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INTRODUÇÃO

Decisões financeiras envolvem decisões de onde investir e de como


financiar os investimentos. São decisões que podem ser de curto prazo
(capital de giro, por exemplo) ou de longo prazo (aporte de capital de sócios
em uma empresa), ambas voltadas para o futuro. Desse modo, na apostila
Introdução a finanças: sistema financeiro e geração de valor, nosso
objetivo é expor os fundamentos de finanças utilizados no mercado, estudar
suas aplicações pelas corporações, seus critérios e princípios. Além disso,
vamos aplicar as técnicas para solução de problemas financeiros, focalizando
o estudo de finanças como ferramenta para análise e administração de
projetos e empresas. Dessa forma, pretendemos formar uma base analítica
para cursos mais avançados.
Para tanto, vamos desenvolver, estudar e criar métodos, modelos,
critérios de análise e avaliação de empresas que permitam ao gestor a
tomada da decisão ótima, ou seja, aquela que maximiza a riqueza e cria
valor para os investidores. No caso de empresa pública, a decisão ótima é
a decisão que maximiza o retorno dos tributos, aplicados nessa empresa,
e cria valor tanto para os cidadãos quanto para a sociedade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO A FINANÇAS: SISTEMA FINANCEIRO E GERAÇÃO DE VALOR .................................... 7

Conceituação de finanças ................................................................................................................. 7


Lógica financeira ......................................................................................................................... 10
Funções do gestor financeiro ................................................................................................... 11
Identificação e representação de ativos ....................................................................................... 13
Identificação do ambiente ............................................................................................................... 16
Identificação do investidor .............................................................................................................. 18
Risco versus retorno .......................................................................................................................... 19
Geração de valor em finanças .................................................................................................. 21
Critérios para análise de investimentos ....................................................................................... 23
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 25

PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 26
INTRODUÇÃO A FINANÇAS: SISTEMA
FINANCEIRO E GERAÇÃO DE VALOR

Neste módulo, apresentaremos o significado do tema “finanças” para uma empresa:


definição, função e limites da atividade financeira. Apresentaremos, também, a lógica financeira em
relação a objetivos determinados e como atingi-los.

Conceituação de finanças
A palavra “conceito” pode ser definida da seguinte forma:
1. frase (juízo) que diz o que a coisa é ou como funciona;
2. compreensão que alguém tem de uma palavra; noção, concepção, ideia.

Vejamos então como pode ser conceituado o termo “finanças corporativas”:


1. atividades de gestão de recursos realizadas nas empresas, de modo a maximizar o
retorno dos recursos investidos para a sociedade;
2. procedimentos que funcionam a partir de uma série de estudos, conhecimentos e
análises cujo objetivo principal consiste em proporcionar ao gestor o ferramental e as
informações necessárias à tomada de decisões ótimas.

O estudo das finanças corporativas envolve, portanto, o conhecimento e a análise de quesitos


que têm por objetivo a gestão ótima de recursos nas empresas.

Decisão ótima é aquela que visa criar valor e maximizar a riqueza


do investidor, considerando todos os aspectos conhecidos do
projeto e os riscos envolvidos durante sua vida útil.
Se uma empresa tem boa gestão financeira, irá não só sobreviver, mas também crescer e
cumprir todas as suas funções sociais. Em outras palavras, irá proporcionar retorno a seus
investidores, gerar empregos, produzir bens, produtos ou serviços, pagar impostos, adquirir matéria-
prima dos fornecedores, enfim irá criar bem-estar para todos os stakeholders (envolvidos). Por outro
lado, se a empresa não for bem administrada, irá à falência, e sabemos que, quando uma empresa
quebra, ninguém se beneficia.
É importante mencionarmos que a busca pela maximização de resultados dos recursos
aplicados vale tanto para investimentos privados quanto, e principalmente, para investimentos
públicos, aqueles que são realizados com o dinheiro proveniente de impostos pagos pelos cidadãos.
A construção de um hospital público, por exemplo, tem de ser terminada, e o hospital deve
funcionar com médicos, enfermeiros e leitos. Já uma delegacia de polícia tem de ser operacional e
ter policiais alocados. Escolas públicas, obras de saneamento, presídios, recapeamento de ruas e
avenidas, todos esses investimentos realizados com dinheiro público têm muito mais obrigação de
dar retorno a seus investidores, que, nesse caso, são os cidadãos contribuintes e eleitores.
Para ilustrar, vamos ver como alguns autores de importantes obras da área financeira definem
o termo “finanças”:

