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Disciplina: Processo Civil

Transcrição: Aula 06
Professor: Fabrício Bastos

Vamos trabalhar agora o plano externo da congruência.

Nas anotações de vocês, coloquem duas setas para separar: uma primeira indicando o prisma
subjetivo, e uma segunda indicando o prisma objetivo. Vamos trabalhar aqui as repercussões da
decisão judicial, de que maneira a decisão judicial repercute no prisma subjetivo e no plano objetivo.

Começando no prisma subjetivo, abram no art. 506 do CPC:

Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.

Esse dispositivo traz a eficácia interpartes, chamada de res inter alios acta. Significa dizer, em outras
palavras, que a repercussão jurídica só atingirá aqueles que participam da relação jurídica
processual. A repercussão fática pode atingir quem não faz parte do processo; a repercussão
jurídica não, apenas quem participou da relação jurídica processual.

Repare que a parte final do art. 506 do CPC, que pode ser uma questão boa de prova objetiva.
Destaque o trecho “não prejudicando terceiros”. O CPC/15 adotou o chamado regime jurídico in
utilibus, ou seja, o resultado de um processo pode repercutir juridicamente na esfera de terceiros,
desde que seja para beneficiar.

Esse art. 506 do CPC corresponde ao art. 472 do CPC/73. Se você se ativer à literalidade do art. 472
do CPC/73, você vai entender o porquê que eu estou afirmando isso. No art. 472 do CPC/73, o
legislador dizia que o resultado do processo não iria prejudicar, nem beneficiar terceiros.

O art. 506 do CPC não fala mais em vedação ao benefício, falando apenas em vedação ao prejuízo.

Vejam as disposições transitórias do CPC/15, art. 1.068 do CPC, pois há um detalhe importante.
Façam a remissão desse artigo ao art. 506 do CPC:
Art. 1.068. O art. 274 e o caput do art. 2.027 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) ,
passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento
favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação
a qualquer deles.” (NR)
“Art. 2.027. A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos.
...................................................................................” (NR)

Esse artigo altera o art. 274 do CC, de modo que essa questão poderá cair, também, em uma prova de
direito civil.

Mais uma remissão importante: observem o art. 109, §3, do CPC. Vamos trabalhar aqui a sucessão
inter vivos, ou alienação do objeto litigioso:

 Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a
legitimidade das partes.
§ 3º Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente ou cessionário.

Reparem que, pela redação do art. 109, §3, do CPC, terceiros poderão ser atingidos pelo resultado do
processo, desde que estejamos num cenário de alienação do objeto litigioso. Exemplo: o Ricardo
promove uma ação em face da Laís relacionada a determinado veículo. A Laís afirma ter comprado o
veículo da Camila. Se a Camila não participar do processo, ela pode ser atingida pelos efeitos da
sentença? R: a extensão dos efeitos é só para o caso daquele que adquire direito ou objeto litigioso.
Objeto ou direito litigioso é aquela adquirido após o início da relação processual.

Mudando o exemplo: o Ricardo promove a mesma ação em face da Laís, relacionado ao veículo.
Laís, citada, vende o veículo para Camila. Agora sim a Camila é juridicamente adquirente de um
objeto litigioso. Se a Camila não ingressar nesse processo proposto pelo Ricardo, ela vai ser atingida
pelo resultado do processo.

Qual o ato processual que torna o bem ou o direito litigioso? Vejam o art. 240 do CPC:

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna
litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002 (Código Civil) .

Façam a remissão desse artigo ao art. 109 do CPC.

O ideal é estudar processo civil dessa forma sistêmica, e não segmentada.

Qual é a regra no plano externo subjetivo: a eficácia inter partes só atinge juridicamente aqueles que
participaram da relação jurídica processual.
Mostrei para vocês que o art. 506 do CPC traz o regime jurídico in utilibus, ou seja, pode beneficiar
terceiros. Mostrei o art. 274 do CC, que confirma esse entendimento, e mostrei o art. 109, §3, do
CPC, também como uma forma de exceção a essa eficácia inter partes.

Para encerrarmos esse ponto, falta fazer as seguintes remissões: art. 18 da LAP; art. 16 da LACP; e
art. 103 do CDC.

Art. 18 da LAP. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto no caso de haver
sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Art. 16 da LACP. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do
órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Art. 103 do CDC. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na
hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de
provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do
art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores,
na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais
dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem
intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de
julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e
seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

No âmbito dos processos coletivos, a eficácia subjetiva, além de ser inter partes, também é erga
omnes ou ultra partes, conforme o direito tutelado. Isso será estudado na aula de processo coletivo,
aqui é só para que você faça a remissão.
Vamos para o prisma objetivo.

