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EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS

UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE


CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA

Licitação (RFP) JOF-0319/2017 Projeto BRA/14/G31


Contrato No BRA10-36189/2018
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD
Escritório do Brasil

Contratado: CP Empreendimentos Ltda.


CNPJ/MF No 25.594.425/0001-05

PRODUTO 3 - ESTUDO DE VIABILIDADE


TÉCNICA E ECONÔMICA EVTE; PLANO DE
NEGÓCIOS; ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO

Brasília, DF, Agosto de 2018


1 ANTECEDENTES
O presente Relatório refere-se à Licitação (RFP) JOF-0319/2017 no âmbito do
Projeto BRA/14/G31, Contrato No BRA10-36189/2018, referente ao
desenvolvimento de plano de negócios a partir da elaboração de estudo de
viabilidade técnico e econômico - EVTE aplicado a uma Unidade Demonstrativa
de Produção de Carvão Vegetal – Sistema Forno/Fornalha (UD) da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) a ser implantada no município de
Lamim/MG.

Cabe mencionar que os acertos iniciais foram objeto de reunião prévia,


ocorrida na sede da JOF - Joint OperationsFacility, ONU-BR, em 23 de Janeiro
de 2018. Na ocasião foi confirmada a atuação da equipe técnica constante da
proposta elaborada pela CP Empreendimentos Ltda., a saber, Luiz Antonio F.
Cascão e Carlos de Souza Pinto - economistas - diretores da CP
Empreendimentos Ltda., Waldir Quirino - engenheiro florestal - consultor
especial e Cesar Cascão - especialista em elaboração de projetos - diretor da
CP Empreendimentos, bem como foram apresentadas pela consultoria as
primeiras considerações relativas à metodologia a ser adotada no decorrer do
trabalho.

Na elaboração deste Relatório foram examinados - e considerados - todos os


documentos anteriormente elaborados no âmbito do projeto e disponibilizados
pelos contratantes à CP Empreendimentos, inclusive aqueles ainda de uso
restrito. Esta documentação foi complementada por dados secundários, bem
como por outras fontes de informação do acervo dos consultores.

Na etapa seguinte procedeu-se a visita ao campo (Belo Horizonte, Lamim e


Viçosa), onde foram entrevistados atores chave do setor detentores de
informações relevantes para o presente trabalho, cuja listagem é apresentada
no Anexo1 deste documento, bem como foi elaborado o Produto 2 - Estudo de
Viabilidade Técnica e Econômica, EVTE.

A partir dos resultados encontrados foi elaborada a estratégia de implantação


do projeto, integrante do presente Relatório - o Produto 3, constante dos
Termos de Referência do Contrato.

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ii
SUMÁRIO
1 ANTECEDENTES ...............................................................................................ii
SUMÁRIO ........................................................................................................... iii
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... vi
LISTA DE TABELAS ...................................................................................... viii
2 ESCOPO DO TRABALHO ................................................................................ 14
3 ESTUDO DE MERCADO ................................................................................. 16
3.1 ENERGIA: CENÁRIO INTERNACIONAL ................................................... 16
3.2 PERSPECTIVAS NO BRASIL ..................................................................... 23
4 FERRO-GUSA E AÇO ...................................................................................... 37
4.1 CENÁRIO MUNDIAL ............................................................................... 37
4.2 O CENÁRIO BRASILEIRO ........................................................................ 40
4.3 MINAS GERAIS....................................................................................... 48
4.4 PERSPECTIVAS ....................................................................................... 53
5 O AMBIENTE DO PROJETO ........................................................................... 59
5.1 AMBIENTE INSTITUCIONAL ................................................................... 59
5.2 . FONTES DE FINANCIAMENTO ............................................................. 62
5.3 O AMBIENTE ECONÔMICO E SOCIAL DO PROJETO .............................. 64
6 O PRODUTO .................................................................................................. 76
6.1 PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO E O FORNO-FORNALHA DA UFV ......... 76
6.1.1 Fornos de encosta ou barranco ....................................................... 77
6.1.2 Fornos de superfície e ″rabo quente″ ............................................. 78
6.1.3 Sistema de carbonização forno⁄fornalha desenvolvido pela
Universidade Federal de Viçosa .............................................................................. 82
6.1.4 Aumento do rendimento com sistema de queima dos gases ......... 85
6.1.5 Construção da Unidade Demonstrativa (UD) de Lamim ................. 87
7 A VIABILIDADE ECONÔMICA ........................................................................ 91
7.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 91
7.2 LOCALIZAÇÃO ........................................................................................ 91
7.3 PARÂMETROS GERAIS DA AVALIAÇÃO ECONÔMICA ............................ 93
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iii
7.3.1 Horizonte de Análise, Depreciação e Valor Residual....................... 93
7.3.2 Capital de Giro ................................................................................. 94
7.3.3 Custo de Manutenção e Conservação ............................................. 94
7.3.4 Carga Tributária ............................................................................... 94
7.3.5 Mão de Obra .................................................................................... 94
7.3.6 Rendimento Gravimétrico - RG ....................................................... 94
7.3.7 Curva de Aprendizado ..................................................................... 95
7.3.8 Preços Praticados e Projeção das Receitas ..................................... 95
7.4 PARÂMETROS ESPECÍFICOS DA AVALIAÇÃO ECONÔMICA ................... 97
7.4.1 Cenário 1 = Unidade Demonstrativa de Lamim. ............................. 97
7.4.2 Cenário 2 = Fornos de encosta ........................................................ 99
7.4.3 Cenário 3 – Fornos de Superfície..................................................... 99
7.5 INDICADORES DE VIABILIDADE ........................................................... 100
7.6 ANÁLISE DA SENSIBILIDADE ................................................................ 107
8 AVALIAÇÃO MACROECONÔMICA DO PROJETO ......................................... 110
8.1 . Considerações metodológicas .......................................................... 110
8.2 Experiências em aplicações dos métodos .......................................... 112
8.3 O mercado de créditos de carbono .................................................... 113
8.4 A Avaliação do Projeto ........................................................................ 115
8.5 . Aplicação do Método ........................................................................ 116
8.5.1 Valor do CO2e evitado ................................................................... 116
8.5.2 A Avaliação Macroeconômica Completa ....................................... 118
8.6 Benefícios Não Quantificáveis ............................................................ 120
9 ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO ................................................................. 121
9.1 - Considerações iniciais - premissas da estratégia.............................. 121
9.2 Principais Pontos do Plano de Negócios ............................................. 123
9.3 Análise da Competitividade ................................................................ 124
9.4 A Estratégia de Implantação ............................................................... 127
9.4.1 Aspectos Gerais ............................................................................. 127
9.4.2 Aspectos Técnicos.......................................................................... 128
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iv
9.4.3 Matriz SWOT .................................................................................. 130
9.4.4 Formulação de Estratégias a partir da Matriz SWOT .................... 136
9.5 Expectativas de estímulo por parte da sociedade .............................. 138
9.6 Associativismo..................................................................................... 140
10 MONITORAMENTO ................................................................................. 142
10.1 Concepção do Monitoramento ....................................................... 142
10.2 A Matriz do Marco Lógico ............................................................... 143
11 CONCLUSÃO ............................................................................................ 148

ANEXO I - LISTA DE PESSOAS ENTREVISTADAS

ANEXO II – RELATÓRIO FOTOGRÁFICO

ANEXO III - MODELO DE LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL

ANEXO IV - CARTILHA

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v
LISTA DE FIGURAS

Figura1: Mundo - Consumo de combustível por região em 2015 (%). ............... 17


Figura2: Mundo -Evolução da geração de energia renovável (trilhões de BTU)
..................................................................................................................................................... 17
Figura3: estados Unidos - Consumo de energia projetado (em quatrilhões de
BTU) ........................................................................................................................................... 18
Figura4: Mundo -Média de adição de capacidade energética por tipo ............... 19
Figura5: Mundo - Evolução prevista da participação percentual das diversas
fontes no consumo de energia (%) ........................................................................................ 21
Figura6: Mundo - Geração elétrica de base renovável total e biomassa, em
2012 e nos cenários Novas Políticas, Políticas Atuais e Cenário 450 (TWh) ................ 22
Figura7: Brasil - Oferta interna de energia .............................................................. 24
Figura8: Brasil - Consumo final de energia por fonte (%) ..................................... 24
Figura9: Brasil - Evolução prevista da matriz energética (milhões de tep) ........ 25
Figura10: Brasil - Consumo final energético por fonte (milhões de tep) ............. 26
Figura11: Consumo de carvão vegetal entre 2008 e 2016, por origem nativa e
floresta plantada, em milhões de toneladas ......................................................................... 28
Figura12: Produtividade e rotação média no Brasil versus outros importantes
players mundiais (m3/ha/ano) ................................................................................................. 29
Figura13: Distribuição espacial da produção de carvão vegetal em 2016 ......... 30
Figura14: Evolução da produção de carvão vegetal em Minas Gerais
comparada com Bahia e Maranhão (milhões de toneladas) ............................................. 31
Figura15: Evolução dos preços médios pagos aos produtores de carvão vegetal
em Minas Gerais, Maranhão e Bahia (R$/t) ......................................................................... 32
Figura16: Brasil - Áreas de árvores plantadas por estado e gênero, 2016. ....... 34
Figura17: Brasil - Principais pontos de consumo de carvão vegetal ................... 35
Figura18: Brasil -Evolução do consumo de carvão vegetal por tipo de uso ...... 36
Figura19: Mundo - Evolução da produção de aço (milhões de toneladas) ........ 38
Figura20: Mundo - Principais produtores de aço (%) ............................................ 38
Figura21: Principais destinos das exportações chinesas de aço ........................ 39
Figura22: Brasil - produção de aço bruto (1.000t) .................................................. 41
Figura23: Brasil - Evolução do consumo do carvão vegetal na produção de
ferro-gusa................................................................................................................................... 43

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Figura24: Os Custos de Produção de Ferro Primário de 10 Maiores Países
Produtores Mundiais de Aço (US$/t) ..................................................................................... 46
Figura25: Minas Gerais - Demanda de energia por fonte e por setor 2015 ....... 49
Figura26: Minas Gerais - Evolução da participação das fontes na demanda total
..................................................................................................................................................... 49
Figura27: Minas Gerais - Fluxo energético da fonte lenha e derivados 2015 ... 50
Figura28: Minas Gerais - Evolução do consumo do carvão vegetal ................... 51
Figura29: Minas Gerais e Brasil - Evolução da produção de ferro-gusa pelas
usinas independentes (1.000t) ............................................................................................... 53
Figura30: Evolução da produção de ferro-gusa das usinas integradas versus
evolução da produção do PIB brasileiro ............................................................................... 55
Figura31: Evolução da produção de ferro-gusa das usinas independentes
versus evolução da produção do PIB brasileiro .................................................................. 55
Figura32: Evolução da produção total de ferro-gusa versus evolução da
produção do PIB brasileiro ...................................................................................................... 56
Figura33: Brasil: Comparação do crescimento do PIB e do setor de ferro-gusa
..................................................................................................................................................... 56
Figura34: Evolução da produção de ferro-gusa da produção independente
versus evolução do PIB brasileiro.......................................................................................... 57
Figura35: Microrregiões da Zona da Mata MG ....................................................... 65
Figura36: IDH - Faixas de Desenvolvimento Humano .......................................... 66
Figura37: Entorno de Lamim - Mapa viário ............................................................. 72
Figura38: Lamim - Acessos - condição das estradas ............................................ 73
Figura39: Minas Gerais - Malha ferroviária ............................................................. 74
Figura40: Forno de encosta ou barranco, em Minas Gerais. ............................... 77
Figura41: Esquema ilustrativo da construção do forno de barranco de Minas
Gerais, com um corte na cúpula ............................................................................................ 78
Figura42: Forno ″rabo quente″ demonstrativo construído pelo CETEC MG em
1982 ............................................................................................................................................ 79
Figura 43: ilustração de um forno de superfície com chaminé lateral ................. 80
Figura 44: Forno de câmara externa Bateria Experimental da UnB no DF........ 80
Figura45: Fornos retangulares empregados pelos grandes produtores
integrados .................................................................................................................................. 81
Figura 46: Maquete com proposta de carvoaria com Forno – fornalha MF1 –
UFV – MG .................................................................................................................................. 82

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vii
Figura 47: Sistema forno fornalha UFV- com quatro fornos e uma fornalha
central com chaminé – poços de leitura da temperatura na unidade demonstrativa de
Lamim ......................................................................................................................................... 83
Figura 48: Vista frontal do sistema forno – fornalha UFV com medidas em
centimetros ................................................................................................................................ 86
Figura 49: Vista lateral do sistema forno – fornalha UFV com medidas em
centimetros ................................................................................................................................ 87
Figura 50: Planta baixa do sistema forno – fornalha com medidas em
centimetros ................................................................................................................................ 87
Figura 51: Vista em corte lateral com dimensões dos componentes da fornalha
..................................................................................................................................................... 89
Figura 52: Planta baixa da câmara de combustão e duto..................................... 90
Figura 53: forno – fornalha UFV de 12 estéreos. Fonte: Pesquisas com sistema
forno – fornalha UFV................................................................................................................ 98
Figura 54: 5 Forças de Porter .................................................................................. 125
Figura 55: Matriz SWOT ........................................................................................... 132

LISTA DE TABELAS

Tabela1 - Mundo-Taxa de crescimento da geração elétrica de base renovável


total e biomassa, em 2012 e nos cenários Novas Políticas, Políticas Atuais e Cenário
450 (% a.a.) ............................................................................................................................... 22
Tabela2 - Brasil - Oferta interna de energia (em tep) ............................................ 23
Tabela3 - Brasil - Área de árvores plantadas (1.000ha) ....................................... 34
Tabela4 - Brasil - Usos do carvão vegetal 2007-2016 (1000t) ............................. 36
Tabela5 - Exportações mundiais de gusa (milhões de toneladas) ...................... 40
Tabela6 - Brasil - Consumo de insumos de interesse do estudo pelo setor
siderúrgico (1000t) ................................................................................................................... 41
Tabela7 - BRASIL - Produção total de ferro-gusa (t) ............................................. 43
Tabela8 - Minas Gerais - Capacidade instalada e produção estimada de gusa
em 2017 por região (1000t) .................................................................................................... 44
Tabela9 - Mercado interno de gusa (1000t) ............................................................ 44
Tabela10 - Produção brasileira de fundidos em toneladas ................................... 45
Tabela11 - Situação dos plantios florestais em Minas Gerais de 2001–2014 ... 51
Tabela12 - Evolução da quantidade de lenha produzida no Brasil e em Minas
Gerais de 2004-2015 (Milhões de m3) .................................................................................. 52

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Tabela13 - Minas Gerais - Produção de ferro-gusa pelas usinas independentes
(t) ................................................................................................................................................. 52
Tabela14 - Produção de ferro-gusa pelas usinas independentes
porestado(1.000 t) .................................................................................................................... 54
Tabela15 - Fontes de financiamento florestal ......................................................... 63
Tabela16 - Fontes de financiamento florestal de interesse do projeto ............... 64
Tabela17 - Lamim - IDH TOTAL ............................................................................... 66
Tabela18 - Lamim - IDH EDUCAÇÃO ...................................................................... 67
Tabela19 - Lamim - IDH RENDA .............................................................................. 67
Tabela20 - LAMIM - INDICADORES SOCIAIS 2016............................................. 68
Tabela21 - Lamim - Estrutura fundiária.................................................................... 68
Tabela22 - Lamim - Evolução do rebanho bovino (animais) ................................ 70
Tabela23 - Custo matéria prima identificada em pesquisa efetuada por
Raad2018 .................................................................................................................................. 96
Tabela24 - Parâmetros adotados para os três cenários ....................................... 96
Tabela25–Projeção das Receitas ............................................................................. 97
Tabela26 - Custo de construção da unidade demonstrativa de Lamim.............. 98
Tabela27 - Custo de construção de quatro fornos de encosta em Lamim ......... 99
Tabela28–Fluxo do Processo Produtivo – Cenário 1 – U.D. Lamim ................. 101
Tabela29–Fluxo de Caixa – Cenário 1 – U.D. Lamim ......................................... 101
Tabela30–Indicadores da Viabilidade Econômica – Cenário 1 – U.D. Lamim 102
Tabela31–Fluxo do Processo Produtivo – Cenário 2 – Forno de Encosta ...... 103
Tabela32–Fluxo de Caixa – Cenário 2 – Forno de Encosta ............................... 103
Tabela33–Indicadores da Viabilidade Econômica – Cenário 2 – Forno de
Encosta .................................................................................................................................... 104
Tabela34–Fluxo do Processo Produtivo – Cenário 3 – Forno de Superfície ... 105
Tabela35–Fluxo de Caixa – Cenário 3 – Forno de Superfície ........................... 105
Tabela36–Indicadores da Viabilidade Econômica – Cenário 3 – Forno de
Superfície ................................................................................................................................. 106
Tabela37–Análise da Sensibilidade do Projeto - Custo de Aquisição da Madeira
................................................................................................................................................... 108
Tabela38–Análise da Sensibilidade do Projeto - Preço de Venda do Carvão . 109
Tabela39–estimativas do valor de CO2e ............................................................... 117

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Tabela40–Valor anual do CO2e evitado para 1 conjunto forno fornalha UFV
(R$) ........................................................................................................................................... 117
Tabela41–VPL em R$ do CO2e evitado com a adoção do sistema proposto
(fluxo de 10 anos) ................................................................................................................... 118
Tabela42–Avaliação Macroeconômica – Indicadores de Viabilidade ............... 119
Tabela43–Avaliação Macroeconômica – Fluxos de Caixa Sociaise VPL ........ 119
Tabela44–Matriz SWOT ........................................................................................... 134
Tabela45–Matriz de Marco Lógico.......................................................................... 145

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SIGLAS E ABREVIAÇÕES

€ - Euro
a.a. - Ao ano
ABRAF - Associação Brasileira de Florestas Plantadas
AMS - Associação Mineira de Silvicultura
ANM - Agência Nacional de Mineração
APL - Área de Proteção Legal
APP - Área de Preservação Permanente
BB - Banco do Brasil
B/C - Relação Benefício-Custo
BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
BP - British Petroleum
BTU - Britis htermal unit
C - Celsius
CAFIR - Cadastro de Imóveis Rurais
CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEI - Comunidade dos estados Independentes
CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais
CFEM - Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CIF - Cost, insurance and freight
cm - centímetro
CNT - Confederação Nacional dos Transportes
CO2 - Dióxido de Carbono
CO2e - Dióxido de Carbono equivalente
COFINS - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social
COP - Conferência das Partes
COP 21 - Conferência das Partes (Acordo de Paris)
CSLL - Contribuição Sobre o Lucro Líquido
DAP - Disposição a Pagar
DBS - Development Bank of Singapore
DRI - Direct Reduced Iron
EIA - U.S. Energy Information Administration
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EPA - Environment Protection Agency
EPE - Empresa de Pesquisa Energética
EVTE - Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica
FEA -Forno Elétrico a Arco
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
GBH - Grande Belo Horizonte
GEE - Gases do Efeito Estufa
ha - hectare
HBI - Hot-Briquetted Iron
IABr - Instituto Aço Brasil
IBÁ - Instituto Brasileiro de Árvores
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IDAF - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo
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xi
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IEA - International Energy Agency
IEF - Instituto Estadual de Florestas (MG)
IMA - Incremento Médio Anual
iNDC - Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas
INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social
IPEF - Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais
IRPJ - Imposto de Renda Pessoa Jurídica
ITR - Imposto Territorial Rural
JOF - Joint Operations Facility
m3 - Metro Cúbico
MDC - Metro de Carvão
MDIC - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
MDF - Medium Density Fireboard
MG - Minas Gerais
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MME - Ministério de Minas e Energia
MVC -Método do Valor Contingente
NDC - Contribuições Nacionalmente Determinadas
NDC - Nationa lDetermined Contributions
OECD - Organization for Economic Cooperation and Development
OH - Open Heart
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
OSB - Oriented Standard Board
PCI – Pulverized Coal Injection
PEVS - Produção da Extração Vegetal e Silvicultura
PIB - Produto Interno Bruto
PIS - Programa de Integração Social
PNMC - Política Nacional sobre Mudança de Clima
ppm - Partes por Milhão
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
RG - Rendimento Gravimétrico
RL - Reserva Legal
RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SINDIFER - Sindicato da Indústria de Ferro no estado de Minas Gerais
SINIMA - Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente
SNIF - Sistema Nacional de Informações Florestais
st - estéreo
SWOT - Strenghts, Weaknesses, Opportunities, Threats
t - Tonelada
TCFA - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental
TCFAMG - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental de Minas Gerais
tep - Tonelada Equivalente de Petróleo
TIR - Taxa Interna de Retorno
TWh - Terawatts hora
UD - Unidade Demonstrativa
UFV - Universidade Federal de Viçosa

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xii
UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
UPC - Unidade de Produção de Carvão
USA - United States of America
VPL - Valor Presente Líquido

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xiii
2 ESCOPO DO TRABALHO
Muito embora o presente estudo tenha como foco a produção de carvão
vegetal em pequenas unidades e para uso circunscrito ao mercado doméstico,
primordialmente em Minas Gerais, a análise efetuada das perspectivas do
cenário mundial de consumo de energia tem como principal utilidade uma visão
das expectativas com relação às suas fontes de geração, das quais a madeira -
notadamente o eucalipto - é parte integrante, concorrendo, portanto, com a
produção de carvão vegetal para uso siderúrgico. Note-se que, no geral, as
tendências globais comandadas pelos países mais desenvolvidos findam por
nortear o comportamento de todos os demais países, na medida em que
tecnologias novas e competitivas são difundidas - daí a utilidade dessa análise.
A partir dessas considerações, buscou-se configurar as principais tendências
do mercado brasileiro de siderurgia, tendo como pano de fundo as incertezas
decorrentes dos fatos novos relativos à geopolítica global, a recente crise
econômica por que passou o Brasil, com a consequente ruptura de tendências
e as oportunidades criadas pelos compromissos internacionais assumidos,
notadamente no âmbito do Acordo de Paris.
A análise segue afunilando até a captura das especificidades do estado de
Minas Gerais e do município de Lamim.
O EVTE segue os cânones usuais desse tipo de avaliação, evoluindo do
"ambiente do projeto", onde são descritos os fatores de contorno do
empreendimento proposto, como estratégias governamentais para o setor,
fontes gerais e específicas de financiamento, o diagnóstico econômico e social
da área do projeto, oferta e demanda do output e logística de distribuição.
O produto do projeto é descrito e seu processo comparado com outras
tecnologias em uso, sendo que outros componentes usuais da elaboração de
EVTE como localização e tamanho são dados, na medida em que se analisa a
viabilidade econômica de um protótipo já implantado.
Na sequência, são descritos os custos e receitas esperados, permitindo o
cálculo dos indicadores que sinalizam a viabilidade econômica do projeto, a
partir dos quais pode-se proceder à análise da competitividade da nova
tecnologia proposta.
É importante ressaltar que, esta é uma análise parcial: trata-se de uma
inovação tecnológica ainda em desenvolvimento, na medida em que - conforme
foi assegurado pela própria equipe de desenvolvimento do projeto, quando da
visita da Consultoria à UFV - aperfeiçoamentos ainda estão sendo estudados.
A análise evolui através de uma análise macroeconômica (também
denominada Análise Social), onde é realizada a avaliação do projeto pela ótica
macroeconômica, ou seja, seus impactos na sociedade como um todo. Tal
análise reveste-se de importância na medida em que pode ser elemento de
motivação para instâncias governamentais superiores e outras instituições com
atuação tanto nos setores de interesse dessa análise quanto com as questões
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
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14
ambientais identificarem interesse estratégico na implementação da nova
tecnologia, o que pode eventualmente significar a disposição de oferecimento
de novos incentivos ou aporte de recursos para sua disseminação.
Procedeu-se, a seguir, à análise determinada pelas "cinco forças competitivas
que moldam a estratégia", também denominada "cinco forças de Porter", a
partir das quais foram identificados os principais aspectos relevantes para o
sucesso da disseminação da tecnologia proposta. Essa análise é
complementada pela "Matriz SWOT", daí emergindo a estratégia proposta para a
multiplicação do projeto.
A análise conclui com a elaboração de um "Marco Lógico", instrumento de
monitoramento da evolução da estratégia de implantação e de avaliação dos
resultados obtidos.
A partir desses estudos é elaborada uma cartilha a ser distribuída a agentes
produtores de carvão no sentido de informar, quando da organização de eventos de
divulgação (palestras, dias de campo e outros veículos), os ganhos potenciais com a
adoção da nova tecnologia de forma a estimular sua adoção.

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15
3 ESTUDO DE MERCADO
3.1 ENERGIA: CENÁRIO INTERNACIONAL

Neste tópico, busca-se apresentar uma visão geral das perspectivas de


evolução do mercado mundial de energia, com ênfase no comportamento
recente e perspectivas futuras das fontes renováveis e suas implicações no
potencial de evolução para o carvão vegetal na área do estudo.
No ano de 2014, a matriz energética mundial era composta por: 31,1%
originada do petróleo e seus derivados, 29,0% do carvão mineral, 21,5% do
gás natural, 4,7% da nuclear, 2,5% da hidráulica e 11,3% de outras fontes,
como biomassa sólida e liquida, eólica, solar e geotérmica. As fontes
renováveis representaram 13,8% da matriz energética mundial, nas quais
considerou-se a soma da “hidráulica” e de "fontes renováveis" contidas em
“outras”1.
Segundo a mesma fonte,citando dados da BP Statistical Review of World
Energy, no ano de 2015, o petróleo foi a fonte de combustível dominante nos
países da África e Américas, enquanto o gás natural foi mais utilizado na
Europa, Eurásia e Oriente Médio. Na região da Ásia-Pacífico, o carvão mineral
foi o principal combustível utilizado. Os países do Oriente Médio utilizam quase
exclusivamente o petróleo e o gás natural, que perfizeram 98% do seu
consumo de energia. Esses dados são apresentados na Figura 1.
Vale mencionar, nos anos recentes, a mudança acelerada de perfil na rubrica
"outras energias renováveis", onde predominam em dinamismo as energias
eólica, solar e de biomassa2. Embora os dados globais disponíveis sejam
levemente defasados, a Figura2 é clara no que tange ao avanço dessas fontes.
É de se salientar que a geração hidrelétrica segue sendo a principal fonte
renovável, porém as taxas crescimento das demais fontes - fruto do
significativo avanço tecnológico, com grandes reduções de custos e
consequente aumento da competitividade - são notáveis.

1CARNEIRO, Angélica de Cássia Oliveira(2017-1): "Projeto: Unidade demonstrativa de


produção de carvão vegetal sustentável utilizando sistema forno-fornalha: Modelo UFV: Projeto
BRA/14/G31 PIMS 4675 siderurgia sustentável - Relatório Técnico I". Universidade de Viçosa,
21/07/2017, citando MME - Ministério de Minas e Energia. Resenha Energética Brasileira -
Exercício de 2014. Ministério de Minas e Energia.
2 Cf. DUHAMEL, Jonathan: "Impact of solar, wind electricity generation on our energy supply

and the environment". In Energy Matters, july 2014. Disponível em http://euanmearns.com/


author/roger/. Acesso em 02/02/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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16
FIGURA1: MUNDO - CONSUMO DE COMBUSTÍVEL POR REGIÃO EM 2015 (%).
FONTE: CARNEIRO (2017-1, OP. CIT.)

FIGURA2: MUNDO -EVOLUÇÃO DA GERAÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL (TRILHÕES DE BTU)


FONTE: ANDREWS, ROGER: "ENERGY MATTERS". DISPONÍVEL EM
HTTP://EUANMEARNS.COM/AUTHOR/ROGER/. CITANDO" THE COST OF 100% RENEWABLES: THE
JACOBSON ET AL. 2018 STUDY". ACESSO EM 02/02/2018.

Duas vertentes principais perpassam os prognósticos relativos à evolução


mundial da demanda e da oferta de energia nos médio e longo prazos: o
aspecto geopolítico e o aspecto tecnológico.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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17
No aspecto geopolítico, fatos novos nos estados Unidos são de grande impacto
global, destacando-se sua retirada do Acordo de Paris e - consequentemente -
as eventuais mudanças em relação às suas políticas de redução de emissões.
Por outro lado, o atual nível de tensões no Oriente Médio, assim como as
incertezas criadas pela crise político-econômica na Venezuela - principais
exportadores mundiais de petróleo - podem ter efeitos significativos nas
quantidades ofertadas e, em decorrência, nos preços do óleo.
O primeiro fato impacta diretamente o perfil da matriz energética dos Estados
Unidos - maior consumidor de energia do planeta, reinserindo no seu perfil de
consumo o carvão mineral, grande emissor de CO2 (dióxido de carbono). Por
outro lado, verifica-se lá a ocorrência de novas condições econômicas de
produção de óleo a partir da extração de "shale oil" (xisto betuminoso),
reinserindo este país entre os maiores produtores mundiais de combustíveis
fósseis.
O gráfico a seguir, elaborado antes dos fatos aqui comentados, apresenta a
expectativa de evolução da matriz energética dos estados Unidos para 20403:

FIGURA3: ESTADOS UNIDOS - CONSUMO DE ENERGIA PROJETADO (EM QUATRILHÕES DE BTU4)


FONTE: EIA - OP. CIT.

Como pode ser observado na Figura3 acima, previa-se forte retração no


consumo de carvão mineral, compensada por significativa aceleração do
consumo de gás natural e "outras energias renováveis" - perspectivas

3 Cf. EIA - U.S. ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION: "Annual energy outlook 2017
with projections to 2050". January 5, 2017. Disponível em www.eia.gov/aeo. Acesso em
12/02/2018.
4BTU - British Termal Unit (Unidade Térmica Britânica). É uma unidade de energia que é

equivalente a 252,2 calorias ou 1 055,05585 joules.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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18
consistentes com as metas do Acordo de Paris. Neste contexto, observa-se
ainda certo nível de estabilização na participação de bicombustíveis líquidos no
consumo.
A expectativa é de crescimento da demanda total de energia entre 2016 e 2040
da ordem de 20% (em torno de 0,8% ao ano - a.a.), inferior à perspectiva de
crescimento do Produto Interno Bruto - PIB pelo avanço tecnológico nos
ganhos de eficiência energética.
O outro aspecto a considerar é a expectativa com relação ao comportamento
dos países árabes na atual crise do Oriente Médio. Novas aproximações e
novos distanciamentos entre os países da região são esperados, porém suas
implicaçõesna oferta e no preço do petróleo são impossíveis de serem
antecipadas. Idêntico padrão de incertezas cerca a Venezuela - player
destacado neste mercado - nos dias atuais.
A Agência Internacional de Energia (IEA) projeta ao nível mundial, para as
fontes renováveis de energia, taxas de crescimento significativamente
superiores a outras fontes (Figura 4):5

FIGURA4: MUNDO -MÉDIA DE ADIÇÃO DE CAPACIDADE ENERGÉTICA POR TIPO


FONTE: IEA (2017 - OP. CIT.)

Ademais do esperado crescimento generalizado das fontes renováveis de


energia, chama a atenção a aceleração da taxa de crescimento prevista para a
energia solar, a que apresenta a mais acentuada evolução no período de
projeção considerado. Observa-se, também, leve aceleração da energia eólica
e pequena redução no crescimento de outras fontes renováveis. Particular
aspecto diz respeito ao carvão mineral, que sofre significativo decréscimo.
Energia nuclear - embora seja partícipe menor no contexto - cresce

5 Cf. IEA - International Energy Agency: "World energy outlook 2017". Disponível em
https://www.iea.org/weo2017/. Acesso em 12/02/2018.

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19
significativamente, enquanto o gás mantém, grosso modo, seu crescimento
histórico.
O Relatório da IEA 20146 aponta que as fontes renováveis de energia
capturarão ⅔ do investimento global em plantas energéticas até 2040, na
medida em que estas opções venham a se tornar, para vários países, o mais
baixo custo de nova geração. É ainda de se observar que, diferentemente da
África Subsaariana onde o carvão vegetal é usado diretamente no consumo
final das famílias, outros países em desenvolvimento - China e Índia em
particular - usam esta matéria prima para a produção principalmente de energia
elétrica. No Brasil seu uso principal é nos setores siderúrgico e energético.
Segundo essa fonte, o crescimento da energia renovável não será confinado
ao setor elétrico. Seu uso direto para prover aquecimento e mobilidade em todo
o mundo dobrará, embora partindo de uma base menor. Afirma que no Brasil a
participação do uso de energia renovável direta e indireta no consumo final
crescerá dos atuais 39% para 45% em 2040, comparados com uma progressão
global de 9% para 16% no mesmo período.
As expectativas de migração das fontes tradicionais de energia (óleo e carvão)
para gás e renováveis são também consideradas nas previsões da British
Petroleum(Figura 5)7:

6IEA - International Energy Agency (2014): "World Energy Outlook (WEO), 2014". Citado em
TOLMASQUIM, Maurício T. (Coordenador): "Energia termelétrica: gás natural, biomassa,
carvão, nuclear - 2016. Disponível em: https://www.google.com.br/search?tbm=isch
&sa=1&ei=blUdWoa2D4iDwQSwh56IAQ&q=tolmasquim+ENERGIA+TERMEL%C3%89TRICA
&oq=psyab.3.47966.52291.0.53365.20.20.0.0.0.0.162.2166.0j18.18.0....0...1c.1.64.psyab..2.0.0
....0.c7tlC1PZrMU#imgrc=L3b4vvOv39L6tM. Acesso em 12/02/2018.
7Cf. BRITISH PETROLEUM - BP: "2017 Energy Outlook". Disponível em
https://www.bp.com/content/dam/bp/pdf/energy-economics/energy-outlook-2017/bp-energy-
outlook-2017.pdf Acesso em 02/02/2018.

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20
FIGURA5: MUNDO - EVOLUÇÃO PREVISTA DA PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DAS DIVERSAS FONTES NO
CONSUMO DE ENERGIA (%)
FONTE: BP OUTLOOK - OP. CIT.

Finalmente, tem-se a análise elaborada pela IEA (2014 - Op. Cit.) onde o
crescimento global da oferta de bioenergia é visto com otimismo. Em sua
publicação de 2014, a Agência traça três cenários para o futuro da oferta de
energia:
1) manutenção das políticas atuais;
2) introdução de políticas de incentivo de fontes renováveis e mitigação
de emissões; e
3) limitar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera em 450
ppm para evitar um aumento superior à 2ºC na temperatura global
média.
A geração de bioeletricidade conforme estes cenários é mostrada na Figura 6,
em TWh (terawatts hora).

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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21
FIGURA6: MUNDO - GERAÇÃO ELÉTRICA DE BASE RENOVÁVEL TOTAL E BIOMASSA, EM 2012 E NOS
CENÁRIOS NOVAS POLÍTICAS, POLÍTICAS ATUAIS E CENÁRIO 450 (TWH)
Fonte: IEA 2014, citado em TOLMASQUIM (Op. Cit.)

