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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Casamento de fachada ou casamento de verdade?


Tão rápido quanto fora o casamento de Rose e James foi a separação.
Agora ela havia decidido refazer sua vida, e escreveu a James para pedir-lhe o
divórcio. Para sua surpresa, James não só não aceitou seu pedido como foi
pessoalmente dizer-lhe não...O reencontro foi tão mágico e avassalador como o
primeiro encontro, e Rose teve certeza que se James pedisse ela voltaria para ele.

Digitalização e Revisão: Ana Paula


Apoio: Livros Corações

Título Original: Husband For Real

CAPÍTULO I

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Ao encontrar um envelope carmim junto com a correspondência, Rose


sorriu consigo mesma e separou-o para abrir primeiro, movida pela curiosidade.
Mas o sorriso desapareceu de seu rosto no instante que deparou com um cartão
sem assinatura e uma rosa vermelha nele estampada.
Sem idéia da identidade do remetente, Rose examinou o envelope à
procura de pistas. Seu nome e endereço haviam sido escritos à máquina e o
carimbo do Correio estava ilegível.
Por um minuto ou dois, Rose perdeu-se em conjeturas, mas logo voltou a
si e se encaminhou para o escritório nos fundos da livraria.
Certa de que se tratava de alguma brincadeira, Rose deixou o cartão de
lado e colocou a pilha de cartas dentro da caixinha de entrada sobre sua mesa.
Em seguida ligou o sistema de som ambiente e escolheu uma música suave,
acendeu as luzes da loja e destrancou a porta para dar início a mais um dia de
expediente.
Como de costume, as primeiras pessoas a entrarem na livraria eram mães
que tinham pressa em adquirir os livros que seus filhos precisavam levar para a
escola. Durante cerca de trinta minutos, Rose não tinha tempo nem sequer para
piscar. Ou estava ocupada apanhando os títulos nas prateleiras, ou preenchendo
pedidos que seriam entregues aos solicitantes no dia seguinte. É claro que
enquanto fazia seu trabalho, era preciso trocar algumas palavras de cortesia com
as clientes e dar sua opinião sobre os livros que estavam sendo mais vendidos na
semana ou sobre os que seriam mais indicados às crianças.
O carinho com que os clientes eram tratados aliado ao estoque sempre
atualizado tornava a livraria da qual Rose era gerente a mais freqüentada de
Chastlecombe. Não que a concorrência fosse grande, contudo. A população da
pequena cidade só podia comprar seus livros ali, ou no supermercado ou nas
bancas de jornais.
Rose contava com uma jovem para auxiliá-la nas horas de maior
movimento que também era sua amiga.
Naquela manhã, assim que tiveram condições de fazer um intervalo para
um café, Bel entrou no escritório e fez ares de apaixonada.
— Oh, um cartão com uma rosa! Sortuda você, hem, chefe? Estou com
inveja. Meu amado não é do tipo sentimental. — Bel ligou a cafeteira e deu uma
piscada para Rose. — Foi Anthony quem mandou, não?
— Sou capaz de apostar que não — Rose respondeu, convicta. Um sorriso
malicioso surgiu nos lábios da amiga.
— Então, quem é o apaixonado secreto?
— Juro que não tenho a menor idéia.
— Continuo acreditando que o autor da surpresa é Anthony — insistiu
Bel. — Faça-o confessar amanhã à noite durante o jantar. Isto é, se ele ficou de
vir a Chastlecombe este fim de semana.
— Sim, ele ficou de vir aqui, mas não para me fazer companhia. Disse que
precisa dar uma atenção especial a seu filho. Então, como o sábado e o domingo
serão dedicados a ele, Anthony quer jantar comigo hoje. — Rose tomou
rapidamente uma xícara de café. — Preciso voltar para a loja e terminar de
guardar os livros que chegaram ontem, antes que entreguem o lote de hoje.

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Algumas horas depois, Bel se encarregou de atender a clientela enquanto


Rose verificava as contas e faturas. Estava distraída e mal-humorada. Embora a
culpa maior fosse do cartão anônimo, a quebra da rotina também a estava
incomodando.
Preferia dedicar as noites de sexta a si mesma. Primeiro tomava um longo
banho para relaxar, depois preparava uma refeição rápida e comia diante da
televisão e então se deitava com um dos livros mais recentes em estoque.
Mas naquele fim de semana, o filho adolescente de Anthony ficaria
sozinho em casa porque a mãe, com quem ele vivia desde o divórcio, havia saído
de férias, e o pai fazia questão de lhe dedicar todo o fim de semana.
Rose pouco conhecia o garoto, pois ele lhe causou uma boa impressão
quando foram apresentados. Era estranha, portanto, essa atitude de Anthony em
não convidá-la para ao menos um dos passeios ou uma das refeições que faria
com o filho. Não que se importasse. A bem da verdade, ela até preferia ficar
sozinha. Sua semana havia sido dura e um pouco de descanso e de sossego não
lhe fariam mal.
Rose conhecia Anthony Garrett desde a adolescência. De vista apenas.
Falaram-se pela primeira vez só depois que ele se divorciou e foi transferido do
escritório de contabilidade onde trabalhava para a matriz em Londres. Agora,
Anthony passava a semana na capital e quase todos os sábados e domingos em
Chastlecombe.
Rose não tinha ilusões. Sabia que os convites de Anthony todos os
sábados para jantar visavam basicamente o polimento de seu ego ferido. Ele
sentia necessidade de mostrar a ex-sra. Garrett que, embora ela o tivesse deixado,
ele ainda era capaz de atrair mulheres jovens. Rose não se importava com isso. O
fato de Anthony querer exibi-la como uma espécie de troféu a divertia mais do
que perturbava.
O movimento aumentou na hora do almoço, como sempre acontecia. Já
era tarde quando Rose pôde liberar Bel para o almoço. Enquanto esperava pelo
retorno da amiga com um sanduíche para ela, Rose terminou de examinar a caixa
de livros que havia sido entregue pela manhã.
Assim que Bel retornou, Rose foi almoçar em seu escritório nos fundos da
livraria. Estava rindo de uma história infantil que também havia sido entregue
aquele dia, quando Bel abriu a porta.
— Entrega da floricultura para você.
— Da floricultura? — Rose se levantou, surpresa, ao ver a caixa longa e
estreita.
A expectativa transformou-se em tosse quando a caixa revelou um único
botão de rosa de cabo longo e pétalas vermelhas.
— Ei, você está bem? — Bel se apressou a perguntar.
— Não foi nada. Apenas engasguei com o sanduíche.
— Acho que a intenção era cativá-la, não sufocá-la — Bel caçoou. —
Quem é o gentil cavalheiro?
— Já vamos descobrir — Rose garantiu.—Vou ligar para a floricultura.
— Sinto muito, mas não sei informar — foi a resposta. — Seu admirador
secreto deixou um bilhete por baixo da porta junto com o dinheiro.

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— O que foi? — Bel bateu no ombro de Rose quando a viu devolver o


fone ao gancho. — Você está estranha.
— Eu estou bem — Rose respondeu com os olhos voltados para a rosa. —
Mas detesto mistérios. Se isso foi obra de Anthony, ele se verá comigo à noite.
— Meu palpite mudou. Se tivesse sido Anthony, a floricultura teria
recebido o pedido por telefone de Londres.
— Anthony conhece muita gente na cidade. Qualquer um poderia ter ido à
floricultura e deixado o dinheiro e as instruções a pedido dele.
— Seja como for, eu achei o gesto super-romântico — Bel declarou e
voltou para a loja para atender um novo cliente que acabara de entrar.
Depois de fechar a livraria, Rose sentou-se a sua mesa e começou a
verificar as contas para encerrar o movimento da semana. Alguns minutos
depois, hesitou. Ela estaria sozinha no sábado. Os papéis poderiam esperar
perfeitamente até o dia seguinte.
Assim que Rose chegou ao apartamento, no andar de cima, o telefone
tocou. Ao atender, contudo, o único som que ouviu foi o de alguém respirando
fundo.
— Quem é? — Rose perguntou, irritada. No mesmo instante, uma voz
sussurrou seu nome e desligou.
Um arrepio de medo percorreu as costas de Rose. Tentou descobrir quem
havia ligado, mas não conseguiu. A ligação não havia durado o tempo necessário
para o número ficar registrado no identificador de chamadas.
Decidida a pensar que fora alvo de um trote apenas, Rose foi à cozinha e
preparou um chá para se acalmar. Enquanto esperava que a água fervesse,
apanhou um vaso e acondicionou a rosa.
"Uma rosa para Rose", ecoou uma voz masculina, com sotaque escocês,
na memória de Rose.
A voz era tão clara que dava a impressão de que seu dono estava ali a seu
lado. Balançou a cabeça. Não costumava pensar em James. Ou melhor, recusava-
se a evocar lembranças. A culpa era do maldito cartão. E da ligação também
anônima. Mas o que realmente trouxe o passado de volta foi a rosa. Sua beleza e
sua fragrância penetraram na mente de Rose como fantasmas determinados a
assombrá-la. E dessa vez conseguiram.
Rose Dryden ingressou em uma universidade logo depois de completar
seu décimo oitavo aniversário. Ansiosa por aproveitar todas as liberdades que a
vida em um campus tem a oferecer, Rose adorou a idéia de dividir uma
kitchenette com outras duas garotas, Cornélia Longford e Fábia Dennison. Sen-
tia-se como uma dessas personagens de filmes, motivada e feliz, certa de que sua
vida de estudante seria um sucesso.
Grata pela recepção que teve por parte das duas veteranas que a
apresentaram imediatamente ao grupo, Rose logo se enturmou. Admirava a
beleza loira de Fábia e a inteligência privilegiada de Cornélia e procurou retribuir
toda a simpatia e amizade com que fora brindada.
Determinada a passar de ano com boas notas, Rose estudou com afinco.
Mas além das matérias do currículo, também conseguiu aprender a arte de passar
toda uma noite com apenas uma lata de cerveja, de flertar, e de como se livrar do

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perigo quando algum colega resolvia avançar o sinal.


— É fácil — dizia Cornélia. — Se você está interessada, aceite um
encontro a dois. Se não está, mantenha-se com o grupo.
Rose nunca deixou escapar que os únicos homens que conhecia eram os
amigos de sua tia Minerva com quem morava e os irmãos de suas colegas de
escola. Mas seu próprio bom senso a ensinara que um encontro a dois em geral
significava mais do que uma sessão de cinema e uma pizza. E como não estava
atraída por ninguém o suficiente para arriscar, divertia-se em desafiar aqueles que
se julgavam irresistíveis.
— Não os tolero — Rose dizia às amigas. — Eles não percebem que em
vez de me atraírem, fazem com que eu me afaste?
Cornélia e Fábia a ouviam, mas não partilhavam de sua opinião.
— Um dia você acabará se apaixonando — Fábia alertou-a uma vez
enquanto pintava as unhas. — O destino gosta de fazer surpresas. Às vezes, você
o encontra em meio a uma multidão. Basta um simples olhar.
Rose negou com veemência.
— Não eu!
— Fábia está certa, você sabe disso — declarou Con. — A maioria dos
homens tem em mente alguns encontros apenas com muito prazer e pouco
compromisso. O segredo é fazê-lo se apaixonar de tal forma que o transforme em
seu escravo.
Rose balançou a cabeça.
— Não dá para fazer alguém se apaixonar, Con.
— Como você sabe? Já experimentou?
— Não, mas...
— Então fique quieta e ouça. — Con deu um sorriso diabólico — Aliás,
ouçam as duas! Trata-se de um fato científico. Estive lendo uma matéria hoje
sobre neurobiologia que quero testar em vocês. Juro que não se trata de nenhum
feitiço. Será uma espécie de jogo.
Fábia concordou sem hesitar. Para não parecer covarde, Rose engoliu em
seco e fez que sim com a cabeça.
— Muito bem. Fico contente que confiem em mim — disse Con. — Será
divertido.
Para iniciar o jogo, as três mulheres apanharam quatro pedaços de papel
cada uma e escreveram um nome em cada um. Segundo Con, elas podiam
mencionar qualquer homem que conhecessem ou não e que consideravam
interessantes. Depois, teriam de dobrar cada papel e colocá-los dentro de um
chapéu.
— Agora, vamos misturar os papéis e sortear um cada uma.
As três introduziram as mãos ao mesmo tempo. Quando as retiraram, Con
pediu que Fábia lesse o dela em primeiro lugar.
— Will Hargreaves — Fábia anunciou com um sorriso de satisfação. —
Sinto muito, meninas. Sorte é para quem tem, não para quem quer.
Con desdobrou seu pedaço de papel.
— Joe Kidd.
— Mas eles estão atrás de vocês desde o início das aulas!

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— Rose objetou. —- Isso não vale... — Ela parou de falar e corou ao ler o
nome escrito em seu papel.
— O que deu em você? — Con quis saber e antes que Rose respondesse,
tirou o papel de suas mãos. — James Sinclair.
Mal pronunciou o nome, Con olhou para Fábia cuja letra havia
reconhecido.
— Por que não? — Fábia moveu os ombros na defensiva.— Você disse
para escrevermos qualquer nome.
— Sim — Rose concordou. — Uma questão de sorte, como Fábia acabou
de dizer. James Sinclair, afinal, não é apenas o aluno mais bonito, brilhante e
cobiçado da faculdade. Ele também é o capitão da equipe de rugby e está se
formando este ano. Moleza. Não importa que eu tenha apenas até o fim do ano
para transformá-lo em meu escravo. Bastarão alguns dias para eu ter sucesso em
minha empreitada.
Con deu um tapinha no ombro de Rose.
— Calma! Não precisa ficar nervosa. Ninguém a está obrigando a
prosseguir com o jogo. Você pode desistir a hora que quiser.
— Lógico — Fábia concordou cheia de remorso. — Eu estava brincando.
Sorteie outro nome. Com Sinclair, sabemos que não há chance.
— Por que não? — Rose protestou, zangada. — Não acham que sou sexy
o bastante para atrair um homem como ele?
— Não se trata disso — Fábia se apressou a responder. — É que falam por
aí que ele é gay.
— Pura maldade — Con caçoou. — Falam isso porque ele não é do tipo
que vive atrás de conquistas.
Rose suspirou.
— Atrás de nenhuma mulher, você quer dizer.
— Bem, ele não costuma ser visto com ninguém, mas...
— É porque ele se determinou a tirar o diploma primeiro — Rose contou.
— Fui assistir a um jogo de rugby, outro dia, com Ally Farmer. Ela sabe sobre
James Sinclair porque está saindo com outro jogador do time.
Fábia e Con trocaram um olhar.
— Eu havia me esquecido de que você gosta desse esporte — Con
confessou.
— Às vezes, quando vocês saem para fazer compras, eu aproveito para ir
ao estádio e... Por que estão me olhando desse jeito?
— Porque Sinclair, talvez, já a tenha visto em uma dessas ocasiões —
sugeriu Fábia.
— Oh, sim! Ele aproveitou um daqueles instantes em que os adversários
montaram em sua cabeça para olhar para mim e descobrir que tenho lindos olhos
azuis.
Con deu um passo em direção a Rose e segurou-a pelo queixo.
— Isso pode ter acontecido perfeitamente. Seus olhos são imensos e de
um tom raro de azul, quase marinho.
— E verdade — Fábia concordou. — Você deveria valorizá-los. Não
entendo por que nunca os pinta.

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— Bonitos ou não, tenho certeza de que James Sinclair nunca reparou em


mim.
— Mas isso irá mudar — Con garantiu —, desde que você faça o
seguinte...
Rose se deitou aquela noite com plena convicção de que sua sanidade
mental estava comprometida. Por ter se recusado a desistir de conquistar James
Sinclair, Con e Fábia mudaram o jogo no sentido de se mobilizarem para ajudá-la
em sua tarefa. Segundo Con, escravizar os jovens Hargreaves e Kidd seria uma
brincadeira de criança. No caso de James Sinclair, porém, seria uma missão
impossível.
O plano de Con e de Fábia consistia em pesquisar os gostos e as
preferências de Sinclair, a vida dele em família e todos os detalhes relevantes de
sua personalidade, a fim de que Rose trabalhasse no sentido de parecer a alma
gêmea dele.
Mas, em primeiro lugar, de acordo com Con, Rose precisaria se aproximar
do jovem como se fosse por acaso.
— Onde? — Rose quis saber.
— No estádio, é claro. Trate de chegar bem cedo. Joe Kidd me contou que
Sinclair se exercita lá todas as manhãs, por volta das sete.
— Eu terei de correr? — Rose perguntou, boquiaberta.
— Às sete? — indagou Fábia, horrorizada.
— Rose terá de chegar antes — Con ordenou sem piedade. — Sinclair não
pode ter dúvidas de que o encontro foi "casual".
— Espero não ter de chegar muito antes, ou estarei morta até que ele
chegue!
Rose virou-se na cama a noite inteira. O plano de Con era uma loucura.
Mas desistir de James Sinclair seria loucura e meia!
Com essa idéia em mente, Rose conseguiu finalmente adormecer. Mas,
mal havia fechado os olhos, foi sacudida e obrigada a vestir um agasalho, meias e
tênis. Con lhe entregou uma escova e um elástico para que penteasse e prendesse
os cabelos. Depois lhe colocou uma tira vermelha na testa e a conduziu à porta.
— O café estará pronto quando você voltar.
— Se eu voltar — Rose resmungou.
O estádio estava deserto quando chegou. Isso animou-a. Talvez Sinclair já
tivesse ido embora. O dia havia amanhecido cinzento e feio.
Rose se aqueceu por alguns minutos. Depois, com entusiasmo zero e a
promessa de que não daria mais de três voltas pela quadra, começou a correr.
Ao final da primeira volta, Rose viu-se sem fôlego e ansiosa por parar.
Não estava acostumada a se exercitar, mas obrigou-se a insistir. Não se
arrependeu.
Enquanto percorria a pista pela segunda vez, conseguiu disciplinar a
respiração e o ritmo dos passos, e a empreitada já não pareceu impossível.
De repente, começou a ouvir outros passos e se atrapalhou ainda mais do
que antes com a respiração. Mas manteve-se firme e não olhou para trás. Alguns
instantes depois, James Sinclair passou por ela e cumprimentou-a com um gesto
de cabeça.

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Apesar de cansada, Rose decidiu continuar mais um pouco. O objeto de


seu interesse, afinal, havia chegado.
Em vez de parar na terceira volta, como havia prometido a si mesma, Rose
continuou correndo e foi premiada com um pequeno sorriso quando Sinclair
tornou a passar por ela.
Exausta mas satisfeita, Rose deixou o estádio e voltou para o apartamento
que dividia com as amigas.
— Missão cumprida — anunciou.
Con e Fábia a receberam com gritinhos e risadas entusiásticas. Fizeram
com que tomasse uma ducha para relaxar os músculos e a submeteram a uma
massagem.
— Você não pode sofrer nenhuma distensão ou não conseguirá correr tão
cedo.
— O quê? Eu terei de correr outra vez?
— Sim, mas não amanhã. Antes Sinclair precisa sentir sua falta.
— Ora, por favor! — Rose exclamou. — Ele mal reparou em mim.
— Confie nos mais velhos — Fábia brincou. — Ele procurará por você
amanhã.
Na noite anterior à segunda etapa do plano, Rose preferiu ficar em casa a
sair com as amigas.
— Se tenho de correr amanhã, preciso dormir cedo — justificou. — Além
disso, tenho um trabalho para terminar. Procurem não fazer barulho quando
chegarem, o.k.?
As amigas seguiram as instruções e não acordaram Rose ao chegarem.
Mas às seis e trinta, Con chamou-a sem dó nem piedade.
— Acorde, Rose. Está na hora.
Mais uma vez, Rose foi arrancada da cama e soterrada sob o agasalho.
Vestiu-se, entre bocejos, escovou os dentes e prendeu os cabelos. Depois foi
colocada para fora de casa como se fosse uma criança relutante em ir para a
escola.
Apesar de ter chegado mais cedo ao estádio do que no outro dia, Rose não
chegou cedo o suficiente. Praguejou baixinho ao avistar James Sinclair correndo.
Daquela vez, afinal, não poderia fingir que estava terminando de se exercitar.
Sinclair alcançou-a em poucos minutos e, como no outro dia, a
cumprimentou com um pequeno sorriso antes de prosseguir. Rose retribuiu o
gesto e continuou correndo até sentir a faixa na testa molhada de suor e o peito
doer como se estivessem lhe enfiando uma faca.
Por maior que fosse o sacrifício, Rose continuou correndo até completar a
quarta volta. Então voltou para casa e desabou na cama de Con, a primeira que
encontrou.
— Não é preciso se matar, querida — disse Fábia, preocupada, enquanto
tirava os tênis de Rose.
— Ele estava lá? — Con quis saber.
— Claro... que... estava! — Rose respondeu, irritada e vermelha como um
pimentão. — Chegou antes de mim. Por que acham que estou neste estado?
— Quantas voltas você deu?

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— Quatro!
— Fantástico! — Fábia exclamou. — Imagine sua forma daqui alguns
dias. E ele? Aposto que desta vez reparou em você.
— Como não reparar? Ele passou por mim quatro vezes. Sou uma lesma
em comparação. — Rose se levantou com as mãos apoiadas nos quadris. — Oh,
quem se habilita a me preparar o café enquanto desmaio sob o chuveiro?
No dia seguinte, por ser um sábado, Rose teve permissão para descansar.
Em vez de correr pela manhã, assistiria ao jogo de rugby à tarde.
— E para despistar, nós iremos com você e torceremos para Will
Hargreaves. — Con deu uma piscada. — Não veio a calhar? O titular se
machucou e Will foi escalado para substituí-lo.
Fábia era a favor de Rose se apresentar no estádio com o agasalho e a tira
vermelha amarrada na testa para que James
Sinclair não tivesse dúvidas de que era ela. Con, entretanto, foi totalmente
contra.
— Seria óbvio demais. Rose deve usar outra roupa. Nada de sofisticado, é
claro. Uma roupa qualquer dessas que ela costuma colocar quando vai ao estádio
assistir a um jogo em dias frios. E uma pena que Sinclair não seja jogador de
críquete e que o jogo não esteja acontecendo em um dia de calor. Seria ótimo se
você pudesse mostrar um pouco seus atributos, Rose. Os homens não resistem a
decotes e pernas em evidência.
Em circunstâncias normais, Rose se queixava de sua baixa estatura, mas
naquela tarde ela estava adorando se esconder entre as amigas que eram altas e os
amigos que não paravam de gritar a favor do time adversário.
Ela não perdia James Sinclair de vista nem sequer por um segundo. Estava
torcendo por ele e pensando que fora uma tola em aceitar o desafio. Ou melhor,
em desafiar suas amigas. Elas haviam voltado atrás, afinal.
Como faria para conseguir atrair não só a atenção, mas também o interesse
do aluno mais charmoso e cobiçado da faculdade? Não havia esperança. O
melhor que tinha a fazer era dizer a suas amigas que resolvera desistir.
Ao mesmo tempo que a idéia lhe ocorria, Rose soube que não daria o
braço a torcer. Não sabia como, mas lutaria por James Sinclair e o conquistaria.
— Deixe tudo conosco, Rose. Quando terminarmos de arrumá-la, Sinclair
não terá como não reparar em você — as amigas disseram, como se tivessem lido
seu pensamento.
Fábia e Con enrolaram os cabelos de Rose e a obrigaram a vestir uma
calça jeans abandonada por estar justa demais e um suéter de Con que se
amoldava ao corpo como uma segunda pele. Depois a fizeram sentar diante do
espelho e a maquilaram como se fossem pintoras renascentistas criando uma
obra-prima.
— Não somos verdadeiras artistas? — indagou Fábia, algum tempo
depois, enquanto escovava os cabelos que pareciam azulados de tão pretos.
Rose examinou sua imagem sem disfarçar a surpresa. Delineados em preto
e com sombra lilás nos cantos, seus olhos pareciam maiores e mais brilhantes no
rosto oval. Os lábios, pintados com gloss natural, pareciam mais cheios e
sensuais. Os cabelos nunca lhe pareceram tão compridos.

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— Estou diferente... — Rose murmurou.


— Você está linda — Con elogiou com tanta espontaneidade que Rose
acreditou.
— Não estou exagerada?
— De maneira alguma — Fábia garantiu. — Apenas realçamos o que já
existe.
Após o jogo, as amigas entraram no bar próximo ao estádio onde a turma
da faculdade costumava se reunir.
Rose avistou Sinclair no instante que chegou. Seus cabelos escuros e suas
feições eram inconfundíveis. Ele estava conversando e rindo com alguns amigos.
Era tão alto e atraente que se destacava entre todos.
— Não fique olhando para ele — Con a repreendeu e indicou uma cadeira
que a colocaria de costas. — Faça apenas o que eu mandar.
— Como subir na mesa e dançar a um estalar de seus dedos? — Rose
ironizou.
— Não seja boba! Estou do seu lado, não contra você!
Ao ver alguém colocar uma caneca de chope a sua frente, Rose ergueu os
olhos. Era Miles, um de seus admiradores mais fiéis. Pensou que deveria
agradecer, mas antes que tivesse chance de falar, Joe, normalmente devoto de
Con, pediu sua opinião sobre o jogo a que haviam acabado de assistir.
Con, que havia se distraído por um momento com outra amiga, segurou o
braço de Joe, e cochichou para Rose.
— Sinclair está se dirigindo ao bar. Siga-o.
— Mas todos nós já estamos bebendo!
— Então vá e peça uma porção de amendoim ou qualquer outra coisa.
Rose se levantou para cumprir a ordem. Sentiu vários olhares as suas
costas, mas não titubeou. Seguiu para o lado de Sinclair e deu um jeito de abrir
espaço junto ao balcão.
O jogador olhou para ela. Conforme as instruções de Con, Rose deu um
breve sorriso e imediatamente olhou para a frente a fim de chamar o barman.
Seu coração quase parou de bater quando sentiu que a seguravam de leve
pelo braço.
— Oi! Eu não te conheço?

CAPÍTULO II

A voz grave e profunda apresentava um distinto sotaque escocês. Os


joelhos de Rose tremeram, e o coração bateu mais forte sob o suéter cor-de-rosa,
mas Rose não perdeu o controle. De acordo com as instruções recebidas,
estreitou os olhos e fingiu refletir antes de mencionar o estádio. Não houve
tempo. James Sinclair sorriu e estalou os dedos.
— Do estádio! Você estava correndo!
Rose correspondeu ao sorriso, feliz por não ter precisado dizer de onde se
conheciam.
— É. Coincidiu de corrermos no mesmo horário, embora eu não faça isso
com freqüência — Rose decidiu ser sincera, ao menos em parte, antes de mudar

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drasticamente de assunto. — Assisti ao jogo esta tarde. Parabéns.


— Foi um bom jogo — James concordou. — Gosta de rugbyl?
Rose respondeu que sim e se virou para o barman que esperava para
atendê-la.
— Posso lhe oferecer um drinque?
— Não, obrigada. Já tenho um — Rose respondeu e olhou para a mesa
onde deixara os amigos. — Vim buscar amendoim para acompanhar.
James Sinclair insistiu em pagar a despesa. Em seguida, tornou a encostar-
se no balcão e fitou-a.
— Como é seu nome?
Rose estava tão nervosa que mal pôde pronunciá-lo. James inclinou-se e
disse em seu ouvido.
— Desculpe, eu não entendi.
— Rose. Rose Dryden.
— O meu é James Sinclair.
Rose sorriu à apresentação, agradeceu pelos amendoins e voltou para a
mesa.
— Você se saiu muito bem — Con cumprimentou-a.
— Ele se lembrou de mim.
— Eu sabia! — a amiga exclamou, exultante.
Em circunstâncias normais, Rose estaria se divertindo, mas, de repente, a
turma começou a lhe parecer infantil e ruidosa demais. Os olhares de cobiça e as
cantadas em geral bem-vindas estavam mais insistentes naquela noite, certamente
por causa de seu novo visual. Mas em vez de se sentir lisonjeada, Rose achou
tudo muito desagradável.
Cerca de uma hora depois, decidida a encerrar a noite, Rose inventou uma
desculpa.
— Você não se importa se eu for para casa, Con? Estou com dor de
cabeça.
— Quer que eu vá com você?
— Não, é cedo ainda. Fique.
Em um determinado momento, Rose aproveitou a distração geral para se
levantar e fingir que ia ao toalete. Em vez disso, dirigiu-se à saída.
Ela jamais havia caminhado sozinha à noite pelo campus. Andou com
passos rápidos e o coração aos saltos. Principalmente quando pensou ouvir
passos as suas costas. Assustada, pôs-se a correr e estava pensando em gritar
quando ouviu seu nome.
— Rose! Rose Dryden! — Ela reconheceu de imediato a voz de James
Sinclair.
— Desculpe — Rose disse, sem fôlego, quando ele a alcançou. — Não
pensei que fosse alguém conhecido.
— Vi quando saiu. — Ele lhe apontou um dedo. — Não deveria andar
pelas ruas sozinha a esta hora da noite.
— Não há perigo — Rose respondeu na defensiva.
— Então por que correu quando eu a segui?
Ela deu de ombros.