No que tange ao prisma objetivo, vamos trabalhar pedido e causa de pedir, ou seja, o órgão
jurisdicional fica adstrito aos limites objetivos da demanda.

Vamos começar com a causa de pedir. Causa de pedir, muita das vezes, é colocada em prova objetiva
como “fundamento de fato e de direito”.

Primeiro ponto: a causa de pedir é o principal objeto da etapa instrutória do procedimento. Ao


contrário do que muita gente supõe, o que se visa provar na fase instrutória é a causa de pedir,
provando-se as suas alegações sobre o fato e que a sua pretensão tem fundamentação jurídica. Basta
você olhar o art. 373 do CPC:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à
excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova
do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela
parte seja impossível ou excessivamente difícil.
§ 3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das partes, salvo quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
§ 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebrada antes ou durante o processo.

E aí vem o cuidado: pode o Juiz levar em consideração, para fins de julgamento, causas de pedir
não ventiladas pelas partes?

Vejam o art. 492 do CPC:

Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional.

Esse artigo versa sobre pedido. Então, vamos ver o art. 493 do CPC:

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito
influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte,
no momento de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.
Veja o cuidado. O art. 493 do CPC permite que o Juiz leve em consideração fato superveniente de
ofício. E não é só fato superveniente, como direito superveniente.

Coloquem uma remissão do parágrafo único do art. 493 do CPC ao art. 10 do CPC, que é o que
vimos sobre vedação à surpresa, e ao art. 374 do CPC:

Art. 374. Não dependem de prova os fatos:


I - notórios;
II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
III - admitidos no processo como incontroversos;
IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade .

Dessa forma, o Juiz pode levar em consideração de ofício fato novo, ou seja, uma causa de pedir que
não foi ventilada pelas partes.

Segunda questão boa de prova objetiva: qualificação jurídica atribuída ao fato.

Para a doutrina e jurisprudência, a qualificação jurídica atribuída ao fato é elemento da causa de


pedir. Se não é parte integrante, o órgão jurisdicional pode modificar a qualificação jurídica, desde
que não acarrete modificação da própria pretensão.

Exemplo: a Natália promove, em face da Patrícia, uma ação visando a anulação de um negócio
jurídico celebrado entre elas. A Natália sustenta que foi induzida ao erro pela Patrícia. Ao longo da
instrução processual, o órgão jurisdicional verifica que, na verdade, Patrícia não induziu Natalia ao
erro, mas agiu com dolo. Pode o Juiz modificar essa qualificação jurídica feita pela Natália, para
acolher a pretensão da Natália?

Para responder, precisamos voltar no direito civil. Erro e dolo geram a mesma consequência jurídica
no plano do direito civil? Qual será a consequência jurídica para o negócio jurídico celebrado entre
elas? Ambos são vícios do consentimento, e o resultado é o mesmo. Como o resultado jurídico será o
mesmo, não existe problema em o órgão jurisdicional mudar a qualificação jurídica atribuída ao fato.

Por outro lado, se o órgão jurisdicional verificar que houve coação física, ao invés de erro, o órgão
jurisdicional não poderia alterar a qualificação jurídica, pois ele iria alterar a própria pretensão
jurídica pretendida pelo autor.
Então, não existe problema, a princípio, na alteração da qualificação jurídica atribuída ao fato, pois
não é elemento da causa de pedir. Contudo, se dessa alteração geral alteração da pretensão originária,
aí sim haverá problema.

Com relação ao pedido, dificilmente vai surgir alguma questão diversa do art. 492 do CPC, que é
verificar se o objeto da demanda tem congruência com o objeto da decisão. O problema são os vícios
da congruência: citra ou infra petita, ultra petita e extra petita.

Citra ou infra petita nada mais é que o órgão jurisdicional pecar pela omissão, deixar de apreciar
uma das pretensões exercidas pela parte. Para a doutrina, o réu, em sentido técnico, não formula
pedido em processo civil, exceto se promover reconvenção, pedido contraposto, ou uma ação
declaratória incidental. Normalmente, nas provas objetivas, o examinador usa o vocábulo “partes” de
maneira indefinidas, não indicando qual o polo da demanda. No entanto, mesmo com relação ao réu
pode haver vício infra ou citra petita, desde que ele tenha formulado pedido em sentido técnico.

Outro cuidado que vocês devem ter quanto a esse vício: se for verificado esse vício na sentença, a
parte estará jungida a oferecer embargos de apelação ou poderá apelar diretamente?

Essa é uma questão mais difícil, pois a doutrina diverge sobre o tema. Prevalece a tese de que ela
pode apelar diretamente, alegando esse vício citra ou infra petita. A questão dos embargos fica
adstrita e questões processuais futuras, como prequestionamento.

