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Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 34
Bem-vindos à 34ª aula de nossa Escola Tomista. Estamos no Tratado das
Categorias ou Predicamentos II.
Pois bem, não basta, insista-se no assunto, que a ratio dos unívocos
tenha alguma identidade, senão que tem de ser uma identidade total, perfeita e
cabal. Isso é assim porque o unívoco se distingue do equívoco – ainda não o
equívoco absoluto, simpliciter, mas o equívoco secundum quid ou análogo –
então repita-se: o unívoco distingue-se do equívoco assim como perfeito se
distingue do imperfeito. O unívoco, a univocidade é uma perfeição e a
equivocidade, incluindo a analogia, é certa imperfeição. E, enquanto o mal
pode ser de várias maneiras, de diversas maneiras – já vimos no caso aqui em
questão, o equívoco pode ser simpliciter, absoluto, ou secundum quid ou
análogo – o bom não: o bom só pode ser de uma maneira.
Muito bem, em geral isto não é, na língua, uma coisa que eu aprendi logo,
que nada é cem por cento quando se afirma uma coisa dessa, né? Mil
variações, mil exceções, etc. e tal, mas, de uma maneira geral, assim é:
etimologicamente nasce primeiro o concreto para depois dar-se o abstrato.
bem, cada uma dessas terminações, por exemplo rosam, em vez de rosa,
rosam, este “am” final indica que se trata de acusativo ou objeto direto. Claro,
muitas vezes o acusativo não corresponde ao objeto direto português, mas isso
é outro assunto. Isso é para uma aula de latim. Mas, para que se entenda, esse
“am” – rosam – deriva de rosa e, enquanto rosa é o nominativo, rosam é o
acusativo. Rosæ – rosae – rosæ é o genitivo, por exemplo. Da rosa. Pois bem,
isto é o denominante rosa declinado – isto nas línguas declináveis – mas vale
também quando digo, quando falo de transfiguração para as nossas
terminações. Tá certo? Por exemplo: as terminações de feminino e masculino,
por exemplo.
Tudo aquilo que entra nos predicamentos, tudo aquilo que cai nos
predicamentos ou é algo em si, ou está em um sujeito. Ou é algo em si e não
em um sujeito, ou é, ou está, ou se dá em um sujeito. Então repita-se: tudo
quanto cai, tudo quanto se encontra sob os predicamentos ou categorias que,
lembremos, dizemos as categorias de Aristóteles, mas não como se ele as
tivesse inventado, dizemos as categorias de Aristóteles porque ele as
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Pois bem, Aristóteles dá três condições para que as coisas possam dizer-
se em um sujeito, e na Física, no seu livro A Física – que relembro, cuja
tradução que fiz trabalhosíssima, será lançada em janeiro ou fevereiro junto
com meu livro Da necessidade da Física Geral aristotélico-tomista, será
lançada a tradução que eu fiz mais meu livro, vão ser lançados num só volume
pela É Realizações –, pois bem, na Física Aristóteles distingue oito modos de
ser em algo. Ele quer entender a primeira condição do que é ser em um sujeito.
Pois bem, ele distingue no livro da Física, ele distingue oito modos de ser
em algo. Vou arrolá-los. Primeiro modo: como a parte no todo, como a parte no
todo. Por exemplo, meu braço no todo. Meu braço está em algo que é o todo
que sou eu. O todo nas partes, porque, com efeito, o todo também está nas
partes. Eu estou nas minhas partes. Esse é o segundo. O terceiro é como a
espécie no gênero. Assim, cisne, homem, etc. estão no gênero animal, mas o
quarto modo é como o gênero na espécie, porque, com efeito, o gênero animal
está em suas espécies homem, cisne, cavalo, dromedário. O quinto como a
forma na matéria. O sexto como o efeito está em sua causa. O sétimo como
uma coisa está em seu fim e, finalmente, como o localizado está no lugar.
Naturalmente voltaremos a estudar estes oito modos ao estudarmos a Física
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Mas, na primeira condição dele, está que não se trate de parte, que não
sejam como partes. Pois bem, se assim é, estão excluídos os quatro primeiros
modos, ou seja, uma parte no todo, o todo na parte, como a espécie no gênero,
o gênero na espécie. Mas ele diz que, além de não ser como partes, ou seja,
estar em um sujeito, ele não pode ser separado daquilo em que é, ou seja,
estar em um sujeito implica que ele não pode ser separado daquilo em que ele
está. Se assim é excluem-se os três últimos dos oito modos, ou seja, o efeito
na causa, uma coisa em seu fim, e o localizado no lugar.