Quadro 1 – Definições de finanças

autores definição

“O administrador financeiro tem dois problemas básicos. Primeiro: quanto


deve a firma investir e em quais ativos deve investir? Segundo: como deve
Richard Brealey, ser levantado o caixa necessário? A resposta ao primeiro problema é a
Stewart Myers e decisão de investimento da firma. A resposta ao segundo problema é a sua
Franklin (2008) decisão de financiamento. O administrador financeiro deve encontrar as
respostas específicas que coloquem os acionistas ou cotistas da firma na
melhor situação possível. O sucesso é julgado pelo valor.”

“Suponhamos que se decida abrir uma empresa para fabricar bolas de


tênis. Para esse fim, a empresa contrata administradores para comprar
matéria-prima e monta uma equipe de trabalhadores e funcionários para
fabricar e vender as bolas de tênis produzidas. No linguajar financeiro,
Stephen Ross,
seria feito um investimento em ativos, tais como estoques, máquinas,
Westerfield e Jaffe
terrenos e mão-de-obra. O dinheiro aplicado em ativos deve ser
(2002)
contrabalançado por uma quantia idêntica de dinheiro gerado por algum
financiamento. Quando começar a vender bolas de tênis, sua empresa irá
gerar dinheiro. Essa é a base da criação de valor. A finalidade da empresa é
criar valor para o seu proprietário.”

continua

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“Podemos definir finanças como a arte e a ciência de administrar fundos
(recursos). Praticamente todos os indivíduos e organizações obtêm receitas
ou levantam fundos, gastam ou investem. As finanças ocupam-se do
processo, instituições, mercados e instrumentos envolvidos na
transferência de fundos entre pessoas, empresas e governos. A
Lawrence Gitman administração financeira diz respeito às responsabilidades do
(2010) administrador financeiro numa empresa. Os administradores financeiros
administram ativamente as finanças de todos os tipos de empresas,
financeiras ou não financeiras, privadas ou públicas, grandes ou pequenas,
com ou sem fins lucrativos. Eles desempenham uma variedade de tarefas,
tais como: orçamento, previsões financeiras, administração do caixa,
administração do credito, análise de investimentos e captação de fundos.”

Resumindo, podemos afirmar que a área de finanças trata das decisões financeiras de aplicação
e captação de recursos, cuidando das decisões financeiras de investimento e financiamento. Além
disso, analisa os projetos para determinar em quais se deve ou não investir.
Também é correto afirmarmos que Finanças é a ciência e a área de conhecimento que trata
da gestão de recursos financeiros, ou seja, é a ciência da estruturação dos arranjos operacionais,
econômicos e técnicos necessários ao alcance de um conjunto de objetivos.
Além disso, a área de finanças tem como característica normativa e reguladora a função de
orientar decisões individuais ou empresariais que busquem maximizar a função-objetivo em
utilidade ou em retorno esperado.

As decisões financeiras não devem visar à maximização do


lucro de um ou outro período. Em finanças, devemos visar à
maximização dos resultados no longo prazo.

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Lógica financeira
Vejamos, no esquema a seguir, uma maneira bastante didática de se apresentar a lógica das
decisões financeiras:

Figura 1 – Lógica das decisões financeiras

Agora, vamos partir de algumas perguntas para que possamos entender melhor o esquema
apresentado:

a) Qual é o objetivo do estudo de finanças?


