ROMA IMPERIAL
Império Romano
Séculos de prosperidade e
paz
Na verdade, o Império Romano durou séculos,
Augusto promoveu uma política de
marcados por longos períodos de prosperidade e paz.”
zação da identidade cultural do povo romano, associando
CORASSIN, Maria Luiza. Sociedade e política na Roma antiga. São
Paulo: Atual, 2001. p. 5-6.
adições romanas à sua própria figura. Com esse objetivo,
tivou a realização de cultos religiosos de adoração a
A construção da figura do imperador dades conhecidas pelo povo e organizou dezenas de
jogos e espetáculos públicos, que contavam com ansula Itálica que aceitaram a submissão a Roma,
participação de atores de vários lugares do império. anto escravizaram ou impuseram pesados tributos aos
resistiam. Já no século III d.C., o imperador Caracala
Contudo, foi a literatura a área maisulgou o Édito de Caracala, que concedeu a cidadania
estimulada por Augusto para engrandecer o povo romano e ana a todos os indivíduos livres do império.
figura do imperador. O poeta Virgílio, contemporâneo de
Augusto, colaborou para divinizar e eternizar a figura de seu A prosperidade econômica
poderoso protetor. Em Eneida, poema épico escrito entre 29 Durante o governo de Augusto e até o século II da
a.C. e 19 a.C., Virgílio narra a epopeia de Eneias, herói troiano era cristã, o império foi ampliado, e a economia romana
que foge enquanto sua cidade era destruída pelos gregos. alcançou grande desenvolvimento. Nesse período de
Protegido pela deusa Vênus, sua mãe, o herói vaga por estabilidade e riqueza, a conquista de novas terras possibilitou
diversos lugares, enfrenta a fúria da deusa Juno e sobrevive a o aumento da produção agrícola e da criação de gado. As
imensos perigos até aportar na Península Itálica. Com essa terras dominadas transformaram- se em grandes zonas
narrativa, Virgílio divinizou a origem de Roma, o ancestral agropastoris, que abasteciam os moradores locais e geravam
troiano Eneias e a nação que ele fundou nas terras da Itália. excedentes para o comércio com outras regiões.
Ao glorificar o povo latino, Eneida também celebra Augusto,
considerado descendente de Eneias. Para garantir esse crescimento, intensificou-se o
uso do trabalho escravo, que se tornou a base da economia
O processo de integração romana. Um terço da população do império era constituído por
escravos, e a maioria, prisioneiros de guerra. No entanto,
Durante o período imperial, o governo embora existisse em todo o império, a escravidão só
romano continuou o processo de romanização das províncias, predominava na Península Itálica.
difundindo a língua e a cultura latinas e implementando a
organização administrativa romana nos territórios O comércio entre Roma e os povos dominados era
conquistados no período. importante fonte de renda para o império. As províncias
romanas forneciam as principais matérias-primas e os
A difusão da cultura latina, no entanto, não produtos consumidos em Roma, como você pode ver no mapa
se deu de maneira uniforme em todas as províncias. Em apresentado abaixo. Porém, a concorrência dos produtos das
algumas regiões, como a Lusitânia (atual Portugal), a cultura províncias afetou negativamente os pequenos proprietários e
latina foi mais bem aceita, e o processo de romanização artesãos, que empobreceram e engrossaram a massa de
ocorreu sem muitos conflitos. Em outras, como na Britânia plebeus marginalizados em Roma.
(atual Reino Unido), houve resistência, e a cultura latina teve
pouca penetração.
Ampliando: prosperidade
econômica
Durante o império, os romanos revelaram-se Pompeia foi redescoberta, por acaso, no século
grandes mestres das construções. Os imensos edifícios XVI, mas apenas em 1748 escavações e pesquisas
públicos, como templos, monumentos comemorativos,
começaram a ser realizadas na área. Objetos e edifíc moradias de famílias ricas, casas de banho, anfiteatros e
bom estado de conservação fazem de Pompeia um dos muitos outros vestígios que auxiliam os arqueólogos e os
arqueológicos mais espetaculares do mundo. historiadores a conhecerem a vida cotidiana dos romanos nas
cidades do império.
Entre as ruínas descobertas pelos cientist
DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga
Nas escavações, os arqueólogos encontraram ainda numerosos mosaicos e afrescos, pinturas feitas sobre
paredes umedecidas para que as cores se fixassem bem. Os
afrescos, muito populares em todo o império, geralmente
representavam cenas domésticas. Os romanos usavam cores
muito vivas e fortes, como vermelho e azul-escuro.
Mosaico na entrada de uma residência, representando dois atletas e afrescos
ao fundo. Sítio arqueológico de Pompeia, na Itália. Foto de 2014.