Resta, então, como a forma está na matéria. Mas aqui, vejam, como a
forma está na matéria é algo que só se entende na Física. Então estamos
longe dela ainda. Temos de traduzir como a forma está na matéria assim como
a forma acidental está no sujeito. Eu sou um sujeito. A forma acidental “branco”
está em mim. Então este é o único modo dos oito modos dados por Aristóteles
na Física que se leva em consideração ao tratar do ser em um sujeito. Certo?
Bom, então isto é... acabamos de falar da distinção real entre substancial
e acidental. Substancial sou eu; acidental são as formas acidentais que só
podem existir em mim, só podem dar-se em mim, só podem ser em mim.
Pois bem, vamos ver agora a distinção de razão – não real agora, é
importante, mas não é real, é de razão, nós é que entendemos essa distinção
na coisa que, no entanto, não é real – é a distinção de razão entre universal e
particular e é a isso que remete o dizer-se de um sujeito. Antes vimos o estar
ou ser ou dar-se em um sujeito, e isto corresponde à distinção real entre
substancial e acidental. Agora não. Temos o dizer-se de um sujeito que remete
a uma distinção de razão entre universal e particular.
Pois bem, tudo o que se encontra ou cai ou está nos predicamentos, sob
os predicamentos ou pode afirmar-se de um sujeito – e é então universal:
homem branco – ou não pode afirmar-se de um sujeito e é singular: preto ou
branco. Então, esta distinção entre universal e particular é a mesma distinção
aqui entre universal e singular, a coisa singular. Então, repita-se essa primeira
coisa que disse: tudo quanto cai sob os predicamentos ou pode predicar-se,
afirmar-se de um sujeito e é, então, universal – homem branco – ou não pode
afirmar-se ou predicar-se de um sujeito, ou dizer-se de um sujeito, e aí é
singular – Pedro, este branco. Carlos é singular. Este branco sou eu mesmo.
Este aqui: Carlos. Este é singular ou particular.
Muito bem. A distinção é de razão e por que é que se diz que a distinção
é de razão? Porque as coisas em si mesmas são singulares. Eu sou singular,
cada um de vocês é singular, a parede é singular, a mesa é singular. Elas são
só universais enquanto são consideradas pela razão. E o que faz a razão?
Abstrai do singular o particular. Isso já o vimos. A razão abstrai. Por isso é uma
distinção de razão, mas eu sou o singular.
Escreve Aristóteles nas Categorias, no livro: cada uma das coisas que se
dizem fora de toda combinação ou significam uma substância, ou um quanto,
ou um qual, ou um relação a algo, ou uma ubiquação ou onde, ou um quando,
ou um achar-se em algum lugar, ou um estar de certo modo, ou um fazer, ou
um padecer. É substância, para dizê-lo como exemplo, homem/cavalo, é
quanto de – o termo é antigo – de dois codos, de três codos (é certa medida) é
qual, ou seja, qualidade (branco/letrado), é correlação a algo
(dobro/metade/maior) é onde ou ubiquação (no liceu/na praça do mercado). É
quando (ontem/o ano passado). É situação (o achar-se situado/jazer/estar
sentado/estar deitado). É ter (vai calçado/vai armado). É fazer (cortar, ou seja,
ação, cortar/queimar). É padecer (ser cortado/ser queimado).
Pois bem, creio que posso dar por encerrada esta aula. Muito obrigado
pela atenção. Deixei o quarto antepredicamento que não é tão simples, as
regras de inclusão, para a próxima aula, mas saibam já que já na próxima aula
começaremos a estudar o primeiro dos predicamentos, o primeiro das
categorias que é a substância que, como antecipado, se divide em substância
primeira, ou seja, aquilo que entendemos até hoje como substância, aquilo que
é suporte de acidentes concretamente porque subsiste por si – eu, esta
substância singular aqui – ou a substância segunda que também, de que
também se pode predicar coisas, mas que, agora, é sinônimo de essência.