Vamos ao vício ultra petita, que é a inobservância do limite material da pretensão, ou seja, condenar
além do que foi pedido. Para a doutrina dominante, é um vício sanável, pois bastaria adequar o
conteúdo decisório aos limites da pretensão.

Por fim, com relação ao vício extra petita, nada mais é do que o órgão jurisdicional aplicar os efeitos
jurídicos de uma pretensão que não foi requerida.

Eu nunca vi esse vício cair em prova objetiva, mas pensei na seguinte situação: esse vício pode ser
observado na sentença de procedência ou de improcedência. Quando estudamos esse vício,
normalmente usam exemplos de sentença de procedência, mas pode ocorrer em uma sentença de
improcedência.
Por exemplo, no processo coletivo, o Ricardo, Promotor de Justiça de Tutela Coletiva promove uma
ACP. No entanto, não logra êxito, e o órgão jurisdicional julga o pedido improcedente e condena o
Ministério Público ao pagamento de custas e honorários sem má fé. A condenação em custas e
honorários só pode ser requerida pelo réu em caso de má-fé. Dessa forma, foi uma sentença extra
petita.

Outro exemplo: imaginem que a Camila promove uma ação de IA em face de determinado agente
público, e coloca na inicial que só deseja que seja aplicada a sanção de suspensão dos direitos
políticos. Posteriormente, o órgão jurisdicional decreta a perda de função pública. Essa sentença é
extra petita? O órgão jurisdicional fica adstrito às sanções requeridas pelo MP na inicial da
improbidade? R: não, não existe essa congruência no que tange às sanções, pois o pedido é
condenatório. Para sustentar que não há violação à congruência, basta olhar o art. 12, caput, da LIA,
que deixa muito claro que o Juiz pode aplicar essas sanções de maneira isolada ou acumulada, ou
seja, será uma análise casuística.

Encerramos esse ponto. Vamos ao próximo.

Coisa julgada

Vamos trabalhar as questões que podem cair quanto a este tema em uma prova objetiva.

Vejamos o art. 502 do CPC:

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de
mérito não mais sujeita a recurso.

Esse artigo traz um conceito de coisa julgada. Guarde que coisa julgada, para fins desse artigo, é a
imutabilidade, indiscutibilidade, do conteúdo do provimento jurisdicional. O legislador fala em
“decisão de mérito”, então faça o destaque.

Primeira questão que pode cair: o legislador fala em decisão de mérito, não em sentença, denotando
que pode ser uma decisão interlocutória. Portanto, decisão de interlocutória também pode ser
abrangida pela coisa julgada material.

Segunda questão que decorre desse artigo: qual a natureza jurídica processual da coisa julgada?
Ela é um pressuposto processual negativo. A depender dos autores que vocês estudarem, eles
colocarão como objetivo, obstativo, impeditivo ou negativo. Qualquer um desses 4 nomes que surgir
na prova são usados para esse fim.

Pude uma remissão ao art. 485, V, do CPC, para que você lembre que a coisa julgada é um
pressuposto processual:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;

Outra questão à guisa de introdução é a Teoria da Tríplice Identidade ou Teoria Tria Eadem.

Façam referente ao art. 337, §§2 e 4, do CPC:

Art. 337. (...)


§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.

Essa é a teoria adotada pelo CPC/15 para identificar litispendência e coisa julgada: mesmas partes,
pedido e causa de pedir.

Problemas para a prova:

1. A chamada teoria da identidade material, ou teoria da identidade da pretensão. Essa


segunda teoria, que é eminentemente doutrinaria, sustenta que uma ação pode ser idêntica à outra,
ainda que seus elementos não sejam idênticos, desde que o direito material subjacente seja o mesmo.
Para essa segunda teoria, você pode encontrar duas ações idênticas mesmo que elas não tenham a
exata identidade entre seus elementos, se essas duas ações veicularem o mesmo direito material em
seus elementos. Vejam o art, 55, §3, do CPC:

Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões
conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

