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t:;> 1994 bv Les Éditions de Minuit. Direitos de tradução (de, pela •e
ordem em que aparecem nesta ed ição, RoôertZucco, Taõataôo, Le
Rt'lour nu Dárrt, Dans la Solitl4d~ dt!S-C/ltll!lpS d~ Colo" c Combm t/t
N;grr. fI dt, Chiem') e de publicação reservado" pela Editora de
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Humanismo, Ciência e Tecnologia "Hucirec" Ltda., Rua Gil
Eanes, 713---04-601-042SãoPaulo, Brasil. Telefones: (01 l)5309,?OR ••
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!: 5,13 ·0('53. Fac-símile: (Ol1)535-41R7 .
ISBN 85.271.0289.7
Foi feito o depósito legai.
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•• i\ origem deste livro 9
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Beatriz Azevedo/Letícia CaUTa
Uma dramaturgia que perturba, pro v {)m, revela,
questiona e fascina 11
•• Fernando Peixoto .
e Roberto Zueeo
Tabataba 47
19
•• ( ~ ( 'Jllbate de Negro e de C ãe s / OS
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•• BEATRIZ AZEVEDO / LETÍCIA COURA
•• CABARET BABEL
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•e !lt'I'IJIIlt/-iJf{Jfie KO/I()S, nascido na França, foi
"/)1'1"10
um europeu
e apaixonado pela J\/Í'1à' e pelas Américas. SUfI.i !)(fI,i
";,III/lO.\' rnnrcistas com profissionais que IItJ!){J/h(I/ (I/!/ rom SI/(/
ohra. ( ;o/lh('({'/!/os 11m pouco mais sobre o IIIÚ'Vt'/ :W til' A'o!/h-
I. ••
/1'11/1111/ qnrstõrs qu« 1/0S dizem respeito muito riirrtamentc; e/e percorrendo os (fIfés árabes que ele /I"(;'qtiefl/m..'(J , o bfli/TO onde
ronhrre o Brasil como ningué1l/, Il/OmV(I, o II/{'/,./i que /0 maca, flmb/m/eJ que marcam profun-
11.1.1';11/ ('011/0 Bn;cht ofoi para fl tI/mr/tI til' fiO, acreditamos quc dnmcntr .W (/ r/mmflturgifl.
15olll/ld-,JlI/I1e Koltês será 1111/11/(//"(0 jJflm o teatro brasiteiro dl/ Seu inn.io François Kottês nos presenteou ('(}!II suas obras
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dá 11(!tI r/l' (){7, mediras. f flillr/fl em Paris 1/lIVflmOS o primeiro contara tom
:1 {,'ia . (.'{J/Jflr('t B(//){'/, moolda por Il/lla "pflix(lo ti pl1mt'im :11. JirÔIJ/C I .in do 11 , editor de Ko!lfJ I/(J França ((difioll.\' r/(
Icirma quc aconteceu II{J Espanha em /99J, realizou 1/0 ano se- ,Jlifl ll i /) , o q/lI 'j)o.\Si!Ji!itOIl esta publim{r1o.
{ :'tf}(1JI1I
rrtoma-
IUf lO,
obm r/f
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•• /';11/ UII/ II/(~i pcnonrmos ()J / I'II/IOS ondr JI/IIS o!lmjrí hllVilllll
.Iir/o ( /l O'/l II r/II S, recolhemos artigos, ('I/t/"{!Y)ÚfaS, fotos, fomos "
/Urlio Francc CU!fure OI/de suas petas estão graoadas, reali-
1"(/Na/)I'! r drl Fdilom f l uritr: !)oll/as-dr-!(I!/«(I 111'.1".1'11 oll,wdir/
ncressdria: jJII/JIimr jJl'!(/ primrirn vez 110 /lIf/.l'i! (I 0/)/(/ r/('
Rt/7/(II"{!-.II(//ie Ko!/éJ ,
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•• IJMA DRA1\1ATlJRGIA QlJf1~ PERrrIJR]~A,
•e I{I~VB:LA, QlJr~S'I'I()NA l~: 1~'ASC~INA
I)ROVOCA,
•• I;'ERNI\NDO PEIXOTO
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.Vo dia 10 de maio de 1990>rlli (/Oteatro ,)challúiihlle, e/ll /Jt'lll1rbtldor:!f'm/lro q/lt'por fi ~t;U 11.1 insta nresfiçuei mesmo olha li-
Rn /i/ll, assistir a mais recente encenaç ão de 11m dos mais exp res- do flSPCSSOflJ çu« I/afjuele momento passavam pelfl Lr/miner Plat »
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.lÍL'OS diretores contemporâneos, por q/lem semp re rioe grande UI/de cstd [ocalizada ,1 casa de espetriculos, no centro do que em
/u1l1lira(r1o ~ P;t;;:~~FvEu1Jf70 conhecia nem o texto, Roberto entâo Berlim Uridenta], efiquei examinando cada um, sobretudo
Zucco, nem o autor, o francês Bernard-Mnrie Koltês. Desde as os maisjooens. pensando que a~t;/lém poderia ser como o personn-
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0/1 /1111
(' j)(}/(im, (()11/ instantes de tlllI realismo crI/ti em seguida snãsti- No dia segl/inle /lem cedo corri parti (I Livraria Fran cesa de
(II/t/OS por fllll quase teatro de absurdo, a mescla conturbada e Redim Ptlrtl ver se encontrava outros textos do mesmo autor. A
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simbolos e mitos, do cotidiano e do imngindrio, me deixaram sobre Kolrês e SI/fi obra. l11gl/flS companheiros do teatro alemão
rcalmrnt« perplexo. Algumas seqüências são para mim alé hoje fl(Jfjl/tla mesma noite haoinm me/alado sobresua obra como uma
inrsçurcioeis, assim como me marcou muiro fi pOHibilidade dl' n"Uda(tlo únirrt, e /flllI/lém que Koltis, nascido em Alcrz. ('11/ f) de
•• (fIlTfg(l!Jdo o impacto e a dilacerante tem ática como algo vivo e volume: O Retorno ao Deserto, Na Solidão dos Campos de
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Algodão e (.~}m);m;,<:el""egro.c dcães. C ('.omccn
, .a aeoora-tos
J ' • I trndusi« par« o a/mujo a pera Cai s Oeste {It? Koltis (fllid.\', .1' .'/(/
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no mesmo tii;' lI: ml'/kotl\"n cerlr~ de que estaua diant« do mais
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prímám ptra encenada 1/0 IJrnsi], !1'IIr/O t'stn·{/t/o ('1lJ Sdo / 'fI/tiO 110
Teatro Pf';O/ em 8 dt' figoslo rll' IlN.,'t) ;'1/1 /mr/II(rlo r/t I ';flli/;o ri; ••
p I;/i/llev . Em' OJ {ex/os, e~lom/1{fo 1I111f1 temritica sempre
/)('.i(o/m· Itltllb/lil ofnsctnio de HeitlerJfii//i.'I'[Jor Kalrês. Af l'Smo do !M11'0 . l por isso fjlle A.o//ó· nofuI/do r!o IÍ 11;1'0 filie ///1' in/rrrss«
mio .filiand o {mAces,, () qUf' (.'(lU SO/l po/e"m;(.'(l 11t1 t:/) (){ 'll ...lfNI/fr 11(/ I/O 'CV/ d li'lIl/(lllIIgia" .
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II ••
I:o/Í("S nasceu ePI IUc tz : no interior da Fra1J(II, elll.9 de abril de
I tf/ ,\'. Itcixou (I âd(/de com dezessete, dezoito (más, Viajo« em
tris (11/ 0.1' .\'('11/
dt/)(J/:\', afirma :
esa rocr nada c, num« rutrro isra a L. l' . l ln», til/ OS
{F/ ter/o lia l'SCO/ (J d o 7:!\fL\~ e em {971 ele IIlt:.rmo montou . flaqur/a
Or/O)//, por.ll'al/..I.llc /Jo/!/ (' R;ml'd FOl/lfIllfl . RegreSJOu/lO f/1/0
segu;lItt (I ,~/o'Ua rod' eem 7983fillallll l'll/t' es/ti;rl 1111 F Ii'I/l{fI , ( 0111
( idar/e, r ,a ~L~ich.e t' Pro~cs Ivre. No filIO segui nte fi rddio !'nl11cc rlirq,'(/o r/f' 1),/11';((' Chll ('{/II , Comb ate de Negro e de Cks, /lO
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( .'! I/IIIIi' //{ lJisl1li/ill (! perfi L' Hédtage. f('!ldo i Jf tl! ?fI Dl/Jaris (:01f/O Thài//(: r!es : i lll{/ ll d i et:l" de fI/fl ll lr.nr, tendo IIIiche/P;rmli (' j JhilljJ/J(!
"I{i:~ prill ájJal.' 01111"".1' texto s JelJs st10 ena:llar!OJ 011 fnl!lsmitidos Léo!flleI á.liC:II/e do t/tllro. N U lllfI t:1ltl t"'iJÍJta a Nj(/l!1i SiIllO//, em
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por /i/rlio. Fui 19?7, /lO Fe.fliva/"Q[l" de il vigllOI1 , t's/rim, ('01n 1983 , Ko//ts der/tlroll: "N" refi /idade, essa obrfl llflJ ( 't:1I rle U1II(/
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.\IIft' dm '[/io, L ;l N uir Jliste Avant Les Forêrs: eltíhf1'l..';f/ paJsado visdo jiI/ Jií..'f'1 i!'l nd, !/l/lS el1()/'IIll'lIIe11/l' ('!IlOÚ0 1/{lfl le: lIIill :}a /Jli -
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mrirn 'uiVlo dfl l Í/i i cfI ! Q//fllldo desci do aoiâo, me senti ag,.u/ido existe fi ordem normal, !IIf/S sim uma outra ordem O,,70.W, quefoi
e .w /Jf"CI"dopdo tremendocalor q//e 1IIe pesaoa 11f1 11 uca, que arrasa , seformando ". E prossegue: "Senti oontndedefaiardesre peqllello
•• r 11/I(,IIfIJ rll~i1'0}S.ici
fi lVi-im '1/ /1(' ctt
(/S aeroporto, todas as id/ias .W!J/f?
pOI1t1S do
trazia se solidificaram utuna cena: 11m policia!
mundo, qt« é excrprional e, apesar r/isso, 1Ir10 110.1' pnrcce
((/1110 do
estranho;eugostaria rlt' conla resta rstrnnlia impressâo qllese S('II te
•• IIlgro úfllifl com c ioléncin em ,,11I rir Sl'II S irmãos. Avr/1/rei e rle
I r/H'IIlc I/~(, rnronrrr!com essa úllnált inois/oe', 1IIflJ oniprcsrntr,
1/ 1/1' div'irlifl úlll!Jo/imlllm,1' os RmwO.I· c os Negros. Olhá para os
r/O arraoessnresteeSpfl(O imenso , apnrrntemente deserto,com ri IlIz
tjll(, vai 1/II/drlllrlo r/O passar ria 11 o itc. os rntdos rios jJII.I'.WS r as
cozes ql/e I'('SSO(/III. a(l.,TUllll a reu Iado. 1111/(/ /I/f/O qt« .l1IiJil(l/l/ m l ('
•• 'v1:r:.ms , /0;" sruria í.,t'I :r:.0IlI,tl dos 11I1'111'.,' mas IIO\' olhos rlr/r,1 In11/11/1. '11 11' aga rt r:". F tlll!r/fl ('//1 I ()Sfi rstn'in, I!O F",I't1i 'lt/ til' .h)f'.."ol/,
1111/ rid i o Irll) 1/1/1'11.1'0 , 11/1(' 11/(' I/.I'SIIJ/ri (' (1)1'11 fl llI 'tI o /(u/o d os , '.lj !);ILIl Ll, /1'tII1Sllti/ir/o jlt'!ll1'tír/IO rtn . 1' (Ir' tlgr J.I'/II .
•• lt rnnros ".
/-:11I ! (1)''; I\o/Ih)oi pnm o ,..\'emg tl !. [<; pII;';imll 1111I 1"01111/1/((',
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IJ" e hflvit'/ escrito pn5/Jl70 I\o/I{\, "e umn histôrin de dois po'SolJagt'!/s, IIIIIt'/ roncrr-
em f f)7ó. Afirmo/l fJlIC seu grrl!lrl(' sonho era o de escreoer romau- J{/ , 11m didlogo à maneira do século .\ 1'111". Sobre .l1IfI cnrcnaçâo,
rrs; II/fl S n/lo rsarcin. /}()I'f{I{(' IIr/O /}()r!trifl oi orr disso. r:1t/n '(/1I rltr/fI 1'01/1/1I/11f1 rntrroist« fi Didir«, I/('/'{'II':.(' ('1/1 f f)S7: "ru
•• 1-:11I I f)SS I\ó/I/ s crio no NmJi/! 1': sll'f)l' no RIO d('.Ifl!l(lm I' ('111
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1'1I me emociono mais jOgfll/rlO é'/II maquinas eletrõniras 1III/IIfI 011 1 I/tIII·Cf/1(.\', Jt'!Ido i/~j;d fi d e (0/110 Imito o hrí!Jilo de ser r'()/II
(,S/I/(Il' rir' corrrdor sórdido de bus.. f()I1~1' de St/O Pal//o do qll(, eles. Diro isso, se (0/11((0 fi ler referências (11/ n/fl(rlO ri O/J/(I rft'
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(: ~I is Oeste [01/1 dil"C(t/o de Palrl[e G!térâill e lendo Alaria Casa-
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•• /lI grl" SI/1IlrNllflI!e estmllho, 11m refúgio rir 1/IfIlr/(f.!,OS, birhflJ , Cflme-
Ms, 1ft run10 rle mlltflJ, 1111/ /lIgarollr!r fi p'o/kifl lIrlo entra 111l11rf/,
jJo/' obsmms mzões. Rf/sta mIm,. e você se dá c011ta rle qlle eslrí
df'dflroll Ko/lfJ em-ell/revisla fl r. fiaI/e.' "F. C'UitlCl1Il' IJ/I{' nt IIr/O
/}(/S.l'tIlifl fi vidalmdllzillrlo, II/flS dl' vez fll/ tjllflllt!O
me prodllz mll;lo pmze,., é IIl1/fl
t .1'/1'Im!Jfllho
e IIfllll /lIgarp,ivllegifltio d~ Intl1ldo, IImfl eJpéâe de quadrado mú- SltflÁ'e.ljJefll"C permite 'ver como ele (OIlSll'lIla SllflS o/J///S e ('O!n qUi'
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entrcuisra fi i~l. Ge1/S01l, afirma Koltês: "Eu cstnua 1'I1l IJl t'/Z em nhas fit'(/I S, e« (/111'11I0: !·: S/{/I!l(}.I' cercados rldfl. Os 1!I%I'ÍS!t{,\' rm •--•
I f}(íO. Jll'lI pai era oficia]e naquela tÍJOCtI c oltan da Jl rgilia. 11 fém
disso, (} m/égio ')ftlll/ -Clémcnl estaca situado 0 11 p/mo /;(tÍl'I'f)
seus amomooei: s.io de 1I/1l(/ f..Jio/tm:ill, de 1I!1/(/ mllldade trrrror],
r -:/r/o />1 o.'! los /1(1/(1 11/(//(/1' (/ i odos ". I': OJII ti»1111: "Os l'ill 'f)jlr'l/S rut
os O(itil'lI/tlis, s/io os vo (/atlá ro,\ monstros. j';xis/(III SOJJ1('JI -
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ri m /I!', Fivi a lhegar/a do Genem] Mnssu , (/,1" t>"p/OJiJ{,J nos {I/PI' .f!/'I II!,
(; 1(1 /1('.1' , t/lr/o de longe, sem lo' uma opinião, e apenas meficaram Ir OJ IJ/l llfI,f,"(l n t. i , (1'1(' ( (I (/(110 (//;."()/(I /1/111(// te ma,!!,1I (fiá).i /}(Jl'tjflt
i///!I 1l '.i W)('S , 1/.1 opiniões eu só as tive mais tard«. Nr70 qu;.'i escrecer /)()SSII O)/ [{Jl/O nohrcz«, (1l"iSloOllâfl incrioe]. floll/lp.o/ me
/111/(/
nmn pe(fI sobre fi guerr(/ da il rgilia, 1IJ(1J, sim, mostrar como [Um
dii:~,( ' (111oscocêpode' sentir emoções ri partirde acontecimentos /fIlC
f>tll "ty e f) único poú do 1JI1I11f!o, assim ('()JlJO 1I1J/{/ ilha, /)(1/(1 mim.
onder« li": njilgimitt. (...) f'II tenho V()!I /(ltlo ltj idal'lúS,iO. jJois (1.1' ••
se r/r.' ·m'{)o/'i.)tJfJ na exterior. No interior, utdo transcorria de modo
(,,/m llho: a Argt!lifl parecia n ão existir e, apesar disso, os (afú
coaoa»: pdos ares e osdraoes eramjogados no r/o. Haoia estetipo
mi"/J(/J pr(flJ [ala m disso. ( isso
csa rcer /111/(/ /Jt(tl. Sâo tiS
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(/"L ,i o/i1UÚI (1 que 11111(1 criança é seusioel, ainda qu« 11/10 a
(OIll/) u ,t INl a . Entre os doz« i:' os 'dezesseú rJuos as impressões s.io
dlÍ'l.!idr/ seu /i'XIO/lla;sj(l.ifÚ/I/J/!t I:' pt:ltlIrvflrlor.