O objetivo do estudo de finanças é proporcionar ao gestor os conhecimentos e as informações
necessárias à tomada da decisão ótima. Tomar a decisão ótima resulta da criação de valor e da
maximização de riqueza dos investidores.

b) O que atuar em finanças corporativas significa na prática?


Atuar em finanças corporativas significa identificar todas as opções de projetos de
investimento disponíveis e analisá-las, para encontrar aquelas que oferecem a melhor relação entre
risco e retorno para os investidores.

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c) Quem são os investidores?
No caso de empresas públicas, os investidores são a população que paga impostos, ou seja, os
cidadãos, os contribuintes. No caso de empresas privadas S.A., os investidores são os acionistas. Já
no caso de empresas privadas limitadas (Ltda.), são os cotistas.

d) O que buscamos em finanças?


Em finanças, buscamos a tomada da decisão ótima, ou seja, aquela decisão que maximiza a
riqueza do investidor.
Tomando decisões ótimas, maximizamos o valor de nossas empresas.

Funções do gestor financeiro


Entre as inúmeras e diversas funções do gestor financeiro, a mais importante é, sem dúvida,
tomar as melhores decisões de investimento e financiamento, visando maximizar riquezas e criar
valor para o acionista (ou cotista). Para alcançarmos esses objetivos, devemos conhecer todas as
opções e oportunidades disponíveis no mercado para investimentos, aplicações, financiamentos,
operações, negócios, etc. Em seguida, devemos analisá-las para que possamos tomar a decisão ótima,
que consiste em investir nas melhores oportunidades.
Como vimos, a decisão ótima é a melhor decisão possível dentro do conjunto de possíveis
decisões a serem tomadas. É importante ressaltarmos, no entanto, que a decisão ótima não garante
que tudo sempre vai “dar certo” ou “dar lucro”; o que ela garante é que a empresa terá muitas
oportunidades de criar riquezas e maximizar valores ao ter como objetivo tomar as melhores decisões
nos médio e longo prazos.
Para tanto, é necessário que o setor financeiro saiba responder às quatro perguntas básicas de
finanças. São elas:
Onde investir?
Quanto investir?
Como financiar o Investimento?
Como distribuir os resultados?

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No quadro a seguir, desdobraremos essas quatro perguntas básicas para melhor detalhá-las.

Quadro 2 – Desdobramentos das quatro perguntas básicas

perguntas básicas desdobramentos

Entre as opções, qual a melhor?

comprar o concorrente;

Onde Investir? lançar um novo produto;


fechar uma filial;
aplicar em renda fixa;
montar uma nova fábrica.

Qual o valor das empresas e dos projetos?

Quanto poderemos ou deveremos pagar?


Quanto Investir?
Vale mais do que custa?

Custa mais do que vale?

Só existem duas fontes de capital

capital próprio = sócios;


capital de terceiros = credores,

Quanto de capital próprio e de terceiros?

Como financiar o investimento? Quais as fontes disponíveis?

bancos públicos e privados;


sócios capitalistas;
fornecedores;
compradores;
capital próprio.

Faturamento (vendas versus preços)

- custos variáveis
- custos fixos
= Lajir

Como distribuir os resultados? - juros


= Lair
- IR
= lucro líquido
- reinvestimentos
= dividendos

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Para responder às perguntas básicas, o executivo financeiro deve saber identificar corretamente:
o ativo;
o ambiente;
o investidor.

Veremos cada um desses itens, detalhadamente, a seguir.

Identificação e representação de ativos


Ativo é aquilo que gera os fluxos de caixa, ou seja, é o seu negócio, a sua empresa, a sua
máquina, a sua linha de montagem, o seu restaurante, etc.
Se você tem um caminhão e o aluga, esse é o seu ativo. Se você tem uma empresa com 220
caminhões, e recebe lucros e dividendos por ser acionista dessa empresa, esse é seu ativo. Se você
tem um grupo de jornalistas, artistas, engenheiros, enfim, profissionais competentes que trabalham
para você em sua empresa, esse é seu ativo intelectual.