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— Instinto.
— De qualquer modo, eu a levarei até sua porta.
Rose deixou-se acompanhar ainda sem acreditar em sua sorte. Con e Fábia
ficariam abismadas quando ela contasse.
— Fale-me sobre você — ele pediu. — Quantos anos tem?
Por um instante, Rose pensou em mentir, mas algo a fez dizer a verdade.
— Dezoito. Estou cursando Literatura Inglesa, gosto de cinema e corro de
vez em quando para manter a forma. — Ela virou-se e sorriu, provocante. —
Arrependido de ter perguntado?
— Em absoluto — James respondeu e retribuiu o sorriso.
— E você, o que faz? — Ela já sabia que James Sinclair estava cursando
Administração e Economia, mas fingiu desconhecimento. — A essa altura, já
haviam chegado diante do prédio onde Rose morava. — Obrigada por ter se dado
ao trabalho de me trazer. Boa noite. — Ela estendeu a mão alguns minutos
depois. Não podia correr o risco de entediá-lo. Con a alertara para ir aos poucos.
Ele apertou sua mão e demorou a soltá-la.
— Antes, Rose Dryden, quero que prometa que não tornará a andar
sozinha à noite.
— Está bem. Eu prometo.
Ele sorriu.
— Até qualquer dia, então, no estádio. Rose assentiu, incapaz de falar, e
entrou.
Quando Con e Fábia chegaram, mais cedo do que de costume,
encontraram Rose acordada.
— A dor de cabeça melhorou?
— Estou ótima. — Rose se sentou na cama e alongou os braços como uma
gata manhosa.
— Eu também estaria se alguém como Sinclair tivesse comprado
amendoins para mim — disse Fábia.
Con sentou-se na única cadeira que havia no quarto.
— Admita, Rose. Meu plano é genial, não?
— Está funcionando melhor do que você imagina — Rose confessou, em
êxtase.
As amigas arregalaram os olhos ao serem informadas de que James
Sinclair saíra atrás de Rose a fim de acompanhá-la.
— Ele lhe deu um beijo de boa-noite? — Fábia quis saber.
Rose sorriu com ar de ingenuidade.
— Claro que não. Nós nos despedimos com um aperto de mãos.
Con se levantou após as risadas. Sua atitude era de respeito.
— Devo admitir que não acreditava realmente que você conseguiria, Rose.
A imunidade de Sinclair ao sexo oposto é fato conhecido.
Fábia não deu o braço a torcer.
— E nosso trabalho não conta? Como ele poderia ter resistido à
maquilagem deslumbrante que fizemos? E ao seu suéter, Con, que realçou ainda
mais o corpo perfeito de nossa amiguinha? Ele pode ser imune às mulheres
comuns, mas não a Rose.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Mas ele me tratou mais como criança do que como mulher — Rose
contou, aborrecida. — Vocês precisavam ouvir o sermão que me passou por estar
andando sozinha pelo campus.
Con não se abalou com o relato.
— Sinclair notou você, lembrou-se de você, ofereceu-lhe uma bebida e
depois a seguiu para garantir sua segurança. Não se preocupe, Rose, com sua
aparência de garotinha. Nunca ouviu falar no poder de sedução das ninfetas?
Em obediência às ordens de Con, Rose não correu no dia seguinte. No
outro, ela já havia iniciado a terceira volta e tentava se conformar com o esforço
em vão quando a figura atlética e familiar surgiu em campo.
Como das outras vezes, eles trocaram um sorriso quando Sinclair a
ultrapassou. Naquela manhã, entretanto, ela abandonou a corrida assim que
completou o circuito, sem esperá-lo, com receio de que suas pernas não
resistissem a seu peso.
No dia seguinte, foi difícil ficar longe do estádio. Algo que Rose jamais
admitiria a Con e a Fábia. A noite, porém, não teve dificuldade em dizer que não
as acompanharia ao costumeiro encontro dos estudantes. Sem James Sinclair, que
nunca comparecia, aquelas reuniões já não a atraíam.
Pela manhã, Rose não precisava mais ser acordada. Às seis e trinta pulava
da cama, vestia o agasalho e saía, de bom grado, para se exercitar. Isto é, para ver
James.
Naquele dia, porém, para sua surpresa, ele havia chegado primeiro, o que
significava que teria, mais uma vez, de fingir que gostava de correr. Assim,
aqueceu os pobres músculos a fim de preveni-los da outra dose de sacrifício que
lhes seria cobrada e deu a partida.
Um sorriso acompanhado de um "oi", prontamente retribuído, fez Rose
sentir-se recompensada. Quanto à velocidade, Ela se manteve firme. Ou seja, não
fez o menor esforço para acompanhá-lo.
A estratégia funcionara, pois na volta seguinte, Sinclair diminuiu o passo.
— Ânimo! Tente acelerar um pouco — ele disse como se estivesse
sentado diante de um tabuleiro de xadrez.
Rose empenhou-se em atender ao pedido, mas no final do terceiro circuito,
ergueu as mãos em gesto de rendição e se sentou no chão com a cabeça entre os
joelhos.
James ajoelhou-se ao lado dela.
— Desculpe, Rose. Não tive a intenção de fatigá-la. Ela ergueu o rosto
corado e que suava em bicas.
— Não sou uma atleta como você — ela respondeu, ofegante.
— Poderá ser, se quiser, Mas precisa se exercitar todos os dias. Se fizer
isso, estará em forma em um piscar de olhos. — Ele se deteve e sorriu de um
jeito que a deixou ainda mais ofegante. — Não que sua forma já não seja
perfeita.
Aquelas palavras foram o incentivo que faltava. Rose se levantou de
imediato. Ainda bem que seu rosto não poderia ficar mais vermelho do que
estava.
— Preciso ir agora. Mal posso esperar para entrar debaixo do chuveiro.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Ah, vejo que não gosta de comentários pessoais.


Ela gostava. Principalmente vindos de James Sinclair, mas não respondeu.
— Em dias de aula, sempre trago um kit de banho e me arrumo aqui. Se
fizer o mesmo amanhã, poderemos tomar café juntos.
A excitação que a envolveu foi tão grande que ela quase deu pulos. Aquilo
também seria conseqüência do plano de Con? Fosse ou não, não se importava.
Porque nada no mundo a impediria, agora, de fazer o eremita James Sinclair se
apaixonar por ela.
— É claro que você não deve se sentir obrigada a correr todos os dias,
caso não sinta vontade...
— Eu virei amanhã — Rose interrompeu-o e não conseguiu disfarçar a
surpresa. Seria sua impressão ou James Sinclair ficara corado de repente?
— Então, estamos combinados — ele disse e deixou-a. — Até amanhã.
Rose voltou para o alojamento tão perdida em pensamentos que passou
por conhecidos sem vê-los. Seu comitê de recepção a aguardava à porta.
— Como foi? Algum progresso? Rose assentiu com a cabeça.
— Sim, mas o prêmio é um café da manhã após outra corrida, não um
romântico jantar à luz de velas — Rose contou sem dar demonstração de sua
alegria.
— No que diz respeito a James Sinclair — sugeriu Con — o convite
adquire o mesmo significado.
Quando Rose chegou ao estádio, na manhã seguinte, com uma mochila na
mão, James já estava correndo a uma velocidade que a deixou cansada só de
olhar.
— Oi! — Ele parou para cumprimentá-la. — Dê uma volta ou duas
devagar para aquecer e depois acelere aos poucos.
Para lhe servir de técnico, Sinclair diminuiu suas passadas. Ela seguiu as
instruções à risca durante todos os circuitos. Ao final, surpreendeu-se por ainda
estar de pé e com mais disposição do que nos dias anteriores.
Sozinha no banheiro feminino, Rose tomou uma ducha quente e rápida,
enxugou-se e passou uma loção hidratante que Fábia lhe emprestara. Depois
vestiu uma calça jeans justa e um suéter amarelo. Con queria que ela aplicasse
uma pincelada de sombra nas pálpebras e uma camada de rimei nos cílios, mas
sua pressa em voltar para junto de James a fez se limitar a um toque de batom
nos lábios e uma fita de veludo ao redor do rabo-de-cavalo.
O sorriso com que foi recebida a deixou nas nuvens.
— Se você está se sentindo tão bem quanto parece, a corrida foi um
sucesso — disse James ao mesmo tempo que pegava a mochila de Rose.
— Estou me sentindo ótima e faminta — Rose confidenciou enquanto
seguiam rumo ao centro comercial.
O café que ficava mais próximo à universidade estava repleto de gente, de
fumaça e de cheiro de comida. Rose sentiu o apetite aumentar.
— Sanduíches de bacon, o supra-sumo da energia — James anunciou ao
retornar com dois pratos à mesa onde a deixara.
Rose que raramente fazia uma refeição substanciosa pela manhã atacou o
sanduíche com prazer.

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— Estava fabuloso — ela afirmou entre goles de chá preto —, mas se


perdi alguns centímetros com a corrida, acabei de recuperá-los.
— É por isso que você corre? Para perder peso?
— Não — Rose respondeu com ares de filósofa. — Corro para melhorar
meu desempenho físico e mental. Não dizem que a liberação de endorfina auxilia
a função cerebral?
— Sim — James concordou —, mas a corrida faz parte de meu
treinamento. Na verdade, eu já deveria ter parado de jogar rugby para me dedicar
aos exames finais, mas não resisti a participar dos jogos de encerramento da
temporada.
— Então você pretende parar de correr após a temporada? — Rose
perguntou, sem pensar.
James fitou-a em silêncio por um instante.
— Só de jogar. Não conseguiria parar de correr. Não agora. Rose quase
engasgou com o último gole do chá.
— Posso pagar minha parte? — ela indagou e se levantou ao mesmo
tempo.
— Não — ele respondeu e se levantou em seguida. — Da próxima vez,
você paga.
Da próxima vez! Rose sentiu o coração pular de emoção.
No caminho para a faculdade, Rose foi alvo de muitos olhares de surpresa
e de inveja. Ao chegarem diante de seu prédio, ela agradeceu pelo café e
começou a se afastar, mas ele a segurou pelo braço.
— Rose, espere um segundo. Meu time jogará depois de amanhã. Você
estará lá outra vez?
Outra vez! Então ele a notara!
— Não sei. Talvez.
A expressão contrafeita a deixou exultante.
— Bem, caso não possa ir e esteja disposta a acordar cedo no domingo,
após a corrida lhe pagarei dois sanduíches de bacon para compensar.
— O.k. — Rose respondeu apenas e se afastou sem olhar para trás.
Con mal pôde acreditar quando Rose lhe contou que não iria ao jogo no
sábado à tarde.
— Muito bem! Vejo que você realmente entendeu o espírito da coisa! —
Con parabenizou-a. — Mas irá conosco ao Sceptre à noite, não irá?
— Melhor não — Rose respondeu. — Pretendo dormir cedo.
— Espertinha, não? Vejo que não precisa mais de professora!
— Está enganada, Con. Tenho minhas próprias idéias, mas preciso de toda
ajuda que puder receber. James deixou escapar que notou minha presença no
último jogo. Por isso, resolvi não ir nesse. Quero que minha ausência fique
marcada e para isso, preciso que você e Fábia estejam lá. E que me forneçam um
relatório detalhado quando voltarem.
No sábado à noite, diante da televisão, Rose quase se arrependeu por ter
ficado em casa sozinha. Mas sua determinação foi mais forte. Queria ver James, é
claro. Ao mesmo tempo, temia que ele se limitasse a acenar diante de suas
amigas se eles se encontrassem no Sceptre, o barzinho onde o pessoal da

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faculdade costumava se reunir.


Con entrou no apartamento como um furacão no final da noite.
— Sinclair estava lá! Chegou exultante com a vitória de seu time à tarde.
Deu para notar o jeito como espichou o pescoço a sua procura quando nos viu.
Depois, surpreendi-o olhando para nossa mesa uma porção de vezes. Está
funcionando, Rose! Está funcionando!
Con puxou Rose da cama pelas mãos e a fez rodopiar. Fábia bateu palmas
e as três se puseram a rir.
— O que deu em vocês duas?
— Estamos contentes por você — disse Fábia. — Bem, eu confesso que
estou com inveja. Gostaria de ter sido eu a tirar o nome de Sinclair do chapéu.
Con balançou a cabeça.
— Ora, Fábia. Você consegue se ver madrugando todas as manhãs e
correndo no estádio?
Fábia tornou a rir.
— De jeito nenhum! Nenhum homem merece o sacrifício!
— Confesso que passei a gostar de correr. Dá uma sensação de bem-estar
depois.
— E borra a pintura.
— Não uso rimei para correr.
Con deu um tapinha na mão de Rose.
— Nem seria preciso. Conte-me. Sinclair continua tratando-a como
criança?
Rose demorou um instante para responder,
— Não. Não creio.
— Aposto que ficou pensando em você o tempo todo esta noite e
cogitando com quem estaria. Tenho certeza de que a verdade não lhe passou pela
cabeça — disse Fábia.
— Will e Joe o consideram um herói — Con narrou sua descoberta. —
Pelas informações que obtive, ele é responsável em tudo o que faz. Dedica-se
com afinco aos estudos e pretende começar a trabalhar e ganhar seu próprio
sustento assim que se formar.
Rose sentiu uma pontada de remorso ao ouvir aquilo.
— Espero que ele nunca descubra sobre nosso plano.
— Não descobrirá. Nem Will nem Joe tem intimidade com ele o bastante
para lhe contarem sobre nossa pequena pesquisa.
— Con estalou os dedos. — De qualquer modo, já descobrimos o
suficiente.
— Sim — concordou Fábia. — Ele é de algum lugar perto de Edinburgh,
mora com uma senhora viúva na cidade, gosta de filmes franceses e é um ás dos
esportes. Ele também gosta de pescar e de passar as férias em Skye. Ambição é
seu nome.
— Como conseguiu descobrir tudo isso? — Rose indagou, surpresa.
— Will me contou depois que saímos do bar.— Fábia piscou.
— Valeu a pena. No início, ele ficou com ciúme. Disse que eu não levava
nenhuma chance com seu colega porque ele não tem tempo para as garotas. Mas

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depois nos beijamos e ficou tudo bem.


— Ótimo — aprovou Con. — Quanto a Sinclair não se interessar por
garotas, isso era verdade até ele conhecer nossa Rose.

CAPÍTULO III

Na manhã seguinte, Rose acordou antes do toque do despertador e se


apressou a vestir o agasalho. Com cuidado para não fazer barulho, apanhou uma
muda de roupa, colocou-a na mochila e estava abrindo a porta para sair quando
se deu conta de que chovia.
Após um instante de hesitação, voltou para o quarto e pegou sua capa.
Nada nem ninguém a prenderia em casa e a impediria de se apresentar no
encontro.
James já estava lá quando chegou. Com uma capa preta de capuz, pareceu-
lhe ainda mais bonito.
— Oi! — ele a cumprimentou com aquele sorriso que não saía mais da
cabeça de Rose. — Pensei que você não viesse.
— Tive minhas dúvidas — Rose admitiu e indicou a pista cheia de poças.
— Dá para arriscar?
— Acho melhor não — James respondeu ao mesmo tempo que pegava a
mochila de Rose. — Tenho uma idéia melhor.
— Irmos direto aos sanduíches de bacon? — Rose brincou.
— Por que não? O único problema é que o café abre mais tarde aos
domingos.
— Tudo bem. — Rose tentou disfarçar a decepção. — Fica para outra vez.
— Moro não muito longe daqui — James informou. — Se puder aceitar
meu convite, garanto que faço sanduíches de bacon como ninguém. Minha
senhoria viajou este fim de semana e teremos a cozinha a nossa disposição.
— Não haverá mais ninguém na casa?—Rose perguntou, hesitante.
— Não. Sou o único pensionista da sra. Bradley. E, então, o que me diz?
— Irei com você — Rose respondeu, decidida e exultante. O sorriso de
James espelhou o mesmo prazer. Um instante depois, ambos estavam correndo
pelas ruas e rindo.
— Entre, suba e vá direto ao banheiro — aconselhou James ao abrir a
porta. — Precisamos trocar de roupa antes que apanhemos uma pneumonia.
— E você?
— Usarei o toalete da sra. Bradley que fica aqui embaixo.
Rose livrou-se da roupa molhada e vestiu sua velha e confortável calça
jeans, um suéter branco, que ficava mais folgado cada vez que o lavava, e meias
e tênis limpos e maravilhosamente secos. Depois secou os cabelos com sua
própria toalha, penteou-os e passou o costumeiro batom.
Após guardar as roupas molhadas na mochila, Rose saiu do banheiro e não
resistiu à tentação de dar uma espiada no quarto ao lado.
Havia pilhas de livros espalhadas por todos os cantos. A mesa, que ele
devia usar como escrivaninha, continha uma bandeja grande de madeira com

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xícaras e um açucareiro. O sofá também estava cheio de livros. Não havia cama.
James, obviamente, dormia em outro lugar. Aquela, aparentemente, era apenas
uma sala de estudos.
A vista deveria ser linda em dias de sol. Apesar da chuva copiosa, Rose
viu uma infinidade de canteiros pela janela.
James vivia com conforto, Rose pensou. Aquela sala deveria ser ao menos
três vezes maior do que o quarto que ela ocupava no campus.
— Nossa, como você foi rápido! — Rose disse com ar de culpa ao ser
surpreendida.
— Deixei tudo preparado antes de sair — ele contou como se partilhasse
um segredo.
James indicou o sofá e serviu o chá. Rose bebeu um gole e pegou um
sanduíche. No mesmo instante, pôs-se a comer, cabisbaixa.
— O que houve, Rose? — James perguntou quando o silêncio persistiu.
Rose vasculhou a mente em busca de algo inteligente para dizer, mas não
teve sucesso.
— Estava pensando que não foi deste jeito que imaginei começar a manhã.
— Preferia ter ido para casa?
— Não, é claro que não.
— Fique tranqüila. Sou inofensivo. Ela sorriu involuntariamente.
— Ouvi dizer.
A expressão de James mudou de imediato.
— O que foi que ouviu dizer? Podia ser mais específica? Rose corou até a
raiz dos cabelos.
— Que você se interessa mais pelas quadras e pelos livros do que pelas
garotas.
Ele pareceu relaxar.
— E verdade. O excedente de energia vai para o esporte. A cota normal
vai para isto. — James indicou os livros. — Sou um homem normal em questões
de sexo caso tenha alguma dúvida a meu respeito.
— Eu não tenho nenhuma dúvida — Rose murmurou. — Mesmo que
tivesse, acho que isso não me diria respeito. O que as pessoas fazem ou deixam
de fazer não é da conta dos outros.
James encarou-a.
— Você é franca.
— Sou.
— Quer mais chá?
— Sim, por favor.
— Então você não se importaria se eu fosse gay? — James insistiu.
Rose encolheu os ombros.
— Diferenças raciais, sociais, religiosas e sexuais não deveriam ser
relevantes, principalmente quando existe amizade.
James apoiou os cotovelos nos joelhos.
— Está sendo sincera, não?
— Estou. Posso ser criança a seus olhos, mas tenho minhas opiniões
formadas.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Foi educada por seus próprios pais?


— Eles iniciaram o processo — Rose contou, subitamente triste. — Eu os
perdi aos catorze anos. Depois fui morar com minha tia Minerva.
James se levantou, apanhou as xícaras e os pratos, colocou-os na bandeja
e, para espanto de Rose, voltou para o sofá onde se sentou ao lado dela e lhe
segurou a mão.
— Gostaria de me contar sobre seus pais?
Rose mordeu o lábio. Depois de uma longa hesitação, falou sobre o
acidente em Warwickshire que havia colocado fim à vida deles.
— Estavam indo me buscar na escola — Rose desabafou. — Custou-me
superar o trauma apesar do empenho de minha tia Minerva em que nada me
faltasse. Ela tem uma pequena livraria em Chastlecombe. Levou-me para morar
em seu apartamento.
— Pobre Rose — James lamentou. — Deve ter sido muito duro para você.
— Não vou fingir que não foi. Mas não posso me queixar da sorte. Minha
tia era bem mais jovem do que meu pai. Ela foi mais amiga do que tia para mim.
E guardo doces lembranças da infância. Principalmente das férias. — Nesse
momento, Rose sentiu uma pontada de culpa. Seria sua primeira grande mentira
desde que se empenhara em atrair James Sinclair. — Fomos à Escócia uma vez.
Ficamos em uma cidade chamada Skye.
— Skye? — James repetiu, entusiasmado. — Quando meu pai era vivo,
passávamos todas as férias lá. Adoro aquele lugar. Você gostou?
— Não me lembro muito bem. Era pequena e estava chovendo — Rose foi
deliberadamente superficial. — Meu pai foi pescar e minha mãe e eu fomos
visitar os moinhos.
— Seu pai costumava pescar?
— Sim. Quando tinha condições. Gostava de pescar trutas, como você. —
Ela ainda não terminara a frase e já estava gelada pelo deslize cometido. A
solução foi pensar rápido. — Não pude deixar de notar seu interesse pela pesca.
Há muitos livros aqui sobre esse tema.
James apertou mais forte a mão de Rose.
— Você ainda sente muita saudade.
— Sim. — Rose pigarreou. — Consola-me pensar que eles estão juntos.
— Acredita nisso?
— Sim — ela afirmou e ergueu a cabeça. — Preciso acreditar. Fez-se
silêncio.
— Perdi meu pai aos doze anos.
Rose endireitou as costas. Jamais imaginara que James Sinclair fosse lhe
falar sobre sua vida pessoal.
— Ele morreu enquanto dormia. Era cardíaco e vivia preocupado e
cansado de tanto trabalhar. Uma combinação fatal.
— Sinto muito.
— Minha mãe tornou a casar quando eu fiz dezoito anos. Meu padrasto é
bom para ela e eles vivem felizes, mas...
— Mas você se sente excluído? James franziu o rosto.
— Nunca encarei o problema por esse ângulo, mas acho que você está

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certa. Foi por isso que resolvi estudar fora do país em vez de cursar a
universidade de Edinburgh ou de St Andrews. Assim que terminei o colegial,
aliás, viajei durante um ano pela Austrália.
— Sério? Nunca vivi nenhuma aventura como essa — Rose confessou
com inveja. — Você se aborreceu? Quero dizer, você ficou aborrecido com a
decisão de sua mãe se casar pela segunda vez?
— Não. Ela esperou até que eu estivesse pronto. Donald foi
compreensivo. Eles poderiam ter casado antes. Minha mãe era jovem ainda e
bonita. Quando finalmente resolveram marcar a data, ela estava com quarenta
anos. Donald é advogado e ganha bem. Sua casa é grande e elegante. Eles
reservaram um quarto só para mim. Sei que sou bem-vindo sempre, mas não me
sinto à vontade e... — James se deteve e balançou a cabeça.
— O que foi?
— É incrível que tenha lhe contado tudo isso. Não costumo entediar as
pessoas com a história de minha vida. Desculpe.
Aquele era o momento ideal para ela pedir licença e ir embora, Rose
pensou.
— Preciso ir. — Ela se levantou. — Obrigada pelo chá e por... conversar
comigo.
Sinclair se levantou também e alongou o corpo. O gesto foi tão espontâneo
e tão másculo que Rose pressentiu perigo.
— Preciso ir — Rose tornou a dizer. — Ou você quer ajuda para lavar a
louça?
Ele despenteou-lhe os cabelos como se estivesse brincando com uma
criança.
— Tenho uma idéia melhor. Por que não fica mais um pouco e toma outra
xícara de chá comigo? Continua chovendo forte.
Rose foi até a janela.
— Você está certo, mas preciso realmente ir.
— Hoje é domingo, Rose, e são apenas oito e meia da manhã. Está com
pressa por quê?
— Não quero atrapalhar seus estudos.
— Terei o resto do dia para estudar. — Ele estreitou os olhos. — Há
alguém a sua espera?
— Üm namorado, você quer dizer? Uma inexplicável irritação o invadiu.
— Parece que acertei, não é?
Receosa de que James deixasse de se interessar por ela se tentasse
enciumá-lo, Rose negou com um gesto de cabeça.
— Não há ninguém a minha espera. Só minhas colegas de quarto. E
duvido que já estejam acordadas.
No mesmo instante, James pegou a chaleira e se dirigiu à cozinha.
— Volto em um minuto.
— Não quer que eu o ajude a lavar os pratos ou algo assim?
— Hoje, como é sua primeira visita, não quero que faça nada. Da próxima
vez, tudo bem.
Da próxima vez! Con, aparentemente, estava certa. Existiam truques para

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despertar o interesse de um homem. Não que acreditasse que alguém poderia ser
forçado a se apaixonar contra sua vontade. Isso era uma outra história.
Mas que o plano estava funcionando além de suas expectativas era uma
realidade.
Seus pensamentos foram interrompidos naquele momento.
— O que fez ontem à noite, Rose?
— Trabalhei.
— Está trabalhando meio período?
— Não. Trabalhar foi modo de dizer. Fiz um trabalho para a faculdade.
Por quê?
— Porque não a vi no barzinho e fiquei preocupado pensando que
estivesse doente. — Ele despejou o chá nas xícaras e entregou uma a Rose. —
Você gosta de cinema?
— Muito. Especialmente do cinema francês. Estou querendo assistir a um
filme que entrou em cartaz esta semana. Chama-se Jean de Florette. — Rose
respondeu e cruzou os dedos para anular a mentira.
— O cinema francês também é meu preferido — James contou,
entusiasmado.
— Assisti a La Belle du Jour na semana passada. Acho Catherine
Deneuve uma das mulheres mais lindas do mundo.
— Não faz meu gênero. Prefiro as morenas.
Rose tomou um gole do chá em vez de responder. James encarou-a.
— Em que está pensando, Rose? Seu rosto é muito expressivo, sabia?
— Sei que não é de minha conta, mas você deixou alguma namorada em
sua cidade?
— Não. Não tenho namorada em nenhum lugar. Não tenho tempo para
namorar.
— Por falar em tempo, agora preciso ir com ou sem chuva. Dessa vez,
James não tentou retê-la, mas foi apanhar a capa e a mochila e acompanhou Rose
até a porta.
— Quer que eu chame um táxi?
— Não, obrigada. Prefiro ir a pé. James ajudou-a a vestir a capa.
— Irá amanhã ao estádio? Rose deu um sorriso.
— Espero que sim. Obrigada pelo lanche. Tchau!
— Trate de ir direto para casa e para o chuveiro — ele aconselhou.
Rose fez que sim com a cabeça e se afastou. Antes de virar a esquina,
olhou para trás e acenou. James havia ficado à porta, observando-a.
Embora estivesse molhada e ofegante ao chegar ao alojamento, Rose não
poderia estar mais feliz. Livrou-se da capa e dos tênis e foi para o quarto verificar
se as amigas já haviam acordado.
— Onde esteve até agora? — Con quis saber. Fábia fitou-a, desconfiada.
— Não vai dizer que estava correndo com essa chuva?
— Não, não estava. James achou que seria perigoso corrermos por causa
das poças e me levou para a casa dele para tomarmos um lanche.
— Para a casa dele ou para o quarto dele? — Con sugeriu, maliciosa.
Rose sorriu.

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— A senhoria estava viajando. Fiquei sozinha com ele, mas nos tratamos
apenas como amigos.
Fábia assobiou.
— Menina, você conseguiu!
— Espere um pouco. James não está apaixonado por mim.
— Talvez não, mas está a caminho — Con concordou. — Ele não a teria
convidado para ir a sua casa, se não estivesse interessado.
— Ainda bem que me convidou. Meu sacrifício de correr valeu a pena.
— Vocês prepararam juntos o lanche? — Con quis saber.
— Não. — Rose piscou. — Ele havia deixado tudo preparado. Con e
Fábia se entreolharam, atônitas.
— O que será que acontecerá da próxima vez? — Fábia indagou em tom
de mistério. — Ele pediu para marcarem um encontro?
— Não — Rose respondeu com um suspiro de desalento. — Falou apenas
em corrermos.
— Não se preocupe — Con disse, consoladora. — Você já conseguiu um
verdadeiro milagre. Quando combinaram de correr?
— Ele disse que me veria amanhã no estádio, mas só devo ir na terça-
feira, não é?
— Não, querida — Con discordou dessa vez. — Se Sinclair quer te ver
amanhã, não o decepcione.
— Não dará na vista?
— Não. Chegamos à fase três. Estamos passando para o aquecimento.
— Só espero que após o aquecimento não venha o esfriamento pelas
lágrimas — Rose murmurou.
— Ora, por que está preocupada? — Fábia deu de ombros. — E apenas
uma brincadeira.
Aquela noite, quando se deitou, Rose não conseguiu dormir durante um
longo tempo. Após aquela manhã, sua relação com James havia mudado. Não era
mais um jogo. Precisava ter cuidado ou acabaria se machucando.
Apesar da preocupação, quando acordou pela manhã, Rose seguiu o
mesmo esquema dos últimos dias e saiu para correr no estádio.
— Oi! — James a cumprimentou assim que a viu. — Já dei algumas
voltas. O que acha de tentar um circuito extra hoje?
Rose concordou e se pôs a correr imediatamente no lugar para preparar os
músculos. Deu três voltas pela quadra com facilidade. No meio da quarta, porém,
uma súbita dor a desequilibrou e a levou ao chão.
— Rose! — James se ajoelhou ao lado dela, assustado. — Pelo amor de
Deus, o que houve?
Ocupada demais em respirar, Rose não conseguiu responder. James não
perdeu tempo. Examinou os pés, os tornozelos, as pernas e os braços. Como não
constatou fratura, ajudou Rose a se levantar.
— Respire fundo. Devagar. Apóie-se em mim.
Rose obedeceu de bom grado e agradeceu pela ajuda, mas assim que se
sentiu melhor, afastou-se. A proximidade de James estava ameaçando alterar sua
respiração outra vez.

