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Aristóteles

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 Nota: Para a cratera da Lua, veja Aristóteles (cratera).

Aristóteles

Busto de Aristóteles
Cópia romana de uma escultura de Lísipo

Nome Αριστοτέλης, γιος του Νικόμαχου των Σταγείρων


completo Aristotélis, gios tou Nikómachou ton Stageíron
Aristóteles, filho de Nicômaco de Estagira

Escola/Tra Escola peripatética, aristotelismo


dição:

Data de 384 a.C.


nasciment
o:

Local: Estagira, Calcídica, Grécia Antiga

Morte 322 a.C. (62 anos)

Local: Cálcis, na ilha Eubeia[1]

Principais Física, metafísica, poesia, teatro, música, retórica, política, 
interesses: governo, ética, biologia, zoologia

Ideias Doutrina do meio-


notáveis termo, razão, lógica, Silogismo, Alma, Frônese, Hilemorfis
mo
Influências Parmênides, Sócrates, Platão, Heráclito, Demócrito
:

Influencia Virtualmente toda a filosofia


dos: ocidental, islâmica e judaica, Alexandre, o
Grande, Avicena, Averróis, Maimônides, Alberto
Magno, Tomás de Aquino, Duns
Scotus, Ptolomeu, Nicolau Copérnico, Galileu
Galilei, filosofia cristã, e a ciência em geral.

Aristóteles (em grego clássico: Ἀριστοτέλης; romaniz.: Aristotélēs; Estagira, 384
a.C. — Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego durante o período clássico na Grécia
antiga, fundador da escola peripatética e do Liceu, além de ter sido aluno
de Platão e professor de Alexandre, o Grande.[2] Seus escritos abrangem diversos
assuntos como: a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música,
a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia, a linguística, a economia e
a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é
visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor
de Alexandre da Macedónia, na época com treze anos de idade, que será o mais
célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e
Aristóteles volta para Atenas onde funda o Liceu.
Todos os aspectos da filosofia de Aristóteles continuam sendo objeto de estudos
acadêmicos. Embora Aristóteles tenha escrito muitos tratados e diálogos formatados
para publicação, apenas cerca de um terço de sua produção original sobreviveu,
nenhuma delas destinada à publicação.[3] Aristóteles foi retratado por grandes
artistas, como Rafael Sanzio e Rembrandt. As primeiras teorias científicas
modernas, incluindo a circulação do sangue de William Harvey e
a cinemática de Galileu Galilei, foram desenvolvidas em reação às de Aristóteles.
No século XIX, George Boole deu à lógica de Aristóteles uma base matemática com
um sistema de lógica algébrica. No século XX, Martin Heidegger criou uma nova
interpretação da filosofia política de Aristóteles, entretanto em outros lugares
Aristóteles foi amplamente criticado, até mesmo ridicularizado por pensadores como
o filósofo Bertrand Russell e o biólogo Peter Medawar. Mais recentemente,
Aristóteles foi novamente levado a sério, como no pensamento ético de autores
como Ayn Rand, Alasdair MacIntyre, John McDowell e Philippa Foot,[4] enquanto
Armand Marie Leroi reconstruiu a biologia aristotélica. A imagem de Aristóteles
orientando o jovem Alexandre permanece atual, como foi retratada no filme de 2004,
Alexandre. Sua obra Poética continua a exercer influência no cinema norte-
americano.

Índice

 1Vida
 2Campos de estudo
o 2.1Lógica
o 2.2Física
o 2.3Óptica
o 2.4Química
o 2.5Astronomia
o 2.6Biologia
o 2.7Metafísica
 2.7.1Substância
 2.7.2Realismo imanente
 2.7.3Potencialidade e atualidade
o 2.8Psicologia
o 2.9Ética
o 2.10Retórica
o 2.11Artes
 2.11.1Música
 2.11.2Poética
o 2.12Política
 3Obra
 4Legado
o 4.1Filósofos gregos posteriores
o 4.2Influência sobre os eruditos bizantinos
 5Referências
 6Bibliografia
 7Ligações externas