Identificar o ativo corretamente significa identificar seu “core” business.


Em outras palavras, saber qual é seu negócio verdadeiramente; onde
e com que você ganha dinheiro e tem resultados.

Por exemplo, você sabe por que razão seu cliente compra seus produtos?
por causa da escassez – não há outra opção no mercado;
por causa do preço – é o mais barato;
por causa da beleza – é o mais bonito ou serve como enfeite;
porque é eficiente – funciona e é econômico;
por força da lei – a lei obriga o cliente a ter esse tipo de produto (placa de carro, extintor
de incêndio, etc.)
por causa da moda – por força da mídia, por estar no cinema, na TV, nas revistas, etc.

A identificação de um ativo qualquer sob análise implica a identificação dos fluxos de caixa que
esse ativo pode gerar para seus investidores. O fluxo de caixa que interessa para a tomada de decisão
administrativa é o fluxo de caixa operacional, incremental, livre, após o pagamento de taxas e impostos
Representamos ativos por meio de seus fluxos de caixa
futuros projetados. Convide um arquiteto para ir até sua casa
e solicite que ele a represente. Certamente, o arquiteto
desenhará, da melhor forma possível, sua casa em uma folha
de papel. Por quê? Porque o desenho é a linguagem utilizada
pelos arquitetos no exercício de sua profissão.

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Convide, agora, um corretor de imóveis e solicite que ele represente seu imóvel (a mesma casa
apresentada ao arquiteto). Certamente, o corretor escreverá coisas do tipo: excelente imóvel, com
ampla sala e vista maravilhosa para o verde, indevassável, etc. O corretor fará isso porque essa é a
linguagem usual em seu trabalho.

A GAZETA BRASILEIRA
CLASSIFICADOS
Linda casa. Condomínio fechado. Vista indevassável para o verde. 3 amplos quartos. 2
banheiros. Sala copa e cozinha. Tratar pelo telefone 222-22-22.

Por fim, peça a um administrador financeiro que faça a representação financeira de seu
imóvel. Obviamente, o administrador olhará sua casa como um investimento e, dessa forma,
perguntará quanto você pagou por ela, quanto gasta em sua manutenção, quanto obtém de aluguel,
quanto paga de IR sobre o aluguel, etc. Para quê? Para obter o fluxo de caixa desse ativo em cada
período. Essa é a linguagem dos administradores.
Podemos então afirmar que representamos ativos como a sequência de fluxos de caixa
incrementais livres, após taxas e impostos que esse ativo gera para seus investidores. Dessa forma,
temos:

t=0 t=1 t=2 t=3 ... t=T


-I0 +FC1 +FC2 +FC3 ... +FCT

Onde:
I0 = investimento (fluxo de caixa inicial) para adquirir o ativo
T = período total do investimento
FC = fluxo de caixa, livre para o investidor, após taxas, juros e impostos de cada período.

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Em uma representação financeira (matemática) de ativos, caracterizamos os ativos como a
sequência de fluxos de caixa desse ativo ao longo do tempo. Vejamos:

Figura 2 – Representação gráfica do fluxo de caixa

Vamos ver dois exemplos para melhor ilustrar a representação financeira de ativos:

a) Exemplo 1 – representação financeira de investimento em um imóvel para aluguel:


Considere que você investiu R$ 100.000,00 na compra de um imóvel comercial e que pode
alugá-lo por R$ 1.000,00 mensais. Suponha que você quer permanecer com esse imóvel por um
ano e, depois desse tempo, quer vendê-lo por R$ 120.000,00.
Nesse caso, a representação do ativo (imóvel) seria a seguinte:

T=0 t=1 t=2 t=3 ... t = 12


-100.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00
120.000,00

b) Exemplo 2 – representação financeira de um investimento em ações:


Considere que você investiu R$ 50.000,00 na compra de ações da Firma Alfa (cotação de R$
5,00 por ação hoje). Os dividendos esperados são de R$ 0,20 por ação a cada ano. Sua expectativa
é vender cada ação por R$ 7,45 daqui a três anos.
Nesse caso, você poderá comprar 10.000 ações e seu fluxo de caixa anual será de R$ 2.000,00.
Vejamos a representação do ativo (Investimento em ações):

