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Superior Tribunal de Justiça

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 13.935 - DF (2008/0242984-0)

RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI


IMPETRANTE : NEI FRANCIO
ADVOGADA : MAUREN LAZZARETTI E OUTRO(S)
IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE
EMENTA

MANDADO DE SEGURANÇA. PEDIDO DE EXCLUSÃO DA


"LISTA DOS 100 MAIORES DESMATADORES DA FLORESTA
AMAZÔNICA" PUBLICADA NA INTERNET EM PÁGINA
OFICIAL DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. ALEGAÇÃO
DE FALSIDADE DAS INFORMAÇÕES. FALTA DE PROVA
PRÉ-CONSTITUÍDA. PRECEDENTES DA 1ª SEÇÃO (MS
13.921/DF, MS 13.934/DF). DIVULGAÇÃO FUNDADA EM AUTO
DE INFRAÇÃO NÃO DEFINITIVAMENTE JULGADO.
POSSIBILIDADE ASSENTADA NA LEI 10.650/03 (ART. 4º),
DEVENDO SER OBSERVADO O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.
149 DO DECRETO FEDERAL 6514/08. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia PRIMEIRA SEÇÃO do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conceder
parcialmente a segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves e
Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido, Luiz Fux e
Denise Arruda.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Castro Meira.
Brasília, 10 de março de 2010.

MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI


Relator

Documento: 952140 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/03/2010 Página 1 de 6
Superior Tribunal de Justiça
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 13.935 - DF (2008/0242984-0)

IMPETRANTE : NEI FRANCIO


ADVOGADA : MAUREN LAZZARETTI E OUTRO(S)
IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI:


Trata-se de mandado de segurança impetrado por Nei Francio contra ato do Ministro
de Estado do Meio Ambiente, consubstanciado na inclusão de seu nome na "lista dos 100
maiores desmatadores" da Floresta Amazônica, publicada no site oficial do Ministério do
Meio Ambiente.
Na inicial, o impetrante alega que (a) "as informações veiculadas são falsas, precárias
e literalmente sem lastro de verdade" (fl. 04); (b) "foi incluído na lista em razão do auto de
infração 544736, que trata de exploração seletiva de 2.525,18 hectares" (fl. 06); (c) "a lista é
flagrantemente falsa, pois não traz os 100 maiores desmatadores, ela aponta no máximo os
possíveis 100 maiores autos de infração lavrados pelo IBAMA" (fl. 06); (d) "nem mesmo os
autos de infração mencionados na lista tratam de desmate" (fl. 06); (e) o ato impugnado
viola os princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa, do
contraditório e da presunção de inocência, pois "o auto de infração ainda não foi julgado de
forma definitiva" e não lhe foi oportunizado prazo para defesa (fl. 09); (f) "é nítido o seu
direito líquido e certo de ser excluído da lista, que é falsa, fundada em dados precários,
elaborada sem critério e publicada sem leitura" (fl. 12). Postula sua exclusão da lista
impugnada e a publicação da decisão judicial no site do Ministério do Meio Ambiente.
Em suas informações (fls. 71/81), sustenta a autoridade impetrada que (a) "o
impetrante volta-se contra a divulgação de dados administrativos que já são considerados
públicos pelo ordenamento jurídico" (fl. 72); (b) "tal lista, equivocadamente denominada pela
mídia de 'Lista dos 100 maiores desmatadores', teve como objetivo precípuo dar maior
publicidade aos autos de infração lavrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, que correspondem às maiores áreas de desmate
fiscalizadas" (fl. 72); (c) "o ato administrativo de lavratura do auto de infração reveste-se de
presunção de veracidade e legitimidade, que só é afastada em caso de prova em contrário,
o que, no caso do impetrante, não aconteceu até então" (fl. 74); (d) "o impetrante faz
referências a dados e fatores científicos, elementos suscetíveis de apuração em perícia e
exames técnicos, o que indica uma demanda por produção probatória complexa, incabível
em sede de mandado de segurança" (fl. 75); (e) "a Lei 10.650/2003 (...) não exige como
condição para a publicação de dados sobre informações ambientais o encerramento do
processo administrativo instaurado a partir de auto de infração e demais penalidades
impostas por órgão ambientais" (fl. 78); (f) "a divulgação não se trata de condenação
antecipada do autor, mas apenas de publicidade de atos administrativos (autos de infração)
para os administrados, em atenção ao que dispõe o princípio constitucional da publicidade e
os dispositivos infraconstitucionais" (fl. 79); (g) "analisando-se os autos do processo
administrativo ora anexado, é possível verificar que lhe foi oportunizado o exercício de seus
direitos, tanto que o mesmo apresentou sua impugnação ao auto de infração" (fl. 81).
O Ministério Público Federal, em parecer de fls. 83/88, opina pela extinção do
processo sem julgamento do mérito, por considerar ilegítima a autoridade impetrada.
Em petição de fls. 93/98, o impetrante, além de reiterar os argumentos expendidos na
inicial, alega que (a) "o Ministro do Meio Ambiente praticou ato coator quando usou os
dados fornecidos pelo IBAMA" para divulgação (fl. 94); (b) "o que a Lei 10.650 de 2003
dispõe é que são públicos os autos de infração e as penalidades, não significando que as
informações podem ser manipuladas de qualquer forma" (fl. 96); (c) "após a propositura
(...), a norma ambiental (Decreto Federal 6514/2008) foi modificada para estabelecer