Vida

Aristóteles ensinando Alexandre, o Grande gravura de Charles Laplante

Aristóteles era natural de Estagira, na Trácia,[5] sendo filho de Nicômaco, amigo e


médico pessoal do rei macedônio Amintas III, pai de Filipe II.[6] É provável que o
interesse de Aristóteles por biologia e fisiologia decorra da atividade médica
exercida pelo pai e pelo tio, e que remontava há dez gerações.
Segundo a compilação bizantina Suda, Aristóteles era descendente de Nicômaco,
filho de Macaão, filho de Esculápio.[7]
Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para a cidade de Atenas, maior centro
intelectual e artístico da Grécia Antiga. Como muitos outros jovens da época, foi
para lá prosseguir os estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência
dos jovens: a escola de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e
Platão e sua Academia, com preferência à ciência (episteme) como fundamento da
realidade. Apesar do aviso de que, quem não conhecesse geometria ali não deveria
entrar, Aristóteles decidiu-se pela academia platônica e nela permaneceu vinte
anos, até a morte de Platão,[8] no primeiro ano da 108a olimpíada (348 a.C.).
[9]
 Aristóteles provavelmente participou dos Mistérios de Eleusis.[10]
Em 347 com a morte de Platão, a direção da Academia passa a Espeusipo[8][9] que
começou a dar ao estudo acadêmico da filosofia um viés matemático que Aristóteles
(segundo opinião geral, um não-matemático) considerou inadequado, [11] assim
Aristóteles deixa Atenas e se dirige, provavelmente, primeiro a Atarneu convidado
pelo tirano Hérmias e em seguida a Assos, cidade que fora doada pelo tirano aos
platônicos Erasto e Corisco, pelas boas leis que lhe haviam preparado e que
obtiveram grande sucesso.[12]
Durante 347 a.C e 345 a.C, dirige uma escola em Assos, junto com Xenócrates,
Erasto e Corisco e depois em 345/344 a.C. conhece Teofrasto e com sua
colaboração dirige uma escola em Mitilene, na ilha de Lesbos e lá se casa
com Pítias, neta de Hérmias, com quem teve uma filha, também chamada Pítias.
[13]
 Em 343/342 a.C. Filipe II da Macedônia escolhe Aristóteles como educador de
seu filho Alexandre, então com treze anos,[14] por intercessão de Hérmias.[12]
Pouco se sabe sobre o período da vida de Aristóteles entre 341 a.C. e 335 a.C.,
ainda que se questiona o período de tempo da tutela de Alexandre, alguns estimam
em apenas dois ou três anos e outros em sete ou oito anos. [15][16]
Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de
exercício público dedicado ao deus Apolo  Lykeios, daí o nome Liceu.[17] Os filiados
da escola de Aristóteles mais tarde foram chamados de peripatéticos.[18] Os membros
do Liceu realizavam pesquisas em uma ampla gama de assuntos, os quais eram de
interesse do próprio Aristóteles: botânica, biologia, lógica, música, matemática,
astronomia, medicina, cosmologia, física, história da filosofia, metafísica, psicologia,
ética, teologia, retórica, história política, do governo e da teoria política, retórica e as
artes. Em todas essas áreas, o Liceu coletou manuscritos e assim, de acordo com
alguns relatos antigos, se criou a primeira grande biblioteca da antiguidade.
[19]
 Enquanto em Atenas, Pítias morreu, e segundo relato de Diógenes Laércio,
especula-se que ele ainda teria tido com sua concubina, Herpílis ou Herpília, um
filho ilegítimo, Nicômaco (a quem seu livro de Ética é dedicado).[20]
Em 323 a.C, morre Alexandre e em Atenas começa uma forte reação
antimacedônica, em 322 a.C. por causa de sua ligação com Alexandre, Aristóteles
foge de Atenas e se dirige a Cálcides, onde sua mãe tinha uma casa, explicando,
"Eu não vou permitir que os atenienses pequem duas vezes contra a filosofia" [21]
[22]
 uma referência ao julgamento de Sócrates em Atenas. Ele morreu em Cálcis, na
ilha Eubeia de causas naturais naquele ano.[1] Aristóteles nomeou como chefe
executivo seu aluno Antípatro e deixou um testamento em que pediu para ser
enterrado ao lado de sua esposa.[23]

