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Dani Spadotto
o pesadelo neoliberal
os delinquentes capitalizados nos invadem nos invadem a todo momento ultrapassam e como são educa-
dos em suas camisas brancas engomadas (sqn) e como falam bem em rede rádio televisão (sqn) e como
fazem rodopiar processos numa escalada ascendente rumo à grande nuvem por trás de superfícies e
vales de silicone e couro infinitas equações matemáticas infinitos javascripts geometrias em espessuras
abissais cujas narrativas são apreendidas pelos olhos estrábicos do esquizo apagam os rastros manipulam
eleições grandes ambiências performativas do telejornal ao encontro de artistas estupradores do merca-
do das carnes que cagam mole admitindo a convulsão da vulnerável 217-A 147 173 215 mas como são
educados em suas fraudes brancas engomadas e como falam bem em rede rádio televisão são muito bem
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relacionados contatos enquanto nós gritamos em da barra de rolagem para deixá-la scroll down e
contorções babando a bile para ter o que comer assim tornar-se mais uma obsolescência progra-
mada da grande matrix organizada: produtora
Willian Downer sorria sedutor enquanto anuncia-
de sensações: promotora de estado de espírito:
va o certeiro golpe de direita 2013 leem nossas
organizadora de manifestações online: facilitado-
mensagens clonam nossas camerawebs drones
ra de propagação de abaixo-assinados: compa-
nas matas que pegam fogo em papa-móveis eles
nheira nos elos sentimentais: espectadora dos 15
sabem eu sei está acontecendo e trocarei de rou-
segundos de fama nós pe(s)cadores de precisão
pas até infinito enquanto atentado ao pudor ôni-
montadores delirantes criamos organismos-cracks
bus praça padaria finanças rua metrô de pavuna
monstros engolidores de matérias para instaura-
condomínio azul e seus pequenos clusters disposi-
ção da escura visão tátil aboliremos centenas sé-
tivos de controle pinho sol é o kralho Rafael Braga culos de desenvolvimento não nos igualaremos
somos nós ao Sol faremos justiça à eterna dança da rotação
as telas da psiqui-arquia no box 24/7 quadros por da Terra para assim nos abrirmos ao caos galáxias
segundo da Praça Roosevelt ao facebook da Cro- criadas ao explodirmos nossos órgãos-estrelas
nópolis trabalhando para <div classes> <hidden C://
scores> <recruiting bodies> <offers no reac- start
tions> <targeting audience manager funnel> system and security
marketing ou a oikonomia do invisível: algoritmos disable remote control
performam imagens de: outros corpos que dese- don’t allow connections to this computer
jam: corpos que podem produzir corpos: da dife- enter2
rença na indiferente beleza dos infinitos inframin- A imaginação é uma espécie de negritude
ces espectrovirtuais organizados estrategicamente da razão, seu movimento é indisciplinado ou
no espaço caleidoscópico quase afroguarany ex- selvagem, apagão do raciocínio (já vimos,
cesso de onipresença do deus www.escassezde- com a noção de Deleuze de escuridão-liber-
sentido.net capitalizando os dados navegados dade-potencialidade, como a escuridão atrai
como uma grande heterotopia à espera de um a imaginação desenfreada). Assim, a fotofilia
não-sei-o-quê no meio do oceano opaco da web constitutiva da iluminação, é o encobrimento
As atualizações da vivência virtual ocorrendo à do mundo como fotologia reificada da razão,
taxa de 60Hz dos monitores menos modernos revelando um inconsciente estético-racista e
as tornam hiper-realizadas de experimenta- sustentando toda uma formação política que
ções em representação simbólica de vivências. abomina a negritude (racial) como escuridão
Daí parte da sua hipnose. Outra advém da (civilizacional) e desarranjo (da razão).3
população empregável no registro das admis- Os corpos do delírio, assim como os corpos ne-
sões como entrevistas de emprego, editais, gros, sempre estiveram do lado obscuro do pro-
licitações; e na mais jovem como treino para jeto moderno de poder da Europa Ocidental. A
o ministério do controle do tempo [também violência da colonização sobre nossos saberes es-
conhecido como mercado de trabalho].1 teve (e continua presente) na base da expansão
vida habitada de fetifunção encapsula o indivíduo do pensamento universalista europeu (séculos 16
na árdua tarefa de levar a grande rocha até o topo e 17), coincidindo com a implementação de hos-
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Dani Spadotto. Estudo#1: Atratores. Esquema espaço
[02]
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Dani Spadotto. Estudo#2: Atratores. Esquema de Montagem
[05]
compõem, mas pelo movimento informe de seus çar o corpo, desorganizá-lo; arrancar-lhe a cabeça
elementos formais. Assim como o inconsciente é ou provocar a discórdia violenta dos órgãos, assim
o movimento informe do pensamento no sujeito; como propões Bataille. Ou romper com as funções
como as fragmentações, metamorfoses, justapo- de organização, com o organismo, propondo um
sições, movimentos que visam deformar ou invisi- “corpo-sem-órgãos”, como enfatiza Artaud; tudo
bilizar o sujeito-objeto, como explica Didi-Huber- isso para liberar os fluxos de intensidade e criar
man: “o informe de modo algum qualifica termos novas realidades a partir do imaginado do delírio.
