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PSICOEDUCAÇÃO – TAG

O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um transtorno crônico


de ansiedade no qual preocupação e ansiedade excessivas estão presentes na
maioria dos dias e em diversos eventos ou atividades, considerando-se os
últimos seis meses. Estas estão associadas a pelo menos três dos seguintes
sintomas: inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele,
fadiga ou cansaço excessivo, dificuldade em se concentrar ou sensações de
“branco” na mente, irritabilidade, tensão muscular e alterações do sono (APA,
2013).
Embora seu conteúdo possa variar, as preocupações associadas ao
TAG tendem a ser excessivas, crônicas, amplas e penetrantes, podendo incluir
diversos campos, tais como: relações interpessoais, saúde física, escola,
trabalho, finanças, questões mundiais e/ou questões menores (p. ex.:
compromissos diários com a casa ou com os filhos) e até mesmo a
preocupação por estar preocupado. A ansiedade exagerada pode levar a
tremores, contrações, dores musculares, nervosismo ou irritabilidade. Muitos
indivíduos também experimentam sintomas como: sudorese, náusea,
alterações intestinais e uma resposta de sobressalto exagerada. A ansiedade,
a preocupação e os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente
significativo e prejuízo no funcionamento geral da pessoa.
A preocupação excessiva prejudica a capacidade do indivíduo de fazer
as coisas de forma eficiente, seja em casa, no trabalho ou em qualquer outra
área da vida. Ela toma tempo e energia, e os sintomas associados contribuem
para o prejuízo funcional. Dessa maneira, quanto mais a pessoa se preocupa e
apresenta perdas pela preocupação em excesso, mais provavelmente os
sintomas estão relacionados ao TAG
As pessoas acometidas pelo TAG, por se sentirem ansiosos ou
preocupados em excesso, dificilmente procuram ajuda (Coutinho, 2011). Elas
tendem a crer que ser ansioso faz parte de sua personalidade e, com isso,
buscar auxílio profissional não ajudará a resolver seus problemas. De fato, a
ansiedade é intrínseca à condição humana e até certo ponto pode ser
considerada saudável, pois, assim como qualquer outro sentimento, faz parte
do repertório de reações dos seres humanos por meio de um processo
evolutivo,
de natureza adaptativa. No caso da ansiedade, o problema não está em se
sentir ansioso, como pode parecer à primeira vista. O problema é quando há
dificuldade de reconhecer a ansiedade, aceita-la, tirar proveito dela quando
possível e, também, continuar a funcionar apesar dela. Por exemplo, sentir
ansiedade quando a data de uma importante prova se aproxima pode ajudar o
indivíduo a se organizar e estudar para o exame. Assim como se tornar ansioso
por estar sozinho numa rua deserta durante a madrugada pode fazê-lo ficar
mais atento e andar mais rápido. A ansiedade começa a se tornar disfuncional
quando o indivíduo passa a subestimar a sua capacidade de enfrentamento e
segurança, e a supervalorizar a probabilidade e gravidade da possível ameaça
ocorrer, levando-o, frequentemente, à evitação de certas situações.
Por comumente sentirem-se extremamente desanimados com a duração
de seus problemas, a evolução do quadro pode levar ao diagnóstico de
depressão, sendo este o transtorno com maior índice de ocorrência simultânea
com o TAG. E fato que a ansiedade crônica, excessiva e incontrolável é um
transtorno psicológico e quanto mais cedo for tratada melhor.
Logo, se você tem o diagnóstico de TAG ou se identificou com o que foi
descrito anteriormente, o que você precisa saber é que, na maioria das vezes,
suas preocupações têm intensidade, duração e frequência desproporcionais à
probabilidade real de ocorrer o evento temido. Ou você pode estar tão
acostumado a se preocupar que está colocando o foco de sua atenção em
situações ou imagens emocionalmente negativas, o que pode deixá-lo aflito
mesmo sem que haja um motivo real para tal. Além disso, você também pode
estar subestimando a sua capacidade de lidar com situações problemáticas,
sem conseguir dormir nem expulsar os pensamentos negativos da sua cabeça.
De qualquer forma, todas essas possibilidades geram sofrimento e declínio na
qualidade de vida. A boa notícia é que esses problemas têm tratamento e o
índice de eficácia terapêutica é promissor

A forma de você pensar afeta o modo ou a maneira como você se sente.


