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ENSAIO ESSAY 1

A determinação biológica dos transtornos


mentais: uma discussão a partir de teses
neurocientíficas recentes

Biological determination of mental disorders:


a discussion based on recent hypotheses
from neuroscience

La determinación biológica de los trastornos


mentales: una discusión a partir de tesis
neurocientíficas recientes
Luna Rodrigues Freitas-Silva 1
Francisco Ortega 2

Resumo

A compreensão dos processos de formação dos transtornos mentais vem 1 Universidade Federal Rural Correspondência
do Rio de Janeiro, Seropédica, L. R. Freitas-Silva
se mostrando desafiadora desde a fundação do campo psiquiátrico. O de- Brasil. Universidade Federal Rural
senvolvimento das neurociências proporcionou novo fôlego à expectativa 2 Instituto de Medicina Social, do Rio de Janeiro.
Universidade do Estado do BR-465, Km 7, Seropédica, RJ
de encontrar estritamente no funcionamento biológico a explicação para Rio de Janeiro, 23897-000, Brasil.
o surgimento dos transtornos mentais. No entanto, tal objetivo não vem Rio de Janeiro, Brasil. lunarodrigues@yahoo.com.br
sendo alcançado com a esperada facilidade, de modo que novas hipóteses
começam a se destacar nas pesquisas neurocientíficas. Neste artigo, iden-
tificamos as noções de epigenética, neurodesenvolvimento e plasticidade
como os principais indicativos de um novo modo de compreender a bio-
logia dos fenômenos mentais. A complexidade genética, o papel formativo
do ambiente e as variações que caracterizam a vulnerabilidade implicam
importantes modificações nas principais teses sobre a determinação bio-
lógica dos transtornos mentais, sugerindo uma reconfiguração dos limites
entre o “social” e o “biológico” nas pesquisas em neurociências.

Psiquiatria Biológica; Neurociências; Saúde Mental

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00168115 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00168115, ago, 2016


2 Freitas-Silva LR, Ortega F

Introdução (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Di-


sorders), em 1980, é entendida como um marco
A compreensão dos processos de formação dos do processo de transformação da psiquiatria e,
transtornos mentais vem se mostrando desafia- principalmente, da mudança na fundamentação
dora desde a fundação do campo psiquiátrico. conceitual que servia de alicerce para o conheci-
A busca por determinantes somáticos, que pu- mento e a prática psiquiátrica. Ainda que o DSM-
dessem caracterizar em termos biológicos tais III tenha sido elaborado com base em uma su-
fenômenos, conferindo legitimidade não somen- posta neutralidade objetiva, exatamente em con-
te às categorias patológicas, mas consequente- traposição ao excesso de teoria psicodinâmica
mente à própria psiquiatria, esteve presente co- que teria predominado nas versões anteriores,
mo objetivo em diversos momentos da história as descrições objetivas e universais do manual
da disciplina 1,2. O esclarecimento da etiologia representaram mais um passo em direção à pre-
dos transtornos mentais seria, idealmente, uma valência de uma compreensão organicista dos
etapa fundamental para a elaboração de práti- transtornos no campo da saúde mental 9. Desse
cas diagnósticas, terapêuticas e preventivas mais modo, a orientação sintomatológica do DSM-III
eficazes. No entanto, a despeito dos esforços em- contribuiu para consolidar a visão biológica das
preendidos, das diversas teses elaboradas e das doenças mentais e, assim, enfatizar os discursos
disputas que mobilizam o campo, seguimos co- neurocientíficos e as estratégias psicofarmacoló-
