têm todos um dom admirável para as línguas, aqui.

•• poderá dormir por causa dos gritos.da velha; é por isso que
e u estou aqui.
IIORN - Foi a polícia , senhor, ou a aldeia que te mandou
Você é funcionário público? Você tem a classe de um fun-
cionário público. E também, você sabe mais coisas do que
você diz. E além do mais, tudo isso já é muito elogio.

•• aq ui?
ALBOURY - Eu sou Alboury, pra buscar o corpo do meu
ALBOURY - É uma coisa útil, no início.
IIORN -)~ estranho. Normalmente, a aldeia nos envia uma

•• irmão, se nh or.
IIOH N -- Um CílSO terrível, é mesmo: urna queda infeliz,
UIl1 caminhão infeliz que rodava à toda velocidade; o moto-
delegação e as coisas se resolvem rápido. Normalmente, as
coisas se passam mais pomposamente mas rapidamente:
oito ou dez pessoas, oito ou dez irmãos do morto; ClI lenho

•• rista será punido. Os operários são imprudentes, apesar das


puniç ões se ve ras que lhes são dadas. Amanhã , você ter.i o
o hábito de negociações r ápidas. Triste história para o seu
irmão; vucês se chamam todos "irmão" aqui. A falllíli:\ qlle r

••
corpo; devem tê-lo levado à enfermaria, arrumado-o um lima inde nização: nós a daremos, claro, a quem de direi to, se
pouco, para lima apresentação mais correta à família. Trans- eles não exagerarem. Mas você, no entanto, eu tenho certeza
mita os meus se ntime ntos à família. Eu te transmito os meus de que nunca te vi antes.

•• scnt i mcnt ox. Que história infeliz!


ALBOURY _ . Infeliz sim, infeliz não. Se ele não tivesse
sido ope rário, senhor, a família teria enterrado a cabaça na
embora assim que o tiver.
°
ALBO URY - Eu só vim para corpo, se nhor, c ClI irei

HORN - O corpo, sim sim sim! Você o ter á amanhã.

•• terra e d ito: uma boca a menos pra alimentar. É assim mesmo


lima boca a menos pra alimentar, já que o canteiro de obras
Desculpe o meu nervosismo; eu tenho grandes preocupa-
ções. Minha mulher acaba de chegar; tem horas que ela está

•• vai fechar c que, em pouco tempo, ele teria deixado de ser


trabalhador, senhor; então teria sido logo urna boca a mais
pra alimentar, então é uma infelicidade por pouco tempo,
arrumando suas coisas, cu não consigo saber suas impres-
sões . Uma mulher aqui, é um grande transtorno; cu não
estou habituado.
e senhor. ALBOURY - É muito bom, uma mulher, aqui.

•• HORN - Você, eu nunca tinha te visto por aqui. Venha


beber um uísque, não fique aí atrás dessa árvore, eu tenho'
dificuldade em te ver. Venha se sentar à mesa, senhor. Aqui,
HORN - Eu me casei muito recentemente; muito muito
recentemente; enfim, eu posso te dizer, não está nem tudo
completamente concluído, eu quero dizer as formalidades .

•• no canteiro de obras, nós mantemos excelentes relações Mas é um grande transtorno assim mesmo, senhor, se casar.

109
e


Eu não tenho mesmo o hábito dessas coisas; isso me dá gente não vai ficar atrás dessa árvore, na sombra. Venha, me
••
muita preocupação, e não vê-Ia sair do seu quarto me deixa
nervoso; ela está lá ela está lá, e ela arruma já faz horas.
acompanhe.
ALBOURY - Eu não posso, senhor. Meus olhos não supor- ••
Bebamos um uísque enquanto esperamos, eu vou apre-
sentá-Ia a você; nós faremos uma festinha e depois, você
pode ficar aqui. Mas venha então à mesa; já não tem quase
tam a luz muito forte; eles ficam piscando e queimando; eles
não têm o hábito dessas luzes fortes que vocês usam, à noite.
HORN - Venha, venha, você vai vê-Ia.
••
nenhuma luz aqui. Você sabe, eu tenho a vista um pouco
fraca. Venha então se mostrar.
ALBOURY - Eu a verei de longe.
HORN - Minha cabeça está estourando, senhor. O que é •e
••
ALBOURY - Impossível, senhor. Olhe os guardas, olhe pra que alguém pode ficar arrumando durante horas? Eu vou
eles, lá no alto. Eles vigiam tanto no campo como fora, eles perguntar a ela quais são suas impressões. Você sabe da
estão me olhando, senhor. Se eles me vêem sentar com o surpresa? Que preocupação! Eu solto um fogo de artifício,
senhor, eles vão desconfiar de mim; eles dizem que é preciso
desconfiar de uma cabra viva dentro da jaula do leão. Não
fique com raiva do que eles dizem. Ser um leão é com cer-
no fim da noite; fique; é uma loucura que me custou lima
fortuna. E além disso é preciso que nós falemos sobre essa
história . Sim, as relações sempre foram excelentes: as auto-
••
teza mais honrado do que ser uma cabra.
HORN - No entanto, eles te deixaram entrar. It necessá-
ridades, eu as tenho no meu bolso . Quando cu penso que ela
está atrás daquela porta, lá, e que eu ainda não sei as ••
rio ter uma permissão, geralmente, ou ser representante de
lima autoridade; eles sabem bem disso.
ALBOURY - Eles sabem que não se pode deixar a velha
impressões dela ... E se você é um funcion:írio da polícia, é
melhor ainda; eu ~()sto da mesma forma de l1egoci:tr com
eles. 1\ África deve causar uma impressão rude :t lima rnu-
••
gritar a noite inteira e amanhã ainda; que é preciso acalmá-
13; que não se pode deixar a aldeia acordada, de guarda, e
Iherque nunca saiu de Paris. Quanto ao meu fogo de artifício,
ele vai te tirar o ar. E cu vou ver o que fizeram com es se •••
••
que é preciso satisfazer a mãe devolvendo-lhe o corpo. Eles bendito cadáver. (['-'te sai.)
sabem muito bem, eles, por que eu vim aqui.
f-IORN - Amanhã, nós mandaremos trazer o corpo para
você. Enquanto isso, eu estou com a cabeça pronta pra
estourar, eu preciso de um uísque. É urna coisa insana
para um velho como eu ter trazido uma mulher, não é,
11

HORN - (Em frente à porta entreabertn.) Léonc, você está


••
senhor?
ALBOURY - As mulheres não são coisas insanas. Elas
pronta?
LÉONE - (De dentro.) Eu estou arrumando. (Horn se ••
dizem aliás que é nas pan.elas velhas que se faz a melhor
sopa. Não fique com raiva do que elas dizem. Elas têm as
palavras delas, mas é muito honrosd para o senhor.
aproximn.) Não, eu não estou arrumando. (Horn se detem.)
Eu estou esperando que isso pare de mexer. .
HORN - O quê?
••
HORN - Mesmo se casar? LÉONE - Que isso pare de mexer. Quando ficar escuro, e
ALBOURY - Principalmente se casar. É preciso pagar a
elas o seu preço, e amarrá-Ias bem logo em seguida.
HORN - Como você é inteligente! Eu acredito que ela vai
tudo irá melhor: é a mesma coisa à noite, em Paris; eu sinto
o coração doendo durante uma hora, o tempo que demora
pra passar do dia pra noite. Aliás, os bebês também gritam
••
vir. Venha, venha, vamos conversar. Os copos já estão ali. A quando o sol vai embora. Eu tenho pacotes para pegar; eu
••
.•1
110
•e nJO posso esquecer. {Aparecendo (0111 metadedo rosto na porta, pronta: quando eu tiver terminado a conta do que está

•• da aponta /1 buganvília.) Como se chamam essas flores?


l/OH;\!- Eu não sei . (E/fi desaparece de nooo.) Venha beber
faltando e do que eu tenho a mais, e feito as roupas torna-
rem um ar. ClI vou, eu te prometo.
HüRN - Eu estou te esperando, Léone.

••
um uísque .
/J :.ONI': - Um uísque? ah não, proibido. Só faltaria isso, LI~ONE -- Não não me espere, não não me espere. (Os
vo c ê me ve ria então. Isso me é rorulmcnrc proibido. chamados da guarda; Léonc aparece pd(/ memdc.) E () que é

•• HOl~ N - Venha assim mesmo.


LI::() ~E -- Eu estou fazendo a conta do que falta ; est ã me
raleand o lima porç ão ele coisas e c u tenho uma porção ele
que é, isso?
I IORN -- São os guardas. Anoite e a madrugada inteira. de
tempos em tempos, para se manterem acordados, eles ficam

•• COi S'1S das quais eu nunca vou precisar. Me disseram: um

ag,l s ~llho, a "'frica é fria, à noite; fria, ai! os bandidos. Aqui


se chamando.
L(~ONE - í~ assustador. (E/fi escuta.] N ão me espere. (!-:la

•• estou cu com três agasalhos nos braços. Eu estou completa-


mente csbodcgadu. Eu estou com medo de sair, cabritinho,
um desses medos de sair e aparecer em p úblico. Como são
entra.) Oh, cubritinho, é preciso que eu te confesse lima
coisa.
I IORN - O quê?

•• os OUlfOS homens? /\ s pCSSO.1S não gostam de mim, em geral ,


:\ primei ra vista.
I-IOI{N - Só tem um, eu já te disse.
Ll~ONE -- (Baixo.) Logo antes de vir, ontem ~ noite, eu
estava caminhando pela ponte Neuf. E daí? e daí que cu me
sinto ele repente tãu bem, oh tão feliz, como nun ca, sem

•• lJ:Ol"E -- O avião, é uma coisa que não me agrada . Na


ve rdade, eu prefiro o telefone; a gente sempre pode desligar.
razão . I~ assustador. Quando me acontece alguma coisa desse
tipo, bom, eu sei que vai acabar mal. Eu n30 gosto de sonhar

•• :\0 cnr .mto, eu me preparei, preparei como lim a louca: eu


escutava regí!pe todo santo dia, o dia inteiro, as pe ssoas do
meu prédio j.i não agüentavam mais. Sabe o que cu acabo de
coisas felizes demais ou me sentir bem demais ou então, isso
me deixa nuns estados pelo santo dia inteiro e eu fico
esperando a desgraça. Eu tenho intuições, ma') elas S JO ;\0

•• de scobrir, abrindo a minha mala? Os parisienses têm um


cheiro forte, cu sabia disso; o cheiro deles, cu já tinha sentido
conrr.irio. E elas nunca me enganaram. Ah eu não estou com
pre ssa ele sair daqui, cabritinho.

••
dentro do metrô, na rua, com todas essas pessoas em quem [JOHN -- Você est á nervosa e é bem normal.
é preciso roçar, eu sentia o cheiro vagar c apodrecer pelos J .JJlONE -- Você me conhece tão pouco!
cantos. Bom, eu ainda estou sentindo esse cheiro, aqui, na IIORN -- Venha, anda, vem.

•• in: Ilha mula; eu não suporto mais. Quando um agasalho, lima


c.un isu, qualquer pedaço de pano pegou o cheiro de peixe ou
de batatas fritas ou o cheiro de hospital, tente tirá-lo: e este
Lí~ONE - Você tem certeza de que só {em um homem?
IIORN - Eu tenho certeza absoluta.
LI~ONE - (AjJarece o seu ôraço.) Você me deixa morrer

•• é mais resistente ainda. Eu vou precisar de tempo para fazer


roda essa roupa tomar um ar. Como eu estou contente de
de sede. Quando ell já tiver bebido, eu vou, eu te promc-
to.

•• estar aqui . A África, enfim!


I IOHN - Mas você ainda não viu nada, e você não quer
nem mesmo sair desse quarto.
I·IORN - Eu vou buscar alguma coisa pra beber.
LÉONE .:..- Mas água, principalmente, ~ígl1a! EII tenho
comprimidos pra tomar c pra tomar com ~íglla. (flor" sai;

•• I "~()!\E - Ah, eu já vi bastante e eu vejo bastante daqui


p;\r~1 adorá-lu. Eu não sou li/na visitante. Agora cu estou
Lcone aparece, olha.) Tudo isso me impressiona. (F/a sepen-
dura, (Olhe IIII/(/.fIOl' de bugal/vília, e entra 1JOV{lfI/('I//c.)

•• 111

••
III

No varando. Bom entro.


HORN - (Baixo.) Tem um homem aqui, Cal. Ele é da
aldeia ou da polícia ou pior ainda, pois eu nunca o tinha visto.
Ele não quer dizer em nome de quem ele vem pedir as
••
CAL - (À mesa, como cabeça entr» as mãos.) Toubab, pobre
animal, por que você partiu? (Ele cêora.) Qual o mal que eu
contas. Mas as contas, ele vai pedir, e você vai dar a ele, a ele.
Prepare-se. Eu não me misturo mais; eu não estou com ••
••
cabeça pra isso; eu não sei de nada; eu não vou te cobrir; eu
te fiz? Horn, você me conhece, você conhece os meus não estava lá. Meu trabalho está terminado e tchau. Desta
nervos. Se ele não voltar esta noite, eu vou matá-los todos; vez, você mesmo vai responder; e você não suporta nem uma
comedores de cachorros. Eles o tomaram de mim. Eu não
posso dormir sem ele, Horn, Eles o estão comendo. Eu não
escuto nem os latidos. Toubab!
gota fodida de uísque.
CAL - Mas eu não tenho nada a ver com isso, Horn, eu não
fiz nada, Horn. (Baixo.) Não é o momento de se dividir, a
••
H O RN - (Arrumando ojogodegomela l .) Uísq ue demais. (Ele
põe o gorro/a 00 seulado.)
gente deve ficar junto, a gente deve ficar unido, Horn, É
simples: você faz um relatório para a polícia, um relatório ••
CAL - Silêncio demais!
HORN - Eu ponho cinqüenta francos.
CAL - (Levantando novomente o cabeça.) Sobre cinco nú-
para a direção, você assina, e pronto; e eu fico tranqüilo. Em
você, todo mundo acredita; eu só tenho o meu cachorro, eu,
ninguém me escuta. É preciso ficarmos juntos contra todos.
••
meros?
HORN - Sobre cada um.
Eu não vou falar com esse negro; o neg6cio é simples e eu te
a
disse toda verdade e é a sua vez de jogar. Você conhece os ••
••
CAL - Eu não vou. Dez francos por número, nem um meus nervos, Horn, você conhece bem; é melhor que eu não
centavo a mais. o veja. Aliás, eu não quero ver ninguém enquanto o meu
HORN - (Olhondo-o õruscamoue.) Você fez a barba e se cachorro não voltar. (Ele chora.) Eles me vão comê-lo.
penteou.
CAL - Você sabe muito bem que eu sempre faço a barba
à noite.
HORN - Eu ponho cinqüenta francos por número, e nem
um centavo a menos.
CAL - (Ele coroca cinqüenta francos. Gritos de sapos, bem
••
HORN - (Olhondo osdados.} É meu. (Ele ncolhe.)
CAL-Aliás, eu quero jogar com os peões; pelo prazer, pelo
perto.) A gente estava olhando o céu, os operários e eu; o
cachorro tinha sentido o cheiro da tempestade. Um sujeito ••
jogo puro. Você come, você come, não há mais nenhum
prazer; você s6 encontra prazer em comer, é nojento; cada
um por si e nada pelo prazer. Uma mulher, isso vai nos trazer
atravessava o campo; eu o vejo. Nesse instante, estoura um
temporal. Eu grito: vem Toubab, vem! Ocachorro levanta o
focinho, levanta os pêlos; ele sente o cheiro da morte; isso o
••
um pouco de humanidade aqui. Você vai desagradá-Ia, isso
vai ser rápido. Eu sou por um jogo desinteressado, não para
ficar comendo tudo. A gente deve jogar com os peões. Aliás,
excita, pobre animal. Depois eu o vejo correr em direção ao
negro, lá longe, debaixo da tromba d'água. Vem, Toubab!
Eu o chamo; pobre animal. Então, no meio da gritaria, uns
••
as mulheres preferem jogar com os peões. As mulheres
trazem humanidade para o jogo.
clarões desencontrados, eu vejo um grande raio. Toubab
parou; todos olham. E a gente vê o negro cair, no meio dos ••
I Tradução literal do nome de um jogo de azar que utiliza dados c peões.
Em frances,jnl degmntllts (gamelas, marmitas). (NT.)
barulhos de rrovão; atingido, debaixo das rajadas de chuva;
ele se deita na lama. Em nossa direção vem o cheiro de
enxofre; depois, o barulho de um caminhão, lá longe, que
••
112 ••

e
e acelera, em nossa direção. (Hom bal{I11({l os dados.) Meu o endc rc ço, () dinheiro par~1 a passagem de uvi.io : esteja lá
e Touhab des apareceu . eu não posso dormir sem ele, 110m. dentro de 11111 mês, o tempo que a encomenda de Ruggieri
e (/-:;" dw/"{/.) Desde que ele é bem peque ninho. dorme em possa chegar. Sim , ela disse. Foi assim quc cu a e nco nt re i.
Para o último fogo de artifíci o; eu queria uma mulher que o
e cima de mim; o instinto o fazia sempre voltar pra mim, ele
não poderá se virar sozinho, Horn; pobre animal. Não estou visse. (Ele nposta.) Eu disse a ela que o canteiro de obras iria
e escutando ele latir; eles o comeram. Eu, à noite, aquilo me fechar e que então cu deixaria para sempre a Arriea. E la disse
e fazia urna bola de pêlos em cima da barriga , das pernas, do sim pra tudo. Ela sempre diz sim .

e S:ICO; isso me fazia dormir, Ilorn, já estava no sangue, pra

mim. Que mal fiz a ele?


CAL - (Depoisde 11m tempo.) Por que eles de sistem da obra,
Hom?
ta I IORN - (Olhando os dados.) Doze. (Cfll recothe.) HORN ._- Ninguém sabe . EII pus cinqüenta francos. (DI!
e CAI ,-- (Com limapiJcadade olho.) Que surpresa, Horn! Você aposta.)

-
e diz.: cu vou ao aeroporto; você volta, você me diz: minha CAI, ·- Por que logo assim , 110m? por que SCll1 explicação?
mulher está aqui! Que susto. Eu nem sab ia que você tinha Eu ainda quero trabalhar, Bom. E o trabalho que nós
achado lima pra você, afinal. O que é que te deu ele repente, fizemos? Uma metade ele floresta derrubada , vin te c cinco
e I1\ClI velho ? (Eles aposram.} quilômetros de estrada? lima ponte em con stru ção? c a
e HORN - Um homem n50 deve acabar sua vida desonrai- cidade, os poços a escavar? todo esse tempo pra nada ? Por

e zado,
CAL .- Sim. meu velho, claro . (Ele recolhe.) O que conta, é
que a gente não sabe ele nada, Horn, nad a do que se decide?
e por que você mesmo não sabe?
e que você tenha feito urna boa escolha. HORN - (Olhando os dndos.) Sou eu que pego. (Siléncio;
e I IORN -- Então na última vez que cu fui a Pari s, eu dis se: os dza!ll''lrlos riagllarda.)