Para alguns autores, esse artigo traz a Teoria da Identidade Material para o CPC/15. O STJ, em dois
julgados, trouxe uma manifestação parecida:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL E AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO ORIUNDAS DO
MESMO CONTRATO. CONEXÃO RECONHECIDA. INEXISTÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE DE
JULGAMENTO CONJUNTO. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO.
SÚMULA Nº 284/STF. VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
RAZOABILIDADE. 1. Considera-se deficiente de fundamentação o recurso especial que não indica os
dispositivos legais supostamente violados pelo acórdão recorrido, circunstância que atrai a incidência, por
analogia, do enunciado nº 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal. 2. Segundo a jurisprudência desta
Corte, a reunião dos processos por conexão configura faculdade atribuída ao julgador, sendo que o art. 105 do
Código de Processo Civil concede ao magistrado certa margem de discricionariedade para avaliar a
intensidade da conexão e o grau de risco da ocorrência de decisões contraditórias. 3. Justamente por traduzir
faculdade do julgador, a decisão que reconhece a conexão não impõe ao magistrado a obrigatoriedade de
julgamento conjunto. 4. A avaliação da conveniência do julgamento simultâneo será feita caso a caso, à luz da
matéria controvertida nas ações conexas, sempre em atenção aos objetivos almejados pela norma de regência
(evitar decisões conflitantes e privilegiar a economia processual). 5. Assim, ainda que visualizada, em um
primeiro momento, hipótese de conexão entre as ações com a reunião dos feitos para decisão conjunta, sua
posterior apreciação em separado não induz, automaticamente, à ocorrência de nulidade da decisão. 6. O
sistema das nulidades processuais é informado pela máxima "pas de nullité sans grief", segundo a qual não se
decreta nulidade sem prejuízo, aplicável inclusive aos casos em que processos conexos são julgados
separadamente. 7. O Superior Tribunal de Justiça, afastando a incidência da Súmula nº 7/STJ, tem
reexaminado o montante fixado pelas instâncias ordinárias a título de honorários advocatícios apenas quando
irrisório ou abusivo, circunstâncias inexistentes no presente caso. 8. Recurso especial conhecido em parte e,
nessa parte, desprovido.
RECURSO ESPECIAL Nº 1.255.498 - CE (2011/0118417-5). RELATOR: MINISTRO MASSAMI UYEDA.
DJe: 29/08/2012

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E AÇÃO ORDINÁRIA. CONEXÃO. 1. Debate-se


acerca da competência para processar e julgar ação ordinária – na qual se busca a revisão e parcelamento de
débito tributário objeto de execução fiscal precedentemente ajuizada – tendo em vista a possível ocorrência de
conexão. 2. A Primeira Seção desta Corte pacificou o entendimento de que existe conexão entre a ação
anulatória ou desconstitutiva do título executivo e a ação de execução, por representar aquela meio de
oposição aos atos executórios de natureza idêntica a dos embargos do devedor. 3. "A ação anulatória ou
desconstitutiva do título executivo representa forma de oposição do devedor aos atos de execução, razão pela
qual quebraria a lógica do sistema dar-lhes curso perante juízos diferentes, comprometendo a unidade natural
que existe entre pedido e defesa" (CC 38.045/MA, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki, DJ 09.12.03).
4. É incontroverso que o débito tributário em questionamento na ação ordinária está em cobrança nos autos da
Execução Fiscal nº 2002.61.82.038702-0; logo, os feitos devem ser reunidos para julgamento perante o Juízo
Federal da 11ª Vara das Execuções Fiscais da Seção Judiciária de São Paulo (juízo prevento). 5. Conflito de
competência conhecido para declarar competente Juízo Federal da 11ª Vara das Execuções Fiscais da Seção
Judiciária de São Paulo, o suscitante.
Conflito de competência 103229/SP. RELATOR: MINISTRO CASTRO MEIRA. DJe: 10/05/2010

Outra questão que pode surgir dentro desse art. 502 do CPC. Repara que o legislador fala em
‘decisão de mérito’. Lembram quando falei que existe a possibilidade de uma decisão terminativa
gerar coisa julgada material? Puxem uma remissão ao art. 966, §2, I, do CPC.
Art. 966. (...)
§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput , será rescindível a decisão transitada em julgado que,
embora não seja de mérito, impeça:
I - nova propositura da demanda; ou
II - admissibilidade do recurso correspondente.

Existe a possibilidade de uma decisão terminativa gerar coisa julgada material.

Outro ponto importante, pensando em uma questão pensando em um caso concreto: quais são os
pressupostos para a formação da coisa julgada?

Para a doutrina dominante, são quatro os pressupostos:

I. Resolução do mérito, com esse cuidado de que existe a possibilidade de uma decisão
terminativa gerar coisa julgada material, assim como também existe a possibilidade de
uma decisão de mérito não gerar coisa julgada material (improcedência por falta de
provas no processo coletivo);

II. Exercício de jurisdição típica, ou seja, tem que ter efetivo proferimento de decisão
judicial. A decisão sobre crime de responsabilidade quando o julgamento ocorrer fora do
Judiciário pode confundir vocês;

III. Exercício de cognição judicial exauriente ou exaustiva, em outros termos, se for


decisão proferida em cognição sumária, pode ocorrer preclusão, mas não coisa julgada;

IV. Trânsito em julgado (art. 502, parte final, do CPC: “não mais sujeito a recurso”).
Recordar da coisa julgada progressiva e a propositura de ação rescisória. Recomendo a
combinação da Súmula 401 do STJ + art. 975 do CPC. Coisa soberanamente julgada é
aquela que se forma após o prazo para propositura da ação rescisória.