nhecendo muito pouco sobre os caminhos que gicas como formas científicas e válidas de expli-
conduzem à formação das doenças. cação e tratamento das doenças.
Nas últimas décadas, observamos a ascen- A defesa das hipóteses biológicas sobre a de-
dência das hipóteses biológicas sobre a forma- terminação dos transtornos mentais foi acom-
ção dos transtornos. A partir dos anos 1970, no panhada pelo enfraquecimento dos demais dis-
contexto da chamada “segunda psiquiatria bio- cursos dirigidos ao entendimento da patologia
lógica” 1, as investigações destinadas a identificar mental. Até então, predominavam no campo
possíveis determinantes orgânicos e a elabora- psiquiátrico explicações psicológicas e ambien-
ção de uma classificação diagnóstica objetiva das talistas sobre a formação dos transtornos, com
patologias mentais passaram a predominar no pouca ou nenhuma referência aos determinan-
cenário psiquiátrico. Com os avanços proporcio- tes biológicos. A psicanálise, a psiquiatria social
nados pelas tecnologias de pesquisa médica, es- e demais teorias psicológicas e sociológicas que
pecialmente aqueles conquistados no campo das vigoraram como referência primordial para a
pesquisas genéticas, e o surgimento de diversas explicação da doença mental até os anos 1980
possibilidades de investigação do cérebro, uma foram intensamente questionadas a partir da
verdadeira revolução no que se refere ao entendi- ascensão das primeiras teorias neurocientíficas.
mento dos transtornos mentais estaria em curso. No entanto, importa destacar que, no contexto
Nesse contexto, as neurociências ocupariam de elaboração do conhecimento médico-psi-
um papel central no campo da saúde mental, co- quiátrico da segunda metade do século XX, am-
mo fonte de conhecimento válido, científico e bas as vertentes de explicação do adoecimen-
objetivo, capaz de revelar os nexos causais que to mental apresentavam-se como justificativas
conduzem à formação dos transtornos mentais. únicas e antagônicas, desfavorecendo qualquer
As pesquisas em neurociências tinham como um possibilidade de compreensão que articulasse
de seus principais objetivos encontrar a determi- de forma complementar os campos biológico
nação biológica dos mais variados fenômenos, e psicossocial.
entre os quais, os transtornos mentais. Com o Desse modo, o predomínio de um modelo
desenvolvimento das pesquisas, as patologias biológico de explicação dos transtornos mentais
mentais passam a ser entendidas e investigadas tenderia a influenciar significativamente as pos-
como transtornos neurológicos 3,4,5,6,7,8, e a he- sibilidades terapêuticas ofertadas na atenção à
rança genética e a fisiologia cerebral são tomadas saúde mental, privilegiando intervenções medi-
como cerne das doenças. Segue-se a isso um pe- camentosas e objetivas, e esvaziando as demais
ríodo de intenso investimento em investigações possibilidades de cuidado. O alcance da chama-
sobre a genética dos transtornos mentais, que da remedicalização da psiquiatria e da ascensão
buscavam identificar o gene responsável por ca- do conhecimento neurocientífico não se limitou
da transtorno e sobre o funcionamento cerebral, ao campo da saúde mental, mas foi difundido
buscando correlacioná-lo a sinais e sintomas amplamente no imaginário cultural, tonando-se
de doenças. referência para explicar os mais variados fenô-
No âmbito da classificação diagnóstica, a pu- menos humanos, justificar condutas, fundamen-
blicação da terceira versão do Manual Diagnós- tar argumentos políticos e servir como suporte
tico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM para narrativas pessoais 6,8.

