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GABARITO PROVA REC - FÍSICA-1

Profa Dra V. Martelli - Instituto de Fı́sica - USP

04/08/2021

1 QUESTÃO 1 (2 pontos)
Uma partı́cula de massa m executa o movimento espiral mostrado na figura
com dθ(t)
dt = ω e |~r(t)| = r0 eαt onde r0 , α e ω são constantes positivas (> 0),
indicadas em apropriadas unidades do SI.

Figure 1: Figura da Questão 1

1. Encontrar a aceleração ~a(t) em função do tempo. (1 ponto)


2. Para qual valor de α a aceleração radial é nula? (0.5 ponto)
3. Em qual instante (se tiver), o momento angular da partı́cula respeito à
origem dos eixos será nulo? (0.5 ponto)

Solução:

(1) O vetor de posição pode ser descrito como:

~r(t) = r0 eαt [cos(ωt)î + sin(ωt)ĵ] = r0 eαt r̂

onde r̂(r) é o versor unitário que tem a mesma direção e mesmo sentido do vetor
~r(t) e módulo unitário. Podemos indicar com t̂ = −sin(ωt)î + cos(ωt)ĵ outro
versor tangencial à trajetória em cada instante. Portanto, t̂, r̂ e ẑ formam um
sistema de versores ortogonais.

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Derivando, encontra-se a velocidade:
d~r(t)
~v (t) = = r0 eαt αr̂(t) + r0 eαt ω t̂
dt
Derivando mais uma vez encontra-se a aceleração:

d~v (t)
~a(t) = = r0 eαt (α2 − ω 2 )r̂(t) + 2r0 eαt ω t̂
dt
(2) Do resultado do ponto anterior, podemos observar que a aceleração tem
componente radial (paralela ao versor r̂) nula quando α2 − ω 2 = 0 ou seja
quando α = ω
(3) Pela definição de momento angular:

~ = ~r × p~ = r0 eαt r̂ × m~v = r0 eαt r̂ × m[r0 eαt αr̂(t) + r0 eαt ω t̂] = mr02 e2αt ẑ
L
pela qual podemos ver que o momento angular tem apenas a componente ẑ com
sentido positivo respeito à orientação dos eixos indicados.
Portanto, em nenhum instante o momento angular será nulo.

2 QUESTÃO 2 - (4 pontos)
Considere os arranjos de dois blocos de massas m1 e m2 (m1 < m2 ) ilustrados
nas figuras abaixo. Os coeficientes de atrito cinético entre cada bloco e o chão
são µ1 e µ2 , respectivamente. A aceleração da gravidade é g. Na Figura 1,
uma força horizontal F = F (x)x̂ atua no bloco m1 e o conjunto se move sem
movimento relativo entre os blocos.

Figure 2: Figura da Questão 1

1. Indique esquematicamente todas as forças atuando em cada bloco da


Figura 1. (0.5 p)
2. Encontre a aceleração do bloco m1 no caso da Figura 1. Dê sua resposta
final em termos de m1 , m2 , µ1 , µ2 , g e F (x). (1 p)
3. Encontre a variação da energia cinética do arranjo da Figura 1 se a posição
do bloco de massa m1 variar de x1 até x2 (x1 > x2 ) e se F (x) = αx, onde
α é uma constante positiva. (1.25 p)

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4. Considere agora que ambos os conjuntos das Figuras 1 e 2 se movam
instantaneamente com a mesma velocidade v e que a potência dissipada
por atrito no arranjo da Figura 2 seja o dobro da do arranjo da Figura 1.
Encontre a razão µµ21 . (1.25 p)

Solução:
a) As figuras abaixo mostram as forças atuando em cada bloco.

b) Aplicando a segunda lei de Newton a cada um dos blocos e usando que os


blocos movem-se com a mesma aceleração horizontal ax

- na direção x: F (x) − F1,2 − fa,1 = m1 ax e F2,1 − fa,2 = m2 ax


- na direção y: N1 = P1 e N2 = P2

F (x)−g(µ1 m1 +µ2 m2 )
⇒ ax = m1 +m2

c) Do teorema trabalho-energia cinética, sabe-se que a variação total da energia


cinética é igual ao trabalho da força resultante F~R sobre o sistema. Esta é dada
por

F~R = (F (x) − g(µ1 m1 + µ2 m2 ))x̂ = (αx − g(µ1 m1 + µ2 m2 ))x̂


Segue que a variação da energia cinética ∆K entre as posições x1 e x2 é
Z x2
∆K = ~ = α (x2 − x2 ) − g(µ1 m1 + µ2 m2 )(x2 − x1 )
F~R · dl 2 2 1
x1

d) A potência total instantânea dissipada pelo atrito é P = f~a,tot · ~v = −fa,tot v,


onde f~a,tot é a força de atrito atuando no sistema. Impondo-se a condição do
enunciado Pf ig,2 = 2Pf ig,1 e usando

fa,tot,f ig,1 = fa,1 + fa,2 = g(µ1 m1 + µ2 m2 )
fa,tot,f ig,2 = gµ1 (m1 + m2 )
obtém-se
µ2 m2 −m1
µ1 (m1 + m2 ) = 2(µ1 m1 + µ2 m2 ) ⇒ µ1 = 2m2 (1)