O/Jlr/ !J(IStf,r!tl nn [atos reais, a o m enos lI/til/ /JeIJu!!(/,!!,r/ll fJltt
Trata -se rÍt' lIJ1Ja
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du ·is/vas. creio filie a/se decide tudo. Tudo . No mc« ((/.1'0, eoidcn-
tcntrnrc. raloez tenha sido isso() que me Ieoo« Ii me interessar mnis
rralmcntr existi», {/IJI dia A'v//h' v iu lllllJl "mrtrõ" nm
"!JflJ((/ -SC" COIll asfotosde 1/ IJIjovt'1J/ (I fiehavia assassinado ,'( IJI Pfi -
/ /// 'lrI Z rir
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/n/ os cstra ngeiros tio que pe/os [rnnceses. (:0111 prel'Jlrii tn li i/o (friO /ú';aí. FirvfI/t/StÚ/IIJo como rostor(/ IJt/rza riojO'()(,IJI, SO l tI rsrrcuo
(/ 111' (,/fi /ll o snngi« novo ria França. que se a França ciccssc rlr/Jois assistiu, !)t!tl /c/I'UiJr70 , a o mesmo
e tlllllqiii/o . l 'oucosdias
somente do sangue dosfranceses se canoertcria nutn pcsadeto, em I tlj>flZ, q//(' !I(i v';f/ sido preso, {Jm/Jallt/o pelos /elhados ria pliS(IO,
(/( f!.lJ nnrecido li S II /( /I . A esterilidade /0/(/1 no plano nrttstico e em
( lI'. ,\ 'lI l1/fl Ol/tr:,vistflll KI(ifIJ Gnmau e SrlIJilll' Sf~/tlf, e/tl / : 1ft
fil eso, écn(('I Tar/o 1;,'(/11 hosp ila I pJi(/uirí/rim r sIIiátil, -se do meslJlo
f!iodo Iflle havia fOJlletido seu primeiro oimt' (o priJllriro rle /lilli-
10.1 ou!ro.l) fjfl(IIIr/O maloll SO l pní/Jlio pai ('OtJj II/H'//tl.l (/flill:<',(,
••
OltlU/ll'O de 1988, e/e/a,z" 1~/i't'1llfiçiieJ {JflSI(I1I/e c/tlI'IIS: "l'.:II lilll/UI ) aI/os.
mit)(í"I'Í idé/flJpoHúals lias millha.sj>t(fls, i1gente ndo f .lO't;ve jJe('tl'; \ A:o!/tJ 1II0/TC t'/II /S de aóril r/t 1989, ('(}II/ fJ/lan!!l/a e 1"" (IJ/OS. ••
( O/li idà (IS, t7 gente escn"ve pe(as {Otn pessoas. Fu, Si' qUÚ{:f', eu \ E Roberto Zucco tem Jlla es/dia IIl1l1ldifl/tl/J 12 dca/Jril rlt /991 7
('.iO(' ,,'O !Im Pt1f1f/do pO/líico, fIlm eu !lão fa(o panflelos políticos ) 1111 Scha/lóiillllt: l'1JI f]edilll, com din'(tio r/t: PtterStcill , D/I,w/lr os
peÇfls. 1';/1 não lenho Ilfllhlllllll I'lIziio jJlII'II f'SOl!'uer I etlSttiOJ, 110 IIIf:J t!"/FJerúro, Slá// ('(m(t 't!etllIlllfI!Ollgfl clllrrvis/f/
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IltlS minhas
lIIJ/fI fl t(fl, 1/ Il rlo sel' o/ a/o tieesu't'tN:'I', éo finico E em 0"'1'0 l,.edlO i ti Ali1l1? j.rIl(J i'l/ /, ria qlla/ l'xtli'lIíI/O,l /l1IJ trccho c.lpecia/tJj e17tl'
li.
(/r. \J1/ tl .i Ulltl o '11ff'dW!/!fI de (:/irm~·t'ses médios li: "Seépreâ.w/I1I'III·/ t').jJlê.l'Sivo .w /" I(' Sl l t l vú /iV do ft'X/O di' Hemal'{/-ll{arit' Ao/ti',\':
r/t'jJJi ·s.w '~ ·'I'IIIOS 'l''!' CS/rlS an rilisrsndo s/io .l'II j i·(I·I'II /c.I . RI's/ rl rntâo contra II .I0(;N /rl rit' qur disruriasuas ações. F!Jl !/I ((O , o /: O!Jl(,II/, o
•• Iki /!'II /icos m il / /110 .1' 011/1'0.1' r' (() !I trn si 1II{'.I/1/0, .I{'111 nrn]: /(111
11/),111 'li /f' , o/l l ·ir.:.rl II n /It/ il' f' 1I .i f' ({)I!;)o ll lrl l' rom (I iu rrrtr-:a t' rr
1!lí ~ 'il/r l if) /IJi' o (()1II/)()I'/IIIIIt'I//O do h0 1ll1'111 f'1II gt'lfll. :\'(1 OO:!!..t'lII
moric o disrmir mais nada.
II srr o n i l / l l'/ l rI.I
, l / as as 1I0.l'Sil.\ .Wrir'r/rlr/I'S !lI/O r.'s/i/o I't'!/I/Úr!II .'
.W J//I O.l /l t'II!i( OS.. 111/.1 11/(,.I!JlO .1'1'/11 mora], ( (}!Jl0 to rto» o., /Inú; i . t'it'
,1.I (.i
rssr srntintrnto fjl/{ ' ror/os nos tenros
1i//i!JIo.i II IIO.i , r/(/ 1I0.lStl ilJl/)()!I :Jlr-ir1 /Jrl l ll /II ~('I' 11( i!,/(/ J,'r l coisa :
f1n á stI d i ' IlJIlr l II jJO/('O.i(': / o j ÚII r/a / ' /{ iI . 'rlll /O fi"ift- 0 ///10
[unrion rtrin: /)t'I.tá/ll ji -;r'~/I , /l1I/11.iÍ//I{/ ( I/o di' r'/: orl lll ' nrtrrior. "
r/o /l l'!!,II /h o IIr nossas 1I(()r'.i . F I//110 o 'i''! ' /11-;'(// Isso
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hOllll'/II .1'15 j}{)r/r (oIJ/f//-lo mlll II!/la t/I).IC t'x/m rft hl/ásr', 11 mjill '()/.
fjl/{'I'/!/ Rnjill/ . 1'()r/('-S(,//~t'I' 111//11 rOflf'xiio Illlllldirt/ do l/olititÍlio
/Jolitirll. : l g I/{ 'J'I (/ lIr1o /poJsiL-'t/pOl'agom ,/Je!o 111 {'/I 0 .1 1/0 (kir/t'I//(', '
(' rIr' Ii/I(I//I' 11 illrlil'lÍ///o Otirlê1l/It/, tom/(///a rll' 'l'iol/llrirl OI.'!! ,IIII;
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~. {/drl ,
r!tSi(' \
sente-s» sempre 110 desejo -- e 11(1 jlOs1(/io _.- de j>(lItiâjJ(Jr
O / O,i criminosos. /':le éI'raticamcmrforçado a 'prlltiáptlr'.
criminoso, fjll t' fI/}() II/rl SOl r ccoi: ... rrpnra o ! V i (iJ (f) rio
iljJ ()II!(it!fI 11 0
1'('/ /111, t rm VO//fI o jJú/;/;(() Im/il armir fi ({I(,!l(l/O /JOI ' lI/li ;IIS/flll/t
••
;.: como uma (/;':Cllf/(f70. Tudo, em torno de nós, t: ciÍlIlp/ia: desse
('.1' / (/(/ 0 de coisas. Nos aeroportos, oshomens te reoisram, rc tocam,
c /1'1' ,1'1'/1 momento d(' g lti6fl , ('111 /I/Oitl fl{tlO, I/f/S Idas dL' /dl'i,.'islio,
() públiro J!n 'âsf~ 'ter e.\j h'l'ià láfIS', Os po breJ criminosos trrml- ••
If'/J!'f/Jrlf m n fisicamente/J(1/YI açõesterroristas. Pensando nisso 011
n.i o, f'Jf(/1 I1()J mergulhados JltJJfJ tensão . (iNando a viagem (/(01/-
11'((' sent urna hisrôria, de uma certafo rtna , hd 111I;'1 d{'(cp('/io. St.'
na»: send o 'CI timas : d rs SIl O os fi torrs fjllt'/(/~em o h'fI/ ro, rir's/fl zf'lII
() /I' flbfl/IJO
-t:o
pcio: outros.
contado Ih'S/rI cena de Roberto Zucco, tlqllc/tI fjUi'
fillt' t;
••
(I (i!,1I m.t coisa acontece, esM-Jepresente com fi fá mnra, nenhuma
1/1-:./iO jJII/{1 "rio se fl!)foxilflflr, todas as I(I ZiJ('.1 para pf,'/úripa l',
t'lI prefir o. I'~ a rrnn centro], fI mrl ;S oonita, li IIIftÍ.I' longa, n mnis
OIl ,Wt!fI, F/fi in //ll ol(i,'/ lot!fI (I Ilj i !i !íll 0';StlO tia IH'(f1 ronto 1011 ••
Trm-sr I!!l'.WlO n teutaçdo de se colornrcm pt'ligo, l i (limara estd IOdo , ,.
••
III
••
Fillftllllen/e, para cncerrur f stn ;Il/rodlt(/io
(f}!Il/Jlt'x a e tâo rica, fi uma dramaturgia onde o social eo indiv/rl"o
fi uma oãra /i/o SO!I/'{' fi IM 11'0 r sun «/ilizfI{tlo, soorc t/~' 1I do fl /l(' d I' /1 0(1(' mil /(/1' . (. .. ,1
NtI 1'f.'(lIit!m/t IIIr/O isso po(/trifl .1'(' resm»i 1 1/0 St'II /imul lo qttr a gm te ••
••
sr II /{ 'sdm ll numa fdflCf70 íOllfllllJf1r!fI c rlitl l/:i:Il, l'!uj/(('I1Iln trmn jJ(J,iS II; til' se srnrl» tliflll/(, flr 1111I gOl/fr/, ' auto r. II llll! tlt.'/{'UllillfUlo
I (II //{;/, 1/11111 reiacion amento conturoaao f dilacerante, em eSI)(J{O,f momento , a gel/ li' St' e!J('(JI//,.fI no cro ncnr: rom (/.1' mesmas /raçõcs:
(:i/(' I / O\' e /rdlfldos, em qt« é p OSJí v el a SI"PI't'Sfl pel'fllt7llt'llle de fi tldlllitll(/if) c f/ ('.I'/l/j}('jfl(rlO , S o/!/os S!I/ ! J/'t,t'l /(l id o.l' f}OI'tJI/(, S I/ fi
A'o///:r c rir quem foi gmllr/e amigo: Patrice ehtre/IU, N lI lIl rl 1.' fI -
uruist«, on rJII/II/lro til' 1987, a Didirr Jilfrmzl', SIII!-!,t' t i jJOglIlI-
.11/1/;' ; (. .. )
conhecendo
F (I ,I!,O I/l' f l(fI / lf l o !l nj;ll /o 6 m lll' I//(' .1'('/11
fj ll ( cu sei / ••
••
fjlli' til file /i '(,II(()I//I'O PI'f/J(/lI rl/l,'Ol/( rm ff111 's I/io , (ill O'jít'lil . 11(/1'-
ra : " /J'I /r i(1: (.'heú(//{ , 1/11(// é SI/li !'c/ll(do com f1l'l7ifll'rI-Jfm7t' r!i/rl1lr/o (IJ 'I.·'('Z('S r!t.ii.'ffJr!al' rsrc lIúl'/à io , OU/UIS 11/1 0 , /-;/11 ( ti /fi
Ko'ti»?". F a resposta {/t Chéreflll: " 'lia/o fico lI c/tiro tlt'srle o medir/a, esl tl ,'dfl((I O é IflIlIIJill/ 1111I(1 rr/l l {iío d" j idel ;r!ot!r. Mfls i
jJIÚIO/' io, l'~ lima r tfrl (rJo a IImf/ eSDi/llrtl. Ou fJnlt'S, fi 11111(/
I/ufdir/mle, a lil!ltlfOl{a de utiliz..//(ão d e umfJ língua - fi nossrl ,
!1I1111 fitldidm/e que 1ldo ri Ido'! til! fIJJeg ll l'(/ r. Uma fitldidtl dc
d%l'o;tl, di/lá!. FOI'r/llf 11(10 épnáso,'ic,.rego t' sfI,I,'erqllf St' es/ill!I(J.\' ••
••
ojÍfllld,i - - e (lO que Kol/i:'S Ihe/n.z dizer, do que (I peça rt!fl/a. Ou COII Ctliodo,l' tlt' qllt' I/II/tl tias pe((/J não é boa, m/o devemos "/OI/ ltÍ-
.i,j d , a I't.'/f l (áo 'l I/f! }·:o//es es/aóelece elt' fII e.illiO ('OfII o mlllldo, (.'01'1 /a , P O ilj/((', ,l'O/J/ ( / lI tiO, se lIIo"lfl l'!lm til/lo,. ( 'OIl / O Ilj> Olii l/({) lIi/o ri
/('i// f'(). , l/ t',i1ll0 qlle ell ntlo /t'lJha fi flU'SJlla V Ú{/ o 1ue d e ,I'O/; I'f t i Illl lh ll el..'i d l'll /i' j}()I' tic/ill i(tlo, is.iO é t tilltia 11/('1/0.1' fjl/fll/do se Il flla
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I l't,'i'ir/a (/t. t il 'mIJo fi impre,utlorlc fIlt'olimm/ardrs/f/ IdflCrlO. Sem til' Ao/rh·. l l l/ll fw/orexllfll/fIlIlCtl/f! r:Olllp / t'.\'() , FII /O!lh'': ( Olls(ifll -
t!ÚO;t!fI pO"fllt' há fOr/fi ' ' '!tI
IJtl!'!t' de JlltIY pli~(jmjJ(l(õ('S I/(/S fjil{//j· da disso ainda /l'lrtl!J{l/hfl!/r/o tIIllll /) (,(1I mil/o Na Solid:1O d(,s
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'OP!lJlU/ /1,1/10(/ "1.1' Oll/SJIII-, O!!)IJ.).J..I(/I~/: IJIIS J./(/O S ,r! 1)/lI o.ntot] /1111 ' IJ.J! IIÇj.l.J/)/II/ o!!.\'! [)(/ IJ[(/11.1.1.1" ,J.J.U l l c/ 0,1'.1'/ '0/11!.O/l 1/.1no lU 0/ .J.\' 0.11/1.1/
.I.)(/I),I·,lP 0LI)I),I'II.lj· I) 0lf/l'~l .. ·.1! " / 0 .'),.' !.J lU ' O,Jl/ Oc/ 1III1.1,}),I'/J/{ !iJ li,} 1J.1lJc/.I.J.1r7.l.JJ,} I) l}/ /I,l/IlIJ.J! /l 1I .J.I'-./IJ./iJI).WO .1 ,JF'.),}P ,m !J 1I1;I!1'JiF ' .I"! I)//(
,r?//o.y ,}! .II)/ F -jJ. lIJl l l.7l1 "P I)),}(j mi,!,\p.lc/ l' ·J(l 7. IJ.\:l.IO/ II I) 11111 O/l/O.J IIIJ/j!XJ opu J.I'/JII!J ,m !J . f.}~!P 0/11.1",1/11 1/!-.J.I'-.lJPOd ·.I:U O/ll I) ,I'(J) )/ (I( !