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No entanto, a despeito do relevante impacto terminado transtorno mental tornou-se factível.


técnico, social e subjetivo das explicações bioló- No bojo do projeto de mapeamento do genoma
gicas mais objetivas e diretas sobre os fenômenos humano, pretendia-se analisar a arquitetura ge-
mentais, novas hipóteses vêm se destacando no nética do corpo humano de modo a identificar
campo da pesquisa biomédica. Para as patolo- os nexos causais entre a herança genética e o sur-
gias ditas complexas, como a grande maioria gimento de doenças, propiciando a construção
das doenças crônicas, e para as que envolvem de intervenções terapêuticas e preventivas mais
distúrbios comportamentais, como os transtor- eficazes. Nesse contexto, diversas pesquisas de-
nos mentais, as hipóteses deterministas mais dicaram-se a buscar o gene responsável pelo sur-
simples vêm se mostrando insuficientes. Gra- gimento da esquizofrenia, do transtorno bipolar,
dativamente, a partir dos anos 2000, começou a do autismo etc.
se construir a percepção de que os processos de No entanto, tal resultado, que equivaleria a
saúde-doença não podem ser adequadamente finalmente revelar a fundamentação biológica
descritos com base em modelos lineares, funda- dos transtornos mentais, não foi alcançado. Os
mentados em uma causalidade unidirecional e resultados apresentados com base nas primei-
na lógica da previsibilidade. Trata-se de um pro- ras pesquisas genéticas dos transtornos mentais
cesso de modificação dos modelos de conheci- não revelaram relações significativas entre os ge-
mento biomédico que caracterizaram o entendi- nes e as doenças investigadas 19. Tais pesquisas
mento das doenças ao longo de todo o século XX analisavam o material genético de famílias de
e que tendem a ser superados a partir do século portadores de transtorno mental em busca do
XXI 10,11,12,13,14. gene determinante da doença. Sem resultados
No campo neurocientífico, notamos uma conclusivos, as amostras foram continuamen-
transformação semelhante. Nesse contexto, ob- te expandidas para reunir centenas de famílias,
serva-se o surgimento de modelos de investi- adotando a mesma estratégia de buscar um de-
gação nos quais a biologia não é tomada como terminado gene que pudesse ser identificado co-
linear ou unidirecional 6,15,16,17,18. Em contrapo- mo causa da doença. Algumas associações sig-
sição às primeiras afirmações e ambições que vi- nificativas foram encontradas nessas pesquisas;
goraram durante um bom período no campo, no- no entanto, não puderam ser confirmadas em
vas hipóteses têm aparecido tanto nas pesquisas estudos posteriores, levando à controvérsia em
genéticas como nas pesquisas sobre a neurofisio- relação ao seu significado e à possibilidade de
logia dos transtornos, sinalizando a emergência identificação de marcadores genéticos diretos
de um modo mais complexo de compreender dos transtornos mentais.
a determinação biológica, cujas consequências Uma vez que as poucas associações encon-
para o campo da saúde mental podem vir a ser tradas nesses estudos não foram replicas em tra-
significativas. Baseando-se nas noções de epi- balhos posteriores, os seus resultados começa-
genética, neurodesenvolvimento e plasticidade, ram a ser ressignificados pelos pesquisadores da
que identificamos como os principais operado- área 20. A principal hipótese elaborada para jus-
res conceituais desse novo modelo, apresenta- tificar a dificuldade de replicação dos resultados
remos hipóteses e argumentos presentes nas in- positivos diz respeito à participação limitada do
vestigações em neurociências e psiquiatria que, respectivo gene na determinação do transtorno,
em conjunto, indicam uma importante modifi- ou seja, o marcador biológico contribui para a
cação nas principais teses sobre a determinação formação da doença, mas não é capaz de res-
biológica dos transtornos mentais. ponder exclusivamente pela sua etiologia, tendo
um efeito final restrito na determinação da pa-
tologia. Trata-se de um modo de compreender
Herança genética e ambiente a herança genética que se distancia da hipótese
“gene para o transtorno X” e de mecanismos ge-
A identificação de um gene ou de um conjunto néticos simples, apontando para a complexida-
de genes como a fonte originária de um processo de genética e para a etiologia multifatorial dos
mental patológico esteve entre uma das princi- transtornos mentais.
pais ambições da psiquiatria biológica. Duran- Paralelamente à mudança no modo de com-
te décadas, cogitou-se que o desconhecimento preender a limitação dos achados das pesquisas
acerca da etiologia dos transtornos seria supera- genéticas, novas hipóteses começaram a ser ela-
do com o avanço tecnológico e as possibilidades boradas. Se os mecanismos genéticos simples
de pesquisa dele decorrentes. A partir do desen- não podem ser verificados no caso dos transtor-
volvimento de técnicas avançadas de pesquisa nos mentais, qual seria a participação da herança
genética, a possibilidade de encontrar o eventual genética na formação da doença? Como investi-
gene responsável pelo desenvolvimento de de- gar a contribuição da nossa estrutura biológica