-
e se você não encontrar agora, você não vai cn contni-la nunca . CAL -- (Baixo .) Ele e stá rangendo os dente s.
CAL - E você encontrou! Que sedutor, meu velho! (1':11'.1' 110RN - O qu ê?
aposram.) Desconfie assim mesmo do clima. Faz as mulheres CAL - Ali, atr ás da árvore, o negro, diz pra ele ir embora,
e ficarem loucas. f~ científico, isso. I·Iorn. (Silél/âo. Latidos ao longe,' Cal tem 11/11 sobressalto.)
e HORN - Não esta. (Cal recolhe.) Toubab! Eu o estou ouvindo. Ele está zanzando perto do

e CAL - Que ela ponha bons sapatos, que eu poderei lhe


emprestar, diz isso pra ela, meu velho. As mulheres se
esgoto; que ele caia h1 dentro, eu não vou me mexer. (Eles
apostnm.) Sacanagem; ele fica zanzando e quando eu chamo,
e pre ocupam com a elegância e não conhecem nada dos ele não responde, ele dá uma de que está pen sando. I:: ele?
e micr óbios africanos, esses que a gente pega pelos pés, I~ . Pense bem, meu cachorrinho; eu n50 vou te buscar. Ele

e meu velho. deve ter sentido o cheiro de um bicho desconhecido; q L/C ele

-
IIORN - Esta não é uma mulher comum, não. se vire; ele não deve cair; c se ele cair, eu não me mexo. (Eles
e CAL - (Com uma piscada de olho.) Então, eu darei a ela uma olham os dados. Cal recolhe; baixo.') O cara, Bom, eu posso te
boa impressão. Eu encontrarei a oportunidade de lhe beijar dizer, não era nem mesmo um operário; um simples diarista;

e ;1 mão; ela verá a elegância.

I·IORN - Eu disse: você gosta de fogos de artifício? Sim, ela


ninguém o conhece, ninguém vai falar dele. Então ele quer
ir embora; eu digo: não, você não vai embora . Deixar o
e li issc: eu disse: eu preparo um todo ano , na África, c este será canteiro de obras lima hora ant es; é importante, uma hora; se
e () último. Você quer vê-lo? Sim ela disse. Então, eu dei a ela a gente deixa lima hora, tem o exemplo que isso dá. Como
e 113
e
e

e
você, não é agora que eu vou te deixar em paz, está aí o que e

-•
eu te falei, eu digo então: não. Aí ele me cospe nos pés e vai
embora. Ele me cuspiu no~ pés, e por dois centímetros teria eu disse pra mim enquanto olhava pra ele. Então eu o pus no e
acertado o sapato. (Eles apostam.) Então eu chamo os outros caminhão, eu fui até o depósito de lixo e joguei ele lá em
caras, e digo pra eles: vocês estão vendo, esse cara? (Imitando cima: é tudo ~ que você merece e pronto; e depois eu voltei
osotaque ntgrO:) Sim chefe nós est~mos vendo - ele atraves- pra casa. Mas cu voltei lá, Hom; eu não agüentava ficar
sa o canteiro de obras sem esperar o fim do expediente? - parado, os nervos estavam acabando comigo. Eu o peguei de e
sim chefe sim chefe sem esperar o fim doexpedicntc-sem volta do depósito de lixo, hl do alto, c o pus de volta no e
capacete, pessoal, por acaso ele está com o capacete? - não
chefe a gente está vendo bem ele não está usando capacete.
cam inhão; cu o Icvo até o lago c o jogo dentro d';lgu<l. Mas
isso estava me deixando perturbado, 110m, de ixá-lo em paz
e
Eu digo: lembrem-se disso: ele saiu sem que eu o autorizasse na água do lago. Então cu voltei lá, eu entrei na água até o e
- sim chefe oh sim chefe sem que você o autorizasse. Aí ele pescoço e o peguei de novo. Ele estava dentro do caminhão e
caiu; o caminhão estava chegando e eu pergunto ainda: mas c eu não sabia mais o que fazer, Bom: você, eu não vou poder e
quem está dirigindo o caminhão? mas a que velocidade ele te deixar em paz, nunca, é bem mais forte do que eu. Eu olho
e
••
vai? ele não viu o negro? E aí, hop! (Cal recolhe.} pra ele, eu digo pra mim mesmo: ele vai acabar com os
HüRN - Todo mundo te viu atirar. Imbecil, você não nervos, esse bubu. É aí que eu encontro. Eu disse pra mim:
suporta nem mesmo essa sua raiva fodida. os esgotos, está aí a solução; nunca você vai mergulhar lá
CAL - É como eu te digo: não sou eu; é uma avalanche.
HüRN - Um tiro. E todo mundo te viu subir no caminhão.
dentro para pegá-lo de novo. E é assim, 110m: par a deixá-lo
ern paz, apesar de não querer, de uma vez por todas, 110m; ••

CAL - O tiro é a tempestade; e o caminhão, é a chuva que enfim, eu vou poder me acalmar. (Eles olhamos dados.) Se cu
cegava tudo.
HORN - Eu talvez não tenha ido à escola, mas todas as
besteiras que você vai dizer, eu já conheço de antemão. Você
vai ver o que elas valem; pra mim, tchau, você é um imbecil
e isso não é negócio meu. Eu ponho cem francos.
CAL - Eu vou.
o tivesse enterrado, I-10m, aí, eu teria de desenterr á-lo, eu me
conheço bem; e se eles o tivessem levado para a aldeia, eu
teria ido buscá-lo. O esgoto, era o mais simples, IIorn, era o
melhor; aliás isso me acalmou, um pouco. (Horn se Ieoanta;
Cal recoihe.) E sobre os negros, meu velho, os micróbios dos
negros são os piores de rodos; diga isso pra ela também. As
-
e
e
e
HORN - (Batendo no mesa.) Por que você tocou nele, meu mulheres nunca estão prevenidas o suficiente contra o pe- .
e

Deus? Aquele que toca em um cadáver caído na terra é res- rigo. (Hof7J sai.)
ponsável pelo crime, é assim nessa merda de país. Se nin-
guém tivesse tocado nele, não haveria responsável, seria um e
crime sem responsável, um crime fêrneo, um acidente. O IV
e
negócio era simples. Mas as mulheres vieram buscar o corpo
e elas não encontraram nada, nada. Imbecil. Elas não encon-
traram nada. (Ele botena mesa.) Se vira. (Ele balançoosdados.)
HORN - (Encontrando-se com AlbotllY debaixo da droore.)
Elé estava sem o capacete, é o que eu acabo de saber. Eu te

e
CAL - Quando eu o vi, eu disse pra mim mesmo: esse aí, eu
não vou poder deixá-lo em paz. O instinto, l-10m, os nervos.
falava da imprudência dos operários; eu tinha pensado certo.
Sem capacete: isso nos tira toda a responsabilidade. •
e
••
Eu não o conhecia; ele tinha apenas cuspido a dois centíme- ALBOURY - Que me entreguem o corpo sem o capacete,
tros dos meus sapatos; mas o instinto, é assim que funciona: senhor, que me entreguem como ele está.

114
e
e
e
e I IOl{N _.- Mas é o que eu vinha te dizer: eu te peço para Cento e cinqüenta dólares vão fechar o bico deles. Quanto ao
e cxcnlhcr. Fique aqui 011 não fique aqui, mas n30 fique na resto, acredite em mim, isso não lhes interessa nem um

e scnuhr«, utr.is da árvore. ,;: irritante sentir a presença de pouco. O corpo. () corpo, uh!

•• alguém. Se você quer vir à nossa mesa, você vem, cu não


disse () contrário: mas se você nilo quer, vá embora, cu te
pc<;o; eu te receberei no escritório amanhã de manhã e nós
ALBOURY -'- Ele me interessa.
IIOI{N.--- Dá o fora.
ALBOURY - Eu fico.
e examinaremos. AIds, cu preferiria que você fosse embora. IIORN- Eu vou te fazer sair.
e Eu não disse que eu não quero te servir um copo de uísque;
não foi o que eu disse. E então () quê? você se reCUS;1 a vir
ALBOURY --- E\I não vou sair,
IIORN - Mus você vai assustar a minha mulher, meu
e tornar um trago? você não quer vir ao escritório amanhã de se nhor.

-•
e\ r '
m.inhã? I.. aí? escolha, meu senhor. ;\LBOURY -- A sua mulher não vai ter medo de mim.
,\1,BOURY '-- Eu espero aqui p~1fa pegar o corpo, é tudo o I IORN --- Vai sim; uma sombra, alguém! E então finalmen-
que cu quero; e cu digo: quando cu tiver o corpo do meu te, eu vou fazer os guardas atirarem em você. é isso ()que cu
ta irm.io. cu vou embora. vou fazer.
I IORN - () corpo, o corpo! Ele não estava com o capacete, ALBOURY - O escorpião que a gente mata sempre volta.
e o SCII corpo; tem testemunhas; ele atravessou o canteiro de
obr.rs sem capacete. Eles' não terão nem um centavo, diga
(IORN - Senhor, meu senhor. você está ficando irrir.u!o: o
que você csr.i dizendo? Até o momento, cu sempre me fi/.

••-- ISSO IH~1 eles, senhor.

:\1,BUliR), -" Eu direi isso a eles quando eu levar o corpo:


sem capacete, sem um centavo.
entender muito hem ... Por ;ICISO 1'Il estou fic.uulo in ir.ulo? I::
preciso admitir que você é purticulanncnrc difícil: é impos-
sível negociar, com você. Faça um esforço do seu lado.

•• IIOHN --- Pense um pouco na minha mulher, senhor. Esses


barulhos, essas sombras, esses gritos; tudo é tão assust.tdor
aqui par:l alguém que chega de repente. Amanhã. ela estará
Fique, tudo hem, fique, j.i que parece ser o que você quer.
(Baixo.) Eu sei muito bem que () pessoal do ministério csr.i
furioso. Mns cu, compreenda, eu não tomo parte nessas
e acosnuunda, mas esta noite! Ela acaba de chegar, então, se decisões de alto nível; um simples chefe de cuntciro de ohrus
e alcrn disso, ntr.is da árvore, ela vê, ela percebe, ela adivinha
algllém! Você não faz idéia. Ela ficará aterrorizada. Você
Il;tn decide nudu; cu I1;Úl tenho nenhuma rcxpo ns.rhi lidudc.
Aliás, é preciso que eles compreendam: o governo cncomcn-
e quer aterrorizar minha mulher, senhor? d~l, encomenda. e não paga; j;Í faz meses agora que ele não
e AI,BOIJRY -- Não, não é isso que eu quero; eu quero paga. i\ empresa não pode manter canteiros de obras fun-
e entregar o corpo para a família dele. cionando qU:1I1do o governo não paga; você compreende? Eu

• IIOHN - Diga isso pra eles, senhor: cu darei cento e


cinqücntn dólares para a família. Pra você, eu vou dar
sei que tem por que não estar satisfeito: pontes inucubudas,
estradas que não levam a lugar nenhum. Mas o que eu posso

•--
duzentos. pra você; cu vou te dur amanhã. I:: muito. Mus é fazer, cu, hein? () dinheiro, o dinheiro, pra onde ele vai en-
provavelmente o último morto que nós teremos neste can- tão? O país é rico. por que as caixas do Estado estão vazias?
rc iro de obras; e então o quê! Pronto. Dê o fora. Eu não digo isso para te ofender, mas me explique isso,

e-- ALBOURY -·-I~ o que eu vou dizer a eles; cento e cinqüen-


ta dólares; c eu levarei o corpo comigo.
senhor.
ALBOURY - O que dizem é que o palácio do governo se

-
e
e
e
I IORN - Diz pra eles. é. diz pra eles; é o que lhes interessa. transformou num lugar de sacanagem. lá; que fazem vir

115
•e
champanha da França e mulheres muito caras; que ficam
bebendo e trepando, o dia inteiro e a noite inteira, nos es-
critórios dos ministérios, e aí estã o caixa vazio, é o que me,
de europeu, o amor?
AL80URY - Não, não é amor.
HORN - Eu sabia, eu sabia. Eu muitas vezes percebi essa
-•
e
disseram, senhor.
HORN - Que ficam trepando, veja só você! (Ele ri.) Ele
goza os ministros do seu próprio país, veja você. Taí, eu acho
insensibilidade. Note que ela choca muitos europeus, aliás;
eu, eu não condeno; note também que os asiáticos são piores
ainda. Mas, bom, por que então você é tão obstinado por uma
••
você simpático. Eu não gosto dos funcionários públicos e
você no final das contas não tem cara de funcionário público.
coisa tão pequena, hein? Eu disse pra você que eu indeni-
zaria.
e
e
••
(Baixos} Então, se é assim, como você mesmo está dizendo, ALBOURY - Muitas vezes, as pessoas pequenas querem
quando é que a juventude vai começar a se movimentar? uma coisa pequena, muito simples; mas essa coisa pequena,
quando então eles vão se decidir, com as idéias progressistas elas a querem; nada vai desviá-las dessa idéia; e elas se
que eles trazem da Europa, a substituir essa podridão, a
tomar tudo isso nas mãos, a pôr ordem nisso? Será que um dia
deixariam matar por ela; e mesmo quando as tivessem
matado, mesmo mortas, elas a quereriam ainda.
e
e
•••
a gente vai ver essas pontes e estradas ficarem prontas? Me HORN - Quem era ele, Alboury, e você, quem é você?
conte tudo; me dê umas ilusões. ALBOURY - Há muito tempo, eu disse pro meu irmão: eu
ALBOURY - Mas dizem também que da Europa, o que se sinto que estou com frio; ele me diz: é que tem uma pequena
traz, é uma paixão mortal, o carro, senhor; que só se pensa nuvem entre o sol e você; eu digo a ele: é possível que essa
e
••
nisso; que se brinca com isso noites e dias; que se espera pequena nuvem me faça congelar enquanto tudo em volta
morrer com isso; que tudo foi esquecido; é o retorno da de mim, as pessoas transpirem e o sol as queime? Meu irmão
E uropa; é o que me disseram. me diz: eu também, eu congelo; nós então nos aquecemos
H O RN - Os carros, sei; Mercedes, ainda; eu vejo bem eles,
todos os dias, dirigindo como loucos; isso me deixa triste. (Ele
ri.) Mesmo em relação à juventude, você não tem nenhuma
juntos. Eu digo em seguida ao meu irmão: quando então vai
desaparecer essa nuvem, que o sol possa nos aquecer, nós
também? Ele me disse: ela não vai desaparecer, é uma
••
ilusão, você me agrada de verdade. Eu tenho certeza de que nuvenzinha que vai nos seguir em todos os lugares, sempre e
a gente vai se entender. . entre o sol e nós. E eu sentia que ela nos seguia em todos os
e
ALBOURY - Eu, eu estou esperando que me entreguem
o meu irmão; é por isso que eu estou aqui.
HORN - Enfim, explique pra mim. Por que você insiste
lugares, e que no meio das pessoas rindo nuas no calor, meu
irmão e eu nós congelávamos e nos aquecíamos juntos.
Então meu irmão e eu, debaixo dessa nuvenzinha que nos
•e
em recuperá-lo? Me lembre o nome desse homem? privava do calor, nós nos habituamos um ao outro, para nos
e
ALBOURY - Nouofia, era o seu nome conhecido; e ele
tinha um nome secreto.
HORN - Enfim, o corpo dele, que importância tem pra
aquecermos. Se as minhas costas coçavam, eu tinha o meu
irmão para coçá-las pra mim; e eu coçava as costas dele
quando ele precisava; a preocupação me fazia roer as unhas
•e
você o corpo dele? É a primeira vez que eu vejo isso; no das mãos dele e, no sono, ele chupava o dedo da minha mão.
•e
-
entanto, eu acreditava que conhecia bem os africanos, essa As mulheres que nós tivemos se agarraram a nós e come-
ausência de valor que eles dão à vida e à morte. Eu aceito çaram a congelar também; mas a gente se aquecia tanto se
acreditar que você seja particularmente sensível; mas enfim, abraçando debaixo da pequena nuvem, a gente se habituava
não é amor, hein, que te faz ficar tão obstinado? é uma coisa uns aos outros e o arrepio que tomava conta de um homem e
116
e
e
•e
•e repercutia de um lado ao outro do grupo. As mães vinham
ficar conosco, e as mães das mães c os filhos delas e os nossos
mentos de área média, meus cálculos são razoáveis; que estes
prédios constituam uma cidade, eu digo bem: uma só, cujas
e filhos, umafamília enorme da qual mesmo os mortos nunca " ruas ;te riam dez metros de largura, o '(lh e e óornplerarnenre
•• se desgrudavarn, e eram mantidos apertados no meio de nós,
por causa do frio debaixo da nuvem. A nuvenzinha tinha
correto. Bom, essa cidade, senhor, cobriria a metade da
França; nem um quilômetro quadrado a mais. Todo o resto

••
subido, subido em direção ao sol, privando do calor uma seria livre, completamente livre. Você pode verificar os
fam ília cada vez maior, cada vez mais habituada cada um a cálculos, eu os fiz e refiz, eles estão absolutamente exatos.
cada um , uma família impressionantemente numerosa feita Você acha o meu projeto estúpido? Só vai ficar faltando

•• de co rpos mortos, vivos e para vir, indispensáveis cada um a


cada um na medida em que nós víamos recuar os limites das
terras ainda quentes sob o sol. É por isso que cu venho
escolher o lugar desta cidade única; e o problema ~stará
solucionado. Nada mais de conflito, de país rico, nada mais
de país pobre, todo mundo no mesmo barco, e reservas pra
e reclamar o corpo do meu irmão que arrancaram de nós, todo mundo. Você vê, Alboury, eu sou um pouco comunista,

•• porquc a sua ausência rompeu essa proximidade que permi-


te que nos mantenhamos quentes, porque, mesmo morto,
nós precisam os do calor dele para nos aquecer, e ele precisa
eu também, à minha maneira. (Um tempo.) A França me
parece ideal: é um país temperado, bem irrigado, sem des-

••
proporção no clima, na flora, nos animais, nos riscos de
do nosso pura manter o seu. doença; ideal, a França. Poderia-se claro construí-Ia na parte
I JORN ---- Il d ifícil de se compreender, senhor. (Eles se sul, a mais ensolarada. No entanto, eu, eu gosto dos invernos,

•• olhanr.) Eu acredito que, independentemente do esforço


que se faça, será sempre difícil coabitar. (Siltllâo.)
ALBOL;RY- Me disseram que na América os negros saem
os bons velhos rudes invernos; você não conhece os bons
velhos invernos rudes, senhor. O melhor seria então cons-
truí-Ia , esta cidade, de comprimento, dos Vosgcs até os

•• de manhã e os brancos saem à tarde .


