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Resumo
O texto pretende tecer algumas considerações sobre a inserção da mulher administradora no
mercado de trabalho, sua qualificação, estilo de liderança e remuneração, comparativamente a
seus pares, egressos da mesma instituição de ensino. Os dados numéricos mostram que tem
havido uma evolução quanto à aceitação feminina nos postos de comando mas as resistências
ainda se fazem presentes e a consolidação de algumas conquistas bem como a eqüidade de
inserção profissional, é um processo que demanda muito esforço e amadurecimento da
sociedade.
INTRODUÇÃO
Após breve introdução ao tema, o texto apresenta alguns dados de pesquisa sobre ex-alunos
de uma Instituição de Ensino em Administração buscando-se estabelecer comparações entre
homens e mulheres quanto à formação acadêmica, questão salarial e estilos de liderança. À
guisa de conclusão, será apresentada breve crítica sobre a não eqüidade de inserção da mulher
no mercado de trabalho.
“Transgressão Feminina?
“Acerca da virtude das mulheres, Cleia, não temos a mesma opinião que Tucídides. Ele
afirma, com efeito, que a melhor das mulheres é aquela de quem as pessoas de fora menos
falam, quer digam mal, quer digam bem. Ele pensa que o corpo, assim como a fama, de uma
mulher de bem devem ficar encerrados, sem nunca sair. Mas Górgias parece dar-nos provas
de mais sutileza quando defende que u’a mulher deve ser conhecida não pela sua aparência,
mas pela sua fama. Considero excelente a lei romana que concede, publicamente, tanto aos
homens como às mulheres, os elogios fúnebres adequados. (...) O objetivo deste diálogo é
provar que existe apenas uma única virtude, tanto para as mulheres como para os homens”.
(Plutarco, Moralia:242).
Pauline S. Pantel, em relação ao texto acima, diz que Plutarco ( séc.II d.C.), em seu ensaio
sobre as “Virtudes das Mulheres’ (Gunaikôn Aretai), pretende apresentar homens e mulheres
em pé de igualdade, porém, não cumpre as suas promessas. “Contenta-se em salvar do
esquecimento, uma ação, um fato, considerado como a ilustração brilhante da arete (que, em
grego, significa “valor”, mais do que “virtude”) feminina. (...) Pela pena de Plutarco, Péricles
e Fábio Máximo nascem, cobrem-se de glória, acedem ao poder, morrem, mas Aretáfila de
Cirene, depois de ter libertado a cidade de dois tiranos, um após outro, regressa ao gineceu, e
passa o resto de seus dias a fazer trabalhos de agulha; do mesmo modo, as Troianas queimam
os barcos na foz do Tibre para acabar com a vida errante do seu povo, cobrindo em seguida os
esposos de beijos para que estes lhes perdoem uma tal ousadia”. (Pantel, 1990: 19-20).
1
Na Odisséia, segundo Boaventura Souza Santos, “A doméstica Penélope toma conta da casa
enquanto Ulisses viaja. A longa espera de Penélope é a metáfora da solidez do ponto de
partida e de chegada que garante a possibilidade e a aleatoridade de todas as peripécias por
que passa o viajante Ulisses. (...) a casa é o lugar da mulher [e esta] não viaja para que a
viagem seja possível. Aliás, esta divisão sexual do trabalho no motivo da viagem é um dos
topoi mais resistentes da cultura ocidental...”. (Santos, 1997:109).
De que maneira a cultura contemporânea ocidental estaria lidando com a ‘transgressão’ das
Aretáfilas que não voltam ao gineceu, e das Penélopes que não se contentam apenas com a
‘casa’, lugar que a sociedade lhes destinou?
Tomamos emprestado de DaMatta a expressão ‘transgressão’ quando ele afirma que é “na
transgressão que concebemos a mudança e a transformação radical”. (1991:137). Ainda
segundo o autor, a transformação, a reforma ou a revolução, ocorrem, via-de-regra, no
mundo público; na casa, raramente ocorrem tais movimentos transformadores, pois ela
caracteriza-se como o “local onde o tempo não passa e a história raramente bate à
porta”.(idem:114).