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maiores critérios ao se divulgar dados dessa natureza", dispondo que o "órgão ambiental
deverá, obrigatoriamente, informar se os processos estão julgados em definitivo ou
encontram-se pendentes de julgamento ou recurso" (fl. 95).
É o relatório.

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RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI


IMPETRANTE : NEI FRANCIO
ADVOGADA : MAUREN LAZZARETTI E OUTRO(S)
IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE
EMENTA

MANDADO DE SEGURANÇA. PEDIDO DE EXCLUSÃO DA "LISTA


DOS 100 MAIORES DESMATADORES DA FLORESTA
AMAZÔNICA" PUBLICADA NA INTERNET EM PÁGINA OFICIAL
DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. ALEGAÇÃO DE
FALSIDADE DAS INFORMAÇÕES. FALTA DE PROVA
PRÉ-CONSTITUÍDA. PRECEDENTES DA 1ª SEÇÃO (MS
13.921/DF, MS 13.934/DF). DIVULGAÇÃO FUNDADA EM AUTO DE
INFRAÇÃO NÃO DEFINITIVAMENTE JULGADO. POSSIBILIDADE
ASSENTADA NA LEI 10.650/03 (ART. 4º), DEVENDO SER
OBSERVADO O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 149 DO DECRETO
FEDERAL 6514/08. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI (Relator):


1. Pretende o impetrante a exclusão de seu nome da "lista dos 100 maiores
desmatadores" da Floresta Amazônica, publicada no site oficial do Ministério do Meio
Ambiente, sustentando, em suma, que (a) "a lista é flagrantemente falsa, pois não traz os
100 maiores desmatadores, ela aponta no máximo os possíveis 100 maiores autos de
infração lavrados pelo IBAMA" (fl. 06); (b) "nem mesmo os autos de infração mencionados
na lista tratam de desmate" (fl. 06); (c) o ato impugnado viola os princípios constitucionais
do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório e da presunção de inocência.
No caso, analisar a veracidade ou não das informações contidas na referida lista,
levando em consideração os critérios adotados em sua elaboração, demandaria dilação
probatória, inviável em mandado de segurança, instrumento para tutela de direito líquido e
certo. Nesse sentido, a 1ª Seção manifestou-se, em casos análogos, nos termos das
seguintes ementas:

ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURANÇA – MEIO AMBIENTE – INCLUSÃO NA