22
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Não sei como aconteceu.


— Você deve ter escorregado. A pista ainda não secou por completo. Tem
certeza de que está bem?
— Estou.
— Vamos. Pegue meu braço — James insistiu. — Vou levá-la até seu
alojamento.
Ela parou de imediato.
— Não é preciso. Posso ir sozinha. James fez uma careta.
— Seja razoável, Rose. Você está mancando.
— Deve ter entrado uma pedrinha no tênis.
James a fez sentar no chão e tirou o tênis. Quando encontrou um prego
espetado, disse um palavrão.
— Não é de admirar que tenha caído, Rose. Como isto veio parar no meio
da pista? — Ele mostrou o prego e tirou a meia manchada de sangue.
— A chuva deve ter trazido.
— Nesse caso, pode haver mais espalhados. Vou avisar o encarregado e
apanhar um curativo. Não demoro.
Enquanto esperava, Rose viu outro jogador da equipe de rugby chegar e
começar a correr. Ao se aproximar dela, o jovem parou.
— Algum problema?
— Pisei em um prego — Rose contou.
— Que azar! Espere um instante que eu já volto com algo para colocar em
seu pé. — Antes que Rose pudesse falar que já havia sido socorrida, James
voltou. — Sinclair? Ainda por aqui?
— Oi, Greg. Tenha cuidado para não pisar em nenhum prego como este.
— James mostrou o objeto.
Ele se ajoelhou em seguida, colocou um bandaid na sola do pé de Rose,
tornou a lhe calçar a meia e o tênis e ajudou-a a se levantar.
— Acha que consegue?
Ela apoiou o pé. Estava doendo, mas dava para andar.
— Consigo. Desculpe a confusão. — Ela sorriu para os dois jogadores. —
Obrigada e até mais.
Greg, alto e forte como um gigante, ofereceu-se para carregar Rose até o
compus. Mas seu entusiasmo esfriou diante do olhar de James.
— Agradeço sua gentileza — disse Rose —, mas não é preciso. De
verdade.
Aborrecida com o sucedido, Rose foi para o alojamento o mais rápido que
pôde. Como as amigas ainda estavam dormindo, ela seguiu direto para o
chuveiro. Então, sob a ducha, um soluço escapou de seu peito. As lágrimas
haviam chegado antes do que esperava. Agora, por causa do ferimento, não
poderia correr. Em conseqüência, não veria James por vários dias.
Levou um susto quando ouviu uma forte batida à porta.
— Telefone! — Fábia chamou. — Corra que é urgente! Rose fez
exatamente o que a outra mandou. Enrolada em uma toalha, com os cabelos
pingando, pegou o telefone, certa de que algo terrível havia acontecido com sua
tia.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Alô?
— Rose? James.
Sua expressão deveria ter sido tão cômica que Fábia se pôs a rir. Con
fitou-a inquisitivamente e ela fez um sinal de positivo para acalmá-la. No mesmo
instante, Con e Fábia a deixaram sozinha.
— Oi! —- Rose respondeu.
— Quis me certificar de que você chegou bem. Como está o pé?
— Bem. Por sorte, o prego era pequeno e o estrago não foi dos piores.
— Sim, mas a impedirá de correr por alguns dias.
— Eu sei — Rose admitiu com um suspiro.
— Rose? — James hesitou.
— Sim?
— Você foi embora tão de repente que eu não tive chance de perguntar. —
James tornou a hesitar. — Você vai fazer alguma coisa hoje à noite?
Rose apertou os lábios para que parassem de tremer. '
— Não.
— Aquele filme que você mencionou...
— Jean de Florette?
— Sim. Pensei que, talvez, pudéssemos vê-lo juntos.
— O.k, — Rose aceitou com o tom de voz mais casual que conseguiu
encontrar.
— Espero-a na porta de seu prédio às sete, então.
— Não é preciso — Rose apressou-se a dizer. — Podemos nos encontrar
no cinema.
— Você não está em condições de andar — James retrucou. — Vou
apanhá-la de carro.
Carro?
— Nesse caso, eu o espero.
Mal Rose colocou o fone no gancho, Con e Fábia a cercaram.
— O que ele queria? Rose fitou-as, sonhadora.
— Convidar-me para um cinema esta noite. De carro.
As amigas aplaudiram. A fase três também havia sido um sucesso!

CAPÍTULO IV

Rose só voltou ao presente quando sentiu frio. Saiu da banheira e


enxugou-se vigorosamente. Sem tempo, agora, para passar o vestido que havia
separado, colocou um modelo preto de jérsei e escovou os cabelos que lhe
chegavam aos ombros.
Com a prática adquirida no decorrer dos anos, fez uma maquilagem
caprichada em poucos minutos. Por último, espalhou duas gotas de perfume atrás
das orelhas e calçou os sapatos pretos, quase sem salto, que comprara para usar
em seus encontros com Anthony Garrett por ele ser da mesma estatura.
Todos os sábados, Anthony vinha a Chastlecombe e a apanhava para

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jantar pontualmente às oito horas. Naquela noite, entretanto, eram quase nove
horas quando ele tocou a campainha.
— O trânsito estava ruim? — Rose perguntou enquanto subiam a escada.
— Terrível! — Ele largou a pasta no chão e desabou no sofá. — Sinto
pelo atraso. A bateria do meu celular estava descarregada por isso não deu para
avisá-la. — Rose serviu uma dose de uísque que ele tomou de um só gole. —
Obrigado. Estava precisando disso. — Ele sorriu. — Está linda esta noite.
— Obrigada, amável senhor. — Rose sorriu. — A propósito, liguei para o
restaurante para avisar que chegaríamos mais tarde. Eles não gostaram muito da
notícia.
— Recusaram-se a manter a reserva? — Garrett se mostrou ofendido. —
Somos clientes assíduos daquele restaurante.
— Hoje é dia dos namorados, Anthony.
Ele parou de falar e colocou a mão na testa.
— Droga, que cabeça! Eu tinha em mente lhe comprar flores, mas esqueci.
Rose olhou para o cartão em cima da mesa e franziu o rosto.
— Nesse caso, não deve ter sido você quem o enviou. Anthony olhou na
mesma direção que Rose. Ao encontrar o cartão, demonstrou franca hostilidade.
— Não. Quem foi?
— Não faço idéia. — Rose foi até a cozinha e voltou com a rosa. —
Recebi esta flor também.
— Não teria sido seu ex-namorado, aquele tal Mark Cummings? Ou seja,
a rosa tampouco havia sido enviada por ele.
— Não sei. — Rose suspirou. — Está ficando tarde, não acha?
— Sim, é claro.
Apesar do esforço de Anthony em ser simpático e agradável durante o
jantar, para compensá-la do atraso, Rose não conseguiu se sentir à vontade. O
cartão e a rosa não lhe saíam do pensamento. Quem teria sido?
— Rose, tenho algo para falar com você — Anthony a surpreendeu ao
final da sobremesa com um olhar que a deixou apreensiva.
— Nesse caso, talvez seja melhor sairmos daqui. O barulho está demais
esta noite.
O restaurante ficava a poucos minutos a pé da rua mais elegante da cidade
onde estava localizada a livraria e o apartamento de Rose.
— Café? — Rose ofereceu assim que chegaram.
— Depois. Primeiro venha se sentar comigo. — Anthony a puxou pela
mão até o sofá. — Rose, já faz algum tempo que estamos nos encontrando.
— Um mês ou dois. — Ela encolheu os ombros, incomodada com o rumo
que a conversa estava tomando.
— Quase três meses — Anthony a corrigiu. — Tempo mais do que
suficiente para nos conhecermos.
Rose encarou-o.
— O que está querendo dizer?
— Ainda não desconfiou? Estou pedindo que case comigo. — Ao
perceber que Anthony iria beijá-la, Rose se levantou.
— Por quê?

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— Por quê? — ele repetiu, atônito. — Porque gosto de você, é claro, e


porque acredito que podemos ser felizes. Você não gosta de mim?
— E claro que gosto, mas não imaginava que você estivesse pensando em
casamento. Para ser franca, essa súbita pressa me parece suspeita, Anthony.
Estamos saindo juntos, é verdade, mas nunca houve nada realmente entre nós.
Confesso que sempre achei que você, no fundo, não conseguiu esquecer sua ex-
esposa e estava querendo atingi-la por meu intermédio.
Um rubor intenso seguido por uma total palidez cobriu o rosto de
Anthony.
— No início, talvez tenha sido esse o motivo, mas não é mais. Quando
soube sobre o maldito cartão, senti tanto ciúme que resolvi assumir um
compromisso com você. Admito que foi repentino, mas ao menos você se dispõe
a pensar no assunto?
— Acho que não — Rose respondeu da maneira mais gentil que pôde.
O que não adiantou.
— Por quê? Você tem outro? Rose respirou fundo.
— Não do modo como está pensando.
— De que modo, então? — Anthony pôs-se a andar de um lado para o
outro. — Sou capaz de apostar que o tal Mark Cummings está por trás de sua
recusa. — Anthony se deteve. — Reflita, Rose. Tem certeza de que quer se
amarrar a um homem com um casamento falido e uma criança?
— Os dois inconvenientes se aplicam a você também. Anthony tornou a
empalidecer.
— No meu caso é diferente. Ao menos estou divorciado e Marcus já é
grande. Você não teria nenhum trabalho com ele.
— Pode ser, mas assim mesmo haveria muitos problemas entre nós.
— Se está se referindo a Marcus, não vejo em que ele poderia nos
atrapalhar. Afinal, ele continuaria a morar com a mãe e...
— O problema não é seu filho — Rose quis esclarecer. — Não me referi a
ele quando mencionei problemas. Responda-me, Anthony. Caso eu aceite seu
pedido, qual passará a ser meu endereço?
Anthony pigarreou.
— O mesmo que o meu, é claro.
— Em Londres?
— Sim. E lá que eu moro.
— Mas minha vida está em Chastlecombe, percebe? É aqui que tenho
meus amigos e um trabalho que me dá prazer. — Eram fatores importantes, sem
dúvida, Rose pensou, mas a verdadeira razão era outra e Anthony tinha o direito
de saber. — O maior obstáculo, contudo, está em um segredo de meu passado.
Ele estreitou os olhos.
— De que você está falando? De um amante? Rose fez que sim com a
cabeça.
— Mais exatamente das conseqüências de uma situação. Anthony engoliu
em seco.
— Está tentando me dizer que teve um filho?
— Não.

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— Qual é, então, esse mistério do passado?


Rose virou-se de costas, sem coragem para enfrentá-lo.
— Não posso me casar com você nem com ninguém, Anthony, porque já
sou casada.
A perplexidade deu lugar à raiva.
— Casada? Por que não me contou isso antes?
— Porque nunca contei a ninguém. Nem sequer a Minerva. E não teria lhe
contado se você não tivesse me pedido em casamento.
— O que mais você acha que eu teria em mente em minha idade? —
Anthony protestou. — Estou velho demais para ficar de namoricos.
— Estávamos saindo apenas como amigos — Rose lembrou.
— Nem sequer isso! — Anthony retrucou, ofendido. — Acabei de
descobrir que nunca mereci nem sequer o privilégio de sua confiança.
— Por que eu deveria ter contado, Anthony? Isso é um assunto meu e
apenas meu. Não deveria se sentir tão melindrado. Como eu disse, ninguém sabe.
— Não está se esquecendo de seu marido?
— Como poderia?
— Não entendo — Anthony desabafou após um instante de silêncio. —
Por que continua casada se não vive com o sujeito? Ele não concordou em lhe
dar o divórcio?
— Não sei.
— Não sabe?
— Nunca perguntei se ele me daria o divórcio.
O esforço de autocontrole era visível.
— Rose, por favor, quantos anos você tinha quando se casou?
— Dezoito.
— Quer dizer que está casada há dez anos? — ele indagou, incrédulo.
— Estou.
— E por que, em todo esse tempo, não se divorciou?
— Porque nossa separação foi tão brusca e hostil que eu jurei que ele teria
de dar o primeiro passo.
— E por que ele não deu?
— Não faço idéia. Dinheiro não seria problema porque eu não aceitaria
nem sequer um centavo de sua parte.
Anthony ficou pensativo por alguns minutos. Quando tornou a falar,
parecia mais calmo.
— Para seu bem, Rose, você deveria se separar desse homem, sejam quais
forem suas intenções comigo.
— Talvez você esteja certo.
— Quer me contar o que houve?
Rose trancou-se imediatamente em si mesma.
— Prefiro não discutir esse assunto.
— Responda-me apenas mais uma pergunta e eu irei embora. Você deixou
esse homem, ou foi ele que a deixou?
— Eu o deixei.
— Bem, Rose, de divórcio eu entendo. O meu foi complicado por causa

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de Marcus e da casa. Mas você sabia que após dez anos de separação, qualquer
juiz lhe concederá o divórcio, independentemente da vontade de seu marido?
Rose franziu o cenho.
— Se isso é verdade, é estranho que ele não tenha se divorciado de mim.
Ou então, ele pediu o divórcio e não me avisou. Ou, talvez, ele tenha se
esquecido de que já fomos casados.
Um suspiro se fez ouvir.
— Nenhum homem poderia esquecer que já foi casado com você, Rose.
Quando se deitou, esgotada, após a conversa difícil com Anthony, Rose
deu-se conta de que era meia-noite, o mesmo horário que ele costumava deixá-la
todas as vezes que se encontravam. Para todo o mundo, o intervalo entre o jantar
e a despedida poderia significar momentos de intensa paixão. No entanto, isso
nunca acontecera. Por mais que ela gostasse da companhia de Anthony, nunca
sentira desejo por ele. Aliás, ela nunca havia desejado outro homem que não
fosse James.
Poderiam ter passado horas desde que foi para cama, mas o relógio
indicava apenas meia-noite e meia quando o telefone tocou sobre o criado-mudo.
Certa de que era Bel, para lhe dar algum recado, Rose deixou o fone cair
ao ouvir alguém sussurrar seu nome e desligar em seguida.
Trêmula e mais assustada do que desejaria admitir, levantou-se, vestiu um
robe e foi para a cozinha preparar uma xícara de chá.
Levou-a para o quarto a fim de tomá-lo na cama. Estava furiosa além de
assustada. Quando mais precisava dormir e descansar, alguém ligava e lhe
roubava o sono e a paz.
Insistir seria ruim. Poderia acabar tendo pesadelos. Dessa forma, Rose
decidiu aproveitar a falta de sono para refletir sobre seu passado. Se conseguisse
clarear sua mente a esse respeito, seria mais fácil procurar um advogado e
requerer o divórcio. Algo que deveria ter feito muito tempo antes.

CAPÍTULO V

Em seu primeiro encontro com James Sinclair, Rose fez questão de ser ela
mesma. Por mais que Con e Fábia insistissem em colaborar com pequenos con-
selhos e quisessem emprestar suas roupas, ela própria escolheu o vestido que
usaria, se maquilou e se penteou.
Não queria parecer sofisticada nem ansiosa, mas a ansiedade foi difícil de
evitar. Por ter levado poucos minutos para se arrumar, Rose ficou pronta muito
antes da hora combinada. Assim, quando James tocou a campainha, ela se
despediu das amigas como se estivesse partindo para sua lua-de-mel e foi ao
encontro dele com o coração acelerado.
— Oi! Não imaginava que você tivesse um carro. E muito bonito. James
que a esperava de pé, encostado ao capo, sorriu com orgulho.
— Ele ficou um longo tempo parado por falta de peças. Acabei de buscá-
lo na oficina. — James deu a volta e abriu a porta para Rose. — Levantei o teto.

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Quero ter certeza de que esta noite você voltará seca para casa.
Ciente de que Con e Fábia estavam grudadas na janela, dois andares
acima, Rose quase deixou escapar um sorriso. Aliás, sorrir era o que vinha
fazendo com freqüência cada vez maior desde que conhecera James Sinclair.
— Como está o pé? — ele quis saber.
— Dói um pouco, mas nada que não dê para suportar.
O filme estava começando quando James e Rose chegaram ao cinema.
Apressaram-se a entrar e a procurar lugares vagos. Na escuridão, demoraram
alguns instantes para se acomodarem.
Rose ficou rígida em seu lugar. Ainda não conseguia acreditar que fosse
real. Pouco a pouco, porém, ela foi se acalmando e conseguindo prestar atenção
ao enredo. Afinal, se James quisesse discutir o filme mais tarde, teria de
identificar ao menos o tema.
Ao término da sessão, constataram que chovia a cântaros.
— Acha que consegue dar uma corrida até o carro ou seria melhor eu
carregá-la? — James perguntou.
— Acho que consigo correr — Rose respondeu.
No mesmo instante, ele segurou-lhe a mão e os dois saíram em disparada.
— E cedo ainda — disse James depois que entraram no carro. — Que
acha de comermos alguma coisa?
Maravilhoso!
— Eu adoraria.
— Podemos ir a um barzinho ou a minha casa outra vez, se você quiser.
— Vamos a sua casa — Rose resolveu de imediato. Não encontrar
ninguém da faculdade no cinema fora uma sorte que não se repetiria caso fossem
a um barzinho nos arredores. Podia ser uma tolice, mas Rose não queria ser alvo
de comentários invejosos. Tinha certeza de que as pessoas começariam a
especular sobre seu relacionamento com James.
Assim que chegaram à casa, Rose ficou surpresa ao ver a porta ser aberta
por uma senhora de cabelos grisalhos que lhes deu um caloroso sorriso de boas-
vindas.
— Ouvi o carro — ela explicou, — Entrem depressa ou vão se molhar
nessa chuva.
Assim que entraram, a mulher cobrou de James a apresentação.
— Sra. Bradley, esta é Rose. Rose Dryden. Ela também é estudante.
— Prazer em conhecê-la, querida. Por que não tira esse casaco molhado?
Rose agradeceu a gentileza quando a senhoria de James pegou o casaco,
mas sentiu-se tímida sob o olhar apreciativo.
— Convidei Rose para um café, sra. Bradley.
— Fez bem. Os preços por aí estão absurdos. Há presunto e queijo na
geladeira e salada verde. Fiquem à vontade. Está passando um programa na
televisão que não quero perder.
Os dois jovens seguiram pelo corredor. Ao entrarem na cozinha, James
perguntou se Rose preferia fatiar o pão ou rechear os sanduíches.
— Você corta e eu cuido do recheio — Rose decidiu.
— Feito — James concordou e se pôs a apanhar os ingredientes. — Esta

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noite, ficaremos sem bacon.


— E bom variar — disse Rose. — De que você mais gosta?
— De tudo.
Enquanto discutiam sobre o filme e sobre bebidas, Rose besuntou o pão
com maionese e montou os sanduíches com fatias finas de queijo e de presunto,
folhas de agrião e de alface e cebolinha picada.
— Então você não costuma tomar nem sequer cerveja quando sai? —
James indagou.
— Às vezes peço uma cerveja light para não destoar dos outros.
— Em seu lugar, eu pediria apenas o que gosto. Qual o problema com
água mineral ou suco de frutas?
— Não gosto de parecer infantil.
— O que importa, Rose? Seja sempre você mesma. Aliás, a sobriedade é
uma arma de que uma garota bonita como você não deve se separar — disse
James sorrindo.
Rose não teve tempo para perguntar onde eles comeriam. Terminado o
preparo, James colocou os sanduíches e duas latas de refrigerante, juntamente
com pratinhos, copos e guardanapos em uma bandeja e chamou Rose para
subirem para seu quarto.
O que significava que a sra. Bradley não proibia visitas femininas, Rose
pensou, hesitante.
— O que foi? — James perguntou ao acender a luz do quarto e notar que
Rose não fazia menção de entrar.
— Não é na cozinha que você costuma fazer suas refeições?
— Não. Eu só almoço lá embaixo aos domingos. As outras refeições,
trago para cá em uma bandeja. — James balançou a cabeça. — Pare de se
preocupar, Rose. Você é linda e apetitosa, mas prometo me restringir aos
sanduíches.
Embora com o rosto escarlate, Rose deu um sorriso.
— Desculpe. Fiquei pensando sobre a atitude da sra. Bradley em aceitar
visitas de garotas.
— Não foi uma surpresa — James explicou. — Eu lhe pedi permissão
antes de trazê-la. Ela gostou da idéia. Talvez considere que esteja mais do que na
hora de eu me interessar por uma garota. — James colocou um dos sanduíches
em um pratinho e entregou-o a Rose. — Nunca esteve antes no quarto de um
colega?
— Sim, mas não sozinha.
James indicou o sofá e sentou-se ao lado de Rose.
— Não consigo acreditar que você não tenha recebido convites para sair
com alguém.
Rose fez um movimento afirmativo com a cabeça.
— Saiu? — James quis saber.
— Não.
— Por quê?
Rose engoliu um bocado do sanduíche e estreitou os olhos.
— Você faz muitas perguntas. James sorriu.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Desculpe. Apenas curiosidade.


— Por que eu disse sim a você e não aos outros?
O sorriso se transformou em risadas.
— Acertou na mosca!
Rose terminou de comer enquanto esperava que James parasse de rir.
— Agora é minha vez de dizer para você parar de se preocupar — Rose
sugeriu.
—- Não estou preocupado — James garantiu. — Mas confesso que a
pergunta já me ocorreu mais de uma vez.
— Por que eles não gostam do cinema francês? — Rose deu uma piscada.
— E já que você mencionou o assunto, James Sinclair, por que eu tive sorte
quando sua falta de interesse por garotas tornou-se notória?
— Ora, vejam! A rosa tem espinhos! — James caçoou. — Está bem, Rose.
Eu me interessei por você porque é diferente das outras. Natural e autêntica. Não
é dissimulada.
Rose não pôde evitar uma sensação ruim de remorso.
— Sou uma mulher perfeitamente normal — respondeu.
— Não pense que não notei. — James se levantou no mesmo instante. —
O que prefere? Chá ou café?
— Chá, por favor.
James deixou-a por alguns instantes enquanto preparava a infusão. Rose
sorriu consigo mesma. James era tímido, mas já havia elogiado sua beleza mais
de uma vez.
Ele voltou em seguida. Enquanto tomavam o chá, prosseguiu com
conselhos sobre o comportamento dela com os rapazes.
— Em breve acontecerá o baile da primavera. Se você resolver ir, cuide-
se. Em anos anteriores, muitos beberam além da conta e houve brigas.
— Está bem.
Um instante depois, James deu um tapinha no joelho de Rose.
— Ainda está zangada comigo?
— De que jeito? — ela caçoou. — Não posso me arriscar a correr sem
meu novo técnico.
— E isso apenas que me considera? — James indagou em tom falsamente
ofendido.
— Claro que não — ela demorou para responder, para criar suspense. —
Você tem sido tão bom comigo que passei a considerá-lo uma espécie de irmão
mais velho.
James se levantou com tanto ímpeto que deixou o chá cair na calça e na
camisa.
Rose pegou rapidamente um guardanapo e tentou secá-lo, mas James saiu
quase voando do quarto.
— Você se queimou?:— Rose quis saber, preocupada, quando James
finalmente voltou.
— Não. — Ele se sentou e cruzou os braços. — Acho que precisamos ter
uma pequena conversa.
Rose enrijeceu. Teria James descoberto sobre o plano?

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— Sobre o quê?
Para surpresa de Rose, James se ajeitou no sofá e entrelaçou seus dedos
aos dela.
— Pelo que me disse, não há ninguém em sua vida. Isso é certo?
— Sim — Rose admitiu, agora mais relaxada.
— A tia com quem você foi morar costuma receber amigos?
— Sim — Rose respondeu sem entender aonde James queria chegar. —
Minha tia Minerva gosta de sair. Ela tem vários amigos e eles a levam a
restaurantes, a concertos, ao cinema e ao teatro.
— Mas você freqüentou um colégio feminino, não?
— Sim — Rose respondeu, cada vez mais intrigada. — De que se trata,
James?
— De você me dar algumas respostas — James respondeu com franqueza.
— Teve amigos nessa época?
— Sim. Os garotos do colégio vizinho. Cheguei a namorar um deles. Era
irmão de Bel, minha melhor amiga.
James pareceu relaxar.
— Ele era respeitador?
— Sim — Rose respondeu com o rosto franzido. — Se esses rodeios
significam o que penso, James, quero que saiba que sei tudo sobre os pássaros e
sobre as abelhas.
— Tenho certeza disso — James concordou, divertido. — Mas na minha
opinião, conselhos do ponto de vista masculino não lhe serão demais. A
propósito, você é virgem?
Rose puxou a mão e se dirigiu à porta, mas James lhe barrou a passagem.
— Saia da minha frente!
— Calma, Rose! Deixe-me explicar. Não posso evitar de me preocupar
com você.
— Dispenso sua preocupação — Rose respondeu, irritada. — Sei cuidar
de mim.
James passou uma das mãos pelos cabelos.
— Não sei como dizer isso, Rose. Mas... Por que você acha que saí do
quarto há pouco?
— Porque derramou chá em sua roupa?
— Em parte. O motivo principal foi você ter tocado em mim. Rose não
sabia se ria ou se chorava. Riu. E James, aliviado,seguiu seu exemplo e abraçou-
a.
— Prometa que não fará aquilo com mais ninguém!
— Prometo. Desde que você também prometa que não perderá horas de
sono tentando adivinhar se eu sou.
— Se você é o quê?
— Aquilo que você perguntou.
Subitamente o riso cessou. Os olhos de James adquiriram um brilho que
fizeram soar alarmes na cabeça de Rose. Mas, mesmo que quisesse, ela não
conseguiria dar nem sequer um passo. O tempo pareceu parar conforme James se
inclinava e pousava os lábios sobre os de Rose. O toque foi leve e suave, mas

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suficiente para causar uma explosão de sensações em ambos.


No momento seguinte, James estava atraindo-a de encontro ao peito e
beijando-a com intensidade. Rose entreabriu os lábios para receber a carícia da
língua e retribuí-la.
James e Rose respiravam como se estivessem em corrida acelerada no
estádio. Talvez com mais dificuldade ainda.
Alguns minutos depois sentaram-se. James no sofá e Rose em seu colo.
Ele havia tirado o cachecol do pescoço de Rose e deslizava as mãos por seus
cabelos.
— Isto não deveria ter acontecido — James murmurou.
— Eu sei. Você não tem tempo para garotas — Rose respondeu.
— Para outras garotas — James corrigiu-a e tornou a beijá-la. No sétimo
céu, Rose expulsou a culpa de sua mente e se rendeu ao prazer dos beijos e do
abraço de James. Percebia que ele a segurava pela cintura com força como se
precisasse desse recurso para não erguer nem baixar as mãos. Emocionada com a
demonstração de desejo, mas também de respeito, beijou-o com redobrada
paixão.
De repente, James soltou-a e escondeu o rosto nas mãos.
— Juro que não era essa minha intenção quando a trouxe aqui — ele
afirmou com voz rouca.
Sem condições de responder, Rose estendeu a mão e apertou a dele. James
retribuiu o gesto, sem encará-la.
— Está tudo bem? — ele perguntou.
— Está.
Ele fitou-a, então, e de uma maneira que fez Rose enrubescer.
— Isso já te aconteceu antes?
— Se quer saber se já fui beijada, sim, mas nunca dessa forma. Havia
desafio nos olhos de James.
— Ainda pensa em mim como um irmão?
— Preciso responder? — Ela sorriu, maliciosa. — Houve momentos que
pensei que morreria se você parasse de me beijar.
A expressão que Rose viu no rosto de James a surpreendeu e a preocupou.
— Ei, não me leve a sério. Foram apenas alguns beijos. Se prefere que eu
esqueça que aconteceram, vamos parar por aqui c você me leva para casa, ok?
James fitou-a com espanto.
— Você seria capaz?
— Sim, se fosse preciso.
— Não é! — Sem dizer mais nada, James tornou a colocá-la em seu colo e
se pôs a beijá-la, não apenas nos lábios, mas também no pescoço. Enquanto isso,
suas mãos a acariciavam sob o suéter até alcançar o sutiã. Rose arquejou quando
sentiu James soltar o fecho e se apossar dos seios. As mãos de James pareciam as
de um homem experiente. O modo como seus dedos roçavam os mamilos a fez
gemer baixinho.
Tal foi a intensidade dos beijos e das carícias que Rose resolveu parar. Os
braços que envolviam James pelo pescoço deslizaram até que as mãos ficaram
espalmadas em seu peito e ela o empurrou com delicadeza.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Sei que está errado — James murmurou. — Eu não deveria ter feito o
que fiz.
— Não aconteceu nada de mal, James.
— Minha vontade seria continuar.
— Eu também — Rose confessou. James ficou imediatamente sério.
— Não diga essas coisas, Rose. Ela o encarou.
— Só quis que você soubesse que a culpa é tão minha quanto sua.
— Se eu não tivesse começado, você teria?
— Lógico que não! — A negativa foi seguida por um sorriso maroto. —
Eu não imaginava que você sentia isso por mim.
— Eu também não sabia — disse James. — A culpa é de Greg.
— Daquele seu amigo que encontramos no estádio?
— Sim. Quando ele se ofereceu para carregá-la esta manhã, tive vontade
de lhe dar um soco e de dizer que você era minha. — James baixou os olhos. —
Pode rir, se quiser.
Rose negou com um gesto de cabeça. Em seguida se levantou.
— Está ficando tarde. Preciso ir. James apontou para o pé machucado.
— Você não poderá correr por uns dois dias ao menos.
— É verdade — Rose admitiu enquanto ajeitava os cabelos com as mãos.
— O que costuma fazer à noite?
— Às vezes me reúno com a turma. Outras vezes assisto a um filme na
televisão. Con tem um videocassete. De vez em quando alugamos um filme. —
Rose se deteve. — Acredite ou não, na maioria das noites, fico estudando em
meu quarto.
O sorriso que James deu foi tão possessivo que Rose sentiu a pulsação
acelerar.
— Então você não se preocupa apenas em se divertir como a
maioria do pessoal do campus. O que pretende fazer quando...?
— Crescer? — Rose caçoou.
— Eu pretendia dizer quando se formar, srta. Dryden — James
retrucou e beijou-a com tanto ímpeto que eles quase perderam o equilíbrio. — Eu
estava errado — James murmurou um instante depois. — Você é uma garota
como as outras.
Tom todos os atributos que enlouquecem um homem. Você está
certa! Se não for logo embora, não conseguiremos parar. No curto trajeto para o
alojamento, James e Rose falaram apenas sobre o filme a que haviam assistido.
Pareciam determinados a passar uma esponja sobre o que havia acontecido.
Tanto que Rose desceu imediatamente do carro quando James parou diante de
seu prédio e subiu a escada o mais rápido que seu pé machucado permitia.
— Você demorou — disse Con.
Fábia puxou-a pela mão em direção ao quarto.
— Como foi? Ele segurou sua mão no escurinho do cinema? Desta
vez lhe deu um beijo de boa-noite?
Rose deu uma risadinha.
— Eu não fico perguntando o que você faz com Will, fico?
— Muito bem! — concordou Con. — Ao que tudo indica, você se

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

divertiu esta noite.