T=0 t=1 t=2 ... t=3


-50.000,00 2.000,00 2.000,00 2.000,00
74.500,00

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O fluxo de caixa que interessa às decisões financeiras é o resultado líquido (em dinheiro) que
vai para o “bolso” dos investidores após o pagamento de todos os custos operacionais fixos e
variáveis, taxas e impostos.
Determinamos os fluxos de caixa (dinheiro ou resultados) para os investidores elaborando o
demonstrativo desses fluxos. Vejamos uma ilustração de demonstrativo de fluxos de caixa:

Figura 3 – Demonstrativo de fluxos de caixa

faturamento (vendas x preços)

– custos variáveis

– custos fixos

= Lajir

– juros

= Lair

– IR (base tributável)

= lucro líquido

– reinvestimentos

= dividendos

(fluxos de caixa para o investidor)

Identificação do ambiente
Ambiente de investimento é o conjunto de cenários e condições externas à empresa. São as
condições existentes sobre as quais não temos ingerência.

O primeiro passo do trabalho de um gestor financeiro deve


ser conhecer o ambiente em que o ativo que é objeto de
análise está inserido.

É muito importante obtermos conhecimento sobre tributos, clientes, fornecedores e


concorrentes antes de iniciarmos nossas operações, pois só assim saberemos se vale a pena investir
nessas condições. Trata-se do reconhecimento de cenários que possam, de alguma forma, afetar
nossos projetos de investimento positiva ou negativamente.

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De posse da completa identificação do ambiente, devemos então decidir se devemos ou não
prosseguir com as análises e os estudos sobre o investimento.
O quadro a seguir traz itens que exemplificam, de forma bem direta, os conhecimentos sobre
o ambiente necessários à tomada de decisão do gestor financeiro. Vejamos:

Quadro 3 – Conhecimentos necessários sobre o ambiente

ambiente conhecimentos necessários

Qual é o arcabouço legal, e quais são as licenças e autorizações


legislação local necessárias para nossas operações?
O sistema Judiciário é eficaz, lento, ágil?

Qual é a tributação que vai incidir sobre nossas operações?


Quais são as alíquotas das taxas e impostos?
tributos, taxas de
Quais são as isenções, os benefícios e os incentivos fiscais?
juros e inflação
Qual é a taxa de juros básica da economia local?
Qual é a taxa de inflação?

Como é a infraestrutura do ambiente local onde vamos operar?


Existem ferrovias, portos, aeroportos?
Há segurança pública que afete, garanta ou não garanta a
infraestrutura integridade física de nossas instalações e nossos funcionários?
Há risco de existirem problemas de saúde pública, tais como
epidemias?
Há energia elétrica ou gás?

Quem são ou serão nossos clientes?


Do que o cliente gosta?
O que o cliente quer?
De que o cliente precisa ou de que vai precisar?
clientes O que o cliente vai, efetivamente, comprar?
Clientes e consumidores: qual a diferença entre eles? Cliente é
aquele que decide pela aquisição de determinado produto. Já o
consumidor é aquele que, efetivamente, consome o produto. Dessa
forma, cliente e consumidor nem sempre são a mesma pessoa.

continua

17
Existe mercado para nossos produtos?
O que o mercado quer?
Qual é o tamanho do mercado?
Esse mercado é livre?
mercado Existe um monopólio?
Esse mercado é eficiente?
Quais são os concorrentes?
Esse mercado está saturado?
Produtos substitutos chegam a esse mercado?

Existem fornecedores para os serviços e produtos de que


fornecedores necessitamos, tais como serviços bancários, matéria-prima, mão
de obra qualificada, energia e comunicação?

Quais são os hábitos e costumes locais que possam afetar nosso


cultura local negócio – por exemplo, somos uma churrascaria querendo abrir
filial na Índia?