'Z:,H2.I)PW I) ' .r!I)/II O,J1!Oc//lII/.I!.I(/O.).I:'P.lP './IJ.IJc/SJJpO '.I.l·Z IJ./c/ 0.1/"0 O/!"/11 [(/,7/r!.\':./ '.7/ II I/ /.I 0 {/ III ! O/!III" jl l)jJ ,JI/!J.l0d '';P I/ jJ! f-/P ! / I) / ,I",lP
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••
Em 11111 pois do A/rico Ocidental, do Senegol à Nigéria,
canteiro de obras públicos de uma empresa estrangeira.
11m
••
PERSONAGENS
••
Horn, sessenta anos, chefe do canteiro de obras.
Alboury, um negro misteriosamente introduzido na
dade.
CI-
•e
Léone, uma mulher trazida por Horn.
Cal, na casa dos trinta, engenheiro. ••
LUGARES
••
A cidade, rodeada de cercas e torres de vigilância, onde
vivem os funcionários e onde é depositado o material:
- um jardim de buganvílias; uma caminhonete parada.
••
embaixo de uma árvore;
- uma varanda, mesa e espreguiçadeira, uísque; ••
- a porta entreaberta de um dos bangalôs.
O canteiro de obras: um rio o atravessa, uma ponte inaca-
bada; ao longe, um lago.
••
Os chamados da guarda: barulhos de língua, de garganta, ••
••
batida de ferro sobre ferro, de ferro na madeira, pequenos
gritos, soluços, cantos breves, assobios, que correm sobre o
arame farpado como uma risada ou uma mensagem em
código, barreira ao barulho da savana, em volta da cidade.
A ponte: dois blocos simétricos, brancos e gigantescos, de
cimento e de cabos, vindos de cada lado da areia vermelha e
••
que não se encontram, em um grande vazio de céu, acima de
um rio de lama. ••
•••
••
•
.•
•• "EIe havia chamado a criança que lhe havia nascido
no exílio Nouofia, o que significa concebido no deser-
•• to" .
A/bo/ll)': rei de Douiloff (Ouolof) no século XIX, que se
opõe à penetração branca.
••
rouba/;: denominação comum do branco em certas regiões
da Africa.
e
•e Traduções para a língua ouolof por Aliounc Badura Full.
••
•••
••
••
••
••
••
••
••
•• 107
•
--------------------------------------~r
••
••
••
-
•
••
••
••
"O c!Iocal lanço-se sobre uma carcaça mal lavada, arranca
prtcipi/adamen/ealgunspedaços, come depressa, incapturdoe!e ••
••
impmiltn/e assaltante, assassino de segunda-mão.
••
aldeia fala muito do senhor. Então eu disse: aqui está a
I IOl{N - Eu bem que tinha visto, de longe, alguém, atrás oportunidade de ver o branco de perto. Eu tenho ainda,
da árvore . senhor, muitas coisas pra aprender e cu disse a minha alma:
•
-
ALBO URY - Eu sou Alboury , senhor; cu vim buscar o corra até as minhas orelhas e escute, corra até os meus olhos
corpo; a mãe dele foi até o canteiro de obras colocar ramos e não perca nada do que você vai ver.
sobre o corpo, senhor, e nada, ela não encontrou nada; e a HORN - Em todo caso, você se exprime admiravelmente
•• poderá dormir por causa dos gritos.da velha; é por isso que
e u estou aqui.
IIORN - Foi a polícia , senhor, ou a aldeia que te mandou
Você é funcionário público? Você tem a classe de um fun-
cionário público. E também, você sabe mais coisas do que
você diz. E além do mais, tudo isso já é muito elogio.
•• aq ui?
ALBOURY - Eu sou Alboury, pra buscar o corpo do meu
ALBOURY - É uma coisa útil, no início.
IIORN -)~ estranho. Normalmente, a aldeia nos envia uma
•• irmão, se nh or.
IIOH N -- Um CílSO terrível, é mesmo: urna queda infeliz,
UIl1 caminhão infeliz que rodava à toda velocidade; o moto-
delegação e as coisas se resolvem rápido. Normalmente, as
coisas se passam mais pomposamente mas rapidamente:
oito ou dez pessoas, oito ou dez irmãos do morto; ClI lenho
••
corpo; devem tê-lo levado à enfermaria, arrumado-o um lima inde nização: nós a daremos, claro, a quem de direi to, se
pouco, para lima apresentação mais correta à família. Trans- eles não exagerarem. Mas você, no entanto, eu tenho certeza
mita os meus se ntime ntos à família. Eu te transmito os meus de que nunca te vi antes.
•• no canteiro de obras, nós mantemos excelentes relações Mas é um grande transtorno assim mesmo, senhor, se casar.
109
e
•
•
Eu não tenho mesmo o hábito dessas coisas; isso me dá gente não vai ficar atrás dessa árvore, na sombra. Venha, me
••
muita preocupação, e não vê-Ia sair do seu quarto me deixa
nervoso; ela está lá ela está lá, e ela arruma já faz horas.
acompanhe.
ALBOURY - Eu não posso, senhor. Meus olhos não supor- ••
Bebamos um uísque enquanto esperamos, eu vou apre-
sentá-Ia a você; nós faremos uma festinha e depois, você
pode ficar aqui. Mas venha então à mesa; já não tem quase
tam a luz muito forte; eles ficam piscando e queimando; eles
não têm o hábito dessas luzes fortes que vocês usam, à noite.
HORN - Venha, venha, você vai vê-Ia.
••
nenhuma luz aqui. Você sabe, eu tenho a vista um pouco
fraca. Venha então se mostrar.
ALBOURY - Eu a verei de longe.
HORN - Minha cabeça está estourando, senhor. O que é •e
••
ALBOURY - Impossível, senhor. Olhe os guardas, olhe pra que alguém pode ficar arrumando durante horas? Eu vou
eles, lá no alto. Eles vigiam tanto no campo como fora, eles perguntar a ela quais são suas impressões. Você sabe da
estão me olhando, senhor. Se eles me vêem sentar com o surpresa? Que preocupação! Eu solto um fogo de artifício,
senhor, eles vão desconfiar de mim; eles dizem que é preciso
desconfiar de uma cabra viva dentro da jaula do leão. Não
fique com raiva do que eles dizem. Ser um leão é com cer-
no fim da noite; fique; é uma loucura que me custou lima
fortuna. E além disso é preciso que nós falemos sobre essa
história . Sim, as relações sempre foram excelentes: as auto-
••
teza mais honrado do que ser uma cabra.
HORN - No entanto, eles te deixaram entrar. It necessá-
ridades, eu as tenho no meu bolso . Quando cu penso que ela
está atrás daquela porta, lá, e que eu ainda não sei as ••
rio ter uma permissão, geralmente, ou ser representante de
lima autoridade; eles sabem bem disso.
ALBOURY - Eles sabem que não se pode deixar a velha
impressões dela ... E se você é um funcion:írio da polícia, é
melhor ainda; eu ~()sto da mesma forma de l1egoci:tr com
eles. 1\ África deve causar uma impressão rude :t lima rnu-
••
gritar a noite inteira e amanhã ainda; que é preciso acalmá-
13; que não se pode deixar a aldeia acordada, de guarda, e
Iherque nunca saiu de Paris. Quanto ao meu fogo de artifício,
ele vai te tirar o ar. E cu vou ver o que fizeram com es se •••
••
que é preciso satisfazer a mãe devolvendo-lhe o corpo. Eles bendito cadáver. (['-'te sai.)
sabem muito bem, eles, por que eu vim aqui.
f-IORN - Amanhã, nós mandaremos trazer o corpo para
você. Enquanto isso, eu estou com a cabeça pronta pra
estourar, eu preciso de um uísque. É urna coisa insana
para um velho como eu ter trazido uma mulher, não é,
11
••
um uísque .
/J :.ONI': - Um uísque? ah não, proibido. Só faltaria isso, LI~ONE -- Não não me espere, não não me espere. (Os
vo c ê me ve ria então. Isso me é rorulmcnrc proibido. chamados da guarda; Léonc aparece pd(/ memdc.) E () que é
••
dentro do metrô, na rua, com todas essas pessoas em quem [JOHN -- Você est á nervosa e é bem normal.
é preciso roçar, eu sentia o cheiro vagar c apodrecer pelos J .JJlONE -- Você me conhece tão pouco!
cantos. Bom, eu ainda estou sentindo esse cheiro, aqui, na IIORN -- Venha, anda, vem.
•• 111
•
••
III
-
e diz.: cu vou ao aeroporto; você volta, você me diz: minha CAI, ·- Por que logo assim , 110m? por que SCll1 explicação?
mulher está aqui! Que susto. Eu nem sab ia que você tinha Eu ainda quero trabalhar, Bom. E o trabalho que nós
achado lima pra você, afinal. O que é que te deu ele repente, fizemos? Uma metade ele floresta derrubada , vin te c cinco
e I1\ClI velho ? (Eles aposram.} quilômetros de estrada? lima ponte em con stru ção? c a
e HORN - Um homem n50 deve acabar sua vida desonrai- cidade, os poços a escavar? todo esse tempo pra nada ? Por
e zado,
CAL .- Sim. meu velho, claro . (Ele recolhe.) O que conta, é
que a gente não sabe ele nada, Horn, nad a do que se decide?
e por que você mesmo não sabe?
e que você tenha feito urna boa escolha. HORN - (Olhando os dndos.) Sou eu que pego. (Siléncio;
e I IORN -- Então na última vez que cu fui a Pari s, eu dis se: os dza!ll''lrlos riagllarda.)
-
e se você não encontrar agora, você não vai cn contni-la nunca . CAL -- (Baixo .) Ele e stá rangendo os dente s.
CAL - E você encontrou! Que sedutor, meu velho! (1':11'.1' 110RN - O qu ê?
aposram.) Desconfie assim mesmo do clima. Faz as mulheres CAL - Ali, atr ás da árvore, o negro, diz pra ele ir embora,
e ficarem loucas. f~ científico, isso. I·Iorn. (Silél/âo. Latidos ao longe,' Cal tem 11/11 sobressalto.)
e HORN - Não esta. (Cal recolhe.) Toubab! Eu o estou ouvindo. Ele está zanzando perto do
e meu velho. deve ter sentido o cheiro de um bicho desconhecido; q L/C ele
-
IIORN - Esta não é uma mulher comum, não. se vire; ele não deve cair; c se ele cair, eu não me mexo. (Eles
e CAL - (Com uma piscada de olho.) Então, eu darei a ela uma olham os dados. Cal recolhe; baixo.') O cara, Bom, eu posso te
boa impressão. Eu encontrarei a oportunidade de lhe beijar dizer, não era nem mesmo um operário; um simples diarista;
-•
eu te falei, eu digo então: não. Aí ele me cospe nos pés e vai
embora. Ele me cuspiu no~ pés, e por dois centímetros teria eu disse pra mim enquanto olhava pra ele. Então eu o pus no e
acertado o sapato. (Eles apostam.) Então eu chamo os outros caminhão, eu fui até o depósito de lixo e joguei ele lá em
caras, e digo pra eles: vocês estão vendo, esse cara? (Imitando cima: é tudo ~ que você merece e pronto; e depois eu voltei
osotaque ntgrO:) Sim chefe nós est~mos vendo - ele atraves- pra casa. Mas cu voltei lá, Hom; eu não agüentava ficar
sa o canteiro de obras sem esperar o fim do expediente? - parado, os nervos estavam acabando comigo. Eu o peguei de e
sim chefe sim chefe sem esperar o fim doexpedicntc-sem volta do depósito de lixo, hl do alto, c o pus de volta no e
capacete, pessoal, por acaso ele está com o capacete? - não
chefe a gente está vendo bem ele não está usando capacete.
cam inhão; cu o Icvo até o lago c o jogo dentro d';lgu<l. Mas
isso estava me deixando perturbado, 110m, de ixá-lo em paz
e
Eu digo: lembrem-se disso: ele saiu sem que eu o autorizasse na água do lago. Então cu voltei lá, eu entrei na água até o e
- sim chefe oh sim chefe sem que você o autorizasse. Aí ele pescoço e o peguei de novo. Ele estava dentro do caminhão e
caiu; o caminhão estava chegando e eu pergunto ainda: mas c eu não sabia mais o que fazer, Bom: você, eu não vou poder e
quem está dirigindo o caminhão? mas a que velocidade ele te deixar em paz, nunca, é bem mais forte do que eu. Eu olho
e
••
vai? ele não viu o negro? E aí, hop! (Cal recolhe.} pra ele, eu digo pra mim mesmo: ele vai acabar com os
HüRN - Todo mundo te viu atirar. Imbecil, você não nervos, esse bubu. É aí que eu encontro. Eu disse pra mim:
suporta nem mesmo essa sua raiva fodida. os esgotos, está aí a solução; nunca você vai mergulhar lá
CAL - É como eu te digo: não sou eu; é uma avalanche.
HüRN - Um tiro. E todo mundo te viu subir no caminhão.
dentro para pegá-lo de novo. E é assim, 110m: par a deixá-lo
ern paz, apesar de não querer, de uma vez por todas, 110m; ••
•
CAL - O tiro é a tempestade; e o caminhão, é a chuva que enfim, eu vou poder me acalmar. (Eles olhamos dados.) Se cu
cegava tudo.
HORN - Eu talvez não tenha ido à escola, mas todas as
besteiras que você vai dizer, eu já conheço de antemão. Você
vai ver o que elas valem; pra mim, tchau, você é um imbecil
e isso não é negócio meu. Eu ponho cem francos.
CAL - Eu vou.
o tivesse enterrado, I-10m, aí, eu teria de desenterr á-lo, eu me
conheço bem; e se eles o tivessem levado para a aldeia, eu
teria ido buscá-lo. O esgoto, era o mais simples, IIorn, era o
melhor; aliás isso me acalmou, um pouco. (Horn se Ieoanta;
Cal recoihe.) E sobre os negros, meu velho, os micróbios dos
negros são os piores de rodos; diga isso pra ela também. As
-
e
e
e
HORN - (Batendo no mesa.) Por que você tocou nele, meu mulheres nunca estão prevenidas o suficiente contra o pe- .
e
•
Deus? Aquele que toca em um cadáver caído na terra é res- rigo. (Hof7J sai.)
ponsável pelo crime, é assim nessa merda de país. Se nin-
guém tivesse tocado nele, não haveria responsável, seria um e
crime sem responsável, um crime fêrneo, um acidente. O IV
e
negócio era simples. Mas as mulheres vieram buscar o corpo
e elas não encontraram nada, nada. Imbecil. Elas não encon-
traram nada. (Ele botena mesa.) Se vira. (Ele balançoosdados.)
HORN - (Encontrando-se com AlbotllY debaixo da droore.)
Elé estava sem o capacete, é o que eu acabo de saber. Eu te
•
e
CAL - Quando eu o vi, eu disse pra mim mesmo: esse aí, eu
não vou poder deixá-lo em paz. O instinto, l-10m, os nervos.
falava da imprudência dos operários; eu tinha pensado certo.
Sem capacete: isso nos tira toda a responsabilidade. •
e
••
Eu não o conhecia; ele tinha apenas cuspido a dois centíme- ALBOURY - Que me entreguem o corpo sem o capacete,
tros dos meus sapatos; mas o instinto, é assim que funciona: senhor, que me entreguem como ele está.