– ‘coisas informes’ enquanto tais – e sim relações:
Ao instaurar opacidade e ruído como moventes
o informe não é nem uma pura e simples negação
do sistema, o que se propõe é mitigar a lingua-
da forma, nem uma pura e simples ausência de
gem ordinária e todos os seus códigos rumo ao
forma”.12 O informe é, assim, a forma e a consci-
esquecimento e devolver ao sujeito da experiência
ência racional, a concepção de corpo e de razão
performativa (ou cotidiana), o princípio incontro-
burguesa, sendo negadas dialeticamente. Destro-
lável do sensível, da sensação e do pensamento
. Fractais:
mance, estabelecendo distâncias entre as cenas.
Correspondem às cenas, dispositivos coreográfi-
Uma vez em que o espect-ator está mergulhado
cos e instalações performativas de Elegia obsce-
nesse espaço instalativo emaranhado, o espaço de
na e, conceitualmente, aos nós da “rede-de-si”,
acreção, ele tem a liberdade para traçar o percur-
e são produtos da performatividade dos atratores
so que desejar, para “navegar” como quiser pe-
ao combinar disparadores e engrenagens. O hu-
los fractais; é como se ele se tornasse parte dessa
mano está fractalizado.
rede, ele literalmente “cai na rede” e integra o
Essa rede-de-si é como uma pele virtual e invisível, corpo do trabalho.
e os poros são os nós dessa rede. Se utilizarmos o
_______ Elementos ativos
princípio holográfico de um buraco negro, a rede-
-de-si corresponde à superfície (x, y) do horizonte ––––––––Opacidade
de eventos em que cada bit de informação nela
A metáfora fundante da filosofia ocidental
contido – que seria um holograma ou nó da rede
como metafísica está na oposição entre escu-
– tem sua partícula gêmea no volume interior (x,
ridão e luz, entendida como oposição entre
y, z) à singularidade desse mesmo buraco negro.
autorrevelação e auto-ocultamento. E Derrida
Nesse raciocínio, cada nó ou holograma da rede-
conclui; “toda a história da nossa filosofia é
-de-si carrega consigo potencial suficiente para
uma fotologia, o nome dado para a história
engendrar um fractal do filme, ou seja, carrega
de, ou o tratado sobre, a luz”.13
uma informação viva do interior da singularida-
de – é como um rastro. Ao ser espacializados, os A escuridão ainda não foi suficientemente domes-
Fractais ampliam a (s)kinesfera do filme-perfor- ticada. Nela, alguns códigos morais e ideológicos
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não vingam. Podemos dormir e imaginar o que, É na escuridão que os limites do corpo se perdem
estando no escuro, nos falta – parte da força des- e se confundem com os limites do espaço, tornan-
sa escuridão e do nosso espanto. As vozes sem do indiscernível dentro e fora, condição que nos
fisionomias, rostos sem gênero ou raça, narrativas priva parcialmente de apreender suas dimensões
pessoais (que hoje são matéria-prima que man- físicas e torna invariável direita e esquerda. O es-
tém o fluxo de capital das corporações neolibe- curo que nos preenche e nos desorienta, intimida
rais) esvaziam-se, e, assim, o sujeito deixa de ser o totalitarismo da visão e induz o corpo a expe-
mais um dispositivo a serviço das instituições de rimentar toda a potência da (s)kinestesia; somos
poder. No escuro, a infinidade de perfis desmonta lançados num espaço insubordinado, sem coor-
nosso raciocínio ocidental; ver faces, como diria denadas ou percepções simbólicas preconcebidas.