IIORN 0_- Te disseram isso?
ALBOURY - Se é verdade, senhor, é urna ótima idéia.
Pircncu s, margcnndo os Alpes: os amantes do inverno iriam
para a regi}o da antiga Estrasburgo e aqueles que não
suportam a neve, os bronquiteiros e os friorent os, iriam para
e lI( )RN - Você pensa isso mesmo? os espaços onde tivéssemos destru ído Marselha e Ibyonne.

•• ALBOURY- Penso. O último conflito desta humanidade aqui seria Ulll debate
IIORN--.. Nâo, é lima idéia muito ruim. It preciso ser teórico entre os charmes do inverno ulsuciuno e oS d;t prima-

•• l'()()pcr~ltivo, ao contrário, senhor Alboury, é preciso forçar as . vera da Côtc d'Azur. Quanto ao resto do mundo, senhor.
peSSO:1S a serem cooperativas. Aqui está a minha idéia. (Um
Aqui, meu bom senhor Alboury, eu vou te deixar sem
1t'1JI1)O.)
seria o estoque. Livre a África, senhor; cxplorarlamos suas
riquezas, seu subsolo, a terra, a energia solar, sem incomodar

•• f:da . Eu tenho um excelente projeto pessoal do qual eu


nunca falei pra ninguém. Você é o primeiro. Você vai me
ninguém , E só a Africa seria suficiente para alimentar a
minha cidade durante gerações, antes que fôssemos obriga-

-.-
dizer o que você pensa dele . A propósito desses famosos três dos a meter o nariz na Ásia c na América. Aproveitaríamos ao
e bilhões de seres humanos, com os quais se faz uma monta- máximo a técnica, leva-se um mínimo estrito de operários,
nha : eu calculei, que alojando-os todos em prédios de qua- por turnos, bem organizado, alguma coisa como um serviço

e renta andare s - cuja arquitetura faltaria definir, mas qua-


renta andares e nem um a mais, isso não chega nem ao
cívico; e eles nos trazem o petróleo, ouro, urânio, o café, as
bananas, tudo o que você quiser, sem que nenhum africano
e tamanho da torre Montparnassc, meu senhor - em aparta- sofra pela invasão estrangeira, já que eles não estarão mais

e 117

aqui! Sim, a França seria bela, aberta aos povos do mundo, CAL - Se é a transpiração que te dá medo, bom , é idiota;
••
todos os povos misturados perambulando por suas ruas; e a uma camada de transpiração, isso seca, e depois então lima e
África seria bela, vazia, generosa, sem sofrimenro, teta do outra, uma outra, isso faz uma carapaça, protege.. E então, se
e
mundo! (Um tempo.) Meu projeto te faz rir? No entanto aqui
está uma idéia, senhor, mais fraternal que a sua. É assim
que eu, senhor, eu quero e persisto em pensar.
é ocheiro q~e te dá medo, o cheiro, ele desenvolve o instinto.
Aliás, quando se conhece o cheiro, se conhece as pessoas; e
também, é bem prático, a gente reconhece as coisas de cada
••
Elesse olham; o oenta sopra.
um, [lido fica mais simples, é o instinto e pronto.
LÉONE - Ah é. (Silêncio.) ••
v
CAL - Beba um trago, por que você não bebe?
LÉONE - Uísque? Oh não, eu não posso. Meus remédios.
E também, eu não estou com tanta sede.
••
Na oaranda.
CAL - Aqui, é preciso beber, com sede ou sem sede; se-
não, a gente seca. (Ele bebe; silêncio.)
e
e
••
LÉONE - Eu vou precisar costurar um botão. Isso, deixa
CAL - (Percebendo Léon«, elegrita.) Horn! (Ele bebe.) comigo; as casas não, é difícil demais pra mim. Nenhuma
LÉONE - (Com a flor !Ia mão.) Como se chamam essas paciência, nenhuma. Eu as deixo sempre pro fim e finalmen-
flores?
CAL-Horn!
LÉONE - Você sabe onde eu poderia encontrar de beber?
te, bom, pronto: um alfinete de mola. Os vestidos mais
chiques que eu fiz pra mim, eu te juro, é ainda e sempre um
alfinete de mola que irá fechá-los. Sua megera, um dia , você
••
CAL - Horn! (Ele bebe.) Onde ele se meteu?
LÉONE - Não o chame, não se incomode; eu encontrarei
vai levar uma alfinetada.
CAL - Eu também antes, o uísque, eu cuspia em cima; e eu ••
sozinha. (Ela se distancia]
CAL - (Fazendo-a parar.) É com esses sapatos que você
conta para andar aqui?
bebia leite, cu, nada além de leite, eu posso te dizer; litros,
barricas; antes de viajar. Mas, desde que cu viajo, olha só;
essa sujeira de leite em pó deles, esse leite americano, leite
•e
LÉONE - Meus sapatos? ; de soja, não tem um pêlo de vaca que entra nesse leite aí.
••
-
CAL - Sente-se. E então, cu te meto medo? Então, se é obrigado a se meter nessa sujeira. (Ele bebe.)
LÉONE - Não. (Silêncio; la/idos do cachorro, ao longe.) LÉONE-É.
CAL - Em Paris, não sabem o que é, um sapato; em Paris, CAL - Felizmente que essa sujeira aqui a gente encontra
não sabem nada e fazem as modas de qualquer jeito. em todo lugar; isso, eu nuneafiquei sem, em nenhum lugar e
LÉONE - É a única coisa que eu comprei pra mim, e aqui
está você me dizendo isso. Os bandidos, o preço que eles te
fazem pagar por esse pedaço de couro! Saint-Laurent, buti-
do mundo. E no entanto eu viajei; e você pode acreditar em
mim. Você viajou?
LÉONE - Ah não, é a primeira vez.
•e
que África, no entanto. Caro, isso! Ouh. Uma loucura. CAL - Eu, jovem como você está me vendo, eu viajei, e

-••
e
CAL - É preciso que eles subam, que eles segurem o acredite em mim, acredite em mim. Bangcoc eu fiz; eu fiz
tornozelo. Com bons sapatos, a gente agüenta o rojão, é o lspahan, () mar Negro; Marrakcsh, cu fiz, Tângcr, a Reunião,
mais importante, os sapatos. (Ele 1Jt1Jt.) o Caribe, I-Ionolulu, Vancouver, eu; Chicoutimi; o Brasil, a
LÉONE-É. Colômbia, a Patagônia, as ilhas Espanholas, a Guatemala,

118



: cu : c finalmente essa sujeira de Africa aqui. olha, Dakar,
Abidj ã, LOl11é, Léopoldvillc, [ohunncsburgo, Lagos; pior
LI~ONE -
CAL -
Sim , sim, ele me falou dis so,
Ele te falou disso, então ?
LltONE - Sim, sim, sim .

••
ci o qu e tudo, a África, eu posso te dizer. Bom, em todo lugar
() uísqu e ou () leite de soja; e nada de surpresa, não. Eu sou CAL .- I:: 11m corajoso, I·lorn. (Ele ococ.) Ficar um mês
jO\T11\, no entanto; c bom, cu posso te dizer que um uísque sozinho com alguns bubus, sozinho aqui; para vigiar o mate-

•• se parece CO ITl um uísque, um canteiro de obras com um


cantei ro de obras, uma empresa francesa com lima outra
ClIIprCS:l francesa: tudo a mesma suje ira.
rial, durante essa porra de guerra deles; não seria comigo que
teriam feito essa sacanagem. EntJO ele te contou tudo, a
briga com os ladrões, seu ferimento -,- 11m ferimento horrí -

•• 1.1::ONE --'" I:~.


( :.'\1 ~ ,-- Nã o, essa empresa aq ui, não é a pior, que não me
vel. 110m - e tudo? ('-Jt' br/Je.) I~ um csbanjudor, l Iorn .
LI:~ONE - I:~ ,

•• 1';1(':; \11) dizer o que eu não digo, não. Ao conrr.irio, talvez seja

.ué ;1 melh or. Eb sabe tomar co nru de você. ela te trata como
se eleve, a genre é bem ulimcnrado, bem alojado, ela é
CAI ~ - N ão. De quê isso adianta pru ele, :\go ra? () que ele
tem de mais, ser á que você sabe. você?
Ll:~ONE - - Não, eu não se i.

•• i'r:1 nccs.t, o ra: vo cê vu i vc r; niio su 11 c u li uc você va i ou vi r ( ;1l.tr


co nr rn, ,t!;ll;Jrde isso, (1::1e beiJe,} Nã o é como essas suje iras de
( : t\I ~ - ( (:0 /11 11111(/ jú.fmr/fI r/l' olho.) ~las o que ele tem de
men os, voc ê deve sab er! (/·J t bebe.) Ela soa engraçad a, essa

••
c mpr c s.is it.ilinnas, holande sas. alemãs. suíça s e não sei quê história. (Fie olh(/ pm dfl.) O que interessa a ele, em você?

. ••
'
m.us, que enchem a África agora, que são lima verdade ira
zuna. N ~ () . não a nossa; não. ela é como se deve se r. ( '~ /e bell('.)
I':u n ;l o 1!.osr:tri:1de ser italiano ou s uí ço . \ 'OCe; pode acreditar.
I .I:: ON E - Oh sim oh não.
CAL -- Beba isso. (Ele lhe t'J /{'JI{ /t 11/11 copo de utsqtte.}
J ,1::ONE - Mas onde ele cst.i CJH ~o? (Silfl/do.)
(CIIIIJIlf lr/OS dos gnardas: siléncio.)
L I::Oi\! E - Eu estou com se de demais.

,.)(/ se lcuanra, se distancia sob (/.1' fÍIVOn'.1'.

•• (:i\L - (Bnixo.) Por que você veio pra cá?


LI~ONE - (Leonndo 11111 S/IJ/O.) Por quê ? Eu queria ve r a
VI

o ocnto levfll//a umn poeira oennclã«: Leone vê (/(rtllém ddiaixo


••
ArrieI.
CAL -- Ver o quê? (Um tempo.) Isso não a África, aqui, l~ é da buga/lvíli(/.
um canteiro francês de obras públicas, bebê . Nos m111 'In lí 1'lOS e sopros, no Il fI/C!" das asas q/le fi contornam, ela

•• LI ::O NE - N~o deixa ele ser ..,


CAL - Não. I-10m te interessa?
Ll::ON E --- i\ gente deve se casar, sim.
irconhccc o seu nome, e então e/a JCII/t' a dor de utua marca /11/111/
grnoada em suas bodJedim-.
O harrnartun, cento de areia, carrega-a flté ao pé tia droore.

•• CAL - Com I-10m, se casar?


I.I ::ONE - - Sim, sim, com ele, LI:~ONE (Jlproxilllflt/t/o-sedefUóo,"y.)- Eu estou procuran-

•• CAL - Não.
LÉON E - Mas por que você diz sempre... Onde está o
cabritinho ?
do água. Wasser, bit/e. (Ela ri.) Você compreende o alemão?
l~ a única língua estrangeira que eu conheço um pouco, Você
sabe, minha mãe era alemã, verdadeiramente alemã , de
e CAL - Cabritinho? (Ele bebe.) I-10m não pode se casar, você origem pura ; e meu pai alsaciano; então cu, com tudo isso...

•• sabe, não? (Silênao.) Ele j.í te falou do ... rEla se aproxima tia droore.) Eles devem estar me procuran-
119

••
--------------------~----~r
,
do. (Elo olho AllJollry.) Ele tinha me dito no entanto que... tão grave; eu gosto bastante da gravidade. (Ela ri.) Eu sou ••
(Docemente) DicIJ erkenneich, sicher. (Elo olho00 rtdordela.) Foi uma horrorosa, desculpe. (Ela pdra de mexer.) Eu preferiria
quando eu vi as flores que eu reconheci tudo; eu reconheci ficar aqui; o tempo está tão bom. (Ela toca nele sem olhar.)
essas flores cujo nome eu não sei; mas elas estavam pendu- Kommmit mir, Wasserholen. Que idiota. Eu tenho certeza de
••
radas assim aos ramos na minha cabeça, e todas as cores, eu que eles estão me procurando; eu não tenho nada a fazer
as tinha já na minha cabeça. Você acredita nas vidas ante- aqui, é claro. (Ela o solta.) Tem alguém aqui. Eu ouvi ...
riores, você? (Ela olhapro ele.) Por que ele me disse que não (Baixo.) Tet~fel! J!erschwinde, pschttt!(Na oretha rlele:) E li vo I ta-
••
e
••
havia ninguém além deles? (Agitado.) Eu acredito, eu acre- rei. Espere por mim. (Albotlry desaparece sobas droores.) Oder
dito nelas. Momentos tão felizes, muito felizes, que me vêm Sie, Fommen Sie zuriicÁ.'!
de tão longe; muito doce. Tudo isso deve ser muito velho.
Eu acredito nisso. Eu conheço um lago à beira do qual eu Entra Cal.
passei uma vida, já, e isso me volta constantemente, na ca-
beça. (Mos/rando-IIle uma //01' de buganví/ia.) Isso, a gente
••
não encontra em outros lugares fora os países quentes, não VII
é? Acontece que eu as reconheci, vindo de muito longe, e eu ••
estou procurando o resto, a água morna do lago, os momentos CAL - (Um dedo sobre a boca.) Não fale tão alto, bebê; ele
felizes. (Muito agi18da.) Eu já fui enterrada debaixo de uma não vai gostar.
pequena pedra amarela, em algum lugar, debaixo de flores LÉONE - Quem? Só tem nós dois, aqui.
••
parecidas. (Ela se inclino na direção dele.) Ele havia me dito CAL - justamente, bebê, justamente, só tem nós dois. (Ele
que não tinha ninguém (Ela ri.) e tem você! (Ela sedistancia.) ri.) É um ciumento, Horn. (Latidos prâximos.) Toubab? O ••
••
Vai chover, não? então, explique pra mim como farão os que ele está fazendo aqui, tão perto? (Pegando Léone pelo
insetos quando chover? Uma gota d'água sobre a asa deles e ôraço.l Havia alguém, ali?
eles estão fodidos. Então, o que eles vão virar, debaixo da LÉONE - Quem é Toubab?
chuva? (Ela ri.) Eu estou tão contente que você não seja CAL - Meu cachorro. Ele late quando vê um bubu. Você
e
francês nem nada assim; isso evitará qu~ você me tome por viu alguém?
uma idiota. Aliás, eu também não SOú verdadeiramente LÉONE - Então você o adestrou?
francesa . Metade alemã, metade alsaciana. Já sei, a gente CAL - Adestrou? Eu nunca adestrei o meu cachorro. (.: o
••
foi feito para... Eu vou aprender ri SlIrI língua africana, é, e instinto e não precisa mais nada. Mas você, desconfie se você
quando eu estiver falando bem, pensando bem para cada vir alguma coisa; deixe os bichos ajustarem suas contas entre •e
•e
palavra que eu vou dizer, eu te direi ... as coisas ... Importan- eles; corra e venha se refugiar.
tes ... que... eu não sei. Eu não ouso mais olhar pra você; você . LÉONE - O quê? Se eu vir o quê?
é tão grave, e eu, a gravidade! (Elo seagita.) Você está sen- CAL - Um bom golpe no ventre Oll uma faca nas costas e
tindo o vento? Quando o vento revira desse jeito é o diabo aí está o que te espera se você se mete a se perguntar coisas
que revira. VerscAuinde, Teu/el; pschllt, vai. Então, a gente em vez de correr. Eu te digo: você vê qualquer coisa, alguma
••
fazia soar os sinos da catedral, para que o diabo fosse embora, coisa que você ainda não viu ou que eu não te mostrei , você
quando eu era pequena. Não tem catedral, aqui? É engraça- dá o fora rápido e vem se refugiar. (Pegando Léone110S oraços.)
do, um país sem catedral; eu gosto das catedrais. Tem você, Pobre bebezinho! Eu também, um dia, eu desembarquei

120
- ••
••
· 1

:1 aqui, cheio de idéias sobre a África; o que a gente vem ver, nomes de cachorro. Não é o dinheiro que me fez vir atrás do
-[ () que ~I gente vem ouvir! Na minha cabeça eu :.1 amava, a cabritinho, não.

:1 gc nrc I1j() vê nada, a gente não ouve nada daquilo que a


gente esperava; cu compreendo a sua tristeza.
I')::ONE ,- Eu não CStoU triste . Eu estava procurando algo
CAL - - Então, por quê?
LI~ONE - Eu vim atrás dele porque ele me chamou pra vir.
CAL - Qualquer um que tivesse te chamado, então, você
-I
•• pra beber. só isso. teria vindo atr ás, hcin? (Fie /7'.) Essa mulher tem car.irc r.
CAL -- Seu nome? LÉONE - Qualquer um não me chamou.
LI~ONE -- Léonc, CAL -- E você gosta de fogos de artifício, hcin, bebê?

•• CAL - I:: o dinheiro que te interessa?


LI~O NE - Qu al dinheiro? O que você e stá dizendo? (Cal
LI::ONE - Gosto, também , ele me falou disso também .
CAL - Você gosta de sonhar, hein? e você gostaria de me
fazer sonh ar também, hein ? (Duro .) Ma s eu, eu sonho com ~I

•e
solta-n, ap roxim a-se do mmil/hiio.)
(: i\L - Essa mulher é malicio sa, perigosa. (Et« ri.) Qual verdade, eu não sonho com mentiras. (E/I! olhn jJ(/m cla.) ESS:1
t r.rbalho você fazia, em Paris? mul hc r é 11111 a ludru. (Lconeteoa u.» susto; (.'tI/ P".W-I/ I/ O';"'(JIII{'l/-

•• I,I::ONE - Num hotel. Arrumadeira .


(:.\1 . -- Empregadinha. Ganha-se menos aqui do qllC você
11CI1 S;l.
tepara os J fIIS braços.) Eu me di virto, bebê, não se pre ocupe.
Nós, a geme não vê mulher desde tanto tempo, eu e stava
com vontade de me divertir com uma mulhc r, Eu te dou a

•• L I::ON E - Eu não penso nada .


(: '\1, - -- :\ gente trab alha muito e não ganha nada .
impressão de um selvagem, não?
I.,í~ON E - Não , oh .:

•• I ')::ONE -- Não, eu sei que você ganha muito. CAI, - No entanto, claro que nos transformar íamos em
(: ;\L - - E de onde você tirou isso, sua empregadinha ? Por se lvage ns, se a ge nte se deixasse le var. Ma s não é porque a
;lUSOeu tenho o ar de ganhar muito? (Ele mostra as uiãos.) gente est á no fundo des se bura co que é preciso se deixar

•e Por ~l C1 S O eu lenho o ar de não trabalhar, eu ?


