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INTRODUÇÃO A FINANÇAS: SISTEMA
FINANCEIRO E GERAÇÃO DE VALOR
Conceituação de finanças
A palavra “conceito” pode ser definida da seguinte forma:
1. frase (juízo) que diz o que a coisa é ou como funciona;
2. compreensão que alguém tem de uma palavra; noção, concepção, ideia.
autores definição
continua
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“Podemos definir finanças como a arte e a ciência de administrar fundos
(recursos). Praticamente todos os indivíduos e organizações obtêm receitas
ou levantam fundos, gastam ou investem. As finanças ocupam-se do
processo, instituições, mercados e instrumentos envolvidos na
transferência de fundos entre pessoas, empresas e governos. A
Lawrence Gitman administração financeira diz respeito às responsabilidades do
(2010) administrador financeiro numa empresa. Os administradores financeiros
administram ativamente as finanças de todos os tipos de empresas,
financeiras ou não financeiras, privadas ou públicas, grandes ou pequenas,
com ou sem fins lucrativos. Eles desempenham uma variedade de tarefas,
tais como: orçamento, previsões financeiras, administração do caixa,
administração do credito, análise de investimentos e captação de fundos.”
Resumindo, podemos afirmar que a área de finanças trata das decisões financeiras de aplicação
e captação de recursos, cuidando das decisões financeiras de investimento e financiamento. Além
disso, analisa os projetos para determinar em quais se deve ou não investir.
Também é correto afirmarmos que Finanças é a ciência e a área de conhecimento que trata
da gestão de recursos financeiros, ou seja, é a ciência da estruturação dos arranjos operacionais,
econômicos e técnicos necessários ao alcance de um conjunto de objetivos.
Além disso, a área de finanças tem como característica normativa e reguladora a função de
orientar decisões individuais ou empresariais que busquem maximizar a função-objetivo em
utilidade ou em retorno esperado.
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Lógica financeira
Vejamos, no esquema a seguir, uma maneira bastante didática de se apresentar a lógica das
decisões financeiras:
Agora, vamos partir de algumas perguntas para que possamos entender melhor o esquema
apresentado:
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c) Quem são os investidores?
No caso de empresas públicas, os investidores são a população que paga impostos, ou seja, os
cidadãos, os contribuintes. No caso de empresas privadas S.A., os investidores são os acionistas. Já
no caso de empresas privadas limitadas (Ltda.), são os cotistas.
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No quadro a seguir, desdobraremos essas quatro perguntas básicas para melhor detalhá-las.
comprar o concorrente;
- custos variáveis
- custos fixos
= Lajir
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Para responder às perguntas básicas, o executivo financeiro deve saber identificar corretamente:
o ativo;
o ambiente;
o investidor.
Por exemplo, você sabe por que razão seu cliente compra seus produtos?
por causa da escassez – não há outra opção no mercado;
por causa do preço – é o mais barato;
por causa da beleza – é o mais bonito ou serve como enfeite;
porque é eficiente – funciona e é econômico;
por força da lei – a lei obriga o cliente a ter esse tipo de produto (placa de carro, extintor
de incêndio, etc.)
por causa da moda – por força da mídia, por estar no cinema, na TV, nas revistas, etc.
A identificação de um ativo qualquer sob análise implica a identificação dos fluxos de caixa que
esse ativo pode gerar para seus investidores. O fluxo de caixa que interessa para a tomada de decisão
administrativa é o fluxo de caixa operacional, incremental, livre, após o pagamento de taxas e impostos
Representamos ativos por meio de seus fluxos de caixa
futuros projetados. Convide um arquiteto para ir até sua casa
e solicite que ele a represente. Certamente, o arquiteto
desenhará, da melhor forma possível, sua casa em uma folha
de papel. Por quê? Porque o desenho é a linguagem utilizada
pelos arquitetos no exercício de sua profissão.
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Convide, agora, um corretor de imóveis e solicite que ele represente seu imóvel (a mesma casa
apresentada ao arquiteto). Certamente, o corretor escreverá coisas do tipo: excelente imóvel, com
ampla sala e vista maravilhosa para o verde, indevassável, etc. O corretor fará isso porque essa é a
linguagem usual em seu trabalho.
A GAZETA BRASILEIRA
CLASSIFICADOS
Linda casa. Condomínio fechado. Vista indevassável para o verde. 3 amplos quartos. 2
banheiros. Sala copa e cozinha. Tratar pelo telefone 222-22-22.
Por fim, peça a um administrador financeiro que faça a representação financeira de seu
imóvel. Obviamente, o administrador olhará sua casa como um investimento e, dessa forma,
perguntará quanto você pagou por ela, quanto gasta em sua manutenção, quanto obtém de aluguel,
quanto paga de IR sobre o aluguel, etc. Para quê? Para obter o fluxo de caixa desse ativo em cada
período. Essa é a linguagem dos administradores.