Identificação do investidor
Investidor é quem investe, ou seja, é aquele que paga a conta. No caso de uma obra pública,
o investidor é o contribuinte. Já no caso de uma empresa privada, o investidor é o dono do negócio.
É muito importante que identifiquemos corretamente o investidor para sabermos, antes de
investir, se os investimentos são adequados a determinado investidor. Isso significa ter respostas
para algumas perguntas, tais como:
O investidor é pessoa física ou pessoa jurídica?
O investidor conhece os riscos do investimento?
A taxa de retorno e o prazo para retorno são adequados?
O investidor conhece o projeto de investimento que está sendo analisado?
De posse de todas as informações sobre o projeto, o investidor está disposto a investir?

Quando um investidor disponibiliza recursos para financiar um projeto, ele retira esses
recursos de outro lugar ou deixa de investir em outra aplicação. Dessa forma, espera obter uma taxa
de retorno como recompensa ou remuneração.
Existem, fundamentalmente, dois tipos de investidores que financiam empresas: sócios e
credores. As empresas são financiadas por esse mix de capitais provenientes de sócios e credores, e,
portanto, devem remunerar tais investidores.

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A taxa média de retorno do mix de capitais que financia as
empresas é chamada de taxa de custo médio ponderado de
capital (CMPC), e toda empresa deve ser capaz de “pagar” a CMPC.

Após determinarmos a taxa de retorno, ou seja, o mix de custo do capital que financia o ativo, e
também os fluxos de caixa (FCs) futuros projetados que representam o ativo, podemos avaliar e calcular
o valor presente do ativo, utilizando o método conhecido como FCD – Fluxo de caixa descontado.

Risco versus retorno


Na linguagem de executivos financeiros, o termo “risco” não tem relação com o fato de algo
dar certo ou errado, ou com a possibilidade de se ter prejuízo ou lucro.

O termo “risco” está relacionado à probabilidade de um


resultado real ser diferente do que foi projetado.

Vamos considerar q e (1 – q) as probabilidades de movimentação dos valores. Nesse caso, se


q for igual a 60%, (1 – q) corresponderá a 40%. Para melhor entendermos essa relação, vejamos
um exemplo em que compararemos ativos com e sem risco:

Consideremos os seguintes dados:


q = probabilidade de o valor de um ativo sair de R$ 1.000, em t = 0, e atingir R$ 1.200 em t
=1
(1 - q) = probabilidade de o valor desse ativo sair de R$ 1.000, em t = 0, e atingir R$ 1.100
em t = 1

1. Ativos sem risco:

t=0 t=1 t=0 t=1


1.200 (cenário A) 450 (cenário A)
1.000 1.000
1.200 (cenário B) 450 (cenário B)

2. Ativos com risco:

t=0 t=1 t=0 t=1


1.200 (cenário A) 800 (cenário A)
1.000 1.000
1.100 (cenário B) 600 (cenário B)

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Como pudemos notar, no exemplo apresentado, os resultados de um ativo sem risco são os
mesmos em qualquer cenário futuro. Já os resultados de um ativo com risco mudam, pois dependem
da ocorrência de cada cenário futuro.
Também é importante notarmos que as duas opções são plenamente possíveis e que há apenas
diferentes probabilidades de ocorrência de cada uma delas.
Ainda no mesmo exemplo, são apresentados dois casos de ativos sem risco. Nesse caso, não
importam quais sejam as probabilidades q e (1 - q), o resultado será sempre o mesmo, pois o valor
final é o mesmo em ambas as situações.

Um ativo é dito “sem risco” mesmo se o valor final for inferior


ao investimento inicial, pois não há dúvidas ou incertezas
quanto a seu resultado.

Agora, vejamos um exemplo em que caracterizaremos e compararemos investidores dos tipos


avesso, neutro e propenso ao risco:

Consideremos a probabilidade de ocorrência dos cenários 1 e 2 igual a 50% cada.