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mais primordial a uma etiologia que se supõe ciais aconteceram em outras áreas, como a bio-
multifatorial? Foi nesse contexto que a noção de logia do desenvolvimento, o estudo do câncer e
epigenética foi introduzida no campo psiquiá- de outras patologias crônicas. As primeiras evi-
trico, mostrando-se útil tanto como hipótese de dências dos mecanismos epigenéticos resulta-
pesquisa quanto como argumento que justifica a ram de estudos realizados com camundongos e
decepção dos estudos de viés mais determinista compreendiam a influência da dieta materna na
em genética psiquiátrica. formação de fenótipos adultos dos descenden-
Em artigos de revisão, os mecanismos epi- tes. Em artigo de 2003, pela primeira vez, uma
genéticos são apresentados como a via de inte- variação ambiental foi associada a modificações
ração entre o genoma e o ambiente, explicando epigenéticas surgidas na primeira semana de vi-
em termos biológicos o modo como se conjugam da. Nesse caso, a dieta materna enriquecida com
as influências oriundas do meio externo e a car- determinadas substâncias durante a gravidez de
ga genética dos indivíduos 21,22,23,24,25,26,27,28,29. camundongos produziu modificações perma-
Assim, “os mecanismos epigenéticos oferecem nentes na coloração dos pelos dos filhotes 23.
um link plausível entre o ambiente e alterações Essa observação marcou os estudos sobre o pa-
na expressão genética que podem conduzir aos pel das modificações epigenéticas e ambientais
fenótipos de doença” 23 (p. 253). Essa conjugação durante períodos iniciais do desenvolvimento e
teria como principal consequência a produção suas consequências para a etiologia das doenças
de variações no risco de cada indivíduo para o na vida adulta 22,23.
desenvolvimento de transtornos mentais, po- No campo neurocientífico, o estudo de fe-
dendo conduzir ao aumento da vulnerabilidade nômenos epigenéticos vem acontecendo em
à doença ou, inversamente, a uma maior resiliên- grande medida por meio do uso de modelos ani-
cia, que desfavorece o surgimento da patologia. mais. A despeito das dificuldades envolvidas na
Em termos biológicos, a epigenética corres- realização de estudos com humanos, a combi-
ponde à alteração na expressão de um gene, ou nação de pesquisas epidemiológicas e genéticas
seja, a uma modificação dos efeitos produzidos tem gerado informações importantes, como, por
no organismo a partir da ativação desse gene. Os exemplo, a associação entre desnutrição e uma
efeitos dizem respeito à produção de proteínas a maior vulnerabilidade à esquizofrenia. O estudo
partir das informações específicas contidas em dos sobreviventes da chamada “Dutch Hunger
cada segmento do DNA, produção esta que será Winter” (1944-1945), que foram expostos à pri-
responsável pelos efeitos metabólicos gerados vação de alimento no período pré-natal, revelou
no organismo e, consequentemente, pela for- um risco aumentado para esquizofrenia. Ocorri-
mação dos fenótipos. A ativação ou inativação da no final da II Guerra Mundial, devido ao corte
de um gene é um fenômeno corriqueiro no de- no suprimento de alimentos pelos nazistas, a ex-
senvolvimento, por meio do qual as células se posição de mais de quatro milhões de holande-
diferenciam durante o processo embrionário e, ses à fome teve graves consequências – estima-se
em consequência, adquirem características es- que milhares morreram devido à desnutrição, e
pecíficas em cada tecido e órgão do corpo 21. que outros milhares sofreram efeitos posteriores.
No caso dos mecanismos epigenéticos, a Entre os efeitos identificados, alterações especí-
alteração seria resultado não de processos in- ficas no gene IGF2, que fornece instruções para
ternos ao próprio organismo, mas da ação de a produção de uma proteína essencial no de-
agentes externos, oriundos do ambiente, sobre o senvolvimento pré-natal, foram associadas à es-
funcionamento celular. As influências externas quizofrenia e interpretadas pelos pesquisadores
agiriam permitindo ou impedindo a expressão como um exemplo de mecanismo epigenético 30.
de um determinado gene, além de regularem a Os fatores ambientais capazes de gerar es-
intensidade com que ocorre a expressão. Desse se tipo de efeito e que vêm sendo investigados
modo, o ambiente atuaria como um filtro, que nas pesquisas do campo variam desde fatores
permite a ativação e o funcionamento de um ou nutricionais e químicos, como a dieta materna
de determinados conjuntos de genes ou, de for- durante a gravidez e a contaminação por vírus e
ma inversa, age de forma que um gene ou con- substâncias tóxicas, até fatores ambientais mais
junto de genes fique inativo, alterando os efeitos relacionais, como o nível de cuidados maternos
moleculares que seriam produzidos a partir des- e a exposição ao estresse em períodos precoces
ta parcela do DNA e, consequentemente, a ex- da vida 28,31. Como observam Bale et al. 31, muitos
pressão de determinado fragmento da herança desses fatores vêm sendo estudados como causa,
genética 26,27,28,29. elemento precipitador ou colaborador na forma-
A hipótese epigenética não vem sendo explo- ção dos transtornos mentais há mais de um sécu-
rada apenas no campo da psiquiatria. Pelo con- lo. No entanto, a intenção das pesquisas atuais é
trário, seu surgimento e desenvolvimento ini- compreender o impacto que tais fatores podem

