Técnicas em Psicologia

Cognitivo-Comportamental

Aula 2
O modelo cognitivo de Beck
• Os elementos da Conceituação Cognitiva
• Princípios da Terapia Cognitiva

christiana.strauss@univap.br
Arena de controvérsia
Foco de teorias e terapias em dimensões dicotômicas

• Comportamento
• Orientação presente
• Tratamento de curto prazo
• Técnica
• Consciente
• Atenção a dimensões internas
● Cognição
● Orientação no passado
● Tratamento de longo prazo
● Relacionamentos
● Inconsciente
● Atenção a dimensões externas
ou ambientais
É excessivamente simplista/reducionista caracterizar o foco da teoria e
da terapia cognitiva em dimensões estreitas e dicotômicas.

A terapia e a teoria cognitivas não apenas constituem uma abordagem coerente,

efetiva, mas também podem servir como um paradigma unificador ou “integrativo”
para a psicopatologia e psicoterapia.

BECK, A. & ALFORD, B. A.

O poder Integrador da Terapia Cognitiva.
Porto Alegre: Artmed, 2000.
 Em relação à teoria, por exemplo, conceitos cognitivos
complementam (e não simplesmente divergem) as
ideias de motivação inconsciente e condicionamento.

Em relação à terapia, por exemplo

ESFERA O contexto ambiental não é ignorado nos casos onde

COMPORTAMENTAL uma conceitualização cognitiva indica falhas nas
construções pessoais com consequências
comportamentais (relações resposta-reforço);
ESFERA A terapia cognitiva não despreza o foco nas questões
PSICODINÂMICA inconscientes quando há traumas primitivos não
resolvidos em relacionamento com pessoas
significativas;
ESFERA Os terapeutas cognitivos não excluem pessoas
INTERPESSOAL significativas das sessões de terapia quando conflitos
dominam as queixas de um paciente (terapia de grupo/
familiar/casais).
NATUREZA INTEGRADORA DA TERAPIA COGNITIVA

Estrutura teórica unificadora Estrutura teórica unificadora

dentro da qual as técnicas
clínicas de outras abordagens
psicoterapêuticas estabelecidas
e validadas podem ser
apropriadamente incorporadas
para a psicopatologia e a
psicoterapia, que explica as
origens da psicopatologia e ao
mesmo tempo explique a
correção clínica desses
transtornos
Paradigma coerente e evolutivo para a prática clínica

Evolui juntamente com a pesquisa básica sobre a natureza da cognição

Entendimento do funcionamento psicológico humano a partir de diversos

níveis de análise e de várias disciplinas científicas relacionadas tais como
neurociência, biologia evolucionária, sociologia, genética, psicologia evolutiva, psicologia social...
Contribuições para o desenvolvimento e
avaliação de estratégias terapêuticas

Freud Estruturação hierárquica da cognição em processo primário (fora da consciência e baseada em fantasias e
(Psicanálise) desejos) e processo secundário (acessível à consciência e baseado nos princípios de realidade objetiva)

Kant, Ênfase na experiência subjetiva consciente; Conceito de que os seres humanos são perturbados pelos
Heidegger e Husserl significados que atribuem aos fatos, e não pelos fatos per se
(Fenomenologia)
Carl Rogers Estilo terapêutico de questionamento gentil e aceitação incondicional do paciente
(Terapia centrada no cliente)
John Bowlby Desenvolvimento da conceitualização cognitiva
(Teoria do Apego)
George Kelly Definição de “esquemas”
(Teoria do constructo pessoal)
Terapia Comportamental Procedimentos e estratégias terapêuticos como a estrutura da sessão, a maior atividade do terapeuta, o
estabelecimento de objetivos do tratamento para toda a terapia e de uma pauta para cada sessão, a formulação
e teste de hipóteses, a obtenção de feedback, o uso de técnicas de solução de problemas e treinamento de
habilidades sociais, a prescrição de tarefas de casa e experimentos entre as sessões, entre outros.
COGNIÇÃO
... função que envolve deduções sobre nossas
experiências e sobre a ocorrência e o controle
de eventos futuros;

... processo de identificar e prever relações

complexas entre eventos, de modo a facilitar a
adaptação a ambientes passíveis de
mudança.
Princípio fundamental
A maneira como os indivíduos percebem e processam a realidade
(conceitualizações idiossincráticas, teorias informais, pessoais)
influenciará a maneira como eles se sentem e se comportam.