114
e
e
e
e I IOl{N _.- Mas é o que eu vinha te dizer: eu te peço para Cento e cinqüenta dólares vão fechar o bico deles. Quanto ao
e cxcnlhcr. Fique aqui 011 não fique aqui, mas n30 fique na resto, acredite em mim, isso não lhes interessa nem um
e scnuhr«, utr.is da árvore. ,;: irritante sentir a presença de pouco. O corpo. () corpo, uh!
-•
e\ r '
m.inhã? I.. aí? escolha, meu senhor. ;\LBOURY -- A sua mulher não vai ter medo de mim.
,\1,BOURY '-- Eu espero aqui p~1fa pegar o corpo, é tudo o I IORN --- Vai sim; uma sombra, alguém! E então finalmen-
que cu quero; e cu digo: quando cu tiver o corpo do meu te, eu vou fazer os guardas atirarem em você. é isso ()que cu
ta irm.io. cu vou embora. vou fazer.
I IORN - () corpo, o corpo! Ele não estava com o capacete, ALBOURY - O escorpião que a gente mata sempre volta.
e o SCII corpo; tem testemunhas; ele atravessou o canteiro de
obr.rs sem capacete. Eles' não terão nem um centavo, diga
(IORN - Senhor, meu senhor. você está ficando irrir.u!o: o
que você csr.i dizendo? Até o momento, cu sempre me fi/.
•--
duzentos. pra você; cu vou te dur amanhã. I:: muito. Mus é fazer, cu, hein? () dinheiro, o dinheiro, pra onde ele vai en-
provavelmente o último morto que nós teremos neste can- tão? O país é rico. por que as caixas do Estado estão vazias?
rc iro de obras; e então o quê! Pronto. Dê o fora. Eu não digo isso para te ofender, mas me explique isso,
-
e
e
e
I IORN - Diz pra eles. é. diz pra eles; é o que lhes interessa. transformou num lugar de sacanagem. lá; que fazem vir
115
•e
champanha da França e mulheres muito caras; que ficam
bebendo e trepando, o dia inteiro e a noite inteira, nos es-
critórios dos ministérios, e aí estã o caixa vazio, é o que me,
de europeu, o amor?
AL80URY - Não, não é amor.
HORN - Eu sabia, eu sabia. Eu muitas vezes percebi essa
-•
e
disseram, senhor.
HORN - Que ficam trepando, veja só você! (Ele ri.) Ele
goza os ministros do seu próprio país, veja você. Taí, eu acho
insensibilidade. Note que ela choca muitos europeus, aliás;
eu, eu não condeno; note também que os asiáticos são piores
ainda. Mas, bom, por que então você é tão obstinado por uma
••
você simpático. Eu não gosto dos funcionários públicos e
você no final das contas não tem cara de funcionário público.
coisa tão pequena, hein? Eu disse pra você que eu indeni-
zaria.
e
e
••
(Baixos} Então, se é assim, como você mesmo está dizendo, ALBOURY - Muitas vezes, as pessoas pequenas querem
quando é que a juventude vai começar a se movimentar? uma coisa pequena, muito simples; mas essa coisa pequena,
quando então eles vão se decidir, com as idéias progressistas elas a querem; nada vai desviá-las dessa idéia; e elas se
que eles trazem da Europa, a substituir essa podridão, a
tomar tudo isso nas mãos, a pôr ordem nisso? Será que um dia
deixariam matar por ela; e mesmo quando as tivessem
matado, mesmo mortas, elas a quereriam ainda.
e
e
•••
a gente vai ver essas pontes e estradas ficarem prontas? Me HORN - Quem era ele, Alboury, e você, quem é você?
conte tudo; me dê umas ilusões. ALBOURY - Há muito tempo, eu disse pro meu irmão: eu
ALBOURY - Mas dizem também que da Europa, o que se sinto que estou com frio; ele me diz: é que tem uma pequena
traz, é uma paixão mortal, o carro, senhor; que só se pensa nuvem entre o sol e você; eu digo a ele: é possível que essa
e
••
nisso; que se brinca com isso noites e dias; que se espera pequena nuvem me faça congelar enquanto tudo em volta
morrer com isso; que tudo foi esquecido; é o retorno da de mim, as pessoas transpirem e o sol as queime? Meu irmão
E uropa; é o que me disseram. me diz: eu também, eu congelo; nós então nos aquecemos
H O RN - Os carros, sei; Mercedes, ainda; eu vejo bem eles,
todos os dias, dirigindo como loucos; isso me deixa triste. (Ele
ri.) Mesmo em relação à juventude, você não tem nenhuma
juntos. Eu digo em seguida ao meu irmão: quando então vai
desaparecer essa nuvem, que o sol possa nos aquecer, nós
também? Ele me disse: ela não vai desaparecer, é uma
••
ilusão, você me agrada de verdade. Eu tenho certeza de que nuvenzinha que vai nos seguir em todos os lugares, sempre e
a gente vai se entender. . entre o sol e nós. E eu sentia que ela nos seguia em todos os
e
ALBOURY - Eu, eu estou esperando que me entreguem
o meu irmão; é por isso que eu estou aqui.
HORN - Enfim, explique pra mim. Por que você insiste
lugares, e que no meio das pessoas rindo nuas no calor, meu
irmão e eu nós congelávamos e nos aquecíamos juntos.
Então meu irmão e eu, debaixo dessa nuvenzinha que nos
•e
em recuperá-lo? Me lembre o nome desse homem? privava do calor, nós nos habituamos um ao outro, para nos
e
ALBOURY - Nouofia, era o seu nome conhecido; e ele
tinha um nome secreto.
HORN - Enfim, o corpo dele, que importância tem pra
aquecermos. Se as minhas costas coçavam, eu tinha o meu
irmão para coçá-las pra mim; e eu coçava as costas dele
quando ele precisava; a preocupação me fazia roer as unhas
•e
você o corpo dele? É a primeira vez que eu vejo isso; no das mãos dele e, no sono, ele chupava o dedo da minha mão.
•e
-
entanto, eu acreditava que conhecia bem os africanos, essa As mulheres que nós tivemos se agarraram a nós e come-
ausência de valor que eles dão à vida e à morte. Eu aceito çaram a congelar também; mas a gente se aquecia tanto se
acreditar que você seja particularmente sensível; mas enfim, abraçando debaixo da pequena nuvem, a gente se habituava
não é amor, hein, que te faz ficar tão obstinado? é uma coisa uns aos outros e o arrepio que tomava conta de um homem e
116
e
e
•e
•e repercutia de um lado ao outro do grupo. As mães vinham
ficar conosco, e as mães das mães c os filhos delas e os nossos
mentos de área média, meus cálculos são razoáveis; que estes
prédios constituam uma cidade, eu digo bem: uma só, cujas
e filhos, umafamília enorme da qual mesmo os mortos nunca " ruas ;te riam dez metros de largura, o '(lh e e óornplerarnenre
•• se desgrudavarn, e eram mantidos apertados no meio de nós,
por causa do frio debaixo da nuvem. A nuvenzinha tinha
correto. Bom, essa cidade, senhor, cobriria a metade da
França; nem um quilômetro quadrado a mais. Todo o resto
••
subido, subido em direção ao sol, privando do calor uma seria livre, completamente livre. Você pode verificar os
fam ília cada vez maior, cada vez mais habituada cada um a cálculos, eu os fiz e refiz, eles estão absolutamente exatos.
cada um , uma família impressionantemente numerosa feita Você acha o meu projeto estúpido? Só vai ficar faltando
••
proporção no clima, na flora, nos animais, nos riscos de
do nosso pura manter o seu. doença; ideal, a França. Poderia-se claro construí-Ia na parte
I JORN ---- Il d ifícil de se compreender, senhor. (Eles se sul, a mais ensolarada. No entanto, eu, eu gosto dos invernos,
•• ALBOURY- Penso. O último conflito desta humanidade aqui seria Ulll debate
IIORN--.. Nâo, é lima idéia muito ruim. It preciso ser teórico entre os charmes do inverno ulsuciuno e oS d;t prima-
•• l'()()pcr~ltivo, ao contrário, senhor Alboury, é preciso forçar as . vera da Côtc d'Azur. Quanto ao resto do mundo, senhor.
peSSO:1S a serem cooperativas. Aqui está a minha idéia. (Um
Aqui, meu bom senhor Alboury, eu vou te deixar sem
1t'1JI1)O.)
seria o estoque. Livre a África, senhor; cxplorarlamos suas
riquezas, seu subsolo, a terra, a energia solar, sem incomodar
-.-
dizer o que você pensa dele . A propósito desses famosos três dos a meter o nariz na Ásia c na América. Aproveitaríamos ao
e bilhões de seres humanos, com os quais se faz uma monta- máximo a técnica, leva-se um mínimo estrito de operários,
nha : eu calculei, que alojando-os todos em prédios de qua- por turnos, bem organizado, alguma coisa como um serviço
e 117
•
aqui! Sim, a França seria bela, aberta aos povos do mundo, CAL - Se é a transpiração que te dá medo, bom , é idiota;
••
todos os povos misturados perambulando por suas ruas; e a uma camada de transpiração, isso seca, e depois então lima e
África seria bela, vazia, generosa, sem sofrimenro, teta do outra, uma outra, isso faz uma carapaça, protege.. E então, se
e
mundo! (Um tempo.) Meu projeto te faz rir? No entanto aqui
está uma idéia, senhor, mais fraternal que a sua. É assim
que eu, senhor, eu quero e persisto em pensar.
é ocheiro q~e te dá medo, o cheiro, ele desenvolve o instinto.
Aliás, quando se conhece o cheiro, se conhece as pessoas; e
também, é bem prático, a gente reconhece as coisas de cada
••
Elesse olham; o oenta sopra.
um, [lido fica mais simples, é o instinto e pronto.
LÉONE - Ah é. (Silêncio.) ••
v
CAL - Beba um trago, por que você não bebe?
LÉONE - Uísque? Oh não, eu não posso. Meus remédios.
E também, eu não estou com tanta sede.
••
Na oaranda.
CAL - Aqui, é preciso beber, com sede ou sem sede; se-
não, a gente seca. (Ele bebe; silêncio.)
e
e
••
LÉONE - Eu vou precisar costurar um botão. Isso, deixa
CAL - (Percebendo Léon«, elegrita.) Horn! (Ele bebe.) comigo; as casas não, é difícil demais pra mim. Nenhuma
LÉONE - (Com a flor !Ia mão.) Como se chamam essas paciência, nenhuma. Eu as deixo sempre pro fim e finalmen-
flores?
CAL-Horn!
LÉONE - Você sabe onde eu poderia encontrar de beber?
te, bom, pronto: um alfinete de mola. Os vestidos mais
chiques que eu fiz pra mim, eu te juro, é ainda e sempre um
alfinete de mola que irá fechá-los. Sua megera, um dia , você
••
CAL - Horn! (Ele bebe.) Onde ele se meteu?
LÉONE - Não o chame, não se incomode; eu encontrarei
vai levar uma alfinetada.
CAL - Eu também antes, o uísque, eu cuspia em cima; e eu ••
sozinha. (Ela se distancia]
CAL - (Fazendo-a parar.) É com esses sapatos que você
conta para andar aqui?
bebia leite, cu, nada além de leite, eu posso te dizer; litros,
barricas; antes de viajar. Mas, desde que cu viajo, olha só;
essa sujeira de leite em pó deles, esse leite americano, leite
•e
LÉONE - Meus sapatos? ; de soja, não tem um pêlo de vaca que entra nesse leite aí.
••
-
CAL - Sente-se. E então, cu te meto medo? Então, se é obrigado a se meter nessa sujeira. (Ele bebe.)
LÉONE - Não. (Silêncio; la/idos do cachorro, ao longe.) LÉONE-É.
CAL - Em Paris, não sabem o que é, um sapato; em Paris, CAL - Felizmente que essa sujeira aqui a gente encontra
não sabem nada e fazem as modas de qualquer jeito. em todo lugar; isso, eu nuneafiquei sem, em nenhum lugar e
LÉONE - É a única coisa que eu comprei pra mim, e aqui
está você me dizendo isso. Os bandidos, o preço que eles te
fazem pagar por esse pedaço de couro! Saint-Laurent, buti-
do mundo. E no entanto eu viajei; e você pode acreditar em
mim. Você viajou?
LÉONE - Ah não, é a primeira vez.
•e
que África, no entanto. Caro, isso! Ouh. Uma loucura. CAL - Eu, jovem como você está me vendo, eu viajei, e
-••
e
CAL - É preciso que eles subam, que eles segurem o acredite em mim, acredite em mim. Bangcoc eu fiz; eu fiz
tornozelo. Com bons sapatos, a gente agüenta o rojão, é o lspahan, () mar Negro; Marrakcsh, cu fiz, Tângcr, a Reunião,
mais importante, os sapatos. (Ele 1Jt1Jt.) o Caribe, I-Ionolulu, Vancouver, eu; Chicoutimi; o Brasil, a
LÉONE-É. Colômbia, a Patagônia, as ilhas Espanholas, a Guatemala,
118
•
•
•
: cu : c finalmente essa sujeira de Africa aqui. olha, Dakar,
Abidj ã, LOl11é, Léopoldvillc, [ohunncsburgo, Lagos; pior
LI~ONE -
CAL -
Sim , sim, ele me falou dis so,
Ele te falou disso, então ?
LltONE - Sim, sim, sim .
••
ci o qu e tudo, a África, eu posso te dizer. Bom, em todo lugar
() uísqu e ou () leite de soja; e nada de surpresa, não. Eu sou CAL .- I:: 11m corajoso, I·lorn. (Ele ococ.) Ficar um mês
jO\T11\, no entanto; c bom, cu posso te dizer que um uísque sozinho com alguns bubus, sozinho aqui; para vigiar o mate-
•• 1';1(':; \11) dizer o que eu não digo, não. Ao conrr.irio, talvez seja
.ué ;1 melh or. Eb sabe tomar co nru de você. ela te trata como
se eleve, a genre é bem ulimcnrado, bem alojado, ela é
CAI ~ - N ão. De quê isso adianta pru ele, :\go ra? () que ele
tem de mais, ser á que você sabe. você?
Ll:~ONE - - Não, eu não se i.
••
c mpr c s.is it.ilinnas, holande sas. alemãs. suíça s e não sei quê história. (Fie olh(/ pm dfl.) O que interessa a ele, em você?
. ••
'
m.us, que enchem a África agora, que são lima verdade ira
zuna. N ~ () . não a nossa; não. ela é como se deve se r. ( '~ /e bell('.)
I':u n ;l o 1!.osr:tri:1de ser italiano ou s uí ço . \ 'OCe; pode acreditar.
I .I:: ON E - Oh sim oh não.
CAL -- Beba isso. (Ele lhe t'J /{'JI{ /t 11/11 copo de utsqtte.}
J ,1::ONE - Mas onde ele cst.i CJH ~o? (Silfl/do.)
(CIIIIJIlf lr/OS dos gnardas: siléncio.)
L I::Oi\! E - Eu estou com se de demais.
•• CAL - Não.
LÉON E - Mas por que você diz sempre... Onde está o
cabritinho ?
do água. Wasser, bit/e. (Ela ri.) Você compreende o alemão?
l~ a única língua estrangeira que eu conheço um pouco, Você
sabe, minha mãe era alemã, verdadeiramente alemã , de
e CAL - Cabritinho? (Ele bebe.) I-10m não pode se casar, você origem pura ; e meu pai alsaciano; então cu, com tudo isso...