Merleau-Ponty, “não me oferece verdades como a Adentrar um espaço desconhecido e em completa
geometria, mas presenças”.14 escuridão nos mobiliza em nossa inteireza; somos
forçados a juntar nossas partes, encontrar nossos
Não há como negar a estranheza na escuridão,
limites, sem o auxílio de qualquer imagem. Trata-
nela um corpo está entre o repouso e o movimen-
-se de um interesse contínuo pelo que está além
to, um labirinto no vazio em que o pensamen-
do que podemos alcançar.
to busca desvendar os caminhos que percorreu
lentamente em suas errâncias. Olhar o escuro
comporta outra gestualidade e, por conseguinte,
outra experiência física e intelectual. No completo
escuro, o desejo de ver é intenso, mesmo que não
haja expectativa de visibilidade; na penumbra, a
quantidade de informação é comparativamente
menor à da mesma cena iluminada, o que denota
a existência de um multiverso que somos incapa-
zes de acessar visualmente; um vazio cheio, por-
tador de ameaçadoras ausências e instabilidades.
Man Ray. Le Minotaure, 1934. Fotografia. wikiart.org Dani Spadotto. cena26 INCORPORAL. vídeo-performance
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Ruído das da grande síntese disjuntiva. [...] é todo
o domínio da inorganização real das sínteses
[...]
passivas, onde em vão procuraríamos algo a
< meta sorriso aberto application spe- que se pudesse chamar o Significante, e que
akable tabindex=“0” c a11y toogle image compõe e decompõe ininterruptamente as
talvez seja isso que sou a parte que divide cadeias de signo que nunca virão a ser signi-
ping back o mundo em clipboards po- ficantes. A única vocação do signo é produzir
pups display em dois em vários esquarte- desejo, e em todos os sentidos.22
jados em vários fragmentos de // mundo
Na forma de fractais, os ruídos permeiam o pensa-
style in position in gois regions desertos
mento e dão ritmo ao tempo; memórias próximas
especulares effects e vc você de que lado
e longínquas, presente real e imaginado, futuro
quer estar? shortcuts […] 21
virtual e casuístico, intuições, o tempo trabalha,
O ruído é como o grito, mais alto do que qual- como diz Didi-Huberman, e o conhecimento se dá
quer discurso, um ruído impensado. Ele exacerba por fulgurações interconectadas, pequenos ruídos
a experiência do excesso e lança o corpo num em rede, os lampejos de novas ideias, que não
estado de turbulência, em que, desnorteado, ele obedecem a operações de encadeamento lógico
vai catando e jogando fragmentos do/no mun- ou unidade formal, mas:
do e colando uns aos outros, criando zonas de
Constrói e desmorona, desagrega-se e se me-
contato, deslocando corpos e fazendo deslocar
tamorfoseia. Desliza, cai e renasce. Enterra-se
o pensamento.
e ressurge. Decompõe-se, recompõe-se: em
Sua heurística de montagem é baseada no fato outro lugar de outra maneira, em tensões
de haver necessidade de criar zonas de não signi- ou em latências, em polaridades ou ambiva-
ficação, visto que o corpo esquizo está tão imerso lências, em tempos musicais ou em contra-
nos excessos (de luz, de estímulos) que a experiên- tempos... […] Ritmos a serem ouvidos nos es-
cia é atormentada pela informação. Descontrolar canções do canto [refiro-me à fala da queixa],
o corpo e as formas, deixar com que os pedaços ritmos a serem vistos na dança do sintoma: o
se juntem indiscriminadamente, sem lhes atribuir “trabalho” que Freud destaca parece de fato
qualquer valor ou significado é uma maneira de construir, em seu desenho, a angulação ópti-
responder ao conjunto estruturado da linguagem ca de três “pontos de vista” sucessivos – uma
que perfura e amarra o corpo às regras sociais, heurística do olhar, portanto –, como se o olho
como dizem Deleuze e Guattari: fosse capaz de “penetrar cada vez mais profun-
[...] É todo um sistema de agulhagens e sor- damente” na temporalidade do inconsciente.23
teios, que formam fenômenos aleatórios par- As frases, como no exemplo do texto inicial ou
cialmente dependentes, parecidos com uma no texto no início deste segmento, não são pon-
cadeia de Markoff. Os registros e as transmis- tuadas, mas picotadas por símbolos matemáticos
sões vindos de códigos internos, do meio exte- provenientes da linguagem html, e sua ação per-
rior, de uma região do organismo para outra, formativa (como diria Austin) enfatiza as ativida-
cruzam-se pelas vias perpetuamente ramifica- des da algo.ritmia maquínica das páginas web
(localização das palavras, tamanho, tipo e cor das styleshit // s0.wp.com/_static/?? -ejacula-
letras, tamanho das imagens, movimentos). Por tion-sic-pelas-oh!!!25
sua vez, palavras se repetem, outras viram pala-
Descaracterizar o objeto da linguagem e com isso
vras-valise que desdobram a semântica do texto
exacerbar a abertura à interpretação. Aumentar a
e mantêm não apenas a aparência caótica das di-
capacidade de aleatoriedade é atividade funda-
versas vozes, mas geram ambiguidade entre elas,
mental do ruído. No exemplo acima, as palavras
de modo a borrar os limites entre fatos e fanta-
performam o espaço digital encadeando equa-
sias. O que interessa aqui é menos fixar uma in-
ções geométricas num texto corrido, e quando se
formação do que deixá-la atravessar num fluxo à
trata do espaço físico a intenção é equivalente.