Campos de estudo
Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício público dedicado
ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu.[17] A escola de Aristóteles, afresco de Gustav Adolph
Spangenberg, 1883-1888

A filosofia de Aristóteles dominou verdadeiramente o pensamento europeu a partir


do século XII.[24] A revolução científica iniciou-se no século XVI e somente onde a
filosofia aristotélica foi dominante é que sobreveio uma revolução científica. [25]
Parte das afirmações a respeito da Física e da Química de Aristóteles são
desmentidas nos dias de hoje e a principal razão disso é que nos séculos XVI e XVII
os cientistas aplicaram métodos quantitativos ao estudo da natureza inanimada,
assim algumas observações de de Aristóteles são irremediavelmente inadequadas
em comparação com os trabalhos dos novos cientistas.[13]
Apesar do alcance abrangente que as obras de Aristóteles gozaram
tradicionalmente, os acadêmicos modernos questionam a autenticidade de uma
parte considerável do Corpus aristotelicum.[26]
Lógica
A lógica aristotélica, que ocupa seis de suas primeiras obras, constitui o exemplo
mais sistemático de filosofia em dois mil anos de história. Sua premissa principal
envolve uma teoria de caráter semântico desenvolvida por ele para servir de
estrutura para a compreensão da veracidade de proposições. Foi por meio de sua
lógica que se estabeleceu a primazia da lógica dedutiva.[27]
Aristóteles sistematizou a lógica, definindo as formas de interferência que eram
válidas e as que não eram - em outras palavras, aquilo que realmente decorre de
algo e aquilo que só aparentemente decorre; e deu nomes a todas essas diferentes
formas de interferências. Por dois mil anos, estudar lógica, significou estudar a
lógica de Aristóteles.[28]
A lógica, como disciplina intelectual, foi criada no século IV a.C. por Aristóteles.
[29]
 Sua teoria do silogismo constitui o cerne de sua lógica e através dela tenta
caracterizar as formas de silogismo e determinar quais deles são válidas e quais
não, o que conseguiu com bastante sucesso. Como primeiro passo no
desenvolvimento da lógica, a teoria do silogismo foi extremamente importante. [29]
Física
Aristóteles não reconhecia a ideia de inércia, ele imaginou que as leis que regiam os
movimentos celestes eram muito diferentes daquelas que regiam os movimentos na
superfície da Terra, além de ver o movimento vertical como natural, enquanto o
movimento horizontal requereria uma força de sustentação. [30] Ainda
sobre movimento e inércia, Aristóteles afirmou que o movimento é uma mudança de
lugar e exige sempre uma causa, o repouso e o movimento são dois fenômenos
físicos totalmente distintos, o primeiro sendo irredutível a um caso particular do
segundo.[13] No livro II, Do Céu, ele afirma explicitamente que quando um objeto se
desloca para seu estado natural o movimento não é causado por uma força, assim
ele afirma que o movimento daquilo que está no processo de locomoção é circular,
retilíneo ou uma combinação dos dois tipos.[24]
Óptica
Na época de Aristóteles, a óptica matemática era ainda uma disciplina nova,
contrariamente às outras matemáticas e especialmente à geometria, ele faz
recorrentes referências à cor, à sua "unidade" e à sua constituição, nos mesmos
contextos em que se fala de outros setores do real que pertencem a outras ciências
matemáticas, e do que neles é unidade. [31]
Aristóteles fez objeções à teoria de Empédocles e ao modelo de Platão que
considerava que a visão era produzida por raios que se originavam no olho e que
colidiam com os objetos então sendo visualizados. Ao refutar as teorias então
conhecidas, ele formulou e fundamentou uma nova teoria, a teoria da transparência:
a luz era essencialmente a qualidade acidental dos corpos transparentes, revelada
pelo fogo.[32]
Aristóteles sugeria que a óptica contempla uma teoria matemático-quantitativa da
cor, que corresponde a uma teoria da medição da luz, assim ele afirma que a luz
não era uma coisa material mas a qualidade que caracterizava a condição ou o
estado de transparência: "Uma coisa se diz invisível porque não tem cor alguma, ou
a tem somente em grau fraco".[33]
Química