“Teoria de teorias”
Teoria formal dos efeitos de teorias informais
(percepções fenomenológicas das relações entre eventos)
O desenvolvimento inicial
da Teoria Cognitiva
Aaron Beck (1956)
buscava fornecer apoio empírico para
formulações psicodinâmicas de
depressão e observou fenômenos
inconsistentes ao modelo psicanalítico

Aaron T. Beck, looking at the first edition

of his book Depression: Clinical,
Experimental, and Theoretical Aspects,
ca. 1968. Beck’s bow tie (which, on
special occasions, is red) and shock of
white hair later became his celebrity
trademarks in psychotherapy circles.
Modelo psicanalítico Modelo cognitivo
Pacientes deprimidos - Análise de sonhos
Conteúdo dos sonhos:
manifestam hostilidade menos temas de hostilidade e
retrorefletida reprimida, - Atribuição de tarefas mais temas relacionados a derrota,
graduada com controle
expressada como de variáveis
fracasso, privação e perda.
“masoquismo” ou uma
“necessidade de sofrer”

Análise de conteúdo de
sonhos: hostilidade?
Ênfase na cognição
Reformulação da depressão:
Interpretações tendenciosas das situações, atribuídas à ativação de
representações negativas
de si mesmo, do mundo pessoal e do futuro (a tríade cognitiva)

Ênfase na influência do pensamento distorcido e da

avaliação cognitiva irrealista de eventos sobre os
sentimentos e comportamentos do indivíduo
 O ensaio clínico controlado randomizado
que foi conduzido por eles com pacientes
deprimidos, publicado em 1977,
constatou que a terapia cognitiva era tão
efetiva quanto a imipramina,
um antidepressivo comum.

Foi uma das primeiras vezes em que uma terapia

da palavra havia sido comparada a uma
medicação.

Beck, Rush, Shaw e Emery (1979)

publicaram o primeiro manual de terapia cognitiva dois anos depois.
O MODELO COGNITIVO
DE PROCESSAMENTO
DA INFORMAÇÃO
 Ir a uma festa
Esquiva / evitação: não ir a festa.
Isolar-se.
Ir embora.

Como estratégias de enfrentamento para

tentar evitar o contato com suas crenças
nucleares e subjacentes, os pacientes podem
empregar estratégias compensatórias.
Embora essas manobras cognitivas e Os esquemas são ativados por certas
situações análogas àquelas experiências “É impossível eu ser amado/
comportamentais aliviem seu sofrimento
precoces que engendraram o gostarem de mim”
emocional momentaneamente, em longo
prazo as estratégias compensatórias podem desenvolvimento do esquema
reforçar e piorar crenças disfuncionais.

As pessoas são melhores do que eu. Elas têm A ativação desses esquemas interfere na
amigos. Estão rindo e zombando de mim. capacidade da avaliação objetiva de
Estou inadequado. eventos, e o raciocínio torna-se
Estou deslocado/isolado. A festa será
prejudicado. Distorções cognitivas horrível/desconfortável
Fui idiota por ter vindo. Sou mesmo inferior e não há sistemáticas (por exemplo,
motivos para gostarem de mim. catastrofização, raciocínio emocional e
abstração seletiva) ocorrem à medida
que esquemas disfuncionais são
ativados.
A ativação dos esquemas interfere na capacidade da avaliação objetiva de eventos, e o raciocínio torna-se prejudicado e
distorções cognitivas sistemáticas ocorrem à medida que esquemas disfuncionais são ativados.

Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(Supl II):S54-64

A natureza biopsíquica do Self
A personalidade baseia-se na operação coordenada de sistemas complexos que
foram selecionados ou adaptados para assegurar sobrevivência biológica;

Tais sistemas apresentam continuidade através do tempo e das situações de vida

e são controlados por processos ou estruturas
genéticas e ambientalmente determinados, denominados“esquemas”;

Os esquemas são estruturas de significado conscientes e

inconscientes e servem à função de sobrevivência a
demandas sociais e ambientais imediatas. Quando as
circunstâncias ambientais mudam, estratégias anteriormente
adaptativas continuam a operar, mas de forma insatisfatória.
O modelo cognitivo

Interpretação
Situação
Respostas

● Pensamentos automáticos
● Crenças intermediárias
● Crenças centrais
● emocionais,
● fisiológicas e
● comportamentais

Interesse do terapeuta cognitivo

As crenças centrais

✓ Entendimentos tão fundamentais e profundos que as pessoas não os articulam

nem para elas mesmas;

✓ São consideradas verdades absolutas;

✓ O mundo é interpretado através das lentes dessa crença;

✓ Quando a crença é ativada, há a tendência em focalizar seletivamente

estímulos (situações) que confirmem essa crença.

Crenças centrais = nível mais fundamental de crença, são globais, rígidas e supergeneralizadas
Crenças Intermediárias
✓ Atitudes (posicionamento, por exemplo: arrogante, passiva);

✓ Regras (comportamentos a serem emitidos, padrão de cpto);

✓ Suposições (generalizações, interpretações).

Pensamentos Automáticos
✓ Fluxo de pensamentos que coexiste com um fluxo de pensamento mais manifesto,
são experiências comuns a todos nós;

✓ Surgem espontaneamente e não são embasados em reflexão ou deliberação;

✓ São breves e fugazes;

✓ São aceitos como verdadeiros.

 Interpretação
Situação
Respostas

● Pensamentos automáticos
Isso é difícil de mais.
● Ler o livro da Judith Eu jamais entenderia isso
Beck sobre TCC ● Emocionais
Tristeza
● Crenças intermediárias
Se eu não entendo perfeitamente,
então eu sou burro.
● Fisiológicas
Peso no abdômen, enjoo, nó
na garganta
● Crenças centrais
Eu sou incompetente
● comportamentais
Fecha o livro
Conceituação
Cognitiva
Formulação do caso
(estrutura para o entendimento de um paciente pelo terapeuta)

01 Qual é o diagnóstico do
paciente?
03 Que pensamentos e crenças
disfuncionais estão associados
aos problemas?

02 Quais são os seus problemas

atuais, como esses problemas 04
se desenvolveram e
como são mantidos?
Quais reações
(emocionais, fisiológicas e comportamentais)
estão associadas ao seus
pensamento?

Formulação orgânica em evolução, fluida

Levantamento de hipóteses
Que aprendizagens e
experiências antigas (e talvez
predisposições genéticas)
contribuem pra os seus
problemas hoje?
Quais são suas crenças
subjacentes (atitudes,
expectativas e regras) e
pensamentos?
Como ele enfrentou suas
crenças disfuncionais? Que
mecanismos ele desenvolveu
para enfrentar suas crenças?
Como ele via (e vê) ele mesmo,
os outros, seu mundo pessoal,
seu futuro?
Que estressores contribuíram
para seus problemas ou
interferiram em sua habilidade
para resolver esses problemas?
Atividade da Aula 2
Faça a leitura indicada e responda:

1) A TCC é meramente um conjunto de técnicas? Por que?

2) A TCC subestima a importância das emoções e do relacionamento
terapêutico? Por que?
3) ATCC desconsidera a origem infantil de muitas dificuldades
psicológicas? Por que?
4) Descreva com as suas próprias palavras o modelo cognitivo.
5) Para pensar (não precisa escrever): você consegue identificar alguma
distorção cognitiva sua frente a situação de entender o conteúdo dessa
disciplina?
Leitura para a Atividade da Aula 2

O modelo cognitivo de Beck

Princípios da Terapia Cognitiva - Cap 1

BECK, J.
Terapia Cognitivo-Comportamental –teoria e prática.
2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
 Leitura para a próxima aula
BECK, J.
Terapia Cognitivo-Comportamental –teoria e prática.
2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

▪ Identificação de pensamentos automáticos – Cap. 9

▪ Avaliando os Pensamentos Automáticos – Cap. 11

▪ Respondendo aos Pensamentos Automáticos – Cap. 12