Rose deu um longo suspiro.
— Fomos novamente à casa onde James está morando. Eu conheci
sua senhoria. Ela nos ofereceu sanduíches.
Fábia fez um gesto de aprovação com a cabeça.
— Onde vocês os comeram? No quarto de James.
— Na cama? — Fábia provocou.
— Não, senhora. Ele tem um quarto de estudos. O de dormir fica
separado. E por falar em dormir — Rose deu um bocejo —, vou para a cama
esticar as pernas.
— O pé ainda está doendo? — Con quis saber. — Deixe-me ver.
Rose tirou o sapato e a meia e arrancou o curativo.
— Está um pouco vermelho, mas parece bem — disse Fábia.
— Vou desinfetar e colocar um curativo novo.
— Não poderá correr por alguns dias — lamentou Con. — Sinclair
comentou alguma coisa sobre um novo encontro?
— Não — Rose respondeu como se estivesse se desculpando.
— Saltei do carro assim que ele parou. Não queria que pensasse que eu
estava sugerindo outro encontro.
O toque do telefone a salvou de um bombardeio de perguntas.
— Sim, ela está — disse Con e piscou para Rose. — Um instante,
por favor.
Assim que passou o telefone, Con puxou Fábia para fora do quarto
e fechou a porta.
— O que deu em você para descer do carro com tanta pressa? —
James perguntou, zangado. — Não deixou que eu lhe desse nem sequer um beijo
de boa-noite.
Rose não respondeu. Um minuto depois, ouviu James suspirar do
outro lado.
— Eu te assustei, não é?
— Não.
— Se prometer me comportar, você sairá outra vez comigo?Até o
fim do mundo, Rose pensou.
— Sim.
— Tem alguém junto com você?
— Não.
— Então por que não conversa comigo?
— O que quer que eu diga?
— Que gostou de ficar comigo ontem tanto quanto eu gostei de
ficar com você.
— Você sabe que sim. Adorei cada minuto — Rose resolveu ser
sincera.
— Assim está melhor — James murmurou em tom satisfeito. —
Escute, não poderei vê-la amanhã porque haverá treino, mas que tal nos
encontrarmos depois de amanhã?
— Ok.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— O que gostaria de fazer?


— Acha que a sra. Bradley concordaria que ficássemos outra vez
em sua casa? — Rose sabia que estava sendo ousada e que James poderia
pensar que ela estava querendo se jogar em seus braços. Não se importava. Era a
pura verdade.
— A sra. Bradley simpatizou com você. Ela me disse que você é
um charme de garota.—James fez uma pequena pausa. — Eu concordo com ela.
Estarei esperando-a na porta do prédio às sete.
— Não me atrasarei.
— Mal posso esperar para vê-la, Rose — James disse de um jeito
que o coração de Rose bateu mais rápido. — Boa noite.
Inquieta demais para conseguir dormir, Rose se levantou e preparou
mais uma xícara de chá. Não se conformava ainda com sua ingenuidade no
passado. Jovem o inexperientes, ela se enredou em sua própria teia. Sem
nenhuma esperança de sucesso, seguira à risca as instruções do Con para fazer
James Sinclair se apaixonar por ela. No entanto, o êxito foi maio do que ela
jamais poderia ter sonhado. Nesse processo, contudo, ela também se apaixonou.
Foi inevitável. Se não se sentisse atraída desde o início pelo
estudante mais cobiçado da universidade, nada a teria feito ser conivente com o
esquema de Con. Mas isso era um segredo que nunca partilhara com ninguém.
Nem sequer com James.
Nos primeiros encontros, Rose relutou em ser vista com James em
lugares públicos. As corridas matinais e os breves encontros na casa da sra.
Bradley eram os únicos locais onde concordara em vê-lo. Até mesmo ao cinema
ela relutava em ir com receio de que não tivessem a mesma sorte da primeira vez
e fossem vistos por algum conhecido.
— Por que você tem tanto medo de ser vista comigo? — James quis
saber uma vez.
— Porque você é famoso por não sair com garotas e eu sou uma
caloura. Não quero que seus amigos ou os meus fiquem observando cada um de
nossos gestos e passos para depois fofocarem. — Rose sorriu e fez uma carícia
no rosto de James ao perceber que ele estava zangado com sua atitude. — Não
suporto a idéia de sermos alvos de olhares maliciosos e zombarias. Não quero
que vejam em nosso relacionamento mais do que amizade.
— Amizade? — James retrucou e a fez sentar em seu colo. — E
assim que se comporta com seus amigos, srta. Dryden?
Rose não pôde responder. James se apossou de seus lábios com
tanta paixão que os dois se esqueceram do mundo. Quando ele lhe desabotoou a
blusa e começou a acariciar os seios, Rose gemeu e jogou a cabeça para trás.
James inclinou-se no mesmo instante e se pôs a beijar e a sugar os mamilos. O
prazer foi tanto que Rose pensou que não fosse resistir.
Aquela era a noite da semana que a sra. Bradley dedicava aos jogos
de bridge no clube, Rose e James estavam completamente sozinhos.
Eles mesmos prepararam o jantar e comeram na cozinha. Mas o
clima estava propício ao romance desde o primeiro instante.
Enquanto jantavam, as pernas se encontraram várias vezes sob a

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mesa. E os olhares só perdiam um no outro. Assim, no instante que subiram para


o quarto de James, caíram nos braços um do outro ao passarem pela porta.
Até aquela noite, o namoro havia se limitado a beijos, abraços e
carícias mútuas. Mas Rose já estava tão apaixonada por James que não seria
capaz de lhe negar nada caso ele lhe pedisse. Desejava-o tanto que não estava
nem sequer conseguindo dormir nas últimas noites.
A intimidade estava se tornando tão grande entre eles que em um
certo momento James se afastou para o canto oposto do sofá.
— Isto está ficando perigoso — ele murmurou com dificuldade.
— Por quê? — Rose perguntou sem fitá-lo.
— Você sabe muito bem o porquê.
— Acha que eu o estou provocando?
— Não, mas não sou feito de pedra. Não podemos mais nos
encontrar a sós aqui ou acabará acontecendo o inevitável. Acha que podemos nos
encontrar no barzinho no sábado após o jogo?
— De jeito nenhum.
James se levantou. Sua expressão era séria.
— Por quê?
Rose ergueu a cabeça bruscamente.
— Já lhe disse isso mil vezes. Não quero que saibam que estamos
nos encontrando.
— Não consigo entendê-la, Rose — James afirmou, aborrecido. —
Eu ficaria exultante se fosse visto com você. No entanto, você não suporta a idéia
de ser vista comigo. Aposto que nem sequer permitiria que eu fosse buscá-la caso
vivesse no centro comunitário e não em um apartamento.
— Não — Rose admitiu. James respirou fundo.
— Acontece, Rose Dryden, que me recuso a continuar sendo
tratado como se fosse um esqueleto no armário. Você escolhe. Ou concorda em
marcarmos um encontro no barzinho no próximo sábado diante de seus amigos e
também dos meus ou vamos colocar um ponto final agora em nosso
relacionamento.
Rose não esperava por um ultimato. Levantou-se, pálida, e apanhou
o casaco.
— Quero continuar como estamos.
Ela se dirigiu à porta, certa de que James a seguiria, a tomaria nos braços e
a beijaria até que perdessem o fôlego. Mas James não moveu nem sequer um
músculo do rosto. Ela jamais o vira tão sério e decidido. Sem falar, ele apanhou
as chaves do carro e desceu a escada. Ela o seguiu e entrou no carro quando ele
lhe abriu a porta. Diante do prédio, Rose demorou o máximo que pôde para
desafivelar o cinto, na esperança de que James fosse mudar de idéia.
— Boa noite, James. Obrigada pelo jantar.
— Boa noite — ele se despediu com frieza e acelerou o carro no
instante que ela desceu.
Como as amigas não estavam, Rose foi direto para a cama e chorou
até não poder mais.
Pela manhã, se levantou e se preparou para correr, como se nada

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

houvesse acontecido. Pela primeira vez, James não estava lá a sua espera. Na
expectativa que ele fosse aparecer, Rose deu quatro voltas em ritmo lento. Mas
quem apareceu a seu lado foi Greg Prosser.
Para que ele não a visse chorar, Rose cumprimentou-o e se
despediu ao mesmo tempo.
No apartamento, Con e Fábia já haviam acordado e preparado café
com torradas. Rose tomou um banho e se reuniu a elas para a pequena
refeição.
Rose resolveu ir direto ao assunto.
— Vocês concordam que o plano funcionou, não?
— Às mil maravilhas — elas responderam.
— Missão cumprida, então. O trato era fazer James Sinclair se
apaixonar por mim. Antes que aconteça o contrário, dou o plano por encerrado.
Está na hora de Rose Dryden voltar a circular.
Con e Fábia foram contra, mas Rose não se deixou convencer a
continuar. Garantiu que nada nem ninguém a faria ver James Sinclair novamente,
mas cada vez que o telefone tocava, seu coração parecia que ia parar de bater.
Logo ficou claro que James não era do tipo que perdia seu tempo
com causas perdidas. Rose, fiel a sua palavra, apresentou-se no centro de
convivência estudantil todas as noites. Até que o sábado chegasse, a saudade de
James era tanta que estava disposta a aceitar qualquer condição que ele
impusesse, desde que pudessem ficar juntos outra vez.
Para demonstrar que havia mudado de idéia, Rose foi ao barzinho com as
amigas e esperou com impaciência pela chegada do time de rugby. Só que James
não estava entre os jogadores.
O desapontamento impediu que Rose se divertisse pelo resto da
noite. Por mais que tentasse rir e flertar, o desânimo era maior que seu esforço.
Até que a amiga, com sua percepção, se aproximou e sugeriu que elas fossem
para casa. Como Fábia voltaria com Will Hargreaves, não havia com que se
preocupar.
Durante o trajeto, Rose confessou que o rompimento partira de
James.
— Ele queria que nós saíssemos como qualquer casal normal.
— E você não aceitou? — Con indagou, incrédula. — Perdeu o
juízo? A maioria das garotas não desprezaria uma chance como essa.
— Estou arrependida, acredite. Mas não suportava a idéia de
sermos alvo de mexericos e de apostas sobre estarmos ou não dormindo juntos.
Ninguém se importaria se fosse outro, mas James Sinclair é do interesse de todas.
— Rose engoliu em seco. — Não pensei que ele fosse levar a ameaça a sério,
Con. Foi bem-feito para mim.
— Ligue para ele.
Os olhos de Rose brilharam ao incentivo. Um instante depois, ela
balançou a cabeça.
— Não posso. Não agora.
— Por que não?
— Se James me quisesse realmente, ele teria aparecido no bar ao

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

menos na esperança de poder me encontrar. Eu fui e ele não. Tenho meu orgulho.
Con sorriu.
— Você está certa. Ele não é o único homem do mundo. O baile da
primavera será realizado na próxima semana. Choverão novos admiradores, você
verá.
Para sua surpresa, Rose recebeu tantos cartões quanto Con e Fábia. O
apartamento ficou forrado de corações vermelhos e versinhos de amor. Mas o
que chamou a atenção de Rose acima de todos foi uma linda aquarela de uma
única rosa vermelha, sem nenhum verso e nenhuma assinatura. E na manhã
seguinte, para deslumbramento de Rose, a floricultura entregou um único botão.
— Uma rosa para Rose — dizia o cartão. Con sorriu, indulgente.
— Ora, ora, de quem será? Fábia deu uma risadinha.
— Não vale a pena tentar descobrir. O charme está no mistério.
Rose tentou se convencer de que nem a rosa nem o cartão haviam sido enviados
por James. Miles Challoner, que se aclamava o último dos românticos
byronianos, deveria ser o responsável.
Como em comparação com James Sinclair, nenhum outro lhe
parecia interessante, Rose se preparou para o baile sem entusiasmo. Mas os
elogios de Con e de Fábia a seu vestido e sua maquilagem foram tão efusivos que
ela decidiu que se divertiria naquela noite. E que esqueceria James.

CAPÍTULO VI

Para que a noite se tornasse ainda mais especial, Con e Fábia


resolveram convidar a turma para uma pequena ceia antes do baile.
Por volta das oito horas, o apartamento estava repleto de jovens em
trajes de festa. As anfitriãs serviram salgadinhos, frios e queijos, acompanhados
de vinho.
Rose, embora não tão animada quanto as amigas, recebeu tantos
elogios por parte dos amigos que acabou melhorando de humor.
— Você está linda! Seu vestido não poderia ser mais personalizado
— disse Miles. — Vermelho. Como as mais belas rosas.
A vontade de Rose foi correr e se afogar em lágrimas. Com aquelas
palavras, Miles havia destruído sua última esperança de que tivesse sido James
quem lhe enviara a flor e o cartão. Mas ela reagiu e endereçou um sorriso a Miles
que o incentivou a conduzi-la para a pista de dança e abraçá-la com força.
Depois, ao término da música, Miles a enlaçou pela cintura e levou-a de volta ao
grupo.
Todos riam enquanto tentavam investigar quem havia enviado
cartões a quem. Mas a conversa parou no instante em que a banda iniciou uma
nova seleção. Os pares começaram a se formar. De repente, todos os olhares se
voltaram para a entrada. Rose fez o mesmo. Parecia que ia parar de respirar!
James estava usando um smoking preto com uma rosa vermelha na lapela. Como
se apenas Rose existisse no mundo, ele atravessou o salão sem olhar para os

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

lados.
— Dança comigo? — ele perguntou.
A noite se transformou em um piscar de olhos. Ela tentou se
comportar de maneira formal, mas a alegria foi mais forte e a fez se atirar nos
braços de James, esqueceu-se de todos. Até mesmo de Miles Challoner a seu
lado.
Rose sabia que estava atraindo atenção de todos os presentes com
sua atitude, mas agora que estava novamente nos braços de James, nada mais lhe
importava.
— Você dança muito bem para um aprendiz de ermitão — Rose
brincou quando eles se afastaram da pista para poderem conversar.
— Convívio social constava do currículo do colégio onde estudei
— James contou com aquele seu sotaque escocês que Rose considerava
irresistível. — Está se divertindo? — ele perguntou alguns instantes depois.
— Como nunca — ela confessou, corada. — Fizemos uma reunião
no apartamento antes de virmos para cá. O pessoal já chegou animado.
— Você não me convidou!
— Lógico que não.
— Lógico por quê?
— Você sabe!
— Não pode imaginar a falta que senti de você — James confessou.
— Metade do que a falta que senti de você, talvez?
James inclinou-se e cochichou em seu ouvido.
— Vamos para minha casa.
— Agora?
— Agora. A sra. Bradley está viajando e... — ele sorriu daquele
jeito que fascinava Rose — você sabe que preparo um sanduíche de bacon como
ninguém.
Rose olhou para James. Ao notar sua expectativa, não resistiu.
— Adoro seus sanduíches de bacon. Vou apanhar meu casaco.
— Ficarei esperando lá fora. Não demore — ele implorou, com os
olhos brilhando de emoção.
A felicidade de Rose estava estampada em seu rosto ao avisar as
amigas que iria sair com James. Con, entretanto, estava com o cenho franzido.
— Tenha cuidado.
— Não seja uma desmancha-prazeres — Fábia repreendeu a outra.
— Nossa florzinha andava murcha nos últimos dias. Prefiro vê-la viçosa como
neste momento.
James a esperava no carro. Assim que ela entrou, beijou-a com paixão.
— Está zangada comigo? — ele perguntou.
— Por causa deste beijo? — Rose provocou-o, faceira. Agora que
estava tudo bem entre eles, ela não queria mais reprimir seus impulsos.
— Não. Por ter feito o que pode haver de mais próximo a uma
declaração pública. — Ele piscou para ela. — Como não consegui levar o
inimigo à guerra, decidi levar a guerra ao inimigo.
— Não sou sua inimiga, James.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Mas você me venceu e eu decidi mudar a estratégia. Ou seja,


não lhe dar escolha. Achei que se me apresentasse no baile, em black-tie, e
convidasse Rose Dryden para dançar, todos ficariam sabendo sobre nosso
relacionamento.
— Menos eu — declarou Rose.
— Espere até chegarmos em casa e eu explicarei tudo. — James
apertou-lhe a mão. — Senti sua falta no estádio.
— Não todos os dias — Rose retrucou. — Fui correr na manhã
seguinte ao nosso desentendimento e não o encontrei. Quis me castigar?
— Sim.
— Pois conseguiu.
— Está enganada. Não imagina como me senti. Queria ligar para
você a todo instante.
— De qualquer modo, você venceu.
— Ao contrário. Eu perdi. Após dois dias sem vê-la, fiquei a ponto
de ligar para você e concordar com suas exigências. Machista que sou, queria
você de volta mas sob minhas condições. Optei pela sutileza. Eu lhe enviaria um
cartão e uma rosa e minaria sua resistência. Então, surgiria no meio do baile e me
apresentaria com uma rosa na lapela e a levaria em meus braços e... Por que está
me olhando desse jeito? Os olhos de Rose brilhavam como estrelas.
— Foi você quem me enviou o cartão e a rosa? James fez um sinal
para Rose falar baixinho.
— Não conte para ninguém! Prejudicaria minha fama. — James
estreitou os olhos. — A propósito, quem você pensou que tivesse mandado?
— Miles Challoner.
— O sujeito que estava a seu lado até eu chegar?
— Sim.
— Por que imaginou que tivesse sido ele?
— Porque ele disse algo sobre rosas para Rose que era a mensagem
contida no cartão. Isto é em um dos cartões dos vários que recebi.
James saltou do carro, deu a volta e puxou Rose para seus braços.
Assim que entraram na casa e ele fechou a porta, sussurrou em seu ouvido.
— Você quer realmente aquele sanduíche?
Rose negou com um movimento de cabeça. James respirou fundo,
ajudou-a a se livrar do casaco e a conduziu pela mão a seu quarto.
James abraçou-a com tanto ímpeto que a levantou do chão. Em
seguida fechou a porta com as costas sem parar de beijá-la. Estavam com pressa.
Mal podiam esperar para se tocarem.
James a colocou no chão e puxou o zíper do vestido. Rose fitou-o
ao mesmo tempo que erguia as mãos para tirar os grampos dos cabelos.
— Você ficou ainda mais linda sem o vestido — James murmurou,
rouco.
Rose estava segura de si. Ela havia colocado seu conjunto de
calcinha e sutiã de seda pérola.
— Não pretende fazer mais nada exceto olhar para mim?— Rose
perguntou enquanto deixava os cabelos caírem em cascata sobre os ombros.

41
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

James abraçou-a tão apertado que Rose sentiu as batidas de seu coração.
— Diga que tem certeza de que é isso que quer, Rose — James
perguntou com uma seriedade que a surpreendeu devido às circunstâncias em que
se encontravam.
— Tenho. Não há mais nada no mundo que eu queira tanto
— Rose afirmou com tanta convicção que James a ergueu nos
braços e a deitou para se despir em questão de segundos.
Rose observou com fascinação a cena. Depois sorriu.
— Estamos em seu sofá, James.
— Sofá de dia — James explicou. — À noite, ele vira minha cama.
E você é a primeira com quem eu a divido.
Rose fechou os olhos quando James a enlaçou. Ao se lembrar de
um detalhe importante, tornou a abri-los.
— James!
— O que foi, meu bem? Quer desistir? — James perguntou com
voz contida.
— Não —Rose se apressou a responder. — Apenas acho que você
deve saber que minha tia me levou ao médico antes de eu vir morar no campus, e
estou tomando pílulas anticoncepcionais.
O alívio fez James rir alto.
— Sua tia deve ter sido estudante um dia.
Rose fez que sim. De repente, estava corada de vergonha.
— Espero que você não tenha testado sua eficácia antes de hoje —
James brincou.
— Esta será a primeira vez que dormirei com alguém — Rose
confessou.
— Eu disse algo sobre dormir? — James insinuou com um sorriso
que deixou Rose sem fôlego.
Ele riu e a beijou. Rose enlaçou-o pelo pescoço e se entregou de
corpo e alma ao beijo. Estava completamente apaixonada por James e não opôs a
menor resistência quando ele lhe despiu as últimas peças.
O que Rose não esperava era que James fosse tremer tanto quanto
ela quando se abraçaram, pela primeira vez, pele com pele.
— Eu nunca fiz isto antes — Rose repetiu —, mas não me ocorreu
que também seria sua primeira experiência.
— Lógico que não — James afirmou entre os seios de Rose. —
Apenas nunca fiz com uma virgem. Gostaria que fosse tudo perfeito para você.
Quero-a demais. Mas receio que terei de lhe causar um pouco de dor.
— Não deve doer tanto assim — Rose respondeu com uma
confiança que acabou sendo abalada alguns minutos mais tarde, pois apesar de
todo cuidado, não deu para sufocar um gemido quando ele finalmente a penetrou.
— Minha querida! — James sussurrou e permaneceu imóvel para
que o corpo de Rose pudesse se ajustar à invasão.
— Movimente-se, James — Rose pediu após um instante, na
expectativa de que a dor fosse diminuir. E James a atendeu, sem pressa, apesar
do instinto que clamava por uma rápida possessão.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Bastou, porém, Rose demonstrar que estava se adaptando ao ritmo


de suas investidas, para James se pôr a beijá-la com voracidade e a se mover com
urgência. Rose, então, ergueu o quadril em uma resposta sensual ao ato, e
James não pôde mais se controlar. Gemeu alto como se estivesse em sofrimento e
escondeu o rosto na curva do pescoço de Rose. Ela o abraçou, emocionada por
tê-lo, de repente, indefeso e frágil.
Assim que se recuperou, James ergueu a cabeça e olhou nos olhos
de Rose.
— Desculpe, Queria que tivesse sido bom para você...
— Oh, mas foi! — ela afirmou com tanta veemência que o sentiu
relaxar.
— Da próxima vez — ele garantiu — será tão bom para você
quanto para mim. Prometo.
E antes que Rose pudesse imaginar que isso fosse possível, James
quis fazer amor novamente.
Dessa vez, a paixão foi crescendo aos poucos. James fez com que
ela ansiasse pelo momento final. Ele a acariciou até que seu corpo começasse a
pulsar de prazer. E ao alcançar seu primeiro orgasmo, Rose ficou inerte nos
braços de James por um longo tempo.
— Você estava certo — ela admitiu. — Foi maravilhoso! Além
deste mundo. — Ela respirou fundo. — Eu não fazia idéia que fosse assim.
— Nem eu — James confessou enquanto ajeitava as cobertas sobre
eles e atraía Rose para junto de seu peito. Mas ela ergueu a cabeça e fitou-o,
espantada.
— Você deveria saber! Ele negou.
— Foi diferente com você. Ciente de que seria sua primeira vez, eu
fiquei tão excitado e preocupado que a experiência também me foi inédita. Mas
da segunda vez, consegui me controlar melhor. — James acariciou os cabelos de
Rose e suspirou. — E tarde. Gostaria que ficasse comigo, mas sei que precisa
voltar.
— Acho que sim — Rose concordou, mas em vez de se levantar,
aninhou-se ainda mais nos braços dele.
— Se fizer isso, não deixarei que vá — ele a preveniu.
A caminho do campus, James virou-se para Rose e surpreendeu-a.
— A sra. Bradley só voltará daqui uma semana. Por que não fica
comigo até seu retorno?
— Ela não ficará zangada quando descobrir? — Rose indagou, já
empolgada com a possibilidade.
— Não sei. Nunca trouxe ninguém a sua casa antes. Mas penso que
não. Ela gostou de você. Disse que estava mais do que na hora de eu arrumar
uma namorada bonita e meiga como você.
Se a sra. Bradley soubesse, Rose pensou e sentiu uma súbita necessidade
de dizer a verdade.
— O que me diz? — James insistiu.
— Não atrapalharei seus estudos? — indagou, hesitante.
— Traga seus livros. Poderemos estudar e também aproveitar os

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intervalos juntos.
Diante da piscada e do sorriso que James lhe deu, Rose não resistiu.
Atirou-se em seus braços e beijou-o com tanto fervor que custou a James deixá-la
partir.
— Virei buscá-la amanhã de manhã por volta das dez. Esteja pronta
— ele avisou ao se separarem.
O apartamento estava às escuras quando Rose entrou. Munida do
pijama e do robe, ela foi para o banheiro e preparou um banho quente de imersão.
Enquanto o corpo relaxava, ela deixou a mente divagar e recordou os momentos
incríveis que acabara de viver. Agora entendia por que o ato do amor era algo
que as pessoas buscavam com tanto empenho. E lamentava pelas mulheres que
não o conheciam por meio de homens como James. Era uma garota de sorte
embora não merecesse ser. Afinal, fora praticamente uma aposta que a levara a
despertar o desejo de James por ela. E o sucesso fora tão completo que James
chegara ao ponto de querer que toda a universidade ficasse sabendo sobre o
relacionamento.
Rose sentou-se, por fim, e começou a se ensaboar. Tomou uma
ducha rápida depois e se enxugou ainda mais rápido. Queria ir depressa para a
cama para repassar outra vez todos os detalhes de sua noite de sonho.
Ao abrir a porta, contudo, encontrou Con, ansiosa, a sua espera.
— Venha comigo um instante — Con chamou-a. — Fábia , está
preparando chocolate quente. Estamos preocupadas. Queremos saber se está tudo
bem com você.
— Maravilhoso! — Rose garantiu.
— Posso notar. — Con fez um gesto afirmativo com a cabeça. —
Gostaria de não ter sido a responsável. Estou me sentindo uma espécie de dra.
Frankenstein.
Rose sorriu.
— A responsabilidade não é sua, Con. Você não me obrigou a
executar o plano. Se há um responsável pela felicidade que estou sentindo, seu
nome é James Sinclair.
— Eu sei.
— Aliás, todos que estavam no baile sabem — declarou Fábia. —
Pensei que Miles fosse cortar os pulsos quando você saiu. Foi super-romântico.
Pareciam Richard Gere e Julia Roberts no filme A Força do Destino.
— A atriz era Debra Winger não Julia Roberts — corrigiu Con.
— Que seja. O efeito foi o mesmo. — Fábia bateu no colchão em
um convite para Rose sentar-se a seu lado na cama. — Então, agora você e
Sinclair estão namorando oficialmente?
— Acho que sim — Rose respondeu. — Ele me convidou para
passar uns dias em sua casa. Sua senhoria está fora.
Con arregalou os olhos.
— Não acha que estão indo depressa demais? — Con passou uma
das mãos pelos cabelos. — Gostaria de voltar atrás no tempo e nunca ter
mencionado o maldito plano.
— Pois estou agradecida a você. Se não fosse seu plano...