Os quatro elementos fundamentais segundo Aristóteles

Enquanto Platão, seu mestre, acreditava na existência de átomos dotados de


formas geométricas diversas, Aristóteles negava a existência das partículas e
considerava que o espaço estava cheio de continuum, um material divisível ao
infinito.[13]
Sua obra Meteorologia, sintetiza suas ideias sobre matéria e química, usando as
quatro qualidades da matéria e os quatro elementos, ele desenvolveu explicações
lógicas para explicar várias de suas observações da natureza. Para Aristóteles
a matéria seria formada, não a partir de um único, mas por quatro elementos: terra,
água, ar e fogo, mas existiria sim um substrato único para toda a matéria, mas que
seria impossível de isolar - serviria apenas como um suporte que transmite quatro
qualidades primárias: quente, frio, seco e úmido.[34] A fundação da Alquimia se
baseou nos ensinamentos de Aristóteles, curiosamente ele afirmou que as rochas e
minerais cresciam no interior da Terra e, assim com os humanos, os minerais
tentavam alcançar um estado de perfeição através do processo de crescimento, a
perfeição do mineral seria quando ele se tornasse ouro.[13]
Astronomia
Aristóteles concorda com seu mestre (Platão) em considerar a astronomia uma
ciência matemática em sentido pleno, não menos do que a geometria, ele também
concordava que os movimentos estudados pela astronomia, como diz a A
República, não se percebem "com a vista".[31]
O cosmos aristotélico é apresentado como uma esfera gigantesca, porém finita, à
qual se prendiam as estrelas, e dentro da qual se verificava uma rigorosa
subordinação de outras esferas, que pertenciam aos planetas então conhecidos e
que giravam em torno da Terra, que se manteria imóvel no centro do sistema
(sistema geocêntrico).[35]
Biologia
Considerado o fundador das ciências como uma disciplina, Aristóteles deixou
obras naturalistas como História dos Animais, As partes dos animais e A geração
dos animais, opúsculos como Marcha dos animais, Movimentos dos
animais e Pequeno tratado de história natural e muitas outras obras
sobre anatomia e botânica que se perderam e tratavam sobre o estudo de cerca de
400 animais que buscou classificar, tendo dissecado cerca de 50 deles. Também
realizou observações anatômicas, embriológicas e etológicas detalhadas de animais
terrestres e aquáticos (moluscos e peixes), fez observações
sobre cetáceos e morcegos. Embora suas conclusões sejam, muitas vezes,
equivocadas, sua obra não deixa de ser notável. [36] Seus escritos de biologia e
zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua obra. Neles, trabalha
sobre a noção de animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação científica.[37]
Segundo alguns cientistas da atualidade, Aristóteles teria "descoberto" o DNA, por
ele identificar a forma, isto é, o eidos preexistente no pai, que é reproduzido na
prole.[38]
Aristóteles foi quem iniciou os estudos científicos documentados sobre peixes,
sendo o precursor da ictiologia (a ciência que estuda os peixes). Catalogou mais de
cem espécies de peixes marinhos e descreveu seu comportamento. É considerado
como elemento histórico da evolução da piscicultura e da aquariofilia,[39] separou
mamíferos aquáticos de peixes e sabia que tubarões e raias faziam parte de grupo
que chamou de Selachē (Chondrichthyes).[40]
Em sua obra De Moto Animalium (traduzido do latim, Do Movimento dos Animais),
Aristóteles discorre especificamente sobre os princípios físicos que regem o
movimento dos animais em geral, assim como as suas causas. [41] No livro, Aristóteles
postula que, para que houvesse o movimento de algum membro do animal, era
necessária a existência de uma parte imóvel, a qual Aristóteles atribuía ser a origem
do movimento.[42] Para que o animal inteiro se desloque, no entanto, Aristóteles
acreditava que era necessário algo em repouso absoluto em relação ao animal, e,
apoiando-se neste ente imóvel, o animal desencadearia o deslocamento. [43] Sobre a
origem primordial do movimento em seres vivos, Aristóteles atribuía a mente e o
desejo como causas primárias do movimento nos animais. [44]
O papel da mulher
A análise sobre a procriação de Aristóteles descreve um elemento masculino ativo,
animante trazendo vida a um elemento do sexo feminino inerte e passivo. Por este
motivo, as feministas acusam Aristóteles de misoginia[45] e sexismo.[46] No entanto,
Aristóteles deu igual peso à felicidade das mulheres e à felicidade dos homens e
comentou, em sua obra A Retórica, que uma sociedade não pode ser feliz a menos
que as mulheres também estejam felizes. Sobre as mulheres, ainda disse que eram
totalmente incapazes de serem amigas, e ele com certeza não esperava que a
esposa se relacionasse com o marido em nível de igualdade. [47]
A homossexualidade
Visto não contribuir para a fundação de famílias, Aristóteles tinha
a homossexualidade em conta de desperdício, não apenas inútil, mas até perigoso.
Porém, isso não significa que a condenasse sempre. Ele tomava, em consideração,
as circunstâncias em que era praticada. Assim, em Creta, onde havia um problema
de superpopulação e a relação entre o mesmo sexo era difundida,[48] ele propôs que
esse tipo de relação fosse regulamentado e tolerado pelo Estado, a fim de contornar
a superpopulação, pois a ilha dispunha de poucos recursos naturais.[49] Em um
fragmento sobre amor físico, embora referindo-se ao tema com indulgência, parece
ter feito distinção entre a homossexualidade congênita anormal e o vício
homossexual adquirido.[50]
Metafísica

