Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Unidade I
1
Apresentação do professor-autor
3
1. Noções gerais sobre a linguagem e a comunicação
4
Torna-se implícito o que pode ou não ser feito, o porquê daquilo e quais as
consequências dali decorrentes. Observa-se, pois, os efeitos jurídicos decorrentes de
signos e como podem impactar a cidadania do indivíduo.
No que tange ao ambiente jurídico, muito pode ser debatido acerca de ações
judiciais reparatórias da honra objetiva decorrentes da dúbia interpretação da
linguagem escrita nos meios digitais, como as redes sociais. Pode-se conjecturar a
dificuldade de estabelecer sarcasmo em determinada postagem ou não.
Observemos a postagem da rede social Twitter, onde há limitação para 280
(duzentos e oitenta) caracteres em cada postagem (tweet). Esse formato pode – ou
não – prejudicar muito o interlocutor da mensagem.
Soma-se a essa dificuldade outra peculiaridade do contexto social brasileiro do
século XXI. Há uma abundante animosidade da população brasileira frente aos
escândalos de corrupção por parte dos agentes políticos eleitos, tornando hostis
muitas manifestações opinativas por parte de usuários – eleitores – em suas redes
sociais.
Os denominados instrumentos de linguagem são muito empregados, o que
torna dúbia a interpretação sobre determinado fato ou pessoa, e ambígua a agregação
do significado ao significante. É observável também a adesão, bem como a
contrariedade, ao denominado politicamente correto, em que determinado interlocutor
emprega palavras adequadas e sutis ao contexto ou ao público para evitar ofensas,
ou exclusão, aos receptores da mensagem.
Não obstante, a mensagem visual difundida pela internet, por meio dos memes
(termo oriundo da memética, teoria proposta pelo biólogo Richard Dawkins para
explicar a proliferação de ideais de maneira similar como ocorrem com os genes),
mostra o impacto no cotidiano dos usuários de internet, principalmente pelo emprego
do humor (um significante específico que pode ser agregado ou não ao significado).
Assim, os memes que se proliferam na internet têm o condão de estimular a
reflexão sobre determinado evento ou pessoa, de ridicularizar e até mesmo de sugerir
um evento ou acontecimento falso – as denominadas fake news.
Doravante, muitas pessoas públicas – entre celebridades e políticos –
provocam o Poder Judiciário para imposição de medidas como a exclusão do
conteúdo publicado on-line e a reparação pecuniária por ofensa a honra.
Toda dinâmica social perpassa pela linguagem, independentemente da
qualidade ou intenção da comunicação estabelecida. Assim, a linguagem escrita
tende a ser mais comedida enquanto a falada pode ser mais espontânea e explosiva,
a depender do contexto. Posto isso, surgem outros problemas como o assédio moral
dentro do ambiente de trabalho e a dificuldade de manter o convívio profissional de
maneira saudável.
No que concerne às atividades institucionais, a linguagem verbal e a não verbal
repercutem também na atividade desempenhada pelo Poder Judiciário.
A natureza do sistema judicial adotado no Brasil condiz com a prevalência da
linguagem escrita, sobretudo com a formalização de atos e fatos por meio de
documentos. Inerente a essa forma de linguagem, o conteúdo textual tende a ser mais
claro, prolixo e formal, haja vista que a verbalização pela fala tende a ser contaminada
pela espontaneidade do momento, imediatismo, gestos e entonação da voz.
5
Porém, até mesmo a linguagem formal escrita não está alheia, de alguma
maneira, a interpretações dúbias ou conflituosas.
Nesse sentido, tem-se o emprego do fenômeno do controle de
constitucionalidade sem redução do texto, também chamado de mutação
constitucional, exercido pelo Supremo Tribunal Federal – STF –, formalizando uma
forma específica de compreender o sentido da norma jurídica em discussão.