Observa-se da Figura6 que, independentemente do cenário considerado, a


geração elétrica de base renovável perde um pouco do dinamismo anterior,
mantendo entretanto taxas significativas de crescimento, como apresentado na
Tabela 1 a seguir.

TABELA1 - MUNDO-TAXA DE CRESCIMENTO DA GERAÇÃO ELÉTRICA DE BASE RENOVÁVEL TOTAL E


BIOMASSA, EM 2012 E NOS CENÁRIOS NOVAS POLÍTICAS, POLÍTICAS ATUAIS E CENÁRIO 450 (% A.A.)

Fonte dos dados primários: Figura 6.Elaboração própria.

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22
3.2 PERSPECTIVAS NO BRASIL

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2017)8, a produção


brasileira de energia primária foi, em 2016, de 294,7 milhões de tep (toneladas
equivalentes de petróleo), crescimento de 2,95% em relação ao ano anterior.
Do total produzido, 58,5% referem-se a energia não renovável, com o petróleo
e gás natural respondendo por 97% deste subtotal. Interessante notar que, de
particular interesse para esta análise, a EPE informa que o carvão mineral-
concorrente direto do carvão vegetal na siderurgia - segue com produção
nacional nula, fato que vem ocorrendo desde 2010. Assim sendo, é de se notar
que todo o carvão mineral utilizado é proveniente de importações e, portanto,
com seu preço sujeito à flutuação do Dólar.
No que tange à energia renovável, 41,5% do total produzido, destacam-se os
produtos da cana-de-açúcar, com 41,5% do subtotal. A produção de energia a
partir da lenha - 23,1tep - respondeu por 18,9% da geração de energia
renovável, ou 7,8% da geração total - uma queda superior a 7% em relação ao
ano anterior.
A Tabela2, seguida da Figura 7, apresentam a série histórica da oferta interna
de energia, em tep.

TABELA2 - Brasil - Oferta interna de energia (em tep)

Fonte:EPE (2017 - Op. Cit.)


* Petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio, outras.** Eólica, solar, outras renováveis

8
EPE - Empresa de Pesquisa Energética: "Balanço Energético Nacional - 2017". Disponível
em https://ben.epe.gov.br/. Acesso em 25/03/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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23
FIGURA7: BRASIL - OFERTA INTERNA DE ENERGIA
Fonte: EPE (2015)9

Um aspecto de relevância para o presente estudo é a substancial perda de


espaço da lenha no contexto energético do país: de uma participação de 45%
no consumo final total de energéticos em 1970 para cerca de 8% em 2016.
Políticas severas com relação ao uso de mata nativa, maior eficiência na
fiscalização e, até certo ponto, restrições e/ou esgotamento da capacidade de
expansão da fronteira da agropecuária respondem por esta tendência (Figura
8, a seguir).

FIGURA8: BRASIL - CONSUMO FINAL DE ENERGIA POR FONTE (%)


Fonte: EPE 2015 (Op. Cit.)

9EPE - EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (2015). Brasil. Balanço energético nacional


2015: relatório síntese-ano base 2014. Rio de Janeiro: EPE, 2015. Disponível em:
https://ben.epe.gov.br/downloads/S%C3%ADntese%20do%20Relat%C3%B3rio%20Final_2015
_Web.pdf>. Acesso em 10/04/2018.

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24
Em termos de expectativas para o Brasil, as projeções de demanda até 2050,
por setor da economia, elaboradas pelo MME - Ministério de Minas e Energia10,
estão apresentadas na Figura 9,11.

FIGURA9: BRASIL - EVOLUÇÃO PREVISTA DA MATRIZ ENERGÉTICA (MILHÕES DE TEP)


FONTE: MME (OP. CIT).

Por fonte de energia, a projeção é como se segue:

10 Cf. BRASIL - Ministério das Minas e Energia- EPE:"Demanda de energia 2050" .Nota
técnica DEA 13/15 - série "Estudos de Demanda de Energia". Janeiro 2016. Disponível em
http://antigo.epe.gov.br/Estudos/Documents/DEA%201315%20Demanda%20de%20Energia%2
02050.pdf. Acesso em 15/03/2018.
11OBSERVAÇÃO: Vale mencionar que as projeções foram elaboradas anteriormente à crise

econômica pela qual passou o Brasil no triênio 2015-2017. Entretanto, admitindo-se que a
economia já apresenta sintomas de recuperação no rumo de sua trajetória mais frequente,
pode-se considerar as projeções por uma ótica de "configuração de longo prazo", abstraindo-se
os números absolutos.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
25
FIGURA10: BRASIL - CONSUMO FINAL ENERGÉTICO POR FONTE (MILHÕES DE TEP)
FONTE: MME (OP. CIT).

Observe-se que a participação do carvão vegetal no consumo final total cai de


4,2% em 2013 para 3,7% em 2030, recuperando ligeiramente para 3,8% em
2050 (MME, Op. Cit.): "A produção siderúrgica a carvão vegetal, por sua vez,
ainda que apresente expansão, o faz de maneira pouco mais lenta do que o
consumo energéticototal da indústria."
Segundo Gentil12,
O cenário mundial da agricultura, energia e geopolítica muda
rapidamente. Países com maior potencial para produzir energia
de forma renovável a um custo baixo e oferta abundante
possuem maiores chances de aproveitar as oportunidades do
mercado. Com disponibilidade de grandes extensões de terras
aptas e ociosas, além de clima favorável e elevado grau de
avanço em tecnologia agropecuária, o Brasil está em posição
privilegiada em relação a outros países produtores.
Ainda segundo este autor,

12GENTIL, Luiz Vicente e F. Faggion: "Desafios da produção no Brasil". FGV EESP Centro de
estudos de agronegócios - Fevereiro de 2014. Disponível em
http://www.agroanalysis.com.br/2/2014/agroenergia/bioenergia-desafios-da-producao-no-brasil.
Acesso em 02/12/2017.

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26
No âmbito mundial, o Brasil apresenta a maior participação de
energia renovável na composição da matriz energética, com
42,4%, sendo 15,4% de cana-de-açúcar; 13,8%, de
hidroeletricidade; 9,1%, de lenha/carvão; e 4,1%, de licor negro
das indústrias de papel. Todas estas fontes de energia
mostram reais possibilidades de expansão, devido à existência
e disponibilidade de fábricas, infraestruturas e tecnologias
maduras e lucrativas.
De particular interesse para este estudo,Gentil citaque os resíduos madeireiros
das serrarias e sua indústria de transformação somam 21 milhões de toneladas
por ano e possuem um potencial bioelétrico de cogeração de 116,0 TWh, o que
representa23,3% da demanda do Brasil em 2012, que foi de 498,4 TWh.
De acordo com o IBA, com uma área de 7,84 milhões de hectares de
reflorestamento, o setor brasileiro de florestas plantadas é responsável por
91% de toda a madeira produzida para fins industriais e 6,2% do PIB Industrial
no País.É, também, um dos segmentos com maior potencial de contribuição
para a construção de uma economia verde13. Os plantios de eucalipto ocupam
5,7 milhões de hectares da área de florestas plantadas do País e estão
localizados,principalmente, em Minas Gerais (24%), em São Paulo (17%) e no
Mato Grosso do Sul (15%).
Da área plantada por segmento industrial no Brasil em 2016, 34% pertencem
às empresas do segmento de celulose e papel. Em segundo lugar, com 29%,
encontram-se proprietários independentes e pequenos e médios produtores do
programa de fomento florestal, que investem em plantios florestais para
comercialização da madeira in natura. Na terceira posição, está o segmento de
siderurgia a carvão vegetal, que representa 14% da área plantada no país (IBÁ,
Op. Cit).

13Cf. IBÁ - Indústria Brasileira de Árvores. "Relatório 2017". Disponível em http://iba.org/


images/shared/Biblioteca/IBA_RelatorioAnual2017.pdf. Acesso em 15/03/2018.

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27
FIGURA11: CONSUMO DE CARVÃO VEGETAL ENTRE 2008 E 2016, POR ORIGEM NATIVA E FLORESTA
PLANTADA, EM MILHÕES DE TONELADAS
Fonte: IBÁ (Op. Cit)..
Há que se mencionar que o setor madeireiro brasileiro apresenta a maior
produtividade, medida em volume de madeira produzida por unidade de área
ao ano, e a menor rotação do mundo, que equivale ao tempo decorrido entre o
plantio e a colheita das árvores comparativamente a outros países produtores
de eucalipto. Esses altos índices resultam tanto das condições de clima e solo
quanto dos investimentos contínuos das empresas do setor da silvicultura no
Brasil para aprimorar o manejo florestal. Em 2016 o Brasil liderou o ranking
global de produtividade florestal com uma média de 35,7 m³/ha ao ano para os
plantios de eucalipto e 30,5 m³/ha ao ano nos plantios de pinus, de acordo com
as informações reportadas pelas principais empresas do setor(Fig. 12, a seguir)
(IBÁ, Op. Cit):

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28
FIGURA12: PRODUTIVIDADE E ROTAÇÃO MÉDIA NO BRASIL VERSUS OUTROS IMPORTANTES PLAYERS
MUNDIAIS (M3/HA/ANO)
Fonte: IBÁ (Op. Cit.)

Já segundo Simioni et alli14:


Dados do segmento da produção florestal demonstram a alta
produtividade e competitividade dos plantios florestais para a
produção de madeira no Brasil. De acordo com a Indústria
Brasileira de Árvores (IBÁ, Op. Cit.), a produtividade medida pelo
incremento médio anual (IMA) dos plantios de eucalipto das suas
empresas associadas foi de 39m³/ha.ano em 2014.
Ainda de acordo com o mesmo autor, considerando todo o Brasil, tem-se
poderoso argumento para manter os incentivos à silvicultura:
Apesar dos altos rendimentos alcançados pela silvicultura
brasileira, a produção de carvão vegetal ainda utiliza parcela
significativa de madeira de florestas nativas como matéria-prima.
De acordo com dados da Associação Mineira de Silvicultura
(2009), as plantações florestais não são capazes de suprir toda a
demanda das empresas, havendo um déficit anual médio de
quase 50% (no mínimo 100 mil ha), suprido com resíduos e
manejo de florestas naturais.
A distribuição espacial da produção de carvão vegetal no Brasil é apresentada
na Figura13, a seguir.

14
SIMIONI F. J., Moreira J. M. M. Á. P., Fachinello A. L., Buschinelli C. C. de A. , Matsu M.
I. da S. F.. "Evolução e concentração da produção de lenha e carvão vegetal da silvicultura no
Brasil". Ciência Florestal, Santa Maria, v. 27, n. 2, p. 731-742, abr.-jun., 2017.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
29
FIGURA13: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM 2016
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Produção da Extração Vegetal e
da Silvicultura

O Brasil vem aumentando a sua produção de lenha oriunda da silvicultura ao


longo da última década, passando de 30 para 55,2 milhões de m3 no período
de 2001 a 2013, com uma taxa geométrica média de crescimento de 6,28% ao
ano ao longo do período analisado. Considerando o mesmo período, a
produção total de lenha (de origem nativa e silvicultura) passou de 79,0 para
86,3 milhões de m³, de maneira que a participação percentual da lenha
produzida no país proveniente de florestas plantadas saltou de 38,0% para
mais de 64% (Simioni- Op. Cit.).
A região geográfica com maior produção é o Sul do país, seguida pela região
Sudeste, que juntas respondem por mais de 86% da produção de lenha da
silvicultura nacional. A região Sul aumentou em 92% a sua produção no
período analisado, enquanto que a produção da região Centro-Oeste cresceu
351% e a região Sudeste apresentou crescimento modesto de 43%. Esse
aumento da produção de lenha da silvicultura decorre, em parte, da
substituição de extração vegetal pela silvicultura dada a maior atuação de

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
30
órgãos fiscalizadores e ambientais e pela expansão da silvicultura no Centro-
Oeste (Simioni - Op. Cit.).
A produção de lenha passou de 94.279 mil toneladas, em 2008 (ano em que a
produção atingiu o maior volume nos últimos anos), para 79.290 mil toneladas
em 2013, representando uma redução de 15,9% no período. Cerca de 1,4% da
produção foi utilizada para geração de energia elétrica, 32,8% foi transformada
em carvão vegetal e 65,8% destinou-se ao consumo final energético. Do que
foi destinado ao consumo final, 47,6% foi consumido pelas indústrias, 35,5%
pelas residências, 16,3% pelo setor agropecuário e 0,6% pelo setor comercial
(Simioni - Op. Cit.).
O segmento industrial que mais utiliza a lenha é o setor de cerâmica, seguido
de alimentos e bebidas e papel e celulose. Já a produção de carvão vegetal,
em 2013, atingiu 6.615 mil toneladas, uma redução de 34,5% em relação a
2004, quando a produção atingiu o maior volume nos últimos dez anos. As
indústrias de ferro-gusa e aço consumiram naquele ano 72,6% do carvão
produzido no Brasil (EPE- Op. Cit., Simioni - Op. Cit.).
Observou-se um crescimento da produção em polos já constituídos,
especialmente nos estados do Paraná e Santa Catarina para a lenha, e Minas
Gerais para o carvão vegetal. Isso indica um crescimento da concentração da
produção nas regiões tradicionais. A região Centro-Oeste se destacou pelo
crescimento dos preços da lenha. Observou-se na região um grande
crescimento da demanda de lenha em razão das necessidades de secagem de
grãos, enquanto a produção regional não acompanhou o avanço da demanda.
A produção de carvão vegetal segue a demanda da indústria siderúrgica. Os
anos 2000 apresentam intensa elevação da produção a partir de florestas
plantadas, comportamento contrário ao observado nos anos 90 (Figuras 14 e
15, a seguir).

FIGURA14: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM MINAS GERAIS COMPARADA COM


BAHIA E M ARANHÃO (MILHÕES DE TONELADAS)
Fonte:Simioni (Op. Cit.)

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
31
FIGURA15: EVOLUÇÃO DOS PREÇOS MÉDIOS PAGOS AOS PRODUTORES DE CARVÃO VEGETAL EM
MINAS GERAIS, M ARANHÃO E BAHIA (R$/T)
Fonte:Simioni (Op. Cit.).

Simioni (Op. Cit.) ainda observa que a produção nacional de lenha e carvão da
silvicultura tem sido insuficiente para atender à demanda, o que se reflete no
comportamento dos preços observados nas diversas regiões do país, mesmo
considerando a retração da economia nos anos recentes. Isso acaba por
ampliar a “pressão” por esses produtos da floresta nativa, em especial, do
Cerrado Brasileiro. Esse quadro tem gerado a necessidade de ampliar o
espaço produtivo e, sobretudo, o desenvolvimento de alternativas e novas
tecnologias para o uso eficiente desses recursos.
Esse autor ainda chama a atenção para o fato de que a concentração da
produção não apresentou grandes variações na distribuição geográfica da
produção de lenha e de carvão vegetal da silvicultura no Paísnos últimos 20
anos. Isso evidencia que houve crescimento na produção de lenha e carvão
vegetal. O fenômeno ocorreu não apenas em regiões que não produziam
madeira para fins energéticos, mas também nas regiões tradicionalmente
produtoras de madeira para energia no Brasil. Observou-se que houve também
uma concentração da produção de lenha da silvicultura nas regiões Sul e
Sudeste, e a concentração da produção de carvão vegetal nas regiões Sudeste
e Nordeste.
Paradoxalmente - e apresentando certa discrepância na análise de Simioni -
vale ressaltar que o preço do carvão em Minas Gerais seguiu caindo após
2013, segundo apurado na pesquisa de campo, fruto da recessão nacional e da
desaceleração da demanda internacional e seus impactos no setor metalúrgico
brasileiro, desestimulando fortemente a atividade no setor.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
32
Segundo Mancini,15 citando dados da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), em todo o País tem-se 1.108 empreendimentos hidrelétricos e 1.807
termelétricos. Dessas, apenas 51 termelétricas (2,8%) usam madeira (cavacos,
maravalhas e lenha) como combustível.
Cumpre ressaltar - o que é de conhecimento geral - que o Brasil tem um vasto
estoque de terras aptas à produção agrícola, ao que deve ser acrescentado
que apresentam possibilidade de produção o ano inteiro - o que não ocorre em
outros países com potencial produtivo, onde invernos rigorosos impedem a
prática da agricultura em boa parte do ano. Assim, pode-se afirmar que o Brasil
apresenta abundância e potencial de crescimento da oferta de matérias-primas,
domínio pleno da tecnologia e capacidade gerencial para multiplicar suas
fontes renováveis.
Em 2016 a área total de árvores plantadas no Brasil apresentou crescimento de
0,5% em relação ao ano de 2015, (cf. IBÁ - Op. Cit.) devido exclusivamente ao
aumento das áreas com eucalipto. As áreas com pinus e outros gêneros
permaneceram inalteradas no período.Nos últimos cinco anos,o crescimento da
área de eucalipto foi de 2,4% a.a. O Mato Grosso do Sul tem liderado esta
expansão, registrando aumento de 400 mil hectares neste período, com uma
taxa média de crescimento de 13% a.a. Essa distribuição é apresentada na
Figura 16.

15MANCINI, Sandro Donini: “Como funciona uma termelétrica”.Equipe Online,


2014.Disponível em https://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/551557/como-funciona-uma-
termeletrica. Acesso em 02/02/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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33
FIGURA16: BRASIL - ÁREAS DE ÁRVORES PLANTADAS POR ESTADO E GÊNERO, 2016.
FONTE: IBÁ (OP. CIT.)

Observe-se que os dados diferem com relação a outras fontes, como o Sistema
Nacional de Informações Florestais - SNIF16 que, em termos de evolução
recente, apresenta os dados são como se segue:

TABELA3 - BRASIL - ÁREA DE ÁRVORES PLANTADAS (1.000HA)

Fonte: SNIF (Op. Cit.)

Segundo a mesma fonte, da área total de 7.544 mil hectares de árvores de


eucalipto plantadas no Brasil em 2016, 34% pertence às empresas do
segmento de celulose e papel. Em segundo lugar, com 29%, encontram-se
proprietários independentes e pequenos e médios produtores do programa de
fomento florestal, que investem em plantios florestais para comercialização da
madeira in natura. Na terceira posição, está o segmento de siderurgia a carvão
vegetal, que representa 14% da área plantada.
Um dos principais insumos da indústria siderúrgica nacional, o consumo de
carvão vegetal registrou em 2016 queda de 2,2% em relação a 2015 e
encerrou o ano com 4,5 milhões de toneladas consumidas. A madeira oriunda
de árvores plantadas foi a matéria-prima utilizada em 84% do total de carvão
consumido no País em 2016. O leve crescimento de dois pontos percentuais
em relação ao ano anterior permitiu a manutenção das mesmas 3,8 milhões de
toneladas de origem renovável registradas em 2015 (Cf. IBÁ- Op. Cit.). Outra
fonte - o IBGE/PEVS17 - sugere que a participação da silvicultura na produção
de carvão vegetal foi, em 2016, próxima de 90%.
A redução observada no consumo de carvão ocorreu, então, principalmente em
relação ao produto originado de florestas nativas, provavelmente em
decorrência da intensificação da fiscalização ambiental sobre a origem do

16SNIF - Sistema Nacional de Informações Florestais, integrado ao SINIMA - Sistema Nacional


de Informações sobre o Meio Ambiente. (Dados atualizados em 24/11/2017), disponível em .
http://www.florestal.gov.br/snif/recursos-florestais/as-florestas-plantadas, acesso em
09/04/2018.
17IBGE - Produção da extração vegetal e da silvicultura PEVS. Disponível em

https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/agricultura-e-pecuaria/9105-
producao-da-extracao-vegetal-e-da-silvicultura.html?=&t=o-que-e. Acesso em 04/06/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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34
carvão consumido nas siderúrgicas de Minas Gerais. A Lei 18.365/2009, que
alterou a legislação florestal naquele estado, determina a redução progressiva
do consumo de produtos ou subprodutos originados da vegetação nativa, em
especial o carvão vegetal.
No Brasil, existem mais de 120 indústrias que utilizam carvão vegetal no
processo de produção de ferro-gusa, de ferroligas e de aço (IBÁ, Op. Cit,).
Para 2016, o autor estima que essas indústrias permaneceram operando com
uma taxa média de utilização de 50%. Além disso, vários produtores de ferro-
gusa e de ferroligas a base de carvão vegetal encerraram suas atividades no
ano passado (Figura 17).

FIGURA17: BRASIL - PRINCIPAIS PONTOS DE CONSUMO DE CARVÃO VEGETAL


Fonte: IBÁ - Op. Cit.

Finalmente, cumpre apresentar a evolução do consumo de carvão vegetal nas


indústrias que concorrem com seu uso energético: cimento, ferro-gusa, aço e
ferroligas. Os usos do carvão vegetal no Brasil são apresentados na Tabela4 a
seguir.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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35
TABELA4 - BRASIL - USOS DO CARVÃO VEGETAL 2007-2016 (1000T)

Fonte: EPE 2017 (Op. Cit,)

Depreende-se da Tabela4 que o consumo de carvão vegetal vem decrescendo


de forma acelerada nos últimos anos em todos seus usos - notadamente no
setor industrial siderúrgico (ferro-gusa, aço, ferroligas, não ferrosos e outros da
metalurgia) como é visualizável na Figura 18 a seguir, onde se apresenta a
correlação entre o consumo industrial (siderurgia) e o consumo total de carvão.

FIGURA18: BRASIL -EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE CARVÃO VEGETAL POR TIPO DE USO


Fonte dos dados primários: Tabela 4. Elaboração própria.

Apenas como constatação adicional, o coeficiente de correlação entre o


consumo total de carvão vegetal e o consumo específico na siderurgia é de
0,997, significando que 99,7% da variação do consumo total de carvão é
explicado pela variação do consumo no setor metalúrgico. Ou seja, a queda do
consumo é quase totalmente explicada pela queda da produção na siderurgia
brasileira.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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36
4 FERRO-GUSA E AÇO
4.1 CENÁRIO MUNDIAL

De interesse direto neste estudo,é digno de nota -na medida em que afeta
diretamente as perspectivas de exportações brasileiras -o comportamento
recente dos Estados Unidos com a imposição de sobretaxa de importação ao
aço e ao alumínio.Muito embora o procedimento seja, fundamentalmente,
dirigido aos produtos oriundos da China, o fato implica em forte re(des)arranjo
no mercado internacional, com consequências imprevisíveis, pelo menos, no
curto e médio prazos.
Há ainda que se mencionar que a produção mundial já vem de alguns anos
apresentando estagnação, função da crise internacional e consequnte
desaceleração da demanda principalmente na China. Segundo estimativas da
OECD - Organization for Economic Cooperation and Development18 - as
expectativas de crescimento da demanda até 2035 situam-se entre 0,4% a.a.
(cenário "radical") e 1,4% a.a. (cenário base), com uma estimativa intermediária
de crescimento de 1,1% a.a. em função de rupturas possíveis no mercado.
Ressalta-seque estas projeções foram realizadas antes do anúncio da
sobretaxa imposta pelos Estados Unidos à China.
As Figuras 19 e 20 apresentam, respectivamente, a trajetória recente da
produção mundial de aço19 e a participação dos principais players do
mercado20.

18OECD/ACCENTURE STRATEGY: "Steel demand beyond 2030 - forecast scenarios". Paris,


September 28, 2017. Disponível em https://www.oecd.org/industry/ind/Item_4b_Accenture_
Timothy_van_Audenaerde.pdf. Acesso em 15/03/2018.
19WORLD STEEL ASSOCIATION: "Steel Association Yearbook 2017". Disponível em

https://www.worldsteel.org/media-centre/press-releases/2017/worldsteel-2017-steel-statistical-
yearbook-now-available-online0.html. Acesso em 15/02/2018.
20PETROFF, Alana: "The global steel industry by the numbers". Disponível em
http://money.cnn.com/2018/03/02/news/economy/steel-industry-statistics-us-china-
canada/index.html. Acesso em 15/03/2018.

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37
2.000
PRODUÇÃO MILHÕES

1.500
TONELADAS

1.000

500

0
2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
ANOS

FIGURA19: MUNDO - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE AÇO (MILHÕES DE TONELADAS)


Fonte dos dados primários: World Steel Association (Op. Cit.). Elaboração própria.

FIGURA20: MUNDO - PRINCIPAIS PRODUTORES DE AÇO (%)


Fonte: Petroff (Op. Cit.)

A China é o maior exportador mundial de aço. Segundo o Departamento de


Comércio dos Estados Unidos21, a China exportou, em 2017, 73,3 milhões de
toneladas métricas de aço - já uma queda de 31% em relação aos 106,6
milhões exportados em 2016, correspondentes a cerca de 23% de todo aço
exportado globalmente.
A Figura21 exibe os principais destinos das exportações chinesas em 2017.

21DEPARTMENT OF COMMERCE - United States of America: "Global Steel Trade Monitor,


March 2018: Steel exports report - China". Disponível em https://www.trade.gov/steel/
countries/pdfs/exports-china.pdf. Acesso em 15/03/2018.

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38
FIGURA21: PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES CHINESAS DE AÇO
Fonte: Department of Commerce (Op. Cit.)
Em síntese: responsável por 49% da produção e 23% das exportações
mundiais de aço, é de se prever que, a se sustentar a política norte-americana,
a China promoverá um significativo rearranjo em todo o mercado mundial na
busca de colocações alternativas para seu excedente exportável, de grande
importância para ocupar sua grande capacidade produtiva ociosa.
Outra fonte, o DBS22, já sinalizava, antes da medida protecionista norte-
americana,com uma perspectiva de estagnação do mercado mundial de aço
devido a excesso de capacidade - particularmente na China. Afirma que, a
produção cresceu de 188 milhões de toneladas, em 1950, para 1,62 bilhões,
em 2015, principalmente,estimulada pela forte demanda chinesa,
particularmente no período 2000-2014.
A análise do DBS projeta relativa estagnação do mercado para os próximos 10
a 15 anos devida, principalmente, à expectativa de estabilização da demanda
chinesa, sem perspectivas de surgimento de outra economia capaz de
compensar o dinamismo e porte daquele país.
Outros componentes podem ser agregados à explicação desta quedade
demanda do mercado:
• Redução das importações do Japão (1,5 milhões toneladas/ano),
estados Unidos (2,2 milhões de toneladas/ano) e União Europeia (1,0
milhão de toneladas/ano);

22DBS BANK Development Bank of Singapore:"Asian Insights: Oversupply in the steel sector
- Challenges and opportunities". July 2016. Disponível em https://www.dbs.com.sg
/.../pdfController.page?...global_steel. Acesso em 15/03/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
39
• As importações americanas de DRI (Direct Reduced Iron) /HBI (Hot-
Briquetted Iron) de Trinidad e Tobago contribuíram para sua redução de
compras de gusa.
Essa redução de mercado mundial de gusa afetou mais acentuadamente o
Brasil, como se vê na Tabela5. O fato se explica pela perda de sua
competitividade frente aos maiores exportadores mundiais de gusa, os países
da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), especialmente Rússia e
Ucrânia, detentores de usinas de grande porte, com bom nível tecnológico e,
também, de jazidas próprias de minério de ferro e carvão mineral. Deste modo,
conseguem ter preços competitivos, quando comparados ao do Brasil

TABELA5 - EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE GUSA (MILHÕES DE TONELADAS)

Fonte: J. Mendo Consultoria23,

Mais recentemente, com a redescoberta da exploração do shalegas no USA,


outros metálicos (DRI/HBI) representam grande ameaça para o gusa brasileiro,
que tinha esse país como o destino de mais de 50% das suas exportações, por
apresentarem preços mais competitivos
Em síntese, o cenário, que já era de perspectiva de estagnação, agrava-se
com o comportamento recente dos Estados Unidos, player crítico no mercado
mundial, sinalizando - pelo menos no que tange aos curto e médio prazos -
com forte desarranjo do mercado e perspectivas pessimistas de evolução.

4.2 O CENÁRIO BRASILEIRO

Segundo as estatísticas do MME - Ministério de Minas e Energia do Brasil24, o


País vem apresentando redução sistemática na produção de aço bruto, como
pode ser visualizado na Figura22 a seguir.

23J.MENDO CONSULTORIA: "Mapeamento e análise do perfil produtivo e comercial do setor


de ferro-gusa, aço e ferroligas relacionado ao carvão vegetal e seus coprodutos no Brasil e em
Minas Gerais". (Uso Restrito), Belo Horizonte, Dezembro de 2017.
24 MME - Ministério de Minas e Energia. Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação

mineral.Departamento de Transformação e Tecnologia Mineral."Anuário estatístico do setor


metalúrgico 2016". Disponível em http://www.mme.gov.br/web/guest/secretarias/geologia-
mineracao-e-transformacao-mineral/publicacoes. Acesso em 20/04/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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40
FIGURA22: BRASIL - PRODUÇÃO DE AÇO BRUTO (1.000T)
Fonte: MME (Op. Cit.)

Cabe mencionar que a produção, em 2015, correspondeu a uma utilização de


68% da capacidade instalada de 49 milhões de toneladas. O MME, citando o
IABr - Instituto Aço Brasil, infere que esses números são reflexo do cenário
político-econômico nacional e da contínua perda de competitividade sistêmica
que atinge a indústria brasileira do aço, além de outros fatores como o excesso
de capacidade de produção de aço no mundo, estimada em 719 milhões de
toneladas.
O consumo de insumos pelo setor comportou-se, no período 2011 a 2015,
conforme apresentado na Tabela6, a seguir:

TABELA6 - BRASIL - CONSUMO DE INSUMOS DE INTERESSE DO ESTUDO PELO SETOR SIDERÚRGICO


(1000T)

Fonte: MME (Op. Cit.).


*Carvão pulverizável

Em 2015, segundo o Sindicato da Indústria do Ferro no estado de Minas Gerais


– SINDIFER,a produção brasileira de ferro-gusa foi de 32,1 milhões de

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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41
toneladas, superior em 0,8%, à de 2014. As usinas integradas representaram
84,6% desse total25.
Nesse mesmo ano(2015),a produção de gusa da siderurgia a coque foi de 25,6
milhões de toneladas, enquanto 6,5 milhões de toneladas foram produzidas
usando carvão vegetal como redutor (2,2 milhões de toneladas produzidas
pelas usinas integradas e 4,3 milhões de toneladas pelos produtores
independentes). Em 2016 - os dados mais recentes do SINDIFER - verificou-se
uma queda geral da produção, função da crise econômica por que passou o
Brasil.
A indústria de ferro-gusa produz ferro-gusa para fundição e ferro-gusa para
aciaria. O gusa de fundição é utilizado pelas indústrias de autopeças em
forjados, enquanto o de aciaria é predominantemente exportado.
No estado de Minas Gerais está localizado o maior número de usinas de ferro-
gusa (usinas independentes). Em 2015 (último dado disponível ao nível
nacional), a produção de Minas Gerais representou 59,5% do total da produção
das usinas independentes. A produção abastece o mercado interno e o
excedente é exportado.
Como era de se esperar, a utilização do carvão vegetal é uma demanda
derivada do setor siderúrgico, donde a queda em seu consumo ser diretamente
associada à retração da siderurgia no Brasil (SINDIFER, Op. Cit.). Note-se que
o impacto da retração deu-se primordialmente nas usinas independentes
consumidoras de carvão vegetal, como pode ser visualizado na Tabela7
adiante.

25SINDIFER - Sindicato da Indústria do ferro do estado de Minas Gerais: "Anuário


estatístico 2016". Disponível em http://www.sindifer. com.br/institucional/anuario/anuario
_2016.pdf. Acessado em 15/03/2018

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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42
TABELA7 - BRASIL - PRODUÇÃO TOTAL DE FERRO-GUSA (T)

Fonte: SINDIFER (Op. Cit.)

Da Tabela7 pode-se produzir a Figura23, que evidencia a clara tendência


declinante no consumo de carvão vegetal pela siderurgia, inclusive - a se
manter a atual tendência - a extinção de seu consumo pelas usinas
independentes até o final dos anos 2020.

14.000
12.000
CONSUMO (1000t)

10.000
8.000
6.000
4.000
y = -507,71x + 1E+06
2.000 R² = 0,7331
0
2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
ANOS

FIGURA23: BRASIL - EVOLUÇÃO DO CONSUMO DO CARVÃO VEGETAL NA PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA


Fonte: Tabela 7, elaboração própria.

Em termos de distribuição espacial da produção de gusa no estado de Minas


Gerais, os dados são os que se seguem:

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43
TABELA8 - MINAS GERAIS - CAPACIDADE INSTALADA E PRODUÇÃO ESTIMADA DE GUSA EM 2017 POR
REGIÃO (1000T)

FONTE: J. Mendo Consultoria, extraído de SINDIFER (Op. Cit.)

As razões para explicar a queda de produção dos guseiros são várias e estão
associadas às perdas em ambos os mercados, interno e externo. A queda de
mercado interno se explica pela crise da siderurgia decorrente da crise
econômica do País, com as usinas semi-integradas (rota FEA – Forno Elétrico
a Arco) reduzindo suas compras, assim como a siderurgia a coque
(complemento de carga fria nos conversores a oxigênio).
As compras totais do mercado interno de gusa estão resumidas na Tabela9,
que inclui gusa de aciaria e gusa de fundição.

T ABELA9 - MERCADO INTERNO DE GUSA (1000T)

Fonte: J. Mendo Consultoria, extraído de SINDIFER (Op. Cit,).

As quedas de vendas para o mercado interno de gusa de fundição nos últimos


anos se explicam em razão da queda de produção de fundidos de ferro.O
Anuário Estatístico do Setor Metalúrgico 2017, publicado pelo MME - Ministério
de Minas e Energia, comprova esta queda (Tabela10).

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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44
TABELA10 - PRODUÇÃO BRASILEIRA DE FUNDIDOS EM TONELADAS

Fonte: J. Mendo Consultoria (Op. Cit.).

O setor de gusa a carvão vegetal vem perdendo sua competitividade com os


metálicos concorrentes. Essa perda de competitividade pode ser analisada
considerando três grupos de fatores:
• Atraso tecnológico;
• Custo do redutor (carvão vegetal) em relação ao gás ou ao carvão
mineral;
• Escala de produção.
O preço de carvão vegetal (baseado em pesquisa própria feita pela J.Mendo
Consultoria, durante o mês de dezembro de 2017) oscila atualmente em torno
de R$ 130,00 por metro cúbico (m3) ou R$ 588,00 por tonelada (t) ou US$
178.00/t (considerando a taxa de câmbio de R$ 3,30 para cada dólar
americano).
A comparação do carvão vegetal com o carvão mineral deve ser feita com a
média ponderada entre o carvão mineral coqueificável e o carvão mineral para
injeção nas ventaneiras (PCI – Pulverized Coal Injection), já que esses dois
insumos são utilizados, simultaneamente, na siderurgia a coque.
Como o consumo de redutor no alto-forno é de 350 kg de coque (490 kg de
carvão mineral coqueificável a US$ 220.00/t) mais 150 kg de PCI a US$
150.00/t, a média ponderada desse tipo de redutor é de US$ 130.00/t, bem
abaixo dos US$ 178.00/t para o carvão vegetal.
Vale destacar, entretanto, que essa comparação é meramente teórica, eis que
os operadores da indústria siderúrgica não a consideram prática inviável, já que
o carvão vegetal somente pode ser utilizado em altos-fornos de menor
capacidade, comuns entre os guseiros mas não na indústria de aço de grande
escala.
O custo do ferro-gusa representa o maior custo de produção do aço e,
portanto, influencia diretamente a posição relativa da indústria quanto aos seus
custos de produção.Na Figura24 são apresentados os custos de produção de
ferro primário dos dez maiores países produtores mundiais de aço, cabendo
aqui destacar que:

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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45
• Ucrânia e Rússia fazem uso da tecnologia open heart (OH), que
apresenta custos de produção menores, devido, principalmente, ao
baixíssimo controle de emissões;
• A Rússia apresenta uma vantagem em relação ao custo de seu coque,
uma vez que se situa entre os dez países de menor custo de produção
de coque;
• A Índia, além da questão do baixo custo de mão de obra, tem algumas
usinas que utilizam também tecnologias alternativas, como a Corex e a
Midrex, com uso de carvão mineral sem necessidade de coqueificá-lo.