Muitas vezes a experiência intensa e incontrolável da ansiedade faz com que o
indivíduo não seja capaz de reconhecer que seus pensamentos ajudam a
manter as emoções. Os pensamentos tem uma função de mediador entre as
situações e os sentimentos(emoções). Para muitas pessoas o que influencia na
mudança de humor é a situação, mas a TCC entende que a forma com que
você interpreta, pensa a partir de uma determinada situação é o que influencia.
Um exemplo disso é que diante uma situação, outras pessoas podem pensar
de formas
diferentes e

consequentemente sentir e agir de forma diferente também.

Podemos perceber com o exemplo que pensamentos com significados


positivos sobre manter-se preocupada ajudam a pessoa a manter um círculo
vicioso de pensamentos negativos e sensações de ansiedade e angústia. Isto
é, essas formas de pensar acabam servindo como justificativa para manter-se
preocupado, e são comumente vistas em pessoas com TAG. Os indivíduos
com TAG também costumam ter dificuldade em tolerar incertezas e, com isso,
pensam que devem controlar ao máximo as situações, o que os fazem buscar
por segurança grande parte do tempo. Muitas vezes, por não se sentirem
totalmente seguros, esses indivíduos deixam de agir em situações importantes
da vida. Nós sabemos que não temos como prever ou controlar o que ainda
não aconteceu, e a busca incessante e infrutífera por certezas absolutas
relacionadas ao futuro acaba por gerar mais angústia e ansiedade, o que leva a
comportamentos de evitação em situações nas quais o esperado seria agir,
mesmo sem total garantia do resultado.
Agora que você já entendeu que não são as situações que geram
ansiedade, e sim como você interpreta as situações, talvez você possa
começar a buscar alternativas mais realistas para encarar as situações da
vida diária. Algumas perguntas que o ajudam são: que evidências eu tenho
que apoiam o meu pensamento? Quais vão contra? O que eu diria a um
amigo que estivesse passando pela mesma situação? O que um amigo
sensato me diria? É possível que depois de responder a essas perguntas
você reavalie sua forma de pensar e, consequentemente, de sentir e se
comportar.

Agora que você já entendeu que seus pensamentos servem de


mediadores entre as situações e suas reações e, mais especificamente, que
avaliações ansiogênicas provocam reações igualmente ansiosas, vamos falar
sobre a manutenção do transtorno, que se dá, na maior parte do tempo, pelos
ciclos viciosos que os indivíduos com TAG vivenciam.
Na maior parte do tempo, os indivíduos com TAG estão se preocupando
com possíveis consequências negativas e formas de evitar o pior. Por
acreditarem que se devem prevenir, esses indivíduos têm um foco atencional
para a ameaça e são capazes de detectar perigo em situações neutras. Em
seguida, começam a pensar nesse perigo de forma catastrófica e tentam, de
todas as maneiras, controlar a situação e evitar o pior. Como isso não é
possível, optam por evitar ou fugir da situação temida. Contudo, o que eles não
entendem é que evitar ou fugir acaba por mantê-los no ciclo vicioso

O fato de o pior não acontecer efetivamente faz a pessoa crer que se manter
preocupada está ajudando e que isso é bom, ou que se manter preocupada é
sinal de cuidado consigo própria. Então você deve estar se perguntando: “e se
o pior realmente acontecer?”, é bem provável que nessa situação a pessoa
pense que não se preocupou e não ficou alerta o suficiente, e isso a fará se
preocupar e se manter ainda mais hipervigilante do que era anteriormente
Além da vulnerabilidade biológica à ansiedade, um fator
psicológico importante na influência da patologia é a forma de
interpretar cada experiência da infância. Sabemos que, desde
o começo da infância, nossas interpretações podem contribuir
com o desenvolvimento de formas de pensar negativas, tais
como: 'sou vulnerável e frágil”, “eu preciso me manter sempre
no controle” e “o mundo é perigoso”. Acreditar nessas verdades leva o
indivíduo a criar regras do tipo
“quando eu tenho o total controle
da situação, me sinto forte e capaz
de lidar

com o mundo”, “se eu não tenho o controle, então sou fraco e estou
vulnerável”. Ocorre que todas as vezes em que ele não se sente totalmente no
controle se sente fraco e reforça a ideia de que é vulnerável, o que acaba por
manter uma visão negativa de si.