Logo, algo dessa magnitude impacta direitos e deveres de todos os cidadãos e
necessita do operador do Direito a aplicação da hermenêutica, para poder extrair o
melhor sentido que a norma originalmente prescrevera. Por meio de critérios objetivos,
tende-se a extrair do texto formal o maior alcance jurídico plausível, além de minorar
efeitos danosos frente à hipótese de subsunção da norma.
Doravante, muitos expedientes judiciais podem ser admitidos ou empregados,
visando à diminuição do excesso de burocracia e a emergência de determinados
frente a contextos sociais específicos, como processos que podem ser decididos sem
necessidade de realização de audiência instrutória, com o fim de aplicar a celeridade
processual.
Os autores Fabio Trubilhano e Antonio Henriques sintetizam as características
da linguagem gráfica, esclarecendo que:
6
Há determinados estilos empregados na linguagem culta, tanto que é
corriqueiro o entendimento de que a literatura jurídica é demasiadamente prolixa,
sendo usado o termo juridiquês. Essa é uma das facetas envolvidas na redação
padrão, doravante outros meios literários utilizarem-se de termos específicos de seu
ramo, como manuais de medicina e ensaios de filosofia.
Na esfera da União Federal, foi elaborado o Manual de Redação da Presidência
da República, estabelecido como padrão para a Administração Direta e Indireta
Federal. No manual, há modelos para as correspondências oficiais e também regras
gramaticais para o bom uso da norma culta quanto às expressões empregadas no
cotidiano de um órgão ou entidade pública.
Atualmente, o manual mencionado está em sua terceira edição, aprovado pela
Portaria nº 1.369, de 27 de dezembro de 2018, pela Subchefia para Assuntos Jurídicos
da Casa Civil.
De acordo com o documento, a linguagem formal oficial empregada e
padronizada pela União homenageia princípios de clareza e concisão, com a
finalidade de tornar a comunicação direta e ágil para respostas ou ações.
Outra forma de linguagem consiste na língua vulgar ou coloquial, que é a
usada no dia a dia, falada pelas pessoas mais simples e com menor grau de instrução.
Todavia, muitos literatos e cientistas modernos advogam pela não discriminação
dessa forma de comunicação, haja vista que, apesar de não empregarem as regras
gramaticais como foram estabelecidas, seus interlocutores conseguem manter
razoavelmente a comunicação, não afetando diretamente suas atividades e lazeres.
Em contrapartida, muitos alegam a necessidade de que a educação seja
difundida e rígida, em prol das práticas ordeiras e da disciplina, já que não corrigir
erros coloquiais propiciaria a normalização daquilo que é errôneo.
Há outra forma de linguagem, considerada familiar ou grupal, usada entre
pequenos grupos ou coletividades, como núcleos familiares e pequenas
comunidades.
Porém, não há consenso sobre essas taxonomias, pois pode ser encontrada
uma subclassificação sobre o linguajar cotidiano, podendo uma delas ser conceituada
popular, com erros de concordância, vícios linguísticos e usos de gírias regionais, e a
outra, denominada como afetivo ou familiar, relacionada com a comunicação familiar
e local, sendo ambas consideradas subdivisões da forma coloquial.
A partir da linguagem escrita, encontraremos, ainda, o texto ou discurso, que
consiste na manifestação por quaisquer de suas formas e gêneros.
O texto é nuclearmente considerado de três formas: a narração, a dissertação
e a descrição, podendo uma complementar a outra a depender do gênero textual.
O texto narrativo expõe a ocorrência de um fato ou a sequência de
acontecimentos, característica da linguagem oral. Não tão distinta, a descrição pode
ser uma forma mais técnica, consistindo no elenco de características ou atributos de
objetos e seres. A dissertação, por fim, refere-se à exposição de ideias ou defesa de
teses, podendo estar sujeita a formalidades técnicas quanto à sua elaboração.
No peticionamento judicial, os fatos são narrados para que o juiz possa dizer o
direito ao fim da ação, da mesma forma que o réu poderá narrar sua versão dos fatos
na sua contestação. A dissertação é elaborada para formar a tese de Direito,
7
consolidando o raciocínio jurídico empregado, por meio de argumentação, para
mostrar ao magistrado por que o autor tem razão e seus requerimentos merecem ser
concedidos.