FIGURA24: OS CUSTOS DE PRODUÇÃO DE FERRO PRIMÁRIO DE 10 MAIORES PAÍSES PRODUTORES


MUNDIAIS DE AÇO (US$/T)
Fonte: CRU International - Crude Steel Market Outlook, 2014. Citado por J. Mendo Consultoria
(Op. Cit.)

O carvão vegetal e o minério de ferro representam cerca de 80% do custo


operacional do gusa, a saber, 55% e 25%, respectivamente.Ao contrário da
siderurgia integrada, aqui as melhorias de carvoejamento (plantio e
carbonização) têm muito a contribuir. Quase 70% do carvão vegetal utilizado
pelos guseiros vêm de fornos arcaicos.
Entretanto, sem um mercado consistente de gusa, os riscos dos investimentos
nesta área são particularmente altos. Por outro lado, a redução do consumo
unitário de carvão vegetal no topo do alto-forno, associada à otimização da
injeção de finos nas ventaneiras (PCI) podem, também, trazer contribuições. A
substituição do carvão vegetal no topo por injeção de finos de carvão vegetal
nas ventaneiras é feita na razão de 1:1.
Vale lembrar que a injeção de finos nas ventaneiras se deu por dois motivos:
1) utilização destes finos de carvão como redutor, anteriormente vendidos
por preços muito baixos;
2) obtenção de maior produtividade do alto-forno.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
46
A escassez acentuada de minério de ferro granulado de boa qualidade vem
onerando as usinas com perda de produtividade dos altos-fornos (pelo alto
volume de escória) e maior consumo de carvão vegetal. Existem minérios finos
de boa qualidade (sínter feede pellet feed), mas são menos competitivos, pois
exigiriam investimentos em sinterizações e/ou pelotizações. Porém,
investimentos em sinterizações num futuro próximo serão inevitáveis. Algum
tipo de incentivo precisaria ser considerado para que as empresas de
mineração assumissem esse papel, hoje fora da realidade dos guseiros.
As recentes leis Nº 13.540, de 18 de dezembro de 2017, referente à
Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), e Nº
13.575, de 26 de dezembro de 2017, que cria a Agência Nacional de
Mineração (ANM), poderão ser examinadas no que respeita a estímulos às
empresas de mineração virem a ser incentivadas a desempenharem esse
papel.
Vale ainda mencionar26 que, o alto forno é o principal equipamento utilizado na
metalurgia para a obtenção do ferro. A partir dos primeiros fornos, dos tipos
mais rudimentares nos quais os gases são perdidos na atmosfera, constantes
aperfeiçoamentos técnicos vêm sendo realizados e a capacidade diária,
também, é crescente, aproximando-se, nos dias atuais, de 10.000 toneladas de
ferro-gusa por dia.
A obtenção do ferro-gusa consiste na redução dos óxidos de minério de ferro,
mediante o emprego de um redutor, que é um material a base de carbono
(carvão vegetal, mineral ou coque) o qual atua, igualmente, como combustível
e fonte de carbono para as ligas ferro-carbono de alto carbono, que são os
principais produtos do alto forno.
As principais diferenças, entre o coque e o carvão vegetal, são:
• Peso específico: o menor peso do carvão vegetal leva a uma queda na
capacidade de carregamento e menor tempo de residência da carga
metálica no interior do forno, podendo ocasionar aumento no consumo
de combustível;
• Resistência mecânica: a menor resistência do carvão vegetal leva a uma
maior degradação do mesmo no interior do forno, provocando queda na
permeabilidade podendo comprometer sua produtividade, além de
prejudicar a descida de carga;
• Percentual de cinzas e enxofre: o menor percentual de cinzas do carvão
vegetal implica em um volume de escória de até 50% menor que do
coque ajudando o controle da permeabilidade na região inferior do alto-
forno;

26
UNIESTE - Curso de Engenharia Metalúrgica: "Alto forno - carvão vegetal". Disponível em
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfVTMAH/alto-forno-carvao-vegetal. Consultado em 07-04-
2018

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
47
• Reatividade: a maior reatividade do carvão vegetal leva a uma menor
região do alto-forno onde as reações ocorrem praticamente sem
consumo de combustível, o que pode implicar no aumento do consumo
de combustível quando o coque é substituído pelo carvão.
Observa-se, portanto, que a operação a carvão é mais delicada quando se
pretende a obtenção de desempenho igual à do alto-forno operando a coque.

4.3 MINAS GERAIS

A demanda total de energia em Minas Gerais,27 em 2015, alcançou 36,1


milhões de tep, valor equivalente a 12,0% da demanda total de energia no
Brasil. O setor Industrial apresentou a maior demanda de energia do Estado,
22.061 mil tep, que representaram 61,1% do total, com decréscimo de 5,9% em
relação à 2014. A demanda de lenha e derivados representou 24,0% do total
da indústria, seguida pelos derivados de cana-de-açúcar, com 23,8%; petróleo,
derivados e gás natural, com 21,0%; carvão mineral e derivados, com 16,8%;
energia hidráulica e outras fontes, com, respectivamente, 11,6% e 2,8%.
Lenha, carvão mineral e derivados representaram, juntos, 40,8% da demanda
total do setor industrial do estado. Isso se deve, principalmente, à
representatividade das indústrias siderúrgicas no cenário mineiro, grandes
consumidoras de carvão vegetal e coque de carvão mineral. A demanda de
energia por fonte e por setor é apresentada na Figura25, a seguir.

27
CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais: "31o Balanço energético de Minas Gerais
2016".Disponível em http://www.cemig.com.br/pt-
br/A_Cemig_e_o_Futuro/inovacao/Alternativas_Energeticas/Documents/BEEMG.pdf. Acesso
em 20/03/2018

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
48
FIGURA25: MINAS GERAIS - DEMANDA DE ENERGIA POR FONTE E POR SETOR 2015
Fonte: CEMIG (Op. Cit.)
Em termos da demanda total de energia, é de se salientar a acentuada queda
nos anos recentes do uso de "lenha e derivados" (Figura26).

FIGURA26: MINAS GERAIS - EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS FONTES NA DEMANDA TOTAL


Fonte: CEMIG (Op. Cit.)

O fluxo da fonte “lenha e derivados”, em Minas Gerais,desde a sua produção e


transformação em carvão vegetal até o consumo final, é apresentado
naFigura27. Esta fonte energética supriu 16,4% da demanda total de energia

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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49
do estado em 2015. O setor industrial e o residencial absorveram,
respectivamente,58,5% e 34,7% do total de lenha distribuída.

FIGURA27: MINAS GERAIS - FLUXO ENERGÉTICO DA FONTE LENHA E DERIVADOS 2015


Fonte: CEMIG (Op. Cit.)

Segundo os dados da CEMIG, dos 5,7 milhões de tep de lenha produzidos, as


carvoarias absorveram 79,1%. Além dos 2.245 mil tep de carvão produzidos, o
Estado importou de outros Estados 24 mil tep, o que representou 1,0% do total
distribuído.O setor industrial foi o maior responsável pelo consumo do carvão
distribuído. Do carvão destinado a este setor, 1.034 mil tep, ou seja, 44,1%,
foram consumidos pela indústria não integrada de ferro-gusa.
Finalmente, há que se mencionar a queda sistemática do consumo do carvão
vegetal no estado de Minas Gerais, iniciada nos anos 1990 e apresentando
breves períodos de reação na primeira década do Século XXI (Figura28).
Cumpre mencionar que este espasmo na produção pode ser diretamente
correlacionado à euforia de preços das commodities promovida pelo
crescimento acelerado da China e seus reflexos na economia brasileira, que
reagiu de forma acelerada às oportunidades internacionais, seguido de forte
decréscimo do consumo, decorrente da crise econômica, primeiramente,
mundial e, depois, acentuada no Brasil

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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50
FIGURA28: MINAS GERAIS - EVOLUÇÃO DO CONSUMO DO CARVÃO VEGETAL
Fonte: CEMIG (Op. Cit.)

O estado de Minas Gerais possui a maior área de florestas plantadas do País


(24 % segundo IBÁ - Op. Cit.), tendo aumentado os plantios por fomento nesse
estado em cinco vezes de 2001 a 2014 e,em plantios próprios, de 10 % no
mesmo período28. Entretanto, por problemas vários - desde climáticos a
retração da demanda - a evolução de plantios sofre uma ruptura de tendência a
partir de 2008, acelerada em 2010 e voltando em 2014 praticamente aos níveis
de 2001.Vale observar que, em função do ciclo de crescimento das árvores,
verificou-se um excesso de oferta nos anos da crise econômica, quando
maturaram plantios realizados na primeira década do século.

TABELA11 - SITUAÇÃO DOS PLANTIOS FLORESTAIS EM MINAS GERAIS DE 2001–2014

Fonte: Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Op.


Cit.).

28
SECRETARIA DEESTADODE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO DE
MINAS GERAIS. Silvicultura 2016 em MG ano base 2014 – 2015.Disponível em
http://www.agricultura.mg.gov.br/images/Arq_Relatorios/Perfil/Silvicultura/perfil_silvicultura_ago
sto_2016.pdf. Acesso em 06⁄04⁄2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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51
Cabe, por outro lado, mencionar que o estado de Minas Gerais sempre teve
uma participação importante e crescente na produção de lenha no País, como
pode ser observado na Tabela12. Assim, independentemente da tendência
declinante do plantio florestal, a participação da lenha produzida em Minas
Gerais no total do Brasil cresceu significativamente entre 2004 e 2015.

TABELA12 - EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE LENHA PRODUZIDA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS DE


2004-2015 (MILHÕES DE M3)

Fonte: Secretaria de estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Op.


Cit.).

A Tabela13, na sequência, mostra o comportamento da produção de ferro-gusa


em Minas Gerais, demonstrado comportamento decrescente.

TABELA13 - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA PELAS USINAS INDEPENDENTES (T)

Fonte: SINDIFER (Op. Cit.)

Plotada na Figura29, observa-se a estreita correlação entre as produções


nacional e mineira de ferro-gusa pelas usinas independentes - o formato similar
das curvas deve-se, evidentemente, ao fato de Minas Gerais ser responsável
por cerca de 60% da produção brasileira, comandando (negativamente) desta
forma a involução do mercado.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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52
FIGURA29: MINAS GERAIS E BRASIL - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA PELAS USINAS
INDEPENDENTES (1.000T)
Fonte: CEMIG (Op. Cit.)

4.4 PERSPECTIVAS

A Tabela14 apresenta, por Estado produtor, a involução da produção de ferro-


gusa pelas usinas independentes, demonstrando que a tendência à redução
representa perfil generalizado.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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53
TABELA14 - PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA PELAS USINAS INDEPENDENTES PORESTADO(1.000 T)

(*) Inclui o Maranhão e o Pará


Fonte: SINDIFER (Op. Cit.)

Raad29apresenta projeções para a produção de ferro-gusa através de


correlação entre a evolução da produção – por tipo de usina – e a taxa de
crescimento do Produto Interno Bruto PIB nacional. É de se salientar que,
segundo as observações do autor, enquanto a produção de gusa por
produtores independentes cai de um índice de 100 em 2000 para 59 em 2016,
a produção por integrados cresce de 100 para 172.

29RAAD, Túlio Jardim: Cadeias Produtivas do Carvão Vegetal para uso no setor de ferro-
gusa, aço e ferroligas no Brasil .Produto 2 - Análise do estado da arte de cadeias de produção
de carvão vegetal destinado ao setor de ferro-gusa, aço e ferroligas no Brasil. Projeto
BRA/14/G31 – Produção de Carvão Vegetal de Biomassa Renovável para a Indústria
Siderúrgica no Brasil – PNUD – Novembro 2017.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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54
FIGURA30: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA DAS USINAS INTEGRADAS VERSUS EVOLUÇÃO
DA PRODUÇÃO DO PIB BRASILEIRO
Fonte: Raad (Op. Cit.) Citando SINDIFER 2016 E IBGE 2016

FIGURA31: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA DAS USINAS INDEPENDENTES VERSUS


EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DO PIB BRASILEIRO
Fonte: Raad (Op. Cit.) Citando SINDIFER 2016 E IBGE 2016

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55
FIGURA32: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO TOTAL DE FERRO-GUSA VERSUS EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DO
PIB BRASILEIRO
Fonte: Raad (Op. Cit.) Citando SINDIFER 2016 E IBGE 2016

Em suas projeções para o ferro-gusa no Brasil como um todo, Raad propõe um


cenário conservador e um cenário otimista. Para 2024, o cenário otimista prevê
uma leve recuperação do setor a partir de 2021, enquanto o pessimista
mantém a tendência declinante da produção (Figura33).

FIGURA33: BRASIL: COMPARAÇÃO DO CRESCIMENTO DO PIB E DO SETOR DE FERRO-GUSA


Fonte: Raad (Op. Cit.) Citando SINDIFER 2016 E IBGE 2016

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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56
Observa-se na Figura33 que os produtores independentes cresceram acima do
PIB de forma significativa no período de 2003 a 2007, invertendo-se esta
tendência rapidamente após a crise mundial de 2008, com forte viés negativo,
saindo de uma variação de 23% em 2007 para (-14,7)% em 2016 . O mesmo
não ocorreu com o crescimento acumulado das usinas integradas, que
manteve um aumento contínuo em relação ao PIB, quase se estabilizando em
14% no último triênio (2014 a 2016).
A partir das observações acima, Raad elabora um cenário otimista e outro
pessimista para a evolução da produção de ferro-gusa de produção
independente levando em consideração suas expectativas de evolução do PIB.
No cenário conservador, a curva acumulada do setor de ferro-gusa
independente continua em queda, aumentando a diferença para a curva do PIB
chegando a (-32%) em 2024. No cenário otimista, a curva acumulada do setor
de ferro-gusa independente entra em ciclo de recuperação de crescimento,
invertendo a tendência de queda em 2021 e reduzindo a cada ano a diferença
com a curva acumulada de evolução do PIB brasileiro (Figura34).

FIGURA34: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE FERRO-GUSA DA PRODUÇÃO INDEPENDENTE VERSUS


EVOLUÇÃO DO PIB BRASILEIRO
Fonte: Raad (Op. Cit.) Citando SINDIFER 2016 E IBGE 2016

Como anteriormente mencionado, as expectativas de evolução do mercado


mundial não são favoráveis, principalmente, a partir da expectativa de que a
economia chinesa não deve retomar as taxas de crescimento do início dos
anos 2000, assim como não são vislumbradas outras economias capazes de
replicar aquele momento de forte produção e consumo de aço.O

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
57
comportamento recente da política dos Estados Unidos contribui para esse
desarranjo do mercado.
Aqui cabe um comentário comparativo entre as expectativas de Raad
(Figura34) e a Figura18 anteriormente apresentada: seu cenário conservador
sinaliza, como na Figura18, para um caminho de extinção da produção
independente de ferro-gusa, hipótese que - se mantiver a tendência passada -
parece inexorável, salvo mudanças pouco prováveis no cenário mundial ou
ações governamentais de estímulo e/ou proteção ao segmento.
À guisa de conclusão pode-se, então, admitir que as perspectivas de evolução
do mercado de carvão vegetal podem, numa visão otimista, apresentar-se
como de estabilização dos atuais níveis de demanda, sendo entretanto, mais
realista, uma perspectiva de lento (porém firme) decréscimo, seguindo a
tendência de produção de ferro-gusa.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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58
5 O AMBIENTE DO PROJETO
5.1 AMBIENTE INSTITUCIONAL

Em aprofundamento da legislação ambiental tradicional do Brasil, já


considerada das mais avançadas e completas do mundo, o país ratificou, na
esteira dos compromissos firmados na 21ª Conferência das Partes (COP21) da
UNFCCC, em Paris - o "Acordo de Paris" - seu Plano Nacional de Mudança do
Clima em dezembro de 2008.
O plano define as ações e medidas voltadas à mitigação e adaptação à
mudança do clima. A Lei Federal No 12.144 de 9 de dezembro de 2009 criou o
Fundo Clima para dar suporte financeiro à ação de mitigação e adaptação,
usando recursos advindos dos royalties do petróleo. A Lei Federal N o 12.187
de 9 de dezembro de 2009, instituiu a Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC), a qual prevê os princípios, objetivos, as diretrizes e os
mecanismos de implementação da PNMC. Essa lei é um marco, já que cria
uma base legal para ações que já estão sendo implementadas pelo Governo
Federal e para que os governos federal, estadual e local possam desenvolver
outras políticas.
Para o alcance do objetivo final do Acordo, os governos se envolveram na
construção de seus próprios compromissos, a partir das chamadas Pretendidas
Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). Por
meio das iNDCs, cada nação apresentou sua contribuição de redução de
emissões dos gases de efeito estufa, seguindo o que cada governo considera
viável a partir do cenário social e econômico local30.
Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil concluiu, em 12 de
setembro de 2016, o processo de ratificação do Acordo de Paris. No dia 21 de
setembro o instrumento foi entregue às Nações Unidas. Com isso, as metas
brasileiras deixaram de ser pretendidas e tornaram-se compromissos oficiais.
Agora, portanto, a sigla perdeu a letra “i” (do inglês, intended) e passou a ser
chamada apenas de NDC.
A NDC do Brasil comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito
estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição
indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em
43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a
aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética
para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de
hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45%
de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030.

30MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE: "Acordo de Paris". 2016. Disponível em


http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris. Acesso em
09/04/2018.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
59
A NDC do Brasil corresponde a uma redução estimada em 66% em termos de
emissões de gases efeito de estufa por unidade do PIB (intensidade de
emissões) em 2025 e em 75% em termos de intensidade de emissões em
2030, ambas em relação a 2005. O Brasil, portanto, reduzirá emissões de
gases de efeito estufa no contexto de um aumento contínuo da população e do
PIB, bem como da renda per capita, o que confere extrema ambição a essas
metas.
Para alcançar tais metas, uma série de indicações terão de ser seguidas em
diversos setores da gestão pública dos recursos naturais até 203031:
• Aumentar a participação da bioenergia sustentável na matriz energética
brasileira para 18%;
• Fortalecer o cumprimento do Código Florestal;
• Restaurar 12 milhões de hectares de florestas;
• Alcançar desmatamento ilegal zero na Amazônia brasileira;
• Chegar à participação de 45% de energias renováveis na matriz
energética;
• Obter 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico;
• Promover o uso de tecnologias limpas no setor industrial;
• Estimular medidas de eficiência e infraestrutura no transporte público e
áreas urbanas.
No que diz respeito ao financiamento climático, o Acordo de Paris determina
que os países desenvolvidos deverão investir 100 bilhões de dólares por ano
em medidas de combate à mudança do clima e adaptação, em países em
desenvolvimento. Uma novidade no âmbito do apoio financeiro é a
possibilidade de financiamento entre países em desenvolvimento, chamada
“cooperação Sul-Sul”, o que amplia a base de financiadores dos projetos.
Observa-se no texto a preocupação em formalizar o processo de
desenvolvimento de contribuições nacionais, além de oferecer requisitos
obrigatórios para avaliar e revisar o progresso das mesmas. Esse mecanismo
exige que os países atualizem continuamente seus compromissos, permitindo
que ampliem suas ambições e aumentem as metas de redução de emissões,
evitando qualquer retrocesso. Para tanto, a partir do início da vigência do
acordo, acontecerão ciclos de revisão desses objetivos de redução de gases
de efeito estufa a cada cinco anos.
O setor siderúrgico é uma prioridade da política de mudança do clima
apresentada na Conferência das Partes (COP) de Copenhague, em dezembro
de 2009. O Brasil apresentou à UNFCCC seu compromisso de reduções
voluntárias para o setor siderúrgico da ordem de 8 a 10 milhões de toneladas

31CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. "Quais


são as metas do Brasil para o Acordo de Paris?" 10/04/2017.Disponível em http://cebds.org/.
Acesso em 09/04/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
60
de CO2e até 2020. Essas ações de mitigação foram incluídas na Política
Nacional sobre Mudança do Clima.
Em 2010, foi publicado Decreto regulamentador da referida Política Nacional,
que definiu que os planos setoriais de mitigação e adaptação deveriam ser
desenvolvidos e detalhados no decorrer de 2011. Em resposta, o Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) elaborou um plano de redução
de emissão que previa duas metas de mitigação de gases de efeito estufa
(GEE):
1. Aumentar o valor de estoques das florestas plantadas para abastecer
a indústria siderúrgica com biomassa renovável e sustentável;
2. Melhorar o processo de produção de carvão vegetal para reduzir as
emissões e aumentar a eficiência no uso da biomassa.
Desde o início esses objetivos fazem parte da meta global de melhorar a
competitividade da produção do carvão de origem vegetal para o setor
siderúrgico, entendendo que a produção de coque é o padrão mundial.
Como anteriormente demonstrado, o estado de Minas Gerais é responsável
pela maior produção e pelo maior consumo de carvão vegetal na indústria
siderúrgica brasileira. O programa federal de redução de emissão é consistente
com o “Pacto de Sustentabilidade” celebrado pelas autoridades estaduais, pelo
setor siderúrgico e pelas ONGs locais, que serviu de base para a lei florestal
18.365/2009 implementada em Minas Gerais. A Lei nº 18.365/2009 prevê a
diminuição gradativa do uso de floresta nativa oriunda de supressão legal até
2018, quando apenas 5% do consumo anual total de produto ou subproduto
florestal de pessoas físicas ou jurídicas poderá ter essa origem. Vale
mencionar que a lei exige, ainda, no art. 18, que a partir de 2010 os
consumidores comecem a plantar, fomentar ou comprar florestas plantadas.
Isso para atender a 95% do consumo a partir de 2019.
Do ponto de vista de incentivos fiscais, ademais da legislação já tradicional do
setor agropecuário tramita atualmente no Senado Federal o Projeto de Lei do
Senado N° 249, de 201132 que "Cria o incentivo fiscal de redução de imposto
de renda para fomentar projetos de florestamento ou reflorestamento em
propriedade rural familiar". Essa lei será efetivada mediante contrato entre o
legítimo proprietário ou possuidor de imóvel rural familiar e a pessoa física ou
jurídica declarante do imposto devido. Dispõe ainda que o contrato poderá
também ser celebrado com associações cooperativas, desde que compostas
exclusivamente por agricultores familiares ou empreendedores familiares rurais

32SENADO FEDERAL: "Projeto de Lei do Senado no 249 de 2011. Disponível em https://


www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/100216. Acesso em 09/04/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
61
5.2 . FONTES DE FINANCIAMENTO

O setor florestal acessa, como todo o setor agropecuário do País, as fontes de


recursos específicas para a atividade, principalmente, através do Banco do
Brasil BB e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES.
Ademais, conforme o Guia de Financiamento Florestal 2016 e o Quadro
Síntese - Guia de Financiamento Florestal 201633 elaborado pelo Ministério do
Meio Ambiente - MMA, existem inúmeras linhas que atendem as necessidades
das empresas, comunidades, cooperativas, agricultores familiares, povos,
comunidades tradicionais e outras que necessitem de recursos financeiros para
financiar e custear atividades de florestas visando a promoção do uso
sustentável das florestas.
As principais atividades que se enquadram para serem financiadas são: o
manejo florestal, a recuperação da vegetação nativa em áreas de preservação
permanente (APP) e Reserva Legal (RL), o plantio de essências nativas e de
sistemas agroflorestais, silvipastoris, o plantio de florestas, o beneficiamento de
produtos florestais, assim como incremento à a comercialização e ao capital de
giro.
O guia explicita as principais informações sobre as linhas de crédito, suas
finalidades e modalidades, seus beneficiários, limites de valores, taxas de
juros, prazos de reembolso e carência, as garantias estipuladas e os agentes
financeiros que as operam.
O quadro síntese do guia, a seguir apresentado, compara as linhas de crédito,
facilitando aos usuários uma melhor visualização de tipo de linha que melhor
poderá lhe atender. Classifica por tamanho do produtor e destinação do
recurso do financiamento.
Vale mencionar que, do ponto de vista do produtor típico da região de Lamim, a
linha de maior atratividade para a silvicultura é o Pronaf Florestal, que financia
até o limite de R$ 38.500 com 20 anos de prazo dos quais 12 de carência, com
juros de 2,5% a.a. No que se refere às garantias, o programa prevê livre
negociação entre o financiado e o financiador. Na área do projeto (Lamim), o
banco operador é o Banco do Brasil.
Para investimentos, as linhas mais favoráveis são as clássicas do BNDES -
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, as quais são
repassadas pelos bancos comerciais em geral.

33MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE: "Guia de Financiamento Florestal 2016". Disponível em


http://www.florestal.gov.br/documentos/publicacoes/1799-guia-de-financiamento-florestal-
2016/file e http://www.florestal.gov.br/documentos/publicacoes/1792-quadro-sintese-guia-de-
financiamento-florestal-2016/file. Acesso em 16/04/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
62
É de se observar que, a despeito da quantidade e diversidade de linhas de
crédito disponíveis para o setor, o acesso às mesmas nem sempre é fácil,
notadamente para os pequenos produtores, dadas as exigibilidades dos
agentes financeiros - principalmente no que diz respeito à regularidade fiscal e
disponibilidade de garantias reais para respaldar a operação.

TABELA15 - FONTES DE FINANCIAMENTO FLORESTAL

MÉDIOS
AGRICULTURA FAMILIAR AGRICULTURA EMPRESARIAL
PRODUTORES

Para custeio Para custeio Para custeio


• Pronaf • Pronamp • Custeio agropecuário –
Agroindústria Custeio recursos controlados
• Pronaf Agricultor • Custeio agropecuário –
Familiar recursos não controlados
• Operações com recursos do
Funcafé
• Retenção de Matrizes e Crias –
recursos controlados
• Retenção de Matrizes e Crias –
Para investimento recursos não controlados
• Pronaf Para investimento Para investimento
Agroecologia • Pronamp • Inovagro
• Pronaf Investimento • Moderagro
Agroindústria • Moderfrota
• Pronaf Eco • Moderinfra
• Pronaf Florestal • Programa ABC
• Pronaf Grupo B Para comercialização
• Pronaf Jovem • Comercialização produção
• Pronaf Mais própria
Alimentos • Desconto de Nota Promissória
• Pronaf Mulher Rural (NPR) e Duplicata Rural (DR)
• Pronaf Reforma • Funcafé – Aquisição de Café e
Agrária Capital de Giro
• Pronaf Semiárido • Funcafé – Estocagem
Fonte: MMA (Op. Cit.)

Mais diretamente em relação a este projeto, os produtores da área em estudo


poderiam se beneficiar das seguintes fontes, considerando as suas
características:

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
63
TABELA16 - FONTES DE FINANCIAMENTO FLORESTAL DE INTERESSE DO PROJETO

CUSTEIO INVESTIMENTO COMERCIALIZAÇÃO


Pronaf Agricultor Pronaf Agroecologia
Familiar
Pronaf Florestal
Fonte: MMA (Op. Cit.)

Outra fonte de interesse, específica para o financiamento de investimentos em


máquinas e equipamentos, é o Cartão BNDES Agro, específico para
produtores rurais34, disponibilizado através de bancos repassadores (Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Banco Itaú e Banco Santander).
É do banco emissor escolhido a responsabilidade pela análise e aprovação do
crédito, bem como todo o relacionamento com o cliente, incluindo a cobrança
de prestações e a aplicação de tarifas.
Para obtenção do Cartão BNDES Agro é obrigatório estar em dia com os
tributos federais. O pretendente pode, entretanto, “avançar” na sua solicitação
do Cartão enquanto regulariza a sua situação fiscal, caso haja alguma
pendência.
Cabe mencionar que, em todas as fontes de recursos, o acesso ao crédito é
condicionado pelas normas comerciais, ou seja, o tomador tem que apresentar
garantias, comprovar capacidade de pagamento e estar em dia com os
compromissos fiscais.

5.3 O AMBIENTE ECONÔMICO E SOCIAL DO PROJETO

O município de Lamim localiza-se na Zona da Mata Mineira, a 160 Km da


capital Belo Horizonte35. Da mesma maneira que muitos outros municípios
mineiros, Lamim, também, surgiu durante o período em que a mineração era o
centro da economia. Foi fundada por portugueses em 1710. Passou a Distrito
do novo município de Rio Espera, em 1938, e pela Lei Estadual nº 2764, de
30/12/62, foi elevado à categoria de município, instalado em 01/03/1963.
O município apresenta um território de 116,16 Km 2, área considerada pequena
para os padrões nacionais. Seu território é cortado pelo rio Piranga e pelo
ribeirão do Lamim, afluentes da bacia do rio Doce. Sua posição geográfica o
situa numa área fronteiriça entre três regiões de Minas: Mata, Central e Campo

34BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível em


https://www.cartaobndes.gov.br/cartaobndes/. Acesso em 09/04/2018.
35LAMIM Site Oficial. Disponível em http://lamim.mg.gov.br/. Acesso em 9 de abril de 2018

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
64
das Vertentes.Esta localização faz com que o município receba influência das
principais cidades de cada região.
Está localizado na mesorregião Zona da Mata mineira, uma das doze
mesorregiões de Minas Gerais, formada por 142 municípios agrupados em sete
microrregiões, porção Sudeste do Estado, próxima à divisa dos Estados do Rio
de Janeiro e do Espírito Santo. Lamim integra a microrregião de Viçosa,
pertencente à sub bacia hidrográfica do rio Piranga.

FIGURA35: MICRORREGIÕES DA ZONA DA M ATA MG


Fonte: IBGE (Op. Cit.)

Na economia da Zona da Mata, destacam-se as indústrias, a bovinocultura de


leite e plantações de cana-de-açúcar, café, milho e feijão. A região é servida
por importantes rodovias federais, tais como BR-040, BR-116, BR-262, BR-267
e BR-482. A região, também, é cortada pelas antigas ferrovias Central do Brasil
e Leopoldina, hoje integrantes da concessionária Ferrovia Centro Atlântica,
porém com a maior parte das operações desativadas.
A Zona da Mata de Minas Gerais ocupa uma área correspondente a 6,1% da
superfície do Estado, com uma população de 2.017.728 habitantes (IBGE,
Censo 2000), distribuída por 142 municípios, dos quais 70,23% com menos de
10.000 habitantes. A região apresenta elevado grau de urbanização, muito
mais em função do êxodo rural do que do crescimento vegetativo das cidades.
Atualmente, com uma economia equivalente a 8,28% do PIB estadual, a Zona
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
65
da Mata apresenta baixa renda per capita e desempenho econômico muito
aquém de suas potencialidades regionais. Soma-se a isso, o processo de
estagnação econômica, decréscimo populacional e rebaixamento do índice de
qualidade de vida, exacerbando ainda mais, os desequilíbrios espaciais intra-
regionais36
No que diz respeito a Lamim, trata-se de localidade que, a despeito de
importantes ganhos em termos de desenvolvimento humano refletidos em seu
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano - segue integrando o contingente de
áreas consideradas como de menor desenvolvimento37. Os critérios de
desempenho seguem os intervalos definidos pelas faixas a seguir38:

FIGURA36: IDH - FAIXAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO


Fonte: DEEPASK (Op. Cit.)

A evolução do IDH total de Lamim, assim como seus dois principais


componentes de interesse deste estudo - IDH educação e IDH renda - e sua
posição relativa em relação ao estado de Minas Gerais e ao Brasil são
apresentados nas Tabelas 17 a 19, a seguir.

TABELA17 - LAMIM - IDH TOTAL

Fonte: DEEPASK (Op. Cit.)

36NETTO, Marcos Mergarejo e A. M. A. Diniz: "Anais do X Encontro de Geógrafos da


América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo. Disponível em
http://docplayer.com.br/3424236-Anais-do-x-encontro-de-geografos-da-america-latina-20-a-26-
de-marco-de-2005-universidade-de-sao-paulo.html. Acesso em 06/04/2017.
37Como referência para as Tabelas que seguem, cabe mencionar que no Brasil existem 5.570

municípios e em Minas Gerais 853.


38DEEPASK. Disponível em http://www.deepask.com/goes?page=Veja-evolucao-do-Indice-de-

Desenvolvimento-Humano-no-Brasil. Acesso em 12/04/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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66
TABELA18 - LAMIM - IDH EDUCAÇÃO

FONTE: DEEPASK (Op. Cit.)

TABELA19 - LAMIM - IDH RENDA

Fonte: DEEPASK (Op. Cit.)

Das tabelas supracitadas, infere-se que, a despeito de algum progresso nas


duas décadas consideradas, Lamim encontra-se ainda na metade inferior de
desenvolvimento humano com relação às hierarquias nacional e estadual. Os
indicadores apontam para evolução - no IDH total e IDH educação - para
progresso de muito baixo para baixo, enquanto o IDH renda evolui de muito
baixo para médio.
Os dados exibidos na Tabela2039 confirmam Lamim como uma localidade de
nível de desenvolvimento inferior à média brasileira, sendo de se destacar sua
renda per capita, próxima do terço nacional inferior. Note-se que este indicador
refere-se a localidade inserida num dos Estados de melhores indicadores
nacionais, ou seja, equipara Lamim às regiões mineiras mais pobres, ao Norte
do Estado.

39
IBGE Cidades: disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/lamim/panorama. Acesso em
09/04/2018

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67
TABELA20 - LAMIM - INDICADORES SOCIAIS 2016

Fonte: IBGE Cidades (Op. Cit.)

Na visita de campo efetuada a Lamim entre 16 e 18 de abril 2018, em contato


com técnicos da EMATER e da Prefeitura Municipal, foi comentado que no
município praticamente não existe propriedade agrícola "solteira", ou seja,
dedicada a uma única atividade silvi-agro-pecuária.
Segundo o CAFIR40 - Cadastro de Imóveis Rurais, o município apresenta uma
predominância de pequenas propriedades (menores que 50 ha), com uma
única propriedade que se poderia considerar como de porte médio (entre 200 e
500 ha).
TABELA21 - LAMIM - ESTRUTURA FUNDIÁRIA

Fonte: CAFIR (Op. Cit.), dados de 2016

Com o objetivo de complementar as informações disponíveis nas estatísticas


oficiais e publicações, a Consultoria procedeu a pesquisa de campo

40CAFIR - Cadastro de Imóveis Rurais. Disponível em http://www.cadastrorural.gov.br/


estatisticas/cafir-cadastro-de-imoveis-rurais/copy2_of_total-de-imoveis-ativos-no-cadastro-de-
imoveis-rurais-cafir-da-rfb-sao-7-442.515. Acesso em 23/04/2018.