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Você e James não teriam se aproximado um do outro e algo me diz que


teria sido muito melhor.
— Por que, Con? — Fábia estranhou. — Um dia teria de acontecer
com Rose, não é? Por que não com Sinclair?
— Porque ele estará deixando a universidade no fim do semestre e
Rose não.
— Lidarei com o problema quando a hora chegar. — Rose deu de
ombros. — Não se preocupe, Con. Será um romance entre estudantes como
qualquer outro.
— Eu duvido. Não deveria ter acontecido. Rose deu um tapinha no
ombro da amiga.
— Nada me teria levado até James se eu realmente não quisesse. —
Ela ergueu a mão direita. — Juro que não culparei ninguém quando o romance
acabar.
Na manhã seguinte, Rose pediu que James subisse quando ele tocou
a campainha e não apenas o apresentou formalmente às amigas como preparou
café para todos.
— Devo deduzir que a srta. Rose Dryden não mais se opõe a um
relacionamento aberto? — James brincou quando subiram no carro.
— Eu capitulei — Rose admitiu. — Bem, ao menos contei a Con e
a Fábia.
— E o que elas dirão aos outros? Que eu sou seu amante?
— Claro que não! Eu as instruí para que digam que somos apenas
bons amigos.
— Ou seja, todos saberão que nos tornamos amantes — James
declarou, satisfeito.
— Minha turma costuma dizer que os casais estão saindo juntos.
—Pois eu quero sair muito com você, quero que todos meus amigos
me vejam ao seu lado. Mas não nos próximos dias. Enquanto a sra. Brndloy
estiver fora, quero aproveitar cada minuto para ficar sozinho com você. — Eles
entraram e James beijou-a na ponta do nariz. — Quando ela voltar, você pode
convidar suas amigas para virem aqui.
— Prefiro que você vá a nosso apartamento.
— Será como você quiser. — James inclinou a cabeça. — Sabia
que quase não dormi ontem à noite?
— Nem eu.
— O que acha de irmos para a cama?
Pela primeira vez desde que entraram na faculdade, nem James nem
Rose se dedicaram aos estudos por toda uma semana. Se fazia sol, saíam para
passear, e se chovia, ficavam em casa e ouviam música ou assistiam televisão.
Por duas noites, James teve treinamento, mas fora isso, eles não se separaram por
mais de alguns minutos. E, como se fosse algo precioso demais para ser
banalizado, eles esperavam a noite chegar para fazer amor.
Logo Rose pôde constatar que sua primeira experiência sexual fora
apenas uma amostra do prazer que duas pessoas eram capazes de dar uma a
outra.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Como você descreve o que estamos sentindo um pelo outro? —


James indagou uma noite.
— Êxtase total? — Rose sugeriu.
— Eu diria que sim — James concordou. — Acho que é mais do
que físico.
Rose mordeu o lábio.
— O gato comeu sua língua? — James brincou. — Não se assuste, Rose.
Eu só quis dizer que, talvez, seja mais do que atração física.
— Sim.
— Só isso? — James balançou a cabeça. — Percebe que estes cinco
dias que passamos juntos foram de perfeita harmonia?
— Sou uma pessoa fácil de conviver — Rose afirmou.
— Mas eu não sou. Quando entrei na faculdade, fui morar com três
estudantes e não deu certo. Eu queria me dedicar aos estudos e aos esportes. Eles
só pensavam em beber e se divertir com as garotas.
— O que você fez?
— Comecei a procurar outro lugar para morar e vim parar aqui. A
sra. Bradley havia enviuvado e decidiu alugar dois quartos para se sustentar. Eu a
convenci a ficar apenas comigo. Ao contrário da maioria dos estudantes, tenho
algum dinheiro.
— De seu pai?
— Não. Ele deixou tudo para minha mãe. Quando ela resolveu
vender a casa da família, deu-me minha parte, e Donald me ajudou a investir o
dinheiro. O que recebo mensalmente não é muito, mas dá para meu sustento.
Rose estava admirada. A maioria dos jovens já teria gastado tudo.
— Não resisti a um carro — James declarou como se tivesse lido o
pensamento de Rose.
— Ainda bem — Rose brincou. — E bom saber que você é
humano.
— E é bom saber que sou o primeiro e único homem na vida de
Rose Dryden.
Rose estreitou os olhos.
— Você gosta de ser exclusivo em tudo, não?
— Acho que você está certa — James concordou.
— Foi por isso que quis fazer amor comigo? Porque sabia que seria
o primeiro?
— Claro que não! Bem, em parte — James admitiu. — Mas a
principal razão foi a certeza de que tínhamos de ser um do outro. Não podia
imaginá-la com mais ninguém.
— Não precisaria imaginar — Rose confessou. — Depois que
conheci você, não poderia querer mais ninguém.
No mesmo instante, James inclinou-se sobre Rose e a imobilizou.
— Diga o que sente por mim.
— Isso não é justo! — Rose protestou.
— Vale tudo no amor e na guerra! — James retrucou e deitou-se
sobre o corpo de Rose. — E isto é amor, Rose. Ao menos de minha parte.

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Em seguida, James se pôs a beijá-la e a acariciá-la com intimidade


crescente. Quando não suportaram mais, ele consumou o ato, mas no momento
culminante interrompeu a movimentação e exigiu uma resposta.
— Diga!
Rose, incapaz de coordenar os pensamentos, obedeceu.
— Eu te amo.

CAPÍTULO VII

Rose acordou com os olhos úmidos de lágrimas de saudade e de


arrependimento que dez anos não foram capazes de amenizar. Sentou-se na cama
e apoiou as costas nos travesseiros. Só então se deu conta da luminosidade do
quarto e consultou a hora. No mesmo instante, saltou da cama e se apressou a
trocar de roupa.
— Nossa, que cara! Teve uma noite daquelas, não? — disse Bel
quando Rose lhe abriu a porta.
— Se está querendo saber se eu saí e me diverti, não. Foi uma noite
como outra qualquer. Apenas não consegui dormir bem.
— Aqui está a correspondência. — Bel entregou um punhado de
cartas. — Por que não vai para o escritório e toma seu café enquanto verifica se
chegou algo interessante?
— Vou aceitar seu conselho — respondeu Rose com um suspiro.
— Estou com os nervos em frangalhos com essa história de cartão, de flor e de
telefonemas anônimos.
— Foram pornográficos? — Bel quis saber, preocupada.
— A pessoa não falou. Ficou apenas respirando fundo e sussurrou
meu nome antes de desligar. Parece tolice à luz do dia, mas ontem à noite...
— Não acho que seja tolice, Rose — Bel declarou. — Faz idéia de
quem seja?
— Essa é a pior parte. Eu já recebi uma vez um cartão semelhante e
também uma rosa vermelha.
Bel estreitou os olhos.
— Não foi meu irmão.
— Você o investigou? — Rose retrucou, escandalizada.
— Sim. Afinal, Mark já foi apaixonado por você.
— Quando éramos crianças — Rose protestou.
— Foi o que ele disse. — A expressão de Bel tornou-se
preocupada. — Tire o fone do gancho esta noite, Rose. Use apenas o celular.
Falou com Anthony a respeito?
— Apenas sobre o cartão e sobre a rosa.
— E ele?
— Negou que os tivesse enviado. Como pode imaginar, não se
mostrou nada satisfeito.
— Posso apostar que não. — Bel indicou o escritório. — Vá para lá

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

até se sentir melhor. Cuidarei de tudo por aqui.


Até que o expediente chegasse ao fim, Rose estava tão cansada que
resolveu deixar a contabilidade para o dia seguinte. Afinal, não tinha nenhum
compromisso marcado para a manhã do domingo,. e naquele instante tudo o que
queria era se deitar um pouco.
Subiu para o apartamento sobre a livraria e foi direto para a cama.
Estava sem forças até mesmo para preparar uma refeição. Mas antes que tirasse
os sapatos, o telefone tocou. Olhou para o aparelho e sentiu que seu coração
estava batendo mais depressa. Um instante depois, porém, a voz de Anthony
soou na secretária-eletrônica para seu alívio.
— Como você está, Rose?
— Cansada, mas bem. Foi um dia atribulado.
— Rose, você já pensou em procurar seu marido? E como!
— Qualquer dia cuidarei disso.
— Lembre-se de que não é obrigada a vê-lo. Após dez anos, basta
que lhe comunique sua intenção. Ou, então, contrate um advogado para
representá-la.
— Eu sei de tudo isso, Anthony.
— Então faça o que deve ser feito. Ligarei na segunda-feira para
saber as novidades.
Por mais que a atitude arrogante de Anthony a irritasse, Rose
reconheceu que ele estava certo. Precisava se libertar do passado. Mas não para
se casar outra vez. Uma vez fora suficiente.
Conhecia o endereço comercial de James desde que ele fora
promovido, à idade de trinta anos, ao cargo de vice-presidente executivo de um
importante banco mercantil. Sua amiga, Fábia Hargreaves lhe enviara um artigo
de jornal recortado da seção de economia que a assombrara durante semanas.
Mas, por mais que soubesse que era preciso tomar providências sobre o divórcio,
tornara-se um ponto de honra para ela que James desse o primeiro passo.
Durante o jantar, contudo, Rose tomou uma decisão. Escreveria
para o banco, e, se James não respondesse, ela seguiria em frente com o processo,
quer ele concordasse ou não. Não que James tivesse algum motivo para recusar.
A essa altura, ele deveria estar tão ansioso por recuperar sua liberdade quanto ela.
Rose escreveu uma carta formal informando James de sua intenção.
Depois, antes que mudasse de idéia, colocou-a no correio.
Estava voltando para casa pelas ruas tranqüilas dos finais de tarde
dos sábados quando notou uma mancha vermelha junto a sua porta. Sentiu um
arrepio lhe percorrer as costas. Em seguida, o medo se transformou em raiva. O
sujeito, obviamente, estava determinado a assustá-la, e ela não lhe daria esse
prazer. Bateu a porta com força, subiu a escada e jogou a flor no lixo. Depois,
tirou o telefone da tomada e ficou ouvindo música em alto volume até tarde.
Quando foi para a cama, apagou a luz, decidida a dormir a qualquer preço.
O almoço dominical com Minerva e seu marido, Henry Beresford,
fora agradável como sempre. A tarde, Henry tirara um cochilo, também como
sempre, e as mulheres aproveitaram para conversar sobre os negócios realizados
na semana e para colocar as novidades em dia. Até que Rose não conseguiu mais

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

se conter e relatou seu problema.


A tia, uma mulher elegante e fina, que não aparentava sua idade,
ouviu Rose em perplexo silêncio.
— Minha pobre menina! — Ela abraçou Rose. — Eu sempre soube
que algo de grave deveria ter acontecido naquele verão. Mas não quis forçá-la a
me contar. Achei que lhe faria bem aquela viagem a Portugal e não me enganei.
Quando você voltou, acreditei que o problema tivesse sido superado. —Minerva
balançou a cabeça. — Procure não se preocupar. Agora, Henry cuidará de tudo
para você.
Como se uma carga tivesse sido retirada de seus ombros, Rose
decidiu esperar alguns dias de modo que James tivesse conhecimento da carta. Se
ele não se manifestasse, ela procuraria Henry, na segunda-feira seguinte, e lhe
daria instruções para dar início ao processo de divórcio.
Tomada a decisão e poupada de novos cartões, novas flores e novo
telefonemas, a vida de Rose voltou ao normal. Até que na quinta-feira, depois
que ela fechou a loja e começou a preparar sua refeição, a campainha soou.Rose
não soube o que fazer. Em outros tempos, teria corrido escada abaixo sem
hesitar. Em vez disso, dirigiu-se ao banheiro, que era o único lugar do
apartamento com a vista necessária. Por mais que tentasse reconhecer o visitante,
não dava para ver seu rosto.
Ao segundo toque da campainha, Rose desceu e abriu a porta sem
soltar a corrente de segurança.
— Sim?
O sorriso desapareceu de seus lábios quando o homem se virou.
Não que tivesse sido realmente um choque. Afinal, era um contato por parte de
James que ela pretendia quando escreveu a carta.
Dez anos evaporaram no ar à excitação de tornar a vê-lo. Mas a
euforia logo deu lugar a hostilidade.
— Oi, Rose! — ele cumprimentou-a por fim. — Estava passando
por aqui e resolvi ver se você estava em casa.
Ao ouvir a voz de James, Rose recuperou a própria.
— James Sinclair, em carne e osso. — Ela fechou a porta para
retirar a corrente. — É melhor você entrar.
— Obrigado. — Ele esperou que Rose trancasse a porta e se
dirigisse à sala para segui-la.
— Toma alguma coisa? — Rose ofereceu.
— Sim, por favor. Como não pretendo dirigir esta noite, gostaria de
uma dose de uísque, se você tiver.
Ou ele estava sem carro ou pretendia passar a noite no King's Head.
Não era cômico? Anthony e James dormindo no mesmo hotel?
Ela entregou o copo, sentou-se na poltrona e indicou o sofá.
— Posso tirar o suéter?
— Esteja à vontade.
E ele parecia estar! Ao observar a desenvoltura de James, Rose
precisou apertar os lábios. Seria de esperar que James se apresentasse de terno e
gravata, não de calça de sarja bege e suéter preto.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Está usando seus cabelos mais curtos — ele observou para


surpresa de Rose.
— O que o traz aqui? — ela perguntou sem preâmbulos.
— Não imaginei que viesse em pessoa quando lhe escrevi aquela
carta.
— Por que não?
— Falta de tempo. E de interesse, talvez?
— Eu estava precisando de uns dias de descanso. E tenho muito
interesse em conhecer as razões que a levaram a esperar tanto tempo para se
divorciar de mim. — Ele tomou um gole do uísque e a fitou sobre a borda do
copo. — Poderia ter feito isso em qualquer ocasião nos últimos cinco anos. Por
que não o fez?
Rose fez um gesto de descaso.
— Por uma razão infantil, para ser franca. Eu havia prometido a
mim mesma que você teria de dar o primeiro passo. Não me importei em
pesquisar sobre o assunto. Só agora descobri que nenhum de nós precisaria do
consentimento do outro.
James sorriu e ela desejou que ele não o tivesse feito. O efeito
provocado fora o mesmo dos tempos de faculdade.
— De minha parte, nunca pensei em me divorciar de você. Rose
ergueu uma sobrancelha.
— Estranho ouvir isso quando sei de sua preocupação sobre eu
querer ficar com metade de seus bens.
— Até que eles fossem substanciais a ponto de eu começar a me
preocupar, seu tempo já havia se esgotado nesse sentido. Diga, Rose, o que a
levou a querer o divórcio agora?
— Simples e óbvio. Estou pensando em casar de novo — Rose
mentiu.
— Pensando apenas? Isso não significa que já esteja vivendo com
outro?
— Não — Rose respondeu, ríspida. — Já tentei uma vez. Foi um
grande erro.
— Obrigado — James disse com o rosto subitamente franzido.
— Não me referi a você — ela murmurou com um sorriso.
— Não esperava que eu tivesse vivido sozinha durante todos esses
dez anos, não é?
— Esses dez anos parecem ter sido mais complacentes com você do
que comigo, Rose.
— Seus cabelos grisalhos realmente me surpreenderam. Há quanto
tempo os tem?
— Gostaria de poder dizer que eles cresceram do dia para a noite
quando você me deixou — James respondeu, sarcástico —, mas eles começaram
a aparecer há cinco anos. Não que eu me queixe. Eles me emprestam uma
aparência propícia a minha carreira.
— Você é ambicioso.
— Sempre fui. Como soube para onde enviar sua carta?

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Fábia Hargreaves me manteve atualizada a seu respeito.


Mandou-me um recorte de jornal sobre sua promoção.
James olhou ao redor.
— Está morando sozinha?
— Sim.
— O que houve com sua tia?
— Ela se casou faz um ano. Quando me ofereceu seu posto na
livraria, eu aceitei de bom grado. Ela continua sendo a dona, mas para todos os
efeitos, tenho carta branca para administrar os negócios.
James observou-a em silêncio por alguns minutos.
— A vida em uma cidade pequena a satisfaz?
— Sim. Estava cansada da vida agitada de Londres quando vim
para cá. E você, James? Também pensa em um segundo casamento?
— Não. Basta ter caído na armadilha uma vez. Não costumo
cometer o mesmo erro duas vezes.
— Eu não lhe armei nenhuma armadilha, James — Rose se
defendeu.
— Não minta, srta. Dryden. — James apertou os lábios. — Nunca
se identificou como sra. Sinclair, eu aposto.
— Tem razão.
O silêncio se estendeu por um tempo ainda maior.
— Qual o verdadeiro motivo de sua vinda, James? — Rose insistiu.
— Poderíamos ter resolvido a questão por carta.
— Quando vi sua assinatura, lembrei-me de que alguns assuntos
entre nós ainda não foram resolvidos.
Todas as tentativas de civilidade evaporaram naquele instante.
— Para mim ficou bem-acabado! — Rose protestou. — Você me
mandou sair de sua vida. Foi o que eu fiz.
— Eu não estava raciocinando quando disse aquilo — James
retrucou. — Céus, Rose, eu tinha apenas vinte e dois anos...
— E eu dezoito — ela lembrou. — Jamais poderia ter imaginado
que você fosse tão rude.
— Estava magoado e desiludido. A raiva fez com que eu tentasse
atingi-la da mesma forma que você me atingiu.
— Você foi diabólico — Rose o acusou. — Escolheu o período de
minhas provas finais na faculdade para me atacar. É claro que já havia terminado
as suas! A propósito, meus parabéns atrasados por sua formatura.
— Apesar de tudo, você conseguiu passar para o segundo ano —
James declarou.
— Sim. Foi um verdadeiro milagre diante das circunstâncias. No
verão, eu viajei para tentar esquecê-lo. — Rose deu um sorriso amargo. — Agora
parece tolice eu ter permitido que um homem me afetasse tanto, mas na época o
que eu mais desejava era esquecer que o conhecera. Mais ainda, que tivesse me
casado com você.
— Teve sucesso?
— Oh, sim. — O sorriso de. Rose não poderia ser mais frio.—

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Corações partidos se curam. Pena que ninguém conseguisse me convencer disso


na ocasião.
— Para onde você foi? Quando procurei sua tia, após inúmeras
tentativas de localizá-la, ela apenas me disse que você estava morando em outro
país.
— Minha tia soube de alguém que precisava de uma babá para o
verão que tivesse possibilidade de viajar para Portugal. Angustiada como eu
estava, aceitei o emprego sem pensar duas vezes.
— Por que se sentiu angustiada?
—Você pode bem imaginar. Eu realmente acreditava que estava
esperando um bebê. Quando soube que não, fiquei abalada. Duplamente. Ao
contrário de você — Rose acusou. — As coisas que você me disse da última vez
que nos vimos foram imperdoáveis.
— Você se sentiria melhor se eu lhe confessasse que me arrependi
depois?
— Deixe para lá. Faz tanto tempo que isso não importa mais.—
Rose se levantou com a esperança de que James entendesse a dica e fosse
embora. Não funcionou. — Aceita outro drinque?
— Sim, obrigado. — Ele devolveu o copo e fingiu não perceber
quando Rose o devolveu com menos de meia dose. — Não vou fingir que pensei
em você cada minuto desses dez anos, mas nunca pude esquecê-la. Por que não
me conta a verdade de uma vez por todas, Rose? Sobre a armadilha que armou
para mim?
— Por favor, não venha outra vez com essa história! Não havia
armadilha nenhuma, James. Eu apenas me empenhei em fazê-lo se apaixonar por
mim. Segui alguns conselhos, admito, dados por Cornélia Longford, mas a culpa
de colocar o plano em prática é inteiramente minha.
Surgiu um brilho perigoso nos olhos de James.
— Então houve um plano!
— Sim, mas não uma armadilha!
— Você lançou o anzol e eu mordi a isca — James murmurou com
desprezo.
Naquele instante, Rose resolveu contar tudo sobre a ajuda que
recebera das amigas no sentido de lhe fornecerem informações sobre as
preferências de James de modo que ela pudesse fingir interesses comuns.
— Eu deveria estar maluca — Rose admitiu. — Jamais havia me
preocupado com exercícios físicos antes. Nunca quis correr, mas Con insistiu que
eu fosse para o estádio para que nosso encontro parecesse acidental.
— Você chegou a esse ponto para se aproximar de mim? — James
perguntou, atônito.
A vergonha fez Rose corar.
— Eu também fingi que o cinema francês era meu predileto. E
nunca estive em Skye.
— Meu Deus! Eu me reprovei milhares de vezes por ter sido
precipitado em meu julgamento, mas aquele sujeito estava certo no final das
contas.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Que sujeito? — Rose estranhou.


— Aquele que vivia atrás de você.
— Ah, então Miles foi o pivô de tudo. — Rose respirou fundo. —
Estou aliviada.
— Aliviada?
— Sim. Suspeitei de Fábia e até mesmo de Con porque eram as
únicas que sabiam. Senti-me traída.
— De alguma forma, seu querido Miles também teve conhecimento
do plano. Ele destilava satisfação por todos os poros quando me cercou a fim de
compartilhar comigo sua vitória. — James fez uma pausa. — No início, eu não
quis acreditar. Mandei que ele sumisse de minha frente antes que eu o partisse ao
meio, mas...
— Mas tudo mudou quando você esteve comigo e eu confessei a
verdade. E, como se não bastasse, eu ainda lhe dei a grata notícia de que não
precisaria ter se casado comigo.
James terminou o drinque e se levantou.
— No entanto, eu nunca me arrependi de nosso casamento, Rose. Era
louco por você. O grande problema foi eu ter levado dois golpes mortíferos quase
ao mesmo tempo. Não agüentei. Rose se encaminhou para a porta,— Admito que
me empenhei em conquistá-lo, James. Na época, o que fiz parecia um crime.
Agora, no entanto, quando olho para trás penso no que houve como uma
brincadeira de estudante. Reflita, James. Ninguém pode realmente obrigar outro
ser humano a se apaixonar. Não que tivesse existido amor de sua parte, é claro.
Se me amasse, você teria me escutado e confiado em mim.
— Estou aqui agora — James afirmou. — Vim de longe para
escutá-la. Conte-me sua versão.
— Não há nada que você não saiba. Minha menstruação estava
atrasada um mês, então entrei em pânico.
— Mas não me disse que tomava pílulas anticoncepcionais?
— Eu tomava, mas passei mal do estômago, se você está lembrado,
e tive de ficar de cama por vários dias. Achei que o remédio do estômago
houvesse cortado o efeito da pílula. Como minha menstruação nunca havia
atrasado, tive certeza de que estava grávida.
— Todos dizem que os testes são precisos. Rose cor ou e baixou os
olhos.
— Soa absurdo, eu sei, mas não me ocorreu fazer um teste. Minha
ansiedade era tanta que já estava até sentindo enjôos matinais. Quando decidi lhe
contar, meus nervos já estavam em frangalhos.
— E eu, em minha ingenuidade e meu alto conceito em moral,
casei-me com você na primeira oportunidade. Fiquei tão chocado com a notícia
que não me ocorreu lhe perguntar se havia se submetido a algum tipo de exame.
A tensão no ambiente era quase perceptível. Depois de alguns minutos de
silêncio, James voltou a falar.
— Ainda não consegui entender, Rose, por que fui eu o escolhido
quando você e suas amigas decidiram colocar o famoso plano em prática.
— Não fui eu que escolhi você — Rose confessou. — Quanto ao

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

plano, nós três havíamos combinado de testá-lo. Cada uma escreveu os nomes de
quatro garotos em quatro pedaços de papel que foram dobrados e colocados
dentro de um chapéu. Depois os sorteamos.
A incredulidade ficou estampada no rosto de James.
— Meu Deus! Quer dizer que tudo que aconteceu foi por mero
acaso?
— Foi. — De nada adiantaria, após tanto tempo, contar a James que
ela era apaixonada por ele em segredo, muito antes de Con revelar seu plano. A
probabilidade de James acreditar nela era tão pequena quanto fora no passado.
— Incrível — James murmurou enquanto tornava a vestir o suéter.
— Duas vidas foram marcadas para sempre com base em um sorteio.
— O destino tem um estranho senso de humor — Rose concordou.
James fitou-a por um longo tempo.
— Estou contente por ter vindo. Você se transformou em uma linda
mulher.
— Você também está muito atraente. Gostei especialmente de seus
cabelos.
— Obrigado — James agradeceu com aquele sorriso que ela jamais
conseguira esquecer. — Como nos tornamos civilizados, não?
Rose não pôde responder por que o toque do telefone lhe desviou a
atenção. No entanto, ao atender, ela se apressou a interromper a ligação.
Acontecera outra vez. A mesma respiração e seu nome sussurrado.
James se assustou ao ver a súbita palidez que tomou conta do rosto de
Rose.
— O que aconteceu? — Ele a segurou pelos pulsos. — Você está
branca!
— Não foi nada — ela respondeu. — Apenas um trote. James
soltou-a a fim de verificar o registro de chamadas.
Algo que Rose já tentara fazer em vão. O homem que a vinha
atormentando tinha o cuidado de desligar antes que o número de seu telefone
fosse detectado.
— Isso já aconteceu outras vezes? — James quis saber.
— Sim. Esta foi a terceira. Também tenho recebido rosas.
— Naquele instante, Rose resolveu dividir suas preocupações.
— Ao menos já sei que não foi você.
— Eu? — James perguntou, ofendido. — Acha que eu seria capaz
de aterrorizá-la?
Rose deu de ombros.
— Após dez anos de silêncio, a idéia parece absurda agora, mas
confesso que chegou a me ocorrer por um momento. Por coincidência, o cartão é
muito parecido com o que você me enviou um dia. Quanto à escolha da flor,
admito que não é algo significativo. Meu nome a sugere.
— O homem com quem tem saído não poderia ser o responsável?
— Em absoluto. Anthony ficou aborrecido com a história do cartão
e da entrega da primeira rosa. Não lhe falei sobre as ligações.
— Pois deveria informá-lo. O que a pessoa lhe diz?

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Nada. Respira fundo, sussurra meu nome e desliga. Não dormi o


resto da noite quando ele fez isso de madrugada, da primeira vez.
— Avise a polícia — James aconselhou. — O assédio começou
com uma rosa e um telefonema, mas pode levar a algo muito mais sério.
— Você acha que se trata de um desequilibrado? — Rose
perguntou com um fio de voz.
— Talvez. — James estava agora realmente preocupado. — Não
gosto da idéia de você ficar aqui sozinha depois disso. Não há ninguém que possa
chamar para lhe fazer companhia esta noite?
— Claro que há. Eu também poderia ir para a casa de minha tia.
Mas não é essa minha intenção. Recuso-me a me deixar intimidar por esse
maníaco idiota.
James balançou a cabeça.
— Você sempre foi teimosa.
— A palavra é obstinada — Rose corrigiu-o. — Mas se quer saber
a verdade, admito que estou um pouco assustada.
— Avise a polícia — James insistiu. — Até que eles tomem alguma
providência, ficarei aqui. Ou, ao menos, até que sua cor volte — ele acrescentou
com um sorriso.
— Obrigada. No estado em que me encontro, agradeço qualquer
ajuda que puder receber.
— Mesmo que seja a minha.
— Não tive a intenção de ser rude — Rose apressou-se a se
desculpar. — Essa história me abalou mais do que desejaria admitir, No início,
achei divertido, mas agora é horrível saber que estou sendo vigiada.
— Ao menos esta noite, ele não a incomodará — James garantiu, e
Rose se sentiu amparada e protegida como havia muito não acontecia. — E se
tentar ligar novamente, eu atenderei.

CAPÍTULO VIII

De todas as possibilidades do mundo, o que menos Rose poderia


imaginar, quando fechou a livraria naquela tarde de sábado, seria receber a visita
de James e lhe servir, amigavelmente, um café.
— O cheirinho está bom — James elogiou ao ver Rose de volta à
sala com uma bandeja. — Seria abusar demais se eu lhe pedisse algumas gotas de
conhaque também?
— Não. Por sorte, o marido de minha tia aprecia essa bebida e
nunca deixa faltar uma garrafa.
— Você parece gostar dele. Do jeito que falou, ele e sua tia devem
visitá-la com freqüência.
— Sim. Eu costumo convidá-los para o almoço do domingo eles
sempre trazem as bebidas e as sobremesas.
— Não me respondeu sobre gostar dele.
— Gosto muito. Henry ficou viúvo e se apaixonou por minha tia.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Foram amigos durante anos antes de ela se decidir. Acho que teria aceitado a
proposta mais cedo se pudesse prever o futuro.
— Ela deve ter levado um choque quando soube sobre nosso
casamento — James sugeriu.
— Eu nunca contei a Minerva. Ela soube apenas no último
domingo quando resolvi pedir orientação a Henry sobre o pedido de divórcio.
— Como disse, ela deve ter levado um choque.
— Com certeza, mas não me recriminou pela omissão. Minerva
sempre foi fantástica comigo. Sei que posso contar com ela para o que der e vier.
— Ao contrário de mim, você quer dizer — James murmurou. —
Talvez isso não lhe importe, mas eu também mantive nosso casamento em
segredo.
— Não contou nem sequer a sua mãe?
— Não. O que houve para você resolver quebrar o silêncio após
todo esse tempo?
— Anthony me pediu em casamento, e eu tive de lhe dar uma razão
para não aceitar.
— Você lhe contou sobre nós dois?
— Não.
— Mas contou a sua tia.
— Sim. James sorriu.
— Você continua monossilábica. Posso perguntar o porquê de sua
decisão de manter o rapaz na obscuridade?
— São assuntos do passado que não dizem respeito a ele.
— Faz tempo que o conhece?
— Eu o conhecia de vista desde jovem, mas só começamos a sair
juntos dois meses atrás.
— Você o ama?
— Gosto dele.
— Não foi isso que eu perguntei.
— Aceita mais café?
— Em outras palavras, o assunto está encerrado. Sim, por favor. O café
está delicioso.
Rose tornou a encher as xícaras. Um minuto depois, James voltou a
falar.
— Desculpe. Eu não tinha o direito de me intrometer em sua vida
particular.
Rose fez um gesto casual com o ombro e se levantou para buscar o
conhaque. No meio do caminho parou e olhou para trás.
— Você já jantou?
— Já. E você?
— Já e muito bem por sinal. Comi bife com batatas. Em geral
preparo apenas uma salada ou...
— Sanduíches de bacon?
Nada faria Rose dizer a James que até mesmo aquela palavra havia
se tornado tabu desde que eles se separaram.