Já em sede de instrução probatória, ocorrências e fenômenos podem ser
narrados pelas testemunhas ou pelo depoimento das partes. Quanto à atuação do
perito técnico profissional, predomina o discurso descritivo, haja vista realizarem
laudos psiquiátricos, avaliações de imóveis ou cálculos, para aferir a condição de
pessoas ou estado de bens.
Os gêneros textuais decorrem do tipo textual empregado, podendo ser
considerados como instrumentalização dos textos. Nesse sentido, o texto jornalístico
e a lei são gêneros textuais distintos.
No âmbito da atividade do Poder Legislativo, a Lei Complementar nº 95, de 26
de fevereiro de 1998, dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação de leis. Por meio dessa norma, tem-se esquematizada a técnica
empregada para redação de leis e atos normativos, compondo o gênero legislativo ou
normativo.
Nos termos do Art. 3º da referida lei, tem-se a estrutura da lei em três partes:
preliminar, normativa e final. A seguir, estão elencados os elementos que compõem
cada parte:
8
1. Artigo, sendo a unidade básica de articulação. Poderá ser desdobrado em
parágrafos.
2. Parágrafos poderão ser estratificados em incisos.
3. Incisos, passíveis de serem esmiuçados em alíneas.
4. Alíneas, que poderão sofrer discriminação na forma de itens.
5. Itens.
9
1.1 Linguagem jurídica
10
redação se dá com a seguinte estrutura: “São absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.”
c) Orações reduzidas estabelecem hipóteses ou acontecimentos que possam
requerer uma norma específica da lei para o caso. Nesse exemplo, os verbos são
utilizados na forma do gerúndio ou do particípio. Para ilustrar, utilizaremos os
seguintes dispositivos do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/1966):
11
Com o uso adequado de pronomes, o texto torna-se elegante e enxuto, já que
discorre sobre diversas ocorrências apenas no caput do Artigo, sem escrutinar em
parágrafos ou incisos.
e) Pontuação, sendo dada especial atenção ao uso de vírgulas, para
estabelecimento de exceções ou situações específicas sobre as quais o agente ou o
fenômeno jurídico deva agir ou deixar de agir; ou para estabelecer elementos
acessórios ao enunciado em ordem direta da oração.
12
Código Comercial (Lei nº 556/1850). Todavia, poderiam ser empregadas as
expressões jurídicas específicas para esse fenômeno da revogação da norma: ab-
rogação do Código Civil de 1916 e derrogação do Código Comercial, quanto à
primeira parte.
A observância da carga semântica deve ser considerada e empregada para
cada definição jurídica da maneira mais precisa possível, sob pena de acarretar
prejuízos na atividade profissional no campo do Direito. Assim, torna-se imperativa a
distinção entre furto e roubo, oriundas do Código Penal Brasileiro (Decreto-lei nº
2.848/1940), ou o estabelecimento da distinção entre interrupção e suspensão de
prazo, não considerando que ambos possuam o mesmo significado ou efeito.
Na esfera judicial, quando se trata de decisões e despachos judiciais, é habitual
da atividade judicante que o magistrado determine o cumprimento ou a realização de
atos para as partes, além da realização de expedientes, direcionado aos agentes
administrativos, para o impulso processual, como emissão de certidões e expedição
de ofícios e a emissão de determinações para diligências.
É da natureza da atividade do juiz possuir tal prerrogativa, não havendo
possibilidade de se alegar a vigência de autoritarismo ou tirania por parte das
instituições judiciais, mas sim da própria natureza do Poder Judiciário, em sua
atividade primária, que é dizer o Direito aos jurisdicionados.