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exercer no funcionamento biológico do organis- para a multiplicidade de conexões e a indeter-


mo, ou seja, que tipo de consequência molecular, minação subjacente aos processos de desenvol-
mais precisamente epigenética, tais fatores po- vimento e funcionamento cerebral 6,32. Nesse
dem desencadear. contexto, os transtornos mentais – definidos
Um aspecto novo e bastante importante do como transtornos do neurodesenvolvimento –
controle epigenético está surgindo com base em são entendidos como o estado final de uma série
estudos recentes dos mecanismos moleculares de processos anormais de desenvolvimento do
no sistema nervoso central: a presença de fenô- cérebro, que tem início anos antes do estabe-
menos epigenéticos no cérebro adulto, maduro, lecimento da patologia propriamente dita. Tais
e não apenas nos recém-nascidos 25,29. Segun- processos, presentes em momentos cruciais do
do estudos recentes, mecanismos epigenéticos desenvolvimento do indivíduo, conduziriam a
desempenhariam um papel crítico na regulação modificações funcionais, como déficits cogniti-
das funções neurais também no cérebro adulto, vos, alterações comportamentais, dificuldades
de forma que as influências ambientais sobre a de aprendizagem, entre outros, que contribuem
ação e expressão da carga genética permane- para o aumento da vulnerabilidade à doença e
ceriam em andamento ao longo da vida. Essa indicam a possibilidade de seu aparecimento fu-
suposição representa a tentativa de entender, turo 22,23,28,29,30,33,34,35.
baseando-se em pesquisas moleculares, como O entendimento dos transtornos mentais co-
a célula neuronal pode ter dois mecanismos mo transtornos do neurodesenvolvimento vem
aparentemente opostos: a capacidade de man- sendo valorizado como forma de explicar o cará-
ter modificações estáveis (a memória celular) ter crônico e progressivo das patologias mentais.
e a capacidade de exibir modificações de curto Uma vez que os transtornos psiquiátricos, em
prazo (a plasticidade neuronal) 24. Tal suposição sua maioria, se desenvolvem lentamente e, uma
confere ainda maior abertura à determinação vez instalados, frequentemente têm um curso
genética entendida como herança biológica do duradouro e incapacitante, caracterizando-se
indivíduo, estendendo a períodos posteriores da como doenças crônicas, o conceito de desen-
vida a intensa interação entre genes e ambien- volvimento seria especialmente útil para com-
te presumida como característica dos períodos preendê-los 26. A perspectiva do neurodesenvol-
mais precoces do desenvolvimento. vimento parece ser fértil por considerar a con-
Portanto, com a noção de epigenética, a am- tinuidade dos fenômenos patológicos mentais,
bição de compreender a interação entre fatores buscando os meios de conexão entre os acon-
ambientais e disposição genética não só avan- tecimentos experimentados na infância e ado-
çaria para um novo nível de entendimento, dos lescência e a patologia adulta, em consonância
mecanismos moleculares de funcionamento do com os resultados de estudos epidemiológicos e
cérebro, mas também ganharia novos contornos, muitas das intuições de clínicos e pesquisadores
uma vez que a interação ocorre de forma que não da área 23,28,29,35.
garante o surgimento da doença, mas resulta em A tese geral no campo considera que a vulne-
variações probabilísticas e individualizadas para rabilidade aos transtornos psiquiátricos surge a
a formação patológica. Dessa forma, o modelo partir da exposição a fatores ambientais durante
epigenético oferece uma explicação geral para períodos críticos de desenvolvimento do cérebro.
a construção gradativa da vulnerabilidade, que Os desafios seriam compreender os efeitos bioló-
tem início com a exposição a fatores ambientais gicos que as experiências adversas mais precoces
prejudiciais em períodos precoces do desenvol- causam no organismo, e explicar de que forma
vimento, passa pela modificação da expressão tais efeitos acabam por conduzir às diferenças
genética em função desta exposição, e chega a al- de vulnerabilidade à doença em períodos pos-
terações na fisiologia celular e no funcionamen- teriores da vida. Desse modo, na perspectiva do
to do organismo que conferem risco aumentado neurodesenvolvimento, interessa compreender
para a formação da doença. o papel do ambiente nos processos cerebrais que
se desenvolvem lentamente e causam modifica-
ções duradouras nos circuitos cerebrais, culmi-
O cérebro em desenvolvimento nando na formação de transtornos.
A hipótese epigenética surge aqui como prin-
No campo neurocientífico, a noção de epige- cipal aposta dos pesquisadores para explicar co-
nética está atrelada às noções de neurodesen- mo os efeitos ambientais alteram o desenvolvi-
volvimento e plasticicidade cerebral. Diferente- mento e imprimem marcas químicas no cérebro,
mente da caracterização do cérebro como um influenciando a saúde individual. Como afirmam
processador de informações isolado, oriunda Murgatroyd & Spengler 35 (p. 4): “as mudanças
das ciências cognitivas, o modelo atual aponta epigenéticas oferecem um mecanismo plausível

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por meio do qual as experiências precoces pode- serem separados da mãe biológica e criados por
riam ser integradas ao genoma para programar as outra efetivamente “cuidadosa”, exibiram trans-
respostas hormonais e comportamentais do adul- formações biológicas ajustadas ao padrão de cui-
to”. Como se trata de mecanismos cujos efeitos dados da mãe adotiva, transformações estas que
são relativamente estáveis, uma vez que as mo- se mantiveram estáveis ao longo da vida adulta.
dificações no funcionamento molecular do cé- Desse modo, haveria uma associação entre
rebro são duradouras, a hipótese epigenética ex- a quantidade e a qualidade dos cuidados mater-
plicaria como a influência ambiental se mantém nos ofertados nos momentos iniciais da vida, o
presente e exerce efeitos em períodos posteriores desenvolvimento neuronal e as tendências de
da vida, quando o fator ambiental propriamente resposta a eventos estressores na vida adulta
dito não está mais atuando. 28,31,38,39,40,41,42. No entanto, apenas a identifica-