LI:: ONE -- Não é porque você trabalha que você n ã» é rico.
C,\I , -- Uma verdadeira rique za não nos de struiria as mãos,
levar, é o que eu me digo. Fu, por exemplo, cu me interesso
por IIl11a porçã o de coisas, você vai ver, e eu gosto de falar.
gosto de me divertir, eu gosto ele trocar, prin cip almente.

•• cs t.i aí a ver dade ira riqueza . A riqueza suprime tud o, tod os os


esforços, 1130 sobra um. nem urna gota de suor, nem mais um
Olha SÔ, eu, eu era louco por filosofia, você pode acreditar.
Mas o quê, aqui, o que é que se vê de tudo isso? Não, a África,

•• mínimo movimento, aquilo que a gente não tem vontade de


Iazcr: nem mais uma dorzinha. Esta é a verdadeira riqueza.
~ las nós! Tire isso da cabeça. Eles pagam, sim, mas não o
não é o que a gente pensa, bebê. Mesmo os velhos qu e estão
aqui nos impedem de trazer idéias novas; a empresa, o
trabalho, não nos deixam tempo. As idéias, no entanto, eu

•• sufi ciente; n50 o suficiente. Os verdadeiros ricos não sofrem


mais nem um pouco. (Olhando para Léone.) Com essa aventu-
ra, durante a guerra, Horn, com esse ... acidente. ele deve ter
tenho; cu tinha . Mas de tanto pensar, pensar, pensar sempre
sozinho, a gente acaba sentindo as idéias estourarem dentro
da cabeça, lima a uma; desde que eu ponho urna em marcha :

•• ganh~ldo muito dinheiro, Horn: ele nunca fala disso, então,


de ve se r lima quantia enorme. O dinheiro te interessa, hcin,
pluf, como um balão: pluf, você deve ter visto, na vinda, na
beir a d~l estrada , os cachorros, a barriga inchada como balões,

e bebê ?
LI~O NE -- Não me chame de bebê. Você usa umas palavras:
e as patas pra cima. No entanto, o que conta, é poder trocar

••
com alguém. Eu sempre fui curioso; por música, por filosofia;
bubu, bebê, e o nome do seu cachorro. Não dê a todo mundo Troyar, Zola, principalmente Millcr, Hcnry. Você poderá

••- 121
__--------------------r•
vir no meu quarto e se servir dos meus livros, eu tenho LÉONE - Me solta. ••
••
todo o Miller, meus livros são seus. Seu nome? CAL - Vamos, bebê; era só pra ver a sua cara. Eu, na
LÉONE - Léone. verdade, essa história, não é a minha. Você está chorando ou
CAL - Eu estava realmente arrebatado pela fi losofia, q lia n- o quê? Nã() precisa levar assim. Eu compreendo que você
do eu era estudante. Sobretudo por Miller, I Ienry; lê-lo me
desbloqueou completamente. Eu estava arrebatado, em Pa-
ris, eu. Paris, o maior cruzamento de idéias do mundo! Mil-
está triste, bebê. Mas por aC<lSO cu estou triste, eu? No
entanto, você pode acreditar, eu, eu teria todas as razões do
mundo pra estar triste, c razões de verdade. (Docemente.} Eu
••
ler, sim. Quando ele sonha que mata Sheldon com um tiro de
pistola dizendo: "Eu não sou um Polak!" Você conhece?
vou te emprestar os meus sapatos; só faltava você pegar uma
doença suja. Aqui, a gente se transforma quase em selvagens; ••
LÉONE - Eu não sei... Não.
CAL - Então, quando a gente vem aqui, não é questão de
se deixar levar, não, bebê. .
eu sei; é que é o avesso do mundo, aqui. Não é uma razão para
chorar. Olha pra mim : eu tenho mais diplomas, mais qualifi-
cações, mais estudos do que I-10m, e no entanto, eu estou
••
LÉONE - Léone.
CAL - Essa mulher está com reservas comigo. (Ele ri.) Não
abaixo. Você acha isso normal? Tudo é invertido, aq u i. No
entanto, bebê, eu, por acaso cu faço disso uma doença? por ••
••
é preciso, é preciso ser absolutamente direto. Nada nos acaso cu choro?
separa, a gente é da mesma idade, a gente se parece; eu, em LÍ~ONE - Aqui está o cabritinho. (1,:;(/ se leva"/,,.)
todo caso, eu sou absolutamente direto. Não tem razão pra CAL - Não se mexa. Um ladrão entrou na cidade. É
ficar bloqueado.
LÉONE - Não, não tem razão.
CAL - E também a gente não tem escolha: a gente está
perigoso.
LÉONE - Você vê ladrões em tudo quanto é lugar.
CAL- Um bubu . Os guardas o deixaram passar por engano.
••
sozinho; aqui, você não vai encontrar ninguém com quem
falar, ninguém; aqui, aqui é um lugar perdido. Principalmen-
Você só tem o tempo de vê-lo um segundo e está pronta para:
hop na barriga ou nas costas, hop! Entre na caminhonete.
LÉONE - Não. (Ela o empurra.)
••
te agora, que é o fim: só sobrou eu e ele. E quanto a ele, a sua
CAL - Era para te proteger. (Depois de 11111 tempo.) Você está e
••
cultura... E também ele é um velhote, Horn ...
LÉONE - Um velhote! Você tem umas palavras! Eu gosto me julgando mal, bebê, cu sei. Mas a gente não vê mulher
de conversar com ele. aqui, desde o início da construção; então ver uma, ver você,
CAL - Sim, talvez, não; mas" gente tem necessidade de
admirar, com o passar do tempo. É muito importante, a
admiração. A mulher admira a cultura do homem. Seu nome?
isso me perturba, é isso. I~ difícil pra você entender; você
vem de Paris. No entanto, isso me perturbou, te ver; cu
adoraria ser diferente, eu, elt senti que a gente podia se dar
••
LÉONE - Léone, Léone.
CAL- Então?
bem logo de cara. Mas como eu sou não é como eu gosjaria
de ser. No entanto, eu tenho certeza de que a gente deve se ••
LÉONE - Então o quê?
CAL - Por que Horn?
LÉONE - Por que o quê?
dar bem . Eu tenho o instinto, para as mulheres. (Ele pega fi
mão deia.)
LÉONE - Eu me sinto toda vermelha, oh!
••
CAL - Você poderia se casar com um homem a quem fal- CAL - Você, você tem temperamento, isso se vê logo de
e
••
ta ... O principal? você poderia, por dinheiro? Essa mulher é cara. Isso me agrada, o te mperamento. A gente se parece,
nojenta! bebê. (Ele ri.) Essa mulher é muito atraente.

122
••
•• ,(:O N I·: ~ As mulheres daqui devem ser tão bonitas. Oh, IIOI{N - Meu Deus, eu não vejo o que você est áachando

••
J

C(llllll C II ll\(..~ sinto feia! (/·Jfl.W· /t't 'fl1llfl.) Cabritinho chegou . nele .
( :,\1 , - (.'i/JI'VXil1lfl1lr/O -JC de/ti.) Não seja t ão pudica, minha ( :i\L -- [ust.unc nrc, nüo h.i nuda a achar nele, JLH!:1.

•• empregadinha. Eu tenho o instinto, eu, para certas coisas.


1,1::01" E - (O//lflllrio /J(I/i'ult:.) Eu acho a ~e nrc tão feio! Ele
cs r.i aqui ; CII o estou ouvindo; ele csui aqui 111e procurando.
IIORN - - E o que você queria mais, meu Deu s? ;\ (')S so mos
dois, CII nJO vejo o que a ~enrc pode jo~ar, a doi s, Você t .ilvcz
não o ache suficientemente complicado par:I voc ê. 1\ gente

•• ((,> 1/ S([~ II ra -n ba» [ortc; ela (1f/l/ltljitpJI/{/O .)


( ::\1, --- Plldica!
pode complicar, você sabe, cu conheço Utl) :I S vuri.mt cs: ~I
~ente LJz 1I1ll;] b.uica, e SI) tem li direito de aposLtr so br e ...

•• I ,I::() ~ I·: _._- 1LI 11d i ti o!


( .Al . ---- Pari s, o maior borde] do IllIIIH!(I !
I , l::C)NI·: - (De /Ollgt:.) l'eIJth,állt!e, vl'I :I'{irü.."illdl
( :"\1, - - Eu .uh o qlle é ai lld:l mai s idiot.t se é Ill<li s corup li-
(' ;t do. esse jogo,

IIORN - Enrão, você não joga mais?

•.- ( ::\1, -- Sacll1~\~cnl. (f)fjJois dl' 11111 IOlljJO ,) (ju :Illt!n n~lo se vô
I I llJlI1CITs duran te tanto (e 11 'I)/), depois , :1 gellte espera ...

.o mo se russe ser ... a explosão. E então n.ul.r, n.idu nud. r.


( :i\L - Eu não quero mais, n.io; eu acho qlle ;1 gente fica
id iot ;1, jO,l!.:lIH!O.
IIOH;\; - - ( /)(j) ois dr 1"" le'llliJO .) Meu IkIIS, n ào, eu 1l ~IO
e \ ' l I \; ‫ ן‬noite ;I mais, perdida . ( FIe.l"t rliS/(III1'1rI .) co m p re e nd o .

•• C:\ L -- (( :0/11 fi m!)({fl na : uuios.) Plu f!


I IOR N - O qu ê?

•• .1 11: 1'9 / , o ll j if.'lI /l' (10 j ogo de g lllllt!fl .


(: :\ 1, - - Eu e stou d izendo que c.n lu vez que :1 geme jog:l
c sxc jog o :1 ge m c perd e un s nc ur ôn ios I , (Fk INIII' IIfl m / ' '(lI .)
I:: uq u i qlle cu xiru o.
I

•• I !( )W\.' - () cquilihrio. essa ~ :I p:I!;I\'r:l. ( :0111011 ;1 alimcut .r-


1.;;] 0: jllsu medid a de prorc ín ns e de vitam inas: justa med ida
IIOJ{ N -- ~LJ s o q u;.: ~ que te deu ? Em tudo qU:IIHO é IlIg:lf,
eles jo g :llll. CIIl tod w; os c.m tciros de llIH :\ S; l' cu nu mu vi
ninguélll, em lugar nenhum , parar em pleno mc io dizendo:
e de ,l!.ordllr:ls c de ca lor ias; equilíbrio do bulo alimentar; isso me rir.i uns neur ônios. Que neurônios, meu Deu s ? \ 'olê

•• urg;ll1il.:lC;;JO das entradas, dos pratos, c das sobremesas, l~:


;1.. ; sill1 que deve se co nst ru ir Up1 bOI11 fogo de artifício, no
também n;\o uli.is, tem mese s que eu te vejo jng :lr... Se você
qui ser, cu vou busc á-la c a ~ente Llz lima purt ida de ...

•• c q uilibrio: or~aniza\':io das cores, senso de harmonia, justa CAI, - - Nào, !1:1o, não; pôquer, não!
medida na sucess ão das explosões, justa medida nas alturas I IOI{N - Porque as curta s. também ...
de lançar . Construir o equilíbrio do conjunto e () equil íbrio CAL -- I:: ainda mai s idiota, não .

•• de c.ulu momento, é um verdadeiro quebra -cabeça, eu te


di~() . ~Ia s você vai ver, Cal, o que Ruggicri e eu a gente
Ll / . do céu , você vai ver!
IIORN -- EIHão todas as pessoas que jog:lIn curtas S:lO
idiotas? 1I.i s éculos que se jogam canas e em rodos os países,
e silo todos idiotas e ninguém se deu conta ainda, exceto

•• C:!\ L - (Parando bruscamente de [ogar.) E u acho esse jogo


idiota,
I IOR N - Idiota? o que é que ele tem de particularmente
você ? t\lcu Deus!

e id io ta, esse jogo?


I JlIgo de pal avras sem corre spondência em português. (.a sr, "ca sebre de

••
negros" c a "casa" do joglJ: no scutido figurado, pod e de signar ainda
(: ;,\L - Eu acho ele idiota . u m "compartimento do c érebro" . (NT.)

• 123
----------------------~r
••
••
CAL - Não não não, eu não quero mais jogar nada. ~'tco/he.)
Você tem isso na pele, você. (Depois rle '1111 tl'mpo.)
HORN - Então, o que é que a gente deve fazer? Não pense que eu quero te puxar o saco; mas você, pra
CAL - Eu não sei. Não ser idiota. começar, você tem o comando na pele: você é o tipo de chefe
HORN - Tudo bem, de acordo. (Elesfechom o cara.)
CAL -(Depois de tlm tempo.} E aqui está o barulho da África.
Não é nem o tantã, nem a moenda do milho, não. É o
ao qual a gente se apega, é preciso reconhecer isso; você é o
chefe ao qual a gente se habitua; é isso, o bom chefe . Eu ••
••
estou habituado a você, você é meu chefe naturalmente, eu
ventilador, ali, em eima da mesa; e o barulho das cartas, ou onem reparo mais, não há nada mais para dizer. No canteiro de
do cartucho de dados. (Depois de IIIn 011/1'0 tempo, baixinho.)
obras, quando me dizem: chefe isso chefe aquilo, cu digo
Amsterdã, Londres, Viena, Crac6via...
HORN -Oquê?
CAL - Tem todas essas cidades, no norte, que eu gostaria
sempre: perdão, o chefe não sou eu é Horn o chefe. Eu, o que
é que eu sou? nada. Eu sou: nada, eu não tenho vergonha de
dizer isso. Independentemente de você: nada de nada. A
••
de conhecer... (IRpois de um tempo, ;'es seselvem de kkl:) Eu
ponho quinhentos francos no número dez.
você, nada mete medo; mesmo os guardas não te metem
medo. Eu, ao contrário, independente de você, bom ... eu •e
HORN - Com uma banca ou sem?
CAL - Não, não, o mais simples.
HORN - Eu estou. (E/esfosn1l girar os dados. Hom põe de
tenho medo, cu não tenho vergonha de dizer. Medo, mas
medo de verdade; na frente de um guarda bubu, eu fujo; é
assim ; na frente de um bubu não-guarda, eu atiro. É uma
••
lodo o garrafa de t~ís'lW.) É que você bebe demais.
CAL - Demais? Com certeza não. Eu nunca fico bêbado,
questão de nervos, o medo, a gente não pode fazer nada.
Mesmo na frente de uma mulher eu entraria em pânico, ••
••
nunca. velho, eu SOIl bem capaz disso. Então cu, cu preciso de você.
IIORN - Mas o que ela está fazendo, meu Deus, onde ela (Baixo.) Tudo é podre, aqui; o canteiro de obras não é mais
se meteu? como antes: entram, saem dele; então se a ~cntc se separa,
(:1\1, - Eu 6 que sei? (Ele l'troMe.) Ao contrário, as pessoas
embriagadas sempre me desagradaram. Aliás, é bem por
nós, a gente vai ficar sozinho, ainda por cima . (,I/(IiJ IlfIi.\'o.)
Será que não é uma idiotice que você fez, trazer lima mulher
prn eM (Alai.\' baixo ainda.) E o hubu, ser á que ele não veio
•e
••
causa disso que cu gosto daqui. Eu sempre tive horror em
ficar nu fr~nte de alguém que está bêbado. É por isso que eu porque ele sabia que havia uma mulher? {Eles aposraur.) A
gostaria. sim, eu gostaria que para o pr6ximo canteiro de gente deve ficar como os dedos da mão, essa é a minha idéia.
obras... (Eles apostam.) Eu poderia ter caído com alguém
bêbado todas as noites como existe em certos canteiros de
obras; eu sei muito bem que isso existe; eu poderia, sim, eu
Só de pensar em estar em outro canteiro de obras, na frente
de uns caras bêbados rodas as noites, eu te digo que eu atiro
no meio da pilha de gente, é isso o que eu faço. (Eles olham
••
poderia. (Osdadosgiram.) Para a próxima obra, você poderia osdados; Ca! recolàe.)
pedir que eu fosse com você. Você tem bastante peso, meu HORN - (Leoantando-se.) O que ela pode estar fazendo, ••
••
velho; você é bastante velho na casa. Vão te escutar, velho. meu Deus?
HORN - Não haverá próxima obra, não para mim. CAL - Mais uma partida, chefe, a última partida. (Sorriu-
CAL - Mas sim, velho, você sabe muito bem; você sabe do.) Mil francos no número dez. (Ele põe; Horn hesitfl.) Um
muito bem, velho. Você se vê numa casinha pequena, na esbanjador como você, velho; você não vai hesitar? (Horn
e
França, no Midi, entre os choramingos de uma mulher e um oposto;eles jogflm os dados.) Espere. (Eles escutam.) Ele está
jardinzinho, meu velho? Você nunca vai deixar a África . (E/e falando.
••
124
••
•• I IOR N - o quê?

••
l.ltON E - .._Jfcill SohllJJ 1:l/e;1I i\'tbrl.\lrefl i\C:1h:l vindo, não
(: ;\[ , -- - Atrás da árvore. Ele continua !:1 e ele csr.i Ial.uulo . é? você vê. Oh, cluro.u gram:hica toma mais rcrnpo. é preciso
ter passado muito tempo junto pura que fique perfeito: 111 :15

•• E/es escutam. Rajada brusca de oento; nsfotãas mexem e depois


param ; ;'(/m/ho srro til' /III/(I corrida, pl.l' I/II.\" .W !J/ "{' a {Jrdra, ao
/ol/gr,' (lI/a/tis de/o/ha.\' e til' teias de aranha; silêncio.
mesmo com os erros... O que conta, é um mínimo de
vocabulário: nem isso: é o tom que conta . Ali.is nem isso, é
suficiente se olhar no olho, sem falar. (/t.'IIIjJu; ctrs .ir olham;

•• ltltido de cachorro, muito /ollgt'; e/fi ri.) Não, eu não posso me


calar, a gente vai se calar quando :1 geme se compreender.

•• IX

.I//m/II )' flgflrhado rleI/(lixo das bllgrl1l'l.1Í/ifls. 1.10/1(' ('1IIra: da sr


Mus e agora, eu, cu não sei () que dizer. No cntunto. eu sou
lima faladeira terrível, normalmente. ~L1S qu.uulo cu olho
pra você ... Você me impressiona; mas cu gosl () de ficar

•••
tlw"j/(/ nnjrenr: de A/bo/l/)', a 1/1IIf1 cerra distância.

,\ 1,BOURY - I!Ifl11 nna la 'U.'Y/X dnra ?


impressionada. Então VOCl:, agora é você quem vai falar
:llgUIll:1 coisa, por favor.

:\1 ,BOURY -- YOlJ~} l(/flJ' gis 'lJ2'f/fllJdési S(llIIfI IJir .wlr/(/I, /Jál!Jl:1/
L'::ON E - !Verreirct so spiil dUf(:h ;\'flchllll/d \Viml... j~t;dl/ Ir/(/y gis !I/Idijoo,l' te di leti tana rldol.- IJi IIdrl'<.:'.