•• sabe, não? (Silênao.) Ele j.í te falou do ... rEla se aproxima tia droore.) Eles devem estar me procuran-
119
••
--------------------~----~r
,
do. (Elo olho AllJollry.) Ele tinha me dito no entanto que... tão grave; eu gosto bastante da gravidade. (Ela ri.) Eu sou ••
(Docemente) DicIJ erkenneich, sicher. (Elo olho00 rtdordela.) Foi uma horrorosa, desculpe. (Ela pdra de mexer.) Eu preferiria
quando eu vi as flores que eu reconheci tudo; eu reconheci ficar aqui; o tempo está tão bom. (Ela toca nele sem olhar.)
essas flores cujo nome eu não sei; mas elas estavam pendu- Kommmit mir, Wasserholen. Que idiota. Eu tenho certeza de
••
radas assim aos ramos na minha cabeça, e todas as cores, eu que eles estão me procurando; eu não tenho nada a fazer
as tinha já na minha cabeça. Você acredita nas vidas ante- aqui, é claro. (Ela o solta.) Tem alguém aqui. Eu ouvi ...
riores, você? (Ela olhapro ele.) Por que ele me disse que não (Baixo.) Tet~fel! J!erschwinde, pschttt!(Na oretha rlele:) E li vo I ta-
••
e
••
havia ninguém além deles? (Agitado.) Eu acredito, eu acre- rei. Espere por mim. (Albotlry desaparece sobas droores.) Oder
dito nelas. Momentos tão felizes, muito felizes, que me vêm Sie, Fommen Sie zuriicÁ.'!
de tão longe; muito doce. Tudo isso deve ser muito velho.
Eu acredito nisso. Eu conheço um lago à beira do qual eu Entra Cal.
passei uma vida, já, e isso me volta constantemente, na ca-
beça. (Mos/rando-IIle uma //01' de buganví/ia.) Isso, a gente
••
não encontra em outros lugares fora os países quentes, não VII
é? Acontece que eu as reconheci, vindo de muito longe, e eu ••
estou procurando o resto, a água morna do lago, os momentos CAL - (Um dedo sobre a boca.) Não fale tão alto, bebê; ele
felizes. (Muito agi18da.) Eu já fui enterrada debaixo de uma não vai gostar.
pequena pedra amarela, em algum lugar, debaixo de flores LÉONE - Quem? Só tem nós dois, aqui.
••
parecidas. (Ela se inclino na direção dele.) Ele havia me dito CAL - justamente, bebê, justamente, só tem nós dois. (Ele
que não tinha ninguém (Ela ri.) e tem você! (Ela sedistancia.) ri.) É um ciumento, Horn. (Latidos prâximos.) Toubab? O ••
••
Vai chover, não? então, explique pra mim como farão os que ele está fazendo aqui, tão perto? (Pegando Léone pelo
insetos quando chover? Uma gota d'água sobre a asa deles e ôraço.l Havia alguém, ali?
eles estão fodidos. Então, o que eles vão virar, debaixo da LÉONE - Quem é Toubab?
chuva? (Ela ri.) Eu estou tão contente que você não seja CAL - Meu cachorro. Ele late quando vê um bubu. Você
e
francês nem nada assim; isso evitará qu~ você me tome por viu alguém?
uma idiota. Aliás, eu também não SOú verdadeiramente LÉONE - Então você o adestrou?
francesa . Metade alemã, metade alsaciana. Já sei, a gente CAL - Adestrou? Eu nunca adestrei o meu cachorro. (.: o
••
foi feito para... Eu vou aprender ri SlIrI língua africana, é, e instinto e não precisa mais nada. Mas você, desconfie se você
quando eu estiver falando bem, pensando bem para cada vir alguma coisa; deixe os bichos ajustarem suas contas entre •e
•e
palavra que eu vou dizer, eu te direi ... as coisas ... Importan- eles; corra e venha se refugiar.
tes ... que... eu não sei. Eu não ouso mais olhar pra você; você . LÉONE - O quê? Se eu vir o quê?
é tão grave, e eu, a gravidade! (Elo seagita.) Você está sen- CAL - Um bom golpe no ventre Oll uma faca nas costas e
tindo o vento? Quando o vento revira desse jeito é o diabo aí está o que te espera se você se mete a se perguntar coisas
que revira. VerscAuinde, Teu/el; pschllt, vai. Então, a gente em vez de correr. Eu te digo: você vê qualquer coisa, alguma
••
fazia soar os sinos da catedral, para que o diabo fosse embora, coisa que você ainda não viu ou que eu não te mostrei , você
quando eu era pequena. Não tem catedral, aqui? É engraça- dá o fora rápido e vem se refugiar. (Pegando Léone110S oraços.)
do, um país sem catedral; eu gosto das catedrais. Tem você, Pobre bebezinho! Eu também, um dia, eu desembarquei
120
- ••
••
· 1
:1 aqui, cheio de idéias sobre a África; o que a gente vem ver, nomes de cachorro. Não é o dinheiro que me fez vir atrás do
-[ () que ~I gente vem ouvir! Na minha cabeça eu :.1 amava, a cabritinho, não.
•e
solta-n, ap roxim a-se do mmil/hiio.)
(: i\L - Essa mulher é malicio sa, perigosa. (Et« ri.) Qual verdade, eu não sonho com mentiras. (E/I! olhn jJ(/m cla.) ESS:1
t r.rbalho você fazia, em Paris? mul hc r é 11111 a ludru. (Lconeteoa u.» susto; (.'tI/ P".W-I/ I/ O';"'(JIII{'l/-
•• I ')::ONE -- Não, eu sei que você ganha muito. CAI, - No entanto, claro que nos transformar íamos em
(: ;\L - - E de onde você tirou isso, sua empregadinha ? Por se lvage ns, se a ge nte se deixasse le var. Ma s não é porque a
;lUSOeu tenho o ar de ganhar muito? (Ele mostra as uiãos.) gente est á no fundo des se bura co que é preciso se deixar
e bebê ?
LI~O NE -- Não me chame de bebê. Você usa umas palavras:
e as patas pra cima. No entanto, o que conta, é poder trocar
••
com alguém. Eu sempre fui curioso; por música, por filosofia;
bubu, bebê, e o nome do seu cachorro. Não dê a todo mundo Troyar, Zola, principalmente Millcr, Hcnry. Você poderá
••- 121
__--------------------r•
vir no meu quarto e se servir dos meus livros, eu tenho LÉONE - Me solta. ••
••
todo o Miller, meus livros são seus. Seu nome? CAL - Vamos, bebê; era só pra ver a sua cara. Eu, na
LÉONE - Léone. verdade, essa história, não é a minha. Você está chorando ou
CAL - Eu estava realmente arrebatado pela fi losofia, q lia n- o quê? Nã() precisa levar assim. Eu compreendo que você
do eu era estudante. Sobretudo por Miller, I Ienry; lê-lo me
desbloqueou completamente. Eu estava arrebatado, em Pa-
ris, eu. Paris, o maior cruzamento de idéias do mundo! Mil-
está triste, bebê. Mas por aC<lSO cu estou triste, eu? No
entanto, você pode acreditar, eu, eu teria todas as razões do
mundo pra estar triste, c razões de verdade. (Docemente.} Eu
••
ler, sim. Quando ele sonha que mata Sheldon com um tiro de
pistola dizendo: "Eu não sou um Polak!" Você conhece?
vou te emprestar os meus sapatos; só faltava você pegar uma
doença suja. Aqui, a gente se transforma quase em selvagens; ••
LÉONE - Eu não sei... Não.
CAL - Então, quando a gente vem aqui, não é questão de
se deixar levar, não, bebê. .
eu sei; é que é o avesso do mundo, aqui. Não é uma razão para
chorar. Olha pra mim : eu tenho mais diplomas, mais qualifi-
cações, mais estudos do que I-10m, e no entanto, eu estou
••
LÉONE - Léone.
CAL - Essa mulher está com reservas comigo. (Ele ri.) Não
abaixo. Você acha isso normal? Tudo é invertido, aq u i. No
entanto, bebê, eu, por acaso cu faço disso uma doença? por ••
••
é preciso, é preciso ser absolutamente direto. Nada nos acaso cu choro?
separa, a gente é da mesma idade, a gente se parece; eu, em LÍ~ONE - Aqui está o cabritinho. (1,:;(/ se leva"/,,.)
todo caso, eu sou absolutamente direto. Não tem razão pra CAL - Não se mexa. Um ladrão entrou na cidade. É
ficar bloqueado.
LÉONE - Não, não tem razão.
CAL - E também a gente não tem escolha: a gente está
perigoso.
LÉONE - Você vê ladrões em tudo quanto é lugar.
CAL- Um bubu . Os guardas o deixaram passar por engano.
••
sozinho; aqui, você não vai encontrar ninguém com quem
falar, ninguém; aqui, aqui é um lugar perdido. Principalmen-
Você só tem o tempo de vê-lo um segundo e está pronta para:
hop na barriga ou nas costas, hop! Entre na caminhonete.
LÉONE - Não. (Ela o empurra.)
••
te agora, que é o fim: só sobrou eu e ele. E quanto a ele, a sua
CAL - Era para te proteger. (Depois de 11111 tempo.) Você está e
••
cultura... E também ele é um velhote, Horn ...
LÉONE - Um velhote! Você tem umas palavras! Eu gosto me julgando mal, bebê, cu sei. Mas a gente não vê mulher
de conversar com ele. aqui, desde o início da construção; então ver uma, ver você,
CAL - Sim, talvez, não; mas" gente tem necessidade de
admirar, com o passar do tempo. É muito importante, a
admiração. A mulher admira a cultura do homem. Seu nome?
isso me perturba, é isso. I~ difícil pra você entender; você
vem de Paris. No entanto, isso me perturbou, te ver; cu
adoraria ser diferente, eu, elt senti que a gente podia se dar
••
LÉONE - Léone, Léone.
CAL- Então?
bem logo de cara. Mas como eu sou não é como eu gosjaria
de ser. No entanto, eu tenho certeza de que a gente deve se ••
LÉONE - Então o quê?
CAL - Por que Horn?
LÉONE - Por que o quê?
dar bem . Eu tenho o instinto, para as mulheres. (Ele pega fi
mão deia.)
LÉONE - Eu me sinto toda vermelha, oh!
••
CAL - Você poderia se casar com um homem a quem fal- CAL - Você, você tem temperamento, isso se vê logo de
e
••
ta ... O principal? você poderia, por dinheiro? Essa mulher é cara. Isso me agrada, o te mperamento. A gente se parece,
nojenta! bebê. (Ele ri.) Essa mulher é muito atraente.
122
••
•• ,(:O N I·: ~ As mulheres daqui devem ser tão bonitas. Oh, IIOI{N - Meu Deus, eu não vejo o que você est áachando
••
J
C(llllll C II ll\(..~ sinto feia! (/·Jfl.W· /t't 'fl1llfl.) Cabritinho chegou . nele .
( :,\1 , - (.'i/JI'VXil1lfl1lr/O -JC de/ti.) Não seja t ão pudica, minha ( :i\L -- [ust.unc nrc, nüo h.i nuda a achar nele, JLH!:1.
•.- ( ::\1, -- Sacll1~\~cnl. (f)fjJois dl' 11111 IOlljJO ,) (ju :Illt!n n~lo se vô
I I llJlI1CITs duran te tanto (e 11 'I)/), depois , :1 gellte espera ...
•• c q uilibrio: or~aniza\':io das cores, senso de harmonia, justa CAI, - - Nào, !1:1o, não; pôquer, não!
medida na sucess ão das explosões, justa medida nas alturas I IOI{N - Porque as curta s. também ...
de lançar . Construir o equilíbrio do conjunto e () equil íbrio CAL -- I:: ainda mai s idiota, não .
••
negros" c a "casa" do joglJ: no scutido figurado, pod e de signar ainda
(: ;,\L - Eu acho ele idiota . u m "compartimento do c érebro" . (NT.)
• 123
----------------------~r
••
••
CAL - Não não não, eu não quero mais jogar nada. ~'tco/he.)
Você tem isso na pele, você. (Depois rle '1111 tl'mpo.)
HORN - Então, o que é que a gente deve fazer? Não pense que eu quero te puxar o saco; mas você, pra
CAL - Eu não sei. Não ser idiota. começar, você tem o comando na pele: você é o tipo de chefe
HORN - Tudo bem, de acordo. (Elesfechom o cara.)
CAL -(Depois de tlm tempo.} E aqui está o barulho da África.
Não é nem o tantã, nem a moenda do milho, não. É o
ao qual a gente se apega, é preciso reconhecer isso; você é o
chefe ao qual a gente se habitua; é isso, o bom chefe . Eu ••
••
estou habituado a você, você é meu chefe naturalmente, eu
ventilador, ali, em eima da mesa; e o barulho das cartas, ou onem reparo mais, não há nada mais para dizer. No canteiro de
do cartucho de dados. (Depois de IIIn 011/1'0 tempo, baixinho.)
obras, quando me dizem: chefe isso chefe aquilo, cu digo
Amsterdã, Londres, Viena, Crac6via...
HORN -Oquê?
CAL - Tem todas essas cidades, no norte, que eu gostaria
sempre: perdão, o chefe não sou eu é Horn o chefe. Eu, o que
é que eu sou? nada. Eu sou: nada, eu não tenho vergonha de
dizer isso. Independentemente de você: nada de nada. A
••
de conhecer... (IRpois de um tempo, ;'es seselvem de kkl:) Eu
ponho quinhentos francos no número dez.
você, nada mete medo; mesmo os guardas não te metem
medo. Eu, ao contrário, independente de você, bom ... eu •e
HORN - Com uma banca ou sem?
CAL - Não, não, o mais simples.
HORN - Eu estou. (E/esfosn1l girar os dados. Hom põe de
tenho medo, cu não tenho vergonha de dizer. Medo, mas
medo de verdade; na frente de um guarda bubu, eu fujo; é
assim ; na frente de um bubu não-guarda, eu atiro. É uma
••
lodo o garrafa de t~ís'lW.) É que você bebe demais.
CAL - Demais? Com certeza não. Eu nunca fico bêbado,
questão de nervos, o medo, a gente não pode fazer nada.
Mesmo na frente de uma mulher eu entraria em pânico, ••
••
nunca. velho, eu SOIl bem capaz disso. Então cu, cu preciso de você.
IIORN - Mas o que ela está fazendo, meu Deus, onde ela (Baixo.) Tudo é podre, aqui; o canteiro de obras não é mais
se meteu? como antes: entram, saem dele; então se a ~cntc se separa,
(:1\1, - Eu 6 que sei? (Ele l'troMe.) Ao contrário, as pessoas
embriagadas sempre me desagradaram. Aliás, é bem por
nós, a gente vai ficar sozinho, ainda por cima . (,I/(IiJ IlfIi.\'o.)
Será que não é uma idiotice que você fez, trazer lima mulher
prn eM (Alai.\' baixo ainda.) E o hubu, ser á que ele não veio
•e
••
causa disso que cu gosto daqui. Eu sempre tive horror em
ficar nu fr~nte de alguém que está bêbado. É por isso que eu porque ele sabia que havia uma mulher? {Eles aposraur.) A
gostaria. sim, eu gostaria que para o pr6ximo canteiro de gente deve ficar como os dedos da mão, essa é a minha idéia.
obras... (Eles apostam.) Eu poderia ter caído com alguém
bêbado todas as noites como existe em certos canteiros de
obras; eu sei muito bem que isso existe; eu poderia, sim, eu
Só de pensar em estar em outro canteiro de obras, na frente
de uns caras bêbados rodas as noites, eu te digo que eu atiro
no meio da pilha de gente, é isso o que eu faço. (Eles olham
••
poderia. (Osdadosgiram.) Para a próxima obra, você poderia osdados; Ca! recolàe.)
pedir que eu fosse com você. Você tem bastante peso, meu HORN - (Leoantando-se.) O que ela pode estar fazendo, ••
••
velho; você é bastante velho na casa. Vão te escutar, velho. meu Deus?
HORN - Não haverá próxima obra, não para mim. CAL - Mais uma partida, chefe, a última partida. (Sorriu-
CAL - Mas sim, velho, você sabe muito bem; você sabe do.) Mil francos no número dez. (Ele põe; Horn hesitfl.) Um
muito bem, velho. Você se vê numa casinha pequena, na esbanjador como você, velho; você não vai hesitar? (Horn
e
França, no Midi, entre os choramingos de uma mulher e um oposto;eles jogflm os dados.) Espere. (Eles escutam.) Ele está
jardinzinho, meu velho? Você nunca vai deixar a África . (E/e falando.