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conflito se aproxima do fim. É a preparação para a volta das mulheres ao lar. Além da questão
da masculinização, há o desvio, para o plano sexual, do debate sobre o poder político e social
da nova mulher. “Acusaram-na, em primeiro lugar, de desvio uterino, comparando-a em
seguida, nomeadamente a partir dos trabalhos do psiquiatra alemão Krafft-Ebing, a uma
lésbica viril, a uma mulher-homem perigosa e desavergonhada, com um desvio congênito
para o aspecto e o psiquismo masculinos”. (idem:44).
Trabalhos como enfermeira, senhora de caridade ou madrinha de guerra são considerados,
pela imprensa e a literatura, como dignos para as mulheres.
“Simbolicamente, a guerra revivifica os mitos da mulher salvadora e consoladora, mais do
que comprova as capacidades femininas”.(idem:46).
A tradição continua a ter o seu peso, que se expressa na dificuldade de superar antigos papéis
profissionais masculinos e femininos. Se o diploma de enfermeira é conveniente para as
jovens das classes médias, permanece, no entanto, a subordinação destas ao corpo médico,
masculino. “O ferimento para os médicos, o ferido para as enfermeiras”, diz um médico
francês (Thébaud:55).
Com o armistício, em 1918, as mulheres são forçadas a regressar aos lares, rotuladas, que
foram, de oportunistas e incapazes, e a deixar aos homens os postos de trabalho, até mesmo os
de escritório que, antes desvalorizados pelos homens, são agora deixados aos mutilados.
Se a guerra foi ou não um momento emancipador para a mulher, é um assunto polêmico;
porém, é inegável que a guerra constituiu-se em experiências significativas, de liberdade e de
responsabilidade, e mostrou que a mulher era capaz de manusear instrumentos e técnicas que
desconhecia, destruindo as barreiras entre trabalhos masculinos e femininos.
Com a guerra, algumas sementes foram plantadas para o acesso da mulher ao mundo do
trabalho. No pós-guerra, abrem-se empregos no setor terciário - comércio, bancos e serviços
públicos e nas profissões liberais. Em 1919, abrem-se cursos que permitem à mulher o acesso
à universidade. “A par do receio do celibato e dos revezes da fortuna nas classes médias, esta
feminização do terciário permite às jovens da burguesia exercer uma profissão e obter um
relativo direito ao trabalho. Neste aspecto, muitas vezes conscientes de não se assemelharem
às suas mães, são elas as primeiras a ganhar com a guerra”. (Thébaud, 1991:82).
Por desafio ou por necessidade, as mulheres entraram no mundo público, enfrentando tarefas
antes restritas aos homens.
Mulher na Organização
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DADOS DE PESQUISA
Pesquisa recente, por nós realizada, com ex-alunos/as de uma Instituição de Ensino em
Administração na cidade de São Paulo, mostra que a desigualdade sexual nas organizações é
um fato que ainda persiste em nossa sociedade, independentemente da qualificação
profissional da mulher.
Segundo a Fundação SEADE, em seu informativo de janeiro de 1998, baseado nos dados da
Organização Internacional do Trabalho, mais de 45% da população feminina mundial (entre
15 e 64 anos) é hoje economicamente ativa.
Ainda segundo a mesma fonte, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho da
Região Metropolitana de São Paulo, em 1986, foi de 46,6%. Em 1996, foi de 50,2%, e passou
para 50,5% em 1997, demonstrando que sua trajetória continua em expansão. Se
considerarmos a inserção, de homens e mulheres, com terceiro grau completo nos anos de
1996 e 1997, ainda na Região Metropolitana de São Paulo, temos os seguintes dados: em
1996, inserção feminina – 80,7%; em 1997, 81,4%. Inserção masculina em 1996 – 92,7%; em
1997 – 92,8%.
É sobre a população com 3º grau completo, com formação em Administração de Empresas
que se volta o foco deste texto.
Foi feito um mapeamento social dos ex-alunos, por amostragem, desde sua primeira turma de
formandos, em 1958, até 1995 através de um questionário misto, com questões fechadas,
semi-abertas e opinativas delineando, entre outras informações, as formas de inserção no
mercado, as avaliações sobre o próprio trabalho, feitas por homens e mulheres, e a avaliação
do trabalho feminino.
Por se tratar de uma população privilegiada, podemos descartar as variáveis sociais,
econômicas e de formação intelectual, como significativas para as possíveis diferenças ou
dificuldades que possam se apresentar nas formas de inserção no mercado de trabalho, para a
amostra escolhida neste estudo. Isto permite caracterizar como sendo de ordem cultural as
possíveis distinções que se fizerem sobre o universo masculino e o feminino em questão.