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68
entrevistando produtores e técnicos afeitos à realidade regional41. Os principais
complementos aos dados obtidos com as entrevistas foram:

• Todos os produtores contatados exploram propriedades com área


inferior a 100 ha;
• Nenhum dos produtores tem a produção de carvão como atividade
exclusiva, sendo mesmo que alguns a têm como "complemento de
renda";
• Todos os produtores têm alguma bovinocultura (principalmente leiteira) e
pecuária de pequenos animais juntamente com lavoura de subsistência;
• Alguns produtores consideram sua floresta plantada como "uma
caderneta de poupança", produzindo carvão apenas quando outras
atividades são insuficientes para sua manutenção;
• Nenhum entrevistado tem mais que 20 fornos operacionais;
• No geral plantam com semente própria, poucos utilizando material
clonado;
• No geral, têm plantado muito pouco, havendo mesmo um produtor que,
prestador de serviço de plantio, foi contratado para matar áreas de
eucalipto durante a crise, para abrir pastagem;
• Visualmente, a região é extremamente acidentada, dificultando
sobremaneira a mecanização das operações de corte e transporte;
• Essa característica orográfica também se constitui em inibidor de
lavoura - principalmente de grãos - mais tecnificada;
• Um produtor dispõe de um trator, e outro de um mini-trator para o
carreamento da madeira até os fornos;
• Apenas um produtor financiou equipamento, todos os demais alegaram
trabalhar com recursos próprios;
• De um modo geral, um único trabalhador (usualmente, o próprio
proprietário) cuida de toda a operação, contando eventualmente com
alguma ajuda de integrantes da família;
• Constatação disseminada entre os entrevistados de dificuldade em obter
mão de obra adicional para a atividade carvoeira;
• Apenas um produtor entrevistado informou ter plantado durante a crise
(últimos 5 anos);
• A EMATER é vista como atendendo plenamente às necessidades dos
produtores;
• A Prefeitura Municipal atende de forma satisfatória principalmente no
que se refere à manutenção de vias vicinais;
• Alegam não dispor de qualquer apoio dos demais agentes
governamentais: consideram-nos como "preocupados apenas com a
arrecadação";
41OBSERVAÇÃO: As entrevistas com produtores foram realizadas com 5 pré-selecionados
para a implantação em suas terras do projeto piloto, não se constituindo em amostra
significativa do ponto de vista estatístico. Trata-se, entretanto, de pessoal com experiência no
setor e - percepção da Consultoria - atento à realidade de sua atividade.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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69
• Em função do combate à utilização de matas nativas, a emissão de
autorização de corte é, em geral, inferior à produtividade efetiva da área,
fazendo com que mais de uma autorização seja necessária para
operação completa;
• Não são oferecidos cursos e outros instrumentos de capacitação
tecnológica na área, sendo que o único entrevistado que participou de
treinamento o fez indo à UFV.
Uma evidência empírica dos aspectos acima comentados é a evolução do
rebanho bovino, que entre 2010 e 2017 cresceu a uma taxa de 4% a.a.,
segundo o IBGE:
TABELA22 - LAMIM - EVOLUÇÃO DO REBANHO BOVINO (ANIMAIS)

FONTE: IBGE Cidades (Op. Cit.)

A expansão da área plantada na década passada, em razão do bom preço do


carvão naquela ocasião, conjugada com a redução na oferta de mão de obra e
no preço do carvão nos últimos anos, contribuíram para o surgimento de
parcerias onde o proprietário do terreno entrega ao meeiro a floresta já no
ponto de corte e os fornos. Cabe ao meeiro o corte, transporte até o forno, o
carvoejamento incluindo a retirada do carvão do forno. A renda é dividida em
partes iguais. O fato de parte da produção ocorrer através de parcerias reforça
a importância social da atividade para o município, como grande geradora de
ocupação produtiva num quadro de escassez de oportunidades.
A produção de carvão na região é feita exclusivamente através de fornos de
encosta com capacidade aproximada de 13 m 3 de lenha que se convertem, em
média, em 7 m3 de carvão, sendo que nenhum forno - salvo o protótipo em
atividade - dispõe de algum dispositivo para redução na emissão de poluentes
ou de gases de efeito estufa.
Em razão da topografia acidentada do município, todas as florestas estão
localizadas em áreas de morro, sendo as poucas áreas planas destinadas
primordialmente à produção de grãos, agricultura de subsistência e
implantação de infraestruturas. Para facilitar o transporte da lenha, obviamente,

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
70
os fornos são construídos na base das encostas, local onde, também, são
fixadas as residências dos produtores devido à possibilidade de acesso à água.
Cabe aqui observar o efeito nocivo da emissão de gases nas proximidades das
residências, aspecto que seria minimizado com a tecnologia proposta no
projeto.
Outro aspecto a considerar diz respeito à comercialização da produção da
área.
Como foi caracterizado, a oferta de carvão em Lamim é extremamente
pulverizada, não sendo possível estabelecer qualquer tipo de concentração do
produto que permita inferências sobre uma oferta com especificações próprias.
Na pesquisa de campo, foi identificada apenas uma propriedade (fora do
Município, cujo proprietário não integrou a pesquisa) com um contrato de longo
prazo com uma siderúrgica da região, com quantidades e preços
estabelecidos. Toda a comercialização restante é efetivada num mercado
"spot", onde o produtor comercializa sua mercadoria CIF junto às siderúrgicas e
metalúrgicas predominantemente num raio de até 400km.
Cabe mencionar que, em sua maioria, os demandantes são, principalmente, os
produtores independentes de gusa, sendo a maioria das siderúrgicas da região
produtores integrados - consumidores de carvão próprio, como analisado em
documento do Projeto BRA/14/G31 por Raad42.
Além do problema ambiental com o lançamento de poluentes na atmosfera, a
pesquisa de campo comprovou que a concentração de residências e praças de
carbonização em áreas em comum vem acarretando problemas respiratórios
por se tratar de uma quantidade expressiva de fornos em um território
relativamente pequeno.
Nesse cenário de luta mundial contra a poluição, o aquecimento global e a
exposição aos agentes nocivos à saúde, a adoção de medidas visando a
redução das emissões dos fornos e os seus efeitos deletérios torna-se urgente.

5.5. LOGÍSTICA

Lamim beneficia-se da extensa malha rodoviária do estado de Minas Gerais,


conectando-se para o Norte e para o Oeste pela BR 482, para o Leste pela MG
124 e para o Sul pela MG 132, como pode ser visualizado na Figura 37 a
seguir.

42RAAD, Túlio Jardim: "Cadeias Produtivas do Carvão Vegetal para uso no setor de ferro-
gusa, aço e ferroligas no Brasil". Projeto BRA/14/G31 – Produção de Carvão Vegetal de
Biomassa Renovável para a Indústria Siderúrgica no Brasil, Fevereirode 2018. Uso restrito.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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71
FIGURA37: ENTORNO DE LAMIM - M APA VIÁRIO
FONTE: GOOGLE Maps.

Importante, entretanto, mencionar que as rodovias troncais que atendem


Lamim classificam-se de regular a ruim43. O acesso a Belo Horizonte, em cujas
imediações localizam-se alguns importantes consumidores de carvão, pelo
Norte (via Ponte Nova) apresenta trechos entre regular e ruim, sendo que o
mesmo acesso pelo Sul (via Viçosa) apresenta trechos péssimo e ruim
(Figura38, a seguir).
As outras vias de acesso a outros demandantes do carvão, embora não
mapeadas pela Pesquisa CNT, não apresentam condição diferenciada.

43CNT - Confederação Nacional dos Transportes; "Pesquisa CNT de rodovias 2017".


Disponível em http://pesquisarodovias.cnt.org.br/Paginas/mapa-por-regiao-uf. Acesso em
12/04/2018.

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72
FIGURA38: LAMIM - ACESSOS - CONDIÇÃO DAS ESTRADAS
FONTE: CNT - Op. Cit.

Finalmente, há que se mencionar que as rodovias vicinais de acesso às


propriedades - todas sem pavimentação - encontram-se em precário estado de
conservação, podendo ser classificadas como "péssimas".
Outro modal possível de carrear carvão seria o ferroviário. A região já foi
cortada por ferrovia, ligando Ubá - Ponte Nova - Itabirito, como pode ser
visualizado na Figura 3944, porém o ramal encontra-se desativado e não consta
dos planos de recuperação a que a Consultoria teve acesso. Ademais, do
ponto de vista específico deste projeto, a pulverização da oferta não constitui
carga tipicamente ferroviável, a qual se caracteriza por grandes volumes de
carga uniforme carreados a distâncias superiores a 500km.

44
:FERROVIA DO AÇO. Disponível em
,https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Mapa_Ferrovia _do_Aco.png. Acesso em
12/04/2018.

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73
FIGURA39: MINAS GERAIS - M ALHA FERROVIÁRIA
FONTE: Ferrovia do Aço - Op. Cit.

5.6. ANÁLISE CRÍTICA

Do exposto neste Capítulo, nota-se algum grau de dificuldade para uma


expansão vigorosa da produção de carvão em Lamim. Os principais
argumentos para esse pessimismo podem ser a seguir listados:

• Trata-se de localidade de orografia pouco favorável a uma produção


madeireira em larga escala;
• A tradição local é considerar o carvão como produto secundário da
propriedade, destinado apenas ao aproveitamento de reflorestamento
praticado em áreas com perfil de difícil utilização para outras finalidades;
isso significa que a atividade carvoeira - embora se constitua em renda
adicional do produtor - não se constitui, no geral, em seu foco de
produção;
• A tendência do mercado, segundo as estatísticas analisadas, é a
produção integrada por parte do setor siderúrgico;
• A pouca competitividade em custos com relação ao coque;
• A dificuldade de mercado para coprodutos, como a "moinha" (finos de
carvão);
• Perspectivas pouco favoráveis do mercado mundial de siderúrgicos.
Por outro lado, como aspectos positivos, podem-se listar:

• A falta de alternativa ao uso das terras dedicadas ao reflorestamento;


• A tendência mundial de valorizar o "produto verde";
• Os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris.
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
74
Cabe, entretanto, um comentário complementar.
Segundo todos os entrevistados, a "moinha" (finos de carvão, residual no
processo de queima) é descartada. Um informante, entretanto, mencionou que
na região atua um comprador de "moinha" para confeccionar briquetes, porém
o faz a partir de sobras de carvão para empacotamento, na medida em que o
produto não pode conter terra ou outras impurezas. Compra a R$ 30 o metro, o
que corresponde a aproximadamente R$ 200/kg. Embora o informante afirme
que a operação não é compensadora financeiramente pelo alto custo do
maquinário para briquetar e empacotar, cabe alguma análise complementar
quanto à perspectiva de aproveitamento desse subproduto.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
75
6 O PRODUTO
6.1 PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO E O FORNO-FORNALHA DA UFV

Embora nos últimos anos muitas pesquisas tenham sido desenvolvidas para
melhorar as qualidades da madeira (densidade básica, composição química),
grande parte da produção de carvão vegetal brasileira ainda ocorre em fornos
de baixo rendimento gravimétrico e com emissões de gases poluentes 45 e
gases de efeito estufa. Por esse motivo várias instituições de pesquisa e
universidades brasileiras desenvolveram trabalhos de pesquisa melhorando
rendimento gravimétrico e reduzindo emissões. No entanto, sofisticar muito o
processo de carbonização, encarecendo-o, significaria impedir a sua adoção
por pequenos produtores, onde se concentra uma grande parte da produção.
Destacou-se entre essas pesquisas com pequenos fornos os trabalhos
desenvolvidos na Universidade Federal de Viçosa identificados como processo
forno-fornalha.
Os processos produtivos de carvão vegetal evoluíram significativamente nos
últimos anos, tanto na engenharia construtiva como nos sistemas de controle
da carbonização. Entretanto, segundo Brito 2010 citado por Oliveira (Op. Cit.),
60% do carvão produzido ainda emprega fornos rudimentares de superfície,
denominados popularmente de forno ″rabo quente″. Ainda, 10 % da produção
de carvão utiliza fornos de superfície cilíndricos, 20 % emprega fornos
retangulares de maior porte e 10 % outros processos diversos. Portanto, a
grande maioria emprega processos subjetivos de controle da carbonização,
tanto pela observação da cor da fumaça expelida, como pela sensibilidade da
temperatura externa da parede do forno obtida pelo tato.
Os pequenos e médios produtores, que - na avaliação dos consultores
correspondem a 80% da produção de carvão - optam por fornos de baixa
capacidade volumétrica. Devido ao elevado custo em maquinário na
mecanização,esta só se encontra no processo em fornos maiores,que exigem
elevado investimento inicial, tanto na construção dos fornos - maiores e mais
sofisticados - como pela necessidade de equipamentos.
Segundo Oliveira, os pequenos produtores utilizam fornos de diferentes
formatos, destacando-se os tipos ″rabo quente″, superfície e encosta. Os
tamanhos e formatos variáveis fazem que o processo seja irregular, de baixo
rendimento e dependente totalmente da experiência do operador, devido à
inexistência de equipamentos de medição ou supervisão das variáveis de
operação dos fornos, principalmente a temperatura.

45OLIVEIRA, Aylson Costa, Sistema Forno-Fornalha para Produção de Carvão Vegetal,


Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Viçosa. 2012.

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76
6.1.1 Fornos de encosta ou barranco
Os fornos de encosta são bastante utilizados em regiões acidentadas do
estado de Minas Gerais. São os fornos construídos pelos pequenos produtores
na Região de Lamim. Utilizam o desnível do terreno, apoiando a cúpula
abobadada no próprio terreno, economizando em material construtivo. As
paredes do forno são o próprio barranco. Possuem 3 a 4 m de diâmetro e 2,5 a
2,8 m de altura, de 1 a 3 chaminés. Seu rendimento gravimétrico pode atingir
até 32 %, pelo melhor isolamento térmico proporcionado pelo próprio terreno. O
controle da carbonização se dá exclusivamente pela cor da fumaça expelida
pelas chaminés e tende a ser diferente pela evolução desigual dacarbonização.
Carneiro (2012, Op. Cit.) citado por Oliveira (Op. Cit.), estimou o preço dos
fornos de encosta em RS 77,81⁄m3. Isso totaliza um preço por forno de 77,81X
13 = R$ 1.011,73.

FIGURA40: FORNO DE ENCOSTA OU BARRANCO, EM MINAS GERAIS.


Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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77
FIGURA41: ESQUEMA ILUSTRATIVO DA CONSTRUÇÃO DO FORNO DE BARRANCO DE MINAS GERAIS,
COM UM CORTE NA CÚPULA
Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.

O levantamento efetuado pela CP Empreendimentos em abril de 2018,


entrevistando 5 pequenos produtores de carvão e técnicos da EMATER local,
encontrou o valor médio para fornos de barranco de R$ 1.000,00 por forno,
investidos em materiais e mão de obra.

6.1.2 Fornos de superfície e ″rabo quente″


Os fornos de superfície são construídos inteiramente em tijolos maciços
comuns de argila. São chamados de forno de superfície (ou meda) porque todo
o corpo do forno fica acima da superfície, diferentemente de fornos ancestrais
que utilizavam buracos ou valas no solo. A Figura42 mostra um forno rabo
quente construído demonstrativamente pelo CETEC MG, no início da década
de 1980 para incentivar boas técnicas construtivas. Existem variações
atualmente, mas, a característica principal é a ausência de chaminé e as
aberturas na base e no corpo do forno.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
78
FIGURA42: FORNO ″RABO QUENTE″ DEMONSTRATIVO CONSTRUÍDO PELO CETEC MG EM 1982
Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.

Os fornos de superfície e os fornos ″rabo quente″ mais elementares e


tradicionais na produção de carvão possuem aberturas na base do forno,
chamadas de tatus, que servem para acesso do ar (oxigênio), que possibilita a
combustão parcial da lenha. No corpo do forno existem várias pequenas
aberturas, denominadas ″baianas″, para saída da fumaça e controle visual da
evolução da carbonização.
Os fornos denominados de superfície são semelhantes ao ″rabo quente″
contando com uma chaminé lateral com tiragem inferior central que melhora o
fluxo de gases no interior do forno, tornando a carbonização um pouco mais
homogênea. O diâmetro varia de 3 a 8 m. A altura varia de 2,3 a 5 m. As
aberturas para acesso do ar encontram-se distribuídas em todo o diâmetro da
parede e cúpula, permitindo um controle visual da evolução da carbonização.
O forno de superfície apresenta rendimento gravimétrico variável de 28 a 34 %
e preço de RS 120,25⁄m3. Neste trabalho adotou-se o mesmo valor levantado
em trabalhos desenvolvidos pela UFV. A UFV utiliza o forno de superfície mais
comum utilizada na carbonização, como modelo para construir sua proposta de
sistema com queima de gases. Assim aproveitaria a experiência já existente
entre pequenos produtores. Neste EVTE adotou-se o diâmetro de 3m com
volume interno e altura semelhante ao sistema forno-fornalha UFV.
Naturalmente neste sistema não existe uma chaminé junto ao forno e sim uma
chaminé central para quatro fornos

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
79
FIGURA 43: ILUSTRAÇÃO DE UM FORNO DE SUPERFÍCIE COM CHAMINÉ LATERAL
Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.

O forno de superfície com fornalha externa é uma evolução do forno de


superfície. A fornalha externa tem a função de gerar calor extra para
carbonização dependendo menos da própria combustão da lenha carbonizada.
O calor da fornalha é gerado pela queima de resíduos como cascas e galhos
finos e atiços (lenha semi-carbonizada) de outras carbonizações anteriores.
Esse calor extra favorece o rendimento gravimétrico.
Na prática, esse forno não demonstrou grande aceitação por efetivamente não
produzir rendimento gravimétrico significativo e foi muito pouco utilizado.

FIGURA 44: FORNO DE CÂMARA EXTERNA BATERIA EXPERIMENTAL DA UNB NO DF


Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
80
O forno JG é uma variável do forno de superfície, desenvolvido pelo
engenheiro florestal Jose Gonçalves. Possui uma chaminé lateral e uma a duas
portas para carga e descarga manuais de madeira e carvão e uma cinta
metálica externa a parede para aumentar a vida útil do forno. Segundo Oliveira
(Op. Cit.), é o forno mais difundido utilizado por pequenos e médios produtores.
O seu diâmetro é de 3 m e a altura é de 2,3 m, com custo estimado de RS
212,21⁄m3.
Visando desenvolver maior capacidade de produção de carvão vegetal e de
melhor qualidade, os grandes produtores (usinas integradas) desenvolveram
fornos retangulares de até 700 st de lenha com operações de carregamento e
descarregamento mecanizadas. Também foi pensada a possibilidade de
recuperação ou queima dos gases emitidos, com controle do acesso de ar
(oxigênio). O rendimento gravimétrico desses fornos é de 30 a 35 % e o ciclo
de carbonização completo dura em média 12 dias, sendo adotado também o
monitoramento da temperatura interna com termômetros e termopares.

FIGURA45: FORNOS RETANGULARES EMPREGADOS PELOS GRANDES PRODUTORES


INTEGRADOS
Fonte: Sampaio et ali 2007.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
81
6.1.3 Sistema de carbonização forno⁄fornalha desenvolvido pela Universidade
Federal de Viçosa

Segundo Oliveira (Op. Cit.), o início das pesquisas na UFV com fornos de
carbonização com fornalha para queima dos gases emitidos, se deu com o
forno MF1-UFV (Figura46). Esse forno foi construído com formato retangular e
com capacidade de 10 st de lenha. Esse forno possuía pilares e vigas de
concreto para reforço da estrutura sujeita a pressão elevada de gases
(Cardoso 2010, citado por Oliveira - Op. Cit.). O forno MF1-UFV, segundo os
mesmos autores apresenta rendimento gravimétrico de 29 % e atiços e finos de
carvão inferior a 4 %. Observou-se que a emissão de metano (CH4) e de
monóxido de carbono (CO) foi reduzida em 94% e 97% respectivamente. O
custo médio de construção do forno e da fornalha foi de R$ 1700,00 e R$
1800,00 respectivamente.

FIGURA 46: M AQUETE COM PROPOSTA DE CARVOARIA COM FORNO – FORNALHA MF1 – UFV – MG
Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.

Os fornos com fornalhas acopladas permitem a degradação térmica dos gases


poluentes emitidos durante a carbonização. As fornalhas são dispositivos
construídos visando a melhor combustão de um determinado tipo de
combustível. Os gases da carbonização da madeira podem ser incinerados
dentro destas fornalhas gerando calor que inclusive poderia ser aproveitado.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
82
FIGURA 47: SISTEMA FORNO FORNALHA UFV- COM QUATRO FORNOS E UMA FORNALHA CENTRAL COM
CHAMINÉ – POÇOS DE LEITURA DA TEMPERATURA NA UNIDADE DEMONSTRATIVA DE L AMIM
Fonte: Acervo Pessoal Waldir Quirino.

Essa inceneração dos gases da carbonização compostos por inúmeros


hidrocarbonetos e diferentes ácidos muitos cancerígenos, permitem a redução
até 97% de agentes nocivos ao meio ambiente e ao ser humano e animais.
Segundo Oliveira (Op. Cit.), as fornalhas para queima de combustível gasoso
como o gerado na carbonização da madeira não necessitam de grelha sendo a
câmara de combustão dimensionada em função do volume de gases gerados
permitindo a oxidação completa dos gases.
Outro aspecto a ser considerado, na construção da câmara de combustão, é a
natureza dos materiais empregados. As temperaturas podem variar de 650 a
1150°C. Assim, para aumentar a durabilidade das fornalhas e reduzir perdas
térmicas, podem-se empregar materiais isolantes ou tijolos e argamassa
refratária.
Nos fornos rudimentares de carbonização e até em fornos retangulares
maiores, a carbonização é controlada de maneira empírica, apenas pela
experiência do operador do forno. No caso dos fornos com fornalha, a
carbonização deve ser controlada por aparelhos que permitem o
acompanhamento da temperatura interna (pirômetro), aumentando a eficiência
do processo (rendimento gravimétrico) e a qualidade do carvão produzido
(aumento do teor de carbono fixo). Oliveira (Op. Cit.), conclui que,fazendo o
controle de temperatura interna dos fornos, pode evitar alterações indesejáveis
da temperatura. Geralmente, esta variação indesejada é produzida por
entradas de ar através de rachaduras na parede do forno.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
83
Segundo vários autores (Arruda 2011, Oliveira 2009, citados por Oliveira - Op.
Cit.), o monitoramento da temperatura interna dos fornos através de
pirômetros, sensores de infravermelho portáteis, proporciona possibilidade de
gerenciar melhor o processo de carbonização e do resfriamento permitindo
ganhos representativos no rendimento gravimétrico. Esse tipo de sensor de
temperatura está sendo utilizado pelo seu menor custo e maior facilidade de
operação, sem peças móveis, tais como termopares de termômetros de
resistência diferencial.
Segundo Raad (Op. Cit.), existem diferentes tipos de periféricos para controle
da temperatura do processo de carbonização, desenvolvidos pelas próprias
empresas do setor siderúrgico ou disponíveis no mercado para aquisição ou
aluguel. Os sistemas possuem diferentes características e capacidades de
controle do processo. Podem ser caracterizados como:
• sistemas que utilizam pirômetros óticos, que medem a radiação emitida
pelas paredes dos fornos para obtenção de modelos padronizados de
controle;
• sistemas com termopares fixos, que medem a temperatura em pontos
estratégicos dos fornos e que também são associados a um padrão
operacional pré-estabelecido;
• sistemas que coletam a temperatura do interior do forno, via tubo de
inspeção, também utilizando o pirômetro ótico, porém com capacidade
de armazenamento de dados, que são posteriormente tratados em
programa específico associado a um modelamento matemático do
processo de secagem e carbonização;
• sistemas dotados de termopares e transmissão de dados, via ondas de
rádio e/ou fibra ótica, associados a um comando supervisório central,
que faz o tratamento das informações em programa especifico.
Calcula-se que 20% das empresas pertencentes à cadeia de produção de
carvão vegetal, que usam forno de alvenaria, adotem algum tipo de sistema
periférico para controle da temperatura do processo de carbonização (CGEE,
2015, citado por Raad- Op. Cit.). Esse autor avalia que o uso de sistema
periférico para controle da temperatura do processo de carbonização pode
elevar o rendimento gravimétrico em até 33%. O uso de periféricos para
controle da temperatura do processo de carbonização, em fornos de alvenaria,
é comum aos produtores de aço, e adotado por alguns produtores de ferroligas.
Já com relação aos produtores independentes de ferro-gusa, caracterizados
pela produção independente de carvão vegetal, começa a utilização destes
equipamentos para controle de temperatura (Raad- Op. Cit.). Esse autor
reconhece que existem restrições e barreiras de ordem cultural para a
implantação de sistemas para controle da temperatura do processo de
carbonização, notadamente em fornos de alvenaria do tipo circular, sem
mecanização ou com mecanização parcial.
Essas restrições e barreiras estão ligadas ao fato de que a condução dos
fornos circulares, sem mecanização ou com mecanização parcial, é feita pelos
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84
carbonizadores. Esses trabalhadores, em geral, não aceitam ou não acreditam
em outras formas de produzir carvão vegetal, que não seja o controle visual e
empírico do processo de carbonização (Raad- Op. Cit.).
Observa-se, de um modo geral, organização dos carbonizadores contra a
entrada de novas práticas de produção de carvão vegetal, nas cadeias que
utilizam fornos de alvenaria do tipo circular, sem mecanização ou com
mecanização parcial (Raad - Op. Cit.). Esse aspecto se mostra bastante
importante numa análise ″SWOT″.
Quanto ao sistema de carbonização objeto do atual estudo de EVTE, ou seja,
sistema de carbonização forno-fornalha desenvolvido pela Universidade
Federal de Viçosa – UFV, mostrou durante várias pesquisas, significativos
ganhos de rendimento gravimétrico.

6.1.4 Aumento do rendimento com sistema de queima dos gases

Para uma produção brasileira de 4,5 milhões de toneladas/ano de carvão


vegetal, estimando que 80% desta produção seja feita em fornos de alvenaria
com baixo rendimento (26% em peso – rendimento gravimétrico). Uma
elevação do rendimento para 32,5% (fornos UFV) significaria uma
disponibilidade adicional de 234.000 t/ano de carvão vegetal utilizando a
mesma quantidade de madeira. Além do grande ganho ambiental pelas
emissões evitadas Os fornos com fornalha da UFV mostram
experimentalmente que alcançam facilmente esse rendimento. Com
possibilidade de atingir até 34% de rendimento gravimétrico. A fornalha com
chaminé promove a queima dos gases e a chaminé favorece a exaustão dos
gases internos do forno, acelerando a carbonização.
Vários fatores interferem no rendimento gravimétrico tanto a qualidade da lenha
como na correta operação dos fornos. A lenha quanto mais homogenea e mais
seca permite melhor rendimento. A lenha com maior densidade gera carvão de
melhor qualidade. A umidade da madeira precisa ser evaporada antes de
iniciar realmente a carbonização. Para essa evaporação é consumida uma
parte da lenha. Quanto ao diametro, basta entender que a velocidade de
propagação da carbonização na madeira é uma constante. Enquanto as peças
de lenha fina terminam a carbonização as peças de lenha mais grossas
continuam, transformando as peças mais finas em cinzas.
A correta operação do forno significa conhecer e administrar bem a
carbonização com acompanhamento das temperaturas em seuinterior. Isso é
possível através da leitura das temperaturas pelos pirômetros em tubos de
visita dispostos na parede do forno. Quando o forno atinge a temperatura
indicada na receita de operação, pode-se interromper a carbonização. A
operação incorreta afeta tanto a qualidade do carvão como o rendimento do
forno. Se a temperatura vai além da indicada na receita e por mais tempo,
perde-se em rendimento. Se a temperatura fica abaixo e por tempo inferior à
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85
indicada, o carvão fica mal carbonizado, como consequência, produz-
semadeira semi carbonizada e de baixo teor de carbono fixo (atiço).
Efetuando uma Análise de viabilidade técnica e economica para o sistema de
forno – fornalha UFV, Carneiro et ali (Op. Cit.) concluiu que:
O sistema fornos-fornalha, mesmo apresentando maior custo com a
construção dos fornos, dutos, fornalha e chaminé, apresentou maior
viabilidade econômica que os fornos “rabo-quente”, gerando maior lucro
ao produtor de carvão vegetal em todos os cenários propostos. Este
mesmo sistema apresenta maior ganho técnico, devido ao maior
rendimento gravimétrico, menor consumo de madeira, necessidade de
menor número de fornos para uma mesma produção, além do controle
da carbonização por temperatura através de sensores, ou seja, sem
utilizar critérios subjetivos.

Nas Figuras 48, 49 E 50 estão ilustrados o projeto dos fornos – fornalha UFV46:

FIGURA 48: VISTA FRONTAL DO SISTEMA FORNO – FORNALHA UFV COM MEDIDAS EM CENTIMETROS
Fonte: Costa (Op. Cit.).

46Cf. COSTA, J. M. F. N. Temperatura Final de Carbonização e Queima dos Gases na


Redução de Metano como Base a Geração de Créditos de Carbono. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Viçosa. 60 pag. 2012.

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86
FIGURA 49: VISTA LATERAL DO SISTEMA FORNO – FORNALHA UFV COM MEDIDAS EM CENTIMETROS
Fonte: Costa (Op. Cit.).

FIGURA 50: PLANTA BAIXA DO SISTEMA FORNO – FORNALHA COM MEDIDAS EM CENTIMETROS
Fonte :Costa (Op. Cit.).

6.1.5 Construção da Unidade Demonstrativa (UD) de Lamim

Para a construção da UD em Lamim foi realizado o nivelamento do solo. Em


seguida procedeu-se a marcação da base dos fornos e e da fornalha com
respectivos dutos de interligação dos fornos com a fornalha.

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87
Com auxílio de um cintel de madeira de 1.5m traçou-se a projeção da base dos
fornos. Com procedimento semelhante traçou-se a base da fornalha. O cintel
foi fixado a uma estaca no centro do forno.A construção da base foi executada
de forma dobrada com argamassa de solo argiloso, areia lavada e água. Sobre
a base foi construída a parede do forma em camada simples. Junto à porta foi
reforçada com camada dupla de tijolos
Na base do forno foram deixadas seis aberturas importantes para entrada de ar
e controle da carbonização. A porta do forno foi construída com auxilio de um
gabarito de madeira. A porta posui a dimensão de 90 cm de largura por 170 cm
de altura.
A parte superior da porta recebeu uma cantoneira metálica em formato ″U″
para suportar a parede superior e a cúpula. A extremidade superior da parede
recebeu uma cinta metálica ligada com rosca e porca para reforço e receber a
cúpula.
A fornalha foi construída em formato cilíndrico com diâmetrointerno de 110 cm
e 160 cm de altura . Uma abertura de 30 X 30cm foi construída para entrada de
ar e abstecimento de material combustível, conforme demostrado na Figura48.
O volume da fornalha foi calculado para uma vazão média de gases de 2.800
m3 por hora. A parede da fornalha foi construída em camada dupla de tijolos
com argamassa refratáriae revestida internamente de manta cerâmicapara
resistir às altas temperatura da queima dos gases.
A última camada de tijolos da fornalha foi reforçada com uma cinta metálica de
3⁄8 de polegada unida com roscas e porcas para resistir àexpansão térmica
pela combustão dos gases.
Os dutos para transporte dos gases interligando os fornos a fornalha foi
construído com tijolos e argamassa idêntica à utilizada nos fornos secção de 40
X 40 cm. No duto, foi instalado uma guilhotina metálica para fechamento e
abafamento do forno durante resfriamento.
Sobre a fornalha foi foi construída a chaminé com diâmetrointerno de 160 cm e
altura de 400 cm. Tanto a fornalha como a chaminé foram revestidas de manta
refratária. As paredes externas dos dutos, da fornalha e chaminé receberam
uma camada de argamassa refratária, para a completar a vedação, reforçando
o isolamento térmico e aumentando a durabilidade das mesmas.
As paredes do forno receberam quatro cilindro metálicos fechados na
extremida interna denominados poços para leitura da temperatura, distribuidos
na altura de 60cm do solo entre as entradas de ar da base e mais quatro
cilindros na altura de 170 cm.
Para medir as temperaturas do forno, utilizou-se um sensor de infravermelho,
pirômetro, com capacidade de medir temperaturas entre 30 e 550°C.

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88
A Figura 51demosnstra os detalhes construtivos e asdimensões da fornalha e
da chaminé apresentados por Donato (Op. Cit.) em seu trabalho de pesquisa
de Doutorado desenvolvido na UFV.

FIGURA 51: VISTA EM CORTE LATERAL COM DIMENSÕES DOS COMPONENTES DA FORNALHA
Fonte: Donato (Op. Cit.).

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89
FIGURA 52: PLANTA BAIXA DA CÂMARA DE COMBUSTÃO E DUTO
Fonte: Donato (Op. Cit.).

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90
7 A VIABILIDADE ECONÔMICA
7.1 INTRODUÇÃO

Este Capítulo avalia a viabilidade técnica, econômica e financeira da unidade


demonstrativa de produção de carvão vegetal sustentável utilizando sistema
forno-fornalha - modelo UFV, seguindo metodologias convencionais já
consagradas na literatura.
Cabe mencionar que, embora usualmente integrem este capítulo da análise,
dois temas não serão aqui tratados: mercado e tamanho.
Os aspectos relacionados ao mercado foram tratados no Capítulo 3, face sua
complexidade e relevância para a contextualização geral do problema da
produção de carvão a partir de florestas plantadas, notadamente no que diz
respeito aos usos alternativos da madeira e, mais relevante, no que concerne
às perspectivas futuras do setor.
Já a questão do tamanho ótimo não se aplica ao presente exercício: a análise
se desenvolve pela apreciação da viabilidade técnico-econômica de um
protótipo já implantado, não se cogitando - pelo menos neste estudo - de
variações de porte no tamanho dos fornos projetados. Ademais, a escala de
produção é modular: dá-se pela simples adição de novos conjuntos de forno-
fornalhas, sem que este acréscimo signifique economias de escala
significativas, razão de ser de um estudo de "tamanho ótimo".
Vale, entretanto, salientar que a análise incorpora estudos já elaborados onde
é possível a comparação dos custos e produtividade do protótipo sob escrutínio
com outras tecnologias e escalas de produção. Comentários adicionais a este
Tópico serão tecidos no Capítulo 9 - "Estratégia de Implantação, que consolida,
o "Plano de Negócios" para a estratégia de multiplicação da adoção do sistema
forno-fornalha.