••
124
••
•• I IOR N - o quê?
••
l.ltON E - .._Jfcill SohllJJ 1:l/e;1I i\'tbrl.\lrefl i\C:1h:l vindo, não
(: ;\[ , -- - Atrás da árvore. Ele continua !:1 e ele csr.i Ial.uulo . é? você vê. Oh, cluro.u gram:hica toma mais rcrnpo. é preciso
ter passado muito tempo junto pura que fique perfeito: 111 :15
•• IX
•••
tlw"j/(/ nnjrenr: de A/bo/l/)', a 1/1IIf1 cerra distância.
:\1 ,BOURY -- YOlJ~} l(/flJ' gis 'lJ2'f/fllJdési S(llIIfI IJir .wlr/(/I, /Jál!Jl:1/
L'::ON E - !Verreirct so spiil dUf(:h ;\'flchllll/d \Viml... j~t;dl/ Ir/(/y gis !I/Idijoo,l' te di leti tana rldol.- IJi IIdrl'<.:'.
•• sn /"1.1'.
I ,(:ONI': - Sim, sim, é assim lJlle é preci so Ial.u, você vai
\ cr. eu vou acabar entendendo- E eu, você me compreende?
I ,I::ONI':---Si 111 si /11, veja você, cu hc m li uc me pc rglllll li por
que cu vim. Todos eles me d.io medo, ;Igora. (FlfI .iO /' I'; I Jtl/ t l
elc.) Exceto você. E justamente, olha que nessa língua su.r, eu
e se cu fulo hem devagar? N~() se deve ter medo das llnguns não sei ainda nada, nada, Il:HLt. (N"", projilllr/o J ik11 tio , dois
••
:\ n.ula.
t\ I ,I~()l JI{Y - (Depois de 1111/ rempo.) f)~I!;g1t/(Jo tl)' .1'1I.\'/I A~/àt? ALBOlJ\{Y (Com 11m .1'01',.7.1(0) - Você csni com medo?
I ,1::ONE - Sieh.I"I, Vntcr, ti" rim l':';Irjjll~C: nidu? LI::ONE - Não.
•e 125
-----------------------r
••
••
chão, como umo cAtroa 00 contrario, umo nivOfl denso de efe-
miridos suicidas e hisltricos qlle esconde toda a claridade.
lembro da primeira ponte que eu construí; a primeira noite,
depois que a gente tinha posto a última viga, dado a última
caprichadu, aí, bem a véspera da inauguração; o que eu me
••
pescoço dez vezes de tanto que, durante a noite inteira, eu
li mesa. caminhei, e eu a tocava em tudo quanto era lugar, uma
puta ponte, eu trepava ao longo dos cabos c às vezes, eu a
••
CAL - Aqui está uma noite perdida, uma noite passada na
espera; você não acha, você, que é uma noite estranha? uma
partida que a gente abandona e retoma, uma mulher que a
via inteira, com a lua, por cima da lama, branca, cu me lem-
bro muito bem como ela era branca.
CAL - Essa aqui, no entanto, você deixa inacabada; que
••
gente espera e que desaparece, e até um fogo de artifício. Por
enquanto, aqui csrá o fogo de artifício que nos oferece a
desperdício!
HORN - Em relação a isso, eu não po sso fazer nada.
••
África: essa poeira de b ichinhos mortos.
I IORN - (Examinando 11m inseto.) 11 estranho: não choveu,
normalmente elas saem depois da chuva. Eu nunca vou
CAL - Eu deveria ter escutado minha primeira idé ia e
trabalhado com petróleo, sim, era isso com o que eu sonhava,
eu. Tem nobreza no petróleo. Olhe os que tr abalham nisso,
•••
entender nada dessa merda de país. a maneira com a qual eles olham pra nós: eles sabe m muito
CAL - Que desperdício, é isso que se chama desperdício: bem, eles, que eles são os melhores do pedaço. A mim, isso
essa mulher não se ocupa nem mesmo de você; ela deve estar sem pre fase i nou, o petróleo; tudo o q uc vem do subsolo, :11 i.is
chorando num canto, ou vai saber o quê. A mim, isso não me sempre 111<': fascinou. As pontes IIIC desagr ~lllalll, ;\gnr ~l; 1l(IS,
••
surpreende; desde que eu a vi, eu senti, por instinto. Eu não
quero te deixar com raiva, velho, ao contrário. Seu dinheiro,
claro, vocêfaz o que você quer com ele, ele é seu, bem seu,
os trabalho s públicos, o que é que a gente é ? uns nadas, ao
lado dos petroleiros; a gente é a miséria, a gente é menos que
nada. Todo o nosso trabalho na superfície, bestamente, à
e
você paga os prazeres que você quer, velho. Só tem uma vista e na frente de todo mundo, com uma mão-de-obra sem
••
co isa, a gente não conta com as mulheres para o prazer na
vida; é uma merda, as mulheres; é preciso contar conosco, só
qualificaçã o. Que tipo de homem trabalha aqui? Uns homens
para atirar, empurrar, carregar, conduzir; uns homens burri-
c
•
conosco, e dizer a elas de uma vez por todas: que a gente
encontra mais prazer, nós, bem mais prazer em um bom
••
trabalho bem-feito- não vai ser você, velho, quem vai dizer
o contr ário!- que é um prazer sólido, que nenhuma mulher
cos, homens elefantes, uns animais de carga; nós somos todos
uns animais de carga, nós somos o depósito dos homens sem
qualificação. Ao passo que no petróleo, uh: seis ou sete
homens qualificados, olha, olha, velho, a fortuna que eles
••
nunca vai valer isso: uma ponte sólida criada pelas nossas
mãos e pela nossa cabeça, uma estrada bem reta e que
resistirá à estação das chuvas, sim, é aí que estã o prazer. As
vêem escorrer entre as suas mãos! Eu sou um animal de
carga, eu também, é nisso que eu me transformei. No
entanto, as qualificações, elas estão aqui, elas estão aqui! no
•e
mulheres, velho, eles nunca vão compreender nada do
prazer dos homens, por acaso você ~iiria o contrário, velho?
entanto eu precisaria ser utilizado com todas as minhas
forças . Quando eu vejo, à noite, l á Iongc, as tochas do campo
Eu sei muito bem que não. .
••
HORN - Eu não sei, talvez, talvez você tenha razão. Eu me
de petróleo, l.i longe, eu ficaria horas olhando.
IlüRN - (i\POJ/fl/lf/O .) jogue.
126
• e
••
e CAL -_.- Eu n30 estou com o coração para jogar, velho. não, CAL - Você. velho.
1I0RN -I~ verdade, eu não tenho qualificações, cu, mas o
•e IIORN -- O quê?
CAI, - Faça ele levar um tiro dos guardas. Nós estamos no
dizer, completamente no ar, assim. que eu estava te achando
estranho. com esse negro aí, Bom, conversando normalmen-
••
1l0-;SO direito. merda! te e estranhamente com ele. só isso.l\ Ias se você está dizendo
IIOHN - Não se preocupe com isso, Jogue e não se que você vai acabar com ele', então, é porque você acabará
preocupe m.us. com ele.
•• (:AI, -- Por que você falou com ele? O quc vocês disseram?
Por que você não faz ele ir embora, merda!
(IOI{1\; --- Esse aí não é como os outros.
IIORN -- J:í é um caso praticamente resolvido,
CAL - (Depois d« 1111I tempo.) Você é assim mesmo um tipo
cstrunho.Xlc deixe então fazer a festa dele, iria mais rápido.
e C\L -- Eu tinha certeza; você está cedendo; eu queria I IOR;\! - Você não vai fazer mais nada. ElI LIÇO,
•• I IOH 0: - E 11 vou foder com ele, sabe resolver os negócios com tiros de pistola c depois, você
C\I, -- Mesmo assim, eu acho que você cst.i estranho, com fica bem contente que algllém esteja l.i para te rir.ir dll apuro
esse negro. e te ver chorar. (~ então a atirar que se aprende nessas suas
•
(:.\1, --- Vncê, velho, eu n:1O estou dizendo o conrr.ir io. Mas de vocês; sirvam-se da pistola se quiserem e pronto; e depois
justumc n te ... venham chorar. venham chorar. Pra mim, é ;1 últ imn vez,
II( )RN ---- QUCil1 rem o en(';If)~o dc cnnscrt ar as idiotices dos depois disso, eu vou embora. I kpois que cu for, LI,';1 (lido o
ti
•• outros? quem tem o encargo de resolver tudo, sempre c em
rul!(J IlIg:u, de um canto a outro da cidade; <-b manhã até :1
noite nesse canteiro de obras? qllem deve ter tudo sempre
que você quiser.
CAI, -- N;JO se aborreça, velho.
IIORN - Você s50 uns destruidores e isso é tudo () que
•
•e
reserva? quem deve planejar tudo, julgar tudo, conduzir tu-
do, tanto de noite como de dia? quem deve ser aqui policial,
prefeito, diretor, general, pai de família, capitão de barco?
CAL-- Você, velho, você, com certeza.
truidores de merda. I~, vocês fazem com que a África intei-
ra deteste vocês, em vez de fazê-Ia gostar de vocês; or;l, no
•• 127
----------------------------p••
final das contas, vocês não terão conseguido nada, nada,
nada . Vocês têm muito peito, a pistola no bolso e o gosto da
grana rápida e a qualquer custo, então, senhores, eu digo a
corre o risco de acabar com um balaço na barriga.
HORN - Ele não está armado.
CAL - Mesmo assim, mesmo assim, mesmo assim, você
••
vocês: no final vocês não terão nada e nada e ainda nada. A
África, não é, vocês estão pouco se fodendo pra ela, senhores;
deveria desconfiar. Esses canalhas todos lutam knrutê e eles
são fortes, esses canalhas. Você corre o risco de acabar caído ••
••
vocês só pensam em pegar o máximo que vocês podem e em no chão antes de ter dito uma palavra.
não dar nada, principalmente não dar nada. Ora, no final, não HORN - (Alostrando duas garrafas de uísque.) Eu tenho as
vai sobrar nada pra vocês, nada de nada, e pronto. E a nossa minhas armas . Não se resiste fácil a esses uísques.
África, vocês a terão destruído completamente, senhores
canalhas, destruído.
CAL - Mas eu, eu não quero destruir nada, Horn.
CAL - (Olhando as garrafas.} Umas cervejas, j~l seriam bem
suficientes.
HORN - Jogue.
••
HORN - Você não quer gostar dela, da África.
CAL - Não, eu gosto dela, cu gosto dela. Senão, eu não
CAL - (Ele aposta suspirando.) Que desperdício!
HORN - Mas enquanto eu falo com ele, você vai encontrar ••
estaria aqui?
HORN - Jogue.
CAL - Eu não estou com coração pra jogar, velho. Com o
o corpo. Não discuta, vire-se, mas encontre o corpo. Procure,
eu preciso dele. Senão, é a aldeia que a gente tem nas costas.
Encontre-o antes de amanhecer, ou eu te abandono de uma
••
risco, aqui mesmo, todo na cidade, que um bubu te dê um tiro
nas costas não, isso acaba com os meus nervos, velho. Eu
vez por todas.
CAL - Não, não é possível, não. Eu nunca vou encontrá-lo ••
acho, eu, que ele veio aqui para se aproveitar dessa história
e fazer muito barulho. É isso o que eu entendo.
HORN - Você não entende completamente nada. Ele quer·
novamente. Eu não posso.
HORN - Encontre algum, qualquer um.
CAL - Mas como, como você quer?
••
e•
nos. impressionar. É política. HORN - Ele não deve estar muito longe.
CAL - Ou então, é pela mulher, como eu tinha dito antes. CAL - Não! Horn,
•e
I-IORN - Não, ele tem outra coisa na cabeça. HORN - (Olhando os dados.) É para mim.
CAL - Na cabeça, o quê na cabeça, que,:outra coisa, numa CAL - Seus métodos são umas idiotices. (Ele dá /1111 soco
cabeça de bubu? Você, você está me abandonando, Horn, nojogo.) Você é um idiota, um verdadeiro idiota.
eu entendi.
HORN - Eu não posso te abandonar, imbecil.
CAL - E você vai provar que foi um acidente, Horn, você
HORN - (Leuantando-se.) Faça o que eu estou dizendo.
Ou então eu deixo pra hl. (Ele sai.)
CAL - Essa canalha está me abandonando. Eu estou
••
vai provar?
HORN - Um acidente, sim, por que não? quem disse o
contrário?
fodido.
••
CAL - Eu sabia . Nós temos todo o interesse em perma- XI e
necermos unidos; unidos, nós acabaremos com eles. Eu
estou entendendo, agora: você conversa pra foder melhor Nocanteiro deobras, aopeda ponteinacabada.perto dorio,numa •e
••
com ele; é um método, eu não digo o contrário. Mas cui- semi-escuridão, Albollty e Léone.
dado assim mesmo, velho. Com os seus métodos, você
128
e •
•• 1,(:()N I': -- - Você tem cubclos supctlcgnis. galinhas; é normal que os cachorros nos 1Ill'(;11l1 medo .
•• :\ L BOU RY- Dizem que os nossos cabelos são enrolados c LI::ONE - - Eu quero ficar com você. O que vocô quer que
pretos porque o nnccsrral dos negros, abandonado por Deus cu v.i fazer com eles? Eu abandonei meu trabalho, eu
e cu: seg l l ida por rodos os homens, ficou sozinho com o abandonei tudo; cu deixei Paris, ai, cu deixei tudo. hl es-
•• diabo, abandonado ele também por rodos, que então acari- tava justamente procurando alguém a quem se r fiel. Eu
ciou SU ~l cabeça em sinal de amizade, e foi assim que os encontrei. Agora, cu não posso mais me mexer. (1,)(/ [edm
•• nossos cabelos se queimaram, os othos.) Eu acho que cu tenho um diabo no coração, AI-
L(:ONE - Eu adoro as histórias com o diabo; eu adoro como boury; como eu o peguei, cu não sei de nada, mas ele está
você as cont a: você tem uns lábios supcrlcguis: aliás o preto, aqui, eu sinto. Ele me acaricia por dentro, e eu j.i estou roda
•• é a minha cor.
:\ L BOU RY - l~ uma boa cor par.i se esconder.
queimada, roda preta por dentro.
ALBOl i H )' - As mulheres í.ilam tâo rápido; eu n:íoconsigo
••
IJ ::ON E ._- Isso, o que é isso? acompanhar.
:\ L BOU RY - () canto dos S;lPO S: eles chamam a chuva . Ll~ONE - Rápido, você chama isso de rúpido ? quando faz
- ••
1.1::ON I': - E isso?
•• [.I ::O NE - I~ o barulho da ;ígua, é o barulho de outra coisa; are ia: no momento, ela não brilha para ninguém ; cu posso
com todo s esse s barulhos, impossí vel ter certeza. peg ;Í-L1 e gll;]flU-Lt até que reclamem por ela .
••
:\ I .BO URY -- (Depois de In" tcmpo.) Você ouviu ? LI::O NI·: -- Guarde -a. ningu ém vai reclam á-I a.
I,FONE - Não. AI,gOl jRY- O homem velho me disse que você era dele.