Nesse sentido, o Art. 139 do Código Processual Civil (Lei nº 13.105/2005)
estabelece algumas responsabilidades destinadas ao juiz, que deverá dirigir o
processo nos termos da novel processual:
13
Logo, é da natureza da atuação judicial imposições aos jurisdicionados quanto
ao andamento processual, e mostra-se necessário para o saneamento e cumprimento
processual, garantindo assim axiomas constitucionais como o devido processo legal
e a celeridade processual.
14
2. Caráter – éthos.
3. Paixão – páthos.
Entre as formas de classificação, a argumentação objetiva é aquela baseada
na razão, podendo ser concebida quando realizada de maneira técnica. Porém, o
discurso não é alheio ao aspecto introspectivo e simbólico, haja vista o emprego de
elementos da psiquê humana, sendo assim realizada a argumentação subjetiva, com
amparo do caráter e da paixão.
Não há uma relação de robustez entre ambas, considerando que a
argumentação objetiva seja correta e a subjetiva imprecisa. Ambas podem se
complementar, sendo que a subjetividade pode ser um mecanismo de aproximação
dos membros do auditório para a sua tese.
Paralelamente à argumentação escorreita, pode ser utilizada a lógica, que
consiste na relação de encadeamento entre premissas e uma conclusão final,
estrutura conhecida como silogismo.
Porém, nesse contexto, não tratamos de argumentação propriamente dita, mas
sim da demonstração, decorrente de um juízo lógico entre ideias e um juízo final.
Sua principal característica é não permitir um meio-termo entre fatos, haja vista sua
natureza decorrente dos debates nas pólis gregas, na Antiguidade, que visavam ao
convencimento de um auditório.
A distinção entre demonstração e argumentação reflete seu contexto; cada qual
serve a um propósito, conforme a necessidade, sendo que a argumentação é mais
robusta quanto à sua finalidade de defender razões. Porém, a natureza da persuasão
é intrínseca à demonstração.
No curso da demonstração, só há duas conclusões, e elas são mutuamente
excludentes (Há pena de morte no Brasil ou Não há pena de morte no Brasil).
Observa-se que o emprego do discurso realizado é impessoal.
No discurso argumentativo, há abertura para outras possibilidades, conforme
se arrazoa para defender seu ponto de vista. Logo, podemos conceituar no contexto
do exemplo supra que excepcionalmente, poderá ser aplicada pena de morte no
Brasil.
Porém, será dada mais observância à argumentação mais à frente, devido a
seu grau de liberdade de manifestação e seu amplo exercício na defesa de teses.
Acerca da demonstração, podemos concebê-la na forma de silogismo
aristotélico. São utilizadas duas alegações conhecidas como premissas, sendo uma
maior e a outra menor. Frente a sequência lógica entre elas, é alcançado o resultado,
como conclusão.
15
O esquema proposto acima pode ou não corresponder à realidade, pois se trata
de uma estrutura argumentativa concebida a partir da lógica formal, em que a validade
do argumento decorre exclusivamente da sua forma e não do conteúdo ou da
semântica.
A forma é válida em detrimento do conteúdo, tal qual podemos considerar que
uma conclusão que conste O céu tem coloração verde pode tornar a demonstração
verdadeira, conforme o encadeamento entre as premissas e a resolução.
Outra forma de realizar e constatar a realidade do argumento acima consiste
no uso de conjuntos, ou diagrama de Venn, tirando a prova se o silogismo em
questão é verdadeiro. Para esse fim, consideremos como Exemplo 1 a seguinte
situação:
16
Conforme ilustrado, é possível conceber a veracidade do silogismo, porque
suas premissas levaram à conclusão sem inconsistência entre os conjuntos.
Se todos os direitos sociais constam no texto constitucional, o conjunto dos
Direitos Sociais está necessariamente dentro do conjunto maior Constituição Federal.
A proposta de uma renda básica universal, não sendo considerada um direito social,
estará fora da Constituição, não podendo ser, portanto, um Direito Social, pois este
consta como direito constitucional.