Diversos fatores ambientais relevantes no ção de fatores adversos não garante o entendi-
desenvolvimento dos transtornos mentais vêm mento de seu impacto e, principalmente, do tipo
sendo investigados, compreendendo, entre ou- de consequência que os mesmos podem ter. No
tros, a experiência de estresse e a dieta materna caso do estresse, estudos indicam que o tipo de
durante a gravidez e variações nos cuidados ma- consequência que este fator ambiental especí-
ternos nas primeiras semanas de vida 28,29,31. Tais fico pode ter no curso da vida do individuo (ou
fatores exerceriam impacto especialmente nos organismo, visto que boa parte das pesquisas
chamados “períodos críticos do desenvolvimen- é realizada com modelos animais) não neces-
to”, no qual o sistema nervoso central tem maior sariamente conduz à formação de transtornos,
flexibilidade para mudança, tanto anatômica co- mas gera respostas diversas. Assim, a exposição
mo funcional. precoce a um estresse modesto pode gerar resi-
No caso do risco pós-natal, importa inves- liência, enquanto a exposição a estresse severo
tigar as consequências de longo prazo das ex- ou crônico pode desencadear mecanismos que
periências ambientais adversas mais precoces. contribuem para a vulnerabilidade aos transtor-
Baseando-se nessas pesquisas, observa-se um nos mentais 28,31,38.
interesse renovado pela influência dos cuidados Portanto, a qualidade do fator ambiental po-
maternos na transmissão de comportamentos, de modificar drasticamente o tipo de resposta
o que também seria explicado por meio de me- surgida. Como vimos, além da intensidade, a
canismos epigenéticos e de seus efeitos no de- temporalidade, ou seja, o período de vida duran-
senvolvimento neuronal 28,29,35,36. Murgatroyd & te o qual há contato com determinada influência
Spengler 35 citam o psiquiatra e psicanalista in- ambiental, também é variável e determinante
glês John Bowlby e a teoria do apego como a pri- para o tipo de consequência surgida. Ainda que
meira evidência de que a investigação dos pro- a neuroplasticidade se mantenha ao longo da vi-
cessos de vinculação a uma figura de cuidados é da, cada região do cérebro tem janelas críticas
fundamental para o entendimento das respostas de desenvolvimento que ocorrem em momentos
de ansiedade e estresse que estariam na base de específicos. Essa especificidade é considerada
diversos fenômenos psicopatológicos. Para os estratégica para os pesquisadores, uma vez que
autores, os comportamentos de apego podem a compreensão mais detalhada dos fenômenos
ser entendidos como um sistema biológico fun- nela envolvidos poderia dar ensejo a interven-
damental, com efeitos diretos sobre o desenvol- ções precoces, preventivas ou estimular o de-
vimento do cérebro. senvolvimento de instrumentos de diagnóstico e
O primeiro estudo neurocientífico a apre- terapias mais eficazes.
sentar evidência de modificações epigenéticas Além da temporalidade e da intensidade an-
no cérebro resultantes de variações nos cuidados tes citadas, outra importante característica do
maternos foi publicado na Nature Neuroscience funcionamento cerebral e epigenético diz res-
em 2004 e, desde então, vem sendo maciçamente peito à flexibilidade dos processos aqui aborda-
citado. A pesquisa de Weaver et al. 37, realizada dos. Dudley et al. 28 revisaram estudos nos quais
com roedores, mostrou que o aumento dos cui- foi observado que o estresse pré-natal, que teria
dados maternos na primeira semana de vida – efeitos negativos sobre o desenvolvimento sub-
no caso, amamentar, lamber e carregar o filhote sequente, pode ser efetivamente compensado
– produziu alterações na metilação do DNA no por cuidados maternos adequados no período
hipocampo dos descendentes. Essas alterações pós-natal. Esse chamado “enriquecimento am-
resultaram em respostas diferenciadas ao estres- biental” foi observado em diversas pesquisas,
se e se mostraram estáveis ao longo do desen- todas realizadas com roedores, confirmando os
volvimento, influenciando os padrões compor- primeiros resultados apresentados por Weaver et
tamentais exibidos posteriormente. Além disso, al. 37. Na mesma direção, foi observado que após
os filhotes das roedoras pouco “cuidadosas”, ao um período de separação materna prolongado,