:\1 ,I H H 1HY ._- l J ru c.uhorro. 1.)::ON I·: (: ;I!Jril inh o, é o ca !lritinllll Cn[;-1O (jlle te iuco mo -
e 1.1 \)\: E - - Eu n50 acho que estou ouvindo. (I.fllir!os r/I' 11/1/ da ? meu Iku s! ele náo Iariu mal a lima mosca. pobre
•• t/ld/fJ I"/O , fIO /OIl,!!,I'.) I:: um cnchnniuho. 11111 cachnrr inho de cubririnho. () que você uchn que cu SOIl , pr :l ele ? l l m .i
n.ul:t. isso se reconhece pela voz; ~ 11m cachorrinho, ele cst.i pequena C(lillP :l1lil i :l, 11111 pequeno capricho, porqlle ele tem
muito longe; não se ouve mais. (I.fllir/os.) dinheiro e não sabe o que fazcr com ele . E cu que não tenho
•• ,\ I.IH )UHY - Ele csui me procurando. dinheiro, não é uma sorte rcrrfvcl tê -lo encontrado? CII não
1, 1~ ()\i E -- Que ele venha. Eu gosto deles, cu dou carinh o, sou uma horrorosa por ter tanta sorte? Minha mãe , se ela
ele s n ~1O atacam se :1 gente gosta deles . sou besse. oh, era faria vista grossa, ela teria me dito : esper-
•• :\ 1,BOURY - São uns bichos ruins; eu, eles sentem meu tinha, essa sorte só acontece com as ntr izcs ou co m as
cheiro de longe, eles correm atrás para me morder. prostitutas: no entanto, eu não sou nem lima nem oütra e isso
•• gc nrc nc 111 cst.i ouvi ndo mais! não pede nada, sabe. I~ por isso que cu gosto cios velhos c,
,\ L BOlí HY -- Nós, a geme hem que mete medo nas normalmente, eles gosrurn de mim . Com freqü ência eles
•• 129
•
•
sorriem pra mim, na rua, eu fico bem, com eles, eu me sinto CAL - Chefe? (Ele fi, corre em suodireção.) Ah, chefe, como ••
próxima deles, eu sinto suas vibrações; você sente as vi-
brações dos velhos, Alboury? Às vezes, eu mesma, eu tenho
pressa de ficar velha e boazinha; a gente conversaria du-
eu estou contente em te ver.
HORN - (Fazendo limo careta.) De onde você saiu?
CAL - Da merda, chefe.
••
rante horas, sem esperar mais nada de. ninguém, sem pedir
nada, sem ter medo de nada, sem falar mal de ninguém,
1-lüRN - Bom Deus, não chegue perto, você vai me fazer
vomitar. ••
longe da crueldade e da desgraça, Alboury, oh por que os
homens são tão duros? (Borlllhodegalhos qllebrondo, de Ieoe.)
Como tudo é calmo, como tudo é tranq üilo! (110m/Im'\" de
CAL - Foi você, chefe, que me disse pra me virar para
encontrá-lo.
IIOI{N - E então? você () cnconrrou?
••
gttl//(),f IJlltbm"do, thotn(u/os conjus 0.\' ao IOllge.) Aqui, nós cs-
ramos tão bem.
CAI, - Nada, chefe, nada. (J<:te r!/(JI'a.)
HüRN - E foi pra nada que você se cobriu de merda! (Ele ••
••
Al...I30lJRY - Você, sim; mas eu, não. Aqui, é um lugar dc ri.) Bom Deus, que imbecil!
brancos. CAL - Não fica me gozando, chefe. A idéia foi sua c cu, cu
LrfoNE - Mais um pouco, então, um minuto, ainda. Meus sempre tenho que me virar sozinho. A idéia foi sua c cu vou
pés estão doendo. Esses sapatos são terríveis; eles apertam pegar tétano por sua causa.
e
o tornozelo e os dedos. Será que isso não é sanguc? Olha:
uma verdadeira porcaria, três pedacinhos dc couro mal-
ajarnbrados só pm te arrebentar os pés c, por esta porcaria, te
I-IORN - Vamos pra casa. Você está completamente tonto.
CAL - Não, chefe, eu quero cncontni-lo, é preciso que cu
o encontre.
••
arrancam os olhos da cara; ouh. Oh, com isso, cu não tenho
muita coragem de andar muitos quilômetros.
HüRN - Encontrá-lo? Tarde demais, imbecil. Ele está
bo iando agora sabe lú em que rio. E vai chover. Tarde ••
••
AIJ30lJRY - Eu terei cuidado de você o máximo de tempo demais . (F/f vai em rlire(fio ri caminãonetc.) Os andaimes
que eu pude. (Barulho de caminhonete, prâximo.) devem estar fodidos. Meu Deus, como isso feele!
LI~ONE - Ele está se aproximando. CAL - (ilgnrm"do-o pela camisn.) É você o patrão, chefe, é
ALBOlJRV - É o branco. você o bOSJ, patrão. Você deve me dizer agora o que cu devo
e
••
LÉONE - Ele não vai te fazer nada. fazer. Me segure bem! Eu não sei nadar, eu me afogo, velho.
ALBOlJRY - Ele vai me matar. E também, tome cuidado, idiota, não fique me gozando.
LI~ONE - Não! HORN - Cuidado com os seus nervos; não fique excitado.
XII
quer secar. Você não tem uma cerveja? (Ele céora.) Você não
tem um copo de leite? eu queria beber leite, velho. •e
••
HORN - Acalme-se; vamos voltar pra cidade; você tem
Cal, 11m fllzil no mão, coberta de lama escuro. que se lavar e vai chover.
CAL- Então eu posso acabar com ele, agora, hcin, eu posso
HORN -
130
(Surgindo do escuridão.) Cal! acabar com ele?
•••
•
-
•• IIOI{ N - Não fale t:io alt o, meti Deu s. não seja bom , nu faca talve z eu não seja bom , 1ll:IS no fuzil cu
• ••
CAI , _.- ElI so u um canalh a, velho ?
IIOR N - O que você está falando? (Cfll duun.) Cal, meu
g :HOW !
CAL - De repente, cu vi Touhab na minha frente, me
I IORN - Você quer ficar com a aldeia roda contra você?
Você quer ter de se explicar ii policia? Você qucr cont inuur
com as suas besteiras? (Baixo.) Por acaso você confia em
mim? você confia ou não confia? Então, deixe-rue fazer. Não
•• IIORN -- () quê?
(: /\1 , . Por que eu estou se:rlllo punido, velho, o qu e é qtl e
c u riz Ih: Illitl?
(: /\1, - (FfI/f'j(///r/o.) Cheiro de mulher, cheiro de ilCI!.fO,
chc ir« de: S:IIILIIIIIJÚls '1l1e rccl.uu.uu . Fh: csr .i .rqui, chcfc.
\' lI d:~ lI :ill sem c ?
••
chorar. Aqui, você desaparece no meio das samambaias. meu IIORN - Você não é um canalha!
canalha, aqui, sua pele não vale um puto. A~ora eu me sinto CAI , - Mas você é 11m idiota, um idiota fodido, chefe . Claro
cheio de novo, eu me sinto quente, velho. (E!« CO" /{'(fl fi que sim , que eu sou um canalha. Aliás, cu quero. eu decidi
•• ( :1\1, - Torna cuidado, velho, cuidado, No kararê talvez eu funcionarem, hein? Eles não vão funcionar, merda , e então
••
•
131
•
felizmente eu sou um canalha, eu, felizmente que há um CAL - Ah ah, chefe.
••
aqui, para a ação. Para a ação, os idiotas fodidos não servem
de nada. Eu atiro num bubu se ele cospe em mim, e eu tenho
HORN
consiga
CAL -
- Mas que você fique calmo, primeiro; que você
acalmar os seus nervos de mulher, meu Deus.
Ah ah, chefe.
••
••
razão, eu, merda; e é bem graças a mim que eles não cospem
em você, não por causa do que você fala, você fala, e porque IIOI~N - Veja bem, Cal, meu garoto...
você seja um idiota. Eu, eu atiro se ele cospe e você fica bem CAL - Cala a boca. (Latidos, ao longe; Gol parte CO/l/O uma
contente: porque mais dois centímetros e era em cima do
nosso pé, dez centímetros mais alto e era a calça, e um
pouquinho mais alto a gente levava na cara. O que você fazia,
flecho.)
HORN - Cal! Volta, é uma ordem: volta!
••
então, você, se eu não tivesse feito nada? você falava, você,
falava, com o cuspe dele bem no meio da cara? Idiota fodido.
Barulho do caminhão quedd o partida. Homfica.
••
Porque eles cospem o tempo todo, aqui, e você, o que é que
você faz? Você faz como se você não visse. Eles abrem um
olho e cospem, abrem um outro olho e cospem, cospem
andando, comendo, bebendo, sentados, deitados, de pé,
XIII
medo.
ALBOURY - Mostre o que você esni escondendo atrás das
••
nós reuníssemos todos os cuspes de todos os negros de todas costas. e
as tribos de toda a África e de um só dia, cavando fossas onde
fosse obrigatório cuspir, canais, diques, represas, barragens,
aquedutos; se a gente reunisse as valetas de todos os cuspes
IIORN - Ah ah, atrás das minhas costas, hein? fuzilou
revólver? Adivinhe o calibre. (Ele tiro de trds de SIl(/S costas
duas garrafas de uisque.) Ah ah. Aqui está o que eu estava
••
cuspidos pela raça negra sobre todo o continente e cuspidos
contra nós, a gente chegaria a cobrir as terras ernersas do
escondendo. Você duvida ainda das minhas intenções? (E/e
li, reacende a lanterna.) Vamos, descontraia-sc. Eu tinha a ••
planeta inteiro com um mar de ameaça para nós; e não
sobraria mais nada além dos mares de água salgada e os mares
de cuspes misturados, os negros sozinhos nadando no seu
intenção de te fazer experimentar; são os meus melhores.
Reconheça que todos os passos, senhor Alboury, fui eu que
dei; não se esqueça disso, quando nós recapitularmos. Você
••
próprio elemento. Isso, eu não vou deixar fazer, não vou; eu
sou pela ação, eu, eu sou um homem. Quando você tiver
não quer vir até mim, então eu venho até você; e acredite em
mim, é por amizade, amizade pura. O que você quer: você ••
••
acabado de falar, velho, quando você tiver acabado, Horn... conseguiu me deixar preocupado; eu quero dizer: me deixar
IIORN - Deixe-me fazer primeiro. Se eu não conseguisse interessado. (Ele mostro o ufJql/e.) Aqui está quem vai te
convencê-la... forçar a se abrir um pouco na minha frente. Eu esqueci os
132 ••
••
•• copos: eu espero que você não seja esnobe; aliás, o uísque é
bem melhor na garrafa, isso evita que ele evapore; é nisso
quc a gente reconhece um bebedor: cu quero te ensinar a
de bolinhas, milhares de bolinhas, metálicas, não? Como
você sente, você? Ah, a pontada desse aqui não deixa ne-
nhuma dúvida; com, se a gente toma o tempo de ap re c iá-Ias,
• ••
estou aflui? Comigo aqui, ele não fad nada. Olha, eu espero
que você não veja inconveniente em beber na mesma garrafa
que eu? (Albotl1y bebe.) Bravo, você n50 é esnobe, em rodo
ALBOURY - Por que você veio aqui?
HORN - Para te ver.
ALBOURY - Por que, me ver?
(flor" bebe.) Deixe que ele tenha tempo de descer bem; HORN - Olhar para você, conversar, perder meu tempo.
••
C;l S0.
t5 depois de algum tempo que ele solta o seu segredo. (Eles Por amizade, por pura amizade. Por um monte de outra s
/Je/Jem.) Assim , eu fiquei sabendo que você era um ,1S do razões tambémMinha companhia te pesa? Você no entanto
••
de sconfio das técnicas orientais. O velho e bom boxe! Voc ê ape sar de é que não tem bastante lugar nu sua ca be ç a
VOCl:,
j.i lutou alguma vez o velho e bom boxe tradicional? e em todos os seus bol sos para guardar toda s as sua s mentiras;
ALBOURY -- Tradicional, não. a gente acaba vendo.
•
-
casa e, para mim, a hospitalidade, é a regra sagrada; ali.is, você loucos, com suas armas!
est á aqui praticamente em território francês; você não tem ALBOURY - Ele tem uma, ele.
então nada a temer. (Elespassamde umagarrafa fi 01111(1.) Eu HORN - Azar dele. Chega desse imbecil. Ele vai acabar
••
te, claramente pontiagudo: você sente como ele é pontiugu- Alboury: é ele, a causa de todas as minha s preocupações:
do? Enquanto o outro, é muito claro, ele escorrega; são tipos me livre dele e eu não vou me mexer. Melhor IIlC dizer tlJ-
•• 133
••
do também, Alboury: quais são então as intenções dos homem que veio aqui completamente com um outro es-
pírito.
••
••
seus superiores?
AL130URY - Eu não tenho superior. ALBOURY - Eu não sei o que que é esse seu espírito.
. I-IORN - Mas então, por que você afirma ser da polícia HORN -l\lboury, eu mesmo fui um operário.Acredite em
secreta?
1\L no U RY - Doomi xaraam!
I IORN - Oh, você prefere continuar brincando de escon-
mim, eu não sou um patrão por natureza, sabe. Quando eu
vim pra c á, eu sabia o que era ser um operário; e é por isso que
eu sempre tratei os meus operários, brancos ou negros, sem
••
de-esconde? Como você quiser. (Jllbollry cospe 1/0 chiio.) Não
fique com raiva por causa disso.
distinção ; co mo o operário que eu era foi tratado. O espírito
do qual cu falo, é esse; saber que, se a genre tr.itn o opcr.irio ••
AI ,BOLJHY - Como um homem poderia se reconhecer em
todas as suas palavras e traições?
I-IORN - Quando eu te digo, Alboury: faça o que você
como UI1l bicho, ele se vingad como UI1l bicho. Aí cst.i a
diferença. Agora, pelo resto, você não vai me censurar pelo
fato de o operário ser infeliz, aqui como em outro luuur; é ~l
••
qui ser eu não o cubro mais, não é uma mentira, acredite em
mim. Eu não estou jogando.
condição dele, eu não po sso fazer porra nenhuma . Eu Iui
. pago para conhecê-la. Por acaso, você acha que algum ••
••
ALBOl )RY - É uma traição. operário no mundo pode dizer: cu sou feliz? AIds, você
IIOH.N - Traição? Trair o quê? Do quê você está falando acredita que alg um homem no mundo vai dizer algul1l dia:
então? cu sou feliz?
:\ L BO U HY - Seu irmão.
I I()\{N -I\h não, por favor, nada dessas palavras africanas.
() que faz esse homem não é negócio meu, a vid a dele nJO
1\( .BOlJHY - I Ic que imporr.un nos npcr.irioxos sentimen -
tos dos patrões c aos negros os sentimentos dos brancos?
I JOHN -- Você é Ulll duro , Alhourv, eu estou Chcg:lIH\O :\
••
rem nada a ve r comigo .
:\ 1,BOU RY - No entanto, vocês são da mesma raça, não
co ncl usão. Eu não sou um homem, pru você; qualquer coisa
que cu diga , qualquer gesto que eu faça, qualquer id éia que ••
SJo ? da mesma língua, da mesma tribo, não ?
I IORN - Da mesma tribo, se você quiser, sim.
:\ L BO U RY - Vocês dois são patrões, aqui.não? patrões de
eu tenha, mesmo se eu te mostrar o meu coração, você só vê
em mim UI1l branco e um patrão. (Depoisde /Im remno.] Qu ~d
importância, finalmente . Isso não nos impede de beber
••
fechar e abrir os canteiros de obras sem serem punidos por
isso? patrões de contratar e despedir os operários? patrões de
parar e fazer funcionar as máquinas? proprietários os dois dos
juntos. (Elesbebem.) É estranho. Eu te sinto sempre de lado,
como se tivesse alguém atnis de você; você é tão di sperso!
Não, não, não me diga nada, eu não quero saber nada. Beba.
••
c.uuinhõcs e das máquinas? das casas de tijolo e de eletrici-
duele, de tudo aqui, vocês dois, não são?
Você jâ est á bêbado?
ALBOURY - Não. . ••
IIOR N - Sim, se você quer, para você, a grosso modo,
tudo bem, sim. E então?
ALBOURY - Por que então você tem medo da palavra
I-IORN - Muito bem, bravo.( Bnixo.) Eu tenho um favorpra
te pedir. Alboury. Não diz nada pra ela, não diz pra ela o que
te traz aqui, não fale de mortos ou dessas coisas desagrad á- e •
irmão?