56
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Resolvi vir direto.—James mudou abruptamente de assunto. —


Achei que você se recusaria a me ver caso eu ligasse antes.
— Por que eu faria isso? Eu entrei em contato primeiro.
— Por carta apenas. Pessoalmente você se recusou a me receber
todas as vezes que a procurei. Nossa separação foi tão amarga que eu receei pelo
pior tipo de recepção possível.
— Eu não sou mais aquela jovem imatura e inexperiente, James —
Rose retrucou com frieza.
— Estou vendo que não. — James respirou fundo. — Tentei
imaginar muitas vezes como seria se tornássemos a nos encontrar.
Ela também.
— Aposto que não foi neste cenário.
— Não. Pensei que seria em um tribunal ou no escritório de algum
advogado.
— O que torna mais surpreendente seu comparecimento em pessoa.
— Agi por impulso — James confessou. — Minhas férias
venceram há tempos, e eu resolvi aproveitar para sair quando recebi sua carta.
— É estranho. A carta foi quase comercial em sua formalidade.
Não esperava que você a respondesse, quanto mais me desse a honra de uma
visita.
— Achei que seria interessante vê-la mais uma vez, Rose — James
declarou —antes que nossas vidas se separassem oficialmente. Digamos que foi
um capricho de minha parte. Algo de que ninguém em meu trabalho imagina que
eu seja capaz.
— Sempre preocupado com a opinião dos outros, não? — Rose
ironizou antes que pudesse se conter.
— Continua pensando o pior a meu respeito. Não é de admirar que
tenha atribuído a mim a idéia da rosa e do cartão.
A lembrança fez Rose estremecer.
— O que será que esse homem pretende?
— Você não tentou investigar nas floriculturas sobre a identidade
do comprador?
Rose explicou sobre a entrega da primeira rosa. Quanto a segunda,
poderia ter sido comprada em qualquer lugar. James franziu o cenho.
— Não lhe ocorre nem sequer um nome suspeito?
— Para ser franca, cheguei a cogitar se poderia ser alguém que
conheci quando morei em Londres.
— O que fez por lá?
"Tentei esquecer você", Rose pensou.
— Coisas corriqueiras — Rose respondeu com rancor. — Lutei por
meu sustento, arrumei namorados. Dividi um apartamento com um deles até
receber a oferta de cuidar da livraria de Minerva.
— Então você o deixou?
— Sim. Não dava para deixar passar a chance.
— E ele?
— Não aceitou muito bem o término do relacionamento. Rob tinha

57
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

planos de casar comigo.


E você?
— Eu não. Meu casamento com você, James, foi uma lição
inesquecível.
— Mas agora você resolveu mudar de idéia.
— Na verdade, não.
— De onde ele é?
— De Londres.
— Nesse caso, não haverá outro conflito de interesses? Algo me diz
que esse Anthony não a conhece o bastante. Vocês já tiveram uma conversa
séria?
— Ainda não. Faz apenas uma semana que ele falou em casamento.
— Mas a possibilidade deve ter lhe parecido atraente ou você não
teria me enviado aquela carta.
Desde o início da noite, Rose vinha se culpando pelo erro que
cometera ao escrever para James em vez de encarregar Henry antes de contactá-
lo.
— Apenas decidi que estava na hora de resolver nossa situação.
Com essa declaração, Rose saiu da sala dizendo que iria preparar mais um bule
de café, mas a verdade era que precisava ficar sozinha. Por mais que tentasse
mentir a si mesma, James ainda a perturbava. Nunca poderia sentir indiferença
por ele. Dessa forma, antes que os danos se agravassem, ela lhe pediria desculpas
pelo mal que lhe causara sem querer e o mandaria embora para que ambos
pudessem prosseguir com suas vidas, livres das amarras emocionais que os
prendiam.
De volta à sala, Rose decidiu falar sem rodeios.
— Antes que você vá, James, gostaria que acreditasse que não
menti. Eu realmente pensei que estava grávida.
— Eu sei.
A admissão a pegou de surpresa.
— Você não acreditou em mim na época.
— Tive tempo para refletir nesses dez anos.
— Não foi o que disse quando chegou aqui.
— Tenho meu orgulho.
— Eu também. Você me magoou demais, James.
— Você também me magoou. Era tão apaixonado por você que me
recusei a acreditar naquele imbecil quando ele me contou sobre a armadilha. Mas
as decepções continuaram e meu mundo desmoronou. Por um lado você era a
criatura mais doce que Deus colocara na face da Terra; por outro você era a
mulher mais ardilosa e traiçoeira que o destino poderia ter colocado em meu
caminho.
— Não acha que já me acusou o bastante?
— Comportei-me mal, admito. Não deveria tê-la insultado nem
viajado para a Escócia a fim de esfriar a cabeça enquanto você prestava seus
exames. Você era minha esposa, Rose. Jamais me ocorreu que não iria encontrá-
la quando voltasse.

58
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Apenas cumpri ordens — Rose lembrou-lhe. — Você mandou


que eu desaparecesse. Foi o que eu fiz. Ao menos durante o verão. Quando
retornei, Minerva me contou sobre seus telefonemas. Eu lhe disse que você era
alguém com quem eu havia terminado e pedi que o despachasse caso tornasse a
ligar.
Rose respirou fundo.
— Também me comportei mal. Chame de vingança, se quiser. Não
serviu para amenizar meu sofrimento quando voltei para a faculdade.
Uma nova ternura surgiu nos olhos de James.
— Foi difícil para você?
— Difícil? Não podia dar nem sequer um passo sem ser seguida.
Todos os rapazes se colocaram ao meu encalço. Aparentemente, queriam saber o
que havia de tão especial em mim para ter atraído o famoso James Sinclair.
— Algum deles teve sucesso? Rose encarou-o com hostilidade.
— Lógico que não. Até mesmo o insistente Miles acabou
entendendo o recado. Minha sorte foi ter duas amigas sinceras como Cornélia e
Fábia. Cornélia se culpou por ter sido a mentora do plano. Ficou tão abalada que
decidi não contar nem sequer a ela sobre nosso casamento. E também por causa
dela, me esforcei para superar o trauma.
— Quanto tempo levou para isso?
— Muito mais do que desejaria.
— Eu também — James admitiu.
— Você ao menos pôde se mudar e começar uma nova vida —
Rose acusou.
— Eu não conseguia dormir à noite. Só pensava em você.
Rose sentiu um calafrio. James era um amante tão perfeito que ela
jamais encontrara outro que pudesse substituí-lo. Chegara a cogitar o nome de
Robert Mason, com quem chegara a viver algum tempo em Londres, mas tudo
acabou quando ele mencionou a palavra casamento.
Rose se levantou naquele instante.
— Sinto muito, mas está ficando tarde e meu dia começa cedo.
Você está hospedado no King's Head, eu imagino.
— Não. Um colega tem uma cabana simpática às margens do rio.
— Mas você disse que estava a pé...
— Gosto de caminhar e estou precisando de um pouco de exercício.
— Bom para você. Certamente será agradável descansar uns dias
em uma cabana.
James tirou a carteira do bolso e entregou um cartão para Rose.
— Não há telefone na cabana, mas você pode me ligar pelo celular
a qualquer hora.
— Obrigada.
Quando estavam quase chegando à porta, James parou e estendeu a
mão.
— Há dez anos, eu disse coisas que daria tudo para não ter dito.
Como o tempo não volta atrás, quero que saiba, ao menos, que me arrependi do
que fiz. Perdoe-me, Rose, pela mágoa que lhe causei.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Rose relutou, mas aceitou o gesto.


— Aceito sua desculpa. Já passou. Vamos esquecer.
— E irônico, mas agora que tornei a vê-la, não parece ter passado
tanto tempo.
— Mas passou.
Rose não queria que James percebesse que estava tremendo. A um
simples toque de sua mão, ele havia despertado emoções que nenhum outro
homem conseguira.
Como se tivesse lido sua mente, James sorriu.
— Bem, sendo assim, poderia lhe dar um beijo de despedida? Antes
que Rose pudesse responder, James a abraçou e a beijou.
O desejo se apoderou de Rose como sempre acontecia quando ele a
tocava. Mas o som do telefone a fez recuperar o controle.
Ao fazer um gesto em direção ao aparelho, James balançou a
cabeça e ergueu a mão em um sinal para que o deixasse atender.
Rose engoliu em seco ao vê-lo franzir o cenho.
— Quem é você? — ele perguntou, ríspido. — Seja quem for, pare
imediatamente com essa brincadeira de mau gosto. A polícia já foi avisada. Sua
ligação está sendo rastreada. — James fez uma expressão que revelava
constrangimento.
— Ah, sim. Queira desculpar. Um momento.
— Quem é esse maluco? — Anthony indagou quando Rose
finalmente atendeu.
— Tenho recebido telefonemas anônimos — Rose explicou. —
James achou que fosse ele.
— E quem é esse James, posso saber?
— Ele passou aqui para discutirmos sobre o divórcio.
A voz de Anthony soou irada.
— Está com seu marido? Por que o convidou para ir a sua casa?
Estão sozinhos?
— Não posso falar agora, Anthony. Mais tarde ligarei para você.
Havia uma expressão divertida nos olhos de James.
— Sinto muito. Ele não disse nada durante alguns segundos.
— Ficou chocado ao ouvir uma voz masculina, é claro.
— Imaginei que fosse o outro. Espero não ter complicado sua
relação com ele.
A falsidade da declaração irritou Rose.
— Em absoluto. Eu o acompanho — disse ao mesmo tempo que se
encaminhava para a saída. — Foi bom termos finalmente esclarecido as dúvidas.
Henry entrará em contato para dar prosseguimento ao divórcio. Adeus, James.
James parou no hall e fitou-a com insistência.
— Você é feliz agora?
— Minha vida não lhe diz mais respeito — ela se limitou á dizer,
sem forças para encará-lo.
— Agora que tornei a vê-la, será difícil convencer minha mente
disso — James murmurou com um sorriso que a fez estremecer. — Tranque bem

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

a porta e tire o fone do gancho. Procure descansar.


Falar era fácil, Rose pensou, à beira das lágrimas, enquanto se
preparava para ir para a cama. Dez anos depois, quando finalmente acreditava
que havia conseguido esquecer seu ma-, rido, acabava de descobrir que o tempo
não parecia ter passado.

CAPITULO IX

Rose levava um susto cada vez que alguém abria a porta da livraria.
Às cinco e meia, porém, sem que James tivesse aparecido, Rose fechou a porta e
se refugiou no escritório, abatida pela própria decepção.
Na tentativa de afugentar os pensamentos e também como punição
pelo absurdo de seu estado de espírito, obrigou-se a trabalhar em dobro. Só
depois que colocou toda a papelada em ordem, subiu para o apartamento e tomou
um banho,
Com seu velho e desbotado jeans e um suéter azul-claro, mas com
os cabelos cuidadosamente penteados caso James tornasse a visitá-la, Rose
arrumou a sala, preparou uma salada e sentou-se diante da televisão. A seu lado,
colocou a lista dos best-sellers da semana. Assim, caso James surgisse, teria a
impressão de que ela estava muito bem com a vida e consigo própria.
Mal começou a jantar, Rose ouviu soar a campainha. Com um
sorriso de triunfo nos lábios, levantou-se para atender e desceu, saltitante, a
escada. Mas o entusiasmo evaporou-se no instante em que abriu a porta.
— Anthony!
Parecia estar com cara de poucos amigos.
— Esperei durante horas, ontem à noite, que você retornasse minha
ligação. Como isso não aconteceu até agora, resolvi vir pessoalmente. Posso
entrar ou estou incomodando?
— Claro que não. Estava comendo uma salada. Gostaria de jantar
comigo?
— Não, obrigado — ele agradeceu, imediatamente, mais calmo. —
Fiquei de encontrar Marcus no restaurante Orsini para jantarmos juntos. Fique à
vontade.
— Tudo bem. Saladas não esfriam. Mais tarde eu termino. —
Sossegada, Rose quase acrescentou.
— Não era minha intenção vir aqui esta noite.
Rose mordeu o lábio. Impulsos como aquele andavam complicando
sua vida ultimamente.
— Também irá arriscar sua sorte no hotel?
— Oh, não, — Anthony admitiu, corado. — Liguei antes para fazer
a reserva. Não liguei para você porque sabia que estaria ocupada na loja.
Mas ele havia telefonado para Marcus e combinado de jantarem
fora. Era óbvio que Anthony não havia ligado para ela porque pretendia pegá-la
em flagrante com James.
— Eu poderia ter saído.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Nesse caso, eu deixaria uma mensagem em sua secretária


eletrônica.
A desculpa não a convenceu.
— Então, Anthony, há algum motivo especial para sua visita esta
noite?
— Sim. Um motivo muito importante. Quero informá-la que não
precisa se preocupar com mais nada. Incumbi meu advogado de cuidar de seu
divórcio.
— Você fez o quê? — Rose indagou, perplexa e furiosa.
— Eu coloquei a engrenagem em funcionamento.
— Não posso acreditar que tenha tomado essa atitude sem me
consultar!
— Se ficasse por sua conta, essa história se estenderia in-
definidamente. De qualquer modo, já está tudo acertado com Emerson e...
— Pois, então, trate de desacertar. Henry Beresford é meu
advogado.
— Henry não é especializado em divórcios. Emerson resolverá a
questão mais depressa.
— Isso não importa. Eu jamais magoaria Henry ou Minerva. Você
não tinha o direito. Fique sabendo que não gostei de sua interferência.
Anthony ficou ainda mais vermelho.
— Eu só quis ajudá-la, Rose.
— É mesmo? Quando, exatamente, decidiu consultar esse tal
Emerson?
— Hoje.
— Acha que sou tola, Anthony? — Rose fitou-o com desprezo. —
Você viu James ontem aqui comigo e resolveu agir sob um desses seus impulsos.
— O.k.! Já que tocou no assunto, o que, afinal, aquele sujeito
estava fazendo aqui? Espera que eu acredite que após dez anos ele resolveu
aparecer em sua casa como em um passe de mágica?
Rose franziu o cenho.
— Não espero que acredite em nada.
— Então confessa que mentiu...
— Não menti — ela retrucou com tal ênfase que Anthony recuou
um passo.
— Desculpe — ele apressou-se a dizer.
Sempre que ficava nervoso, Anthony passava uma das mãos pelos
cabelos. Rose notou o gesto, mas isso não serviu para melhorar seu humor.
— É melhor você ir ou se atrasará para o encontro com seu filho.
— Olhe, Rose, reconheço que errei. Vou ligar para Marcus e dizer
que surgiu um imprevisto. Ficarei para jantar com você e conversar.
— Seu filho me odiará por isso!
— Talvez você esteja certa. Ele anda fazendo muitas perguntas
sobre nós. Então vou ao Orsini, janto com o Marcus, e venho tomar café com
você mais tarde.
Rose suspirou.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Você não está entendendo, Anthony. Não poderei vê-lo esta


noite.
Foi a vez de Anthony suspirar.
— Está fazendo isso para me castigar por causa do advogado.
— Em parte. Mas também não gosto de sua arrogância em assumir
que tenho de estar a sua inteira disposição só porque resolveu vir à cidade neste
fim de semana.
— Está enganada. Eu entendi tudo. Você não quer me ver por causa
do seu marido!
— Não seja infantil!
Rose se arrependeu de dizer isso ao notar o brilho de raiva nos
olhos de Anthony. Antes que pudesse pensar no que fazer, ele a segurou pelos
ombros e a sacudiu.
— Você mentiu quando afirmou que não o via há dez anos. Por
quem me toma? Acha que dá para acreditar que após todo esse tempo, alguém
simplesmente aparece do nada? Na certa, você foi para a cama com ele em nome
dos velhos tempos...
— Solte-a.
Anthony virou-se, mas não obedeceu a ordem.
— Quem, diabos, é você?
— Acho que você sabe muito bem que sou eu. Tire as mãos de
cima de minha esposa.
Vermelho até a raiz dos cabelos, Anthony soltou os ombros de
Rose e cerrou os punhos para se controlar.
— É melhor você ir, Anthony — Rose aconselhou. Embora com
dificuldade, Anthony concordou com um gesto de cabeça.
— Ligarei amanhã, quando você estiver mais calma.
— Eu o acompanho.
— Não. Eu o acompanharei — disse James. — Quero ter certeza de
que a porta ficará bem trancada.
Rose se deixou cair no sofá assim que se viu sozinha. Por mais que
aguçasse os ouvidos, não conseguiu ouvir nem sequer um som vindo de seus dois
visitantes.
— Você está bem?
— Fora a raiva?
— O bruto te machucou?
— Não. Ele meteu os pés pelas mãos. Cometeu o erro de contratar
seu próprio advogado para tratar do divórcio sem me consultar.
James sentou-se no sofá ao lado dela.
— Você ficou furiosa, não?
— Claro que fiquei! Não admito ser pressionada.
— Ou, talvez, seja o caso de você não estar tão decidida a respeito
do divórcio, quanto seu amigo pensa.
Rose ergueu o queixo.
— Ao contrário. Já me decidi sobre o divórcio. Tenho o marido de
minha tia para me orientar e não quero mais ninguém. —De repente, Rose olhou

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

para James com desconfiança. — Sua aparição em cena foi dramática. O que o
trouxe novamente aqui?
— Estava de passagem. — James parou de falar diante da
expressão incrédula e debochada de Rose. — É verdade. Estava me dirigindo à
cantina para jantar quando vi a porta que dá para seu apartamento entreaberta. A
única idéia que me ocorreu foi a de que o sujeito dos telefonemas anônimos
estivesse aqui. Por sorte não era ele, mas acho que você também estava correndo
algum perigo com aquele outro.
— Anthony estava apenas com ciúme.
James cruzou os braços. De mim?
— Sim. Ele não gostou de saber que você esteve aqui ontem à
noite.
— Nem hoje.
— Pode culpá-lo por isso? — Rose retrucou. — Você se mostrou
violento.
— Sabe que a violência não é de meu feitio. A não ser que precise
protegê-la.
— Posso cuidar de mim mesma, obrigada. — Rose olhou para seu
jantar pela metade. — Não disse que estava a caminho da cantina?
— A reserva expirou há meia hora.
— Ligue para lá e explique.
— Tenho uma idéia melhor. Como não acredito que aceite um
convite meu para jantarmos fora, por que não liga e pede para entregarem aqui
um jantar para dois? Ninguém ficará sabendo a meu respeito.
— Mas saberão que não estou com Anthony porque ele será visto
no Orsini com o filho.
— A opinião dos outros sempre foi de suma importância para você.
Continua a mesma. Na faculdade, precisei arquitetar um plano mirabolante para
que você concordasse em ser vista comigo.
— Não nego.
Ao perceber que não conseguiria sucesso com aquela tática,
James recorreu a outra.
— Se não aceita sair comigo nem pedir um jantar aqui, há uma
terceira opção.
— Qual? — Rose fitou-o, desconfiada.
— Acompanhe-me ao chalé e eu prepararei algo para comermos.
O primeiro impulso de Rose foi recusar. Não podia baixar a guarda.
A noite anterior havia provado que James continuava sendo um perigo para sua
paz de espírito.
Como se adivinhasse o conflito de pensamentos que povoava a
mente de Rose, James prosseguiu.
— Nós fomos bons amigos. Não existo chance de recuperarmos
nem sequer um pouco de nossa amizade?
— Dez anos é tempo demais para cultivar o ódio — Rose
respondeu. — Eu preferi me esforçar para esquecê-lo.
— Espero que tenha alcançado mais sucesso do que eu — James

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

murmurou. — Eu cheguei à mesma conclusão que você, assim que me acalmei,


sobre ninguém ter o poder de fazer o outro se apaixonar. Corri de volta para a
Inglaterra a fim de dizer a minha esposa que a amava tanto que queria continuar
o casamento fosse qual fosse o motivo que nos levou a ele. Mas ela havia me
deixado.
— Aceitei um emprego de babá durante aquele verão que me levou
a Portugal. Depois de cuidar de duas crianças o dia inteiro, eu pegava no sono
assim que conseguia pôr a cabeça no travesseiro.
— Nessa época, eu consegui meu primeiro emprego. Queria
partilhar minha felicidade com você a esse respeito também. Não pode imaginar
como me senti quando sua tia me contou que você não queria mais nada comigo.
— Não acho que vale a pena revivermos velhas mágoas, James.
Prefiro mudar de assunto.
— Concordo com você. Aproveite para descansar um pouco. O
lugar é tranqüilo e a paisagem linda. Não estou lhe pedindo nada mais que uma
refeição ligeira e umas duas horas de bate-papo.
Por mais que o bom senso lhe dissesse para recusar, Rose aceitou o
convite, mas com a condição de assumir o volante.
— Quer dizer que não se importa de ser vista em minha companhia
até chegarmos ao estacionamento?
— Sairemos pela porta dos fundos — ela disse baixinho, como se
não quisesse ser ouvida. — Meu carro está estacionado atrás do escritório.
A pequena cabana de pedra ficava fora da estrada em um atalho tão
escondido que James teve dificuldade em encontrá-lo no dia de sua chegada.
— Mesmo com um mapa, eu passei várias vezes para lá e para cá
até encontrá-lo, mas para quem procura paz e sossego, não há lugar melhor para
ficar.
— Você veio em busca disso? — Rose indagou.
— Não. Eu vim para ver você — James respondeu e a fez entrar.
Rose notou os móveis antigos e confortáveis e sorriu ao notar que
James se apressava a acender a lareira.
— O lugar é adorável.
— Meu amigo e sua esposa passam todo tempo disponível aqui.
— Eles não se cansam do isolamento?
— Ainda estão em lua-de-mel. Trabalham duro durante a semana e
fogem para cá sempre que podem para relaxar. Como qualquer casal recém-
casado normal — James acrescentou, propositadamente.
— Nós nos casamos apenas no papel — Rose lembrou. —Nunca
vivemos juntos de verdade.
Assim que James conseguiu obter a licença, eles se dirigiram ao
cartório e casaram tendo como testemunhas os faxineiros da instituição. Após a
rápida cerimônia, o noivo correu para a faculdade para fazer uma prova e a noiva,
só e desconsolada, voltou para o apartamento que dividia com as amigas.
O que tiveram de mais próximo a uma lua-de-mel foi um passeio ao
distrito dos Lagos, semanas antes. Também haviam se hospedado em um chalé,
mas o tempo não havia colaborado. Ou havia. Por causa da chuva, eles quase não

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

saíram da cama.
— É incrível que você nunca tenha contado a sua tia sobre nosso
casamento — James comentou em tom casual.
— Não acho que seja tão espantoso assim. Lembre-se de que
escondi o fato até mesmo de minhas melhores amigas.
— Como se eu pudesse esquecer! Tanto segredo beirava a
obsessão. Isso quase me matou.
Rose franziu o rosto.
— O que está querendo dizer?
— Não consegue imaginar, Rose, como me senti diante da probabilidade
de tê-la engravidado? Não tive nem sequer a chance de ser feliz como um noivo
normal. Porque estava empenhado em estudar como um louco e me formar para
que pudesse arrumar um emprego que me desse meios de sustentar você e o
bebê.
Rose deu-se conta, pela primeira vez, que a raiva e a humilhação do
último encontro a impediram de enxergar a questão sob o ponto de vista de
James.
— Eu só lhe criei problemas, não?
— Muitos problemas, mas não apenas problemas. — James sorriu,
— A verdade é que eu, talvez, não tivesse reparado em você se não fosse pelo
famoso plano. Mas o fato foi que eu me apaixonei loucamente e adorei me casar
com você. O que atrapalhou foi a pressa.
— E o estigma da paternidade.
— Não. A culpa de ter precipitado sua condição de mãe.
— Você não deveria ter se sentido culpado, James. Eu também
estava completamente apaixonada por você. Daí a razão...
— Daí eu tê-la magoado tão fundo — James terminou a frase.
— Mas o tempo passou e curou as feridas — disse Rose. — Não se
fala mais nisso, está bem?
— Se o passado a incomoda, passemos a discutir sobre o menu do
jantar.
— Prefiro que me conduza direto à geladeira — Rose respondeu.
— Estou faminta.
A cozinha era pequena, mas dispunha do que havia de mais
moderno. Por mais que Rose insistisse em ajudar, James alegou que ela era sua
convidada e que ele prepararia sozinho a refeição.
— Sente-se diante da lareira enquanto espera.
— Uma proposta irrecusável — Rose brincou — depois de ter
passado o dia inteiro de pé.
Na sala, Rose examinou a prateleira de livros e apanhou um
romance antigo, que lera muitos anos atrás. Persuasão, de Jane Austen. Folheava
o livro quando o ambiente foi tomado pelo aroma inconfundível de bacon frito.
Um arrepio percorreu-lhe a espinha. James teria preparado justamente o san-
duíche que marcara o início do namoro?
Algum tempo depois, Rose teve a grata surpresa de se ver diante de
uma bela travessa de espaguete com molho de tomate e bacon.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Está uma delícia! — Rose elogiou. — Como conseguiu essa


proeza em um prazo tão curto?
— A proeza não foi só minha — James confessou. — Meu amigo
tem uma boa despensa è uma ótima adega. — James mostrou a garrafa de vinho
que serviria no jantar.
— Costuma preparar suas próprias refeições? — Rose quis saber.
— Raramente. Em geral como fora ou ligo para um serviço de
entrega.
— Quando senti o cheiro do bacon, lembrei de seus sanduíches.
Rose notou que James apertava os lábios.
—Deixei de prepará-los quando você foi embora. Toda a pretensão
de harmonia desapareceu em um estalar de dedos. Até que tornassem a falar, já
haviam terminado o jantar.
— Quis procurá-la muitas vezes, Rose, mas meu ego não permitiu
com receio de que você fosse se recusar a me receber.
Rose, no entanto, apesar do recado que deixara sobre não querer
mais vê-lo, tivera esperanças de que fosse James, cada vez que o carteiro deixava
uma correspondência ou que o telefone tocava.
James se levantou e retirou os pratos. Quando retornou da cozinha,
trazia uma garrafa nas mãos.
— Você não bebeu o vinho. Talvez prefira uma taça disto.
— O que é?
— Champanhe rose. Para comemorar a ocasião. Afinal, ficamos
separados durante dez anos. Não importa se estamos juntos esta noite apenas para
discutirmos sobre nosso divórcio. Esta poderá ser a última vez. Afinal, está para
casar novamente. A propósito, como irá se chamar?
— Garrett. Ao pronunciar o sobrenome de Anthony, Rose sentiu
um nó na garganta. Não havia usado o nome de seu marido. Rose Sinclair, ela
deveria ter assinado durante aqueles dez anos.
Sem se dar conta, Rose esvaziou a taça e James tornou a enchê-la.
— Não deveria — Rose murmurou. — Daqui a pouco terei de
dirigir. — Essa estrada é tranqüila. Duvido que encontre algum policial pela
frente. Além disso, duas taças não lhe farão mal. — Eu sei. É o que costumo
beber quando saio para jantar. Dois copos de vinho.
— Com Garrett, é claro.
— Não exclusivamente. Gosto de ir a festas e reuniões. E costumo
fazer par com Mark Cummings quando Bel e seu marido me convidam para
jantar.
— Esse nome, Cummings, não me é estranho.
— Mark foi meu primeiro namorado — Rose explicou. — Ele dá
aulas de história. Está separado e ficou com a guarda da filha. Sua mãe e Bel o
ajudam a cuidar da menina.
— O que aconteceu com a esposa dele?
— Deixou-o por outro homem quando Lucy estava aprendendo a
andar.
— Isso aconteceu antes de você assumir a livraria? — James

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

perguntou, intrigado.
— Muito antes.
— Cummings deve tê-la recebido de braços abertos, não?
— Oh, sim. Somos velhos amigos.
— Ele sabe a meu respeito
— Não. Você ainda é meu esqueleto dentro dó armário, James.
— Ou seja, nada mudou. — James deu um longo suspiro. — Mais
champanhe?
— Não, obrigada.
— Até quando pretende esconder que é casada?
— Não creio que isso interesse a alguém.
— Às vezes, fico imaginando como teria sido.
— Quem sabe? As estatísticas não são animadoras, e nós éramos
muito jovens.
— Acredita realmente que não teria dado certo?
Rose hesitou.
— Não sei. Já não importa.
— Sim, importa — James a contradisse. — Depois que conheci
Garrett, tenho certeza de que suas razões para querer o divórcio são outras.
— O que está insinuando?
— Esse tal Cummings que precisa de uma nova esposa e mãe para
sua filha. Ele também a pediu em casamento?
— Céus, não! — Rose exclamou involuntariamente.
— A idéia não é atraente?
— Francamente não. Não gosto de Mark nesse sentido. E ele, na
minha opinião, ainda tem esperança de que ela volte.
— Posso entender.
A afirmação fez Rose pestanejar.
— Sim, eu também esperava que um dia fôssemos voltar a ficar
juntos — James confessou. — Cheguei a viajar para Chastlecombe algum tempo
atrás para tentar uma reconciliação, mas a vi com um sujeito loiro. Estavam rindo
alto e pareciam se dar tão bem que eu decidi ir embora.
Rose sentiu um aperto no peito.
— Deveria ser Mark por sua descrição — Rose murmurou e baixou
os olhos para esconder as lágrimas.
— Por favor, não chore — James pediu. — A última recordação de
você que tenho foi de seu rosto banhado em lágrimas. Quero guardar uma
imagem mais alegre desta vez.
— Sinto muito, mas não consigo evitar quando penso que poderia
ter sido diferente.
— Ainda pode. — Antes que Rose pudesse imaginar o que
aconteceria, James a fez levantar da cadeira e atraiu-a de encontro ao peito. —
Olhe-me nos olhos, Rose, e diga que não sente mais nada por mim.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

CAPÍTULO X

—Não posso fazer isso — Rose declarou, incapaz de mentir. Por


mais que desejasse considerar James um inimigo, isso seria impossível.
— Juro que não sei como fui aprovado nos exames. Enquanto
estudava, só via sua imagem a minha frente — James confessou.
— E eu apenas obedeci suas ordens: ficar longe.
Mas eles estavam perto agora. Perto demais. Os seios já estavam
enrijecendo em contato com o peito de James. Seu marido ainda tinha o poder de
excitá-la como outro homem jamais conseguira.
— Solte-me — ela pediu baixinho.
— Não quero soltá-la. Sempre desejei saber se a atração que nos
unia resistiria ao tempo. E ela resistiu. Não adianta negar.
— Quero que me solte, James — Rose repetiu.
— Não. Você me deve isso. Você é a razão por eu ainda estar
sozinho. Aprendi quanto é perigoso perder a cabeça por uma mulher. Não que
isso importe a você, é claro. Porque não me ama mais.
— Exatamente — Rose concordou e o encarou. — Quantas
mulheres passaram por sua vida depois de mim?
— Isso interessa? — James perguntou com um brilho vitorioso no
olhar.
Sim, mas ela não iria admitir.
— Lógico que não. Fiquei zangada quando você apareceu ontem,
mas agora estou contente por estarmos tendo esta conversa e podermos discutir
sobre o divórcio de uma maneira adulta e civilizada.
James abraçou-a com mais força.
— Não estou falando em conversas, Rose.
E sem esperar por uma resposta, James se apoderou dos lábios de
Rose em uma carícia sensual e minuciosa que a aqueceu como fogo. Ao mesmo
tempo, ele a fez sentar em seu colo em uma evocação aos tempos de adolescência
em que momentos como aquele eram parte de suas vidas.
— Neste instante, Rose — James sussurrou —, você parece a
garota por quem eu enlouqueci de paixão. É difícil acreditar que transcorreram
dez anos.
— Mas o tempo passou, e você prometeu que isto não iria
acontecer!
Ele afastou os cabelos do rosto de Rose sem parar de fitá-la.
— Nada aconteceu. Ainda — ele acrescentou com deliberada
lentidão. — E mesmo que eu esteja tentando seduzi-la, não acha que é justo
depois do que fez comigo?
Rose negou com veemência.
— Nunca imaginei que o plano levaria à intimidade carnal.
— Não? — James indagou, cético.
— Não! Meu propósito era apenas atrair sua atenção sobre mim.
— A atração física geralmente leva ao despertar da paixão — James
lembrou. — Assim que a beijei, não consegui pensar em mais nada a não ser em

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

tê-la por inteiro em meus braços.