7.2 LOCALIZAÇÃO

Dada a característica deste EVTE referir-se a uma unidade demonstrativa já


implantada, a localização do empreendimento é dada, em Lamim - MG.
Os critérios utilizados para a definição da localidade onde instalar a unidade
demonstrativa foram definidos em Relatório Técnico47, seguindo metodologia
similar a um "Método Delphi". Cumpre mencionar que, quando da elaboração
do Produto 3 da Consultoria - Plano de Negócios - metodologia similar deverá
ser empregada no estabelecimento dos parâmetros a nortearem a localização
de novas unidades de produção.

47CARNEIRO, Angélica de Cássia Oliveira (2017-2, Op.Cit.)

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91
Os critérios utilizados no caso em tela foram:
Critérios Obrigatórios (pré-qualificação para elegibilidade (critérios de sim
ou não):

• Perfil do produtor na produção> ser pequeno ou médio produtor de


carvão vegetal (produção de até 3.000m³ de carvão vegetal/mês);
• Localização preferencial: a propriedade deve estar localizada na Região
da Zona da Mata de Minas Gerais;
• Demonstrar intenção de assinar o termo de compromisso e parceria com
a UFV (em que conste o aceite da tecnologia proposta por parte do
produtor,disponibilizara propriedade para a realização do projeto, bem
como permissão para a realização de eventos de capacitação de outros
produtores; e, permitir a realização de coleta de dados e visitação na
área durante o período de vigência do projeto que será de 24 meses);
• Possuir fornos em funcionamento compatíveis com a região específica
do projeto (seu sistema de produção deve ser representativo da região e
se encaixar dentro da proposta técnica);
• Utilizar madeira oriunda de floresta plantada – na região, a
predominância é a madeira de eucalipto;
• Não utilizar madeira nativa (seja de desmatamento ou madeira nativa
legal);
• Não estar respondendo por processo judicial ou de conselho profissional
devido à má atuação profissional, estelionato e/ou congêneres;
• Estar em conformidade ambiental e seguir as orientações do órgão
ambiental local para implantação e colheita (autorizações, licenças, etc.);
• Não possuir parentesco com qualquer participante/pesquisador do
projeto;
• Disponibilizar área mínima de 250 m2 para o projeto (área plana).
Critérios pontuáveis - pontuação 1 a 5 (Pontuação para seleção entre os
produtores elegíveis, ou seja, que cumpriram os critérios obrigatórios):

• Grau de liderança ou formador de opinião;


• Interesse do proprietário em inovar e disposto a ser o primeiro a adotar
novas tecnologias;
• Ter mão de obra para colaborar com o projeto (enchimento e descarga
do forno);
• Ter facilidade de relacionamento;
• Adequação física da propriedade para instalação da unidade
demonstrativa (necessidade de terraplanagem ou outra adequação da
propriedade);
• Ter bom acesso na propriedade (condições da estrada);
• Disponibilizar madeira para realização dos testes (aproximadamente 300
st);
• Fornecer, preferencialmente, madeira para utilização da UFV nas
unidades demonstrativas (aprox. 300 st);
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
92
• Estar produzindo carvão vegetal atualmente;
• Residir preferencialmente na propriedade;
• Ter infraestrutura existente: luz, água, sanitários e alojamento;
• Possuir rede elétrica na propriedade a área dos fornos (necessidade de
energia elétrica para os equipamentos de medição dos gases);
• Será um diferencial o número de anos de experiência do produtor com a
produção de carvão vegetal.
Os critérios foram aplicados em 5 propriedades/proprietários pré-selecionadas
na região de Lamim, sendo selecionado o produtor que apresentou maior
pontuação.

7.3 PARÂMETROS GERAIS DA AVALIAÇÃO ECONÔMICA

Para a análise de viabilidade técnica e econômica da unidade demonstrativa de


Lamim foram propostos três cenários, considerados como concorrentes diretos
em função da tradição produtiva da região:
1. o sistema forno – fornalha UFV que compõe a unidade demonstrativa,
para o qual já se dispõe de dados de custos, produção e rendimento
gravimétrico;
2. Forno de encosta tradicionalmente utilizado em regiões acidentadas de
Minas Gerais, contemplando os pequenos produtores de carvão vegetal
de Lamim;
3. Forno de superfície ("rabo quente"), o mais utilizado por pequenos
carvoeiros em Minas Gerais, majoritariamente nas regiões planas e de
maior produção no estado.
O sistema forno – fornalha UFV já possui replicação no estado do Espírito
Santo, sendo o produto voltado para o comércio varejista como carvão
empacotado e não para siderurgia. A difusão feita pelo IDAF – Instituto de
Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo mostra um resultado
econômico muito satisfatório para o pequeno produtor, apontando sinalização
positiva para a ampliação das unidades de produção em atividade.
Naturalmente, o preço de venda do carvão empacotado é significativamente
superior ao do carvão para siderurgia, remunerando adequadamente os
investimentos maiores (peneiramento e empacotamento), pelo que a análise
não se replica para a área aqui em estudo..
7.3.1 Horizonte de Análise, Depreciação e Valor Residual
Foi estipulado um horizonte de análise de 10 (dez) anos para os EVTE’s com a
previsão de reinvestimentos quando a vida útil dos fornos for inferior a este
prazo.
A vida útil dos fornos de encosta e de superfície é geralmente estimada em
seis anos, porém, para esta análise será considerada como cinco anos tendo
em vista o horizonte de análise e que o impacto financeiro desta mudança não
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
93
é significativo em termos de viabilidade e/ou rentabilidade, dado o baixo valor
do investimento.
O único valor residual considerado nos fluxos de caixa é o capital de giro.
7.3.2 Capital de Giro
O capital de giro necessário foi estimado da seguinte forma:
• Custo de aquisição de matéria prima: 01mês ;
• Mão de obra com encargos: 01 mês.
7.3.3 Custo de Manutenção e Conservação48
O custo de manutenção foi estimado em a 5% sobre o valor total gasto na
construção dos fornos à exceção dos anos em que o investimento foi realizado.
7.3.4 Carga Tributária49
O faturamento da empresa carvoeira foi tomado como base de cálculo para os
tributos. Doze espécies tributárias foram analisadas: ECRRA, TF, ICMS,
COFINS, PIS, IRPJ, CSLL, ITR, TCFA, TFAMG, INSS e FGTS. O impacto
tributário para a produção do carvão vegetal foi igual a 9,76%.
7.3.5 Mão de Obra
A mão de obra dimensionada para a operação dos fornos nos três cenários é
de apenas um funcionário com a remuneração mensal de um salário mínimo.
Os encargos de mão de obra estão incluídos na estimativa da carga tributária
dos EVTE’s.
7.3.6 Rendimento Gravimétrico - RG
O rendimento gravimétrico - RG adotado foi 32,5 % para o sistema forno –
fornalha UFV, baseado nos dados obtidos na unidade demonstrativa de Lamim
por Donato 2017.
Adotou-se RG de 30% para os fornos de encosta ou barranco baseado nos
dados de levantamentos sugeridos na bibliografia e por levantamentos na
pesquisa de campo efetuada pela Consultoria em 2018.
Para os fornos de superfície foi atribuída média nacional sugerida por vários
autores (SMS 2018, citado em Raad (Op. Cit.) de 26% reconhecida para fornos
de superfície com controle da carbonização baseada somente na experiência
do produtor de carvão que opera pela cor da fumaça e pela temperatura na
parede percebida com a mão.

48
OLIVEIRA (Op. Cit.)
49
Tributação na Produção do Carvão Vegetal: (Sem referência ao autor). Disponível em
http://www.florestal.gov.br/documentos/informacoes-florestais/premio-sfb/ipremio/monografias-i-
premio/profissional-1/406-profissionais-21-resumo/file. Acesso em 07/04/2018.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
94
Como a lenha terá a mesma origem para os três cenários, adotou-se as
características médias encontradas para lenha de Lamim por Donato (Op.Cit.),
3.100 kg de lenha seca por carga de forno, perfazendo um consumo mensal
pelos quatro fornos de 49.600 kg de lenha seca mês para sistema UFV e
fornos de superfície e 37.200 para forno de barranco. Adotou-se os três
sistemas de fornos com a mesma capacidade interna (3.100 kg de lenha seca).
No sistema UFV com rendimento gravimétrico médio de 32,5%, obteve-se
produção mensal de 16.120 kg de carvão. Utilizando o valor de rendimento
gravimétrico de finos de carvão, sugerido por Raad (Op. Cit.) de 1,9 %, obteve-
se uma produção de finos de 942 kg mês.
A utilização de massa seca de madeira se deve ao fato que o rendimento
gravimétrico (RG) é calculado da seguinte maneira: massa de lenha seca
dividida pela massa de carvão produzido, vezes 100. Assim, obtém-se o RG,
que é expresso em porcentagem. Além disso, o rendimento gravimétrico é um
parâmetro importante que difere a produtividade dos três sistemas avaliados.
Portanto todos os cálculos de consumo de lenha foram feitos em base de
″lenha seca enfornada″.

7.3.7 Curva de Aprendizado


Por se tratar de um projeto inovador, optou-se em adotar uma curva de
aprendizado para o processo produtivo até que o rendimento gravimétrico
atinja os 32,5% apurados na unidade demonstrativa de Lamim.
Os índices adotados foram de 90% para o primeiro ano de operação, ou seja,
RG = 29,25 e 95% para o segundo ano (RG = 30,88). A partir do terceiro ano a
produção é estabilizada com o rendimento de 32,5%.

7.3.8 Preços Praticados e Projeção das Receitas


Em média, o preço do carvão vegetal colocado nas siderúrgicas mais próximas
de Lamim - MG, durante o período de estudo do Painel Florestal50 em
Conselheiro Lafaiete, foi de R$135,00/mdc (metro de carvão) a um frete de R$
30,00/mdc e custo de colheita, extração e baldeio de R$35,00/m estéreo, o que
equivale vender a madeira em pé a R$40,00/m3 (Painel Florestal- Op. Cit.).

50PAINEL FLORESTAL. Disponível emhttp://www.painelflorestal.com.br/noticias/mercado/10-


tendencias-para-negocios-e-mercado-florestal-em-2018 06/10/2017. Acesso em 24/04/2018.

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95
TABELA23 - CUSTO MATÉRIA PRIMA IDENTIFICADA EM PESQUISA EFETUADA POR RAAD2018

Fonte: pesquisa de mercado feito por Raad 2018.

Em todos os cenários voltados para pequenos produtores, os fornos estão


próximos à unidade de produção de carvão (UPC). Esse fato é evidente na
região de Lamim, onde - em geral - as pequenas propriedades em média não
ultrapassam em muito 30 a 40 hectares. Nas regiões acidentadas, a maioria
dos pequenos produtores utilizam animais (bois) para baldear a lenha das
encostas até a carvoaria; em alguns poucos casos, usam pequenos tratores.
Nas regiões planas o uso de caminhões é mais comum.
Nas tabelas a seguir apresenta-se os índices técnicos para os três cenários e a
projeção da produção e receitas com a venda do carvão.

TABELA24 - PARÂMETROS ADOTADOS PARA OS TRÊS CENÁRIOS

Fonte:proposto pela CP Empreendimentos.

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96
TABELA25–PROJEÇÃO DAS RECEITAS

Fonte: ElaboraçãoCP Empreendimentos 2018

7.4 PARÂMETROS ESPECÍFICOS DA AVALIAÇÃO ECONÔMICA

7.4.1 Cenário 1 = Unidade Demonstrativa de Lamim.


Foi utilizada a unidade demonstrativa construída na propriedade de um
pequeno produtor, selecionado em fase preliminar, com quatro fornos de 3,0 m
de diâmetro e uma fornalha central para queima de gases da carbonização.
Cada forno realiza a carbonização em um ciclo de sete dias, composto de:
• meio dia para carregamento da lenha e ignição;
• 3 dias para carbonização;
• 3 dias para resfriamento;
• meio dia para descarga, possibilitando quatro carbonizações mensais.
Portanto a unidade demonstrativa com quatro fornos pode produzir 28 fornadas
mensais. Cada forno recebe 12st de lenha, sendo que essas carbonizações
devem ser alternadas. Enquanto 2 fornos estão esfriando 2 fornos estão
carbonizando.
Foi adotado o Rendimento gravimétrico de 32,5%, obtido nas pesquisas da
UFV51. Nos estudos de redução de emissões de dióxido de carbono
equivalente (CO2e) efetuados pela Universidade Federal de Viçosa (Donato,
Op. Cit.), houve uma redução da concentração de metano e monóxido de
carbono emitidos durante a combustão dos gases na fornalha
avaliada.Conseguiu-se uma redução média de 76,45 kg de CO2e por tonelada
de lenha seca enfornada. Portanto, em um ano de produção, na unidade
demonstrativa pode-se evitar a emissão de 45,5 toneladas de CO2e por
conjunto de quatro fornos. Conforme cita Donato:
A queima dos gases da carbonização no sistema forno-fornalha
avaliado resultou na redução total de 244,65 kg de emissões de
CO2 equivalente (CO2e), obtido a partir de 3,2 toneladas (t) de

DONATO, Danilo Barros. "Desenvolvimento e avaliação de desempenho de uma fornalha


para combustão dos gases da carbonização da madeira". Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência
Florestal, para obtenção do título de Doctor Scientiae.Viçosa, 2017.

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97
massa seca de madeira enfornada. Logo, com base neste
estudo, para cada 1 t de madeira carbonizada, tem-se uma
redução de aproximadamente 76,45 kg de CO2e.
Se existem 2.000 fornos em Lamin e todos fossem substituídos por fornos
semelhantes ao sistema forno – fornalha UFV, poderíamos multiplicar 45,5 por
500 = 22.750 toneladas ano de emissão de CO2eequivalentes em Lamim.

TABELA26 - CUSTO DE CONSTRUÇÃO DA UNIDADE DEMONSTRATIVA DE LAMIM

Fonte: Pesquisas da UFV, Donato (Op. Cit.).

Na coleta de dados com forno – fornalha da Universidade Federal de Viçosa


Donato utilizou um forno com capacidade de 12 estéreos de lenha com
fornalha e chaminé acoplada conforme Figura53. O forno utilizado possui 3
aberturas em cada parede lateral, conhecida popularmente como “tatu”, cujas
dimensões são de 10 x 15 cm, as quais foram uniformemente distribuídas em
suas duas laterais, para admissão de ar. A abertura e o fechamento dessas
entradas controlavam a entrada de ar para o sistema e, consequentemente, as
temperaturas do forno, auxiliando na condução da carbonização.

FIGURA 53: FORNO – FORNALHA UFV DE 12 ESTÉREOS. FONTE: PESQUISAS COM SISTEMA FORNO –
FORNALHA UFV

Fonte: Donato (Op. Cit.)

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
98
7.4.2 Cenário 2 = Fornos de encosta
As especificações adotadas foram:
• apacidade de 13 estéreos de lenha equivalendo à produção de 7 mdc;
• RG 30%;
• diâmetro = 3,0 m;
• altura 2,5m.
Custo total de construção de um forno = R$ 1.000,00 (mão de obra+ materiais),
conforme informações colhidas junto aos produtores de carvão de Lamim.
Pelo período maior de tempo de resfriamento estes fornos permitem apenas
três carbonizações por mês. A condução da carbonização e efetuada apenas
pela experiência do operador -visualmente, pela cor da fumaça.
Com rendimento gravimétrico de 30,0%, com abastecimento por forno de 3.100
kg de lenha, obtém-se por forno 2.790 kg de carvão/mês. Em um ano com 4
fornos produz-se 133.920 kg de carvão.

TABELA27 - CUSTO DE CONSTRUÇÃO DE QUATRO FORNOS DE ENCOSTA EM LAMIM

Fonte: CP Empreendimentos

7.4.3 Cenário 3 – Fornos de Superfície


Fornos de superfície com médias gerais de rendimento gravimétrico de 26%
adotados por Raad (Op.Cit.) e por entrevista na AMS pela CP
Empreendimentos. Correspondem ao perfil médio da produção em fornos de
superfície sem sistema de controle ou monitoração da temperatura de
carbonização nem tratamento das emissões gasosas. O forno típico tem
diâmetro de 3.00m e altura de 2.5m. Possui a capacidade de ciclos de
carbonização de sete dias, com possibilidade de quatro carbonizações por
mês. A capacidade volumétrica é de sete estéreos de lenha.
Pela semelhança construtiva com os fornos do sistema da unidade
demonstrativa de Lamim, naturalmente sem sistema de dutos e fornalha,
adotou-se o custo de construção de R$ 735,00 de materiais e R$ 1.000,00 de
mão de obra por forno totalizando R$ 1.735,00. Este custo coincide ou
aproxima bastante com o custo de R$ 120,00 por m 3 citado por Carneiro (2017-
1, Op. Cit.).
O investimento total neste forno é estimado em R$ 6.940,00
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99
7.5 INDICADORES DE VIABILIDADE
Com a apuração de todos os investimentos, itens de custo e receitas para cada
um dos cenários são elaborados os fluxos de caixa e apurados os indicadores
de rentabilidade. São eles:
Taxa Interna de Retorno - TIR e Valor Presente Líquido - VPL: Trata-se do
valor atual (no ano zero, ou seja, no momento da realização dos investimentos)
dos ganhos líquidos de um projeto (ou seja, os benefícios menos os custos,
inclusive de investimento), descontados à taxa definida como custo de
oportunidade de capital (taxa de atratividade do investidor ou taxa de juros)
considerada para a tomada de decisão.A TIR – Taxa Interna de Retorno estima
a taxa anual média de rentabilidade do projeto. Determina qual seria a taxa de
desconto (i), ou custo de oportunidade, que geraria o valor atual (VPL) igual a
zero.
Ponto de Nivelamento ou Ponto de Equilíbrio: O ponto de equilíbrio é o
percentual sobre a capacidade operacional total a que se deve operar para
igualar a lucratividade a zero, ou seja, é a taxa mínima a que o
empreendimento deverá operar para que não tenha prejuízos.
Pay-Back - Tempo de Retorno do Investimento: O prazo de retorno é o
tempo necessário para que o investimento inicial seja recuperado com os
rendimentos do projeto.
Relação Benefício/Custo: Trata-se da relação entre os benefícios líquidos
(entradas) e os custos líquidos (saídas) atualizados à taxa de desconto i (custo
de oportunidade).
Cenários: São ainda realizadas simulações de forma positiva e negativa sobre
as variáveis mais sensíveis do empreendimento, sejam elas a aquisição de
matéria-prima, mão de obra, custos de transporte ou quaisquer outras que,
sofrendo algum nível de alteração, gerem impactos significativos nos
indicadores de viabilidade do projeto.
Nas Tabelas a seguir apresenta-se os fluxos de produção, fluxos de caixa e
indicadores de viabilidade econômica para cada um dos três cenários.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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100
TABELA28–FLUXO DO PROCESSO PRODUTIVO – CENÁRIO 1 – U.D. LAMIM

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos


TABELA29–FLUXO DE CAIXA – CENÁRIO 1 – U.D. LAMIM

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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101
TABELA30–INDICADORES DA VIABILIDADE ECONÔMICA – CENÁRIO 1 – U.D. LAMIM

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

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102
TABELA31–FLUXO DO PROCESSO PRODUTIVO – CENÁRIO 2 – FORNO DE ENCOSTA

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos


TABELA32–FLUXO DE CAIXA – CENÁRIO 2 – FORNO DE ENCOSTA

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
103
TABELA33–INDICADORES DA VIABILIDADE ECONÔMICA – CENÁRIO 2 – FORNO DE ENCOSTA

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

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104
TABELA34–FLUXO DO PROCESSO PRODUTIVO – CENÁRIO 3 – FORNO DE SUPERFÍCIE

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos


TABELA35–FLUXO DE CAIXA – CENÁRIO 3 – FORNO DE SUPERFÍCIE

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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105
TABELA36–INDICADORES DA VIABILIDADE ECONÔMICA – CENÁRIO 3 – FORNO DE SUPERFÍCIE

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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106
Conforme apresentado nos fluxos de caixa e nos indicadores de viabilidade, a
produção de carvão apresentou viabilidade nos dois primeiros cenários
(Unidade Demonstrativa de Lamim e forno de encosta). Utilizadas as premissas
citadas, o forno de superfície não apresentou viabilidade.
Porém, há que se ressaltar alguns pontos sobre a viabilidade dos cenários:

• As taxas internas de retorno dos Cenários 1 e 2 podem parecer bastante


altas quando comparadas a outros empreendimentos, porém isto não
demonstra que os projetos sejam altamente atrativos. Basta observar os
saldos de caixa anuais, de aproximadamente R$ 20 mil, o que
representa uma receita líquida mensal inferior a R$ 1.700,00;
• Ao considerar a utilização um funcionário recebendo um salário mínimo
para os projetos pode ser considerado superestimado, tendo em vista
que não há necessidade da dedicação exclusiva de um funcionário para
o empreendimento. Muitas vezes o operador que irá trabalhar é o
proprietário do empreendimento e seus familiares que, ademais da
operação dos fornos, cuidam das demais atividades da propriedade;
• Por fim, há que se considerar que o empreendedor muitas vezes será o
proprietário da matéria prima (madeira), o que deverá reduzir o seu
custo operacional e agregar valor ao seu produto.

7.6 ANÁLISE DA SENSIBILIDADE

Para sensibilizar os indicadores de viabilidade, foram realizadas simulações


otimistas e pessimistas sobre o valor de aquisição da matéria prima e o valor
de venda do carvão, considerados os itens de maior impacto na viabilidade
econômica e de menor previsibilidade no mercado.

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107
TABELA37–ANÁLISE DA SENSIBILIDADE DO PROJETO - CUSTO DE AQUISIÇÃO DA M ADEIRA

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

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108
TABELA38–ANÁLISE DA SENSIBILIDADE DO PROJETO - PREÇO DE VENDA DO CARVÃO

Fonte: Elaboração CP Empreendimentos

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
109
8 AVALIAÇÃO MACROECONÔMICA DO PROJETO

8.1 . Considerações metodológicas

Como visto no Capítulo 7, a avaliação tradicional de um projeto é um exercício


de "futurologia". Nele busca-se antever os efeitos que o mesmo produzirá em
termos de ganhos (receitas) e perdas (investimentos e custeio) para o
empreendedor, valorá-los e compará-los. Para tanto, dispõe-se de preços
observáveis no mercado. Operacionalmente, existe um enorme arcabouço de
técnicas suportadas por uma base teórica fartamente consolidada.
Já projetos de cunho social ou ambiental apresentam peculiaridades, o que faz
com que se justifique uma análise que transcende a que estima apenas os
ganhos do empreendedor, na medida em que impacta a sociedade como um
todo Esta é a chamada "Análise Social", ou "Análise Macroeconômica" do
projeto.
A base teórica que sustenta esta análise é mais frágil, de vez que o ferramental
desenvolvido pela teoria econômica o foi essencialmente para bens que
possuam um mercado com características razoavelmente bem definidas,
principalmente no que se refere às preferências do consumidor. Estas
características são refletidas nas quantidades demandadas e ofertadas,
redundando assim em preços praticados.
Nos projetos com objetivos direta ou indiretamente ligados a meio ambiente
uma fragilidade se manifesta: ademais de se tratar com "produtos" para os
quais não existem mercados claramente estruturados, são de lavra
relativamente recente, pelo que seus métodos de avaliação ainda são objeto de
grandes controvérsias, inexistindo procedimentos consensuais. Note-se que
discussões mais profundas sobre meio ambiente somente passaram a
frequentar a academia no final do Século XX52.
De vez que projetos de cunho ambiental apresentam impactos sobre toda a
sociedade, faz sentido sua avaliação também do ponto de vista
macroeconômico, ou seja, a avaliação de seus impactos sobre sociedade como
um todo - também chamada de "Análise Social de Projeto". Por este método,
considera-se apenas a "criação de valor" - ou seja, a criação de recursos reais
(produção real de bens) pelo empreendimento - e a "destruição de valor" - ou
seja, o consumo de recursos reais pelo projeto. Esses fatores são avaliados a
partir da construção de "preços-sombra", ou seja, "os preços que vigorariam
caso não houvesse distorções no mercado"53. Note-se que, por este padrão de

52Principalmente
após a edição do "Relatório Brundtland": BRUNDTLAND, GroHarlen (ed.): "O
Nosso Futuro Comum", Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento, Nações
Unidas, 1987.
53
RAY, Anandarup: "Cost-benefit analysis: issues and methodologies". The World Bank, the
Johns Hopkins University Press, Baltimore MD, USA, 1984.

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110
avaliação, os impostos são eliminados do fluxo de caixa, na medida em que
não criam ou destroem nada, sendo mera transferência do setor privado para o
setor público. Igualmente, financiamentos não são considerados: seus custos
(juros) são mera transferência dos ganhos do empreendedor para o
financiador.
A não aceitação universal dos instrumentos de análise mais comumente
utilizados em projetos de cunho ambiental impedem uma estimativa
incontestável dos benefícios a serem auferidos com sua implantação. Nem
mesmo a adoção de preços-sombra para a realização de avaliação
macroeconômica aplica-se de forma inconteste ao presente caso: a
indisponibilidade de Contas Nacionais - base numérica essencial para o cálculo
dos "preços-sombra" - que considerem a depletação de recursos naturais como
custos distorce significativamente os fatores de correção a aplicar aos preços
de mercado, independentemente do método escolhido como os propostos por
Squire/van der Tak54, OCDE55, Harberger56 ou outros.
Assim sendo, o nível de incerteza da análise é significativo, permitindo - quase
sempre - computar apenas e tão somente alguns dos efeitos diretos e indiretos,
principalmente num contexto de análise de equilíbrio geral.
Fica claro então que o valor econômico total do meio ambiente não pode ser
integralmente revelado por relações de mercado57. Nesse contexto, o problema
prático com valoração econômica é obter estimativas o mais plausíveis
possível, a partir de situações reais onde não existem mercados aparentes ou
só existem mercados muito imperfeitos. Sendo possível obter tais valores, eles
terão capturado pelo menos parte do que deve ser chamado de valor
intrínseco, considerando o ambiente como uma entidade em si mesma.
Clarkson e Deyes58 afirmam: "A estimativa do valor de existência pode ser (e
em muitos casos, sem dúvida, é) uma ferramenta importante para fundamentar
decisões, notadamente de políticas públicas (citando Pierce59)”.
Os mesmos autores afirmam que os estudos que tentaram valorar o custo
social da emissão de carbono empregaram um de dois métodos: análise de

54
SQUIRE, Lynn and H. G. vander Tak: "Economic analysis of projects". Baltimore, Md. Johns
Hopkins University Press, 1975.
55DASGUPTA, Partha, S. Marglin and A. Sen: "Guidelines for project evaluation". UNIDO, New

York, 1972 (o método mais utilizado pelas agências multilaterais de crédito).


56HARBERGER, Arnold: "Project evaluation - collected papers". University of Chicago Press,

Chicago, 1976.
57NOGUEIRA, Jorge M. e M. M. A. de Medeiros: “Quanto vale aquilo que não tem valor? Valor

de existência, economia e meio ambiente”. Trabalho submetido para o XXV Encontro Brasileiro
de Economia, ANPEC, Recife, dezembro de 1997.
58CLARKSON, Richard e Kathryn Deyes: "Estimating the social cost of carbon emissions".

Government Economic Service Working Paper 140 - Department of Environment, Food and
Rural Affairs, London, Jan 2002. Disponível em ftp://131.252.97.79/Transfer/ES_Pubs/
ESVal/carbonval/clarkson_02_socialCostCarbon_ukgov140.pdf. Acessado em 20/05/2018.
59PIERCE, David. “Economic values and the natural world”. London, EarthscanPublications,

1993.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
111
custo-benefício ou análise de custo marginal. O primeiro busca calcular o nível
ótimo de emissões, ou seja, o nível ao qual o custo marginal de reduzir
emissões é igual ao dano marginal que o carbono causa. O segundo busca
calcular diretamente a diferença nos níveis de danos futuros causados por uma
mudança marginal no nível de emissões atuais.
No presente caso, optou-se pela proposta de Serôa da Mota60 de adoção do
que denominou de Método da Variação Contingente - MVC. A idéia básica é
que as pessoas têm diferentes graus de preferência ou gostos por diferentes
bens ou serviços e isto se manifesta quando elas vão ao mercado e pagam
quantias específicas por eles, isto é, ao adquiri-los, elas expressam sua
disposição a pagar (DAP) por esses bens ou serviços. Observe-se que o MVC
mensura as preferências do consumidor em situações hipotéticas61.

8.2 Experiências em aplicações dos métodos

Das diferentes formas de avaliação do valor dos benefícios de um projeto


ambiental, a que melhor se ajusta ao presente estudo – seja por seus aspectos
específicos, seja pela disponibilidade de informações – é o método de
valoração contingente.
O MVC já foi empregado, entre outras oportunidades, na Austrália, pela
Comissão de Avaliação de Recursos62. Nesta oportunidade foi utilizando para
ajudar o governo a decidir se deveria ou não permitir atividades de exploração
de minas no Parque Nacional Kakadu, Northern Territory na Austrália, com
área de 19.804 km2. Foram entrevistadas 2.000 pessoas na Austrália inteira e
mais 500 no Northern Territory, onde a exploração teria lugar. O resultado foi
que, mesmo que a exploração tomasse todos os cuidados para minimizar o
impacto ambiental, a população estaria disposta a pagar US$ 826 milhões para
impedir a exploração. Este valor é superior ao valor estimado dos minérios, e
serviu de parâmetro para a decisão de manutenção da área como de
preservação.
Outra aplicação do método foi no Estudo de Pré-viabilidade da Ferrovia Porto
Velho - Manaus63. Lá, foram avaliados os impactos ambientais comparativos
entre a pavimentação da BR 319 e a alternativa ferroviária, medidos a partir do
potencial de preservação da mata amazônica em ambos os modais e

60SEROA DA MOTA, Ronaldo: ”Manual para valoração econômica de recursos ambientais".


CEMA/IPEA e COBIO/MMA. Rio de Janeiro, 1997.
61HUFSCHMIDT, M.M.; D. E. James; A. D. Meister; B. T. Bower; and J. A. Dixon. “Environment,

Natural Systems and Development: An Economic Valuation Guide”. Baltimore: The Johns
Hopkins University Press, 1983.
62 Citado em CP EMPREENDIMENTOS Ltda. “Estudo de Viabilidade Econômico/financeira do

Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM”, para o Ministério da Aeronáutica, Brasília – DF,


1993.
63CP EMPREENDIMENTOS Ltda. "Estudo de pré-viabilidade da ferrovia Porto Velho -

Manaus". Brasília/Porto Velho/Manaus, para a Moore Foundation, USA, 2007.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
112
calculando o valor resultante em termos de capacidade de sequestro de
carbono.
No projeto em tela, adotou-se metodologia similar: estimou-se o potencial de
redução de emissões em decorrência da adoção da nova tecnologia e buscou-
se valorar este ganho a partir das cotações do crédito de carbono nos
mercados existentes, assumindo que este indicador seria uma aproximação
razoável da valoração dada pela sociedade à redução de emissões.

8.3 O mercado de créditos de carbono

Existem dois mercados para créditos de carbono, formal e informal.


O mercado formal é aquele regulamentado pelo Protocolo de Kyoto, assinado
pela maioria dos países da ONU em 1997. O protocolo previa uma redução, até
2012, de 5,2% na emissão de gases do efeito estufa, em relação aos níveis
registrados em 1990. Pelo acordo, os países que não estivessem dispostos a
reduzir a poluição poderiam comprar o excedente de outras nações. Para
facilitar as transações, foi criada uma moeda, o crédito de carbono. Uma
tonelada métrica de CO2 equivale a um crédito de carbono, que pode ser
negociado no mercado internacional, como qualquer ação de uma empresa.
Durante a última Conferência do Clima (COP 17), realizada em 2011 na África
do Sul, as metas de Kyoto foram atualizadas e ampliadas para cortes de 25% a
40% nas emissões em 2020 sobre os níveis de 1990 para os países
desenvolvidos. O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países que
participam desse mercado, com cerca de 5% do total mundial e 268 projetos. A
expectativa inicial era absorver 20% das emissões. O mecanismo incentivou a
criação de novas tecnologias para a redução das emissões de gases poluentes
no Brasil64.
Estipular o valor do carbono sequestrado é tarefa complexa: existe uma
multiplicidade de agentes neste mercado, cada qual atuando segundo suas
premissas as quais são função de seus objetivos, que variam de instituição
para instituição. Mercados como o de Crédito de Carbono criado pelo Protocolo
de Kyoto e o de Chicago, que tiveram papel relevante até a virada do século,
vêm recentemente apresentando movimentação pífia.
Assim, por exemplo, a ONG Goldstandard apresenta, como estimativas de
valor mínimo do carbono sequestrado para os projetos elegíveis65:

64 Cf. BRASIL – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE: "Entenda como funciona o mercado de


crédito de carbono". Disponível em http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/entenda-como-
funciona-o-mercado-de-credito-de-carbonoCompensações. Acessado em 20/05/2018.
65Cf. GOLDSTANDARD: "Carbon pricing: what is a carbon credit worth?" Originally published

in Q1 2016 Supply Report. Disponível em https://www.goldstandard.org/blog-item/carbon-


pricing-what-carbon-credit-worth. Acesso em 20/05/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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113
• Eficiência energética – 8.20€/tCO2e + 1€ Fairtrade premium (prêmio de
mercado);
• Energia renovável – 8.10€/tCO2e + 1€ Fairtrade premium;
• Gerenciamento de florestas – 13€/tCO2e + 1€ Fairtrade premium.
A mesma fonte cita relatório da United States Environmental Protection Agency
EPA com dados atualizados em 2015 para estimar o custo total do carbono
para a sociedade. Conclui que para cada tonelada de dióxido de carbono
emitida na atmosfera corresponde um custo médio de US$ 36 em degradação
ambiental e impactos negativos à sociedade. Conclui afirmando que este valor
deve ser levado em consideração no preço do crédito de carbono.
Relatório elaborado pela "High Level Commissionon Carbon Prices",
coordenado pelo Prêmio Nobel Joseph Stiglitz,Lord Nicholas Stern e mais 11
economistas de alto nível de 9 países desenvolvidos e em desenvolvimento,
concluiu, na reunião de apresentação (Think20 Summit, 29 de maio de 2017)
em Berlin,66 que a forma de apoio mais custo-efetivo para apoiar o crescimento
dentro dos objetivos do acordo climático é valorar fortemente os preços de
carbono, atingindo US$ 40 a US$ 80 por tonelada de CO2 em 2020 e US$ 50 a
US$ 100 em 2030.
O Relatório afirma que estas cotações são consistentes com o objetivo central
do Acordo de Paris de manter o aumento de temperatura inferior a 2 graus
Celsius, sendo que uma estrutura bem elaborada de preços de carbono é uma
parte indispensável para reduzir eficientemente a emissão de gases enquanto
paralelamente sustenta o crescimento.
Finalmente,67 tem-se a disposição do mercado financeiro de aportar US$ 7
trilhões para o avanço da economia de baixo carbono socialmente responsável,
segundo cálculos de ONGs e entidades que monitoram o mercado financeiro.
O artigo cita Jorge Pinheiro Machado, diretor na América Latina do Regions of
Climate Action (R20), coalizão de governos municipais e estaduais, empresas e
entidades do terceiro setor fundada por Arnold Schwarzenegger, segundo o
qual "a conta leva em consideração os grandes fundos de investimentos
globais, como os soberanos e os de previdência, além de seguradoras,
gestores de recursos e outros agentes do mercado financeiro que estão
oficialmente comprometidos a descarbonizar seus portfólios".