I IORN -Porque, Alboury, em vinte anos, o mundo mudou.
veis, não teme influenciá-Ia, não diga nada a ela que pudesse
fazê-Ia fugir. Eu espero que você já não tenha feito isso . Eu ••
•
E o que mudou no mundo, é a diferença que existe entre ele talvez não devesse tê-la trazido aqui, eu sei disso, mas isso
e eu, entre um assassino louco, descontrolado, ávido, e um me tocou, é assim. Eu sei muito bem que é uma loucura mas
134 ••
•
••
••
realme nte, isso me tocou de um jeito e a~ora, não, não se IIOI{N - Você é ob scuro demais pra mim ; cu gPS [O da s
de ve fazê -Ia se ntir medo . EII preciso <Ida: preci so sen ti-I a coisa s r1ar:ls. TOl11a, vamos . (/ ':k f'.flf'lIr!(· () 1JIt/(o .)
por perto. FII a conheço muito pouco, eu não se i qu ais são os ALBOURY -- N~o ~ o que eu estou cspcr .uu lu de voc ê.
•• desejo s dela, eu a deixo livre . Pra mim é sufi ciente v ê-la por
peno e eu não peço nada alérn diss o. Não a faça fugir. (Ele n.)
O que você quer, Alboury, eu não quero acabar sozinho,
I IOR N - N ão exageremos, senhor. l lm opc r.irio morreu,
tudo bem; é grave, tudo bem, cu não quero de maneira
alguma minimizar a coisa, nem um pouco. t\Lis é lima coisa
•• rápido r.ipido com isso. Senão, o que você quer que a gente
LI,';I com ()di n hc i ro? E li n;10 te n ho Iam ília. (Flts IJtiN'III.) Issn
•• limo . Musrru? (/':/e p(~(/ a m âo t " fj /l ('r d (/ d l' :I /Imlll )'.) Por que
\'ocê deixa crescer a linha tão gr:lI1de, e ju stamente essa ? (Fie
dele me smo. Você vai ver. Você :IC!l ;1 que eu 11 ,-'0 sacrifiquei
natl ;l? I ~s[ :í na ordem do mundo. Isso não imp ede o 1l111l1do
se gre do? 1;1 te m urna hora que essa unha me incomoda. (1')r
n rateia.) Isso de ve ser lima arma terrível , se sabe mos 1I5;1 -Ll,
de conr inuar, hei n, não é você que vai impcd i ru terra de girar,
hcin ? Não seja ingênuo, meu bom Alhoury . Scj :1 triste, isso,
eu posso compreender, mas não íngênllo . ( I': k rstendr U
•• ,!.!;()!.;mdo. (f':it: rim àmscamrnt« !1111 ma(o di' 1I0/flS de seu holso e
f'S/f'IIr/f' pam , \ //10111)'.) Aqui CSLí, meu rupuz. Eu tinha te
•• posso fazer.
ALBOURY - Você tinha me promet ido o corpo de Nou afia. IIORN - Léone, cu e stava te procurando. Vai cho ve r, e vo -
••
:\ L BO UI{Y- Eu te digo : o me smo para nós todos. Ele n50 que eu gostei tanto dela; cu me pergunto por que cu quis
se pronuncia de outro modo; ele é secreto. tanto salvar você . I~ pra acreditar que todo mundo, aqui, fica
•• 135
•
••
insano.
LI~ONE - (A Horn:) Por que você o faz sofrer? (Hom olluI
pra ela.) Dê pra ele o que ele está te pedindo.
ouh! eu nunca vi tão teimoso. E você acha que vai conseguir
alguma coisa assim? Meu Deus, m'1S ele não sabe nem IIIll
pouco como agir, esse aí, nem um pouco; ao passo que eu
••
•
-
HüRN - Léone! (Ele ri.) Meu Deus, como tudo isso está saberia muito bem como agir se você me deixasse fazer: com
ficando pomposo! (A AllJouIY:) Saiba então que o corpo desse certeza não' seria apertando Os punhos, não, muito menos
operário não é cncontrávcl. Ele está boiando em algum lu- tomando ares de guerra e teimoso, uh não. Pois não é a guerra
gar, já deve fazer um bom tempo que ele foi comido pelos
peixes e pelos gaviões. Desista de uma vez por rodas de
que eu quero viver, não, não é brigar que eu quero, nem
tremer o tempo todo, nem ser infeliz. Eu, é simplesmente ••
rccupcni-lo. (A Léon«} Vai chover, Léonc, venha. (Leone se
aproxima de Albol"Y.)
ALBOURY - Me dê uma arma.
viver que eu quero, tranq üilamente, numa cnsi nha pequena,
onde você quiser, tranqüilos. Oh eu aceito ser pobre, pra
mim tanto faz, e buscar ~lgua bem longe e colher das árvores
••
IIOI{N - Não, meu Deus, não. Não vai ser uma matança,
aqui . (Depois de um tempo.)Sejamos razoáveis. Léone, venha.
e todas essas tralhas; eu aceito viver de absolutamente nada,
mas não ficar matando e brigando c me preocupando em ••
Alboury, pegue esse dinheiro e suma daqui, antes que seja
tarde demais.
ALBOURY - Se eu perdi Nouofia para sempre, então, eu
apertar os punhos oh não, por que ser tão duro? Ou então eu
não valho um morto já comido pela metade, eu não valeria
isso! Alboury, é então por que cu tenho a infelicidade de ser
••
terei a morre de seu assassino.
IIOI{N - O raio, a torrente, meu velho; ajuste suas contas
branca? No entanto, você não pode se enganar a meu
respeito, Alhnury. EUllão SOIl vcrdudcir.uucntc uma branca, ••
••
com o céu e suma daqui, suma daqui, suma, dessa vez! não. Oh eu j~í estou tão acostumada a ser o que não se deve
L éonc, aqui! ser, não me c usta nada ser negra por cima disso tudo. Se é por
isso, Albourv, minha brancura, eu j á cuspi em cima h:í muito
X\ '
tempo, eu joguei ela fora, cu não a quero . Então, se você
também não me quiser mais... (Um tempo.) Oh preto, cor de ••
••
todos os meus sonhos cor do meu amor! Eu juro: quando
LI::ONE - {Baixo.) Aceite, Alboury, aceite. Ele está te você for voltar pra sua casa, eu irei com você; quando cu te
oferecendo até dinheiro, gentilmente dinheiro, do que você vir dizer: minha casa, eu direi: minha casa. Aos seus irmãos
precisa mais? ele veio para arrumar as coisas, é certo; bom, é
preciso arrumar já que é possível. Pra que serve querer brigar
por ~1Igun141 coisa que não tem mais nenhum sentido quando
cu direi: irmãos, à sua mãe: mãe! Sua aldeia será a minha, sua
língua será a minha, sua terra será minha terra, e até no seu
sono, eu juro, até na sua morte, eu te seguirei ainda.
••
se "em gentilmente propor resolver tudo, e com dinheiro
ainda por cima? O outro é que é um louco, mas para isso, a
HORN - (Delonge.) Você está vcndo bem que ele não quer
saber de você. Ele não está nem te escutando . ••
••
gente sabe agora, a gente só precisa prestar bastante atenção ALBOlJRY - Démalf(/fédoomu xac bit (E/e cospe 1/(/ carade
e enfim, pra nós três, a gente vai conseguir impedi-lo de Léone.)
incomodar todo mundo, é claro, de fazer mal, e então, tudo Ll~ONE - (Virando-se em direçlio a Horn.) Me ajuda, me
vai correr às mil maravilhas. Ele, não é nem um pouco a
mesma coisa; ele veio para falar gentilmente mas você, você
ajuda .
IIORN - O quê? Você se comporta debaixo do meu nariz ••
••
diz não, você aperta os punhos, você permanece teimoso, sem a menor dignidade com esse sujeito e eu deveria te
136
•
•
-•• ajudar , ainda? Você acha que pode me tratar como uma
merda e que eu não vou reagir? Você acha que eu s ósou bom
para pagar, pagare pronto, e que podem me tratar corno uma
se conter mas psiu. Pare de respirar algum tempo, faça o que
você quiser, beba um gole grande de uma vez, corno pra
quando a geme cst .l com soluço, isso deve funcionar tam-
•• Você acha então que está na sua casa aqui? você me toma
por uma merda? você nos toma todos por merda? Você tem
está fazendo então com a merda da caminhonete? Cal! meu
Deus. Por favor, você! Sc você acha que o sujeito não ficou
•• I
mal agora, Léonc, eu quero me casar com você, é o que a
gente queria, não é? Diz: tudo bem!
•• XVI
Leonese recompôs. Contra uma pedra, ela quebm a garrafa de
HüRN - E você, eu te peço, não tenha a sua crise, agora; ufsque e rapidamente, sem um grito, olhando a sombra onde
•• só faltava isso. Ah não, não não, eu não posso pressentir as . desapareceu Alboury, com 11m pednço de vidro, ela gravo nas
lágrimas. isso me deixa fora de mim; pare com isso, por favor, bochechas, profllndomente, os marcas incisivas, parecidascom o
mostre um pouco de dignidade. Olha só, ainda vai me vir sinal tribal do rostode Alboury.
•• ouve, aqui, o menor barulho se ouve a quilômetros de nenhum sentido. Cal! Tem sangue, pra todo lado! .
distância; a gente tem o ar fino, eu te juro; que bela imagem
você passa de nós, se você se visse. Psiu, vamos; se vira pra Lcone desmaia. HOl'l1 corre gritando, em direçflo ri I/lZ dosfarâis
•• 137
•
•
••
quese oproxi11llltll. mos um chamado de rádio e a caminhonete até a aldeia.
Vamos, eu vou pôr os morteiros no lugar.
CAL - Os o quê? '
••
I XVII HORN - Os porta-lanças, as caldeiras: todo o material para
o meu fogo de artifício. ••
••
Na cidade, perto do mesa. Cal limpo seu fuzil. CAL - Mas já vai amanhecer, Horn! Aliás, ela está fechada
dentro do bangalô, ela não vai querer sair para olhar, ela nem
CAL - Na luz, eu não posso nada. Nada. Os guardas me quis tomar nada; se ela pegar tétano, nós teremos de cuidar
veriam fazendo, e então eles poderiam testemunhar. Eles
poderiam correr até a polícia e eu não quero nada que fazer
dela. Que mulher estranha, e agora ela tem essas marcas pra
vida toda; no entanto, ela era bonita. É engraçado. E você ...
Mas quem você queria que visse, velho, o seu fogo de
••
••
com a polícia; ou eles poderiam correr até a aldeia e eu não
quero ficar com a aldeia contra mim. Com toda essa luz, eu artifício?
não posso nada. HüRN - Eu, eu vou ver ; é pru mim que eu faço, eu o
HORN - Os guardas nlo farão nada. Eles estio contentes
demais por terem esse trabalho, eles estão apegados, pode
acreditar. E por que eles correriam até a polícia, ou até a
comprei pra mim .
CAL - E o que é que eu devo fazer? Vamos ficar juntos,
velho; é pre ciso acabar com ele de um a vez por todas, agora.
••
aldeia para perder o lugar? Eles não vão se mexer, eles não
vão ver nada, eles não vão ouvir nada.
HORN - Eu confio em você. Seja prudente, só isso.
CAL - Só que cu estou frio, agora, então, eu não tenho ••
CAL - Eles já o deixaram entrar uma vez, e depois esta
outra vez ainda. Ali, atrás da árvore, ele está ali de novo; eu
o ouço respirar. Os guardas, eu desconfio deles.
mais idéia do que é preciso fazer.
HORN - Uma pele negra se parece com lima pele negra,
não é? A aldeia reclama um corpo; é preciso dar-lhes um;
••
HORN - Eles não o viram entrar, ou,eles estavam dormin-
do. Aliás, a gente não está mais ouvindo os guardas. Eles
.dorm iram: eles não vão se mexer, ,
nós não teremos paz enquanto nós não dermos a eles um
corpo. Se a geme esperar mais, o dia em que eles nos envia-
rão dois sujeitos para reclamar, a gente não vai poder fazer
••
CAL - Dormindo? Você não está enxergando bem, velho.
E u estou vendo os guardas. Eles se viraram na nossa direção;
mais nada.
CAL - Mas eles vão ver muito bem que não é o operário. É ••
eles estão olhando pra nós. Eles estão com os olhos meio
fechados mas eu estou vendo bem que eles não estão
dormindo e que eles estio olhando pra n6s. Ali está um que
que eles se reconhecem, entre eles.
HORN - Não se pode reconhecê-lo. Se não se pode re-
conhecer a cara, quem pode dizer: é ele, ou: é um outro! A
••
acaba de caçar um mosquito com o braço; aquele outro está
coçando a perna; ali, um que acaba de cuspir no chio. Com
cara, é isso c só isso que a gente reconhece.
CAL - (Depois de II1n tempo.) Sem fuzil, eu, eu não posso ••
toda essa luz, eu Dia posso fazer absolutamente nada.
HO RN - (Depois M 11", tempo.) Seria preciso que o gerador
tivesse um tipd de paAc. '
fazer nada; eLl não gosto de brigar e eles são todos fortes
demais, esses canalhas, com o karatê deles. E com um fuzil,
velho, a gente vai ver bem a marca, um buraco na cara essa
••
CAL - Seria pIeCiso. sim; 6 preciso abIotutamente. Senão,
eu não posso fazcr nada. '
é a marca que eles vão ver e então a gente vai ficar todo
mundo com a polícia nas costas. ••
••
HORN - Nlo, a melhor, 6 esperar a ma.nhl: nós enviare- HORN - Então, o melhor, esperar a manhã. Façamos
é
138
•
,••
-
tudo dentro das regras, meu rapaz, é o que há de melhor.
Nós falaremos com a polícia c resolveremos da melhor
esse cara . Ele custa a ficar de pé; ele bebeu como urna
espon}1.
•• assun.
[IORN -- Imbecil.
CAL - (Ameaçnndo.) Não me chame de imbecil, 110m,
CAIJ - Chefe!
HORN -I~, meu garoto, é assim; cu estou cheio, olha bem;
da Áfriel eu j:í não entendo mais nada; é preciso usar outros
••
é tudo o qllc deve existir, pru você, lembre-se sempre
nulo volta à ordem. disso.
CAL -- Mas eles vão nos pedir as contas por esse aí, então: CAL - Sim, chefe.
••
J - --
não sabe de nada. Então? J-fORN - Ela vai embora daqui a pouco com a caminho-
CAL - Frio. assim, é duro. nete. EII não quero mais ouvir falar disso . Eb nunca existiu.
•• 139
.•.
• 4
••
XVIII
••
respostas breves; risos; linguagem indecifrdue! que ressoa e se
acaso alguém diria que são ainda mãos de um homem jo- amplifica, corre ao longo da cerca de arame de alto a baixo,
ve m ? você já viu mãos de engenheiro, na França? Mas, sem preenche o ('spa(o inteiro, reina sobre fi escuridão e ' 'fSJO(1 a;/lrlri
•• xx
na cabeça; ele cai. A/bom)' desapareceu. Negro.
••
todas repelem fi aurora.
Um primeiro feixe IIImil10S0 explode silenciosamente e mpida-
mente 1/0 cr« acima do jardim de bllgfl1lvilifIJ. LÉONE - (Milito longe, e escuta-se com d~ficuldarle sua voz,
•• CltJI /io azul de cano de fuzi/. Barulho seco de uma corrida, pés coõerta pelos barulhos do dia; ela se inclina em dil't'ftlo no mo-
f/tsmI(os, em cima da pedra. Gemido dt' rachorro. C/mijcs de torista.) Hnoen Sie eine SidJerhúlsllat!eI? mein Klt'id geht au].
/antcrnns, Assobio. Barulho de 11m jit zil sendo filmado . SOjJlV Mei» GolI, teetm Sie KeincbeiJichhabel1, muss ichgflllZ)/(Ich. (E/fi
•• [rcsro do vento. 17, soôr na caminhonete}, roda nua! 1lf1ch PfIIÚ zlIr iicJ:. (il
() horizonrcse cobre com 11m imenso sol de rores 1"(' ali, rom 11m caminhonete se distancia.)
•• to di'árvores até a cerca de arame farpado e da cerra alé as torres pega o fuzil caido no chão, limpa o rosto e l("lxlllla os olhos em
rll' V~t;;/âl/(itl. direoio ris torres de v~t;ilrifl(:il1 desertns.
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