•• ALBOLJRY -\VfI//allilllloj>pi ti xoolan t« ItN'.


U\)NE - - 1,:.1' ist der t'a/trmil sriuan Kiud. (F/fi ri.) EII
LI::ONE - Mais, mais, mas mais devagar.
t\ L BOl J 1<)' -.I ooyvaa "g;IIIf1Y tanx« I.

•• r.unbém falo estrangeiro, está vendo ! i\ gente vui acabar se


compreendendo, eu tenho certeza.
:\ 1,BOl jRY --- Yow t!(:i!.C!;/flo() satna /(/1,1.- 11"{/(lI/r//lllrl" r!l:f!,.C!;I/(/fl
L'::ONE - (Haixo.) Você ~ o único que olha pru mim, aqui,
quando LlI:\ comigo.
:\ I, IHH 1I{Y --- /) (l!,g ll/O()j()(}l'lljif!,//lIjO()j,,?

•• sn /"1.1'.
I ,(:ONI': - Sim, sim, é assim lJlle é preci so Ial.u, você vai
\ cr. eu vou acabar entendendo- E eu, você me compreende?
I ,I::ONI':---Si 111 si /11, veja você, cu hc m li uc me pc rglllll li por
que cu vim. Todos eles me d.io medo, ;Igora. (FlfI .iO /' I'; I Jtl/ t l
elc.) Exceto você. E justamente, olha que nessa língua su.r, eu
e se cu fulo hem devagar? N~() se deve ter medo das llnguns não sei ainda nada, nada, Il:HLt. (N"", projilllr/o J ik11 tio , dois

•• csrr.mgciras, ao contrário; eu sel1lpr,e pensei que, se a gente


olhar por muito tempo e cuidadosamente as pessoas quando
gUfl/tirls se illll'rpe!(/III bl'll.i((/llJefllc, bruta/11Im/i'; 011 seguida,

oolta ositénrio.)Azar, eu vou gostar assim mesmo de ficar com

•• LtlJm, :1 gente compreende tudo. I~ preciso tempo, só isso.


E ti te falo estrangeiro e você também, então, a gente estará
hem depressa sobre o mesmo comprimento de onda.
você. Eu me sinto tão terrivelmente estrangeira .
i\L,BOUR'{ - La" 1I,W' iiii'U.!..' ur slfii?
LI~ONE - Eu acho que estou começando a te cornprccn-

•• .'\ L BO l) RY - \VfIX IIgl7lJ/f/ de/II/sil, 1I1f/(/ 1/gi 1/;;.


I, I::ON E ·- Mas lentamente. não é? senão, não chegaremos
der.
ALBOlJRY - f'(l1lllgrl ;;iiü.') defsifii?
LI~ONE - Sim, oh, eu sabia que ia acabar vindo!

••
:\ n.ula.
t\ I ,I~()l JI{Y - (Depois de 1111/ rempo.) f)~I!;g1t/(Jo tl)' .1'1I.\'/I A~/àt? ALBOlJ\{Y (Com 11m .1'01',.7.1(0) - Você csni com medo?
I ,1::ONE - Sieh.I"I, Vntcr, ti" rim l':';Irjjll~C: nidu? LI::ONE - Não.

e :\LBOUHY - lUa" di dé..r;.tt una ayjooyu jl:géiJl.


LI ::ONE - ... Den Edmkoll~r: mil Kron fmd Schseeif?

•• ,\ 1,BOUR), -- YII IIge/tl'à!' li di andifii.


De repent« 1111I /"rbi/hão de areia v('rJJldha trazendo griros de
cachorro amassa as fo/htls e doõra os galhos, eIIfjl/an/o .mlJe do

•e 125
-----------------------r
••
••
chão, como umo cAtroa 00 contrario, umo nivOfl denso de efe-
miridos suicidas e hisltricos qlle esconde toda a claridade.
lembro da primeira ponte que eu construí; a primeira noite,
depois que a gente tinha posto a última viga, dado a última
caprichadu, aí, bem a véspera da inauguração; o que eu me

x •• lembro, é que cu fiquei pelado e quis dormir a noite toda


pelado, sobre a ponte. Eu poderia ter quebrado o meu

••
pescoço dez vezes de tanto que, durante a noite inteira, eu
li mesa. caminhei, e eu a tocava em tudo quanto era lugar, uma
puta ponte, eu trepava ao longo dos cabos c às vezes, eu a

••
CAL - Aqui está uma noite perdida, uma noite passada na
espera; você não acha, você, que é uma noite estranha? uma
partida que a gente abandona e retoma, uma mulher que a
via inteira, com a lua, por cima da lama, branca, cu me lem-
bro muito bem como ela era branca.
CAL - Essa aqui, no entanto, você deixa inacabada; que

••
gente espera e que desaparece, e até um fogo de artifício. Por
enquanto, aqui csrá o fogo de artifício que nos oferece a
desperdício!
HORN - Em relação a isso, eu não po sso fazer nada.

••
África: essa poeira de b ichinhos mortos.
I IORN - (Examinando 11m inseto.) 11 estranho: não choveu,
normalmente elas saem depois da chuva. Eu nunca vou
CAL - Eu deveria ter escutado minha primeira idé ia e
trabalhado com petróleo, sim, era isso com o que eu sonhava,
eu. Tem nobreza no petróleo. Olhe os que tr abalham nisso,

•••
entender nada dessa merda de país. a maneira com a qual eles olham pra nós: eles sabe m muito
CAL - Que desperdício, é isso que se chama desperdício: bem, eles, que eles são os melhores do pedaço. A mim, isso
essa mulher não se ocupa nem mesmo de você; ela deve estar sem pre fase i nou, o petróleo; tudo o q uc vem do subsolo, :11 i.is
chorando num canto, ou vai saber o quê. A mim, isso não me sempre 111<': fascinou. As pontes IIIC desagr ~lllalll, ;\gnr ~l; 1l(IS,

••
surpreende; desde que eu a vi, eu senti, por instinto. Eu não
quero te deixar com raiva, velho, ao contrário. Seu dinheiro,
claro, vocêfaz o que você quer com ele, ele é seu, bem seu,
os trabalho s públicos, o que é que a gente é ? uns nadas, ao
lado dos petroleiros; a gente é a miséria, a gente é menos que
nada. Todo o nosso trabalho na superfície, bestamente, à
e
você paga os prazeres que você quer, velho. Só tem uma vista e na frente de todo mundo, com uma mão-de-obra sem

••
co isa, a gente não conta com as mulheres para o prazer na
vida; é uma merda, as mulheres; é preciso contar conosco, só
qualificaçã o. Que tipo de homem trabalha aqui? Uns homens
para atirar, empurrar, carregar, conduzir; uns homens burri-

c

conosco, e dizer a elas de uma vez por todas: que a gente
encontra mais prazer, nós, bem mais prazer em um bom

••
trabalho bem-feito- não vai ser você, velho, quem vai dizer
o contr ário!- que é um prazer sólido, que nenhuma mulher
cos, homens elefantes, uns animais de carga; nós somos todos
uns animais de carga, nós somos o depósito dos homens sem
qualificação. Ao passo que no petróleo, uh: seis ou sete
homens qualificados, olha, olha, velho, a fortuna que eles

••
nunca vai valer isso: uma ponte sólida criada pelas nossas
mãos e pela nossa cabeça, uma estrada bem reta e que
resistirá à estação das chuvas, sim, é aí que estã o prazer. As
vêem escorrer entre as suas mãos! Eu sou um animal de
carga, eu também, é nisso que eu me transformei. No
entanto, as qualificações, elas estão aqui, elas estão aqui! no

•e
mulheres, velho, eles nunca vão compreender nada do
prazer dos homens, por acaso você ~iiria o contrário, velho?
entanto eu precisaria ser utilizado com todas as minhas
forças . Quando eu vejo, à noite, l á Iongc, as tochas do campo
Eu sei muito bem que não. .

••
HORN - Eu não sei, talvez, talvez você tenha razão. Eu me
de petróleo, l.i longe, eu ficaria horas olhando.
IlüRN - (i\POJ/fl/lf/O .) jogue.

126
• e
••
e CAL -_.- Eu n30 estou com o coração para jogar, velho. não, CAL - Você. velho.
1I0RN -I~ verdade, eu não tenho qualificações, cu, mas o

•• eu não estou com o coração. (Baixo.) Então, você vai mesmo


me abandonar, Bom, é essa, a sua idéia? fala, fala: não é que
você csr.i me abandonando, velho?
patrão, ainda sou eu.
CAI, - Eu não quero te aborrecer, velho, cu s() quer i.r te

•e IIORN -- O quê?
CAI, - Faça ele levar um tiro dos guardas. Nós estamos no
dizer, completamente no ar, assim. que eu estava te achando
estranho. com esse negro aí, Bom, conversando normalmen-

••
1l0-;SO direito. merda! te e estranhamente com ele. só isso.l\ Ias se você está dizendo
IIOHN - Não se preocupe com isso, Jogue e não se que você vai acabar com ele', então, é porque você acabará
preocupe m.us. com ele.

•• (:AI, -- Por que você falou com ele? O quc vocês disseram?
Por que você não faz ele ir embora, merda!
(IOI{1\; --- Esse aí não é como os outros.
IIORN -- J:í é um caso praticamente resolvido,
CAL - (Depois d« 1111I tempo.) Você é assim mesmo um tipo
cstrunho.Xlc deixe então fazer a festa dele, iria mais rápido.
e C\L -- Eu tinha certeza; você está cedendo; eu queria I IOR;\! - Você não vai fazer mais nada. ElI LIÇO,

•• muito saber o que vocês conversaram; em todo caso, você


c:,t:í me abandonando, cu j.i tinha entendido.
i IORN - Imbecil; você não compreende que no final cu
CAL - Você tem métodos estranhos.
IIORN -- Nào é SÚ CO!1l tiros de revólver que a gente se
defende, nu vida, meu Deus, E ti sei me servir <-LI minha boca;

•• \'OU roder com ele e pronto?

C:\I, - Você vai feder com ele?


eu sei falar e me servir elas palavras. Talvez eu não tenha ido
:1 escola, mas a política, eu sei me servir dela. Você, você só

•• I IOH 0: - E 11 vou foder com ele, sabe resolver os negócios com tiros de pistola c depois, você
C\I, -- Mesmo assim, eu acho que você cst.i estranho, com fica bem contente que algllém esteja l.i para te rir.ir dll apuro
esse negro. e te ver chorar. (~ então a atirar que se aprende nessas suas

•e IIORN - ~lcu Deus meu Deus, mas quem é o responsável,


~]( lU i ?
escolas de engenheiros, e vocês esquecem de aprender a
falar? Bravo; bela escola! i\gor:l fuçam tudo segundo ;1l':1bcçn


(:.\1, --- Vncê, velho, eu n:1O estou dizendo o conrr.ir io. Mas de vocês; sirvam-se da pistola se quiserem e pronto; e depois
justumc n te ... venham chorar. venham chorar. Pra mim, é ;1 últ imn vez,
II( )RN ---- QUCil1 rem o en(';If)~o dc cnnscrt ar as idiotices dos depois disso, eu vou embora. I kpois que cu for, LI,';1 (lido o
ti
•• outros? quem tem o encargo de resolver tudo, sempre c em
rul!(J IlIg:u, de um canto a outro da cidade; <-b manhã até :1
noite nesse canteiro de obras? qllem deve ter tudo sempre
que você quiser.
CAI, -- N;JO se aborreça, velho.
IIORN - Você s50 uns destruidores e isso é tudo () que

•• nu cabeça. desde a peça mais insignificante do mais insig-


nificante caminhão até o número de garrafas de uísque em
vocês aprenderam nessas SU;lS excelentes escolas. Conti-
nuem, senhores, com esses seus benditos métodos de des-


•e
reserva? quem deve planejar tudo, julgar tudo, conduzir tu-
do, tanto de noite como de dia? quem deve ser aqui policial,
prefeito, diretor, general, pai de família, capitão de barco?
CAL-- Você, velho, você, com certeza.
truidores de merda. I~, vocês fazem com que a África intei-
ra deteste vocês, em vez de fazê-Ia gostar de vocês; or;l, no

I O termo niqurr (''.tcabal'') ~ macio nn jOj!;o de dados P:II:t iiulic.rr o nu i-

•• IIOI<'\J --- E quem está de S;lCO cheio, definitivamente de


');\CO cheio?
mcuto c m que um jo~acl()r lir.l o número .lcscj.«!« j.i 11.1 primc iru jn.
p:ada. (NT)

•• 127
----------------------------p••
final das contas, vocês não terão conseguido nada, nada,
nada . Vocês têm muito peito, a pistola no bolso e o gosto da
grana rápida e a qualquer custo, então, senhores, eu digo a
corre o risco de acabar com um balaço na barriga.
HORN - Ele não está armado.
CAL - Mesmo assim, mesmo assim, mesmo assim, você
••
vocês: no final vocês não terão nada e nada e ainda nada. A
África, não é, vocês estão pouco se fodendo pra ela, senhores;
deveria desconfiar. Esses canalhas todos lutam knrutê e eles
são fortes, esses canalhas. Você corre o risco de acabar caído ••
••
vocês só pensam em pegar o máximo que vocês podem e em no chão antes de ter dito uma palavra.
não dar nada, principalmente não dar nada. Ora, no final, não HORN - (Alostrando duas garrafas de uísque.) Eu tenho as
vai sobrar nada pra vocês, nada de nada, e pronto. E a nossa minhas armas . Não se resiste fácil a esses uísques.
África, vocês a terão destruído completamente, senhores
canalhas, destruído.
CAL - Mas eu, eu não quero destruir nada, Horn.
CAL - (Olhando as garrafas.} Umas cervejas, j~l seriam bem
suficientes.
HORN - Jogue.
••
HORN - Você não quer gostar dela, da África.
CAL - Não, eu gosto dela, cu gosto dela. Senão, eu não
CAL - (Ele aposta suspirando.) Que desperdício!
HORN - Mas enquanto eu falo com ele, você vai encontrar ••
estaria aqui?
HORN - Jogue.
CAL - Eu não estou com coração pra jogar, velho. Com o
o corpo. Não discuta, vire-se, mas encontre o corpo. Procure,
eu preciso dele. Senão, é a aldeia que a gente tem nas costas.
Encontre-o antes de amanhecer, ou eu te abandono de uma
••
risco, aqui mesmo, todo na cidade, que um bubu te dê um tiro
nas costas não, isso acaba com os meus nervos, velho. Eu
vez por todas.
CAL - Não, não é possível, não. Eu nunca vou encontrá-lo ••
acho, eu, que ele veio aqui para se aproveitar dessa história
e fazer muito barulho. É isso o que eu entendo.
HORN - Você não entende completamente nada. Ele quer·
novamente. Eu não posso.
HORN - Encontre algum, qualquer um.
CAL - Mas como, como você quer?
••
e•
nos. impressionar. É política. HORN - Ele não deve estar muito longe.
CAL - Ou então, é pela mulher, como eu tinha dito antes. CAL - Não! Horn,

•e
I-IORN - Não, ele tem outra coisa na cabeça. HORN - (Olhando os dados.) É para mim.
CAL - Na cabeça, o quê na cabeça, que,:outra coisa, numa CAL - Seus métodos são umas idiotices. (Ele dá /1111 soco
cabeça de bubu? Você, você está me abandonando, Horn, nojogo.) Você é um idiota, um verdadeiro idiota.
eu entendi.
HORN - Eu não posso te abandonar, imbecil.
CAL - E você vai provar que foi um acidente, Horn, você
HORN - (Leuantando-se.) Faça o que eu estou dizendo.
Ou então eu deixo pra hl. (Ele sai.)
CAL - Essa canalha está me abandonando. Eu estou
••
vai provar?
HORN - Um acidente, sim, por que não? quem disse o
contrário?
fodido.
••
CAL - Eu sabia . Nós temos todo o interesse em perma- XI e
necermos unidos; unidos, nós acabaremos com eles. Eu
estou entendendo, agora: você conversa pra foder melhor Nocanteiro deobras, aopeda ponteinacabada.perto dorio,numa •e
••
com ele; é um método, eu não digo o contrário. Mas cui- semi-escuridão, Albollty e Léone.
dado assim mesmo, velho. Com os seus métodos, você

128

e •
•• 1,(:()N I': -- - Você tem cubclos supctlcgnis. galinhas; é normal que os cachorros nos 1Ill'(;11l1 medo .

•• :\ L BOU RY- Dizem que os nossos cabelos são enrolados c LI::ONE - - Eu quero ficar com você. O que vocô quer que
pretos porque o nnccsrral dos negros, abandonado por Deus cu v.i fazer com eles? Eu abandonei meu trabalho, eu
e cu: seg l l ida por rodos os homens, ficou sozinho com o abandonei tudo; cu deixei Paris, ai, cu deixei tudo. hl es-

•• diabo, abandonado ele também por rodos, que então acari- tava justamente procurando alguém a quem se r fiel. Eu
ciou SU ~l cabeça em sinal de amizade, e foi assim que os encontrei. Agora, cu não posso mais me mexer. (1,)(/ [edm

•• nossos cabelos se queimaram, os othos.) Eu acho que cu tenho um diabo no coração, AI-
L(:ONE - Eu adoro as histórias com o diabo; eu adoro como boury; como eu o peguei, cu não sei de nada, mas ele está
você as cont a: você tem uns lábios supcrlcguis: aliás o preto, aqui, eu sinto. Ele me acaricia por dentro, e eu j.i estou roda

•• é a minha cor.
:\ L BOU RY - l~ uma boa cor par.i se esconder.
queimada, roda preta por dentro.
ALBOl i H )' - As mulheres í.ilam tâo rápido; eu n:íoconsigo

••
IJ ::ON E ._- Isso, o que é isso? acompanhar.
:\ L BOU RY - () canto dos S;lPO S: eles chamam a chuva . Ll~ONE - Rápido, você chama isso de rúpido ? quando faz

- ••
1.1::ON I': - E isso?

Tem t.nnb érn o barulho de um motor.


1.(:ONE - Eu n50 estou ouvindo.
:\ L BO tJRY -- Eu estou .
pelo menos um a hora que eu só pen so nisso, uma hora pra
:\ I .BO URY - O grito dos guviõcs. (Depois f/t /1111 tetnpo.) pensar nisso e eu não poderia dizer qu e é sério. hem refleti-
do, definitivo? D iz pra mim o que voc ê pensou quando você
me VIU.
A) ~BOI 1RY - Eu pensei: é uma peça que deixaram cair na

•• [.I ::O NE - I~ o barulho da ;ígua, é o barulho de outra coisa; are ia: no momento, ela não brilha para ninguém ; cu posso
com todo s esse s barulhos, impossí vel ter certeza. peg ;Í-L1 e gll;]flU-Lt até que reclamem por ela .