Quase que invariavelmente em prova objetiva, o examinador coloca só o pressuposto de decisão de


mérito com o trânsito em julgado, e aí você pode embarcar, mas cuidado, deve-se olhar os quatro
pressupostos, pois eles são cumulativos. Se faltar um deles não haverá que se falar em coisa julgada
material.

Outro ponto típico de prova objetiva: qual a diferença entre coisa julgada material e eficácia
jurídica do precedente?
A doutrina entende serem institutos diversos. A eficácia vinculante do precedente possui como limite
objetivo a ratio decidendi, e não pedido e causa de pedir. Vejam, a coisa julgada fica adstrita ao
conteúdo da decisão, e o conteúdo da decisão é formada pelo pedido e pela causa de pedir,
precisamente pelo pedido. O limite subjetivo da eficácia vinculante é erga omnes. Já na coisa julgada
material, como regra, é inter partes.

No que tange à forma de controle, a coisa julgada pode ser controlada por meio de ação rescisória, e,
para alguns, até por meio da querela nullitatis insanabilis, que nada mais é do que a ação
declaratória de inexistência da relação jurídica processual.

Quais são os instrumentos de controle da eficácia vinculante do precedente? Repara que minha
pergunta foi sobre “instrumentos”, e não “formas de controle”. R: intervenção do Amicus Curie,
overruling, distinguishin, reclamação.

Não confundam eficácia vinculante do precedente com coisa julgada, pois são coisas diferentes.

Qual é a diferença entre conteúdo e efeito da coisa julgada?

Vejam os arts. 507 e 508 do CPC:

Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a
preclusão.

 Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as
alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.

Conteúdos e efeitos da decisão judicial

O conteúdo nada mais é do que a norma jurídica individualizada. Estudamos isso até mesmo em
direito constitucional, da possibilidade de o provimento jurisdicional criar a norma jurídica
individualizada, extraída para o caso concreto.

O efeito da decisão judicial é a repercussão da norma jurídica individualizada.

Pode cair na prova a combinação dos arts. 507 e 508 do CPC, na literalidade ou no conceito.

Efeitos da coisa julgada


1. Positivo
2. Negativo

3. Preclusivo.

O efeito positivo indica que a questão principal já definitivamente decidida e transitada em julgado,
uma vez retornando ao âmbito jurisdicional, ainda que como questão incidental, não pode ser
decidida de modo distinto.

O efeito negativo é aquele que impede que a questão principal já definitivamente decidida, seja
novamente julgada como questão principal em outro processo.

Quanto ao efeito preclusivo, voltem ao art. 507 do CPC. Destaquem “cujo respeito se operou a
preclusão”. No art. 508 do CPC, destaquem “todas as alegações e as defesas”.

No art. 508 do CPC, tecnicamente, está previsto o chamado efeito preclusivo da coisa julgada.
Conceitualmente, efeito preclusivo da coisa julgada é a imutabilidade do conteúdo da decisão,
composto pela norma jurídica concreta. Pela redação do art. 508 do CPC, esse efeito preclusivo
abrange todas as possíveis causas de pedir que poderiam ter embasado o pedido formulado.

Se vocês estiverem estudando processo civil pelo Daniel Assunção e pelo Fredie Didier, eles vão
apresentar três teses sobre o tema. Eu imagino uma que pode ser cobrada de vocês, que critica a
literalidade ao art. 508 do CPC, para afirmar que o efeito preclusivo só atinge os elementos e as
provas que sirvam para embasar a causa de pedir efetivamente deduzida.

Novamente, a dica que dou desde a primeira aula: fiquem presos ao enunciado. Se o enunciado não
indicar nada, vá pela literalidade.

#Pergunta feita por aluno em aula:

Professor, em relação ao princípio da adstrição, como fica a aplicabilidade do art. 322, § 2º do CPC?
Poderia o juiz acolher uma pretensão sem pedido correspondente, mas que se pode inferir da causa de pedir?
Um exemplo prático: ação visando a exclusão do nome dos órgãos restritivos de crédito em que o autor pede
apenas a exclusão e dano moral, mas o juiz, com base no conjunto da postulação, declara a inexistência da
relação jurídica e/ou do débito. Lendo os enunciados 285 e 286 do FPPC me parece que sim.