Cumpre ao exemplo dado, o trabalho lógico formal, para fins didáticos, não
estipulando alegação no sentido de que um projeto de renda básica universal seja ou
não um direito social. Doravante, uma proposta de Emenda Constitucional pode criar
esse tipo de direito fundamental; ou, ainda, depois de criada, pode ser modificada para
outra forma de distribuição de renda, permanecendo, ao fim, como direito plasmado
no texto da Carta Magna.
Poder-se-ia constatar o erro de lógica caso a premissa maior contivesse o
seguinte teor: Alguns direitos sociais estão previstos na Constituição Federal, estando
representada pelos conjuntos de acordo com o Exemplo 2:
1. Premissa maior: Alguns direitos sociais estão previstos na Constituição
Federal.
17
Para estabelecermos a forma adequada de uma conclusão, o diagrama de
conjuntos abaixo possui representações verdadeiras, consideradas as duas
premissas apresentadas.
Cumpre observar que cada conjunto referente à Renda Básica Universal pode
ser isoladamente considerado ou distribuído todos cumulativamente, como na
imagem:
18
Todavia, defender que a renda básica universal possa ou não figurar como um
direito social, entre os direitos fundamentais constantes do Texto Político, é plausível
quando se trata da defesa argumentativa.
Não obstante a prova realizada com os diagramas de Venn, as proposições em
lógica formal precisam atender a três bases:
1. Identidade: a premissa, na sua carga semântica, mantém um valor em si,
não podendo corresponder a outro significado distinto.
Ao considerarmos o Código Civil, a premissa Estado de Pernambuco é uma
pessoa jurídica de direito público interno tem valor lógico e consta da realidade. A
contrariedade a essa alegação, como o Estado de Pernambuco é uma associação
não pode ser válida, pois A = B, já que houve uma mudança intrínseca à natureza do
ser ou entidade mencionada.
2. Não contradição: uma premissa ou alegação não pode determinar dois
fenômenos ou fatos contrários entre si.
Posto isso, nas relações internacionais, a República Federativa do Brasil
atenderá, entre outros, os princípios a defesa da paz e a solução pacífica dos conflitos.
Estando tais alegações estanques, conforme o Art. 4º, da Carta Magna, não se pode
considerar outro valor que não esse para a proposição.
Portanto, a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelo princípio da beligerância é uma contradição ao preceito inicial.
Havendo os princípios da defesa da paz e da solução pacífica dos conflitos, o
valor lógico consiste em A = A. Quando atribuímos à beligerância como norte da
República Federativa do Brasil em suas relações internacionais, poder-se-ia
considerar A = -A.
3.Terceiro excluído: a premissa não comporta uma alternativa alheia a duas
opções. Assim, não há terceira opção; a proposição ou é verdadeira ou é falsa.
Portanto, haverá pena de caráter perpétuo no Brasil ou não haverá pena de
caráter perpétuo no Brasil. Não há como relacionar uma terceira possibilidade (trata-
se de uma demonstração e não de uma argumentação).
Já a argumentação, como regra, obedece à estrutura concebida para o tipo
textual dissertação, necessitando de uma introdução, o desenvolvimento de
argumentos e a conclusão. Pode-se constatar sua aplicação em provas, em exames,
vestibulares e em concursos públicos. Ainda consta em artigos jornalísticos e
editoriais, e, principalmente, na defesa jurídica, quando se busca convencer o juiz da
pretensão de direito que a parte autora entende ser legítima, ou na defesa da parte
demandada, que busca demonstrar que a requerente está equivocada em sua
pretensão.
Como ela é mais ampla que a demonstração, admite ponderações e variáveis
àquilo que se discorre, admitindo-se uma possibilidade sobre a veracidade e a certeza
do seu discurso.
Ademais, dentro do texto jurídico a ser redigido e defendido, é respeitada a
liberdade de uso de figuras de linguagem ou de até falácias argumentativas; porém, o
recomendável é que sejam evitadas ou, excepcionalmente, que possuam alguma
função estilística ou retórica para o texto.