Podemos então afirmar que representamos ativos como a sequência de fluxos de caixa
incrementais livres, após taxas e impostos que esse ativo gera para seus investidores. Dessa forma,
temos:
Onde:
I0 = investimento (fluxo de caixa inicial) para adquirir o ativo
T = período total do investimento
FC = fluxo de caixa, livre para o investidor, após taxas, juros e impostos de cada período.
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Em uma representação financeira (matemática) de ativos, caracterizamos os ativos como a
sequência de fluxos de caixa desse ativo ao longo do tempo. Vejamos:
Vamos ver dois exemplos para melhor ilustrar a representação financeira de ativos:
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O fluxo de caixa que interessa às decisões financeiras é o resultado líquido (em dinheiro) que
vai para o “bolso” dos investidores após o pagamento de todos os custos operacionais fixos e
variáveis, taxas e impostos.
Determinamos os fluxos de caixa (dinheiro ou resultados) para os investidores elaborando o
demonstrativo desses fluxos. Vejamos uma ilustração de demonstrativo de fluxos de caixa:
– custos variáveis
– custos fixos
= Lajir
– juros
= Lair
– IR (base tributável)
= lucro líquido
– reinvestimentos
= dividendos
Identificação do ambiente
Ambiente de investimento é o conjunto de cenários e condições externas à empresa. São as
condições existentes sobre as quais não temos ingerência.
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De posse da completa identificação do ambiente, devemos então decidir se devemos ou não
prosseguir com as análises e os estudos sobre o investimento.
O quadro a seguir traz itens que exemplificam, de forma bem direta, os conhecimentos sobre
o ambiente necessários à tomada de decisão do gestor financeiro. Vejamos:
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Existe mercado para nossos produtos?
O que o mercado quer?
Qual é o tamanho do mercado?
Esse mercado é livre?
mercado Existe um monopólio?
Esse mercado é eficiente?
Quais são os concorrentes?
Esse mercado está saturado?
Produtos substitutos chegam a esse mercado?
Identificação do investidor
Investidor é quem investe, ou seja, é aquele que paga a conta. No caso de uma obra pública,
o investidor é o contribuinte. Já no caso de uma empresa privada, o investidor é o dono do negócio.
É muito importante que identifiquemos corretamente o investidor para sabermos, antes de
investir, se os investimentos são adequados a determinado investidor. Isso significa ter respostas
para algumas perguntas, tais como:
O investidor é pessoa física ou pessoa jurídica?
O investidor conhece os riscos do investimento?
A taxa de retorno e o prazo para retorno são adequados?
O investidor conhece o projeto de investimento que está sendo analisado?
De posse de todas as informações sobre o projeto, o investidor está disposto a investir?
Quando um investidor disponibiliza recursos para financiar um projeto, ele retira esses
recursos de outro lugar ou deixa de investir em outra aplicação. Dessa forma, espera obter uma taxa
de retorno como recompensa ou remuneração.
Existem, fundamentalmente, dois tipos de investidores que financiam empresas: sócios e
credores. As empresas são financiadas por esse mix de capitais provenientes de sócios e credores, e,
portanto, devem remunerar tais investidores.
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A taxa média de retorno do mix de capitais que financia as
empresas é chamada de taxa de custo médio ponderado de
capital (CMPC), e toda empresa deve ser capaz de “pagar” a CMPC.
Após determinarmos a taxa de retorno, ou seja, o mix de custo do capital que financia o ativo, e
também os fluxos de caixa (FCs) futuros projetados que representam o ativo, podemos avaliar e calcular
o valor presente do ativo, utilizando o método conhecido como FCD – Fluxo de caixa descontado.
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Como pudemos notar, no exemplo apresentado, os resultados de um ativo sem risco são os
mesmos em qualquer cenário futuro. Já os resultados de um ativo com risco mudam, pois dependem
da ocorrência de cada cenário futuro.
Também é importante notarmos que as duas opções são plenamente possíveis e que há apenas
diferentes probabilidades de ocorrência de cada uma delas.
Ainda no mesmo exemplo, são apresentados dois casos de ativos sem risco. Nesse caso, não
importam quais sejam as probabilidades q e (1 - q), o resultado será sempre o mesmo, pois o valor
final é o mesmo em ambas as situações.
t=0 t=1
1.600 (cenário 1)
1.000 Valor esperado em t = 1 é R$ 1.200,00
800 (cenário 2)
t=0 t=1
1.200 (cenário 1)
1.000 Valor esperado em t = 1 é R$ 1.200,00
1.200 (cenário 2)
Levando em conta os dados apresentados, um investidor avesso ao risco preferirá o ativo B, que
garante o mesmo resultado esperado de R$ 1.200,00 em quaisquer dos investimentos disponíveis.