Vejam o art. 322 do CPC. O §2 diz que a interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e
observará o princípio da boa-fé. Podemos trabalhar a ideia do pedido decorrente e o pedido implícito. O
pedido implícito é aquele que decorre diretamente da lei, de forma que voc~e não precisa formular
expressamente esse pedido. Portanto, tudo que for considerado como pedido implícito pode ser levado em
consideração pelo órgão jurisdicional na sua decisão sem que isso viole o princípio da congruência. A questão
interessante apresentada na pergunta é relativa ao pedido decorrente, que é aquele decorre logicamente do
pedido anterior. O pedido decorrente pode ser entregue por meio da decisão judicial sem que isso viole o
principio da congruência.

Teoria Geral dos Precedentes

Vejam o art. 926 do CPC:

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão
enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que
motivaram sua criação.

Primeiro ponto que devemos fixar é que existe um microssistema dos precedentes, que vai ser
usado para suprir eventuais omissões na regulamentação de determinados institutos.

Esse microssistema de precedentes, que alguns chamam de sistema brasileiro de precedentes, ou


sistema de formação de precedentes, inclui o IRDR, o IAC, o controle de constitucionalidade,
súmula vinculante e os recursos excepcionais repetitivos.

Abaixo está um rol de remissões que você deverá fazer em sua legislação no art. 926 do CPC, sendo
os incisos referentes a questões que decorrem da aplicação de um precedente:
art. 311, II (pode ser concedido uma tutela da evidência com base no sistema de precedentes);
art. 332 (caso de improcedência liminar do pedido);
art. 489, § 1º, V e VII (vimos na aula passada);
art. 496, § 4º (caso de dispensa do reexame necessário nos casos relacionados ao sistema de
precedentes);
art. 932, IV e V (trata dos poderes do relator);
art. 482, § 2º;
art. 1022, II e pú. I e II;
art. 1038, § 3º;
art. 927, § 1º;
e art. 1013, § 3º, todos do CPC.

Essa remissões se referem as questões que decorrem da aplicação de determinado precedente.

Pode ser concedida uma tutela de evidência com base no art. 926 do CPC.

Vejamos o art. 332 do CPC, pois há uma questão importante:


Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará
liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;


IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

Eu coloquei o artigo no rol sem fazer nenhuma digressão, mas o inciso I fala em “enunciado de
súmula do STF ou do STJ”. Para fins de julgamento de improcedência liminar, a súmula não precisa
ser vinculante, podendo ser meramente persuasiva. Combine esse inciso I com o art. 927, IV, do
CPC. Só o STF edita súmula vinculante.

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em
julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior
Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados .

Os incisos II e III do art. 332 do CPC não têm armadilha para prova, mas o IV tem.

Essa “súmula do TJ versando sobre direito local” não está no rol do art. 927 do CPC como
precedente vinculante, mas pode ser usado para fins de improcedência liminar, apesar de não se
tratar de precedente vinculante.

Não confunda microssistema de precedentes com microssistema de resolução de demandas


repetitivas!

Vejamos o art. 928 do CPC:

Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em:
I - incidente de resolução de demandas repetitivas;
II - recursos especial e extraordinário repetitivos.
Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material ou processual.

Esse dispositivo nos indica quais são as hipóteses de julgamento de casos repetitivos, e não inclui o
IAC, mas o IAC é parte integrante do microssistema de precedentes.
Não caiam na armadilha de que a adoção do sistema de precedentes no CPC/15 gerou a
inserção em nosso sistema da common law.

Permanecemos no sistema de civil law. Considerando os examinadores, vocês podem afirmar, com
segurança, que não há mais essa divisão tão exata entre civil law e common law, havendo, ao revés,
uma interpenetração entre os dois sistemas.

Estou falando tudo em abstrato, mas aqui não vai uma crítica de cunho político, mas de coerência
dos precedente: em maio desse ano, o STJ disse que os policiais podem entrar no domicílio se
sentirem o cheio das drogas. Em junho desse ano, decidiu que o fato de os policiais terem
visualizado o manuseio dos entorpecentes no imóvel não autoriza o ingresso.

Releitura de alguns princípios consolidados em nosso ordenamento:

1. Princípio da legalidade: arts. 5, II, da CF, e art. 8 do CPC. A partir do momento que se
adota o sistema de precedentes, ele passa a ser considerado como uma fonte do direito. Tanto
é verdade que o art. 966, V, e seus §§5 e 6, do CPC, preveem a possibilidade do manejo de
ação rescisória por violação de norma jurídica ínsita em um precedente.
2. Princípio da igualdade: art. 5, caput, da CF. Se o caso concreto foi idêntico ao anterior, ele
deve receber o mesmo resultado.
3. Princípio da segurança jurídica: art. 8 do CPC. Stare Decisis Et non Quieta Movere.
Quando aparecer na questão o termo “Stare Decisis”, trata-se de precedente. Ele diz que,
aquilo que foi decidido, deve ser mantido. Você vai trabalhar continuidade, legítima
expectativa, previsibilidade, isso tudo é segurança jurídica.
4. Princípio que exige fundamentação do órgão jurisdicional: hoje, no que tange à aplicação
de um precedente no bojo de uma demanda judicial, a fundamentação pode fazer referência
expressa à um precedente.
Dever jurídico de uniformidade

Vejamos o art. 926 do CPC:

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão
enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que
motivaram sua criação.