Evolução da Amostra
Iniciemos por situar a amostra - dividida em três grupos - em sua evolução histórica em
relação à instituição. Dos dados de que dispomos vemos que, do primeiro grupo de alunos
formados na graduação, isto é, de 1958 a 1979, 17.5% dos formandos eram mulheres e
82.5%, homens.
Entre os anos de 1980 e 1989, 28.1% eram mulheres e 71.9%, homens. Para o período
compreendido entre 1990 e 1995, 38.9% eram mulheres contra 61.1% de homens. A primeira
mulher a se formar, data de 1966.
Há, então, um aumento crescente do número de mulheres ao longo dos tempos; aumento que
ultrapassa o dobro, historicamente falando, conforme mostra o gráfico abaixo.
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Porcentagem de Homens e Mulheres formados entre
1979 e 1995
Feminino
90% 82,5% Masculino
80% 71,9%
70%
60% 61,1%
50%
40%
30% 38,9%
20% 28,1%
10% 17,5%
0%
Até 1979 1980 a 1989 1990 a 1995
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Formação Acadêmica da Amostra
Além do curso de graduação em administração, o conhecimento de, pelo menos, uma
língua estrangeira é uma constante, tanto entre homens quanto entre mulheres. As
mulheres têm ligeira vantagem em relação ao conhecimento de línguas. 47.6% das
mulheres lê, fala e escreve uma língua estrangeira, contra 46.4% dos homens. 35.8%
das mulheres conhece duas línguas estrangeiras, contra 27.6% dos homens. Apenas
2.4% das mulheres não têm perfeito conhecimento de uma língua estrangeira, contra
17.4% dos homens. 11.9% das mulheres, conhece 3 línguas, contra 4.3% dos homens.
A porcentagem restante está distribuída entre pessoas que conhecem 4 e até 5
línguas. No cômputo geral, a vantagem feminina é significativa.
O interesse pela pós-graduação está expresso da seguinte forma: 32,6% das mulheres têm
pós-gradução, contra 21,1% dos homens. Quanto ao desejo de especializar-se há uma
busca maior de pós-graduação profissionalizante entre as ex-alunas e uma leve
tendência à busca de cursos de mestrado stricto-sensu entre os ex-alunos. Em
porcentagens temos: 64,5% das ex-alunas fizeram o Curso de Especialização em
Administração para Graduados (CEAG), contra 40,1% dos ex-alunos. Estes, tendem a
buscar mais especialização acadêmica (mestrado), comparativamente às mulheres.
46,7% dos homens, contra 28,4% das mulheres fizeram esta opção. São os que se
encontram em uma faixa etária mais jovem que têm sentido mais necessidade de
prosseguir com os estudos após a graduação.
A Questão Salarial
Observações: Para a análise da questão salarial, foram estabelecidas 15 diferentes faixas
salariais e utilizadas no questionário que foi distribuído aos ex-alunos/as. Os dados para o
estabelecimento dessas faixas foram extraídos de pesquisa feita pela Coopers & Lybrand, que
estabelece limites mínimos, médios e máximos, para diferentes cargos hierárquico-
administrativos, após pesquisa em 50 empresas no Estado de São Paulo. Neste estudo foi
considerada a faixa média para cada intervalo. A compressão das 15 faixas, para efeitos da
coleta de dados, em 5 faixas para análise, foi para evitar excessiva dispersão de dados nas
relações cruzadas e são, em reais, as seguintes:
1 - de 960 a 2.995; 2 - de 2996 a 4900; 3 - de 4.901 a 9000; 4 - de 9001 a 13000; 5 - 13001
em diante;
Vamos nos ater ao vínculo “assalariado” para as análises que se seguem.
Considerando-se a totalidade da amostra – 114 respondentes, obtivemos como média dos
salários das mulheres o valor de R$ 3.570,00 e a dos homens, de R$ 7.561,00. Uma diferença
de mais de 50%.
Foi calculada a média de cada faixa e multiplicada pelo número de pessoas da faixa
para achar o salário médio de cada faixa.
Para a elaboração das tabelas das médias salariais, as faixas salariais foram
descomprimidas e foram mantidos os 15 intervalos originais, ou seja, os que
constavam do questionário enviado.