19
Para esse fim, existem as figuras de linguagem, que são recursos linguísticos
com maior comunicabilidade com outros gêneros textuais, como crônicas, romances
em prosa e, principalmente, poesia.
Como o texto jurídico requer formalidade e emprego da linguagem culta, é de
se presumir a clareza e a objetividade do seu conteúdo. Já não se espera de um
comunicado ou documento oficial, emitido pelo Poder Público, o uso de linguagens
dúbias, duplo sentido, simbolismos e sarcasmos na sua comunicação.
Como exemplo de figura de linguagem, o pleonasmo consiste no emprego de
termos repetitivos, inadequado para a linguagem formal e indicativa de falta de
repertório vocabular ou cultural do enunciador. Tem-se como pleonasmo a expressão
“descer para baixo”, porquanto descer implicar o deslocamento para um espaço ou
local físico inferior.
Porém, em prosa de teor lúdico ou na poesia, pode ser uma ferramenta de estilo
muito interessante, podendo estabelecer noção de intensidade ou importância
quanto àquilo que está sendo retratado ou sentido pelo interlocutor.
Quanto ao desenvolvimento da argumentação, realiza-se pela indução ou
dedução.
A indução consiste no raciocínio que se inicia por ocorrências particulares ou
especificadas em direção a um fato geral. A defesa é construída tendo como plano de
partida a experiência empírica para se chegar à causa.
No sentido contrário, dedução decorre da alegação genérica e comum, tendo
como objeto a especificidade daquilo que está sendo tratado, sendo o silogismo uma
forma de raciocínio dedutivo.
A lógica informal consiste na não obediência dessas regras como os princípios
da lógica formal, e baseiam-se em raciocínios dedutivos.
A argumentação é mais livre, pois não depende da estrutura formal realizada,
mas essencialmente sobre aquilo que é argumentado.
Nesse sentido, é possível que ocorram argumentos metódicos, podendo ser
denominados como falácias ou dialética erística, que podem ter efeitos temerários
quanto à idoneidade do discurso.
A falácia pode ser entendida como o falso argumento, que parece ser
verdadeiro e lógico, porém possui uma falha em sua construção, seja de maneira
aparente ou subentendida. Os argumentos metódicos são muito presentes no
discurso oral, repercutindo nas manifestações e nos debates orais, bem como em
testemunhos e em depoimento.
Outra falácia a ser considerada é o argumento de autoridade. Consiste em
reforçar aquilo que é pretendido com base no conhecimento ou experiência de uma
autoridade acadêmica ou intelectual sobre determinado assunto. Muito comum seu
emprego em petições e em julgados, em que os operadores do Direito recorrem a
comentários e conceitos por juristas.
Por assumir o caráter didático ao se utilizar de um conceito traçado por algum
jurista, serve de reforço à tese defendida, não possuindo esse caráter temerário no
âmbito jurídico. Porém, no ramo científico, seu peso é de menor consideração, haja
vista que em toda publicação realizada em periódico há a possibilidade de o
experimento ser defendido ou contrariado por outros cientistas, pela replicação. O
20
argumento baseado no peso da autoridade é um dos fatores que propiciou a
proliferação das notícias falsas (fake news) em ambientes virtuais, como as redes
sociais.
Pessoas escolarizadas também disseminam ou defendem arduamente teorias
ou produtos não reconhecidos para os fins a que se destinam, principalmente quando
são discutidos meios medicamentosos.
O estratagema empregado consiste na desconsideração de variáveis sobre
aquilo que é discursado, como pode ser observado nos noticiários de 2020 acerca de
uso de medicamentos específicos que podem ou não surtir efeitos contra a doença
COVID-19, em decorrência da pandemia do vírus Sars-Cov2, e como ocorreu com a
fosfoetanolamina, apelidada pela imprensa de “pílula do câncer” nos anos de 2015 e
2016.