Aqui há três características do dever jurídico de uniformidade: estabilidade, coerência e integridade.

Se você estudar esse capítulo no Freddie Didier, ele unifica sob o mesmo títulos deveres de coerência
e integridade sob o título consistência.

Lembrando que esse dever jurídico de uniformidade tem uma finalidade única, que é promover a
unidade do direito.

#Obs: o dever jurídico de coerência possui um prisma formal e um prisma substancial. No prisma
formal, o dever jurídico de coerência significa o não proferimento de decisões jurídicas
contraditórias. No prisma substancial, significa proferir decisões com sentido, que você consegue
compreender.
Para a doutrina, o dever jurídico de coerência possui duas dimensões: uma externa, que é a
promoção do princípio da igualdade, e uma dimensão interna, que é a própria formação do
precedente e sua fundamentação.

Conceito de precedente

Volte ao art. 926 do CPC. O legislador fala em “jurisprudência” no caput. No §1, fala em “enunciado
de súmula e jurisprudência dominante”. No §2, fala em “precedentes”. Ou seja, em um mesmo artigo
o legislador fala em súmula, jurisprudência, jurisprudência dominante e precedente, parecendo que é
tudo a mesma coisa.
Conceito doutrinário de precedente: precedente é a decisão judicial formada à luz de um caso
concreto, cujo núcleo essencial pode servir como diretriz para resolução de casos análogos futuros.

Reparem que o precedente vai servir como uma orientação, diretriz, para outros casos. Assim,
precedente não é toda e qualquer decisão, pois não é. O precedente possui alguma diretriz para casos
futuros.

Quando você for revisar informativos, separe o que é decisão de turma, de corte especial, do que é
decisão monocrática. Para ser precedente, tecnicamente a decisão tem que ser de órgão colegiado.
Desse modo, decisão monocrática não é precedente.

Diante disso, veja outro problema, no art. 966, §5, do CPC:

Art. 966. (...)


§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão baseada em
enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a
existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.

Na parte final, esse dispositivo usa o termo “padrão decisório”. Já tínhamos “enunciado de súmula”,
jurisprudência, e jurisprudência dominante”, e agora o legislador falou em “padrão decisório”.

Padrão decisório é gênero, que possui as seguintes três espécies: precedentes, jurisprudência e
enunciado de súmula.

Qual a diferença conceitual entre esses três tipos de padrões decisórios?

R: a diferença não é qualitativa, ou seja, não há hierarquia entre eles. Assim, a diferença é
quantitativa, pois precedente pode ser extraído de um único julgado. Nem todo julgado é precedente,
precedente é um julgado qualificado que pode ser usado de diretriz para os casos futuros. Você pode
ter um julgado que é qualificado juridicamente como precedente. Se, ao longo do tempo, esse
precedente for reconhecido e aplicado ao longo do tempo, então ele vira jurisprudência, que é um
conjunto de precedentes no mesmo sentido.

Jurisprudência dominante é quando a maioria da jurisprudência é no mesmo sentido. A partir do


momento que é jurisprudência dominante, pode ser editado enunciado de súmula, que é o
reconhecimento da jurisprudência dominante naquele Tribunal.
Por isso, é muito comum em prova oral o examinador perguntar se súmula é precedente. Ele não é.
Súmula é extrato da tese jurídica ínsita da jurisprudência dominante. Súmula não pode ser
precedente, pois precedente resulta de caso concreto e súmula não resulta de caso concreto.

Não há hierarquia entre eles, até porque se você trabalha com um precedente que tem eficácia
vinculante, e se tornou jurisprudência dominante e súmula vinculante, é tudo precedente vinculante.

Não confunda essa frase que eu trouxe com a superação desse padrão decisório. A súmula vinculante
tem um procedimento específico para sua superação, que não é o mesmo para revogação de um
precedente vinculante.

Para revogar um precedente vinculante, basta surgir um precedente novo, superando o anterior.

Para deixar de aplicar a súmula vinculante, deve haver um procedimento de cancelamento dessa
súmula.

Isso não gera hierarquia, mas forma de superação diversa.