Já um investidor propenso ao risco preferirá o ativo A, que poderá proporcionar um retorno superior
(no caso, R$ 1.600,00). Por conta disso, ele aceitará “correr o risco” de receber apenas R$ 800,00.
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Conhecendo o risco de um ativo, a taxa de retorno para aplicações em renda fixa e o retorno
oferecido pelo mercado, podemos determinar a taxa de retorno k adequada a esse ativo.
A figura a seguir mostra a representação dessa situação, onde Rf representa a taxa de retorno
livre de risco, e ka e kb representam as taxas esperadas para ativos de risco. No módulo II,
apresentaremos um modelo teórico apropriado para a determinação dessa taxa de retorno.
Retorno
Esperado (%)
kb
ka
Rf
0 1 2 Risco
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A fórmula para determinar o valor presente de ativos, dada pela Matemática financeira, é a
seguinte:
VP do ativo = FC1/ (K – g)
Onde:
K = taxa de desconto apropriada ao risco do FC, utilizada para descontar até o valor
presente (VP)
g = taxa de crescimento do FC em perpetuidade
Consideremos que você tenha investido na compra de um terreno grande e tenha dividido
esse terreno em três áreas menores. Com isso, sua intenção era a de construir três casas, uma
a cada ano, e vendê-las ao mercado.
Sendo assim, no primeiro ano, você construiu a casa 1 e a vendeu no fim do mesmo ano. No
segundo ano, você construiu a casa 2 e a vendeu no fim do mesmo ano. Por fim, no terceiro
ano, você construiu a casa 3 e também a vendeu no fim do mesmo ano.
Para calcularmos o lucro líquido (fluxo de caixa) ganho com a construção e a venda de cada
casa, devemos representar esse empreendimento da seguinte forma:
VP do FC1
VP do FC2
VP do FC3
VP do FCT
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Critérios para análise de investimentos
Analisamos investimentos para podermos determinar que opções oferecem as melhores
relações entre risco e retorno para os investidores. Como vimos, precisamos realizar a análise de
investimentos para tomarmos a decisão ótima, ou seja, aquela que cria valor ou maximiza a riqueza
dos investidores.
Os critérios para a análise de projetos, investimentos e decisões de investimento permitem
que façamos a seleção e a classificação dos projetos da seguinte forma:
seleção de projetos – a análise de projetos nos permite determinar se um projeto específico
é viável ou não. Dessa forma, podemos selecionar apenas os projetos lucrativos;
classificação de projetos – a análise de projetos nos permite determinar, entre os projetos
lucrativos, quais os melhores e quais os piores.
Queremos saber se o
projeto apresenta taxas Uma TIR maior que o
taxa interna de
taxa em % de retorno maiores ou CMPC do projeto significa
retorno (TIR)
menores que a taxa de que o projeto é viável.
seu custo de capital.
Um período payback
Queremos saber se o menor do que o período
período payback tempo projeto se paga durante da vida útil do projeto ou
sua vida útil. da empresa significa que
esse projeto se paga.
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Vejamos um exemplo:
Suponhamos que, para ser implantado hoje, o projeto Xingu exija um investimento de R$
2.000.000,00. Caso seja implantado, esse projeto terá um valor de mercado atual de R$
2.800.000,00. Como podemos calcular o VPL do projeto Xingu?
Vejamos:
VPL = VP – investimento
VPL = 2.800.000,00 – 2.000.000,00 = 800.000,00
Dessa forma, o VPL do projeto Xingu é de R$ 800.000,00 (positivos), o que significa lucro.
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BIBLIOGRAFIA
CURY, Marcus Vinicius Quintella, ABREU, José Carlos Franco de, AMERIO, Danilo, PEREIRA,
Cristovão; Finanças Corporativas. 12. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2018.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Harbra, 2015.
ROSS, Stephen. Administração financeira – corporate finance. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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PROFESSOR-AUTOR
José Carlos Abreu é doutor em Finanças pela PUC-RJ, mestre
em Business Administration pela Columbia University (Nova Iorque) e
engenheiro eletricista pela Universidade de Brasília. Possui 24 anos de
experiência na área financeira, tendo atuado como executivo e consultor
em diversas instituições nos Estados Unidos e no Brasil. Foi consultor do
BCG Consulting Group (Nova Iorque) e General Manager da Unipac
Trading Company (Los Angeles). Desde 1998, é coordenador acadêmico
da FGV. É, também, professor de cursos de pós-graduação da FGV na área financeira.
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