66CARBON PRICING LEADERSHIP COALITION: "Leading Economists: A Strong Carbon


Price Needed to Drive Large-Scale Climate Action". Disponível em:
https://www.carbonpricingleadership.org/news/2017/5/25/leading-economists-a-strong-carbon-
price-needed-to-drive-large-scale-climate-action. Acesso em 20/05/2018
67
Cf. CAETANO, Rodrigo: "US$ 7 trilhões para salvar o planeta". Revista Isto É Dinheiro,
21/06/2017.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
114
8.4 A Avaliação do Projeto

A avaliação privada, cuja comprovação de viabilidade econômica é condição


sine qua non para o engajamento dos produtores na adoção da tecnologia aqui
estudada, foi comentada no Cap. 7. Do ponto de vista macro, buscou-se avaliar
o projeto a partir do valor do potencial de captura de CO2, numa aplicação
direta do Método da Avaliação Contingente como forma de avaliar os ganhos
que a adoção da nova tecnologia pode aportar à sociedade.
Para o valor do potencial de captura de CO2, as informações disponíveis
apresentam uma forte dispersão, como comentado anteriormente. Optou-se,
então, pela adoção de 3 valores para a tonelada de CO2 a ser capturada:

• Valor mínimo = US$ 3/ton (última cotação da Bolsa de Chicago);


• Valor máximo = US$ 36/ton (recomendação da EPA, Op. Cit.);
• Valor médio = € 13/ton ou US$ 15/ton, ao câmbio de maio 2018
(recomendação da Goldstandard, Op. Cit.).
Nessa análise, componente relevante é a Taxa de Preferência Temporal, ou
Taxa de Desconto Macroeconômica (social). Esta, nos projetos Banco
Interamericano de Desenvolvimento - BID, é usualmente definida como de 10%
a.a.
O Banco Mundial propõe, em documento de 201668, uma metodologia de
aproximação da taxa mais sofisticada, sendo que, entretanto, não apresenta
resultados para o Brasil ou mesmo para a especificidade de projetos
ambientais. Entretanto, o Anexo II do documento apresenta as taxas individuais
de desconto a serem usadas em análise econômica por governos membro da
OECD. Nele, tem-se que os dois países com perfis econômicos (países de
grande porte territorial e em desenvolvimento) mais próximos do Brasil são o
México e a África do Sul, com taxa de desconto proposta de, respectivamente,
12% e 8%.
Optou-se, então, por adotar nesta avaliação um valor intermediário - 10% - que,
ademais, converge para a proposta do BID.
O outro aspecto a considerar é o ajuste dos preços pelos fatores de correção
para a análise macroeconômica (preços-sombra): a despeito de não refletirem
adequadamente os custos ambientais, como anteriormente comentado,
capturam apropriadamente as distorções de mercado dos demais fatores,
sempre que os mesmos se apresentem de forma imperfeita.
Os cálculos para avaliação do projeto pela ótica da análise macroeconômica
implicam na eliminação dos impostos pagos, na medida em que os mesmos
não se constituem em criação ou destruição de valor - são meras
transferências do setor privado para o setor público. Procedimento similar se dá

68THE WORLD BANK: "Discounting costs and benefits in economic analysis of World Bank
Projects. OPSPQ, May 9, 2016.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
115
quando a análise privada considera a contratação de financiamentos.Os outros
fatores de correção são aplicados sobre a taxa de câmbio (custo social da
divisa), sobre os investimentos (custo social do capital) e sobre a mão de obra
(distorções criadas pelas políticas de garantia de salário mínimo).
Com as políticas macroeconômicas implementadas no Brasil a partir da última
década do Século XX, as distorções clássicas de mercado para as quais
historicamente são calculados preços-sombra - notadamente, os custos sociais
da divisa e do capital - apresentam mercados razoavelmente livres, ou seja, as
distorções que justificavam o cálculo de fatores de conversão não se fazem
mais presentes.
Os fatores de conversão mais recentemente calculados para o Brasil o foram
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID69 para a avaliação
macroeconômica dos projetos do Prodetur - Programa de Desenvolvimento do
Turismo no Brasil. Aí, apenas dois fatores de conversão devem ser tomados
em consideração: fator de 0,5 para a mão de obra não especializada e fator de
0 para impostos e taxas (simples transferências, não integrando pois o fluxo de
caixa macroeconômico). Pelo mesmo motivo - constitui-se em mera
transferência dos ganhos (os juros pagos) do empreendedor para o financiador
- quando, na avaliação privada do projeto é considerado algum tipo de
financiamento este é eliminado na avaliação macroeconômica70. Esses são os
parâmetros que serão considerados na aplicação do método.

8.5 . Aplicação do Método

8.5.1 Valor do CO2e evitado


Como apresentado no Cap. 7, estimou-se que a queima dos gases da
carbonização no sistema forno-fornalha avaliado resultou na redução total de
244,65 kg de emissões de CO2 equivalente (CO2e), obtido a partir de 3,2
toneladas de massa seca de madeira enfornada. Logo, com base neste estudo,
para cada 1 tonelada de madeira carbonizada, tem-se uma redução de
aproximadamente 76,45 kg de CO2e.
Se existem 2.000 fornos em Lamin (estimativa obtida na pesquisa de campo) e
todos fossem substituídos por fornos semelhantes ao sistema forno – fornalha
UFV (de 4 fornos por unidade), poderíamos multiplicar 45,5 por 500 = 22.750

69 Cf. BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento: "Critérios de Elegibilidade e


Avaliação de Projetos de Recuperação de Patrimônio Histórico". Prodetur Nacional -
Componente I: Produto Turístico. Anexo F, Julho 2015.
70OBSERVAÇÃO: Conceitualmente, a análise macroeconômica do projeto considera como

custos apenas recursos reais "destruídos", ou seja, se utilizados no projeto não podem ser
utilizados em outra atividade. Igualmente, as receitas são recursos "criados" pelo projeto. Os
impostos e taxas e os juros de financiamento nem criam nem destroem recursos, são simples
transferência de valores do empreendimento para o governo ou para a entidade financeira,
pelo que são ignorados nessa análise.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
116
toneladas ano de emissão de CO2 equivalentes em Lamim potencialmente
caapturáveis pela nova tecnologia.
Os valores do CO2e, segundo a análise elaborada no Cap. 7, varia conforme a
tabela 39:
TABELA39–ESTIMATIVAS DO VALOR DE CO2E

FONTE: Cap. 7
US$ 1 = R$ 3,90. Cotação de junho 2018, Banco Central do Brasil
Assim, apenas como indicativo da importância deste resultado, pode-se
sinalizar o valor do CO2e evitado:
• HIPÓTESE 1: 22.750t x R$ 11,70/t = R$ 266.175,00
• HIPÓTESE 2: 22.750t x R$ 58,50/t = 1.330.875,00
• HIPÓTESE 3: 22.750t x R$ 140,40/t = R$ 3.185.000,00
Ainda como indicativo: se todos os fornos (2000) em operação em Lamim
fossem substituídos pelo modelo proposto, o qual apresenta custo de
investimento superior em R$ 1.500,00 por forno (conforme estimado no Cap.
6), ter-se-ia um investimento total de R$ 3 milhões, inferior aos ganhos com o
CO2e evitado em um único ano na hipótese 3.
Numa análise mais detalhada, considerando toda a vida útil do forno proposto:
dado que as emissões evitadas foram estimadas em 76,45 kg por tonelada de
lenha seca enfornada, tem-se como valor do CO2e evitado para cada unidade
de forno fornalha UFV implantado:

TABELA40–VALOR ANUAL DO CO2E EVITADO PARA 1 CONJUNTO FORNO FORNALHA UFV (R$)

FONTE: Elaboração própria

O VPL desse fluxo de emissões de CO2e evitadas descontado à taxa de 10%


seria, então, para a vida útil do projeto:

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
117
TABELA41–VPL EM R$ DO CO2E EVITADO COM A ADOÇÃO DO SISTEMA PROPOSTO (FLUXO DE 10
ANOS)

FONTE: Elaboração própria

Como se vê, caso o CO2e seja cotado pela pior alternativa os ganhos
ambientais não são suficientes para justificar socialmente o investimento maior
no processo forno fornalha UFV que, como apresentado no Cap. 6 corresponde
a (R$ 10.000,00 - R$ 4.000,00 =) R$ 6.000,00. Por outro lado, vale lembrar que
a cotação do CO2 a US$ 3 refere-se ao período inicial das preocupações
globais com os GEE, ou seja, é a hipótese mais restritiva considerada.
Por outro lado, as cotações mais recentes, que levam em consideração os
desenvolvimentos havidos no tema já no Século XXI justificam com folga -
apenas com esse ganho - a adoção da nova tecnologia.

8.5.2 A Avaliação Macroeconômica Completa

Para a avaliação macroeconômica foram considerados os fatores de correção


de preços, a exclusão dos impostos e (eventualmente) dos juros pagos, rubrica
de custos não incluída nas estimativas elaboradas no Cap. 7. Inclui-se,
entretanto, como "receita" do projeto - já que se constitui em benefício do
mesmo à sociedade - o valor do CO2e evitado com a adoção da nova
tecnologia.
Os parâmetros adotados para elaborar os fluxos a custo de fatores foram:

• Retirada dos impostos


• Retirada dos financiamentos
• Inclusão do valor do CO2e evitado
• Investimentos
o Coeficiente da Mão de Obra: 50% sobre a mão de obra para
construção do forno = R$ 2.400,00
• Custos
o Coeficiente da Mão de Obra operacional: 50%.
Os resultados obtidos a partir da nova análise para as três hipóteses foram:

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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118
TABELA42–AVALIAÇÃO M ACROECONÔMICA – INDICADORES DE VIABILIDADE

FONTE: Elaboração própria

A partir das estimativas acima, pode-se - a partir da comparação entre os


fluxos de caixa da ótica do produtor com o fluxo de caixa da ótica da
sociedade - avaliar o valor "extra" representado pela adoção da tecnologia
de produção proposta (fluxo da análise econômica (-) fluxo de caixa do
produtor), ou seja, qual o VPL que o projeto gera para a sociedade que não
é apropriado pelo empreendedor. Esse aspecto é de capital importância
para a estratégia de implantação do projeto que será desenvolvida no
Capítulo 9.

TABELA43–AVALIAÇÃO M ACROECONÔMICA – FLUXOS DE CAIXA SOCIAISE VPL

FONTE: Elaboração própria

Note-se que, descontado a uma taxa anual de 10%, o VPL dos ganhos com o
fluxo de caixa social sobre o fluxo de caixa do produtor superam os R$ 100 mil.
Esse valor pode ser considerado como o "ganho extra" que a sociedade aufere
por sobre os ganhos auferidos pelo produtor, sinalizando que a adoção da
tecnologia proposta é altamente benéfica ao País.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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119
8.6 Benefícios Não Quantificáveis

Dadas as comentadas limitações teóricas e técnicas características de projetos


de natureza ambiental, devem ser mencionados os vários efeitos colaterais por
eles gerados que são de difícil se não impossível quantificação. No caso
específico, podem ser elencados:
• A imagem nacional, pela demonstração concreta de vontade política
de atendimento aos compromissos assumidos no Acordo de Paris;
• O "efeito demonstração" aos produtores em geral de práticas
produtivas ambientalmente corretas e francamente rentáveis;
• A difusão de consciência conservacionista junto a produtores,
mesmo aqueles não passíveis de integração ao programa.
Finalmente, na especificidade do projeto proposto, há outro benefício altamente
valioso porém igualmente de quantificação impossível: a possibilidade de
proximidade locacional segura entre os fornos e a residência do carvoeiro.
Nos processos atuais, com grande volume de gases efluentes, a proximidade
entre os fornos e a residência é altamente nociva, causando ao carvoeiro e sua
família sérios danos à saúde pela inalação inevitável dos gases. Por outro lado,
fornos distantes da residência significam tempo de deslocamento, ou seja,
custo adicional.
A tecnologia proposta apresenta esta possibilidade de proximidade forno/
residência como externalidade positiva ao projeto.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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120
9 ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO
9.1 - Considerações iniciais - premissas da estratégia

Como anteriormente comentado, setor siderúrgico é uma prioridade para o


Brasil tanto por sua importância econômica quanto por sua potencialidade de
contribuição à estratégia global do País no tema "mudança do clima". O país
apresentou à UNFCCC seu compromisso de reduções voluntárias para o setor
siderúrgico da ordem de 8 a 10 milhões de toneladas de CO2e até 2020. Essas
ações de mitigação foram incluídas na Política Nacional sobre Mudança do
Clima.
Levando em conta o que foi exposto no Cap. 5, observou-se que o Ministério
da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) apresentou um plano para
redução de emissões que previa duas metas principais de mitigação de gases
de efeito estufa:
• Aumentar o estoque de florestas plantadas para abastecer a indústria
siderúrgica com biomassa renovável e sustentável;
• Melhorar o processo de produção de carvão vegetal para reduzir as
emissões e aumentar a eficiência no uso da biomassa.
Para alcançar tais metas, várias indicações foram sugeridas em diversos
setores da gestão pública dos recursos naturais até 2030, tais como fortalecer
o cumprimento do Código Florestal, restaurar 12 milhões de hectares de
florestas, promover o uso de tecnologias limpas no setor industrial, entre
outras.
Neste contexto, propõe-se um plano de negócios para implantação de um
sistema de carbonização de baixo impacto ambiental utilizando florestas de
eucalipto, em Lamim - Minas Gerais, levando em conta tanto o ambiente
político proposto para o referido setor quanto a vocação natural da região. Além
disso, deve ser considerada a importância da siderurgia para o Brasil e
principalmente para o Estado de Minas Gerais, além de todas as demais
políticas adotadas até o momento por este estado.
A unidade demonstrativa de carbonização forno-fornalha desenvolvida pela
UFV e implantada em Lamim apresenta, como principal vantagem já
comprovada experimentalmente o maior rendimento gravimétrico (mais carvão
com a mesma quantidade de madeira), maior produtividade (mais carvão
produzido em menos tempo), melhor qualidade do carvão (maior teor de
carbono fixo) e o benefício ambiental principal de reduzir quase totalmente a
emissão de gases do efeito estufa (GEE). Essas vantagens foram amplamente
demonstradas no Cap. 6.
Alem desses fatores técnicos, é necessário ainda considerar a redução da
fumaça como significativo ganho em saúde no meio rural e dos próprios
carbonizadores. Muitas vezes a carvoaria fica próxima às residências dos
produtores rurais levando fumaça tóxica para os ocupantes. Com o sistema
forno-fornalha UFV a fumaça é praticamente extinta, permitindo a permanência

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
121
dos fornos em áreas mais próximas das residências, facilitando assim a
operação das carvoarias, permitindo maior atenção ao processo e minimizando
o tempo de deslocamento dos operadores.
Como desvantagem a considerar pode-se apontar a falta de tradição na
operação deste tipo de forno, pois o uso predominante em Lamim é de fornos
de encosta. Também como desvantagem pode-se considerar o maior custo de
investimento para um público muito pouco capitalizado, além da necessidade
de treinamento para operação do sistema de carbonização e da leitura digital
de temperatura. Esses aspectos necessariamente implicarão num prazo de
amadurecimento para adoção desse processo (curva de aprendizado,
considerada na avaliação do projeto).
Como oportunidade identificada com a mudança do sistema de carbonização,
existe ainda a possibilidade de introduzir, durante a fase de treinamento, uma
organização dos carvoeiros em algum tipo de associação - cooperativa? -
possibilitando a negociação em bloco com os compradores de carvão. Essa
organização minimizaria a assimetria de poder negocial entre uma oferta
pulverizada e uma demanda oligopsônica, com a perspectiva de obtenção de
melhores condições de negociação, preços em particular, para um carvão de
melhor qualidade.
Com a associação, principalmente se sob a forma de cooperativa, pode-se,
ademais, negociar a estocagem estratégica ou a criação de um entreposto
formador de grandes lotes de carvão dos produtores cooperativados, assim
como melhores condições de frete e transporte a granel, economizando
sacaria. Além destes aspectos, há a possibilidade de acesso a financiamento
privilegiado ou facilitado, função da negociação em bloco. Com a junção de
todos estes fatores é inegável a possibilidade de mitigar um problema básico
identificado nessa região: o baixo índice de desenvolvimento humano,
notadamente no componente "renda" do IDH.
Desnecessário é aprofundar-se em análises da estruturação e/ou formatação
na organização de formas de associação dos produtores de Lamim. É de
conhecimento geral, e há que se levar em conta, a falta de tradição (e, mesmo,
segundo algumas opiniões, alguma aversão) dos produtores locais e,
especificamente, do setor carvoeiro, de se mobilizar de forma organizada,
através de cooperativa ou outras modalidades, particularmente em Minas
Gerais
Também possibilidade a ser explorada seria o desenvolvimento de um sistema
de "Empresas-Âncora", nos moldes fartamente utilizados na produção suína e
de aves, onde - através de contratos de parceria - os abatedouros (no caso em
tela, as indústrias siderúrgicas) financiam a aquisição de insumos (rações,
remédios, etc. no caso dos abatedouros; o plantio de eucalipto no caso aqui
tratado) assegurando mercado e preços no médio e/ou longo prazos. Note-se
que esta proposição equaciona as duas principais incertezas que levam à
volatilidade do mercado de carvão: preços e disponibilidade de matéria prima.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
122
Outro aspecto interessante a salientar é o fato de o presente estudo se tratar
do desenvolvimento de um plano de negócios sobre um processo inovador e
não sobre um produto. No entanto, na medida em que esse processo gera um
produto novo e com qualidade diferenciada (de vez que se o produto é
diferenciado é um produto novo), justifica-se a negociação de um preço
diferenciado e possivelmente maior. Esse fato só será defensável a partir de
uma organização mínima dos pequenos produtores capaz de interagir em
novas bases com organismos intervenientes no processo e com os
consumidores de carvão vegetal.

9.2 Principais Pontos do Plano de Negócios

O pequeno produtor de carvão vegetal de Lamim – MG oferece a oportunidade


de contribuir com o Brasil no cumprimento de seu compromisso voluntário
frente às Nações Unidas. Este microempresário planta sua própria floresta de
eucalipto e produz o carvão a partir dela. Neste mister, alega (informação
capturada na pesquisa de campo) receber muito pouco ou quase nenhum
suporte das instituições com interface com o setor, à exceção da EMATER.
Portanto, almeja ter sua atividade dignificada e melhor remunerada, recebendo
uma melhor atenção de todos os atores envolvidos na cadeia produtiva,
inclusive do governo.
A cadeia produtiva do carvão vegetal está inserida na cadeia produtiva da
madeira, a qual possui três sub cadeias:
• Madeira para energia (lenha e carvão vegetal);
• Madeira para processamento mecânico (lenha e cavaco); e
• Madeira industrial (celulose, madeira serrada e outros).
Essas sub-cadeias podem interferir na busca por matéria prima madeireira,
como vem ocorrendo recentemente em algumas regiões de Minas Gerais,
permitindo aos pequenos proprietários produtores de madeira de eucalipto
optarem pelo melhor mercado. Foi informado aos Consultores que no Norte do
estado de Minas Gerais vem ocorrendo a venda de eucalipto na forma de
"floresta em pé" para produtores de celulose, commodity que vive bom
momento no mercado internacional.
Nos levantamentos de campo realizados em Lamim não foi identificado
fornecimento de madeira para outros segmentos, comprovando que a cadeia
de carvão ainda é a melhor opção de mercado para o eucalipto nessa região -
muito embora não seja, no geral, a atividade principal da propriedade rural.
Na cadeia produtiva do carvão vegetal temos o mercado varejista, que
direciona o produto na forma de carvão para consumo doméstico (churrasco),
supermercados, churrascarias, restaurantes e para o comercio em geral. No
empacotamento para esse consumidor o carvão é peneirado e os finos muitas
vezes aproveitados na forma de briquetes. O carvão empacotado alcança um
preço diferenciado, mas seu mercado é pulverizado, restrito e demanda uma

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
123
estrutura de logística de distribuição complexa. O principal mercado para o
carvão são, assim, as siderúrgicas.
Uma expectativa com a melhor organização dos pequenos produtores de
carvão de Lamim seria o aproveitamento dos finos da produção ("moinha"), a
ser direcionada para elaboração de briquetes, que seriam comercializados no
mercado doméstico, agregando assim valor à produção. O atual não-uso desse
produto se dá principalmente pela falta de escala para a produção
individualizada de briquetes - justificando o não investimento na briquetadeira -
e pelo manuseio primitivo, que permite a contaminação do produto com
impurezas (principalmente terra). Uma operação conjunta permitiria ainda uma
diluição dos custos de logística na distribuição que, eventualmente, fariam da
prática uma operação rentável.
O fomento florestal passou a ser o principal mecanismo para ampliação da
base de matéria prima, necessária ao abastecimento em empreendimentos da
cadeia da madeira. Em Lamim, no entanto, não existe ainda o produtor
fomentado, apesar dessa prática estar bastante presente em outras regiões de
Minas Gerais. Essa é mais uma das consequências da produção independente,
a qual não se apropria das oportunidades que, no geral, somente são
percebidas quando da organização da produção de forma a criar "massa
crítica".
O preço do carvão vegetal é influenciado pelo preço do aço, pelo preço do
carvão mineral e pelo valor do Dólar norte americano. Quanto maior o preço
desses, maior é o preço alcançado pelo carvão vegetal: todos os detalhes
desse mecanismo foram bastante discutidos no Cap. 3. Desse modo, o preço
do carvão vegetal não possui garantia de mercado ou de preço no longo prazo,
fazendo com que os investimentos - estes, de médio e longo prazo - sejam de
grande risco.
Paradoxalmente, a atividade florestal é identificada como atividade de longo
prazo. Na silvicultura do eucalipto preconiza-se um ciclo de 21 anos, com três
ciclos de exploração⁄rebrota de sete anos. Nenhum produtor71 de Lamim foi
identificado com contrato de fornecimento e/ou com garantia de preço de
carvão. Essa oportunidade surgiria com a organização dos pequenos
produtores da região em alguma forma de associativismo, como pode ser
visualizado através da Análise da Competitividade.

9.3 Análise da Competitividade

Considerações sobre a competitividade do projeto são a seguir elaboradas a


partir da análise determinada pelas "cinco forças competitivas que moldam a
estratégia", usualmente denominada "5 forças de Porter", técnica proposta por

71OBS: Nas entrevistas realizadas foi mencionado um único produtor, porém de outro
município, detentor de um contrato de fornecimento de longo prazo com uma siderúrgica.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
124
Michael Porter em 1979 em artigo na Harvard Business Review72. Esta análise,
ademais de sinalizar as oportunidades, dificuldades e ameaças ao projeto, se
constituirá no embrião da Estratégia de Implantação.
A estrutura da análise pode ser visualizada na Figura 54, a seguir. Na
sequência são analisadas todas e cada uma das "forças de Porter" no caso em
análise.

FIGURA 54: 5 FORÇAS DE PORTER


Fonte: Wikipedia

A. Entrantes potenciais:
Segundo a pesquisa de campo desenvolvida pela Consultoria, a perspectiva de
novos fornecedores na região é, de modo geral, bastante limitada: os
produtores consideram a atividade como complementar à agropecuária ou
outras lides, estas sim suas principais fontes de renda.
Tratando-se de uma commodity, não há diferenciação de produto, assim como
a tecnologia empregada - tradicional e de conhecimento geral - não diferencia
qualquer produtor. Há ainda o aspecto da pulverização da oferta, totalmente
configurada a partir de pequenas unidades, o que sinaliza para a inexistência
de fidelização na relação oferta-demanda.

72Citadopor SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e pequenas Empresas:


"Ferramenta: as 5 forças de Porter (Clássico)".Disponível em https://m.sebrae.com.br/
Sebrae/Portal%20Sebrae/ Anexos/ME_5-Forcas-Porter.PDF. Acesso em 24/04/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
125
Não se vislumbrou qualquer perspectiva de aparecimento de um newcomer de
porte suficiente para se sobrepor aos atuais fornecedores ou centralizar o
atualmente pulverizado mercado ofertante.
Os entrevistados alegam ainda a incerteza da produção da madeira, com ciclo
mínimo de 7 anos, sem mercado assegurado para seus derivados (carvão ou
outros). Assim, no momento atual, essa "força" não pode ser considerada
ameaça.
Há, entretanto, que considerar que, caso haja suficiente disseminação da
tecnologia de que trata este projeto conjugada com aspectos macroeconômicos
de incentivo à "produção verde", novos produtores usando este tipo de forno
poderão apresentar alguma vantagem comparativa em relação aos produtores
convencionais, como demonstrado na Análise Econômica desenvolvida no
Cap. 7.
B. Produtos substitutos:
Esta, sim, uma ameaça real. A análise de mercado sinalizou com uma
tendência claramente declinante para a produção independente de carvão
vegetal, com perspectiva ascendente para a produção integrada. Ademais, a
usinagem com coque, embora mais poluente, é mais barata, constituindo-se
em concorrente a ser considerado.
Como aspecto favorável tem-se o comprometimento do Brasil com a redução
de emissões, gerando políticas de incentivo à "produção verde", o que favorece
a redução com carvão vegetal.
Assim sendo, a ocupação do mercado pela produção integrada vai depender
de decisões gerenciais das grandes empresas consumidoras, função exclusiva
de percepções estratégicas envolvendo segurança de abastecimento,
disponibilidade de recursos financeiros e concepções operacionais
dependentes da cultura da empresa.
C. Poder dos clientes:
A estrutura da demanda é claramente oligopsônica, com número de
consumidores de carvão muitas vezes menor que o número de produtores (ver
Raad, Produto 2, Op. Cit.). A concorrência maior somente se dá
esporadicamente, como no momento atual onde aspectos conjunturais dos
últimos anos (crise econômica e aspectos ambientais) desincentivaram o
plantio de eucalipto - criando uma perspectiva de escassez de matéria prima na
área do projeto - valorizando assim o carvão.
Esses aspectos fizeram, inclusive, com que agentes externos ao mercado do
carvão (como produtores de celulose) se fizessem presentes na demanda pela
matéria prima em regiões distantes de suas plantas industriais.
Outro aspecto a considerar é o fato de o carvão vegetal ser uma demanda
derivada da siderurgia e da metalurgia que, por sua vez, são commodities e
insumos de produtos finais (ou seja, também demanda derivada). Isso significa
que a capacidade de pagamento - ou seja, os limites de preços que os clientes

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
126
podem pagar - é função do comportamento geral de uma cadeia produtiva no
mercado, ou seja, é uma variável exógena. Dado o maior poder de barganha
dos consumidores do carvão em relação aos produtores, estes repassam
qualquer "aperto" de mercado ao fornecedor.
Finalmente, cabe mencionar que os clientes - no geral empresas de porte e
bem organizadas - detêm informações claras e detalhadas com respeito à
disponibilidade de matéria prima pelos produtores de carvão, sendo este um
fator adicional de empoderamento na negociação de preços.
D. Poder dos fornecedores:
Não há interferência, na medida em que os produtores são, no geral, auto-
suficientes na produção da matéria prima.
Há que se mencionar que na pesquisa de campo um único produtor de carvão
mencionou adquirir a madeira de terceiros por estes terem se desinteressado
de processar sua matéria prima, abandonando a atividade.
E. Rivalidade entre os concorrentes:
A oferta é pulverizada, não existindo na região fornecedor com poder de se
sobrepor aos concorrentes ou comandar o mercado.
A rivalidade se dá a partir do produto concorrente - o coque - que é
considerado produto poluente e contrário às diretrizes governamentais, como
mencionado.
Em conclusão, cabe mencionar que todos estes aspectos serão tomados em
consideração na delimitação dos contornos da Estratégia de Implantação a ser
desenvolvida.

9.4 A Estratégia de Implantação

9.4.1 Aspectos Gerais


Duas premissas orientam a proposta de Estratégia de Implantação: o projeto é
uma tecnologia em desenvolvimento, e o mercado de per se (sem a
interferência governamental na busca do cumprimento do acordado em Paris)
ou a ocorrência fatos novos não capturados ou antecipados pelas análises
desenvolvidas não apresenta perspectivas otimistas de longo prazo para os
potenciais usuários (produtores independentes) do novo modelo de forno.
O fato de se tratar de tecnologia em desenvolvimento sinaliza para eventuais
novos ganhos comparativos com a tecnologia modal em vigor. Tais novos
ganhos podem vir a incluir tanto novos aprimoramentos na unidade
experimental quanto, numa perspectiva de mais longo prazo, a aplicabilidade
em unidades de maior porte, permitindo sua utilização pelas empresas
verticalizadas - estas sim representantes da tendência de expansão (ou pelo
menos manutenção da escala atual de produção) vislumbrada para o setor
(como comentado no Cap. 3).

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
127
Por outro lado, mesmo num cenário pessimista com relação à participação dos
produtores independentes no mercado - que, como comentado no Cap. 3,
tendem a ser substituídos por produtores integrados no longo prazo - ainda
oferece oportunidade de replicação. Note-se que, como constatado na
pesquisa de campo, a vida útil dos fornos de tecnologia tradicional é da ordem
de 5 a 6 anos. Isso significa que, mesmo com o segmento em trajetória
declinante, boa parte deles devera ser substituída na próxima década, abrindo
espaço para a utilização da nova tecnologia proposta.
Cabe aqui uma observação que direciona toda a estratégia proposta: a
trajetória declinante identificada no Cap. 3 é a replicação, para o futuro, de uma
tendência visualizada no passado, e não um "determinismo". Ou seja, a
trajetória pode ser alterada a depender de evolução do mercado e,
principalmente, da atitude do setor ou do comportamento de instituições que
podem ser decisivas na sustentabilidade da atividade.
Há ainda que mencionar que outros aspectos usualmente tratados na definição
de uma estratégia de implantação de programas ou projetos são, no caso
presente, dados do processo, tratados nos tópicos anteriores, e não se
constituem em variável de decisão. Nessa categoria encontram-se o
enquadramento tributário, a forma jurídica dos potenciais usuários da nova
tecnologia, a definição de insumos e produtos finais e os custos de produção e
preços de venda. A proposta de estratégia de implantação foca naquelas
variáveis que podem ser objeto de ações por parte dos envolvidos no processo
e no esforço de superação (quando possível) das fraquezas e ameaças ao
sucesso do empreendimento.
Isto posto, analisa-se a seguir os demais aspectos da Estratégia de
Implantação.

9.4.2 Aspectos Técnicos


Como comentado no Cap. 6, a tecnologia proposta pelo projeto tem suas
especificações e seu tamanho pré-definidos, ou seja, uma carga de 3.100 kg
de madeira seca por forno com as especificidades de produtividade descritas
no Cap. 7. A construção se dá em conjuntos de 4 fornos, e sua implantação é
modular, pelo que a questão do tamanho ótimo não se coloca: é dado em
função da disposição de investimento do empresário quanto ao número de
conjuntos a implantar, de seus recursos para investimento e da disponibilidade
de matéria prima.
Há que se mencionar: a pesquisa em desenvolvimento não considerou a opção
de conjuntos com mais de 4 fornos alimentando uma mesma fornalha ou
mesmo fornos de dimensões diferentes, na medida em que focou no tamanho
modal das unidades processadas por micro-produtores. Em se tratando de
tecnologia inovadora, não se pode estimar a priori os efeitos de uma mudança
de escala nos rendimentos e nos custos construtivos para outras alternativas
(como, por exemplo, o aumento das dimensões da fornalha e dos condutos de
gases), pelo que novos ensaios de viabilidade econômica somente poderão ser
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
128
desenvolvidos a partir de novos experimentos e novas medições com as novas
especificações.
Pode-se ainda especular quanto à expectativa de ganhos de escala com
materiais construtivos, na medida em que é aritmética elementar avaliar que
aumentos (lineares) no diâmetro de um cilindro (forma básica dos fornos)
apresentam incrementos volumétricos mais que proporcionais no conteúdo.
Estes eventuais ganhos na construção dependem, entretanto, de avaliação dos
materiais de reforço das paredes dos fornos para suporte dos novos volumes a
queimar, dados que necessitam novos cálculos seguidos de testes empíricos
para sua constatação.Há ainda que avaliar o impacto de tais modificações no
tempo de operação e resfriamento e nas demais características do produto
(carvão).
Já a questão da localização apresenta peculiaridades. A análise desenvolvida
para implantação da unidade demonstrativa apresentava a necessidade de
atendimento a aspectos inerentes a um projeto experimental, pelo que suas
variáveis de decisão incluíam parâmetros que correspondessem às condições
estipuladas para a realização de estudos complementares como tradição de
produção carvoeira na propriedade, experiência do produtor, entre outras, e
não as variáveis tradicionais no tema.
A primeira consideração relativa à localização do Projeto diz respeito ao
modelo de LOT - Localização Orientada pelo Transporte73. Reza a teoria que,
no caso trivial (como no presente) em que há apenas uma matéria prima e um
produto final e há perdas de peso ou volume no processamento, a planta
industrial deve se localizar o mais próximo possível da fonte de matéria prima.
O autor denomina esta a "macro localização do empreendimento".
Por outro lado, há o problema da micro localização, ou seja, a definição do
terreno específico onde implantar o Projeto. Para esta definição, a implantação
da unidade experimental aplicou uma técnica que poderia ser classificada
como uma variante do Método Delphi, através da definição de características
desejáveis tanto para a eleição do perfil de propriedade desejável quanto para
a escolha das características do operador da unidade. A essas características
foram associados conceitos (sim ou não) para as propriedades e "notas" em
termos de atendimento a quesitos determinados por parte dos produtores pré-
selecionados.
Entretanto, para a replicação da tecnologia em operações comerciais, as
condições diferem, devendo-se levar em consideração os seguintes aspectos:
• O processo de produção elimina peso e volume, pelo que a unidade deve
ser localizada o mais próximo possível da fonte de matéria prima, em ponto
próximo da via de escoamento da madeira cortada, obedecendo a teoria da

73Cf.LEME, Rui Aguiar da Silva: "Contribuições à teoria da localização industrial". Tese de


Livre Docência apresentada à Universidade de São Paulo, 1975.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
129
LOT (cf. Leme, Op. Cit.), redundando assim em economia nos custos de
transporte;
• A micro-localização deve levar em conta as características do terreno, de
forma a minimizar movimentos de terra (terraplenagem) para a implantação
da(s) unidade(s) e da praça de carga/descarga de veículos ou outras
formas de transporte de madeira e carvão;
• É fundamental a proximidade com a via de escoamento da produção, de
forma a minimizar a necessidade de construção de vias adicionais de
acesso;
• É recomendável a proximidade de infraestrutura, principalmente energia
elétrica, para minimizar os custos de implantação de ramificação da rede.
Dado o pequeno número de variáveis de interesse para a otimização da
localização da praça de carbonização, não se faz necessário o emprego de
modelagem sofisticada para esta definição.
O processo pode, simplesmente, elaborar o orçamento da construção do forno
e das benfeitorias e o momento de transporte (obtido pelo produto do volume
transportado pela distância a transportar), no caso de um mesmo equipamento
ser utilizado no transporte da matéria prima e do carvão, ou simplesmente
comparando os custos totais de transporte (da matéria prima + do produto final)
quando utilizados diferentes veículos.
De vez que o custo de processamento (queima da madeira) independe da
localização dos fornos, o procedimento mais adequado seria a montagem de
fluxos de caixa (como descrito no Cap. 7) incluindo todos os custos de
investimento (implantação dos fornos, terraplenagem da praça, acessos à
matéria prima e às vias de escoamento, acesso à rede de energia elétrica) e de
custeio (que pode variar em função de eventuais dificuldades de carga e
descarga) para as alternativas locacionais consideradas e eleger aquela que
apresente os melhores indicadores econômicos (TIR, VPL, Pay Back).
Por outro lado, em casos onde se faça necessária uma análise mais elaborada,
é apresentada no Anexo III uma proposta de metodologia, o "Método Delphi
Modificado", versão do método desenvolvida pela CP Empreendimentos e
aplicada com sucesso em várias oportunidades ali mencionadas.