Falta, para a eficácia científica, o teste de controle e a análise de efeitos
colaterais em longo prazo. Em ambos os casos, houve recomendações médicas para
o uso e ocasionalmente surtindo os efeitos desejados; porém, não se pode dar o
ultimato acerca da eficácia curativa pela falta de estudos e testes aprofundados dos
medicamentos.
Quando se trata de temas envolvendo possibilidade de cura de doenças
complexas, sem o devido rigor, seus efeitos podem refletir na postura de
representantes políticos. Assim, foi promulgada a Lei nº 13.269/2016, autorizando o
uso da fosfoetanolamina sintética para pacientes diagnosticados com neoplasia
maligna.
Por sua vez, a falácia petição de princípio consiste na presunção generalista
acerca de um evento, havendo uma verdadeira confusão entre as premissas e a
conclusão.
Nos noticiários, é comum ser narrado que “(…) praticou homicídio culposo,
quando não tem intenção de matar”, portanto, são desconsideradas, nessa
mensagem, a possibilidade de imperícia, imprudência ou negligência, ou crime
preterdoloso.
Outra muito comum no cotidiano é a falsa correlação entre eventos ou fatos.
Em relações de causa e consequência, há uma aparente e sugestível causalidade que
não se sustenta com uma análise mais apurada do ocorrido.
Podemos considerar que a partir da criação dos smartphones houve um
aumento de furtos e roubos de celulares. Faz sentido e se mostra concretamente
verdadeira. Mas desconsidera eventuais adversidades quanto a esses dados. Afinal,
somente smartphones são objetos constantes de furtos e roubos entre bens móveis
de uso pessoal? A propaganda que cria status acerca de algum modelo ou linha de
celular pode ser um indicativo de sua subtração, já que muitos desejam obter um?
Outra correlação, aparentemente verdadeira, é o argumento de que o advento
de uma tecnologia de uso doméstico ou profissional acarretou maiores acidentes com
o uso da mencionada ferramenta, sendo que não era possível considerar a ocorrência
de um dano antes da existência de tal tecnologia, como é o caso do micro-ondas ou
do próprio smartphone. Esse tipo de argumento torna-se falacioso porque é plausível
que o mal uso ou o defeito desses aparelhos possam acarretar acidentes, então há
de existir dados estatísticos acerca desses acidentes.
21
Como sinal de desconsideração, há o argumento ad hominem, que se atém
ao histórico pessoal do debatedor ou autor e que não leva em conta o seu discurso
ou fala. Inclusive, destina-se a não considerar a contradição dos argumentos
apresentados em razão de características do seu interlocutor.
Outra forma de manifestar um juízo alheio ao discurso consiste no argumento
pragmático, ou ad consequentiam, em que atos e fatos são avaliados
exclusivamente em razão de suas consequências favoráveis ou não. O brocardo “os
fins justificam os meios” ilustra de maneira cândida o emprego dessa forma de
persuasão.
Porém, há uma justificação do argumento teleológico, muito utilizado por
magistrados, considerando a finalidade da lei. Nesse sentido, o magistrado tem
liberdade em constituir seu juízo para decidir, não deixando de aplicar o Direito,
inclusive quanto aos casos não prescritos ainda por lei.
Também encontra amparo no fenômeno contemporâneo do ativismo judicial,
em que, em razão da pouca atuação do Poder Executivo e do Poder Legislativo,
quanto ao cumprimento de suas funções institucionais, os órgãos do Poder Judiciário
tomam a frente em estabelecer parâmetros para cumprimento de leis dúbias ou frente
a direitos ainda não tutelados.
Foram os casos dos Mandados de Injunção nº 670 e 721, estabelecendo que,
enquanto não fossem regulamentados os direitos de greve dos agentes públicos civis
federais, poder-se-ia pôr em prática as disposições da Lei de Greve (Lei nº
7.783/1989) aplicáveis ao regime da CLT no que não houver conflito.
Pela natureza da determinação por parte do Supremo Tribunal Federal, discute-
se se isso não seria uma intromissão nas funções distribuídas entre os Poderes,
considerando que o Judiciário estaria não apenas decidindo o Direito, mas legislando.