••
:\ I .BO URY -- (Depois de In" tcmpo.) Você ouviu ? LI::O NI·: -- Guarde -a. ningu ém vai reclam á-I a.
I,FONE - Não. AI,gOl jRY- O homem velho me disse que você era dele.
:\1 ,I H H 1HY ._- l J ru c.uhorro. 1.)::ON I·: (: ;I!Jril inh o, é o ca !lritinllll Cn[;-1O (jlle te iuco mo -

e 1.1 \)\: E - - Eu n50 acho que estou ouvindo. (I.fllir!os r/I' 11/1/ da ? meu Iku s! ele náo Iariu mal a lima mosca. pobre

•• t/ld/fJ I"/O , fIO /OIl,!!,I'.) I:: um cnchnniuho. 11111 cachnrr inho de cubririnho. () que você uchn que cu SOIl , pr :l ele ? l l m .i
n.ul:t. isso se reconhece pela voz; ~ 11m cachorrinho, ele cst.i pequena C(lillP :l1lil i :l, 11111 pequeno capricho, porqlle ele tem
muito longe; não se ouve mais. (I.fllir/os.) dinheiro e não sabe o que fazcr com ele . E cu que não tenho

•• ,\ I.IH )UHY - Ele csui me procurando. dinheiro, não é uma sorte rcrrfvcl tê -lo encontrado? CII não
1, 1~ ()\i E -- Que ele venha. Eu gosto deles, cu dou carinh o, sou uma horrorosa por ter tanta sorte? Minha mãe , se ela
ele s n ~1O atacam se :1 gente gosta deles . sou besse. oh, era faria vista grossa, ela teria me dito : esper-

•• :\ 1,BOURY - São uns bichos ruins; eu, eles sentem meu tinha, essa sorte só acontece com as ntr izcs ou co m as
cheiro de longe, eles correm atrás para me morder. prostitutas: no entanto, eu não sou nem lima nem oütra e isso

•• LI ~() j\E - Você tem medo?


,\ L BOU RY - Sim, sim, eu tenho medo.
aconteceu comigo. E quando ele me propôs cnconrr.i-lo na
África, sim eu disse sim, cu estou pronta . Du IJis/ tlt'l' Teufe!
I J :O\i E - Por causa de um cachorrinho dc nada que a selbsl, Sdll'!lIIill! Cabr itinho é tão velho, tão bonzinho; ele

•• gc nrc nc 111 cst.i ouvi ndo mais! não pede nada, sabe. I~ por isso que cu gosto cios velhos c,
,\ L BOlí HY -- Nós, a geme hem que mete medo nas normalmente, eles gosrurn de mim . Com freqü ência eles

•• 129



sorriem pra mim, na rua, eu fico bem, com eles, eu me sinto CAL - Chefe? (Ele fi, corre em suodireção.) Ah, chefe, como ••
próxima deles, eu sinto suas vibrações; você sente as vi-
brações dos velhos, Alboury? Às vezes, eu mesma, eu tenho
pressa de ficar velha e boazinha; a gente conversaria du-
eu estou contente em te ver.
HORN - (Fazendo limo careta.) De onde você saiu?
CAL - Da merda, chefe.
••
rante horas, sem esperar mais nada de. ninguém, sem pedir
nada, sem ter medo de nada, sem falar mal de ninguém,
1-lüRN - Bom Deus, não chegue perto, você vai me fazer
vomitar. ••
longe da crueldade e da desgraça, Alboury, oh por que os
homens são tão duros? (Borlllhodegalhos qllebrondo, de Ieoe.)
Como tudo é calmo, como tudo é tranq üilo! (110m/Im'\" de
CAL - Foi você, chefe, que me disse pra me virar para
encontrá-lo.
IIOI{N - E então? você () cnconrrou?
••
gttl//(),f IJlltbm"do, thotn(u/os conjus 0.\' ao IOllge.) Aqui, nós cs-
ramos tão bem.
CAI, - Nada, chefe, nada. (J<:te r!/(JI'a.)
HüRN - E foi pra nada que você se cobriu de merda! (Ele ••
••
Al...I30lJRY - Você, sim; mas eu, não. Aqui, é um lugar dc ri.) Bom Deus, que imbecil!
brancos. CAL - Não fica me gozando, chefe. A idéia foi sua c cu, cu
LrfoNE - Mais um pouco, então, um minuto, ainda. Meus sempre tenho que me virar sozinho. A idéia foi sua c cu vou
pés estão doendo. Esses sapatos são terríveis; eles apertam pegar tétano por sua causa.
e
o tornozelo e os dedos. Será que isso não é sanguc? Olha:
uma verdadeira porcaria, três pedacinhos dc couro mal-
ajarnbrados só pm te arrebentar os pés c, por esta porcaria, te
I-IORN - Vamos pra casa. Você está completamente tonto.
CAL - Não, chefe, eu quero cncontni-lo, é preciso que cu
o encontre.
••
arrancam os olhos da cara; ouh. Oh, com isso, cu não tenho
muita coragem de andar muitos quilômetros.
HüRN - Encontrá-lo? Tarde demais, imbecil. Ele está
bo iando agora sabe lú em que rio. E vai chover. Tarde ••
••
AIJ30lJRY - Eu terei cuidado de você o máximo de tempo demais . (F/f vai em rlire(fio ri caminãonetc.) Os andaimes
que eu pude. (Barulho de caminhonete, prâximo.) devem estar fodidos. Meu Deus, como isso feele!
LI~ONE - Ele está se aproximando. CAL - (ilgnrm"do-o pela camisn.) É você o patrão, chefe, é
ALBOlJRV - É o branco. você o bOSJ, patrão. Você deve me dizer agora o que cu devo
e
••
LÉONE - Ele não vai te fazer nada. fazer. Me segure bem! Eu não sei nadar, eu me afogo, velho.
ALBOlJRY - Ele vai me matar. E também, tome cuidado, idiota, não fique me gozando.
LI~ONE - Não! HORN - Cuidado com os seus nervos; não fique excitado.

Eles J( escondem; escuta-se o cfI1nh,hol1ete qlle pdm, o lus: dos


faróis ilumino o chão.
Cal, vamos; você sabe muito bem que C\l não estou te
gozando, nem um pouco. (Ca] solta-o.) O que foi então Clue ••

aconteceu com você? Vai ser preciso te desinfetar, agora.
CAL - Olhe como eu transpiro, merda, olha isso; isso não

XII
quer secar. Você não tem uma cerveja? (Ele céora.) Você não
tem um copo de leite? eu queria beber leite, velho. •e
••
HORN - Acalme-se; vamos voltar pra cidade; você tem
Cal, 11m fllzil no mão, coberta de lama escuro. que se lavar e vai chover.
CAL- Então eu posso acabar com ele, agora, hcin, eu posso
HORN -

130
(Surgindo do escuridão.) Cal! acabar com ele?

•••

-
•• IIOI{ N - Não fale t:io alt o, meti Deu s. não seja bom , nu faca talve z eu não seja bom , 1ll:IS no fuzil cu

•• (: /\1, --- 11 0m!


IIOHN-·- O quê?
sou rcrr ivcl. Terrível terrível. Mesmo no rev ólver 011 na
metralhadora, você não vale um puto na frente disso,

• ••
CAI , _.- ElI so u um canalh a, velho ?
IIOR N - O que você está falando? (Cfll duun.) Cal, meu
g :HOW !
CAL - De repente, cu vi Touhab na minha frente, me
I IORN - Você quer ficar com a aldeia roda contra você?
Você quer ter de se explicar ii policia? Você qucr cont inuur
com as suas besteiras? (Baixo.) Por acaso você confia em
mim? você confia ou não confia? Então, deixe-rue fazer. Não

•• olh .uulo com os seus olhinhos pensativos, Touhab, meu


r .uh o rrinhu! 1.:11 d igo: o qu e voel: fiel sonh.uulo, vo cê c st.i
pcu s.md« em quê? ele solta UIl1 grllllhido, eriça o pêlo, rode ia
se deixe dominar pelos nervos, meu r:tp:1Z, I:: prec iso resolver
:IS l'llis;IS :1 frio; e :IIHes que um.mhcçu l'SS:1 hist (Hi :1 cxr.u.i
resolvida, pode acreditar. ((1/1/ /(,IIIIJO.) EtI Il ~O gosto de

•• c.rlm.uucnrc l) esgoro. Eu o sigo, Toubuh. meu cachorrinh o,


C 111 que você fica refletind o? você farejou :dguél11? Ele eriça
s;lIlgue , meti 1':1 paz, nem IIIll pouco; cu nunr.: pude me
acostumar a isso, nunca; isso me deixa fora de mim. Euvou

•• (l pêlo , d.i U~ll pequeno latido e pula dentro do esgoto. Eu me

d igo: ele farejou alguém. Eu o sigo. Mas eu não encontrei


1);\(1;1, chefe; s ó merda, chefe. No entanto, cu bem que tinha
falar com ele mais urna vez e, de ssa ve z, eu o terei, pode
acreditar. Eu tenho os meu s pequenos e próprios meios
sec re tos. Pru que se rviria, todo () tempo que cu passei lU

•• j(lg:lt!o c lc ali, mas ele deve ter fugido. Eu não posso


percorrer todos os cursos de água da região e revirar o lago
P:H:I cu cnnrrur esse cad áve r, chefe. E agora Touhah fllgill
Álric«. se não fOS Sl~ para co nhecê- los melhor que você, pura
conhecê-los direitinho; para ter os meus próprios meios
contra os quais eles não podem nadu, hein? Pru que sc rviri.r.

•• i.unhéru . EII estou sozinho de novo c estou cheio de mcnlu.


Ilorn !
Iuzcr primeiro correr sangue, se as cuisus podem se .irrunjar
sozinhas?

•• IIORN -- () quê?
(: /\1 , . Por que eu estou se:rlllo punido, velho, o qu e é qtl e
c u riz Ih: Illitl?
(: /\1, - (FfI/f'j(///r/o.) Cheiro de mulher, cheiro de ilCI!.fO,
chc ir« de: S:IIILIIIIIJÚls '1l1e rccl.uu.uu . Fh: csr .i .rqui, chcfc.
\' lI d:~ lI :ill sem c ?

•• IIOJ{ N - Você fez o que você devia fazer.


CAL - Então, eu posso acabar com ele, ve lho, é isso o qlle
II()\{ N -- I'urc de bancar o espertinho.
CAL - Você I1JO está ouvindo, chefe? (Latidos. (/0 írwgt'.) I::

•• cu devo fazer, agora?


I IOI{N -- Meu Deus, não grite, você então quer que te
escutem até' na aldeia?
ele? Sim, é ele; Toubub! Vem cachorrinho. vem, IlJO vá
embora nunca mais, vem que eu te dou carinho, meu
qucridinho, que eu te beijo, porcariazinh u. (Fie rhora .) Eu

•• ( :1\1, - (Armando sea [uzii.) Esse canto aqui é perfeito:


ninguém pru ver nada, ninguém pra recl amar ou pra vir
gosro dele, 110m; 110m, por que CII estou sendo punido, por
que cu sou 11111 canalha?

••
chorar. Aqui, você desaparece no meio das samambaias. meu IIORN - Você não é um canalha!
canalha, aqui, sua pele não vale um puto. A~ora eu me sinto CAI , - Mas você é 11m idiota, um idiota fodido, chefe . Claro
cheio de novo, eu me sinto quente, velho. (E!« CO" /{'(fl fi que sim , que eu sou um canalha. Aliás, cu quero. eu decidi

•• jill ~ifl r.)


IIORN - Me dá aqui esse fuzil. (EIf.telllt110/l/f/r-lhe ofuzil;
(7f11 resiste.)
ser um. Eu so u um homem de ação, cu ; você, você Llla, fala,
você só sabe falar; e o que você vai fazer, você, hcin, se ele
não te escutar, he in, se os seus pequenos meios secretos n50

•• ( :1\1, - Torna cuidado, velho, cuidado, No kararê talvez eu funcionarem, hein? Eles não vão funcionar, merda , e então

••

131

felizmente eu sou um canalha, eu, felizmente que há um CAL - Ah ah, chefe.
••
aqui, para a ação. Para a ação, os idiotas fodidos não servem
de nada. Eu atiro num bubu se ele cospe em mim, e eu tenho
HORN
consiga
CAL -
- Mas que você fique calmo, primeiro; que você
acalmar os seus nervos de mulher, meu Deus.
Ah ah, chefe.
••
••
razão, eu, merda; e é bem graças a mim que eles não cospem
em você, não por causa do que você fala, você fala, e porque IIOI~N - Veja bem, Cal, meu garoto...
você seja um idiota. Eu, eu atiro se ele cospe e você fica bem CAL - Cala a boca. (Latidos, ao longe; Gol parte CO/l/O uma
contente: porque mais dois centímetros e era em cima do
nosso pé, dez centímetros mais alto e era a calça, e um
pouquinho mais alto a gente levava na cara. O que você fazia,
flecho.)
HORN - Cal! Volta, é uma ordem: volta!
••
então, você, se eu não tivesse feito nada? você falava, você,
falava, com o cuspe dele bem no meio da cara? Idiota fodido.
Barulho do caminhão quedd o partida. Homfica.
••
Porque eles cospem o tempo todo, aqui, e você, o que é que
você faz? Você faz como se você não visse. Eles abrem um
olho e cospem, abrem um outro olho e cospem, cospem
andando, comendo, bebendo, sentados, deitados, de pé,
XIII

Barulhosdegalhos quebrando. Horn acende SI/fi If/lllemfl. •••


agachados; entre cada mordida, entre cada gole, a cada
minuto do dia; isso acaba cobrindo a areia do canteiro de
obras e as pistas, penetra no interior, isso faz lama e, quando
ALBOURY - (No sombra.) Apague!
HORN - Alboury? (Silêncio.) Venha. Mostre-se.
••
a gente pisa em cima, nossas pobres botas afundam. Ora de
que é composto um cuspe? Quem sabe? De líquido, com
AL,BOURY - Apague a sua lanterna.
HORN - (Ele ri.) Como você está nervoso! (Ele flpflga por ••
certeza, como o corpo humano, noventa por cento. Mas do
que mais ainda? dez outros por cento de quê? Quem poderá
me dizer? 'você? Cuspes de bubus são ameaça para nós. Se
1//1/ instantr SI/fi lantema.) Você tem uma, uma voz: de dar

medo.
ALBOURY - Mostre o que você esni escondendo atrás das
••
nós reuníssemos todos os cuspes de todos os negros de todas costas. e
as tribos de toda a África e de um só dia, cavando fossas onde
fosse obrigatório cuspir, canais, diques, represas, barragens,
aquedutos; se a gente reunisse as valetas de todos os cuspes
IIORN - Ah ah, atrás das minhas costas, hein? fuzilou
revólver? Adivinhe o calibre. (Ele tiro de trds de SIl(/S costas
duas garrafas de uisque.) Ah ah. Aqui está o que eu estava
••
cuspidos pela raça negra sobre todo o continente e cuspidos
contra nós, a gente chegaria a cobrir as terras ernersas do
escondendo. Você duvida ainda das minhas intenções? (E/e
li, reacende a lanterna.) Vamos, descontraia-sc. Eu tinha a ••
planeta inteiro com um mar de ameaça para nós; e não
sobraria mais nada além dos mares de água salgada e os mares
de cuspes misturados, os negros sozinhos nadando no seu
intenção de te fazer experimentar; são os meus melhores.
Reconheça que todos os passos, senhor Alboury, fui eu que
dei; não se esqueça disso, quando nós recapitularmos. Você
••
próprio elemento. Isso, eu não vou deixar fazer, não vou; eu
sou pela ação, eu, eu sou um homem. Quando você tiver
não quer vir até mim, então eu venho até você; e acredite em
mim, é por amizade, amizade pura. O que você quer: você ••
••
acabado de falar, velho, quando você tiver acabado, Horn... conseguiu me deixar preocupado; eu quero dizer: me deixar
IIORN - Deixe-me fazer primeiro. Se eu não conseguisse interessado. (Ele mostro o ufJql/e.) Aqui está quem vai te
convencê-la... forçar a se abrir um pouco na minha frente. Eu esqueci os

132 ••
••
•• copos: eu espero que você não seja esnobe; aliás, o uísque é
bem melhor na garrafa, isso evita que ele evapore; é nisso
quc a gente reconhece um bebedor: cu quero te ensinar a
de bolinhas, milhares de bolinhas, metálicas, não? Como
você sente, você? Ah, a pontada desse aqui não deixa ne-
nhuma dúvida; com, se a gente toma o tempo de ap re c iá-Ias,

•• beber. (Baixo.) Você não tem a consciência tranqüila, senhor


Alboury?
ALBOURY - Por quê?
arestas nele todo, que se esfregam levemente dentro da
boca, não? E então?
ALBOURY - Eu não sinto nem as bolinhas, nem a pontada,

•• I -IOR~~ Eu não sei. Você gira sem parar o olhar em rodas


as direções.
nem as arestas.
HORN - Ah não? No cotamo, é indiscutível. Tente outra

•• ALBOU RY- O outro branco est á me procurando. Ele e sni


com um fuzil.
IIORN - -- Eu sei eu sei eu sei; por que você acha que eu
vez. Você talvez esteja com medo de ficar bêbado, talvez?
ALBOllRY -- Eu pararei antes.
IIORN -- l\ lu ito bem, bom, excelente, bravo.

• ••
estou aflui? Comigo aqui, ele não fad nada. Olha, eu espero
que você não veja inconveniente em beber na mesma garrafa
que eu? (Albotl1y bebe.) Bravo, você n50 é esnobe, em rodo
ALBOURY - Por que você veio aqui?
HORN - Para te ver.
ALBOURY - Por que, me ver?
(flor" bebe.) Deixe que ele tenha tempo de descer bem; HORN - Olhar para você, conversar, perder meu tempo.

••
C;l S0.

t5 depois de algum tempo que ele solta o seu segredo. (Eles Por amizade, por pura amizade. Por um monte de outra s
/Je/Jem.) Assim , eu fiquei sabendo que você era um ,1S do razões tambémMinha companhia te pesa? Você no entanto

•• kurarê: você é mesmo um ás?


;\ L BO l.J H.) ' - Isso depende do que quer dizer: um .is.
HOHN - Você não quer me dizer nada! Mas eu concord o
havia me dito que se alegraria em aprender as coisas, não?
ALBO URY - Eu não tenho nada pra aprender com você.
IIORN - Bravo; é verdade . Eu desconfiava mesmo que

•• em a pre nd e r um ou dois golpes, um di a em que n ós t ivcrrnos


tempo. Eu prefiro assim mesmo te dizer de uma vez que eu
você estava me gozando .
ALBOUH.Y - A única coi sa que eu aprendi com você,

••
de sconfio das técnicas orientais. O velho e bom boxe! Voc ê ape sar de é que não tem bastante lugar nu sua ca be ç a
VOCl:,

j.i lutou alguma vez o velho e bom boxe tradicional? e em todos os seus bol sos para guardar toda s as sua s mentiras;
ALBOURY -- Tradicional, não. a gente acaba vendo.