Rose perdeu-se por um instante na força daquele olhar, mas
conseguiu vencer a tentação e se levantou.
— Está na hora de eu voltar para casa.
James enrijeceu.
— Não está falando sério, está?
— Você sabe que sim.
— Vingança?
— Bom senso apenas. — Ela encolheu os ombros. — Admito que
meu corpo está implorando para que eu ceda, mas minha mente não desiste de
dizer que você não pode voltar a minha vida após dez anos de ausência e esperar
que eu vá para sua cama a um estalar de dedos. Em parte sinto-me lisonjeada por
seu desejo, é claro. Mas isso não é o suficiente.
— O que está faltando, Rose?
— Existem vários motivos que me impedem de ir para sua cama.
— De fazer amor comigo, você quer dizer.
— Em primeiro lugar __ Rose continuou, sem considerar a
interrupção —poderia complicar nosso divórcio.
— A esse respeito — James murmurou com um brilho perigoso no
olhar —, o que acha de eu informar seu procurador que quero tentar uma
reconciliação?
— Isto não é uma brincadeira, James — Rose retrucou.
— Quem disse que estou brincando?
Raiva e cansaço se mesclaram no suspiro de Rose.
— É tarde demais para nós.
— Ainda não são onze horas, Rose.
— Por que está fazendo isso comigo, James? — Rose esbravejou
de repente. — Por causa do pedido de Anthony?
A surpresa de James parecia genuína.
— Isso não passou por minha cabeça. Mas já que tocou no assunto,
não creio que ele sirva para você. Além do mais basta me dizer que ama aquele
sujeito e eu nunca mais baterei à sua porta. Mas você não o ama e sabe disso.
Rose balançou a cabeça e apanhou a bolsa.
— Boa noite e obrigada pelo jantar.
James a deteve antes que alcançasse a porta. Segurou-a pela mão e
levou-a aos lábios.
— Quando poderei tornar a vê-la?
— Não acho que seja uma boa idéia.
— Por que não?
— Porque por detrás dessa máscara de civilidade, você ainda está
zangado comigo.
— Pode me culpar? — James não tentou negar a verdade.
— Não. E é também por isso que é melhor nos despedirmos de uma
vez.
—Você se transformou em uma mulher implacável, Rose Sinclair.
— Não me chame assim!

70
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Esse é seu nome. Perante a lei, você ainda é minha esposa. Se eu


a tivesse carregado em meus braços, alguns minutos atrás, e a levado para o
quarto como desejava, não haveria nada de errado.
— Isso é um sofisma — Rose protestou e respirou fundo. — Deixe
para lá. Obrigada, mais uma vez, pelo jantar.
James acompanhou-a até o carro com o cenho franzido.
— Não gosto da idéia de você voltar para casa sozinha. Irei com
você para ter certeza de que não encontrará o tal dos telefonemas anônimos pelo
caminho. E tornarei a voltar. Ou, então, poderei segui-la em meu próprio carro.
— Agradeço, mas não é necessário. Não posso viver com medo das
sombras, James. E terei de continuar com minha vida depois que você se for.
— Mas eu ainda estou por aqui. Espero, ao menos, que ligue para
mim assim que chegar em casa só para confirmar que está sã e salva.
— Está bem. Farei isso. Mas não se preocupe à toa. Não gosto de
velocidade.
Rose estacionou o carro no lugar de sempre, atrás da livraria, e
entrou pela porta dos fundos. Ao acender a luz, encontrou outra rosa no chão e
correu a ligar para o celular de James.
— Cheguei em casa — disse, trêmula — mas não estou me
sentindo salva. Havia outra rosa a minha espera.
James praguejou do outro lado.
— Ligue imediatamente para a polícia.
— Não esta noite. Estou cansada e quero dormir. Ligarei para eles
amanhã.
— Então irei para aí e dormirei no sofá.
— De jeito nenhum — Rose se apressou a recusar. De que
adiantaria trocar um perigo por outro? — Está tudo trancado e vou deixar o
telefone fora do gancho.
— Faça como preferir, então — James retrucou com impaciência.
— Mas se precisar, ligue a qualquer hora. E me dê o número de seu celular para
me deixar mais tranqüilo. Escute, pretende ver Garrett amanhã à noite?
— Não. Aliás não esperava vê-lo este fim de semana.
— Nesse caso, gostaria que viesse jantar comigo amanhã outra vez.
Quero aproveitar para vê-la enquanto a lei não nos separa em definitivo. Não me
negará isso, não é?
Rose hesitou. Passar outra noite a sós com James naquela cabana
isolada seria dar boas-vindas a mais problemas. Mas de que adiantava mentir a si
mesma? Ela queria aquele encontro tanto quanto James. Pela última vez. Mas
teria de ser em seu território, não no dele.
— Está bem, mas venha você jantar aqui.
O silêncio foi total.
— Com o maior prazer — disse James por fim, inegavelmente
surpreso. — Devo ir disfarçado?
— Não é preciso. Às oito?
— Em ponto. Está mais calma agora?
— Sim, obrigada. Boa noite, James.

71
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Antes de tirar o telefone da tomada, Rose verificou as mensagens


em sua secretária eletrônica e encontrou três recados de Anthony implorando
para que ela reconsiderasse sua decisão e concordasse em jantar com ele.
Rose foi para a cama sem pensar duas vezes. No que lhe dizia
respeito, Anthony Garrett era passado.
O toque do celular sobre o travesseiro ao lado despertou Rose.
— Bom dia — James a saudou. — Dormiu bem?
— Nossa, como você madrugou! — Rose não disfarçou um bocejo.
— Por incrível que possa parecer, sim, eu dormi muito bem.
— Não é justo. Eu passei a noite virando de um lado para o outro.
— Coitadinho!
A brincadeira terminou assim que James tornou a falar.
— Não espere mais para ligar para a polícia, Rose.
— Não. Esse é o tipo de publicidade que não quero para mim.
Agora, à luz do dia, meu pânico parece tolice. Afinal, ninguém cometeu nenhum
crime. Mandar flores não é um ato ilegal.
— Assim mesmo, é assustador.
— Não gosto disso tampouco — Rose concordou —, mas tenho
certeza de que a pessoa acabará desistindo, se eu continuar ignorando seu
assédio.
— Se eu não fosse seu marido apenas no papel, insistiria em comunicar o
fato à polícia.
— Sim, mas acontece que você é meu marido apenas no papel, e, em
breve, não será nem sequer isso.
Rose se vestiu em poucos minutos, tomou um copo de suco e uma torrada
e foi ao supermercado para comprar alguns ingredientes para o jantar. Deveria ter
perdido o juízo, pensou, mas a verdade era que mal podia esperar para passar
mais alguns momentos em companhia de James.
A vida em Chastlecombe era pacata. Um pouco de adrenalina, às
vezes, fazia bem. E também uma conversa agradável. Pois além de amantes, eles
haviam sido grandes amigos pelos meses em que o relacionamento durou. Além
disso, o dia estava lindo e havia um toque de primavera no ar.
— Bom dia, chefe — Bel cumprimentou-a, efusiva. — Está
radiante esta manhã. O que é esse brilho em seu olhar? É o efeito da chegada da
primavera, talvez?
— Quem sabe.
— Verá Anthony esta noite?
— Não, não esta noite — Rose hesitou, mas decidiu contar a
verdade. — Convidei um velho amigo da faculdade para jantar.
— Um homem? — Bel piscou.
— Sim.
— Era um amigo íntimo? —Sim.
— Muito bem. Trate de se divertir.
Como acontecia todos os sábados, aquele também fora atribulado, e
Rose sentiu-se constrangida quando Bel precisou pedir licença para sair para o
almoço.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Desculpe, Bel, não me dei conta de que era tão tarde. Traga um
sanduíche para mim quando voltar, por favor.
Mal Bel a deixou, Rose viu Anthony entrar pela porta. Ele fingiu
interesse em alguns livros enquanto ela tratava com os clientes, mas assim que a
viu sozinha, abordou-a com ar agressivo.
— Onde esteve ontem à noite? Liguei uma porção de vezes.
— Eu sei. Ouvi suas mensagens.
— Pedi que retornasse minhas ligações.
— Era muito tarde quando cheguei.
— De onde?
— Não lhe devo satisfações de minha vida, Anthony — Rose
respondeu e suspirou de alívio ao ver que Bel já estava de volta.
— Desculpe a demora. — Bel indicou o lanche. — Salada de
camarão e está fantástica.
Anthony e Bel cumprimentaram-se com um gesto de cabeça.
— Podemos falar em particular? — Anthony perguntou.
— Vamos ao escritório, então — Rose concordou, resignada.
— Não podemos subir até seu apartamento?
— Não agora. O movimento é grande aos sábados e Bel pode se ver
em maus lençóis a qualquer momento. — Rose abriu o pacote e deu uma
mordida no sanduíche. — Diga.
— Você sabe por que estou aqui? — Anthony perguntou, irritado. Rose
negou com um movimento de cabeça.
— Para ser franca, não sei.
— Estou aqui para tentar convencê-la a mudar de idéia sobre hoje à
noite.
— Sinto muito, mas não adianta.
— Está sendo criança, Rose — Anthony protestou.
— E você está insistindo demais. Já tenho um compromisso para
esta noite.
— Mas você sempre passa os sábados comigo quando venho a
Chastlecombe!
— Não todos os sábados e não esta noite — Rose respondeu com
firmeza. — E em nenhuma outra mais, Anthony. Sinto muito, mas está tudo
acabado entre nós.
Anthony a fitou com incredulidade.
— Acabado? De que você está falando? Já falamos até mesmo em
casamento...
— Você falou, Anthony, não eu.
— Oh, é claro! A explicação é Sinclair. É óbvio que você ainda está
apaixonada por ele.
— Isso não tem nada a ver. Apenas não daria certo entre nós a
longo prazo, Anthony. — Rose estendeu a mão. — Acha que podemos, ao
menos, nos despedir como amigos?
Anthony fitou-a com ferocidade, ignorou a mão estendida e se
encaminhou para a porta.

73
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Quando chegou a hora de fecharem a livraria, Bel se aproximou de


Rose com um amplo sorriso.
— Estava contando os minutos para vê-la sozinha. Entendi bem
quando Anthony saiu da loja espumando de raiva? Vocês acabaram?
Rose deu um suspiro.
— Sim.
— Eu não lamentaria em seu lugar. — Bel deu uma piscada. —Ele não
serve para você. Nunca lhe disse isso, mas estou contente que não tenha dado
certo. Aproveite esta noite e divirta-se.
Depois que fechou a loja, Rose subiu e tomou um banho. Depois
fez uma escova nos cabelos e demorou mais do que de costume diante do armário
para escolher a roupa. Optou por uma calça azul-marinho e por um suéter cor-de-
rosa com decote em V. Depois, protegida por um avental listrado, começou a
preparar o jantar.
Descascou e cozinhou as batatas, preparou um molho holandês para
servir com os aspargos e enrolou fatias de bacon nos cubos de carne antes de
levá-los ao forno.
Alguns minutos antes do horário marcado, Rose foi à janela para
verificar se James estava chegando. Deu-se conta, então, de que não se sentia tão
excitada assim desde seus dezoito anos. Precisava se controlar. Afinal, aquele
seria uma espécie de jantar de despedida não de reconciliação.
Quando a campainha soou, Rose precisou se obrigar a não se
precipitar pela escada. Mas quando viu James parado à porta, com duas garrafas
de vinho, não pôde evitar que as batidas de seu coração se tornassem mais
aceleradas.
— Você foi pontual — ela disse ao cumprimentá-lo.
— Teria chegado antes se soubesse que você me receberia. —
James virou-se e trancou a porta com uma determinação que fez disparar um
sinal de alarme na mente de Rose. — Trouxe vinho tinto e branco. Para
você escolher. Ou, se preferir, com direito a provar os dois.
— Eu já separei uma garrafa para o jantar, mas agradeço a
lembrança. — Rose indicou o sofá. — O jantar estará pronto em trinta minutos.
Se quiser tomar um aperitivo enquanto espera, tenho alguns salgadinhos para
acompanhar. Há uísque, gim e...
— O que foi, Rose? — James a interrompeu. — Está nervosa?
— Estou — ela foi sincera. — Acho que podemos estar cometendo
um erro.
— Qual é seu medo? Que eu tente levá-la para a cama antes ou
depois do jantar?
Rose reconheceu o tom de brincadeira e relaxou, mas a tensão
voltou a dominá-la em seguida à mudança brusca de James.
— Garrett costuma fazer isso?
— Não comigo — Rose respondeu e seguiu em direção à cozinha
em um recado sem palavras de que o assunto estava encerrado.
— Sinto muito se tentei invadir sua privacidade — James se
desculpou. — Foi mais forte do que eu. E desnecessário.

74
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Tenho certeza de que não houve nada de mais sério entre você e
Garrett.
— Como pode afirmar isso? — Rose indagou em tom de desafio.
— Pelo modo de se comportarem. — James balançou a cabeça. —
Ele não é homem para você.
Rose não respondeu. O jantar estava pronto e ela se preparou para
servi-lo.
— Estava fabuloso — James elogiou-a com sinceridade. —
Tornou-se uma ótima cozinheira.
— Confesso que gosto de assistir a programas de culinária pela
televisão de vez em quando.
James tornou a encher os copos.
— Sonhei muitas vezes com um momento como este. Nosso
reencontro, um jantar a sós...
Rose se levantou de um salto e se pôs a retirar os pratos da mesa.
— Nada o impedia de ter feito algo a respeito antes. Eu não me
mudei para outro planeta.
— Fui covarde.
Rose encarou-o, surpresa.
— Sim, fui covarde — James repetiu. — Tive medo de enfrentar
uma outra rejeição.
Rose não acreditou nas palavras de James. Com uma expressão de
descaso, colocou frutas e um queijo na mesa.
— Pensei em comprar um bolo para a sobremesa, mas lembrei-me
de que você não é inclinado a doces.
— Sua doçura me basta.
— Não foi o que disse em nosso último encontro. E não teria dito
tampouco, se tivesse vindo a minha procura antes. Confesso que a maior chance
seria eu ter batido a porta em sua cara.
James olhou para Rose e segurou-lhe a mão.
— Poderíamos deixar a sobremesa para mais tarde?
Prefere um café, então?
— Não, obrigado. Quero apenas que se sente e fale comigo.
Rose o atendeu em silêncio. James prosseguiu.
— Ainda sentia raiva de mim quando saiu da universidade?
— Fui para Londres aprender a ganhar a vida — Rose respondeu.
— Às vezes, tinha a impressão de ver você do outro lado da rua, mas nunca tentei
me certificar.
— Devo deduzir que meus esforços seriam inúteis caso eu tentasse
uma aproximação? — James indagou com as mandíbulas contraídas.
— Sim. Não costumo cometer o mesmo erro duas vezes.
A expressão de James a fez pensar que ele iria se levantar, naquele
minuto, e sair porta afora. Em vez disso, ele lhe beijou a mão.
— Tenho certeza de que seria capaz de fazê-la mudar de idéia.
— Não — Rose respondeu, zangada. — Aliás, já chega de
conversa. Acho que está na hora de você ir, James.

75
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

A lentidão dos movimentos a fez pensar em um tigre à espreita.


— E se eu não quiser? — James abraçou-a e beijou-a tão
abruptamente que Rose deixou escapar um gemido de surpresa e de excitação.
— Como pôde fazer isto? — Rose protestou e tentou empurrá-lo.
— Como se atreve a voltar a minha vida após dez anos e se sentir no direito de
me levar para a cama?
— Quem falou em cama, Rose Sinclair? — James se defendeu. —
Eu só tinha em mente trocarmos alguns beijos.
— Não gosto que me chame assim. Rose tentou se afastar, mas
James a deteve.
— Esse é seu nome. Ainda sou seu marido.
Antes que Rose tornasse a protestar, James beijou-a como se
estivessem fazendo amor. Depois acariciou os seios por cima e por baixo da
roupa. Quando os tomou nos lábios, Rose sentiu uma turbulência em seu corpo
que a impediu de reagir.
— Você ainda me quer. Por que não admite? — James inclinou-se
sobre ela de maneira a forçá-la a se deitar no sofá.
O triunfo na voz de James foi sua derrota. Rose voltou à realidade
com a rapidez de um raio e empurrou-o.
— Foi isso que veio buscar? Um polimento em seu ego? — Rose começou
a se recompor com dificuldade de tanto que tremia.
James aguardou que ela se acalmasse.
— Por favor, não me olhe assim.
Rose baixou a cabeça no mesmo instante.
— A culpa foi minha — murmurou aos soluços. — Não devia tê-lo
convidado. Fui ingênua em pensar que poderíamos conversar como dois adultos
inteligentes.
— Sou humano, Rose — James se justificou. — Precisava saber se
você ainda sentia algo por mim.
— Bem, agora você sabe. Espero que a experiência tenha satisfeito
plenamente seu ego.
— Não vamos falar mais nisso, está bem? — James propôs. —
Acha que ainda podemos ter aquela conversa civilizada?
Rose hesitou, mas acabou aceitando.
— Por que não? Ainda não discutimos sobre o divórcio. — James
encarou-a.
— E se eu disser que não quero o divórcio?
— Não recomece com essa história, por favor. — Rose passou uma
das mãos pelos cabelos. — Não que faça diferença. Eu posso conseguir o
divórcio quer você queira ou não.
— É verdade, Rose. Por falar nisso, o que a fez esperar todos esses
anos para solicitá-lo?
Boa pergunta, Rose pensou, mais tarde, enquanto tentava dormir
em vão. A conversa proposta por James não havia acontecido pela simples razão
de que ele se recusara a discutir sobre o divórcio. Mais ainda. Ao se despedir,
prometeu que manteria contato.

76
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

O que ele quisera dizer com aquela promessa, exatamente, Rose


não sabia. Aquela noite deveria ter marcado o último encontro entre eles, afinal.
O domingo custou a passar. No meio da segunda-feira, contudo,
Rose teve o primeiro sinal em forma de um buquê de flores do campo e um
cartão que dizia: "Obrigado pela noite magnífica. J.S."
— Imagino que J.S. seja seu velho amigo da faculdade — disse
Bel. — Meus parabéns. Devem ter se divertido muito.
Rose admitiu a verdade com um sorriso e levou as flores para o
apartamento. Depois agradeceu que a loja estivesse movimentada pelo resto do
dia, para que não tivesse chance de pensar em James.
Era tarde quando o telefone tocou. Com a precaução de sempre,
Rose esperou para atender até identificar a voz.
— Como passou o dia?
— Bem, mas no momento estou exausta. Obrigada pelas flores.
Pensei em ligar para agradecer, mas não sei onde coloquei seu cartão.
— Uma pequena lembrança apenas. Teria enviado rosas, é claro, se
não fossem pelas razões óbvias. — Em seguida, James forneceu seu endereço e
telefone particulares. — Tente não perdê-los, mas, em caso de urgência, sempre é
possível me localizar no banco.
— Isso não será preciso! — Rose declarou. — No futuro, os
contatos serão feitos por intermédio de meu procurador.
James riu do outro lado.
— Acredita realmente nisso?
Henry deveria ter recebido a procuração de Rose para dar início ao
processo naquele dia. O problema foi que Rose não encontrou coragem para
contatá-lo. Na hora da verdade, ela admitira finalmente a si mesma que não
queria se separar de James. Não ainda, ao menos.
Por sua vez, James não demonstrava a menor intenção de
interromper o contato. Ligava para ela todas as noites com a desculpa de
perguntar se estava bem e se o maníaco não tornara a incomodá-la.
Uma semana depois, cansada e irritada de esperar por um
telefonema que não chegava, Rose foi para,a cama. Estava quase dormindo
quando James ligou.
— Não tenho culpa — ele se defendeu. — Tive um compromisso e
estou chegando neste instante. Tentei ligar antes de sair, mas seu telefone estava
ocupado. Com quem estava falando?
— Deixe-me ver — Rose hesitou, satisfeita. — Ou com Mark
Cummings, ou com Henry Beresford, ou, então, com Anthony Garrett.
— Posso imaginar o que o segundo queria, mas e os outros? Você
não terminou com Garrett?
— Sim, mas ele tentou me fazer mudar de idéia sobre seu pedido.
— E Mark Cummings?
— Queria discutir alguns detalhes sobre a feira de livros que
faremos em sua escola amanhã à noite. E você não tem nada mais a ver com
minha vida particular.
Rose ouviu um riso suave do outro lado da linha.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Boa noite, Rose. Tenha bons sonhos.

CAPÍTULO XI

Rose foi para a feira de livros zangada consigo mesma por ter
esperado em vão por um telefonema de James.
Para afastá-lo de seus pensamentos, obrigou-se a distribuir in-
formações e sorrisos não só aos alunos, mas também a seus pais.
Mark fora um grande colaborador. Os livros não vendidos, foram
devolvidos à livraria naquele mesmo dia. Mark ajudou-a a levá-los de volta e
também a colocá-los em seus devidos lugares.
No momento de se despedirem, ele a abraçou e lhe deu um beijo e
recomendou que não se esquecesse de trancar a porta.
Rose subiu ao apartamento e preparou uma xícara de chá. Sabia que
estava fazendo hora para ir dormir, mas não conseguia evitar. Enquanto o
telefone não tocasse, ela não teria sossego.
A espera só acabou no meio da manhã quando James entrou na loja.
Bel percebeu de imediato que havia algo entre o recém-chegado e
sua chefe. Tentou ser discreta e se afastar, mas Rose fez questão de apresentá-la a
seu amigo antes de liberá-la para o almoço.
— Por que não me avisou que viria? — Rose indagou, ressentida.
— Se eu avisasse, você teria dado um jeito de ir para outro lugar, e
nós precisamos conversar.
Rose cerrou os lábios para se controlar. Ao notar o gesto, James
sugeriu que saíssem.
— Agora não posso — Rose murmurou à chegada de novos
clientes.
— Esta noite?
— Não. Vou jantar fora.
— Cancele! — James ordenou e saiu, deixando-a perplexa e furiosa
ao mesmo tempo.
— Era seu velho amigo, eu suponho — disse Bel quando voltou do
almoço.
— Sim. Não o esperava.
— Pude notar. — Bel piscou, maliciosa.
Fora o sábado mais longo de que Rose conseguia se lembrar. As
emoções foram se acumulando no decorrer das horas até chegarem a um ponto
que Rose não sabia definir se o que sentia era receio ou excitação.
Dessa vez, não providenciou nada de especial para servir. Se James
quisesse jantar, eles teriam de ligar e pedir comida por um serviço de delivery.
No estado em que ela se encontrava, não conseguiria nem sequer ficar de pé.
Rose tomou um banho demorado para renovar suas energias.
Depois secou os cabelos e vestiu uma calça comprida escura e um suéter branco.
Aplicou alguns cosméticos no rosto de forma a disfarçar o abatimento. Por fim
preparou uma xícara de chá e levou-a para a sala.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Mal sentara no sofá e tomara um gole da bebida, Rose foi


interrompida pelo toque do telefone. Atendeu, certa de que fosse James, mas
ouviu novamente aquela voz sussurrada.
Bateu o telefone, mas não com tanta rapidez que não desse para
ouvir o clique do outro lado.
Quando a campainha soou, Rose desceu correndo a escada, mas
parou bruscamente no último degrau ao encontrar uma nova rosa.
Abriu a porta com o rosto banhado em lágrimas. Ao vê-la, James
ficou estático.
— Meu Deus, Rose, o que aconteceu?! — Ao vê-la se abaixar e
apanhar a rosa, ele não disse mais nada. Tomou-a nos braços, encostou a cabeça
dela em seu ombro e murmurou palavras de conforto acarinhando seus cabelos
enquanto esperava que ela desabafasse.
Passados dois ou três minutos, James carregou-a para o
apartamento. Sentou-se no sofá e manteve-a em seu colo, sem parar de lhe afagar
os cabelos.
— Sente-se melhor agora? — perguntou quando ela finalmente
parou de chorar.
Rose fez que sim com a cabeça e enxugou as lágrimas com os
dorsos das mãos.
— Desculpe a cena. Foi um dia exaustivo que terminou com mais
uma daquelas ligações. A rosa foi a gota d'água. — Ela tentou sorrir. — Devo
estar horrível.
— Não, não está. É uma mulher adorável e, infelizmente, não sou o
único que pensa assim.
Rose franziu o cenho.
— Por que está dizendo isso?
— Passei por aqui para vê-la ontem à noite, assim que cheguei, e a
surpreendi nos braços de um homem que me pareceu ser Mark Cummings.
— Sim, era ele. Mark me acompanhou até em casa e me ajudou
com os livros. — Interiormente, Rose sentia-se eufórica.
— Por que não se aproximou? Fiquei esperando durante horas.
— Por um telefonema meu? — James deu um leve sorriso.— Se eu
tivesse ligado, provavelmente acabaríamos brigando. Como acha que eu me senti
ao vê-la beijando outro homem?
— Foi apenas um beijinho de boa-noite — Rose disse, provocante.
— Mark é um velho amigo.
— Isso não lhe dá o direito de beijar minha esposa.
— Eu não sou...
— Oh, sim, você é! Ainda sou seu marido e você ainda é minha
esposa, Rose Sinclair. E ainda tenho o direito de fazer amor com você.
Os olhares se encontraram. Rose sentiu que James estava excitado.
Seu coração começou a bater mais forte. A saudade, a necessidade de um contato
físico e o amor por James mesclados ao medo que a vinha atormentando
quebraram por completo a resistência de seus nervos. Mesmo que tivesse de se
arrepender depois, ela queria James aquela noite. Queria-o demais. E não faria

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

nada para afastá-lo.