Retornando à questão da posição hierárquica ocupada por homens e mulheres, temos os
seguintes dados:
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O terceiro escalão é o predominante para homens e mulheres, com 40,5% e 51,9%
respectivamente. Não há mulheres no primeiro escalão dessa amostra. Em relação aos
homens, 16,7% estão no primeiro escalão. Convém relembrar que estes dados dizem respeito
apenas aos assalariados, excluídos os dados relativos aos outros tipos de vínculos, qual
sejam, empreendedores e herdeiros, cuja natureza de inserção no mercado é de outra ordem.
Ainda em relação ao vínculo assalariado, cruzado com tempo de trabalho, salário e sexo,
temos os seguintes dados:
Salário
Tempo de Trabalho
Obs.: No caso Feminino foi excluída uma observação que distorcia a amostra
Não há mulheres com tempo superior a 24 anos de trabalho.
Ainda segundo dados da Fundação SEADE, as mulheres exercendo função de direção e
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planejamento recebiam, em 1996, remuneração média de 1.555,00 reais. Só 5% das mais
ricas ganharam, em 1996, acima de 1964,00 reais. Os ganhos masculinos foram de 2.519,00,
para funções similares. A diferença de ganhos vem se mantendo desde o final dos anos 80.
Ainda segundo a Fundação SEADE, num recorte por grupos de ocupação, o rendimento
médio anual, na RMSP, das mulheres Empresárias, ocupando nível de Direção e Gerência, é
de 1.613,00 reais.
Sintetizando, a média dos ganhos para a totalidade desta amostra é de R$ 7.560,56 para os
homens e R$ 3.569,77 para as mulheres. A média dos ganhos dos assalariados, excluindo-se
empreendedores e herdeiros é de R$ 6.697,99 para os homens e R$ 3.519,73 para as
mulheres.
Em relação aos ganhos da população como um todo, tem-se que reconhecer que os ex-alunos
da Instituição de Ensino analisada, tanto homens quanto mulheres, estão com salários bastante
expressivos; porém, também é inegável a não eqüidade de tratamento para homens e
mulheres.
Leite (1998), em pesquisa realizada com uma amostra de formandos do ano acadêmico de
1982 da mesma Instituição de Ensino, registra, entre outros dados, as médias salariais atuais
desses ex-alunos. A média de remuneração em nível de gerência é de R$ 6.500,00 para as
mulheres, e de R$ 10.092,00, para os homens. A diferença é, pois, de 55,26%. Considerando-
se o nível de diretoria, excluído os empreendedores, a média de salário das mulheres é de R$
16.467,00, e de R$ 24.614,00, para os homens, com desnível de 49,47%.
Mesmo se tratando de uma população privilegiada, quer seja no início de carreira, quer seja
com tempo significativo de inserção no mercado, persiste o desnível salarial entre homens e
mulheres. Outro dado significativo é a não existência de mulheres no primeiro escalão das
empresas, quando o vínculo é o de assalariada.
Os comentários foram separados por sexo, ou seja, o que homens pensam das mulheres na
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organização e o que as mulheres pensam da mulher na organização.
A par algumas poucas respostas afirmando não haver diferenças significativas, a grande
maioria dos respondentes homens, acha que as mulheres lidam com as pessoas e com as
questões do dia-a-dia, com mais sensibilidade e que o lado emocional é mais rico. Que
mulheres são mais criativas e têm percepção mais aprimorada, são mais intuitivas e
identificam sentimentos das pessoas e questões ligadas a mercado com mais intensidade.
Dedicadas, responsáveis e determinadas e mais fiéis a padrões éticos e morais.
Quando mulheres opinam sobre mulheres, não aparece o sentimento de que não há diferenças,
ao contrário, as diferenças percebidas são, grosso-modo, praticamente as mesmas reportadas
pelos homens, ou seja, são apontadas como sendo: intuitivas, sensíveis, criativas, detalhistas,
flexíveis, disciplinadas, com maior senso de justiça, organizadas, com percepção mais
acurada em relação às pessoas e aos negócios, mais pacientes e com mais garra.
Se, as afirmações acima parecem muito positivas, quando se aborda a questão da liderança
vemos que o impacto que elas causam não é tão favorável; mesmo afirmando que mulheres no
comando são mais sensíveis aos problemas humanos, mais compreensivas e propensas à
conciliação e mais dispostas a parcerias, os homens ainda afirmam que mulheres têm mais
dificuldade de se imporem, precisam justificarem-se e explicarem-se aos seus subordinados;
que a herança cultural - “mulher tem que ficar em casa”- ainda está presente. Afirmam,
ainda, que o preconceito e o machismo ainda existem.