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a partir do qual foi gerada uma resposta pato- tigadas, baseadas no determinismo biológico di-
lógica de estresse, a colocação dos animais em reto passam, gradativamente, a ser substituídas
um ambiente enriquecido de cuidados é capaz por hipóteses mais complexas sobre a formação
de anular os efeitos anteriormente constituídos. das doenças. Com exceção da investigação das
Ainda que a maioria das pesquisas em epi- patologias genéticas simples, que são determina-
genética e neurodesenvolvimento seja realizada das por alterações exclusivas em um único gene,
por meio de modelos animais, alguns estudos as pesquisas baseadas no modelo científico do
vêm buscando investigar tais fenômenos em mecanicismo biológico não trouxeram os resul-
humanos. De fato, a tradução dos achados ve- tados empíricos esperados. Consequentemente,
rificados nas pesquisas com modelos animais a esperança de encontrar exclusivamente no có-
para pesquisas com humanos constitui um im- digo genético humano o fundamento etiológico
portante desafio no campo neurocientífico. Os das principais doenças que nos acometem vem
resultados apresentados por McGowan et al. 43, se dissipando.
em 2009, traduziram, pela primeira vez, as evi- De modo semelhante, no escopo de investi-
dências de modificações genéticas em função gações neurocientíficas recentes, o objetivo de
de variações ambientais encontradas no estudo encontrar marcadores biológicos diretos, que
de Weaver. Originada no mesmo laboratório, a pudessem ser identificados como causa dos
pesquisa analisou tecido cerebral humano, utili- transtornos mentais, não vem sendo alcançado
zando material do Quebec Suicide Brain Bank, e com a esperada facilidade. É nesse contexto de
comparou três grupos: de indivíduos que come- decepção, reformulação e novos investimentos
teram suicídio e tiveram histórico de abuso na que a noção de vulnerabilidade começa a apare-
infância; de indivíduos que cometeram suicídio, cer e se destacar nas pesquisas em neurociências
sem o histórico de abuso; e um grupo controle, e psiquiatria. Uma vez que as evidências cientí-
de indivíduos que tiveram outra causa de morte ficas encontradas nas pesquisas do campo não
que não o suicídio. Os resultados apontaram al- têm sustentado a ambição reducionista, mas
terações genéticas no hipocampo dos sujeitos do apontam para uma grande variabilidade de fa-
primeiro grupo, consistentes com os achados das tores de risco e para diferentes graus de vulnera-
pesquisas com roedores, indicando que o fator bilidade possíveis, as interpretações encontradas
ambiental seria responsável pela variação 43. nos artigos descrevem uma etiologia complexa,
Diversas outras pesquisas vêm sendo elabo- que resiste a tentativas de simplificação e pre-
radas com o intuito de investigar as situações de visibilidade. Assim, as noções de epigenética e
trauma, abuso e abandono infantil como fatores neurodesenvolvimento são combinadas em uma
de risco para o desenvolvimento de transtornos descrição dos transtornos mentais que, ainda
mentais 44,45. Mais uma vez, a suposição é de que que localize o cerne da experiência patológica
tais eventos exerçam efeitos biológicos no nível no funcionamento biológico, é menos determi-
molecular capazes de alterar o desenvolvimento nista e mais probabilística do que esperavam
do cérebro, influenciar as respostas comporta- seus idealizadores.
mentais às situações estressoras experimentadas Na investigação da determinação biológica
ao longo da vida e, assim, aumentar a probabili- dos transtornos, como vimos, as pesquisas da
dade de formação de transtornos mentais 29,31. chamada psiquiatria biológica localizam como
No entanto, antes de serem apontados como núcleos de explicação da doença dois elemen-
determinantes, causa direta ou responsáveis pe- tos fundamentais: a herança genética e o fun-
la formação dos transtornos, tais eventos estão cionamento cerebral. Entretanto, não obstante
sendo investigados como elementos importan- a manutenção da centralidade da herança ge-
tes, mas componentes de uma cadeia etiológica nética e do funcionamento cerebral, um terceiro
complexa, altamente individualizada e aberta à elemento vem sendo retomado e volta a compor
mudança. a trajetória patológica, desempenhando um pa-
pel importante nos caminhos que conduzem à
formação da doença. O ambiente, que em ou-
Considerações sobre o determinismo tros momentos do conhecimento psiquiátrico
biológico e seu impacto no campo foi alçado à origem da causalidade da doença,
da saúde mental e que no projeto neurocientífico original seria
considerado menos relevante, volta a despertar
A produção contemporânea do conhecimento interesse e a aparecer com relativo destaque nas
biomédico vem promovendo o redirecionamen- pesquisas em genética psiquiátrica e desenvolvi-
to das principais hipóteses investigadas e a alte- mento neuronal.
ração dos modelos etiológicos adotados na expli- Tal fato, longe de ser trivial, vem sendo inter-
cação das doenças. As primeiras hipóteses inves- pretado como uma mudança paradigmática nos

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8 Freitas-Silva LR, Ortega F