Platão e Aristóteles na Escola de Atenas (1509-1510), fresco de Rafael Sanzio, na Stanza della


Segnatura, nos Museus Vaticanos

Ver também: Metafísica (Aristóteles)


O termo Metafísica não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era
chamado por Aristóteles de "filosofia primeira", sendo por isso identificada com
a teologia (theologikê),[51] distinguindo-a da matemática e das ciências naturais
(física) como filosofia contemplativa (teoretikú) que estuda o divino.[13] A palavra
"metafísica" parece ter sido cunhada pelo editor do primeiro século d.C., que reuniu
várias pequenas seleções das obras de Aristóteles no tratado que conhecemos com
o nome de Metafísica.[52]
Não é fácil discutir a metafísica de Aristóteles, em parte porque está profusamente
espalhada por toda a obra, e em parte por certa ausência de uma exposição bem
detalhada.[2]
A Metafísica de Aristóteles é, em essência, uma modificação da Teoria das
ideias de Platão. Grande parte dessa obra parece uma tentativa de moderar as
muitas extravagâncias de Platão. Seus dois principais aspectos são a distinção
entre o "universal" e a mera "substância" ou "forma particular" e a distinção entre as
três substâncias diferentes que formam a realidade cada uma com sua essência
fundamental.[27]
se não houvesse outras coisas independentes além das naturais compostas, o
estudo da natureza seria o tipo primário de conhecimento; mas se há algo
independente e imóvel, o conhecimento disso o precede e é a primeira filosofia, e é
universal como tal, porque é a primeira. E pertence a esse tipo de filosofia estudar o
ser como ser, tanto o que é como o que lhe pertence apenas por virtude de ser. [53]
Aristóteles discute na Metafísica conceitos de causa primária e arché, Deus e
divindades, comparando e analisando relatos dos anteriores fisiólogos gregos e dos
chamados theologoi (teólogos). Uma postulação que considerou necessária foi a
de Motor Imóvel.[54] Seu pensamento influenciou toda a filosofia medieval posterior na
teologia das religiões abraâmicas, mas principalmente nas ciências, pela
chamada filosofia natural.[55][56][57]
Substância
Aristóteles examina os conceitos de substância (ousia) e essência (a ti enfat einai,
"o quid que deveria ser") em sua Metafísica (Livro VII), e conclui que uma
substância específica é uma combinação de matéria e forma, uma teoria filosófica
chamada hilemorfismo. No livro VIII, ele distingue a matéria da substância
como substrato, ou o material de que é composta. Para ele, a matéria propriamente
dita é chamada prima materia, sem qualidades, que receberá as formas. Por
exemplo, a matéria de uma casa são os tijolos, as pedras, as madeiras etc., ou o
que quer que constitua a casa em potencial, enquanto a forma da substância é a
casa real, ou seja, 'abrangendo corpos e bens imóveis' ou qualquer outra diferença
que permita nós definirmos algo como uma casa. A fórmula que fornece os
componentes é o relato da matéria, e a fórmula que fornece a diferenciação é o
relato da forma.[58][52]
Realismo imanente
Como seu professor Platão, a filosofia de Aristóteles visa o universal. A ontologia de
Aristóteles enfatizava o universal (katholou) nos particulares (kath 'hekaston), coisas
no mundo. Platão enfocava no universal enquanto forma existente separadamente,
o qual as coisas reais imitam. Para Aristóteles, a "forma" ainda é a base
dos fenômenos, mas é "instanciada" em uma substância específica.[52] Uma
substância primária é vista como possuindo a forma imanente na matéria.[59] Sua
sustentação da metafísica com pés firmes no empirismo postulou que os fenômenos
devem ser observados para se definir quais são suas causas, por exemplo o
movimento eterno dos astros na esfera celeste, e avançou defesas pela experiência,
em continuidade ao que já aparecia nos pré-socráticos e às propostas socráticas
nos diálogos platônicos, de que se deveria proceder induzindo para a verificação
dos universais.[60][61][62] Segundo Lambertus Marie de Rijk: "Ele toma seu ponto de
partida da ousia sensível. Sua expressão desse objetivo é acompanhada de uma