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3 QUESTÃO 3 (4 pontos)
No espaço sideral, longe da influência gravitacional de qualquer planeta ou es-
trela, dois veı́culos espaciais munidos de foguetes estão acoplados a uma estação
espacial longa de L = 90m de comprimento. O sistema todo encontra-se em
repouso. A massa de um dos veı́culos é m1 = 100 toneladas e a do outro m2
= 250 toneladas. Já massa da estação espacial é me = 100 toneladas e esta
pode ser considerada como um cilindro delgado. Os foguetes são acionados
simultaneamente, de forma que a magnitude da força de reação dos gases de ex-
austão sobre cada veı́culos (i.e., o empuxo) é de 90000 N e pode ser considerada
perpendicular à estação espacial.

Figure 3: Figura da Questão 2

Importante: Quando necessário, faça substituições numéricas apenas nas ex-


pressões analı́ticas finais. Quantidades vetoriais devem ser expressas num sis-
tema de coordenadas com uma base apropriada de versores.

(a) (0.5 ponto) Calcule a posição do centro de massa CM do sistema “veı́culos +


estação espacial” com respeito à posição do centro de massa da estação espacial.
Trate os veı́culos como massas pontuais.
(b) (0.5 ponto) Escreva a equação de movimento para o CM do sistema do ı́tem
(a) num referencial inercial antes e depois do acionamento dos foguetes. Que
movimento descreve o CM após o acionamento?
(c) (1 ponto) Determine o momento de inércia do sistema do ı́tem (a) com
respeito a um eixo passando pelo seu CM e perpendicular ao plano de movimento
dos veı́culos após o acionamento dos foguetes.
(d) (1 ponto) Determine o vetor torque total com respeito ao CM devido ao
empuxo dos foguetes.
(e) (1 ponto) Calcule a magnitude da velocidade angular de rotação do sistema
100 s após o acionamento dos motores.

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Solução:

(a) (0.5 p). Sistema de coordenadas:

No sistema de coordenadas acima, com origem sobre o centro de massa da


estação espacial, o CM do sistema encontra-se sobre o eixo-x, com coordenada

m1 x1 + m2 x2 + me xe (1 × 105 )(−45) + (2.5 × 105 )(45) + (1 × 105 )(0)


xCM = = = 15m
m1 + m2 + me (1 × 105 + 2.5 × 105 + 1 × 105 )

(b) (0.5 p). Com a definição de sistema adotada aqui, os empuxos gerados
pelos foguetes são de natureza interna e, portanto, não podem alterar o estado
de movimento do CM. A equação de movimento do CM num referencial é então:

F~ext = (m1 + m2 + m3 )~aCM = ~0 =⇒ ~aCM = ~0


Como o CM estava em repouso antes do acionamento dos foguetes, ~vCM = ~0
em qualquer instante t.
(c) (1 p). O momento de inercia do sistema com respeito a um eixo passando
pelo CM é:
 
2 2 1 2 2
ICM = I1 + I2 + Ie = m1 r1 + m2 r2 + me L + me d
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onde usou-se o teorema dos eixos paralelos para obter o momento de inércia da
estação espacial, de forma que de é a distância entre o eixo de rotação e um eixo
que passa pelo centro de massa da estação. Logo:

1
ICM = (1 × 105 )(602 ) + (2.5 × 105 )(302 ) + (1 × 105 )(902 ) + (1 × 105 )(152 ) =
12
 
5 2025
= (1 × 10 ) 3600 + 2250 + + 225 = 67.5 × 107 kgm2
3

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(d) (1p). O torque com respeito ao CM (ver figura a seguir com a vista superior
do plano de movimento) é:

~τCM = ~τ1 +~τ2 = ~r1 ×F~1 +~r2 ×F~2 = (30r̂1 )×(9×104 θ̂1 )+(60r̂2 )×(9×104 θ̂2 ) = 81×105 ẑ N m

(e) (1.0p). O vetor aceleração angular do sistema em torno de um eixo pas-


sando pelo CM satisfaz:
τCM
~τCM = ICM α
~ =⇒ α
~= ẑ
ICM

Logo, dado que ω(0) = 0, temos


τCM
ω
~ = ωẑ = tẑ
ICM
de modo que:
81 × 105 6
ω(t = 100s) = (100) = rad/s
67.5 × 107 5

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