LISTA DOS 100 MAIORES DESMATADORES – ALEGAÇÕES DE ERROS E DEFICIÊNCIAS
TÉCNICAS NA LISTA DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – IMPOSSIBILIDADE DE
EXAME SUPERFICIAL.
1. Mandado de segurança que tem por objeto a exclusão do nome do impetrante da lista
divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente sobre as 100 pessoas naturais e jurídicas que mais
provocaram desmatamento no Brasil.
2. Inviabilidade da discussão em sede estreita do mandado de segurança, na medida em que o
ato se louvou em procedimento administrativo advindo de auto infracional aplicado ao autor. Há
no processo a necessidade de exame de dados, fatores científicos, elementos suscetíveis de
apuração em perícia e exames técnicos. É notável a complexidade da causa, até porque se
antevê a presunção de validade do auto de infração que determinou a presença do nome do
impetrante no rol de desmatadores. Remanescerá ao impetrante a busca de tutela jurisdicional
nas vias ordinárias.
3. "Descabe a impetração do mandado de segurança se, para a configuração do direito
alegado, impõe-se a verificação de circunstâncias não-apuráveis na via estreita do mandado de
segurança." (RMS 23.079/TO, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 15.5.2007,
DJ 28.5.2007 p. 308).
Mandado de segurança extinto sem resolução do mérito.

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(MS 13.921/DF, 1ª S., Min. Humberto Martins, DJe de 06/04/2009)

ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURANÇA – LEGITIMIDADE PASSIVA –


CONFIGURAÇÃO – DIREITO LÍQUIDO E CERTO – INEXISTÊNCIA – ALEGAÇÕES DE
ERROS E DEFICIÊNCIAS TÉCNICAS NA DIVULGAÇÃO DE DADOS – NECESSIDADE DE
DILAÇÃO PROBATÓRIA – EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO.
1. A legitimidade passiva ad causam da autoridade coatora está configurada por possuir o
impetrado competência para retirar os dados divulgados, na página oficial do Ministério do Meio
Ambiente, via internet.
2. Descabe a impetração do mandamus se, para a configuração do direito alegado, impõe-se a
verificação de circunstâncias não-apuráveis na via estreita do mandado de segurança.
3. In casu, a pretensão deduzida na ação mandamental esbarra em óbice intransponível,
consubstanciado na ausência de direito líquido e certo.
4. Mandado de segurança extinto, sem resolução de mérito.
(MS 13.934/DF, 1ª S., Min. Eliana Calmon, DJe de 18/06/2009)

Ademais, no que tange à apontada violação ao devido processo legal, não assiste
razão ao impetrante, tendo em vista que a inclusão de seu nome teve como fundamento
auto de infração, em relação ao qual lhe foi oportunizado o exercício do contraditório e da
ampla defesa (fls. 24/48).
O ato da autoridade impetrada tem suporte na Lei 10.650/03 (art. 4º). A circunstância
de o auto de infração ainda não ter sido julgado definitivamente não é óbice para a sua
utilização na lista impugnada. No entanto, tal informação deve constar da divulgação, por
força do disposto no parágrafo único do art. 149 do Decreto Federal 6514/2008.

2. Ante o exposto, concedo parcialmente a segurança apenas para determinar à


autoridade impetrada que inclua, na lista impugnada, as informações previstas no parágrafo
único do art. 149 do Decreto Federal 6514/2008. Considerando a sucumbência mínima da
União, custas pelo impetrante. Sem honorários advocatícios (Lei 12.016/09, art. 25). É o
voto.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA SEÇÃO

Número Registro: 2008/0242984-0 MS 13935 / DF

PAUTA: 10/03/2010 JULGADO: 10/03/2010

Relator
Exmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES MORAES FILHO
Secretária
Bela. Carolina Véras
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : NEI FRANCIO
ADVOGADA : MAUREN LAZZARETTI E OUTRO(S)
IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Atos
Administrativos

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Seção, por unanimidade, concedeu parcialmente a segurança, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques,
Benedito Gonçalves e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido, Luiz Fux e Denise
Arruda.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Castro Meira.

Brasília, 10 de março de 2010

Carolina Véras
Secretária

Documento: 952140 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/03/2010 Página 6 de 6

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