elaboração da ideia mencionada anteriormente (1029a32) de que, embora as
condições ônticas primárias ou os primeiros princípios das coisas não sejam o que é
familiar imediatamente, todo aprendizado deve proceder por indução daquilo que
nos é familiar e daquilo que é inteligível em si." [63] Esse projeto aristotélico foi
traduzido em relatos antigos até a ciência da modernidade com a asserção de se
"resgatar as aparências" (em grego, σῴζειν τὰ φαινόμενα, sôzein ta phainomena;
"salvar os fenômenos") – fenômenos sendo os dados da sensopercepção psíquica
que aparecem na mente, qualias como som, cor, sentido de palavras etc.,
observados e inteligíveis, em um estado de conhecimento pré-demonstrativo, que
podem ser coligidos em faculdades cognitivas tais como endoxa (formação de
opinião) e empeiria (experiência).[60][62][64]
Platão argumentou que todas as coisas têm uma forma universal, que pode ser uma
propriedade ou uma relação com outras coisas. Quando olhamos para algo de cor
vermelha, por exemplo, vemos um vermelho e também podemos analisar a forma
do vermelho. Nesta distinção, há um vermelho específico e uma forma universal do
vermelho (da qual todas as outras coisas vermelhas também participam). Além
disso, podemos colocar uma coisa vermelha ao lado de um objeto azul, de modo
que possamos falar de vermelho e azul como próximos um do outro. Platão
argumentou que há uma distinção que separa o ser de uma coisa particular da
verdadeira essência ôntica da Forma Ideal, transcendente - um vermelho imanente
em uma instância não é o Vermelho real em si. Por conta dessa separação, Platão
argumentou que existem algumas formas universais que podem não estar fazendo
parte de coisas particulares. Por exemplo, é possível que não exista um bem
particular, mas a Ideia do Bem ainda assim é uma forma universal adequada.
Aristóteles discordou de Platão neste ponto, argumentando que todos os universais
são instanciados em algum período de tempo.[52] Aristóteles enfatizava que é
possível obter verdadeiro conhecimento a partir das substâncias dos objetos
sensíveis, o que Platão também concordava, mas considerando como
conhecimento maior e mais real aquele das Ideias.[65]
Além disso, Aristóteles discordou de Platão sobre a localização dos universais.
Onde Platão falava do Mundo das Ideias transcendente, um lugar em que todas as
formas universais subsistem, Aristóteles sustentava que os universais existem
dentro de uma coisa subsistente (hypokeimenon) que contém as formas,
expressando-as enquanto causa formal..[66] Para ele, nada do que é universal é uma
entidade subsistente. Portanto, de acordo com Aristóteles, a forma do vermelho
existe dentro dos compostos forma-matéria com capacidade de serem coisas
vermelhas.[66][52][67]
"Segue-se claramente que nada universalmente atribuível existe além dos
particulares. Mas aqueles que acreditam nas Formas, embora tenham razão em
separá-las - desde que sejam entidades subsistentes - assumem erroneamente que
o 'um sobre muitos' é uma forma. A causa do seu erro é a sua incapacidade de nos
dizer quais são as ousiai (substâncias) desse tipo, aquelas ousiai imperecíveis que
existem sobre e além dos sensíveis particulares. Eles os tornam, então, iguais em
espécie aos sensíveis, pois esse tipo de ousia é familiar para nós, acrescentando o
epíteto 'em si', como em 'Homem-em-si' e 'Cavalo-em-si'"
–Metafísica 1040b[68]
Apesar dessa reformulação crítica do que seria propriamente uma forma e a análise
da substância e suas categorias visíveis, alguns estudiosos consideram que
Aristóteles não abandonou em absoluto a teoria das Ideias transcendentes de
Platão, pois ao longo de suas obras descreveu características que não estão
manifestas em um objeto atual, por exemplo em sua teleologia ou implícito na sua
teoria de Deus como um intelecto pensante.[69][70]
Potencialidade e atualidade
Ver artigo principal: Potencialidade e atualidade
No que diz respeito à mudança (kinesis) e suas causas agora, como ele define
em Física e Da Geração e da Corrupção 319b-320a, ele distingue o vir-a-ser de:

1. crescimento e diminuição, que é mudança de quantidade;


2. locomoção, que é mudança no espaço; e
3. alteração, que é a mudança na qualidade.

Aristóteles argumentou que uma habilidade como tocar flauta poderia ser adquirida – o potencial tornado
real – pelo aprendizado.

O vir a ser é uma mudança em que nada persiste, do qual o resultante é uma
propriedade. Nessa mudança em particular, ele introduz o conceito de
potencialidade (dynamis) e atualidade (entelecheia) em associação com a matéria e
a forma. Referindo-se à potencialidade, é aquilo que uma coisa é capaz de fazer,
ser ou receber atuação sobre, se as condições forem corretas e não for impedido
por outra coisa. Por exemplo, a semente de uma planta no solo é potencialmente
(dynamei) planta e, se não for impedida por algo, tornar-se-á uma planta.
Potencialmente, os seres podem ou "agir" (poiein) ou "sofrerem atuação sobre"
(paschein), o que pode ser ou inato ou aprendido. Por exemplo, os olhos possuem a
potencialidade da visão (ação inata), enquanto a capacidade de tocar flauta pode
ser possuída pelo aprendizado (exercício – ação). Atualidade é a realização do fim
da potencialidade. Como o fim (telos) é o princípio de toda mudança, e em prol do
fim existe potencialidade, portanto a atualidade é o finalidade. Referindo-se então ao
nosso exemplo anterior, poderíamos dizer que uma atualidade é quando uma planta
realiza uma das atividades que a planta realiza. [52]
Pois aquilo pelo qual (to hou heneka) uma coisa é, é o seu princípio, e o devir é pelo
bem do fim; e a atualidade é o fim, e é por isso que a potencialidade é adquirida.
Pois os animais não vêem para que possam ter visão, mas têm visão para que
possam ver.[71]
Em resumo, a matéria utilizada para fazer uma casa tem potencial para ser uma
casa e tanto a atividade de construção quanto a forma da casa final são atualidades,
o que também é uma causa final ou finalidade. Então Aristóteles prossegue e
conclui que a atualidade é anterior à potencialidade na fórmula, no tempo e na
substancialidade. Com esta definição da substância particular (isto é, matéria e
forma), Aristóteles tenta resolver o problema da unidade dos seres, por exemplo, "o
que é que faz do homem um"? Como, segundo Platão, existem duas ideias: animal
e bípede, como então o homem é uma unidade? No entanto, de acordo com
Aristóteles, o ser potencial (matéria) e o atual (forma) são um e o mesmo. [52]
Psicologia
Ver também: Da alma (Aristóteles)
Na medida em que se ocupa das mais elaboradas entidades naturais, a psicologia
foi c

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