Cristianismo: uma nova crença em terras messias viria à Terra para salvar a humanidade de todos
romanas ecados e ensinar o caminho para o reino de Deus.
ndo Jesus iniciou suas pregações, muitos judeus
A religião cristã surgiu na província romanaditaram que ele era o esperado messias e adotaram seus
da Judeia, no início do período imperial, e com o tempo seamentos como guia para a vida.
difundiu pela Europa e pela costa mediterrânea da Ásia e da
África. Embora houvesse várias outras religiões nas terras do Em seus sermões e parábolas, Jesus
império, nenhuma delas foi capaz de promover mudanças tãoou autoridades e costumes judaicos, e defendeu os
intensas no mundo romano quanto o cristianismo. mentos marginalizados da população. Além disso, seu
rso pacifista e a negação do caráter divino do imperador
Os valores cristãos rompiam com o passado uma ameaça à ideologia militarista romana e ao poder
greco- romano, inspirando em homens e mulheres uma novarial. À medida que Jesus ganhava popularidade, alarmava
atitude diante da vida. Ao incorporarem os princípios daites da Judeia e as autoridades romanas, temerosas de
bondade e do amor ao próximo, os fiéis tendiam a se tornarseus ensinamentos pudessem incitar uma grande rebelião
mais resignados com as dores do presente e a transferir suaslar. Por conta desse posicionamento, Jesus foi, então,
esperanças para a vida após a morte. Essas ideias eramdo pelas autoridades romanas e condenado a morrer na
estranhas tanto para a cultura greco- romana quanto para apena bastante comum no mundo romano.
religiosidade das sociedades orientais da época. A difusão do cristianismo
Os cristãos recusavam-se a adorar o imperador e os deuses pagãos, e por isso passaram a ser perseguidos
pelas autoridades romanas. As perseguições, porém, não
ocorriam o tempo todo. Havia períodos de paz em que os
cristãos podiam percorrer as terras romanas levando a
mensagem deixada por Jesus.
Canônico: de acordo com as regras e a doutrina da
Igreja.
A perseguição aos cristãos não impediu o gregos, estranha, balbuciante. No início, o termo
crescimento do novo credo e a consolidação da Igreja cristã,nava povos inferiores, selvagens, incivilizados, os que
cada vez mais organizada. A partir do século III, quando osaziam parte da cultura grega. O termo, portanto, adquiriu
imperadores começaram a perder força e a unidade do conotação pejorativa, pois, para os gregos, todos os
império passou a ser ameaçada, a Igreja já era uma instituiçãongeiros – inclusive romanos – eram considerados
poderosa, capaz de influenciar grande parte dos habitantes doaros”.
império. Por isso, tornou-se importante ter seu apoio.
No século I, porém, “bárbaro” passou a ser
A legislação imperial demonstrou essaegado pelos romanos. Mantendo a conotação pejorativa,
mudança: em 313, pelo Edito de Milão, o imperadormo identificava os povos que viviam fora das fronteiras do
Constantino, já convertido, concedeu liberdade de culto aosrio, ou seja, não partilhavam dos costumes nem da
cristãos e adotou um símbolo cristão para sua armada (onização política romana. Entre os povos denominados
crisma); em 380, o imperador Teodósio, pelo Edito dearos”, o grupo predominante era formado pelo conjunto
Tessalônica, tornou o cristianismo a religião oficial do Impérioovos germânicos originários do centro-norte e do nordeste
Romano. uropa: francos, ostrogodos, visigodos, vândalos, anglos e
es, entre outros.
Em menos de quatro séculos, o cristianismo
deixou de ser uma religião perseguida para se transformar em Embora todos os estrangeiros fossem
religião de Estado. mente classificados como “bárbaros”, havia diferenças
antes na sua cultura e modo de vida. Alguns eram
Leia, abaixo, o que o historiador Pierre ades e viviam quase exclusivamente da prática da
Grimal escreveu a respeito: “ [No século III] ainda se verificamgem; outros viviam em vilas, dedicando-se às atividades
pastoris.
perseguições [...] mas também é evidente que [...] a tolerância
Até o século IV, o convívio dos romanos com
em relação aos cristãos surge como uma necessidade política
ovos chamados “bárbaros” foi relativamente pacífico.
e torna-se regra. [...] A religião cristã adquirira já um grande
os líderes “bárbaros”, inclusive, tinham acordos com os
peso no império. Um dos dois Césares [...] publica [...] um
radores de Roma pelos quais podiam se instalar nas
edito de tolerância. O que equivalia a reconhecer o poder do
s fronteiriças do império em troca de auxiliar na
deus dos cristãos. [...] O poder já não persegue os cristãos,
rança da região. Eles também serviam as legiões
favorece-os, ajuda-os. [...] Em vez de aparecer como uma
nas como mercenários e, quando os
força mortal no império, o cristianismo é um elemento de
escravos começaram a se tornar escassos, obtiveram
coesão, um fator de unidade no Ocidente [...].”
permissão para entrar no império a fim de servirem como mão
GRIMAL, Pierre. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999. p.
129-131
de obra.
De origem grega, a palavra bárbaro era No século III, o Império Romano viveu uma crise
usada para nomear os estrangeiros, aqueles cuja fala soava, profunda, na qual se modificaram as características da
sociedade, da economia, da política e da cultura de Roma.
Vejamos como essa crise se desenvolveu.
Simultaneamente, o império foi duramente
Por séculos, Roma lutou para dominar impactado pela diminuição do número de escravos devido à
povos. No início do século II, as conquistas de Trajan redução das guerras de conquista. É importante lembrar que a
governou entre 98 e 117, levaram o império à sua ex maior parte da mão de obra escrava do império era composta
máxima. No entanto, suas campanhas militares foram de prisioneiros de guerra. A falta de escravos afetou
dispendiosas e algumas delas não tiveram êxito. Adrian principalmente as propriedades da Península Itálica, que
sucessor, renunciou às guerras de conquista e abando dependiam desse tipo de mão de obra para todo tipo de
territórios da Mesopotâmia, submetidos por Trajan
trabalho. Invasões “bárbaras”
avaliar que era difícil administrá-los.