Ocorre que essa falácia não é empregada de maneira gratuita ou difusa; seu uso
encontra amparo nos métodos hermenêuticos da norma constitucional.
A constância do uso desses argumentos em defesa da tese jurídica gera o
empobrecimento da qualidade da argumentação, inclusive desviando o conteúdo
daquilo que pode estar sendo analisado.
A dialética erística é, portanto, a má retórica; nela, o argumento é estruturado
e construído de modo a ludibriar outrem, intencionalmente ou não.
Henriques (2013, p. 9) tece breve comentários acerca da impregnação de
sentido dado à arte retórica:
Entendemos que a Retórica não é boa, nem má; não é moral, nem imoral; ela
navega na zona cinzenta da amoralidade, como se costuma dizer. Ao
contrário de Platão, achamos que a Retórica não é, de per si, perversa,
embora possa até ser pervertida. À Retórica não interessa que o
orador/falante seja bom, mas, sim, que pareça bom.
Acerca do bem e do mal, cumpre à Ética tecer esse juízo de valor. No discurso
jurídico, isso é constatado: não cumpre elucidar a intenção do autor ou do réu ao
processo, mas aquilo que repercute no Direito e precisa de consequências, para
alcançar um fim teleológico institucional de pacificação dos conflitos. Doravante, a
retórica é uma arte ou um instrumento.
22
Logo, não necessariamente o trabalhador, reclamante de ação judicial, pode
não ser um hipossuficiente de fato, mas presume-se que os meios de provas acerca
do seu horário e disciplina cumprem ao empregador dele demonstrar. No mesmo
sentido, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) não observa inicialmente a má-fé
por parte da mulher, necessitando, portanto, ser provada.
A igualdade, nesses casos, precisou ser construída em razão de fatos jurídicos
importantes – abuso de autoridade contra o empregado e coerção em ambiente
doméstico por parte do homem, necessitando de respostas judiciais específicas.
O processo dialético decorre desde Platão, havendo uma maior elaboração a
partir do filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), em que é elaborada a
tese e, em seguida, a antítese. Da colisão de ambas, é alcançada a síntese do
discurso.
Tal estrutura é visível no curso do processo, pois há uma pretensão requerida
e justificada por argumentos e provas acerca do fato e do direito. Posteriormente, a
quem se destina a reclamação perante o Juízo resta defender-se e alegar o que for
razoável a seu Direito.
Por fim, caberá ao magistrado a decisão daquilo que estiver contido no
processo, conforme as provas colhidas no curso processual.
23
2. Manual de redação oficial da Presidência da República
a. Clareza e precisão.
b. Objetividade.
c. Concisão.
d. Coesão e coerência.
e. Impessoalidade.
f. Formalidade e padronização.
g. Uso da norma padrão da língua portuguesa.
24
O emprego da técnica legislativa deve ter consonância com o texto da Lei
Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que trata da elaboração, redação,
alteração e consolidação das leis – norma mencionada no TÍTULO 1 dessa Unidade.
Por oportuno, devem ser observadas também as exigências determinadas nos
Regimentos Internos das Casas Legislativas (Câmara dos Deputados e Senado
Federal), com objetivo de mitigar equívocos ou ilegalidades.
No entanto, não se deve convencionar que o Manual de Redação Oficial seria
a regulamentação ou estatuto referente à Lei Complementar de Técnica Legislativa,
haja vista ter sido elaborada por órgão do Poder Executivo. Ademais, não possui forma
de ato normativo propriamente.
Trata-se, pois, de um instrumento de adequação da gestão do Poder Público,
servindo de referencial a outros órgãos e entidades das demais esferas.
A título de curiosidade, outras instituições elaboram seus respectivos manuais
para a padronização de seus expedientes, especialmente os órgãos de cúpula de
Poder e os órgãos auxiliares da Justiça, como o Ministério Público.
25
Referências
26