•• IIORN;-- Bom, então, como você pensa em se defender? Eu


vou' te ensinar um Oll dois golpes, um dia desses. Eu era
muito bom, eu até combati no profissional, quando era
I-fORN - Bravo; mas isso, ao contrário, não é verdade.
Tente; peça qualquer coisa pra mim, pra te provar que eu
não estou te enganando.

•• jovem; e é urna arte que a gente n:IO esquece nunca. (Baixo .)


Fique então calmo; não se preocupe; você está aqui na minha
ALBOURY - Me dê lima arma.
I-IORN - Exceto lima arma, ah não; vocês ficam rodos


-
casa e, para mim, a hospitalidade, é a regra sagrada; ali.is, você loucos, com suas armas!
est á aqui praticamente em território francês; você não tem ALBOURY - Ele tem uma, ele.
então nada a temer. (Elespassamde umagarrafa fi 01111(1.) Eu HORN - Azar dele. Chega desse imbecil. Ele vai acabar

•• tenho pressa em conhecer onde vai a sua preferência; isso


diz muito sobre o caráter. (Elesbeôem.) Esse aqui é claramen-
na prisão e será bem melhor assim. Que me deixem livre
dele e eu vou ficar bem contente. Melhor te dizer tudo,

••
te, claramente pontiagudo: você sente como ele é pontiugu- Alboury: é ele, a causa de todas as minha s preocupações:
do? Enquanto o outro, é muito claro, ele escorrega; são tipos me livre dele e eu não vou me mexer. Melhor IIlC dizer tlJ-

•• 133
••
do também, Alboury: quais são então as intenções dos homem que veio aqui completamente com um outro es-
pírito.
••
••
seus superiores?
AL130URY - Eu não tenho superior. ALBOURY - Eu não sei o que que é esse seu espírito.
. I-IORN - Mas então, por que você afirma ser da polícia HORN -l\lboury, eu mesmo fui um operário.Acredite em
secreta?
1\L no U RY - Doomi xaraam!
I IORN - Oh, você prefere continuar brincando de escon-
mim, eu não sou um patrão por natureza, sabe. Quando eu
vim pra c á, eu sabia o que era ser um operário; e é por isso que
eu sempre tratei os meus operários, brancos ou negros, sem
••
de-esconde? Como você quiser. (Jllbollry cospe 1/0 chiio.) Não
fique com raiva por causa disso.
distinção ; co mo o operário que eu era foi tratado. O espírito
do qual cu falo, é esse; saber que, se a genre tr.itn o opcr.irio ••
AI ,BOLJHY - Como um homem poderia se reconhecer em
todas as suas palavras e traições?
I-IORN - Quando eu te digo, Alboury: faça o que você
como UI1l bicho, ele se vingad como UI1l bicho. Aí cst.i a
diferença. Agora, pelo resto, você não vai me censurar pelo
fato de o operário ser infeliz, aqui como em outro luuur; é ~l
••
qui ser eu não o cubro mais, não é uma mentira, acredite em
mim. Eu não estou jogando.
condição dele, eu não po sso fazer porra nenhuma . Eu Iui
. pago para conhecê-la. Por acaso, você acha que algum ••
••
ALBOl )RY - É uma traição. operário no mundo pode dizer: cu sou feliz? AIds, você
IIOH.N - Traição? Trair o quê? Do quê você está falando acredita que alg um homem no mundo vai dizer algul1l dia:
então? cu sou feliz?
:\ L BO U HY - Seu irmão.
I I()\{N -I\h não, por favor, nada dessas palavras africanas.
() que faz esse homem não é negócio meu, a vid a dele nJO
1\( .BOlJHY - I Ic que imporr.un nos npcr.irioxos sentimen -
tos dos patrões c aos negros os sentimentos dos brancos?
I JOHN -- Você é Ulll duro , Alhourv, eu estou Chcg:lIH\O :\
••
rem nada a ve r comigo .
:\ 1,BOU RY - No entanto, vocês são da mesma raça, não
co ncl usão. Eu não sou um homem, pru você; qualquer coisa
que cu diga , qualquer gesto que eu faça, qualquer id éia que ••
SJo ? da mesma língua, da mesma tribo, não ?
I IORN - Da mesma tribo, se você quiser, sim.
:\ L BO U RY - Vocês dois são patrões, aqui.não? patrões de
eu tenha, mesmo se eu te mostrar o meu coração, você só vê
em mim UI1l branco e um patrão. (Depoisde /Im remno.] Qu ~d
importância, finalmente . Isso não nos impede de beber
••
fechar e abrir os canteiros de obras sem serem punidos por
isso? patrões de contratar e despedir os operários? patrões de
parar e fazer funcionar as máquinas? proprietários os dois dos
juntos. (Elesbebem.) É estranho. Eu te sinto sempre de lado,
como se tivesse alguém atnis de você; você é tão di sperso!
Não, não, não me diga nada, eu não quero saber nada. Beba.
••
c.uuinhõcs e das máquinas? das casas de tijolo e de eletrici-
duele, de tudo aqui, vocês dois, não são?
Você jâ est á bêbado?
ALBOURY - Não. . ••
IIOR N - Sim, se você quer, para você, a grosso modo,
tudo bem, sim. E então?
ALBOURY - Por que então você tem medo da palavra
I-IORN - Muito bem, bravo.( Bnixo.) Eu tenho um favorpra
te pedir. Alboury. Não diz nada pra ela, não diz pra ela o que
te traz aqui, não fale de mortos ou dessas coisas desagrad á- e •
irmão?
I IORN -Porque, Alboury, em vinte anos, o mundo mudou.
veis, não teme influenciá-Ia, não diga nada a ela que pudesse
fazê-Ia fugir. Eu espero que você já não tenha feito isso . Eu ••

E o que mudou no mundo, é a diferença que existe entre ele talvez não devesse tê-la trazido aqui, eu sei disso, mas isso
e eu, entre um assassino louco, descontrolado, ávido, e um me tocou, é assim. Eu sei muito bem que é uma loucura mas

134 ••

••
••
realme nte, isso me tocou de um jeito e a~ora, não, não se IIOI{N - Você é ob scuro demais pra mim ; cu gPS [O da s
de ve fazê -Ia se ntir medo . EII preciso <Ida: preci so sen ti-I a coisa s r1ar:ls. TOl11a, vamos . (/ ':k f'.flf'lIr!(· () 1JIt/(o .)
por perto. FII a conheço muito pouco, eu não se i qu ais são os ALBOURY -- N~o ~ o que eu estou cspcr .uu lu de voc ê.

•• desejo s dela, eu a deixo livre . Pra mim é sufi ciente v ê-la por
peno e eu não peço nada alérn diss o. Não a faça fugir. (Ele n.)
O que você quer, Alboury, eu não quero acabar sozinho,
I IOR N - N ão exageremos, senhor. l lm opc r.irio morreu,
tudo bem; é grave, tudo bem, cu não quero de maneira
alguma minimizar a coisa, nem um pouco. t\Lis é lima coisa

•• corno IIIll velho imbecil. (Ek !Je!Jl'.) Eu vi muitos mortos, na


minh a vida, muitos - e mu ito os olhos deles, dos mortos;
que acontece em qualquer lugur, a roda hor a; VO C L~ .uh a que
na 'Fr.mça os operários não morrem? I~ gr.ivc 11I;IS é normal:

•• aco n tece que cad a vez que eu vejo os olhos de um morto, eu


me digo que é preciso se p:lgar r ápido r ápido tudo o que a
gente tem vontade de ver c que o dinheiro deve ser gasto
é parte do trabalho; se não fosse ele, teri a sido um outro. O
que você está achando? O trabalho aqui é perigoso; rodo
mundo, a gente corre riscos; aliás, eles nJO S:IO excessivos,

•• rápido r.ipido com isso. Senão, o que você quer que a gente
LI,';I com ()di n hc i ro? E li n;10 te n ho Iam ília. (Flts IJtiN'III.) Issn

desce bem, não de sce? Você não te m :H de quem desconfia


nós ficamos dentro das proporções, nós não ulrrupuss.uuos ()
limite. SCj;1I110S c laros, não é? O trabalho ("tI S!;\ o ql\C ('IISr;l,
o que você quer. Qu alqucr soc ie d ade sacr ifica ;\ ele lima
e do álcoo l. é bom . Você ainda nào cst.i bêbado? Você é um parte del a mesma , qu alquer homem sacrifica ;\ele tnl1 :1 pane

•• limo . Musrru? (/':/e p(~(/ a m âo t " fj /l ('r d (/ d l' :I /Imlll )'.) Por que
\'ocê deixa crescer a linha tão gr:lI1de, e ju stamente essa ? (Fie
dele me smo. Você vai ver. Você :IC!l ;1 que eu 11 ,-'0 sacrifiquei
natl ;l? I ~s[ :í na ordem do mundo. Isso não imp ede o 1l111l1do

•• ( OIl / t /lljJ /I / fi linha do dl'f/illho.) I:: um ne glkio religioso ? é um

se gre do? 1;1 te m urna hora que essa unha me incomoda. (1')r
n rateia.) Isso de ve ser lima arma terrível , se sabe mos 1I5;1 -Ll,
de conr inuar, hei n, não é você que vai impcd i ru terra de girar,
hcin ? Não seja ingênuo, meu bom Alhoury . Scj :1 triste, isso,
eu posso compreender, mas não íngênllo . ( I': k rstendr U

•• um puta punhal. (lJ1{lis àaixo.) Isso te se rve talvez no am or ?


,\ h, meu pobre Alboury, se você não de sconfiar também da s
dinheiro.) Anda, toma .

•• mulheres, você e stá perdido! (F/e () olha.) Ma s você se cala,


você guarda todos os seus pequenos segredos; ClI tenho
certeza de que no fundo, e desde o início, você csr.i me
FI/Im Lconr.

•• ,!.!;()!.;mdo. (f':it: rim àmscamrnt« !1111 ma(o di' 1I0/flS de seu holso e
f'S/f'IIr/f' pam , \ //10111)'.) Aqui CSLí, meu rupuz. Eu tinha te

prometido. Tem quinhentos dólares. I~ o máximo que eu


XIV

( ,'/"'iJ('s, rnrin 'L'I'Z 1J!fiÍs./i'ffjiiclIlfS.

•• posso fazer.
ALBOURY - Você tinha me promet ido o corpo de Nou afia. IIORN - Léone, cu e stava te procurando. Vai cho ve r, e vo -

•• IIORN - O corpo, sim, esse bendito corpo. A gente não vai


falar de novo nisso, não é? Nouofiu, é isso. E ele tinha um
nome secreto, voc ê me dis se? qual era esse nome, aind a?
cê não sabe o que a chuva quer dizer, aqui . Só unr instante
e então /1()S entraremos em casa . (A AIIJo!II.1'. haixo.) Na ver -
dade, você é complicado demais pra mim , i\lboury. Seus

•• ALBOURY - É o mesmo, para nós rodos.


IIOl<~ - Aqui estou eu bem adiantado. Qual era ele?
pensamentos são misturados, obscuros, indecifráveis, eomo
sua savana, como a sua África inteira. ElI me pergunto por

••
:\ L BO UI{Y- Eu te digo : o me smo para nós todos. Ele n50 que eu gostei tanto dela; cu me pergunto por que cu quis
se pronuncia de outro modo; ele é secreto. tanto salvar você . I~ pra acreditar que todo mundo, aqui, fica

•• 135

••
insano.
LI~ONE - (A Horn:) Por que você o faz sofrer? (Hom olluI
pra ela.) Dê pra ele o que ele está te pedindo.
ouh! eu nunca vi tão teimoso. E você acha que vai conseguir
alguma coisa assim? Meu Deus, m'1S ele não sabe nem IIIll
pouco como agir, esse aí, nem um pouco; ao passo que eu
••

-
HüRN - Léone! (Ele ri.) Meu Deus, como tudo isso está saberia muito bem como agir se você me deixasse fazer: com
ficando pomposo! (A AllJouIY:) Saiba então que o corpo desse certeza não' seria apertando Os punhos, não, muito menos
operário não é cncontrávcl. Ele está boiando em algum lu- tomando ares de guerra e teimoso, uh não. Pois não é a guerra
gar, já deve fazer um bom tempo que ele foi comido pelos
peixes e pelos gaviões. Desista de uma vez por rodas de
que eu quero viver, não, não é brigar que eu quero, nem
tremer o tempo todo, nem ser infeliz. Eu, é simplesmente ••
rccupcni-lo. (A Léon«} Vai chover, Léonc, venha. (Leone se
aproxima de Albol"Y.)
ALBOURY - Me dê uma arma.
viver que eu quero, tranq üilamente, numa cnsi nha pequena,
onde você quiser, tranqüilos. Oh eu aceito ser pobre, pra
mim tanto faz, e buscar ~lgua bem longe e colher das árvores
••
IIOI{N - Não, meu Deus, não. Não vai ser uma matança,
aqui . (Depois de um tempo.)Sejamos razoáveis. Léone, venha.
e todas essas tralhas; eu aceito viver de absolutamente nada,
mas não ficar matando e brigando c me preocupando em ••
Alboury, pegue esse dinheiro e suma daqui, antes que seja
tarde demais.
ALBOURY - Se eu perdi Nouofia para sempre, então, eu
apertar os punhos oh não, por que ser tão duro? Ou então eu
não valho um morto já comido pela metade, eu não valeria
isso! Alboury, é então por que cu tenho a infelicidade de ser
••
terei a morre de seu assassino.
IIOI{N - O raio, a torrente, meu velho; ajuste suas contas
branca? No entanto, você não pode se enganar a meu
respeito, Alhnury. EUllão SOIl vcrdudcir.uucntc uma branca, ••
••
com o céu e suma daqui, suma daqui, suma, dessa vez! não. Oh eu j~í estou tão acostumada a ser o que não se deve
L éonc, aqui! ser, não me c usta nada ser negra por cima disso tudo. Se é por
isso, Albourv, minha brancura, eu j á cuspi em cima h:í muito

X\ '
tempo, eu joguei ela fora, cu não a quero . Então, se você
também não me quiser mais... (Um tempo.) Oh preto, cor de ••
••
todos os meus sonhos cor do meu amor! Eu juro: quando
LI::ONE - {Baixo.) Aceite, Alboury, aceite. Ele está te você for voltar pra sua casa, eu irei com você; quando cu te
oferecendo até dinheiro, gentilmente dinheiro, do que você vir dizer: minha casa, eu direi: minha casa. Aos seus irmãos
precisa mais? ele veio para arrumar as coisas, é certo; bom, é
preciso arrumar já que é possível. Pra que serve querer brigar
por ~1Igun141 coisa que não tem mais nenhum sentido quando
cu direi: irmãos, à sua mãe: mãe! Sua aldeia será a minha, sua
língua será a minha, sua terra será minha terra, e até no seu
sono, eu juro, até na sua morte, eu te seguirei ainda.
••
se "em gentilmente propor resolver tudo, e com dinheiro
ainda por cima? O outro é que é um louco, mas para isso, a
HORN - (Delonge.) Você está vcndo bem que ele não quer
saber de você. Ele não está nem te escutando . ••
••
gente sabe agora, a gente só precisa prestar bastante atenção ALBOlJRY - Démalf(/fédoomu xac bit (E/e cospe 1/(/ carade
e enfim, pra nós três, a gente vai conseguir impedi-lo de Léone.)
incomodar todo mundo, é claro, de fazer mal, e então, tudo Ll~ONE - (Virando-se em direçlio a Horn.) Me ajuda, me
vai correr às mil maravilhas. Ele, não é nem um pouco a
mesma coisa; ele veio para falar gentilmente mas você, você
ajuda .
IIORN - O quê? Você se comporta debaixo do meu nariz ••
••
diz não, você aperta os punhos, você permanece teimoso, sem a menor dignidade com esse sujeito e eu deveria te

136



-•• ajudar , ainda? Você acha que pode me tratar como uma
merda e que eu não vou reagir? Você acha que eu s ósou bom
para pagar, pagare pronto, e que podem me tratar corno uma
se conter mas psiu. Pare de respirar algum tempo, faça o que
você quiser, beba um gole grande de uma vez, corno pra
quando a geme cst .l com soluço, isso deve funcionar tam-

•• merda? Amanhã, meu Deus. é. você vai voltar pra Paris.


(l'imntlo-st na dirrçlJo deAlbotlry.) Quanto a você. cu poderia
muito bem acabar com você como um vagabundo comum.
bém, mas ':lle pára com isso. Anda, dá um gole. (Ele jogo n
garrafa. Léone bebe.) Mais, não rnolcngue, isso vai te dar um.
pouco de dignidade pois tudo isso está faltando, é. O que Cal

•• Você acha então que está na sua casa aqui? você me toma
por uma merda? você nos toma todos por merda? Você tem
está fazendo então com a merda da caminhonete? Cal! meu
Deus. Por favor, você! Sc você acha que o sujeito não ficou

•• muita sorte que eu não goste de derramar essa porra dc


sangue. Mas você pode ir perdendo esses grandes ares, eu
te digo, você pode ir mordendo os seus dedos. Você achou
por perto nos olhando, ha! esfregando as mãos de ver essa
crise lamentável e indigna, sim. Que imagem você dá dos
branco s. Que idéia maravilhosa eu tive, meu Deus, Léonc,

•• que podia, assim, levar uma mulher francesa na conversa,


debaixo do meu nariz. dentro de uma propriedade francesa,
se m que agora você tenha de pagar as conseqüências? Dê
eu te suplico. eu não suporto as crises. (Ele mula em Iodos os
sentidos.) Eu estou me sentindo muito mal, esta vez, sim, eu
estou mal, muito mal. (Ele pdm bruscamaue /)('1"/0 de Léone.

•• o fora daqui. Eu te deixo se arrumar com os da sua aldeia.


quando eles saberão que você tentou levar uma branca na
Baixo ebemrdpido.) Por favor, e se... se a geme fosse embora
daqui, hein? que eu abandone o canteiro de obras agora, será

•• conversa enquanto nos chantageava. Eu deixo você se virar


para sair daqui sem encontrar o outro que só está esperando
isso pru acabar com você . Dê o fora daqui, desapareça, c, se
que ... (Ele pega o mão deia.) Não me ... Não chore mais... Não
me deixe sozinho. Eu tenho dinheiro suficiente para ir ern-
bora sem aviso prévio e então Cal teria lima promoção e

•• a gente te vir de novo na cidade, você será morto, pela polícia


se for preciso, como um ladrão comum. Eu lavo as minhas
então dentro de dois dias a gente estaria na França ou em
outro lugar, na Suíça ou na Itália, no lago de Bolsena ou no

•• mãos cru relação à porra da sua pele.