Se uma súmula vinculante defende tese jurídica contrária a um IRDR, o último julgado que irá
prevalecer? O resultado do IRDR é uma tese jurídica, que é um precedente vinculante. A súmula
vinculante também é um precedente vinculante. Se houve embate entre eles, o que ocorre?

O IRDR pressupõe a existência de casos repetitivos. Esse IRDR foi suscitado após a edição da
súmula vinculante. Para mim, esse IRDR sequer deveria ser admitido, pois, se há súmula vinculante
sobre o mesmo tema, ele não deveria ter sido admitido.

Caso tenha sido admitido e gerou precedente diferente, o Tribunal tem que usar o distinguishing,
para afirmar que aquela súmula vinculante não pode ser usada nesses casos repetitivos, pois senão
esse acórdão do IRDR vai ser modificado no STF.

Vejam o art. 987, §1, do CPC:

Art. 987. Do julgamento do mérito do incidente caberá recurso extraordinário ou especial, conforme o caso.
§ 1º O recurso tem efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral de questão constitucional
eventualmente discutida.
§ 2º Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça será aplicada no território nacional a todos os processos individuais ou coletivos que
versem sobre idêntica questão de direito.

O RE oriundo de um acórdão de IRDR tem efeito suspensivo ope legis e repercussão geral
presumida. Não é questão de hierarquia, mas de prévia existência de precedente vinculante anterior
que, para sua separação, demanda procedimento próprio.

Se o embate for entre dois IRDRs, utiliza-se o posterior, pois ele superou a tese jurídica anterior.

Sentido do termo “precedente”

Esse tópico é importante pois, muitas das vezes, o examinador usa eufemismos.

1º: sentido comum, ou sentido lato – a decisão que serve como parâmetro para casos futuros. O que
muitas vezes cai em prova é o precedente em sentido estrito, ou em sentido substancial, que é a
chamada norma do precedente. Nada mais é do que a ratio decidendi.

2º: precedente em sentido próprio ou em sentido formal – fato jurídico instrumento da criação
normativa. Ou seja, a fonte do direito.

Composição do precedente

A rigor, a doutrina fala em três elementos que compõe o precedente:

1) Obiter Dictum (ou dicta, no singular)


2) Ratio Decidendi (alguns autores indicam que holding é a mesma coisa)
3) Circunstâncias fáticas que embasam a divergência.

Ratio Decidendi: nada mais é do que a tese ou princípio jurídico assentado na motivação do
provimento decisório. Tem um autor que diz que “a ratio decidendi é composta pelos fundamentos
jurídicos que sustentam a própria decisão”, ou seja, é a essência da tese jurídica.

Quando trabalhamos essa essência da tese jurídica, devemos ter em mente que a fundamentação
relevante do precedente tem eficácia vinculante, e não só o seu dispositivo. A fundamentação
relevante é aquela, sem a qual, a decisão fica sem sentido. Ou seja, tirando aquela fundamentação,
não é possível compreender o que ficou no caso concreto.

Esse elemento que gera a eficácia vinculante, pois o chamado obter dictum pode ter eficácia
persuasiva, mas ele não tem eficácia vinculante. O obter dictum, na verdade, é prescindível para o
deslinde da controvérsia.

Obter dictum: são os argumentos de passagem ou reforço, que não possuem influência relevante para
a decisão.

Para a prova objetiva, é importante lembrar que a ratio decidendi que tem relevância para fins de
aplicação ou não aplicação do precedente. Tanto é verdade que, conforme art. 966, §§5 e 6, do CPC:

Art. 966. (...)


§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão baseada em
enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a
existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu
fundamento.
§ 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de inépcia,
demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de
questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica.

Destaquem “a questão discutida no processo”. Isso é a compatibilidade entre o que restou decidido e
a ratio decidendi. Para que se possa aplicar um precedente ao caso concreto, deve-se verificar se a
sua ratio decidendi se amolda ao caso concreto.

Destaquem “situação particularizada por hipótese”. Deve-se saber se todo esse precedente se adequa
à situação fática ensejadora daquela decisão. O juiz deve levar em consideração dos motivos
determinantes, conforme já vimos em aula (veja o art. 489, V, do CPC).

Na próxima aula vamos analisar o art. 927 do CPC e já deixo uma pergunta: todos os incisos do
art. 92 geram precedentes vinculantes? Além disso, vamos analisar a eficácia temporal do
precedente e a superação do precedente. Por fim, vamos trabalhar IRDR.
Não se esqueçam: na próxima sexta (30/06), vamos resolver questões! Resolvam as questões antes
da aula! Eu não me preocuparei em dar o gabarito, mas treinarei vocês para resolver as questões.

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