medida que o texto caminha para o fim, ou seja,
Enquanto com a opacidade a desorientação ad-
um aglomerado de palavras cujo sentido é o de
vém da perda da noção espacial porque as volu-
ser corpos em movimento que colocam corpos
minosidades dos corpos e as coisas são obliteradas
em movimento, propriedade comum aos fluxos
pela falta de luz, com o ruído ocorre exatamente o
informacionais da contemporaneidade: “as pala-
contrário, a desorientação atinge sua capacidade
vras surgem ao mesmo tempo que as imagens, as
máxima com o excesso de luz que toca sempre
noções surgem ao mesmo tempo que os exem-
algo (material ou imaterial – por exemplo, um
plos (que, em geral, também são excessões)”.24
vaso, uma bicicleta ou uma memória, um pensa-
css1108 1.7:454:792 jquery zoom mento) entre o sujeito e aquilo que o olhar ou
no processamento padding left page o corpo desejam alcançar, são como obstáculos.
wrapper footer div not found flagmask Por conseguinte, experimenta-se a desordem la-
typo:} pingback alternate application/ biríntica, em que a apreensão de fragmentos (do
rss+xml function addload event so many espaço, do pensamento, de outro corpo) impede
events he loves events onload events a apreensão do todo, rompendo, assim, com a
events events e vento window=else ordem e o cálculo presentes na ideia de horizon-
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te e perspectiva linear desenvolvidas na moderni- Pontificia Universidad Javerina/Instituto Pensar,
dade, e, como consequência, com o controle e a 2007: 14.
manipulação.
5 Idem, ibidem: 16.
Desse modo o ruído opera a destituição da ca-
6 O Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C) foi
pacidade de apreensão totalizante do sujeito. O constituído no final dos anos 90 por intelectuais
olhar de sobrevoo do panóptico ou do mapa é latino-americanos, acadêmicos em diversas
conduzido a ceder lugar à experiência do cor- universidades da América. É considerado por Arthuro
po a corpo que traça uma cartografia singular Escobar um “programa de investigação” que tem
e de afeto, a linha do horizonte é abolida para como princípio esgarçar a crítica ao pensamento
dar espaço à experiência do chão. A experiên- moderno/colonial. O M/C foi-se estruturando em
cia espacial tende a resultar da somatória de torno de diversos seminários e congressos, que
perspectivas, ou perspectivas em que o corpo é deram origem a importantes publicações, tais como
incapaz de ser o centro das projeções, ou, quan- Grosfoguel, Castro-Gomez, op. cit.
do o é, ele também se encontra fragmentado;
7 Didi-Huberman, George. A semelhança informe:
o espaço não é maior do que ele, o espaço é,
ou o gaio saber visual segundo George Bataille. Rio
com ele, a sua medida. O ambiente produzido
de Janeiro: Contraponto, 2015: 216.
não possui ancoradouro ou ponto de referência,
apenas fulgurações de elementos heterogêneos 8 Massumi, Brian. Parables for the virtual: movement,
deformando novos corpos em espaços utópicos affect, sensation. London: Duke University Press,
e imaginários. 2002: 127-128.
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