1. Ativo A (com risco):

t=0 t=1

1.600 (cenário 1)
1.000 Valor esperado em t = 1 é R$ 1.200,00
800 (cenário 2)

2. Ativo B (sem risco):

t=0 t=1

1.200 (cenário 1)
1.000 Valor esperado em t = 1 é R$ 1.200,00
1.200 (cenário 2)

Levando em conta os dados apresentados, um investidor avesso ao risco preferirá o ativo B, que
garante o mesmo resultado esperado de R$ 1.200,00 em quaisquer dos investimentos disponíveis.

Já um investidor propenso ao risco preferirá o ativo A, que poderá proporcionar um retorno superior
(no caso, R$ 1.600,00). Por conta disso, ele aceitará “correr o risco” de receber apenas R$ 800,00.

Finalmente, um investidor neutro ao risco escolherá, de modo indiferente, entre os ativos A e B.

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Conhecendo o risco de um ativo, a taxa de retorno para aplicações em renda fixa e o retorno
oferecido pelo mercado, podemos determinar a taxa de retorno k adequada a esse ativo.
A figura a seguir mostra a representação dessa situação, onde Rf representa a taxa de retorno
livre de risco, e ka e kb representam as taxas esperadas para ativos de risco. No módulo II,
apresentaremos um modelo teórico apropriado para a determinação dessa taxa de retorno.

Figura 4 – Gráfico da relação Risco Retorno

Retorno
Esperado (%)

kb

ka

Rf

0 1 2 Risco

Geração de valor em finanças


O trabalho é enorme, as responsabilidades são muitas e os detalhes são inúmeros, mas a lógica
é bem simples: em finanças, para gerarmos valor, precisamos saber avaliar e analisar os dados
disponíveis para decidirmos em que investir.
Como princípio central, avaliamos ativos reais da mesma forma que avaliamos ativos
financeiros (lembre-se da Matemática financeira). Ativos (financeiros ou reais) devem sempre valer
o somatório do valor presente (VP) de seus futuros fluxos de caixa projetados, descontados pela taxa
adequada ao risco dos fluxos de caixa.
Ativos, como empresas, existem para criar valor e maximizar riquezas. E como fazem isso?
Produzindo bens, produtos ou serviços. Com isso, as empresas geram empregos, pagam impostos,
criam produtos, compram de fornecedores, disponibilizam produtos novos no mercado, pagam
salários e, finalmente, distribuem resultados a seus investidores. Tais resultados distribuídos entre
os investidores são chamamos de fluxos de caixa para os investidores. Por essa razão, o valor de uma
empresa é função dos fluxos de caixa que essa empresa poder proporcionar aos investidores.
Segundo o método FCD, o valor presente de um ativo é:
função dos fluxos de caixa projetados;
função da taxa de retorno;
o somatório dos FCs projetados, descontados pela taxa de retorno.

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A fórmula para determinar o valor presente de ativos, dada pela Matemática financeira, é a
seguinte:

VP do ativo = ∑t=1 T FCt / (1 + K)t

Em casos particulares, em que FCs atendam os requisitos de perpetuidade, podemos usar a


fórmula que representa o limite para o qual converge a série: somatório dos FCs.

VP do ativo = FC1/ (K – g)

Onde:
K = taxa de desconto apropriada ao risco do FC, utilizada para descontar até o valor
presente (VP)
g = taxa de crescimento do FC em perpetuidade

Vejamos um exemplo em que visualizaremos o desconto para valor presente:

Consideremos que você tenha investido na compra de um terreno grande e tenha dividido
esse terreno em três áreas menores. Com isso, sua intenção era a de construir três casas, uma
a cada ano, e vendê-las ao mercado.

Sendo assim, no primeiro ano, você construiu a casa 1 e a vendeu no fim do mesmo ano. No
segundo ano, você construiu a casa 2 e a vendeu no fim do mesmo ano. Por fim, no terceiro
ano, você construiu a casa 3 e também a vendeu no fim do mesmo ano.