9.4.3 Matriz SWOT


A matriz SWOT – Strenghts, Weaknesses, Opportunities, Threats - é também
conhecido como Modelo de Harvard74 e baseia-se na análise estratégica de
quatro elementos-chave, a saber:

74Há grande controvérsia quanto à origem do SWOT. Segundo ABDI, Airleza, A. Maharamali,
G. Jamalpour e S. M. Sandoos - "Overview SWOT analysismethodand its apllication in
organizations" - SingaporeanJournalof Business Economicsand Management Studies Vol.1,
NO.12, 2013 disponível em https://pdfs.semanticscholar.org/83ba/2d69b3fe31fe9fad64b4ddf87
a4dd10eca1f.pdf (Acesso em 02/02/2018) o método teria sido desenvolvido na década de 1950

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
130
▪ STRENGHTS - fortalezas: são vantagens internas em relação ao ambiente
de negócios no setor sob análise. Sinaliza a diferenciação conseguida pelo
projeto, que lhe proporciona vantagem competitiva no ambiente em que
atua. São, assim, os aspectos positivos a serem fortemente focados, como
geradores de máxima capacidade competitiva em relação à concorrência;
▪ WEAKNESSES - debilidades: são desvantagens internas em relação a
outros agentes no setor em análise. Sinaliza aspectos que devem ser
particularmente focados e trabalhados como forma de evitar posição de
inferioridade em relação à concorrência em situações inadequadas do
projeto que lhe proporcionam desvantagem competitiva no ambiente em
que atua;
▪ OPPORTUNITIES - oportunidades: são aspectos positivos originados no
ambiente externo, com potencial para fazer crescer a vantagem competitiva
do Projeto. São forças não controláveis pela organização ou empresa que,
entretanto, podem favorecer sua atuação estratégica, desde que
conhecidas e aproveitadas satisfatoriamente;
▪ THREATS - ameaças: são aspectos negativos originados no ambiente
externo, com potencial para comprometer a vantagem competitiva do
Projeto. São forças incontroláveis pela organização ou empresa, que criam
obstáculos à sua atuação estratégica, mas que poderão ser eventualmente
evitadas, desde que conhecidas em tempo hábil permitindo ações
preventivas.
Esquematicamente, pode-se apresentar a Matriz SWOT como se segue:

por dois estudantes graduados da Harvard Business School, George Albert Smith and Roland
Christensen. Outra versão, fornecida por GORNER, Justin e J. Hille - "Anessentialguideto
SWOT analysis", disponível em http://mci.ei.columbia.edu/files/2012/12/An-Essential-Guide-to-
SWOT-Analysis.pdf (Acesso em 02/02/2018), informa que a análise é o produto de uma
década de pesquisas no Stanford ResearchInstitute entre 1960 e 1970, atendendo à demanda
de um grupo de corporações americanas frustradas com as insuficiências apresentadas pelas
suas estratégias de negócios em investimentos financeiros.

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131
Oportunidades Ameaças
(Incluir relação principais oportunidades (Incluir relação das principais ameaças
identificadas) identificadas)

Fortalezas Debilidades
(Incluir relação das principais fortalezas (Incluir relação das principais debilidades
identificadas) identificadas)

FIGURA 55: M ATRIZ SWOT


Fonte: Elaboração Própria

São confrontados os elementos componentes da matriz, com a seguinte lógica


de análise:
• Uso de oportunidades para alavancar fortalezas;
• Neutralização de debilidades para aproveitar oportunidades;
• Uso de ameaças para reforçar fortalezas;
• Identificação de situação de impossibilidade neutralização de
debilidades em função das ameaças.
A aplicação da Matriz SWOT permite a concepção de estratégias para
desenvolvimento do projeto pela elaboração dos seguintes tipos:
• As estratégias proativas, de atuação ofensiva - capacidade de utilizar os
pontos fortes para aproveitar oportunidades identificadas no ambiente
externo;
• Estratégias defensivas - o poder do conjunto de pontos fortes da
organização ou cadeia produtiva sendo usado para neutralizar ameaças
identificadas no ambiente externo;
• As debilidades de atuação ofensiva - estimam o quanto os pontos fracos
atuais dificultam ou impedem a organização ou cadeia produtiva de
aproveitar oportunidades; e
• Situação de vulnerabilidade - quando os pontos fracos atuais limitam a
neutralização e acentuam os riscos de as ameaças influírem
negativamente sobre a organização ou cadeia produtiva.
Em síntese, trata-se de identificar e avaliar elementos-chave que, no âmbito do
projeto, evidenciam forças e fragilidades inerentes ao ambiente interno e
oportunidades e ameaças advindas do ambiente externo, como base para a
definição de estratégias e ações que conduzam ao desenvolvimento
sustentável do empreendimento.

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132
Cabe ainda mencionar que a análise SWOT é balizamento para, na fase final
dos estudos, ser elaborado o "Marco Lógico", instrumento basilar para a
estruturação do monitoramento e da pós-avaliação do Projeto. Note-se,
entretanto, que o Marco Lógico tem como componente essencial aspectos
quantitativos de desempenho, condição sine qua non para permitir a avaliação
de evolução e de resultados, enquanto o SWOT apresenta vários aspectos
qualitativos do diagnóstico, úteis apenas e tão somente para alertar para
potencialidades a explorar e eventuais dificuldades a antecipar.
A partir desses conceitos são apresenta as principais forças, fragilidades,
oportunidades e ameaças identificadas e analisadas a partir de insumos
fornecidos pelo diagnóstico realizado. Estão incluídos na matriz SWOT os
aspectos levantados e analisados nos capítulos anteriores, permitindo assim
incorporar a análise do potencial do projeto e delineados os principais aspectos
a serem focados, buscando o estabelecimento de estratégias de
aproveitamento de vantagens e oportunidades e de contorno e/ou superação
de riscos e ameaças.
Para a presente elaboração de Matriz SWOT, levou-se em consideração uma
série de fontes de informação:
• Considerações tecidas nos diversos documentos fornecidos pela
Contratante, com particular atenção nas Consultorias já elaboradas no
âmbito do Projeto BRA/14/031;
• Considerações tecidas pelos autores a partir da bibliografia de interesse
consultada no decorrer da elaboração do presente documento;
• As percepções coletadas junto aos informantes qualificados nas
entrevistas realizadas pela Consultoria;
• As conclusões obtidas com a "Análise das 5 forças de Porter";
• As percepções oriundas da experiência profissional dos técnicos
integrantes da equipe da Consultoria.
A configuração da Matriz SWOT a partir dessas considerações apresentou-se
como se segue:

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133
TABELA44–M ATRIZ SWOT

OPORTUNIDADES AMAÇAS
• Projeto de inovação tecnológica, • Incertezas da geopolítica (Estados
ainda passível de aprimoramentos Unidos, Oriente Médio e
• Aumento do rigor na legislação do Venezuela) e seu impacto no
meio ambiente na busca de mercado mundial de energia
redução de emissões • Queda no mercado internacional
• Aumento do rigor na fiscalização do uso de carvão mineral como
da utilização de mata nativa na energético e risco de pressão para
produção de carvão seu uso alternativo como coque
• Tendência mundial do crescimento • Crise mundial no mercado de
da energia renovável siderurgia e seus impactos nas
• Potencial queda de exportações brasileiras
competitividade dos concorrentes • Concorrência externa em
do Brasil no mercado siderúrgico expansão e queda histórica das
pela adesão ao Acordo de Paris e exportações brasileiras de gusa
necessidade de maior controle de • Tendência de crescimento das
suas emissões no processo usinas integradas (produtoras do
produtivo próprio carvão) em detrimento das
• Potencial de crescimento do setor independentes (consumidoras de
de silvicultura estimulado por carvão produzido em escala
políticas governamentais compatível com a do projeto)
• Alternativa ao perfil de baixa • Atração das novas gerações pela
tecnologia atualmente utilizada, cidade, restringindo a oferta de
permitindo ganhos substantivos mão de obra no campo
com a adoção de métodos mais • Perfil generalizado de baixa
sofisticados tecnificação na silvicultura entre
• Potencial de aumento da pequenos produtores
produtividade da silvicultura pela • Concorrência de outros setores
incorporação de tecnologia (celulose) pela madeira
• Ganho do rendimento gravimétrico • Concorrência de outros
na produção de carvão demandantes de madeira
• Maior produtividade (menor tempo (produtores de celulose
de ciclo de produção) principalmente) rarefazendo a
• Melhor qualidade do carvão (maior oferta de matéria prima.
teor de carbono fixo) • Insuficiência da fiscalização à
• Substituição de produto importado exploração de matas nativas em
(carvão mineral) por produto algumas regiões do país, gerando
doméstico (carvão vegetal) matéria prima concorrente em
• Ganho econômico potencial pela desigualdade de condições com a
adoção da tecnologia forno- silvicultura
fornalha proposta • Desaceleração do plantio de
• Convergência com políticas florestas plantadas
sociais de valorização de micro e • Subordinação de preços a
pequenos produtores condições externas por se
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
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134
• Perspectivas de contribuição à constituir em demanda derivada
fixação produtiva do trabalhador • Desinformação de condições
no campo contribuindo para a favoráveis à atividade como
melhoria dos indicadores de oportunidades de crédito
desenvolvimento social (IDH) favorecido
• Redução quase integral da
emissão de gases
• Redução da fumaça e
consequente benefício aos
operadores do sistema
• Possibilidade, através do
treinamento, de motivação dos
produtores para formação de
cooperativas reforçando sua
capacidade negocial
• Possibilidade de comercialização
de coprodutos (moinha - briquetes)
a partir da escala

FORTALEZAS DEBILIDADES
• Reflexos do Acordo de Paris na • Falta de tradição de incorporação
redução de combustíveis de novas tecnologias pelos
poluentes e fortalecimento da produtores independentes
energia renovável • Maior custo do investimento
• Atendimento aos compromissos • Restrição, até o atual estágio da
assumidos pelo Brasil de redução pesquisa, ao tamanho (pequeno)
de 8 a 10 milhões de toneladas de do sistema
CO2eq • Fraqueza dos pequenos
• Perspectiva, no Brasil, de produtores individuais na
crescimento da energia renovável negociação pela desorganização
a taxas superiores às demais da oferta
fontes • Poder monopsônico da demanda
• Perspectiva, segundo o MME, de • Insegurança no mercado de
manutenção da participação madeira e carvão derivada do
proporcional do carvão vegetal na tempo de maturação da silvicultura
produção de ferro-gusa e aço (7 anos no caso do eucalipto) e as
• Aptidão edafoclimática para a incertezas de mercado
produção de florestas plantadas • Desinformação com respeito ao
(maior produtividade mundial) potencial de obtenção de crédito
• Disponibilidade de abundância de em condições favoráveis
fontes de financiamento em • Inexistência de linha de crédito
condições favoráveis favorecida especificamente para o
• Contribuição positiva da EMATER carvão
na assistência técnica aos • Produção de carvão como
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135
produtores acessória à geração de renda
• Forte contribuição do projeto para • Oferta (dos produtores
a sociedade, caracterizado pela independentes) pulverizada
análise macroeconômica. ofertando a um mercado com
muito maior poder de negociação
• Visão, pelos produtores, dos
órgãos governamentais como
"arrecadadores" e não como
"parceiros"
• Baixa oferta de capacitação "in
loco", obrigando os interessados a
deslocamento a outras localidades
para aquisição de conhecimento
• Oferta (dos produtores
independentes) pulverizada
ofertando a um mercado com
muito maior poder de negociação
• Baixa tecnologia empregada nas
atividades de florestamento e
reflorestamento, o que impede o
aproveitamento das condições
climáticas e edafomorfológicas do
país para a máxima produtividade
do setor

9.4.4 Formulação de Estratégias a partir da Matriz SWOT


A partir da elaboração da Matriz SWOT pode-se identificar por um lado as
oportunidades a aproveitar para o desenvolvimento do setor, que devem ser
consolidadas a partir das fortalezas e oportunidades sinalizadas. Por outro
lado, pode-se ainda vislumbrar as debilidades e ameaças, identificando -
quando possível - formas de neutralizá-las.
Essa avaliação permite definir os "Objetivos Estratégicos" de aproveitamento
das oportunidades e fortalezas, assim como os "Objetivos Estruturantes"
buscando contornar as debilidades e ameaças.

A. Objetivos Estratégicos
Algumas das oportunidades e fortalezas identificadas são exógenas ao
programa proposto para desenvolvimento do setor, ou seja, independem de
ações ou procedimentos sob comando das entidades nele envolvidas. Nessa
categoria podem ser citados, entre outros, os compromissos com o Acordo de
Paris, as políticas nacionais de fomento e crédito favorecido e as condições
edafoclimáticas favoráveis do Brasil.

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136
Por outro lado, o programa pode estimular, aprofundar ou consolidar outros
aspectos que, estes sim, acham-se ao alcance de políticas e ações dentro de
sua esfera de ação. Estes são os que constituem as estratégias propostas para
a consolidação do processo forno-fornalha UFV. São 8:

1. Fomento à silvicultura como principal instrumento de preservação de mata


nativa pela oferta de matéria prima certificada e legal;
2. Preservação do rigor na fiscalização e combate à utilização da mata nativa,
concorrente desleal à produção cultivada;
3. Estímulo à pesquisa e difusão de técnicas de reflorestamento, aumentando
a produtividade da silvicultura e, consequentemente, a competitividade do
setor;
4. Prosseguimento das pesquisas de desenvolvimento da tecnologia proposta
na direção de seguir no aperfeiçoamento da unidade experimental já
implantada e perspectivas de aumento da escala de produção, de modo a
também atender à demanda crescente de outras regiões e das unidades
integradas;
5. Estruturação de programas de difusão tecnológica - tanto para o
reflorestamento quanto para a produção do carvão - levando-o aos
produtores, como forma de superação da alegada carência de orientação
identificada na pesquisa de campo;
6. Desenho específico para estratégia de difusão dos resultados alcançados
pelo processo em estudo, para motivação de reposição dos processos
atualmente em uso;
7. Perspectiva de desenvolvimento de associativismo entre os produtores -
como através da criação de cooperativas - de modo a fortalecer o poder de
negociação dos produtores de carvão junto à indústria, assim como auferir
ganhos de escala que, ademais de redução de custos poderiam,
eventualmente, propiciar o aproveitamento de coprodutos como a "moinha";
8. Perspectiva de desenvolvimento de modelo de "Empresa Âncora", com as
indústrias siderúrgicas financiando o plantio do eucalipto e a produção de
carvão em contratos de médio e longo prazo com os carvoeiros.

B. Objetivos Estruturantes
As ameaças e debilidades são, na sua maioria, aspectos totalmente fora da
capacidade de atuação de qualquer esfera de poder nacional, como as
incertezas da geopolítica, as crises mundiais de mercado (em particular
siderúrgico) e inseguranças típicas do setor como o tempo de maturação do
reflorestamento, esse um aspecto particularmente complexo numa sociedade
em permanente transformação (ciclotímica) como a brasileira.
Pode-se, entretanto, propor como 6 objetivos estruturantes:

1. Conscientização, entre os órgãos governamentais, de sua função de


"parceria" e "complementação", superando a visão generalizada de
instituições "de arrecadação";

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137
2. Informação e divulgação aos demais agentes operadores no setor e
atuantes no processo (notadamente aqueles focados em questões
ambientais) dos benefícios macroeconômicos e sociais derivados da
adoção do processo sugerido;
3. Estímulos fiscais adicionais à silvicultura tecnificada de pequeno porte como
forma efetiva de combate - adicional à fiscalização - à exploração de matas
nativas;
4. Perspectiva de motivação às autoridades para ampliar os estímulos
econômicos e fiscais ao setor tendo em vista a contribuição do mesmo ao
bem estar da sociedade como um todo (análise social);
5. Integração operacional plena entre os órgãos de apoio, em particular
instituições de pesquisa, EMATER, SEBRAE e prefeituras municipais;
6. Aprofundamento de ações de difusão de oportunidades de geração de
renda no campo através da adoção de melhores tecnologias e novos
negócios - principalmente para jovens - como forma de reduzir a migração
rural-urbana e assegurar disponibilidade de mão de obra qualificada na
produção.

9.5 Expectativas de estímulo por parte da sociedade

Toda a análise desenvolvida ao longo desse estudo, em particular os Capítulos


7 e 8,exibiram, de forma consistente, que a adoção do processo forno fornalha
UFV apresenta significativos sinais de mérito e plena viabilidade, tanto de uma
ótica global quanto nacional (macroeconômica) e do ponto de vista privado (do
produtor). Cumpre destacar:

• A convergência para atendimento às preocupações globais com o meio


ambiente e a emissão de GEE;
• A convergência com os compromissos (internos e externos) assumidos
pelo Brasil na área ambiental;
• A viabilidade técnica, econômica e operacional do novo processamento
desenvolvido;
• A viabilidade técnica e econômica para o carvoeiro em adotar o novo
modelo de forno;
• O impacto macroeconômico (social) no caso de adoção do novo
processamento.
O foco desenvolvido na estratégia apresentada no presente tópico é o do
impacto macroeconômico estimado no Tópico 8.5.2., onde se verifica que para
todas as três hipóteses de valoração do CO2e evitado o projeto apresenta
significativo retorno social. Isso a despeito de a pior (e pouco confiável) das
cotações propostas - R$ 11,70 na Hipótese C1 - referir-se a uma época que
pode ser considerada como "pioneira" na questão hoje exaltada dos malefícios
da emissão de gases de efeito estufa, plenamente superada pelos novos
acordos internacionais que refletem de forma mais aguda os riscos ambientais
por que passa o planeta.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
138
Numa primeira avaliação - que pode ser considerada como um "acid test" (ou
seja, a pior hipótese possível) - observa-se que a simples captura de CO2e ao
preço defasado (R$ 11,70) gera um VPL à taxa de 10% de R$ 3.271,28. Esse
valor - e apenas ele, para um único ano - representa mais de metade do
diferencial do investimento num sistema forno fornalha UFV em relação ao
investimento necessário para quatro fornos de barranco (para permitir a
comparação), que é de R$ 6.000,00. Nas outras opções de valoração do CO2e
consideradas, mais realistas e contemporâneas, as avaliações são
significativamente superiores.
Nessa condição,comparou-se o fluxo de caixa da ótica macroeconômica com o
da ótica privada. Conceitualmente, a diferença entre os fluxos valora os ganhos
que a sociedade como um todo aufere mas que, entretanto, não são
internalizados (auferidos) pelo produtor. Poderia ser denominado "diferencial do
ganho social".
Interpretando-se esse resultado, tem-se por um lado, que - como demonstrado
no Capítulo 7 - com a adoção da tecnologia proposta, o produtor de carvão
aufere ganhos maiores do que praticando o processo atualmente em voga. Por
outro lado, com o produtor utilizando o novo processo, ademais de aumentar
seus ganhos, a sociedade como um todo tem um rent ao longo de 10 anos
correspondente a um VPL (à taxa de desconto de 10% a.a.) de R$ 101 mil.
Reiterando: esse ganho é auferido pela sociedade, mas não pelo produtor. O
objetivo dessas considerações na estratégia de implantação proposta é a
busca da superação das limitações do perfil do produtor típico, que não são
capturadas pela análise econômica: sua descapitalização, ou seja, sua
dificuldade em alocar parte de sua renda - em geral de mera subsistência -
num investimento e suas resistências ao associativismo, característica
fartamente consolidada nas entrevistas realizadas.
Verificou-se que, na pior hipótese considerada, o custo de investimento no
processo proposto (4 fornos e uma fornalha) é de R$ 10.000, ou seja, em
média R$ 2.500 por forno. Por outro lado, no padrão tecnológico atualmente
utilizado (forno de barranco), o investimento é de R$ 1.000 por forno, ou seja,
de R$ 4.000 para cada 4 fornos. Em síntese, para o conjunto de 4 fornos a
diferença de investimento é de R$ 6.000.
A proposição que se coloca é: dado que a sociedade aufere um ganho de R$
101 mil em função de um investimento adicional de R$ 6 mil - uma relação de
quase 17 x 1 - este é um argumento poderoso para pleito, junto a instituições
governamentais, entidades não governamentais ou outros atores no sistema -
para a criação de mecanismos adicionais (via subsídios, participação nos
investimentos ou outros instrumentos a analisar) que participem na
multiplicação da adoção da tecnologia proposta.
Há ainda que ser salientada a questão social decorrente da tendência de, caso
não se verifique uma alteração de trajetória, extinção da produção

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
139
independente do carvão pela produção integrada das siderúrgicas, conforme
comentado no Cap. 4. Tal tendência significa impacto negativo significativo na
renda dos pequenos produtores de Lamim, agravando a já precária situação
social da região caracterizada pelos baixos níveis de IDH.
À guisa de conclusão, observe-se que todos os comentários desenvolvidos o
foram por sobre os dados do "acid test", ou seja, para qualquer outra
alternativa de preço do CO2e capturado (que, no momento atual, apresentam-
se como mais realistas) os benefícios sociais são várias vezes superiores.

9.6 Associativismo

Ao longo do presente estudo - e enfatizado na Matriz SWOT - observou-se que


o projeto se caracteriza pela pulverização de produtores com pequenas
produções individuais, operando em baixo nível de tecnificação e mecanização,
utilizando canais de logística e comercialização próprios (individuais) e práticas
comerciais singulares.
Identificou-se, ademais, os obstáculos ao aumento da produção representados
pelas incertezas de longo prazo para o aproveitamento da madeira plantada
(pelo ciclo de 7 anos de maturação) e da fragilidade negocial de pequenos
produtores, dependentes de um mercado oligopolizado, constituído de
empresas de porte muito superior ao dos produtores individuais de carvão.
Chama ainda a atenção a escassez de informação, caracterizada pela
ausência de práticas de "levar a informação ao usuário" como, por exemplo, a
realização de "dias de campo" ou outros veículos de disseminação tanto de
tecnologia quanto de informação.
Finalmente, há que se enfatizar a não consciência do produtor como
protagonista no processo. A não utilização das linhas de crédito favorecido
disponíveis e mesmo a existência de forte migração rural-urbana, responsável
pela escassez de mão de obra identificada na pesquisa de campo, podem ser
reflexos desse status quo.
Observe-se que todas estas deficiências oferecem possibilidade de contorno a
partir de algum tipo de organização dos produtores, destacando-se a
perspectiva de formação de cooperativas ou de uma estrutura de "Empresa
Âncora".
A proposição do cooperativismo não é inédita para o estado: segundo a
OCEMIG - Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais 75 - o
estado conta com 774 cooperativas associadas (1,37 milhão de associados),
respondendo por 7,8% do PIB mineiro. No entanto, como dificuldade a

75OCEMIG - Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais: "Home page".


Disponível em http://www.minasgerais.coop.br/pagina/33/numeros.aspx. Acesso em 05/05/2018.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
140
contornar, há que se tomar em conta a falta de tradição de cooperativismo no
setor e na região específica de que se trata o presente estudo, assim como o
fato de - segundo a pesquisa de campo - a atividade carvoeira ser mera ação
complementar a outras atividades agropastoris.
Entende-se, contudo, que - a partir de um processo bem sucedido de
convencimento dos produtores - alguns benefícios de porte seriam possíveis,
tais como:

1. Facilidade de acesso e difusão de tecnologias capazes de aumentar de


forma significativa a produtividade tanto do reflorestamento quanto da
produção de carvão;
2. Perspectivas de melhor estrutura de comercialização pela composição
de lotes de fornecimento homogêneos, de melhor qualidade e de maior
porte;
3. Perspectivas de melhor estrutura de tecnologia e de aquisição de
insumos para a produção florestal pela escala representada por grupos
de produtores;
4. Perspectivas de ganhos na logística pelas economias de escala
(utilização de caminhões de grande porte para as distâncias maiores);
5. Redução dos custos de acesso ao crédito pela apresentação de projetos
em "pacotes" de mutuários, o que reduz o spread bancário pela redução
do risco (diluído entre vários mutuários);
6. Perspectivas de aproveitamento de coprodutos como "moinha" através
de processamento (por exemplo, briquetes) passível de viabilidade pela
obtenção de escala e padronização da matéria prima;
7. Melhoria de relacionamento com as agências governamentais e ONGs
ou outras instituições privadas operantes no setor por se tratar de
conjunto de produtores, e não produtores singulares.

O processo de criação de uma cooperativa é trivial, havendo várias instituições


(como OCEMIG, SEBRAE, EMATER) com tradição no setor que disponibilizam
roteiros e mesmo assessoria para tal.
Para o caso em epígrafe, algumas considerações preliminares devem ser
levadas em conta:

1. A pouca tradição do setor e da região na prática do cooperativismo


recomenda um estudo prévio - pré-viabilidade e estratégia operacional -
das atividades a serem desenvolvidas pela cooperativa, de forma a
demonstrar de forma clara e convincente os benefícios que poderão
advir no processo proposto;
2. Há a necessidade de identificação de um líder regional, com
credibilidade junto a seus pares, para a divulgação da idéia e motivação
dos produtores a aderir;
3. Pela pulverização dos potenciais interessados, seu baixo nível de renda
e sua pouca disponibilidade de tempo para maiores deslocamentos para
reuniões sugere-se a perspectiva de criação de pequenos núcleos (5 a
EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS
UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
141
10 produtores), os quais elegeriam um representante para atender às
reuniões da cooperativa;
4. Estudos de viabilidade específicos seriam elaborados quando o número
de associados fosse suficiente para gerar matéria prima em escala
suficiente para investimentos em melhorias, tais como equipamentos
para homogeneização de produto, equipamentos de briquetagem,
instalações físicas e, eventualmente, até veículos.

Já a vertente da "Empresa Âncora" apresenta-se a partir da bem sucedida


experiência brasileira nos setores de suínos e frangos. A partir de contratos de
médio e longo prazo entre demandantes e produtores (no caso, de carvão) a
empresa âncora estimula o fornecimento garantido no longo prazo através de
contratos onde, por um lado, financiam e provêem assistência técnica no
florestamento de eucalipto, os produtores o convertem em carvão e a empresa
âncora garante aquisição em quantidade e preço pré-estabelecidos ao fim do
processo.
Vale mencionar que, dados os compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito
do Acordo de Paris associado à importância econômica do setor siderúrgico
para a economia brasileira, esse procedimento justificaria plenamente uma
política governamental em termos de estímulos à adoção da prática.
Como conclusão a esse Capítulo, vale mencionar que, em alguns dos contatos
realizados no decorrer desse estudo, observou-se forte ceticismo quanto à
perspectiva de organização dos produtores de carvão de Lamim virem a se
organizar sob a forma de cooperativa ou outra modalidade de associativismo.
Entretanto, das análises aqui desenvolvidas, a alternativa proposta se configura
como poderoso instrumento de superação das principais fragilidades do setor,
pelo que optou-se por manter a proposição.

10 MONITORAMENTO
10.1 Concepção do Monitoramento
Dado o ineditismo do empreendimento - inerente a qualquer inovação
tecnológica - faz-se necessária a concepção de um sistema de monitoramento
de sua evolução. Note-se que qualquer projeto ou plano (de negócio, no caso) é
uma antevisão de futuro, ou seja, uma especulação baseada nas melhores
hipóteses possíveis de como os fatos deverão se desenrolar. Isso significa a
necessidade de monitoramento dos fatos ao longo do tempo, principalmente
daqueles identificados na Matriz SWOT como "oportunidades" e "ameaças" -
aspectos exógenos ao projeto sobre os quais os empreendedores não detêm
comando, porém podem ser decisivos para o seu sucesso ou insucesso. É a
partir do monitoramento que, eventualmente, oportunidades poderão ser melhor
aproveitadas e ameaças contornadas.
Uma ferramenta para fortalecer o desenho, a execução e a avaliação de projetos
é o Marco Lógico, instrumento útil para o monitoramento de sua evolução. É um

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
142
conjunto de conceitos inter-relacionados que definem o porque um projeto está
sendo desenvolvido e o que deve ser feito para alcançar os resultados
desejados. Sua utilização esta interligada a todas as etapas, desde a
preparação até as análises ex post, ou seja, deve motivar, quando necessário,
modificações tanto durante a preparação quanto quando da execução do
projeto.
O método propicia uma série de vantagens por sua apresentação de forma
estruturada, evitando problemas comuns durante a implantação do projeto:

• Utiliza uma terminologia uniforme, que facilita a comunicação e serve


para reduzir as contradições eventualmente existentes;
• Apresenta formas precisas em relação aos objetivos, metas e riscos do
projeto;
• Enfoca o trabalho técnico nos aspectos críticos e reduz a quantidade de
documentos de projeto.
• Organiza as informações e prepara de forma lógica o plano de execução
do projeto;
• Apresenta de forma clara as informações necessárias à execução, ao
monitoramento e à avaliação do projeto; e
• Possibilita a expressar, num único quadro, as informações fundamentais
e expressivas sobre o projeto.

O Marco Lógico foi desenvolvido na década de 70 pela Agência Norte-


Americana de Cooperação (USAID) para responder aos problemas comuns em
projetos acima citados76. Tradicionalmente, o Marco Lógico é avaliado em base
anual.

10.2 A Matriz do Marco Lógico

A Matriz de Marco Lógico obedece a dois conceitos:

• Lógica vertical: Esclarece a razão pela qual se elabora o projeto;


• Lógica horizontal: Esclarece qual será o resultado, e de que maneira se
pode prever o sucesso. Ao requerer as evidências necessárias para
demonstrar um evento, esclarece a natureza do próprio evento.

Verticalmente, é necessário o estabelecimento de relações de causa e efeito


para cada nível, ou seja, há uma relação de insumo-produto.
O segundo aspecto a considerar é que as condições estabelecidas em cada
nível (horizontal) devem ser as necessárias e suficientes para alcançar o nível
seguinte. Finalmente, é fundamental que os indicadores e seus meios de
verificação correspondentes sejam objetivamente quantificáveis.

76BANCO MUNDIAL: "Curso Lideres 2004". Salvador – Bahia – Brasil – 29 de novembro a 10


de dezembro de 2004.

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UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
143
Os indicadores devem ter quatro atributos77:

• Objetivos: quantidade, qualidade e prazo;


• Verificáveis objetivamente;
• Práticos;
• Independentes.

Explicitando os componentes da Matriz;

• Objetivo Geral – trata-se do objetivo de impacto.Representa a situação de


longo prazo que o projeto quer alcançar. Está atrelado ao que se quer
medir:
o o quê,
o quem,
o como.
o Público alvo.
o Restrito ao projeto.
• Objetivos específicos: Indicam o que se busca alcançar ao terminar a
execução do projeto. Trata-se da definição da contribuição do projeto para
alcançar determinada finalidade. Cada objetivo específico gerará metas e
indicadores específicos que serão monitorados e avaliados pelos gestores,
determinando rotas de correção sempre que sinalizem desvios em relação
aos objetivos colimados.
• 1a. COLUNA -Resumo narrativo: São os resultados esperados caso se
alcance o objetivo específico a que se destina;
• 2a COLUNA - Indicadores: Medem os resultados que se busca alcançar em
cada um dos níveis. Devem ser expressos em quantidade, qualidade e
tempo.
• 3a COLUNA- Meios de verificação: São as fontes de informação que devem
ser utilizadas para verificar se os objetivos de cada nível foram alcançados.
• 4a. COLUNA - Supostos ou riscos: São os eventos, as condições ou as
decisões importantes, fora do controle do projeto, que têm que ocorrer para
que seja alcançado o nível superior de objetivos.

A seguir é apresentado o Marco Lógico elaborado para o Projeto.

77TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO - Brasil. "Técnicas de auditoria: marco lógico". Brasília:


Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo. SEPROG/ SEGECEX,
Brasília, 2001.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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144
TABELA45–M ATRIZ DE M ARCO LÓGICO

OBJETIVO GERAL

INDICADOR PARA MEIO DE VERIFICAÇÃO /


RESUMO NARRATIVO SUPOSTOS OU RISCOS
ACOMPANHAMENTO FONTES DE DADOS
EVTE da produção de 1 Indicadores de viabilidade 1.1. Levantamentos Perspectiva de replicação do
carvão vegetal pelo sistema econômica realizados pela UFV sistema em outras unidades/
forno-fornalha 2 Indicadores de 1.2. Análise da viabilidade propriedades agrícolas /
desenvolvido pela UFV desempenho físico econômica regiões
2. Levantamentos realizados
em pesquisa de campo
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Redução da emissão de 1. Medições de emissões 1. Levantamentos realizados 1. Relatórios fidedignos
gases poluentes pela UFV
2. Verificação da viabilidade 2. EVTE do processo 2. EVTE realizado 2. Hipóteses de trabalho
econômica do produtor realistas
3. Potencial de replicação em 3. Comparação com custos 3. Estudos complementares 3.1. Hipóteses de trabalho
outras propriedades de produção a partir de realistas
outras tecnologias 3.2. Confiabilidade dos dados
levantados em campo
4. Perspectivas de replicação 4.1. Constatação de maior 4.1. EVTE 4.1. Confiabilidade dos dados
em outras propriedades rentabilidade do processo em 4.2. Análise das perspectivas levantados em campo
estudo de mercado realizada 4.2. Incertezas no mercado
4.2. Análise das perspectivas mundial de aço
de mercado 4.3. Incertezas nos mercados
nacionais de aço, ferro-gusa

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145
e ferroligas
COMPONENTES
INDICADOR PARA MEIO DE VERIFICAÇÃO /
RESUMO NARRATIVO SUPOSTOS OU RISCOS
ACOMPANHAMENTO FONTES DE DADOS
1. Implantação de unidade 1. Unidade experimental 1. Constatação física
experimental implantada
2. Análise da EVTE 2. Relatório de análise da 2. Relatório da EVTE 2. Hipóteses assumidas
EVTE aprovado consistentes com a realidade
3. Análise do potencial de 3. Relatório de análise da 3. Relatório de análise da 3. Hipóteses assumidas
replicação em outras competitividade em custos competitividade em custos consistentes com a realidade
propriedades aprovado
4. Estratégia de replicação 4. Relatório de análise de 4. Relatório de análise de 4. Hipóteses assumidas
em outras unidades estratégia de replicação estratégia de replicação consistentes com a realidade
aprovado
5. Aumento da renda dos 5. Pesquisa in loco 5. Respostas a questionários 5. Disponibilidade de
produtores específicos recursos para
prosseguimento das análises
e evolução do processo

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ATIVIDADES
INDICADOR PARA MEIO DE VERIFICAÇÃO /
RESUMO NARRATIVO SUPOSTOS OU RISCOS
ACOMPANHAMENTO FONTES DE DADOS
1. Ganhos de produtividade 1. Medições na unidade 1. Verificação de campo 1. Grau de confiabilidade da
no processo experimental verificação
2. Divulgação dos benefícios 2.1. Elaboração de material 2.1. Material de divulgação 2. Ceticismo dos participantes
do cooperativismo de divulgação elaborado
2.2. Palestras e "dias de 2.2. Quantidade de palestras
campo" realizadas
2.3. Quantidade de "Dias de
campo" realizados
3. Implantação de 3. Divulgação e 3.1. Lideranças identificadas 3.1. Perspectiva de
cooperativa de carvoeiros convencimento aos 3.2. Cooperativa implantada superação da pouca tradição
produtores do potencial de de cooperativismo na região
ganhos com a criação da e no setor
cooperativa 3.2 "Compra" da idéia pelos
agentes.
4. Capacitação dos usuários 4. Treinamentos realizados 4.1. Número de treinamentos 4. Convencimento dos atores
na utilização da nova realizados dos ganhos potenciais da
tecnologia 4.2. Relatórios de atividade tecnologia proposta
elaborados
5. Divulgação dos benefícios 5.1. Produção de material de 5. Material de divulgação
do processo proposto divulgação do processo elaborado
6. Disseminação do novo 6. Outras unidades 6. Verificação de campo
processo implantadas

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147
11 CONCLUSÃO
O exercício desenvolvido cerca-se de características peculiares.
Trata-se de uma proposição de tecnologia para aprimoramento de prática
milenar objetivando, paralelamente a uma melhoria tecnológica do processo
produtivo do carvão, assim como um melhor atendimento às preocupações
ambientais que somente nas últimas décadas passaram a integrar o cenário de
preocupações mundiais.
O custo do investimento, em todas as tecnologias consideradas, é muito
pequeno se considerados os valores de custeio: os investimentos fixos em
relação ao custo da matéria prima em 1 (um) único ano representam 17% no
caso da unidade demonstrativa, 9% no forno de encosta e 12% no forno de
superfície. Isso significa que a sensibilidade da atividade ao custo do
investimento é extremamente pequena.
Por outro lado, há que considerar: o perfil do produtor de carvão em Lamim é
de um pequeno produtor, onde a carvoaria é uma atividade complementar e,
fundamentalmente, sua renda não permite maiores aventuras de investimento
na medida em que é sua verba de subsistência
A outra peculiaridade digna de registro é o fato de a unidade em estudo ser
superior às demais tecnologias consideradas em rendimento gravimétrico e,
consequentemente, na produção de carvão, compensando com folga o efeito
do maior custo inicial (de investimento).
Por outro lado, a redução de emissões de CO2 (e outros gases responsáveis
pelo efeito-estufa) integra tanto preocupações sócioambientais como os
compromissos firmados pelo Governo do Brasil, responsabilidade social
delegada a todos os agentes econômicos do país.
Há, entretanto, que se salientar - como fartamente demonstrado no Capítulo 3
deste documento - que a prática de carvoejamento por produtores
independentes é atividade ainda em vigor porém com sinais de decadência em
termos de perspectivas futuras. A constatação não invalida o esforço
desenvolvido, na medida em que mesmo que o horizonte desse perfil de
produção apresente sintomas de ser restrito, a substituição da tecnologia
tradicional pela proposta se justifica na medida em que a vida útil das unidades
em atividade se esgote ainda consiste em significativo ganho ambiental.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


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RAAD, Túlio Jardim: "Cadeias Produtivas do Carvão Vegetal para uso no
setor de ferro-gusa, aço e ferroligas no Brasil .Produto 2 - Análise do
estado da arte de cadeias de produção de carvão vegetal destinado ao
setor de ferro-gusa, aço e ferroligas no Brasil. Projeto BRA/14/G31 –
Produção de Carvão Vegetal de Biomassa Renovável para a Indústria
Siderúrgica no Brasil", PNUD – Novembro 2017.
RAY, Anandarup: "Cost-benefit analysis: issues and methodologies". The
World Bank, the Johns Hopkins University Press, Baltimore MD, USA,
1984.
RELATÓRIO do Painel Florestal em Conselheiro Lafayette-MG em 4 de
abril de 2017 UFV, silvicultores de Lamim, FAEMG, SENAR e EMATER.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
155
RODRIGUEZ, Augusto Valencia. "Mapeamento, mensuração e avaliação de
opções tecnológicas de coprodutos de carvão vegetal. Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD - Projeto BRA/14/G31 –
Produção de Carvão Vegetal de Biomassa Renovável para a Indústria
Siderúrgica no Brasil. Produto 1: Mapeamento das opções e rotas
tecnológicas; Produto 2: Relatório Técnico sobre o aproveitamento dos
coprodutos; Produto 3: Análise de viabilidade técnica, econômica e
ambiental de tecnologias de conversão em diversas escalas de
produção; Produto 4: Definição do layout e localização para a praça de
produção de carvão vegetal sustentável;Produto 5: Análise de custo-
benefício para a produção de carvão vegetal". Viçosa, 2017.
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas:
"Ferramenta: as 5 forças de Porter (Clássico)". Disponível em
https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ME_5-Forcas-
Porter.PDF. Acesso em 24/04/2018.
SECRETARIA DE estado DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS. Silvicultura 2016 em
MGanobase 2014 – 2015. Disponível em: http://www.agricultura.mg.
gov.br/images/Arq_Relatorios/Perfil/Silvicultura/perfil_silvicultura_agosto
_2016.pdf. Consultado em 06⁄04⁄2018.
SENADO FEDERAL: "Projeto de Lei do Senado no 249 de 2011. Disponível
em https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias//materia
100216. Acesso em 09/04/2018.
SEROA DA MOTA, Ronaldo: ”Manual para valoração econômica de recursos
ambientais". CEMA/IPEA e COBIO/MMA. Rio de Janeiro, 1997.
SIMIONI F. J., Moreira J. M. M. Á. P., Fachinello A. L., Buschinelli C. C. de
A. , Matsu M. I. da S. F.. "Evolução e concentração da produção de
lenha e carvão vegetal da silvicultura no Brasil". Ciência Florestal, Santa
Maria, v. 27, n. 2, p. 731-742, abr.-jun., 2017.
SINDIFER - Sindicato da Indústria do ferro do estado de Minas Gerais:
"Anuário estatístico 2016". Disponível em http://www.sindifer.com.br/
institucional/anuario/anuario _2016.pdf. Acesso em 15/03/2018
SNIF - Sistema Nacional de Informações Florestais, integrado ao SINIMA -
Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente. (Dados
atualizados em 24/11/2017), disponível em . http://www.florestal.gov.br/
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EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
156
com.br/search?tbm=isch&sa=1&ei=blUdWoa2D4iDwQSwh56IAQ&q=tol
masquim+ENERGIA+TERMEL%C3%89TRICA&oq=psyab.3.47966.5229
1.0.53365.20.20.0.0.0.0.162.2166.0j18.18.0....0...1c.1.64.psyab..2.0.0....
0.c7tlC1PZrMU#imgrc=L3b4vvOv39L6tM. Acesso em 12/02/2018.
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TRIBUTAÇÃO na Produção do Carvão Vegetal: (Sem referência ao autor).
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UNIESTE - Curso de Engenharia Metalúrgica: "Alto forno - carvão vegetal".
Disponível em http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfVTMAH/alto-
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WORLD STEEL ASSOCIATION: "Steel AssociationYearbook 2017".
Disponível em https://www.worldsteel.org/media-centre/press-
releases/2017/worldsteel-2017-steel-statistical-yearbook-now-available-
online0.html. Acesso em 15/02/2018.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
157
ANEXO I

LISTA DE PESSOAS ENTREVISTADAS

EM BRASÍLIA (23/01/2018)
Patrícia Peres Simão - JOF - Joint OperationsFacility;
CláudiaCâmara - JOF - Joint Operations Facility;
Mônica de Oliveira Santos da Conceição - Projeto BRA/14/G31;
Saenandoah Tiradentes Dutra - Projeto BRA/14/G31.

EM BELO HORIZONTE (16-17/04/2018)


Augusto Valência Rodrigues - Consultor;
Adriana Maugeri - Associação Mineira de Silvicultura;
João Cancio Andrade Araújo - Engenheiro Florestal
Darcio Calais - SINDIFER - Sindicato da Indústria de Ferro no estado de Minas
Gerais

EM LAMIM (18-19/04/2018)
Amador Reis de Matos - Produtor - Sítio Martins
Vagner - Produtor (com tio José Gomes da Silva), Fazendas Martins de Baixo e
Martins de Cima.
Ronildo Antonio Reis Souza - Produtor - Fazenda Córrego dos Martins
Anselmo Neto Serafim - Produtor - Sítio Chico Antônio
Riuleymar Nogueira Miranda - produtor de mudas e plantador de florestas de
eucalipto para terceiros - Sítio Trovão.
Tiago Emmanuel de Almeida - EMATER MG

EM VIÇOSA (19-20/04/2018)
José de Castro Silva - Advocacia Ambiental (Prof. aposentado Ufv).
Sebastião Valverde (Chefe do Departamento de Engenharia Florestal - DEF -
UFV);
Diogo (Doutorando - DEF - UFV);
Chris (Doutorado - Energia - DEF - UFV).
Angélica de Cassia Oliveira Carneiro (Professora - DEF - UFV);
Laércio Jacovine (Professor - DEF - UFV);
Eliana Boaventura Alves (Pesquisadora - DEF - UFV);
Bruno Schettine (Doutorando - DEF - UFV;)
Marcos Aurélio da Silva Araújo (Técnico em Agropecuária, Secretaria de
Agricultura - Prefeitura de Viçosa);
Robson Mariano da Costa (Auxiliar Administrativo, Secretaria de Agricultura -
Prefeitura de Viçosa)

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
158
ANEXO II
RELATÓRIO FOTOGRÁFICO

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
159
ANEXO 3

MÉTODO DELPHI MODIFICADO

O método Delphi foi desenvolvido na década de 50 pela Rand Corporation


(Califórnia, USA) com o patrocínio da USAF - United States Air Force para
auxiliar no processo de tomada de decisão em problemas complexos e
multidisciplinares. A principal característica do método reside em sua
simplicidade operacional, bem como – de particular relevância nos problemas
de tomada de decisão – na possibilidade de incorporar variáveis de difícil ou
mesmo impossível mensuração ou quantificação: admite juízos de valor e
percepções pessoais. Por outro lado, deve ser enfatizado que o modelo não se
propõe a oferecer resultados conclusivos, mas simplesmente bons indicadores
de probabilidade de sucesso. A partir dos resultados obtidos, estes devem ser
complementados a partir do aprofundamento dos estudos.
Em contextos como este, o método foi desenvolvido pela Consultora CP
Empreendimentos Ltda. através de uma variante simplificada sem, porém,
perder sua validade ou sua utilidade. Esta variante já foi aplicada para a análise
de problemas de localização em Projetos de Pré-Viabilidade Econômica78 e de
Viabilidade Econômica79, para a priorização de intervenções de recuperação de
locais históricos em Projeto do Ministério da Cultura junto ao BID80, em seleção
de áreas onde desenvolver Políticas de Desenvolvimento Industrial 81. e em
processos de tomada de decisão como no Estudo de Viabilidade Econômica do
Parque Nacional do Caparaó - MG/ES82.
No caso em tela, propõe-se a adoção deste exercício na busca de
hierarquização, dentre candidaturas específicas de alternativas locacionais da
planta de processamento, apontando para qual (quais) apresenta(m) melhores
condições para hospedar o projeto. No caso específico da Unidade

78CASCÃO, Luiz A F. et alii: Projeto de Consolidação e Expansão da Agroindústria do Paraná.


Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES. Curitiba, PR, julho
de 1974.
79CASCÃO, Luiz A. F.: Projeto de Viabilidade Econômica da UNIAGRO – Indústria de

Processamento de Soja no Paraná. Campo Mourão, PR, 1976


80IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Programa de

Revitalização de Sítios Urbanos através da Recuperação do Patrimônio cultural. Projeto


elaborado pela CP Empreendimentos Ltda. e aprovado pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento – BID. Ministério da Cultura, Brasília, 1997.
81MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA, DO COMÉRCIO E DO TURISMO – Projeto de Implantação do

Sistema Nacional de Oportunidades de Investimento Industrial – SOI. Estudo elaborado pela


CP Empreendimentos Ltda. Brasília, 1998.
82CASCÃO, Luiz A. F.: "Estudo de viabilidade econômica do Parque Nacional do Caparaó -

MG/ES. PNUD/ICMBio, Brasília, 2009.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
160
Demonstrativa de Lamin, a aplicação do método mostrou-se inadequada: a
simplicidade das variáveis que influenciam na tomada de decisão quanto à
localização ideal de novas unidades similares não justificam sua utilização.
Na perspectiva de replicação da tecnologia forno-fornalha UFV em condições
mais complexas, apresenta-se a seguir um roteiro para a aplicação do método.
O método é aplicado a partir de uma listagem das características de cada
alternativa de terreno onde instalar o empreendimento. Neste exercício, estes
são denominadas Terrenos A, B, C, D e E.
O estágio seguinte é a “discriminação dos quesitos”. Quesitos são os fatores
capazes de oferecer vantagens ou desvantagens operacionais (principalmente
refletidas em custos) ao Projeto. Entende-se como “fatores atraentes” ou
“fatores de atração” aqueles que contribuem positivamente para o
empreendimento, assim como "fatores de dissuasão" aqueles que contribuem
negativamente. Ou seja, o modelo pode incorporar tanto fatores de atração
quanto fatores de expulsão, como ver-se-á mais adiante. Como exemplificação,
poderiam ser considerados como quesitos:

• Proximidade da fonte de matéria prima;


• Agressão ambiental mínima (ou facilmente compensada);
• Custo do terreno;
• Custos de preparação do terreno (terraplenagem, etc.);
• Disponibilidade de facilidades (energia elétrica, telecomunicações, etc.);
• Disponibilidade de vias de abastecimento de matéria prima;
• Qualidade das vias de abastecimento de matéria prima;
• Proximidade de vias de escoamento da produção;
• Qualidade das vias de escoamento da produção; etc.
Observe-se que podem ser incluídos quesitos meramente qualitativos, ou não
quantificáveis. Nisto reside a maior vantagem deste método diferenciando-o
dos modelos clássicos, baseados apenas em custos, remunerações ou
garantias de retorno.
O segundo quesito para a aplicação do método é a elaboração da “matriz
necessidade”. Nesta, para cada atributo escolhido, associa-se uma “nota” de 1
a 5, que deve refletir o grau de importância do mesmo como fator de seleção
do terreno candidato. Quando o quesito for de impacto relativamente baixo
para atratividade e/ou viabilidade do investimento, recebe “nota” 1. Quando o
quesito for essencial ou de alto impacto na atratividade e/ou viabilidade, a
“nota” é 5. Posições intermediárias recebem “notas” de 2 a 4, numa escala
crescente em função da maior essencialidade ou importância do quesito.
Pode-se, inclusive, trabalhar com intervalos não de valores, mas de categorias.
Exemplificando, uma aplicação nestes moldes para um quesito “qualidade das
vias de escoamento da produção”:

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
161
• Rodovia pavimentada em boas condições - nota 5;
• Rodovia pavimentada em más condições - nota 4;
• Rodovia de terra ou cascalho em boas condições - nota 3;
• Rodovia de terra ou cascalho em más condições - nota 2;
• Rodovia carroçável ou ausência de rodovia - nota 1.

Observe-se que tanto a discriminação dos atributos quanto a pontuação a ser


atribuída devem manter foco nos demais componentes do projeto de forma a
identificar que aspectos são efetivamente importantes e em que dimensão.
Neste ponto verifica-se, como em todo o restante do projeto, a necessidade de
visão multidisciplinar, com seus aspectos técnicos afetando e sendo afetados
por outros segmentos do estudo.
Outro ponto a enfatizar refere-se ao número de quesitos a incorporar na
análise: este deve ser pequeno o bastante para evitar excessivo detalhamento
e grande o suficiente pra incorporar todos os aspectos realmente relevantes
para a tomada de decisão (ou, no caso em pauta, para uma clara definição da
hierarquia de probabilidades de sucesso). A experiência recomenda trabalhar-
se com um mínimo de 5 e um máximo de 10 quesitos, variando em função da
sensibilidade da viabilidade ambiental, técnica e econômica do projeto em
relação aos objetivos colimados.
A etapa seguinte constitui-se da criação de uma “Matriz Disponibilidade”. Esta
apresenta, para cada alternativa locacional em estudo e para cada um dos
quesitos listados, o grau de atendimento (“notas”, na mesma amplitude de
escala anteriormente considerada para os “quesitos”) apresentado por cada
uma das alternativas em estudo para o empreendimento.
A última etapa, a “Matriz Resultado”, é obtida a partir da subtração da “Matriz
Disponibilidade” da “Matriz Necessidade”.
A “Matriz Resultado” proverá uma “hierarquia de habilitação locacional”.
Entende-se por isto que aquelas propostas que apresentarem menor “déficit”
em relação aos atributos solicitados – dado pelo somatório das “notas”
negativas obtidas – e que se constituem nas alternativas de maior
probabilidade de sucesso na implementação do projeto.
Observe-se que o total calculado para a “Matriz Resultado” – denominado
“déficit de atratividade” – não incorpora os valores positivos encontrados nos
argumentos da matriz. Isto porque a disponibilidade de um quesito em
quantidade ou qualidade superior à necessária não compensa eventuais
déficits encontrados em outros quesitos.
Exemplificando: suponha-se um terreno que aponte na “Matriz Necessidade”
uma “nota” 3 para o quesito “disponibilidade de facilidades” e uma “nota” 5 para
o quesito “agressão adicional mínima ao ambiente”. O exercício apresenta, no

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
162
vetor correspondente a uma determinada proposta da “Matriz Disponibilidade”,
“notas” 5 e 3 respectivamente, o que significa resultados de +2 e –2 para estes
quesitos na “Matriz Resultado”. É fácil perceber que o fato de existir grande
disponibilidade de facilidades não compensa o impacto ambiental negativo que
a localização neste local causará.
Em outras palavras, o superávit na sinergia de facilidades não compensa o
déficit incorrido no quesito ambiental, o que ocorreria se o “déficit atratividade”
resultante da “Matriz Resultado” fosse computado por soma algébrica
(considerando valores positivos e negativos).
A seguir, apresenta-se a formatação da matriz final do exercício..

MÉTODO DELPHI MODIFICADO - EXEMPLO DE MATRIZ

AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS LOCACIONAIS

O resultado da aplicação do método aponta a melhor proposta locacional para


o empreendimento em estudo, ou seja, aquele que apresenta o menor déficit.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
163
ANEXO IV

CARTILHA - SUGESTÃO DE TÓPICOS A INTEGRAR

NOTA PRÉVIA: O presente anexo se constitui de tópicos que, no entender da


Consultoria, seriam importantes de ser considerados quando da elaboração da
Cartilha de Divulgação do processo proposto.

IV.1. O Forno de carvão vegetal com fornalha e chaminé

A) Origem da idéia
Várias instituições de pesquisa do Brasil buscaram desenvolver um forno de
fazer carvão vegetal que desse um bom rendimento em carvão e produzisse
um carvão de boa qualidade. Ainda mais, que produzisse esse carvão sem
emitir muita fumaça, sem muita poluição. A Universidade Federal de Viçosa
propôs um forno semelhante aos fornos bastante conhecido dos carvoeiros, o
forno ″rabo quente″. Construiu quatro fornos interligados com uma fornalha e
uma chaminé central, conforme mostra a figura a seguir.

Figura 1: Quatro fornos interligados com uma fornalha com chaminé.


Fonte: arquivo pessoal QUIRINO, 2018.

Esses fornos possuem cada um 3m de diâmetro e 2,50m de altura. Recebem


treze estéreos de lenha e produzem aproximadamente 7,00m3 ou mais de

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
164
carvão (mdc). A grande vantagem desses fornos é que a fornalha central
permite queimar toda a fumaça misturada com alcatrão. O que sai pela
chaminé da fornalha é mais de 90% menos poluente e contaminante ao meio
ambiente que o forno comum.
Esses fornos, com controle da temperatura interna e acoplados com fornalha e
chaminé, conseguem produzir mais carvão e de melhor qualidade que os
fornos convencionais. Neste trabalho resumido, mostraremos em números os
resultados destes estudos que foram efetuados com a Unidade Demonstrativa
de Lamim-MG.

B) A Operação dos fornos com fornalha


A chaminé tem o efeito de puxar a fumaça de dentro dos fornos através de
dutos para ser queimada na fornalha. No começo da carbonização é preciso
colocar um pouco de resíduo de madeira na fornalha e acender. Depois que a
fornalha está quente não é necessário colocar mais nada. Esse efeito da
fornalha de puxar a fumaça de dentro dos fornos acelera um pouco a
carbonização.
O acendimento do forno para carbonização é feito de maneira convencional,
com início pela parte superior da porta antes de seu total fechamento. É
aconselhável operar a carbonização de dois fornos de cada vez. Quando são
abafados dois fornos, inicia-se a carbonização de dois outros.
A grande diferença desse conjunto de fornos é controlar a carbonização pela
temperatura interna dos fornos. A temperatura é medida com um aparelho
muito usado na indústria, o pirômetro digital. Esse aparelho mede a
temperatura através dos tubos colocados na parede e no teto do forno, como
se vê na Figura 1. A partir daí é só seguir a receita de operação, mantendo a
temperatura interna indicada na receita, pela abertura ou fechamento dos
″tatus″ do forno. Ele não tem ″baianas″.
A seguir, são mostrados dois tipos de pirômetros comerciais, que são utilizados
para medir temperatura pela radiação infravermelha. O controle da temperatura
permite obter o melhor rendimento em carvão com melhor teor de carbono fixo.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
165
Figura 2: Pirômetro infravermelho utilizado para medir temperatura interna do
forno.
Fonte: https://www.homis.com.br/termometros/pirometro-digital-portatil-441a-
homis consultado em 30-06-2018.

C) Detalhes construtivos
C1) Preparo da Área para Construção:
1 - Antes de iniciar a construção do sistema forno fornalha, deve-se realizar o
nivelamento do solo;
2 - Depois, realiza-se a marcação de toda a área a ser destinada para a
construção do sistema fornos-fornalha, além da área destinada ao
estoque de madeira e carvão vegetal;
3 - Para que enxurradas não atinjam os fornos, recomenda-se que sejam feitas
canaletas ao redor da unidade de produção de carvão vegetal;
4 - O terreno deve ser bem aplainado, compactado, encascalhado e possuir
inclinação para escoamento da água das chuvas.
O sistema fornos-fornalha consiste em quatro fornos circulares com diâmetro
de 3 m, interligados a uma fornalha central, sendo a mesma construída com
tijolos comuns (barro queimado), em formato circular.
Para a marcação da base, levantamento das paredes e da cúpula dos fornos
utiliza-se um cintel de madeira ou outro material. Dimensões do cintel: Haste
central (comprimento: 2 m; diâmetro: 2 cm); Haste lateral (comprimento: 1,5 m
e diâmetro de 2 cm). Para a composição do cintel, a haste lateral é amarrada
horizontalmente a haste central, conforme figura abaixo.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
166
Figura 3: construção das paredes com cintel.
Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018

Após a confecção do cintel, inicia-se a marcação dos fornos.

Figura 4: marcação e construção da base das paredes dos fornos.


Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018

A construção das paredes é feita de maneira tradicional pelos construtores de


fornos de alvenaria.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
167
Figura 5: Construção das paredes e reforço da porta dos fornos.
Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018.

Na parte inferior do forno são deixadas quatro aberturas “tatus” de 20 cm, para
entrada de ar e controle da carbonização.

Figura 6: Construção dos fornos com destaque para os ″tatus″.


Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018.

A porta do forno consiste em uma abertura de formato trapezoidal: com base


maior de 90 cm, base menor de 80 cm e altura de 170 cm. Pode ser feito
também um gabarito de madeira nestas dimensões para facilitar a construção.
Na direção oposta da porta, uma abertura de 30 x 30 cm é deixada para a
saída dos gases gerados durante a carbonização.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
168
Figura 7: Porta do forno e saída para túnel condutor dos gases para fornalha.
Detalhe da barra de ferro para suporte da parede.
Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018.

Inicia-se a construção da cúpula do forno, sendo os tijolos da parede e da


cúpula colocados com as juntas desencontradas. Após a deposição das
primeiras camadas de tijolos da cúpula, instala-se, externamente ao forno, a
cinta metálica unida por roscas e porcas. A cinta é instalada para dar reforço ao
forno.

Figura 8: Construção da cúpula do forno.


Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018.

Externamente ao forno, na saída de gases para o duto foi instalada uma


guilhotina feita de chapa de ferro com 55 x 50 cm e 3 mm de espessura, para
controle da vazão de saída dos gases através da sua movimentação vertical
durante a carbonização e vedação do forno durante o resfriamento. Essa
guilhotina é passível de ser instalada em outras posições no duto de gases do
forno para chaminé.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
169
Figura 9: Instalação da guilhotina de fechamento do forno para fornalha.
Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018.

Para monitoramento da temperatura interna dos fornos durante a carbonização


e resfriamento, devem-se instalar cilindros metálicos para medição da
temperatura por meio de um sensor de infravermelho (pirômetro). Estes
cilindros apresentam uma extremidade fechada voltada para a parte interna do
forno e a outra extremidade aberta, para inserção do medidor de temperatura.

Figura 10: Instalação dos cilindros para medição da temperatura.


Fonte: Cartilha do Governo de Minas, FAPEMIG e UFV.
Disponivel: https://pt.scribd.com/document/311977071/Cartilha-Producao-
Sustentavel-de-Carvao-Vegetal consulta 30-06-2018.

D) Construção da fornalha e chaminé


A construção da fornalha de formato circular, com diâmetro interno de 80 cm,
inicia-se com a marcação da base e a partir desta, realiza-se a construção das
paredes com camada dupla de tijolos (20 cm) até a altura total.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
170
Figura 11: Construção dos dutos de gases, fornalha e chaminé.
Fonte: arquivo pessoal QUIRINO, 2018.

A fornalha é construída com tijolos refratários e recebeu uma camada de manta


refratária. A chaminé também recebeu revestimento interno de manta refratária.
A fornalha e a chaminé receberam um revestimento externo de argamassa
refratária.
Observou-se na unidade demonstrativa de Lamim que cada forno apresentou o
seguinte tempo de operação, desde o carregamento do forno até a descarga
do carvão:
• Carregamento do forno com lenha - meio dia de serviço
• Inicio da combustão até abafamento - 70 horas
• Resfriamento do forno - 70 horas
• Descarga do carvão - meio dia de serviço
Com esses tempos observa-se que uma semana é mais que suficiente para um
ciclo completo de carbonização. Desta maneira em um mês conseguem-se no
mínimo quatro carbonizações por forno.
Comparou-se o rendimento desses quatro fornos acoplados com fornalha e
chaminé com quatro fornos de encosta (tradicionais em Lamim) e com quatro
fornos ″rabo quente″. Todos com a mesma dimensão interna.

EVTE E PLANO DE NEGÓCIOS


UNIDADE DEMONSTRATIVA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL – SISTEMA FORNO/FORNALHA
171
Observou-se que os fornos da UFV apresentam um rendimento em massa por
fornada (mais kg de carvão) que os outros dois tipos de fornos. Isso acontece
por que o sistema de controle por temperatura interna com auxilio do pirômetro
é mais eficiente, proporcionando um melhor rendimento gravimétrico.
Observou-se na operação da Unidade Demonstrativa de Lamim que era
possível obter pelo menos 32,5% de rendimento gravimétrico.
Os fornos ″rabo quente″ tradicionalmente operados por pequenos produtores
apresentam em média um rendimento gravimétrico de 26 % em carvão, obtido
por vários estudos e aceito largamente no meio técnico. O ciclo de
carbonização de um forno rabo quente de três metros também é de
aproximadamente sete dias ou quatro carbonizações por mês.
Já para os fornos de encosta ou de barranco adotou-se o rendimento médio de
30% em carvão, obtido em várias bibliografias, em função do seu bom
isolamento térmico. No entanto, esse bom isolamento térmico faz com que o
resfriamento seja mais demorado. Admite-se tecnicamente que um ciclo de
carbonização alcance em torno de 10 dias ou mais ou menos 3 carbonizações
por mês.
Se colocarmos nos três tipos de forno a mesma quantidade de lenha, no fim do
mês iremos obter em cada conjunto de 4 fornos a seguinte quantidade de
carvão:
• Forno rabo quente 49.600 kg de lenha 12.896 kg de carvão
• Forno de encosta 37.200 kg de lenha 11.160 kg de carvão
• Forno UFV 49.600 kg de lenha 16.120 kg de carvão
O forno de encosta pega menor quantidade de lenha por mês por ter um ciclo
de carbonização mais longo. O forno ″rabo quente″ produz menos carvão por
ter um rendimento gravimétrico menor. Desta forma consegue-se com a
mesma quantidade de lenha e com o mesmo número de fornos com as
mesmas dimensões mais carvão com o sistema da UFV.

E) Os ganhos com o forno UFV


Com relação ao investimento: a Universidade Federal de Viçosa, fazendo um
inventário detalhado da construção da unidade demonstrativa de Lamim,
encontrou um custo total de R$ 10.173,05 para materiais e mão-de-obra para
os quatro fornos com fornalha e chaminé, enquanto quatro fornos de encosta
ficariam por R$ 4.000,00 e quatro fornos ″rabo quente″ ficariam por R$
6.940,00.
Além dos estudos realizados com relação aos custos de construção dos fornos
e a produtividade da conversão de lenha em carvão, foram também estudados
o ciclo de produção, ou seja, levando em conta o carregamento, a queima, o
resfriamento e a descarga do forno, mostrando que - principalmente pelo tempo
de resfriamento - os fornos UFV e "rabo quente" podem produzir 4 ciclos por
mês, enquanto o forno de encosta pode produzir apenas 3.

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O outro ponto a considerar é, na região de Lamim, a diferença do custos de
construção do forno UFV em relação aos outros, ou seja, enquanto um
conjunto de 4 fornos UFV custa R$ 10,000,00, um conjunto igual de fornos de
encosta custa R$ 4.000,00 e de fornos "rabo quente" R$ 7.000,00. Isto significa
um custo adicional de construção de R$ 6.000,00 com relação ao conjunto de
fornos de encosta ou R$ 3.000,00 com relação ao conjunto de fornos "rabo
quente".
Entretanto, quando se leva em conta o ciclo de queimas mensal e calcula o
saldo de caixa anual, ou seja, a diferença entre todas as receitas e despesas
anuais, para os três tipos de forno são os seguintes:

Figura 12: Saldos de Caixa ao ano.


Fonte: Elaboração Própria.

Note que o forno UFV apresenta saldos de caixa crescentes durante os três
primeiros anos de operação, quando o rendimento ainda não é o ideal. Isto se
deve à “curva de aprendizado” considerada para a nova tecnologia, ou seja, o
período em que o operador ainda está aprimorando seu conhecimento e
aperfeiçoando seu trabalho. Para os outros tipos de fornos, cuja
operacionalização já é conhecida de todos, os saldos são constantes.
Este cálculo considera o preço de aquisição da madeira a R$ 100,00 /
tonelada, e o preço de venda do carvão a R$ 675,00 por tonelada. Com esses
valores, os saldos de caixa apresentados pelo forno UFV são sempre
superiores aos demais e a diferença do investimento - maior no forno UFV - é
facilmente compensada com os ganhos decorrentes de sua adoção em menos
de 2 anos mesmo em relação ao forno de encosta, que tem lucratividade maior
que o "rabo quente".
Um aspecto que tem que ser levado em conta: as estimativas de ganhos
anuais de todos os tipos de forno foram calculadas com o mesmo preço da
madeira e do carvão.
Entretanto, sabemos que os preços da madeira e do carvão variam muito.
Foram, então, estudadas algumas outras possibilidades para saber ate que
preços o forno UFV ainda é rentável. Essa análise é feita apenas para o forno
UFV, pois se os preços são os mesmos independentemente do tipo de forno
utilizado o melhor resultado será sempre do forno-fornalha.
Para verificar o comportamento do saldo de caixa anual (à partir da
estabilização no ano 3) sensibilizando estas duas variáveis foi elaborado um

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quadro com cinco níveis diferentes do preço de aquisição da madeira e do
preço de venda da tonelada do carvão. Lembrando que na hipótese básica o
saldo anual e de R$ 20.260,37, os demais resultados operacionais são
apresentados no quadro a seguir. O valor tarjado de amarelo é o que considera
os valores padrão utilizados na análise completa da viabilidade econômica do
Projeto.

Figura 12: Análise da Sensibilidade do VPL do Projeto aos preços (R$/t).


Fonte: Elaboração Própria.

O que se observa é que:

• A tecnologia UFV fica inviável para um preço de venda de carvão de R$


540/t (ou seja, 20% abaixo do preço de venda atual) somente com a
madeira custando R$ 100/t ou mais;
• Com o preço do carvão a R$ 607,50 (10% abaixo do atual) o projeto
somente se inviabiliza com a madeira a R$ 120 (20% acima do preço atual)
ou mais;
• Com o preço atual do carvão, o projeto somente se inviabiliza com a
madeira a R$ 140 (40% acima do preço atual)
• Em todas as outras combinações de preço de venda do carvão e de
aquisição da madeira o Projeto é viável, rendendo mais de 10% ao ano
(taxa de desconto considerada nos fluxos de caixa), ou seja, remuneração
muito maior que qualquer alternativa de aplicação de dinheiro no mercado.

Um outro aspecto deve ser mencionado: o processo forno-fornalha


praticamente não emite gases. Isso significa que pode ser implantado em local
próximo à moradia do operador sem qualquer dano à saúde ou inconveniente
dos cheiros emanados, como ocorre com os processos tradicionais.

Além disso, se o forno está próximo à moradia, o operador gasta menos tempo
de deslocamento e pode dar uma atenção mais detida e constante durante
todo o processo, evidentemente ganhando tempo para outras atividades e
qualidade na queima do carvão.

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Conclusão: o processo forno-fornalha da UCV é muito mais rentável que as
alternativas de forno atualmente adotadas na região de Lamim.

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