James entendeu o silêncio como um gesto de concordância. Sem
mais necessidade de palavras, fechou os olhos e beijou-a com o mesmo ímpeto e
urgência de um náufrago ao se agarrar a sua tábua de salvação. E Rose
correspondeu ao beijo com igual ardor. As mãos e os lábios se acariciavam em
um dueto de amor que foi crescendo e crescendo até Rose suplicar para que
parassem.
— Não posso! — James gemeu. — Não posso mais esperar! Com
um novo beijo, James calou seus protestos e a fez apagar todas as dúvidas que
ainda tentavam resistir em sua mente.
Antes que conseguissem falar, James ergueu Rose nos braços e a
carregou para o quarto. Deitou-a delicadamente na cama e em movimentos não
tão gentis livrou-os do resto das roupas.
Juntos, agora, em pleno contato de corpos, pele contra pele, James
sussurrou no ouvido de Rose.
— Há muito tempo para ser recuperado. E, desta vez, não terei
pressa. Quero ir bem devagar e saborear cada segundo, cada detalhe desse nosso
encontro.
James fez amor com Rose do jeito com que ela tantas vezes sonhara
e ansiara. Levou-a às alturas até que a união se transformou em puro êxtase.
— Agora diga que não me ama mais, se for capaz — James a
obrigou a encará-lo, ainda dentro de seu corpo.
O encanto foi quebrado como um frágil cristal.
— Então era disso que se tratava? De orgulho?
— Não inteiramente. Sinto que você me corresponde. Não me
entrego a fantasias sexuais porque o que temos é real. Cheguei a pensar muitas
vezes que não podia ser tão bom quanto eu me lembrava. Enganei-me. Não só
continua bom, mas até melhor. — De repente, James voltou a ficar sério. —
Porque nunca foi apenas físico. É por isso que preciso saber, Rose, se você ainda
gosta de mim.
De que adiantava mentir?
— Sim, eu ainda gosto de você.
Um beijo maravilhoso pôs fim à conversa. Quando voltou a falar,
James agiu com a descontração normal entre dois amantes que acabavam de
viver bons momentos.
— O que gostaria de comer? Deve estar faminta como eu.
— Temos três opções. — Rose indicou três dedos. — Um, ligar
para o Orsini e esperar cerca de uma hora até que entreguem o jantar. Dois, você
pode sair e comprar peixe com batatas ou três, ficar aqui, preparar ovos com
bacon e comer em cinco minutos.
— Que acha da terceira opção?
Alguns minutos depois, Rose e James estavam se deliciando com
uma omelete de bacon e cogumelos acompanhada de fatias de pão.
— E agora, o que faremos? — James perguntou quando terminaram
de comer. — Podemos continuar aquela conversa?
Rose aceitou o convite, mas em vez de conversar, deitou a cabeça

80
Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

no ombro de James e se entregou ao aconchego de seu abraço.


— Isso significa que você mudou de idéia sobre o divórcio? —
James a segurou pelo queixo para que o encarasse.
— Você quer que eu mude?
— Por que acha que eu não tenho lhe dado paz? — James brincou.
— Por outro lado, tenho receio de que nosso trabalho pode representar um
problema. Não posso sair de Londres.
— Isso não representará problema — Rose se apressou a responder
—, porque, desta vez, não precipitaremos as coisas.
James pestanejou.
— Não sei se gosto de sua sugestão. Já perdemos tempo demais.
— Não sou mais aquela adolescente imatura, James. Tive de
aprender a ter bom senso, quisesse ou não.
— Não quero saber de bom senso — James retrucou. — É hora de
você nos compensar pelo tempo de separação a que nos obrigou.
Rose respirou fundo. — Antes, precisamos nos conhecer outra vez.
— Por quê? Agora somos adultos e aprendemos a ser mais
responsáveis
—Não estou falando em responsabilidade. — Rose acariciou-lhe
suavemente a face. — Ninguém poderia ter sido mais responsável do que você,
há dez anos, quando o procurei em desespero.
James ficou muito sério.
— Não fiz nada de mais, Rose. Sabia que você não tinha a quem
recorrer. Jamais lhe recusaria ajuda.
— E você jamais conseguirá imaginar quanto me senti grata a você
e também culpada por lhe causar problemas às vésperas dos exames. — Rose
sorriu. — Conhecia sua fama. Você sempre preferiu os livros às garotas.
— Até conhecer você. — James tornou a beijá-la. — E antes que
pergunte, nunca houve outra mulher em minha vida. Em especial, quero dizer.
Saio de vez em quando para uma aventura. Mas isso acabará no instante que você
voltar para mim.
Por maior que fosse a tentação, Rose resistiu.
— Viver com alguém não é fácil.
— Embora por pouco tempo, fomos muito felizes quando ficamos
juntos — James lembrou.
— Talvez porque o tempo foi curto.
— Então, vamos recuperar o que perdemos o quanto antes —
James insistiu.
— Não tão depressa. Vamos namorar um pouco primeiro. Podemos
nos encontrar socialmente, sair para jantar...
— Está dizendo que concorda em ser vista comigo?
— Sim.
— Aleluia! — James exclamou. — Aqui também? Ou estava se
referindo apenas a Londres?
— Nos dois lugares. — Rose sorriu, insinuante. — O que me diz?
— Em que condição você me apresentaria em Chastlecombe?—

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

James quis saber. — Oficialmente como seu marido?


— Ainda não me decidi a esse respeito — Rose respondeu com
franqueza.
— Rose! — James protestou. — Eu sou seu marido.
— Apenas no papel — Rose lembrou. — Desta vez, quero ter
certeza sobre o que estamos fazendo. — Ela corou. — Não adianta sermos
compatíveis apenas com relação ao sexo.
— Sobre isso, nunca houve a menor dúvida — James sussurrou e
olhou-a de um jeito que até que se dessem conta da avalanche de sensações que
os dominou, a madrugada já havia invadido a noite.
— Quando terá de retornar a Londres? — Rose perguntou,
aconchegada ao ombro de James.
— Amanhã, o mais tarde que puder. Quero passar o máximo de
tempo possível com você.
Rose fitou-o, marota.
— Nesse caso, é meu convidado por todo o domingo.
James e Rose dormiram até tarde. Quando acordaram, prepararam juntos o
café da manhã e voltaram para a cama para tomá-lo.
— Você guardou nossa aliança de casamento? — James quis saber.
— Lógico que guardei. Apesar de não usá-la, jamais me desfaria
dela. Nunca mais a coloquei no dedo. Talvez não sirva mais.
— Se não servir, mandaremos alargar ou eu lhe comprarei outra.
— Não quero outra — Rose declarou.
— Quando pretende voltar a usá-la?
— Quando começarmos a nos apresentar em público. Não existe
mais razões para segredos, não é?
James levantou e retirou a bandeja. Apesar do cuidado que tiveram,
os lençóis estavam cheios de migalhas;
— Terá trabalho extra, Rose. Espero que não se importe — James
se referiu à troca da roupa de cama.
Rose piscou, provocante.
— Esse tipo de cansaço é muito bem-vindo. — Ela abriu os braços
em um convite para que James voltasse para a cama. — Além disso hoje é
domingo e tenho muito tempo disponível.

CAPÍTULO XII

Era tarde da noite quando James finalmente encontrou coragem


para se despedir. Assim mesmo, Rose não conseguiu conciliar o sono. Parecia
uma alma penada. Ligou a televisão e desligou-a em seguida. Abriu o jornal e
tornou a fechá-lo. Fez o mesmo com um livro. Só conseguiu se acalmar quando o
celular tocou e ela ouviu a voz de James.
— O que ficou fazendo depois que eu saí?
— Nada de interessante.
— Ao contrário de ontem à noite... — James murmurou, sugestivo.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Sim, ao contrário de ontem à noite — Rose admitiu com um


suspiro que provocou uma risada de prazer do outro lado.
— Não imagina como é bom ouvir isso. Ruim será o intervalo entre
este e o próximo encontro. Infelizmente terei de ir para Boston na quinta-feira e
só voltarei na outra semana.
Duas semanas!
— Você se importa, James, se eu for para aí na próxima vez?
Gostaria de saber onde você vive.
Fez-se silêncio por um momento.
— Sua visita não poderia ficar para outra ocasião?
— Claro. Por que não? — Rose respondeu, imediatamente
apreensiva.
— Você se ofendeu.
— Por que me ofenderia? — Rose retrucou em um sinal de que
James havia interpretado corretamente a situação. — Ficará para outra vez. Ou
não. Vai depender.
— Pare com isso, Rose! Eu só queria que o apartamento estivesse
em ordem para recebê-la.
Rose mordeu o lábio. Era óbvio que James queria ter certeza de
apagar todos os vestígios deixados por sua última aventura.
— Não se |preocupe. Foi apenas uma idéia.
James respirou fundo.
— Espero-a no sábado, Rose, daqui a duas semanas. Dê um jeito de
vir.
As segundas-feiras costumavam ser movimentadas, e aquela não foi
uma exceção para alívio de Rose que teve a oportunidade do esquecer por
algumas horas as emoções que a assaltaram durante todo o fim de semana.
Embora não quisesse admitir, a inesperada conversa com James ao
telefone a deixara profundamente perturbada.
— Liguei para me desculpar — ele disse sem preâmbulos, ao final
da noite.
— Sobre o quê?
— Sobre o modo como recebi a notícia de sua visita.
— Realmente foi lastimável, mas vamos esquecer, está bem?
— Não se atreva a me deixar esperando — James a interrompeu. —
Contratei uma empresa para limpar a casa neste fim de semana, assim no
próximo poderei recebê-la. Ficarei contando os dias. A que horas pretende
chegar?
— Poderei ir na sexta à noite, se você quiser — Rose sugeriu, com
cautela.
— Claro que quero! — James afirmou. — Mas como não sei a que
horas conseguirei me livrar do trabalho, providenciarei uma cópia da chave para
você e a deixarei sob o capacho de modo que possa entrar e me esperar se chegar
primeiro. Sua amiga dará conta da livraria sozinha?
— Minha tia ficará em meu lugar. Ela própria se ofereceu. Minerva
gosta de colocar as mãos na massa de vez em quando para não perder o costume.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Rose, você não sentirá falta de seu trabalho na livraria quando


ficarmos juntos?
— Possivelmente.
— O bastante para se arrepender?
— Não.
— Então diga outra vez que me ama.
— Quantas vezes terei de repetir até que se convença?
—Muitas.
— Está bem. Além de dizer, eu lhe mostrarei quanto em nosso
próximo encontro.
Por sorte, James ligou quase todas as noites e Rose não teve chance
de pensar que, talvez, houvesse sonhado e que sua felicidade não fosse real.
A tensão era tanta quando desembarcou do trem na estação de
Ealing Broadway que sua cabeça latejava. E o mal-estar não melhorou durante o
trajeto de táxi até a residência de James.
Entrou, pouco à vontade, deixou a maleta no hall e se pôs a
examinar os cômodos.
A sala de estar era espaçosa com piso de tábuas coberto por alguns
tapetes. O sofá e as poltronas eram revestidos de tecido cor de areia e cortinas
claras protegiam a janela ampla que dava para um pequeno jardim. Havia
prateleiras com livros e um quadro a óleo sobre a lareira. Retratava um pôr-do-
sol sobre um lago nas montanhas escocesas.
Subitamente, Rose deu-se conta de que estava gostando daquele
lugar e de que adoraria viver ali.
Após uma breve hesitação, resolveu subir e examinar o andar de
cima. A dor de cabeça estava mais forte e a levou a procurar algum tipo de
analgésico no armário do banheiro.
Antes não o tivesse feito. Ao lado de produtos básicos de
primeiros-socorros e artigos masculinos de toalete, havia uma caixa de
absorventes e um vidro pela metade de um caro perfume francês feminino.
Saiu do banheiro, sufocada por uma onda de náusea. Não queria se
sentir assim. Não tinha esse direito. Após dez anos de separação, o que esperava?
De volta ao quarto, Rose olhou para os dois porta-retratos sobre a
camiseira. Em um, James estava sozinho, de uniforme escolar. No outro, James
estava entre o pai e a mãe. Os dois olhavam para o filho com tanto afeto que
Rose sentiu um nó na garganta. Havia uma terceira foto, mas estava virada para
baixo. Era de uma mulher jovem, de cabelos loiros, e vestido preto. Estava
sentada em um sofá que parecia ser o que James possuía em sua sala de estar.
Um barulho no andar de baixo lhe chamou a atenção. Colocou a
foto de novo no lugar, sentindo-se culpada, e correu ao encontro de James. Ao
vê-la, ele largou a pasta no chão e abriu os braços.
— Deus, que saudade! — ele disso depois de lhe dar um longo
beijo. — Admito que receava não encontrá-la aqui.
Rose afastou-se para fitá-lo.
— Sua falta de entusiasmo realmente quase me fez desistir.
— Foi o que imaginei, por isso resolvi dar um jeito de preparar a

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

casa para recebê-la. Por falar nisso, já teve tempo de conhecê-la?


— Em parte. — Rose resolveu omitir sua descoberta. — Deve ter
achado meu apartamento um cubículo em comparação ao seu.
— Você estava lá, Rose. Não consegui reparar em mais nada. —
James olhou ao redor. — O pessoal da limpeza parece ter feito um bom trabalho.
Colocaram as capas novas nas poltronas que Alex deixou ao se mudar. Agora,
estão combinando com o sofá. Mas se você preferir, compraremos tudo novo, é
claro. Aliás, também, podemos procurar outra casa...
— Não. Adorei este lugar. — Rose ergueu o rosto em um convite a um
beijo e se obrigou a esquecer a mulher da foto.
James a levou para a sala de jantar que ainda não contava com
móveis e para o escritório que ficava nos fundos.
— Quando comprei a casa, resolvi dividi-la com Alex para
amenizar a despesa. Eu fiquei com o andar de baixo e Alex com a parte de cima.
— James começou a subir a escada. — Agora, a casa é toda minha. — Eles
entraram no quarto e olharam para a cama. No mesmo instante, James virou-se
para Rose. — Por favor, não me faça esperar mais.
— Não tão depressa — Rose respondeu. — Primeiro me diga
quem ela é. — Rose foi até a camiseira e apanhou a foto, incapaz de se controlar
mais. — Foi por causa desta mulher que você não quis que eu viesse? Ela ainda
estava morando aqui?
James olhou para a foto e seus olhos tornaram-se frios.
— Não, não estava. Que espécie de homem pensa que sou?
— Após dez anos, como posso saber? — Rose aguardou por uma
resposta confortadora. Como não a recebeu, continuou.
— Ela é uma de suas aventuras? Ela é Alex?
— Nenhuma das duas coisas.
— Então, por que o segredo?
— Eu só tive um segredo em minha vida. Você. Portanto, para
haver chance de um futuro juntos, é preciso que confie em mim.
— Isso não é justo!
— A vida não é justa. Aprendi isto com você. Rose pestanejou.
— Eu estive aqui em cima antes de você chegar. Estava com dor de
cabeça e tentei encontrar um comprimido. Achei perfume e outras coisas de
mulher em seu banheiro.
— De uma vez por todas, Rose, não foi por causa dela que eu não
quis que você viesse. Pela simples razão que eu não me envolvi com nenhuma
outra mulher depois da última vez que te vi.
— Você nunca me perdoou, não é, James? — Rose continuou como
se James não houvesse falado. — Se ainda sente raiva de mim, porque me
procurou e fez amor comigo? Para me castigar?
— Quando fui a sua procura, não tinha intenção de fazer amor com
você — James confessou, amargo. — Fiquei com raiva de mim mesmo por
desejá-la. De repente, ocorreu-me a possibilidade de lhe dar o troco. Fazê-la
perder a cabeça por mim da mesma forma que me fez perder a cabeça por você.
Rose sentiu um arrepio gelado lhe subir pelas costas.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Eu estava certa, não é? Você só queria vingança. Aquela


conversa sobre desistirmos do divórcio, sobre vivermos juntos e voltar a usar
alianças foi apenas uma armadilha.
— Não, não foi — James protestou, mas Rose encarou-o com tanto
desdém que ele não se alongou em explicações.
— Se não for muito incômodo, gostaria que chamasse um táxi para
mim.
— É isso que você quer?
— Não era o que eu pretendia fazer, mas em vista das
circunstâncias parece-me a melhor medida a tomar.
James suspirou.
— Vamos conversar.
— Tarde demais para isso — Rose retrucou e se encaminhou para a
porta, mas James a deteve.
— Não vá embora, Rose.
— Por que não? Você já se divertiu o suficiente comigo, James
Sinclair. Guarde seus malditos segredos e faça bom proveito deles.
— Oh, pelo amor de Deus! — James exclamou. — Alex é homem.
A mulher da foto é sua namorada. Ela vivia por aqui. O perfume deve ser dela. O
pessoal da limpeza deve ter encontrado a foto caída em algum lugar e achou eu
seu lugar era sobre a camiseira.
A dor de cabeça de Rose chegou ao ponto de impedir seu
raciocínio. Um súbita náusea a invadiu o ela precisou correr para o banheiro.
Quando saiu, estava tão pálida que James fez menção do ampará-la.
— Não se assuste. Estou bem — ela mentiu.
— Aceita uniu xícara de chá?
— Sim, obrigada.
James a fez descer o deitar no sofá enquanto preparava o chá.
— Está em condições de conversar agora? — James perguntou
depois de Rose ter tomado todo o chá.
— Acho que sim.
— Nesse caso, vou explicar tudo desde o começo. — Ele respirou
fundo e segurou a mão de Rose. — Jamais consegui esquecê-la. Toda a vez que
conhecia uma garota, tentava me apaixonar por ela para afastar você de meus
pensamentos, mas nunca tive sucesso. Então, quando recebi sua carta, disse a
mim mesmo que iria vê-la só para me certificar de que após dez anos, não
sentiríamos mais nada um pelo outro.
James hesitou.
— No entanto, os dez anos desapareceram cm uma fração de
segundo quando meus olhos pousaram cm você. Jurei, naquele momento, que o
plano seria revertido. Que, dessa vez, seria o contrário. — James balançou a
cabeça. — Como fui idiota!
— Não. Seu plano teve total sucesso — Rose o contradisse.
— A razão por eu ter tentado evitar sua vinda tem a ver com a
superstição instintiva dos escoceses. Eu queria ter certeza de que quando você
viesse a minha casa seria para ficar. Porque o feitiço virou contra o feiticeiro,

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Rose. Fui eu que me apaixonei por você outra vez. E agora, parece que eu estava
certo. Você não quer mesmo ficar?
— Mal como estou me sentindo, acho melhor voltar para casa.
— Mas, Rose, eu te amo. Eu quero... James tentou abraçá-la, mas
ela o impediu.
— Não, James. Eu realmente não estou me sentindo bem. Além
disso, você não me perdoou de coração.
Nada a fez voltar atrás de sua decisão. Meia hora mais tarde,
quando insistiu que James lhe chamasse um táxi, ele fez uma nova proposta.
— Continua tão obstinada quanto antes. Mas se realmente quer ir,
eu a levarei.
O tráfego estava intenso como era normal nas noites de sexta-feira.
Até que James parasse o carro atrás da livraria, a tensão chegava à beira do
insuportável.
James entrou no apartamento com ela. No momento em que
colocou a maleta sobre o sofá, Rose o dispensou.
— Por favor, não torne a me procurar. Preciso ficar sozinha por um
tempo.
— Você não está bem. Só irei embora depois que um médico a
examinar.
— Não é preciso. Prometo que marcarei uma consulta, amanhã, se
acaso não estiver melhor.
Os dois ficaram se olhando em silêncio por um longo tempo.
— O que foi que deu errado, Rose?
— Um mal-estar. Um enjôo que acabou com qualquer clima de romance e
que requer privacidade.
James respirou fundo.
— Como posso voltar a Londres com você desse jeito?
— Por favor, não insista, James.
Dessa vez, James a deixou. Desceu correndo a escada e saiu
batendo a porta.
Rose se obrigou a descer em seguida e trancar a porta. Depois ligou
para Minerva para avisá-la de sua volta e de sua necessidade de ir a um médico
no dia seguinte.
James ligou assim que chegou em Londres.
— Precisamos conversar.
— Dê-me um tempo.
— Quanto?
— Uma semana. Talvez duas.
— Se sente necessidade de ficar tanto tempo longe de mim, talvez
devesse se ater ao plano original e dar entrada no processo de divórcio — James
retrucou com rispidez e desligou.
Passados dois dias sem que James tentasse uma nova comunicação,
Rose começou a pensar que ele falara sério sobre se separarem.
— Não entendo por que você mandou que ele se afastasse — disse
Bel. — Basta vê-los juntos para saber que foram feitos um para o outro.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

Se fosse honesta consigo mesma, Rose admitiria que não esperava que
James fosse seguir ao pé da letra.O resultado foram duas noites mal dormidas que
resultaram em profundas olheiras.
—Você está com um aspecto terrível, Rose — disse a tia após o
almoço do domingo, quando Henry as deixou sozinhas.
— O que houve?
— Estou grávida.
Minerva deu um salto da cadeira e segurou o rosto da sobrinha com
as mãos.
— Tem certeza?
— Absoluta. James casou comigo por causa do um alarme falso.
Esperei até ter certeza desta vez. Fiz o teste o deu positivo
— A notícia não a deixou feliz? — Minerva apertou a mão de Rose,
preocupada.
— Fiquei feliz pelo bebê, mas meu problema com James tornou-se
ainda mais complicado. Da última vez que falamos, ele estava furioso comigo.
Quando fui à Londres, já sabia que estava grávida e pretendia dar a notícia, mas
tivemos uma briga. — Os olhos de Rose ficaram marejados lágrimas. — A
responsabilidade sobre a gravidez é toda minha.
— Não concordo — Minerva disse categórica— Metade da culpa é
sua, metade de James.
— Eu não contei a ele que parei de tomar pílula, — Rose assoou o
nariz. — Oh, eu queria que decidíssemos ficar juntos porque não podemos mais
viver um sem o outro, não por causa de um senso de dever.
— Ele te ama?
— Diz que sim.
— Você o ama?
— Sim. Se não o amasse, não estaria nessa situação insuportável —
Rose se pôs a soluçar.
Rose passou o resto do domingo na cama. À noite, quando o celular
tocou, ela atendeu, esperançosa.
— Como você está? — Ao ouvir a voz de James, Rose fechou os
olhos em agradecimento.
— Melhor.
— Graças a Deus! Olhe, Rose, isso já foi longe demais. Não estou
conseguindo nem sequer trabalhar de tanto pensar em você.
— Sinto muito — disse Rose com um sorriso nos lábios.
— O prazo que você estipulou acaba agora!
— Está bem.
— Finalmente você concorda comigo! Estarei aí no sábado à noite
e espero que reserve todo seu tempo para mim.
Rose enxugou as lágrimas que insistiam em deslizar pelo seu rosto.
— Ele será todo seu.
— Até lá, quero que tenha em mente algo muito importante.—
James pigarreou. — Eu te amo, sempre te amei e sempre te amarei.
Rose fechou os olhos e dormiu como um bebê. No dia seguinte, Bel

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

não precisou perguntar. A melhora de sua chefe era evidente.


James ligou do carro para avisar que estava a caminho e que
chegaria por volta das sete.
Com o apartamento limpo e arrumado e o jantar pronto, Rose se
dirigiu ao quarto às sete horas para se certificar de que a maquilagem estava
perfeita e de que os cabelos estavam em ordem.
Encontrava-se diante do espelho quando ouviu barulho de vidro
estilhaçado. No mesmo instante, desceu para a loja para verificar a vitrine. Como
não encontrou nada de errado, decidiu abrir a porta para checar o lado de fora.
Não conseguiu reprimir um grito de susto quando viu James
segurando um jovem que tentava se soltar. — Não tenha medo, querida — ele
disse. — Por sorte consegui ser pontual e descobrir a identidade de seu
perseguidor quase ao mesmo tempo que você.
Rose mal conseguia acreditar em seus olhos.
— Marcus?
— Imaginei que era alguém conhecido — James declarou.
— Ele estava colocando uma rosa por baixo de sua porta no
instante que cheguei.
— Tire suas mãos de cima de mim! — Marcus gritou, colérico.
— Eu não cometi nenhum crime!
— Você estava aterrorizando minha esposa!
— Solte-o, James — Rose pediu. — Marcus é filho de Anthony
Garrett.
— Que absurdo! — James soltou o rapaz e encarou-o com
desprezo. — Eu estava trancando o carro quando vi o pequeno idiota. Consegui
apanhá-lo, mas deixei cair a garrafa de champanhe que trouxe para nosso
encontro.
Rose respirou, aliviada.
— Então foi disso o barulho que ouvi. — Rose ficou olhando para
o filho de Anthony sem saber o que fazer. Mal o conhecia. Não tinha idéia de
como lidar com a situação. — Por quê, Marcus?
De vermelho, o garoto ficou pálido.
— Não queria lhe fazer mal...
Rose fez sinal para que James se afastasse e colocou o braço ao redor dos
ombros do filho de Anthony.
— Por que não vai ao supermercado e compra uma garrafa para substituir
a que quebrou, James?
Embora a contragosto, James acatou o pedido. Rose levou o rapaz
para seu escritório e lhe deu um copo d'água.
— Você vai contar a meu pai? — Marcus quis saber. Rose encarou-
o, muito séria.
— Não.
— Não? Vai guardar segredo de seu noivo? — O garoto se deteve e
arregalou os olhos. — Ei, aquele sujeito disse que você era sua esposa!
— Sim.
— Mas você e meu pai vão casar!

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Meu marido e eu ficamos separados por um longo tempo, mas


resolvemos voltar. Isso significa que não posso mais ver seu pai. Por isso, o que
aconteceu não precisa sair daqui. Não pretendo falar nem com seu pai nem com
sua mãe, mas sob uma condição: que você prometa não amedrontar mais
ninguém.
Marcus prometeu, envergonhado. Depois ergueu o rosto, olhou para
Rose e sorriu.
— Você é legal. Não estou triste que esteja tudo acabado entre você
e meu pai. Você é nova demais para ele. Além disso, estou tentando fazer com
que ele se reconcilie com minha mãe.
— Vocês irão se encontrar esta noite?
— Ele está me esperando no King's Head. Deve estar preocupado
com meu atraso.
Rose abriu a porta do escritório no mesmo instante que James
entrou pela porta principal.
— Já chamou a polícia? — ele quis saber, olhando feio para o
garoto.
— Não será preciso, não é, Marcus? — Ele fez que não com a
cabeça.
— Obrigado. Espero que me perdoe. — O garoto olhou para Rose
como se ela fosse uma deusa. — Adeus, sra...
— Sra. Sinclair — disse James e fez sinal para que Marcus o
seguisse. Quando voltou para junto de Rose, abraçou-a como se não se vissem
havia muito tempo. — Você está bem?
— Estou. Apesar de tudo, estou aliviada por ter sido Marcus e não
um lunático.
— É verdade. — James beijou-a e, para surpresa de Rose, ergueu-a
nos braços e carregou-a para cima.
— Ei, eu não estou mais doente.
— Ainda bem. De qualquer forma, gosto de tê-la em meu colo.
Rose decidiu, naquele instante, que não poderia esperar até que jantassem para
resolver a situação de uma vez por todas.
— James, antes de nos empolgarmos demais, há algo que você
precisa saber.
— Há? — James disse com tanto entusiasmo que Rose hesitou,
surpresa.
— Sinto que o problema tenha se repetido — ela murmurou corada
até a raiz dos cabelos —, mas, desta vez, estou realmente grávida.
— Eu já sabia, querida. — James a segurou pelo queixo e depositou
o mais doce dos beijos em sua boca. — Só estava esperando você me contar.
— Como descobriu? — Rose indagou, perplexa.
— Sua tia me contou. Eu não me conformei em ficar longe de você.
Estava morrendo de preocupação e liguei para sua tia para pedir notícias suas,
embora ainda não a conheça.
Rose não sabia se ria ou se chorava. Preferiu rir. James
acompanhou-a e eles se abraçaram.

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Sabrina 1201 Não me peça para voltar Catherine George

— Muito bonito! Passei o dia ensaiando como lhe dar a notícia e


você já sabia!
— Rose, confesso que estava decidido a ir fundo em meu plano de
fazê-la apaixonar-se por mim, mas juro que não fiz isso de propósito. Por outro
lado, admito que estava louco demais por você aquela noite para me lembrar de
usar uma proteção.
— Como eu. Não tive a menor chance aquela noite de me lembrar
que nunca mais tomei pílulas. Quanto a seu plano de fazer com que eu me
apaixonasse por você, James Sinclair, saiba que ele foi completamente
desnecessário, porque eu nunca deixei de te amar.
Muitos beijos foram trocados. Algum tempo depois, James afastou
Rose e olhou em seus olhos.
— Está feliz pelo bebê?
— Estou em estado de graça! Já queria nosso bebê dez anos atrás.
— Rose parou de falar ao ver lágrimas nos olhos de James. — Como está se
sentindo, papai?
James precisou de tanto tempo para demonstrar sua felicidade que
era tarde da noite quando se lembraram de jantar.
— Quando poderá ir para Londres e ficar comigo, querida? —
James quis saber.
— Minerva convidou Bel para assumir meu lugar e ela concordou,
mas eu terei de lhe passar o serviço. Depois disso, serei toda sua.
— Você foi minha desde o primeiro momento que a vi.
— Muito antes, eu diria. Bastou eu vê-lo jogando rugby uma tarde
de sábado...
— Você me viu em um jogo? — James interrompeu-a. — Pensei
que tivesse sorteado meu nome dentro de um chapéu.
Rose sorriu, maliciosa.
— Sim, mas acha que eu teria concordado com aquele jogo absurdo
se já não estivesse apaixonada por você? Nós teríamos de escrever nomes
diferentes em cada papel, mas eu escrevi apenas o seu em todos eles.
James deu uma gargalhada e abraçou-a.
— Sua diabinha!
— O destino me fez tirar o nome que Fábia escreveu por
brincadeira, e elas nunca souberam da minha tramóia, mas a verdade é que você
não tinha muita chance, James Sinclair.
— E eu estou reclamando? — James perguntou baixinho e apagou
a luz.

FIM

Agradecimentos:
Ana Paula, Livros corações e Leitoras

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