Para calcularmos o lucro líquido (fluxo de caixa) ganho com a construção e a venda de cada
casa, devemos representar esse empreendimento da seguinte forma:

t=0 t=1 t=2 t=3 ... t=T


-I0 +FC1 +FC2 +FC3 ... +FCT

VP do FC1
VP do FC2
VP do FC3

VP do FCT

valor = soma dos VPs

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Critérios para análise de investimentos
Analisamos investimentos para podermos determinar que opções oferecem as melhores
relações entre risco e retorno para os investidores. Como vimos, precisamos realizar a análise de
investimentos para tomarmos a decisão ótima, ou seja, aquela que cria valor ou maximiza a riqueza
dos investidores.
Os critérios para a análise de projetos, investimentos e decisões de investimento permitem
que façamos a seleção e a classificação dos projetos da seguinte forma:
seleção de projetos – a análise de projetos nos permite determinar se um projeto específico
é viável ou não. Dessa forma, podemos selecionar apenas os projetos lucrativos;
classificação de projetos – a análise de projetos nos permite determinar, entre os projetos
lucrativos, quais os melhores e quais os piores.

No quadro a seguir, veremos as ferramentas financeiras para análise de investimentos e


projetos, o que cada uma delas mede e seu significado.

Quadro 4 – Ferramentas para análise

ferramenta mede o que queremos saber o que significa

Queremos saber se o Um VPL positivo significa


valor presente projeto custa mais do lucro.
valor
líquido (VPL) que vale ou vale mais Um VPL negativo significa
do que custa. prejuízo.

relação entre IL maior que 1 significa


índice de Queremos saber se o
quanto vale e que o investidor vai
lucratividade projeto apresenta IL
quanto custa, receber mais do que
líquida (IL) maior ou menor que 1.
pois é um índice investiu.

Queremos saber se o
projeto apresenta taxas Uma TIR maior que o
taxa interna de
taxa em % de retorno maiores ou CMPC do projeto significa
retorno (TIR)
menores que a taxa de que o projeto é viável.
seu custo de capital.

Um período payback
Queremos saber se o menor do que o período
período payback tempo projeto se paga durante da vida útil do projeto ou
sua vida útil. da empresa significa que
esse projeto se paga.

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Vejamos um exemplo:

Suponhamos que, para ser implantado hoje, o projeto Xingu exija um investimento de R$
2.000.000,00. Caso seja implantado, esse projeto terá um valor de mercado atual de R$
2.800.000,00. Como podemos calcular o VPL do projeto Xingu?

Vejamos:

VPL = VP – investimento
VPL = 2.800.000,00 – 2.000.000,00 = 800.000,00

Dessa forma, o VPL do projeto Xingu é de R$ 800.000,00 (positivos), o que significa lucro.

Como pudemos notar, as ferramentas financeiras visam dar ao administrador os instrumentos


necessários à tomada da decisão ótima, que, como já vimos, tem por objetivo a maximização da
riqueza dos investidores. Dessa forma, podemos concluir que, para além de uma ciência, a análise
financeira constitui também uma arte.

24
BIBLIOGRAFIA
CURY, Marcus Vinicius Quintella, ABREU, José Carlos Franco de, AMERIO, Danilo, PEREIRA,
Cristovão; Finanças Corporativas. 12. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2018.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Harbra, 2015.

ROSS, Stephen. Administração financeira – corporate finance. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

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PROFESSOR-AUTOR
José Carlos Abreu é doutor em Finanças pela PUC-RJ, mestre
em Business Administration pela Columbia University (Nova Iorque) e
engenheiro eletricista pela Universidade de Brasília. Possui 24 anos de
experiência na área financeira, tendo atuado como executivo e consultor
em diversas instituições nos Estados Unidos e no Brasil. Foi consultor do
BCG Consulting Group (Nova Iorque) e General Manager da Unipac
Trading Company (Los Angeles). Desde 1998, é coordenador acadêmico
da FGV. É, também, professor de cursos de pós-graduação da FGV na área financeira.

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