O machismo ainda está presente nas relações homem/mulher, independentemente das
condições sociais, econômicas e culturais e é um fato de nossa sociedade.
A avaliação que mulheres fazem das outras mulheres ocupando posição de mando, não difere
das avaliações masculinas. Afirmam que: mulheres são mais transparentes e preocupadas
com resultados finais, têm mais espírito de grupo; são mais preocupadas com o emocional do
grupo; lideram pelo consenso, ao passo que homens o fazem pela autoridade. Na avaliação
feminina, homens têm mais dificuldade de trabalhar em equipe, desafiam mais a autoridade,
buscam trabalho que proporcione brilho e destaque individuais e têm dificuldade em aceitar a
autoridade feminina.
“Suavidade no poder, intuição e cabeça no time. O jeito feminino de administrar está em
alta”, diz o subtítulo de artigo na Revista Exame, de julho de 1997. Discorrendo sobre
depoimentos de importantes autores e autoras e entrevistando executivas brasileiras, a
articulista Maria Tereza Gomes, deixa entrever um futuro menos difícil para o ingresso da
mulher em cargos de poder nas organizações, mas, também, alerta para o fato de que os
valores femininos ainda não estão consolidados na cultura empresarial.
Este jeito “outro”, diferente de ser, poderia, se, integrado ao modelo mais tradicional de
liderar, criar valor para as organizações, gerando melhores resultados, diz o artigo.
O que vemos, porém, é que barreiras, para a ascensão das mulheres nas organizações, ainda
existem. Se formação e preparo são relevantes para a ascensão, vemos que as mulheres têm
preenchido estes requisitos. Quanto ao desempenho profissional, esta amostra considera a
mulher apta a exercer cargos de responsabilidade. Retomando, então, a comparação entre os
ex-alunos/as: formação básica semelhante, ligeira vantagem feminina na escolha de
especialização profissionalizante, vantagem sensível quanto ao conhecimento de línguas
estrangeiras, busca e empenho pela carreira, igualmente fortes, podemos concluir que o
diferencial não está na capacitação profissional. É importante destacar que a dificuldade da
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mulher não está no ingresso nas organizações mas na progressão de carreira para atingir o
primeiro e segundo escalões.
Quais são as possíveis explicações das dificuldades de ascensão profissional para as
mulheres?
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etc. Se a mulher é percebida como diferente ou não completamente igual, a confiança diminui
e reproduz-se, na organização, a discriminação reinante na sociedade. Para as autoras, “tal
dominação masculina nas interações hierárquicas criam e reforçam as diferenças de posição
entre mulheres e homens, fazendo-as parecer natural”. (Izraeli e Adler,1994:14).
A tentativa de reduzir o nível de competição para postos relativamente escassos como são os
de maior poder na hierarquia, é a quarta proposta explicativa das autoras. Se os que estão no
topo da organização são os que detém poder e autoridade para determinar as regras
organizacionais, a abertura de maior espaço para as mulheres aumentaria a competição para
estes cargos melhor gratificados e de maior prestígio.
Todavia, estamos diante de um mundo globalizado e de alta competitividade, que não pode
desperdiçar potencial humano.
O modelo de busca de outros sempre idênticos aos anteriores se auto-destrói, pois, não
permite olhares diferentes do existente. Não gera conflitos, nem crises, portanto estanca o
crescimento e a criatividade, não só da organização mas das próprias pessoas que nelas estão.
O enfrentamento do diferente, daquele que não é idêntico a si-mesmo, permite o avanço, a
constante mudança de cada um de nós e abre espaço para a criatividade e o pluralismo de
visões que permite aprender com o diferente.
Estamos diante de mudanças das normas sociais, econômicas e culturais que nos obrigam a
revisões de valores tradicionais e nos colocam cada vez mais diante do estranho, do diferente,
do “alter” e a mulher nas organizações representa esta alteridade que só pode ser
enriquecedora para homens e mulheres.
“A verdadeira igualdade só pode significar o direito a ser inigualavelmente criador”. E.
Erikson (1976:292).
Bibliografia
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