modos como o “biológico” e o “social” são en- tégias preventivas e alvos para intervenção 28,29.
tendidos nas ciências da vida 11,32,46. A apresen- Com o conhecimento da temporalidade dos
tação do genoma e do cérebro não como dados principais eventos, seria possível vislumbrar um
biológicos imutáveis, mas respondendo de forma importante espaço para intervenções precoces,
plástica às solicitações, variações e adversidades cujo foco primordial seria o período inicial da
do ambiente levaram Meloni 32,46 a argumentar a vida. Além desse período e das experiências que
favor de uma virada social nas ciências da vida. comumente o caracterizam, a continuidade da
O fundamental nessa mudança estaria no mo- interação entre a herança genética e os fatores
do como o ambiente é tematizado nos referidos ambientais ao longo da vida estenderia a perío-
estudos; como fator que instrui, é formativo, não dos posteriores as possibilidades de mudança e,
apenas como o que permite uma expressão bio- consequentemente, de intervenção.
lógica previamente determinada. Não preten- Enquanto os autores do campo valorizam
dendo esgotar a discussão, que certamente ultra- as possibilidades de ampliação da intervenção
passa as possibilidades deste trabalho, sinaliza- psiquiátrica como aumento da oferta de assis-
mos que a abertura da biologia para o ambiente tência, muitos entendem a busca por alvos pre-
necessariamente remete à dimensão social, uma ventivos como oportunidade para o surgimento
vez que não é concebível falar em ambiente sem de intervenções apressadas, estigmatizadoras e
considerar a linguagem, as relações intersubjeti- ineficazes. As suposições de que com o conheci-
vas, a história e a cultura que o permeiam. mento emergente será possível criar novos ins-
Essa mudança no conhecimento biológico, trumentos de diagnóstico precoce, identificando
mais especificamente, nas neurociências e psi- com antecedência os indivíduos propensos a
quiatria, pode gerar consequências importan- adoecer na idade adulta 23 ou revelar novos alvos
tes para as definições de doença, para os limites para as intervenções farmacêuticas, ao mesmo
que discriminam características psicopatológi- tempo em que se aprimoram os medicamentos
cas herdadas ou adquiridas e para a construção atualmente disponíveis 26, apontam para antigas
de formas inovadoras de diagnosticar, tratar e tendências de expansão da ação psiquiátrica e,
prevenir os transtornos mentais. Por um lado, em consequência, de medicalização de variações
entendemos que uma compreensão menos de- comportamentais e emocionais corriqueiras,
terminista da herança biológica pode promover além de responderem aos interesses econômicos
leituras dos fenômenos mentais mais abertas às das indústrias farmacêuticas 6,47.
múltiplas possibilidades de existência inerentes O reconhecimento da complexidade biológi-
à experiência humana, portanto mais sensíveis à ca, presente nos artigos de genética psiquiátrica
individualidade e à singularidade. No campo da e desenvolvimento neuronal, não garante os usos
saúde mental, tal perspectiva pode representar que podem vir a ser feitos deste conhecimento,
um entendimento menos rígido das fragilidades, tampouco impede a reformulação de antigas
impossibilidades e diferenças dos indivíduos, intervenções psiquiátricas ou a permanência de
privilegiando o investimento no cuidado e de- interesses alheios ao cuidado em saúde mental.
sestimulando práticas estigmatizadoras. Indo além, o conhecimento neurocientífico pode
No entanto, o modo inovador como a va- permanecer sendo apresentado retoricamente
riação do funcionamento biológico vem sendo na arena pública como capaz de oferecer respos-
apresentada nos artigos do campo não deixa de tas objetivas e precisas, descrevendo processos
vir acompanhado de novas tentativas de padroni- previsíveis, estáveis e pré-determinados. No en-
zação, previsibilidade e controle. Nessa direção, tanto, a leitura atenta das principais teses recen-
imagina-se que a natureza dinâmica e potencial- tes em neurociências e psiquiatria mostra que a
mente reversível dos mecanismos da epigênese biologia vem se revelando muito menos determi-
e do neurodesenvolvimento seria especialmente nista do que o suposto no campo científico.
promissora para a identificação de novas estra-

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DETERMINAÇÃO BIOLÓGICA DOS TRANSTORNOS MENTAIS 9

Colaboradores Agradecimentos

L. R. Freitas-Silva participou da concepção, análise do Agradecemos a contribuição do parecerista.


material, redação e revisão do artigo. F. Ortega partici-
pou da concepção e da revisão do artigo.

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DETERMINAÇÃO BIOLÓGICA DOS TRANSTORNOS MENTAIS 11

Abstract Resumen

Understanding the processes involved in the develop- La comprensión de los procesos de formación de los
ment of mental disorders has proven challenging ever trastornos mentales ha representado un desafio desde
since psychiatry was founded as a field. Neuroscience que nació el campo de la psiquiatria. El desarrollo de
has provided new expectations that an explanation las neurociencias proporcionó un nuevo aliento a la
will be found for the development of mental disor- expectativa de encontrar, estrictamente en el funcio-
ders based on biological functioning alone. However, namiento biológico, la explicación para el surgimiento
such a goal has not been that easy to achieve, and new de los trastornos mentales. No obstante, tal objetivo no
hypotheses have begun to appear in neuroscience re- se alcanza con la esperada facilidad, de modo que nue-
search. In this article we identify epigenetics, neuro- vas hipótesis comienzan a destacarse en las investiga-
development, and plasticity as the principal avenues ciones neurocientíficas. En este artículo, identificamos
for a new understanding of the biology of mental las nociones de epigenética, neurodesarrollo y plasti-
phenomena. Genetic complexity, the environment’s cidad como los principales indicativos de un nuevo
formative role, and variations in vulnerability involve modo de comprender la biología de los fenómenos
important changes in the principal hypotheses on bio- mentales. La complejidad genética, el papel formativo
logical determination of mental disorders, suggesting del ambiente y las variaciones que caracterizan la vul-
a reconfiguration of the limits between the “social” and nerabilidad implican importantes modificaciones en
the “biological” in neuroscience research. las principales tesis sobre la determinación biológica
de los trastornos mentales, sugiriendo una reconfigu-
Biological Psychiatry; Neurosciences; Mental Health ración de los límites entre lo “social” y lo “biológico” en
las investigaciones en neurociencias.

Psiquiatría Biológica; Neurociencias; Salud Mental

Recebido em 13/Out/2015
Versão final reapresentada em 03/Mai/2016
Aprovado em 19/Mai/2016

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