AlbOI/I)' desaparece«. A chuoa começa a cni!',


lago de Consrance, ou como você quiser. Eu tenho bastante
dinheiro. muito. Não chore, não chore, Léonc, com você
eu ... Diz pra mim: tudo bcm. Não me deixe, eu estou muito

•• I
mal agora, Léonc, eu quero me casar com você, é o que a
gente queria, não é? Diz: tudo bem!

•• XVI
Leonese recompôs. Contra uma pedra, ela quebm a garrafa de
HüRN - E você, eu te peço, não tenha a sua crise, agora; ufsque e rapidamente, sem um grito, olhando a sombra onde

•• só faltava isso. Ah não, não não, eu não posso pressentir as . desapareceu Alboury, com 11m pednço de vidro, ela gravo nas
lágrimas. isso me deixa fora de mim; pare com isso, por favor, bochechas, profllndomente, os marcas incisivas, parecidascom o
mostre um pouco de dignidade. Olha só, ainda vai me vir sinal tribal do rostode Alboury.

•• uma idéia como essa, é, uma idéia excelente, o imbecil!


Püra: pára, pára por favor, um pouco de dignidade. Tudo se r·IOI~N -Cal! meu Deus. Cal! Está sangrando; isso não tem

•• ouve, aqui, o menor barulho se ouve a quilômetros de nenhum sentido. Cal! Tem sangue, pra todo lado! .
distância; a gente tem o ar fino, eu te juro; que bela imagem
você passa de nós, se você se visse. Psiu, vamos; se vira pra Lcone desmaia. HOl'l1 corre gritando, em direçflo ri I/lZ dosfarâis

•• 137



••
quese oproxi11llltll. mos um chamado de rádio e a caminhonete até a aldeia.
Vamos, eu vou pôr os morteiros no lugar.
CAL - Os o quê? '
••
I XVII HORN - Os porta-lanças, as caldeiras: todo o material para
o meu fogo de artifício. ••
••
Na cidade, perto do mesa. Cal limpo seu fuzil. CAL - Mas já vai amanhecer, Horn! Aliás, ela está fechada
dentro do bangalô, ela não vai querer sair para olhar, ela nem
CAL - Na luz, eu não posso nada. Nada. Os guardas me quis tomar nada; se ela pegar tétano, nós teremos de cuidar
veriam fazendo, e então eles poderiam testemunhar. Eles
poderiam correr até a polícia e eu não quero nada que fazer
dela. Que mulher estranha, e agora ela tem essas marcas pra
vida toda; no entanto, ela era bonita. É engraçado. E você ...
Mas quem você queria que visse, velho, o seu fogo de
••
••
com a polícia; ou eles poderiam correr até a aldeia e eu não
quero ficar com a aldeia contra mim. Com toda essa luz, eu artifício?
não posso nada. HüRN - Eu, eu vou ver ; é pru mim que eu faço, eu o
HORN - Os guardas nlo farão nada. Eles estio contentes
demais por terem esse trabalho, eles estão apegados, pode
acreditar. E por que eles correriam até a polícia, ou até a
comprei pra mim .
CAL - E o que é que eu devo fazer? Vamos ficar juntos,
velho; é pre ciso acabar com ele de um a vez por todas, agora.
••
aldeia para perder o lugar? Eles não vão se mexer, eles não
vão ver nada, eles não vão ouvir nada.
HORN - Eu confio em você. Seja prudente, só isso.
CAL - Só que cu estou frio, agora, então, eu não tenho ••
CAL - Eles já o deixaram entrar uma vez, e depois esta
outra vez ainda. Ali, atrás da árvore, ele está ali de novo; eu
o ouço respirar. Os guardas, eu desconfio deles.
mais idéia do que é preciso fazer.
HORN - Uma pele negra se parece com lima pele negra,
não é? A aldeia reclama um corpo; é preciso dar-lhes um;
••
HORN - Eles não o viram entrar, ou,eles estavam dormin-
do. Aliás, a gente não está mais ouvindo os guardas. Eles
.dorm iram: eles não vão se mexer, ,
nós não teremos paz enquanto nós não dermos a eles um
corpo. Se a geme esperar mais, o dia em que eles nos envia-
rão dois sujeitos para reclamar, a gente não vai poder fazer
••
CAL - Dormindo? Você não está enxergando bem, velho.
E u estou vendo os guardas. Eles se viraram na nossa direção;
mais nada.
CAL - Mas eles vão ver muito bem que não é o operário. É ••
eles estão olhando pra nós. Eles estão com os olhos meio
fechados mas eu estou vendo bem que eles não estão
dormindo e que eles estio olhando pra n6s. Ali está um que
que eles se reconhecem, entre eles.
HORN - Não se pode reconhecê-lo. Se não se pode re-
conhecer a cara, quem pode dizer: é ele, ou: é um outro! A
••
acaba de caçar um mosquito com o braço; aquele outro está
coçando a perna; ali, um que acaba de cuspir no chio. Com
cara, é isso c só isso que a gente reconhece.
CAL - (Depois de II1n tempo.) Sem fuzil, eu, eu não posso ••
toda essa luz, eu Dia posso fazer absolutamente nada.
HO RN - (Depois M 11", tempo.) Seria preciso que o gerador
tivesse um tipd de paAc. '
fazer nada; eLl não gosto de brigar e eles são todos fortes
demais, esses canalhas, com o karatê deles. E com um fuzil,
velho, a gente vai ver bem a marca, um buraco na cara essa
••
CAL - Seria pIeCiso. sim; 6 preciso abIotutamente. Senão,
eu não posso fazcr nada. '
é a marca que eles vão ver e então a gente vai ficar todo
mundo com a polícia nas costas. ••
••
HORN - Nlo, a melhor, 6 esperar a ma.nhl: nós enviare- HORN - Então, o melhor, esperar a manhã. Façamos
é

138


,••
-
tudo dentro das regras, meu rapaz, é o que há de melhor.
Nós falaremos com a polícia c resolveremos da melhor
esse cara . Ele custa a ficar de pé; ele bebeu como urna
espon}1.

•• maneira , dentro das regras.


CAL - Horn, Horn, eu estou ouvindo-o, ali, respirando. O
que é que cu posso fazer, o que é que eu devo fazer? Eu não
CAIJ - Sim, chefe.
IlüRN - (Baixo.) Cuidadosamente, no meio da cara.
CAL-Sim .
e tenho mais idéias. Não me abandone. HORN - E depois, o caminhão, cuidadosamente,

•• IIORN - Um caminhão pode passar em cima dele. Quem


pode dizer: é um tiro de fuzil, ou: é um tiro ele pistola, ou: é
um caminh ão, hein? Um tiro de fuzil não se parece mais com
CAL - Sim.
I IORN - E prudência, prudência, prudência.
CAL - Sim, chefe, sim chefe.

•• nada se um caminhão passou por cima depois.


CAL - Finalmente, eu vou dormir. Eu estou com a cabeça
HORN -- Cal, meu garolO, eu decidi, olha só. nem ficar até
o fim das obras.

•• assun.
[IORN -- Imbecil.
CAL - (Ameaçnndo.) Não me chame de imbecil, 110m,
CAIJ - Chefe!
HORN -I~, meu garoto, é assim; cu estou cheio, olha bem;
da Áfriel eu j:í não entendo mais nada; é preciso usar outros

•• nunca mais de imbecil.


I IORN _ . Cal, meu garoto, os seus nervo s! (Depois de 11111
métodos, sem dúvida, mas cu. cu não entendo mais nada
daqui. Então, quando você precisar, você, resolver as coisas,

•• tempo.) O que eu quero dizer, é quc esse aí, se a gente deixar


LIe entrar na aldeia, eles vão voltar em dois ou três e vai se
virar com dois ou três! Ao passo que. senão, a gente manda
Cal, meu Deus; me escuta bem: não esconda nada da
d ireção, não fuçu suus besteiras, conte tudo, ponha -os do seu
Lido. Eles podem compreender tudo, tudo: c lcs podem

•• levarem o corpo dele amanhã para a aldeia c a gente manda


dizer: é o rapaz que foi atingido pelo raio, ontem, no canteiro
de obras c veja, um caminhão passou por cima dele. Depois,
resolver tudo, tudo. Mesmo a polícia, você n .io a conhece:
que eles se dirijam à empresa. A dircçâo d.t SII :I empresa,

••
é tudo o qllc deve existir, pru você, lembre-se sempre
nulo volta à ordem. disso.
CAL -- Mas eles vão nos pedir as contas por esse aí, então: CAL - Sim, chefe.

•• eles vão perguntar: por onde ele passou. rcssc aí?


IIORN - Esse ar não é 11m operário, nós não temos ne-
nhuma conta pra acertar por esse aí; nunca foi visto. A geme
I-fOR!': --- Dentro de duas horas, vai amanhecer: C\I vou
começar () meu fogo,
CAI E a mulher, velho?

••
J - --

não sabe de nada. Então? J-fORN - Ela vai embora daqui a pouco com a caminho-
CAL - Frio. assim, é duro. nete. EII não quero mais ouvir falar disso . Eb nunca existiu.

•• IIORN - Quando eles forem muitos c que os guardas,


depois, vão deixar passar todo mundo, o que é que a gente
vai fazer, então? hein?
. Nó s estamos sozinhos. Tchau.
CAL - 110m!
I-fORN - O quê?

•• CAL - Eu não sei, eu não sei; diz pra mim, velho.


I IORN -- É melhor exterminar a raposa do que fazer ser-
CAL - Tem luz demais, luz demais, demais.

•• mJO pra galinha.


CAL - Sim, chefe.
I-IüRN - Aliás, cu já o amoleci. Ele não é mais perigoso,
Horn icoanta os olhos em dire{'f/o ti torre de vigilâ1lcia e rios
gurI/da,\' imóveis.

•• 139

.•.
• 4

••
XVIII

Em frent« à porta entreaberta do bangalô.


A /IIZ tem ainda algumas fnlhas, que interrompem Cal de vez
em qllflllf!O.
••
HORN - (Falando poro dentro do bangalô.) Dentro de
algumas horas, uma caminhonete vai para a aldeia, levar
CAL - Não se preocupe, não se preocupe, bebê, é o
gerador. Es~as grandes engenhocas não são fáceis pra mane-
jar; provavelmente vai haver uma pane, são coisas que
••
documentos; ela vai buzinar; esteja pronta; é um excelente
motorista. Enquanto você espera, vai ser perigoso sair; tran-
acontecem, Bom deve estar se ocupando disso, não se
preocupe. (E/e seaproximadela.) Eu me lavei . (Ele se cheira.) ••
que-se no seu quarto e não se mexa, não importa o que você
ouvir, até que soe a buzina da caminhonete. Quando você
partir, eu já estarei no trabalho, então: tchau. Vá a um
Eu acho que não estou mais cheirando. Eu passei loção pós-
barba. Eu ainda estou com cheiro? (Um tempo.) Pobre bebê;
encontrar novamente trabalho, agora, não vai ser fácil, hein,
••
médico, quando chegar; eu desejo que ele te conserte tudo
isso, sim, talvez um bom médico poderá te fazer ficar apre-
eu imagino; principalmente em Paris; cidade dura. (Um
tempo.) Deve estar nevando, em Paris, agora, não? Você tem ••
••
sentável de novo e consertar isso. Quando você voltar, tam- razão em voltar; aliás, eu sabia; eu sabia aliás que ele acabaria
bém, eu te peço pra não falar demais. Pense o que você te desagradando. Eu continuo não entendendo o que você
quiser, mas não faça mal à empresa. Ela te deu hospitalidade viu nele, no I-10m. Quando eu te vi, de longe, desembarcar,
apesar de tudo; não se esqueça disso; não lhe cause dano:
ela não é responsável por nada daquilo que te aconteceu.
Isso, eu te peço como... como um favor. Eu dei tudo pra ela,
vermelha, tão vermelha! com essa elegância, esse chique das
parisienses, esse lado última moda, tão frágil! e que eu te vejo
agora... 110m, que idiota! Agente não deve mostrar os porões
••
tudo; ela é tudo pra mim, tudo; pense de mim o que você
quiser, mas a ela, não faça mal a ela, porque senão seria erro
e os esgotos para as criancinhas, não; ele deveria saber disso.
A gente deve deix á-las brincando na varanda e no jardim, e ••
meu sim, meu próprio erro. É um favor que você pode muito
bem me fazer; pois é com uma passagem de avião paga com
o meu dinheiro que você está voltando; você aceitou a
proibi-Ias de entrar nos porões. No entanto, assim mesmo,
sim, bebê; pra nós que trabalhamos aqui, você, você trouxe
um pouco de humanidade. Finalmente, sim, eu compreen-
••
passagem de ida; agora, você precisa aceitar a volta. Então,
bom ... Tchau. Eu não vou mais te ver; a gente não vai mais
se ver. Não. (Ele sai.)
do, velho Horn, velho sonhador! (Ele pega a mão dela.) Em
todo caso, eu estou contente por ter te conhecido, bebê, eu ••
••
estou contente que você tenha vindo. Com certeza você me
julga mal, bebê; com certeza, eu não tenho idéia. Mas de que
Lêone aparece, nofrentedo porto, comos molasno mão.Seu ros- me interessa, o seu julgamento, já que você está voltando pra
lo estd ainda songrondo. Bruscamenle, o lu", se apago duronle
alguns segundos; em seguida, escuta-se o gerador que volta (J
funcionar.
.Paris, e que a gente não vai mais se ver? Com certeza você vai
falar mal de mim pras suas amigas, durante algum tempo, e
com certeza, enquanto você se lembrar de mim, vai ser do
••
Cal aparece,' Uone esconde o rosto atrás do braço, e fico assim
durante todo o tempo em qlleeleolAo pro elo.
lado ruim e no fim, você não vai se lembrar de mais nada. Mas
em todo caso, eu fiquei contente de trocar com você. (Ele ••
XIX
beijoo mão deia.) Agora, quando é que a gente vai ver de novo .
uma mulher, uma mulher de verdade como você, bebê? Se
divertir com uma mulher, quando? quando eu vou ver uma
••
140 ••
.,

:• mulher novamente no fundo desse buraco? Eu estou per-
dendo a minha vid a, no fundo desse buraco; eu e stou per-
dendo os que, em outro lugar, seriam os melhores anos. Fi-
Iluminada pelosclarões intermitentes dofogo deartiftcio, acompa-
nhada por explosões surdas, a aproximação de Cal rm direção à
silhueta im ôoel de AIIJo/uy. Ca! aponta seu[uzi! tmrn () alto, em

•• cando sozinho, sempre sozinho, a geme acaba não sabendo


mais a própria idade; então de te ver, eu me lembrei da mi-
nha. Vai ser preciso que cu a esqueça de novo. E o que é que
dircçdo à cabeça; o suor corre em cima de .1(' /1 1'0.110; seus olhos
estão injetados de sanglle.
Então se rstahdec«, 1/0 coraçâo dos /Jedodos negros entre (/J

•• cu sou , aqui, o que é que cu continuo sendo? nada. Tudo is-


so por dinheiro, bebê; () dinheiro nos toma tudo, mesmo a
lembrança da nossa idade. Olhe isso. (Ele mostra as 1I1/10S.) Por
explosões, 11m diálogo incompreensívelentre AIbo11 r)' f fIJ altums
de todos os lados. Conoersa tli'l11qiiila, indiferente; pergul1tas e

••
respostas breves; risos; linguagem indecifrdue! que ressoa e se
acaso alguém diria que são ainda mãos de um homem jo- amplifica, corre ao longo da cerca de arame de alto a baixo,
ve m ? você já viu mãos de engenheiro, na França? Mas, sem preenche o ('spa(o inteiro, reina sobre fi escuridão e ' 'fSJO(1 a;/lrlri

•• d inheiro, pra que nos serviria, ser jovem, hein? Finulmcntc,


cu me pergunto, por que, sim, por que eu estou vivendo. (11
luz se apaga, definitioamente, desta oez.) Não se preocupe; é
sobre toda a cidade petrificada, numa última serie de estrelas
cadentes t' de sois que f).:plodellJ.
Cal é primeirall/mle atingido 110 braço; elesolta ofusil. No alto

•• apen as urna pane; não se mexa. Eu devo ir; adeus, bebê .


(Depois de 11m tempo.) Não me esqueça, não me esqueça.
de uma torre, 11I" guarda abaixa sua arma; de 11m 011/1'0 lado,
III1J outro gnarda leva 11 ta a sua , Cal é atingido no ventre, depois

•• xx
na cabeça; ele cai. A/bom)' desapareceu. Negro.

o dia amanhece, docemente. Gritosdegaviões no ce«. .Na .wpf'lf/cie


•• ( JI:rrrvlAs VISÕES DE UM CERCADO LONGÍNQUO
rios esgotos fi dll abato, garrafas de lIísque vazias se chocam.
Buzina de uma caminhonete. Asflores de bllgal/vilifl bala/l{(IlIl;

••
todas repelem fi aurora.
Um primeiro feixe IIImil10S0 explode silenciosamente e mpida-
mente 1/0 cr« acima do jardim de bllgfl1lvilifIJ. LÉONE - (Milito longe, e escuta-se com d~ficuldarle sua voz,

•• CltJI /io azul de cano de fuzi/. Barulho seco de uma corrida, pés coõerta pelos barulhos do dia; ela se inclina em dil't'ftlo no mo-
f/tsmI(os, em cima da pedra. Gemido dt' rachorro. C/mijcs de torista.) Hnoen Sie eine SidJerhúlsllat!eI? mein Klt'id geht au].
/antcrnns, Assobio. Barulho de 11m jit zil sendo filmado . SOjJlV Mei» GolI, teetm Sie KeincbeiJichhabel1, muss ichgflllZ)/(Ich. (E/fi

•• [rcsro do vento. 17, soôr na caminhonete}, roda nua! 1lf1ch PfIIÚ zlIr iicJ:. (il
() horizonrcse cobre com 11m imenso sol de rores 1"(' ali, rom 11m caminhonete se distancia.)

•• /)(Inilho doce, sufocado, emfniscas sobrea ârlflr!c.


De repente, a voz dt Alõour»: do pretojorra 1111I dmmndo. gllt'r- Peito do caddoer de Cal. Su» mbe{a estourariaeslrÍ embaixo do
reiro esecreto, qu«gira, levado pelo cento, e se Ieoantn do coujun- cnddoer de 11m mchohil1ho oranco q1le mostra os dentes. Horn

•• to di'árvores até a cerca de arame farpado e da cerra alé as torres pega o fuzil caido no chão, limpa o rosto e l("lxlllla os olhos em
rll' V~t;;/âl/(itl. direoio ris torres de v~t;ilrifl(:il1 desertns.

••
•• 141

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