O tratamento psicoterápico mais indicado para o TAG é a Terapia


Cognitivo-Comportamental (TCC), com eficácia comprovada em diversos
estudos pelo mundo. Além disso, é importante entender, a partir de sua história
de vida, como suas idéias negativas foram formadas e quais regras ou
pressupostos estão influenciando seus comportamentos e mantendo o TAG
para que, em seguida, você possa ser apresentado a uma variedade de
possibilidades para lidar com o transtorno de forma adaptativa e com menos
sofrimento
No geral, o foco do tratamento é a preocupação (expectativa
apreensiva), a ansiedade excessiva, além de questões interpessoais e afetivas
relacionadas ao transtorno. Você deve começar a monitorar as suas
preocupações e categorizá-las como relacionadas a uma situação real ou
hipotética. Como se sabe, os indivíduos com TAG são especialistas em
descobrir possíveis problemas, mas possuem dificuldade de gerar soluções
eficazes ou respostas de enfrentamento. Para lidar com problemas reais, é
importante aprender a técnica de resolução de problemas. Com o uso dessa
técnica, você aprenderá a: (I) identificar e especificar o problema real; (II)
gerar soluções possíveis; (III) avaliar as consequências de cada solução;
(IV) escolher e colocar em prática; (V) avaliar os resultados obtidos e (VI)
quando necessário, promover modificações e colocá-las em prática
novamente.
O tratamento também irá encorajá-lo a enfrentar as incertezas, como
estratégia mais adequada para ajudá-lo a pensar em outras formas de agir nas
situações em que você não tem garantia de como será o resultado final (Dugas
& Robichaud, 2009). Ou seja, você aprenderá a lidar com situações nas quais o
desfecho final é incerto.
A estratégia para lidar com a incerteza é: (I) registre as situações que você
considera de futuro incerto para fazer o experimento, assim você poderá
acompanharsua evolução. Comece pelas situações mais simples e seja
realista, até porque, quanto mais experiências bem-sucedidas, maior a
motivação de continuar; (II) tenha em mente que enfrentar as situações
incertas o ajudará a rever seus pensamentos catastróficos. Você
aprenderá a diferença entre resultado catastrófico, resultado ideal e
resultado possível. Esse exercício ajudará você a se tornar mais confiante
em seguir suas escolhas e entender que, em grande parte das vezes, você
executará

tarefas mesmo sem que tenha minimizado todos os riscos. Não desista
por isso; (III) enfrente as situações, espere ficar ansioso e desconfortável.
Ficar um pouco ansioso quando vai se expor é natural. Lembre-se de que
a motivação não precede à ação, segue-a. Logo, não “espere” pela
motivação para começar a tolerar a incerteza, simplesmente comece
encarando a incerteza e a
motivação virá.
Se você tem como hábito
focar a atenção sobre potenciais
catástrofes, está sempre pensando
no pior e se preocupando com algo, isso prejudica você a manter a atenção de
sua consciência no momento presente. Experimentar a prática, mesmo que
informalmente, de mindfulness (que significa manter a atenção no momento
presente, sem qualquer tipo de julgamento) pode ajudá-lo a aprender a estar
totalmente “presente” na atividade em si, ou seja, o foco de sua atenção sendo
aquilo que você está fazendo agora, e não a preocupação e a ameaça
orientada para o futuro. Mindfulness tem origem em práticas orientais de
meditação e é descrita como uma forma de manter a atenção no momento
presente, sem qualquer tipo de julgamento, com o intuito de aumentar a
consciência nas próprias experiências. Para começar a praticar mindfulness,
esteja consciente do que você está fazendo no momento presente e, toda vez
que seus pensamentos se desconectarem, retorne ao seu foco sem
julgamentos ou crítica
É comum pessoas com TAG acreditarem que nunca conseguirão relaxar
e ter a mente livre de preocupações, pois desde que conseguem se lembrar
estão com pensamentos negativos direcionados à saúde, segurança física e/ou
financeira, problemas nos relacionamentos, ou mesmo no fato de não
conseguirem parar de pensar em diversos problemas ao mesmo tempo.
Porém, sabemos que as pessoas com TAG podem se livrar da ansiedade e
preocupação disfuncionais, afinal elas são mantidas pelo hábito, pois sua
mente aprendeu a pensar dessa forma, e para superá-lo, você precisa ensinar
a sua mente outras maneiras de pensar. O tratamento do TAG ajudará você a
relaxar a sua mente, examinando as vantagens e desvantagens de se manter
preocupado, e entendendo que pensamentos não são verdades absolutas e
questioná-los é fundamental. E possível que você fique entediado e quando
esse momento acabar, em seguida, você se permita viver com plenitude o
momento presente, sendo mais leve e feliz.

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