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Ao longo deste trabalho observou-se a criação do mundo guarani como se fosse

pelos olhos de um antigo pajé, bem como pelos olhos de um pesquisar histórico;
entendemos a travessia pelas florestas e rios até o mar em busca da Terra Sem Males,
que já não é mais procurada; observamos que o toque de seus tambores ecoam junto a
violinos e violões pelas casas de reza; e Nhanderuvuçu, o único Deus, está ali na
natureza, junto a tudo que existe.
A colonização portuguesa trouxe alterações significativas no modo de viver guarani,
o ñande rekó, adaptando o povo à maneira lusitana de agir, de se vestir, de falar e do que
cultuar. Os guaranis foram expostos a doenças comuns apenas na Europa; tiveram suas
danças e ritos condenados por não serem cristãos; foram submetidos à escravidão no
início da colonização; perderam suas terras, pois, quem as “descobriu” foram os
portugueses. Em suma, foram jogados à margem da sociedade e obrigados a viver em
suas aldeias com seu solo sagrado reduzido e, muitas vezes, dependendo de ajuda
governamental e auxílio para que consigam sobreviver, principalmente por serem caçados
por fazendeiros interessados em se apossar de suas terras.
No Brasil, o maior e mais impactante resquício deixado pelos colonizadores foi um
sentimento no brasileiro de detentor de todas as terras, acuando o indígena cada vez
mais em gaiolas naturais chamadas de reservas. Não fosse o bastante, infelizmente, o
povo guarani-kaiowá é o mais notado quando o assunto é ataque aos indígenas, pois
desde o final da década de 1960, eles vêm sendo perseguidos pelos não-indígenas e dá-
se início uma batalha por terras: de um lado os indígenas reivindicando o tekoha (a terra)
que sempre foi seu e do outro, os pistoleiros a mando dos latifundiários (ZINET;
TUPINAMBÁ; CABRAL, 2012).
O guarani, com o contato com o colonizador, conquistou o acesso à tecnologia, às
modernidades, à medicina, à odontologia, aos cuidados básicos de saúde num geral, bem
como, a possibilidade de usar utensílios domésticos, objetos e carros, que tornaram suas
vidas mais simples. Tudo isso, porém, veio com uma grande cobrança: a dizimação de
parte de sua população ao longo dos séculos; às doenças espalhadas no meio de suas
famílias; o rapto, estupro e morte de milhares de crianças, mulheres, jovens e idosos; a
sua cultura tratada como ridículo, julgada, apontada e sendo satirizada. Será que valeram
a pena 400 anos de marginalização e sofrimento para ter acesso à internet?

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