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SUMÁRIO

1 DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: evolução histórica .......... 3

1.1 A Constituição imperial de 1824 e o contexto histórico que a antecedeu


3

1.2 A progressiva proteção constitucional da criança e do adolescente .... 7

1.3 A tutela dos menores na Constituição de 1988 .................................... 9

2 A proteção integral e sua perspectiva no Estado Democrático Brasileiro . 13

2.1 Políticas públicas ................................................................................ 14

2.2 Proteção integral ................................................................................ 16

2.3 Presença da família ............................................................................ 17

3 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ............................... 19

3.1 A Constituição Federal e o ECA ......................................................... 25

3.2 Código de Menores ............................................................................ 26

3.3 Situação de crianças e adolescentes no Brasil .................................. 26

4 direitos fundamentais da criança e do adolescente .................................. 29

4.1 A Doutrina da Proteção Integral no cenário da infância e adolescência


brasileira 29

4.2 Crianças e adolescentes são sujeitos de direitos fundamentais


especiais 33

4.3 Direito à Vida e à Saúde..................................................................... 35

4.4 Direito à Alimentação ......................................................................... 36

4.5 Direito à Educação ............................................................................. 37

4.6 Direito à Cultura, ao Esporte e ao Lazer ............................................ 38

4.7 Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho ....................... 39

4.8 Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade ................................. 41

4.9 Direito à Convivência Familiar e Comunitária ..................................... 42

I. Convivência familiar ........................................................................... 43

1
II. Convivência comunitária .................................................................... 47

4.10 O plano nacional de promoção proteção e defesa do direito de crianças


e adolescentes à convivência familiar e comunitária ............................................. 48

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 55

2
1 DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.1 A Constituição imperial de 1824 e o contexto histórico que a antecedeu1

No contexto histórico em que foi outorgada a Constituição de 1824, o grande


desafio era a formação do Estado brasileiro com a consequente manutenção da
integridade física do território. Somente entendendo o ambiente político-sócio-
econômico que propiciou a independência e desencadeou a edição de uma
Constituição, é possível entender como foram tratadas as crianças e os adolescentes
pelo referido documento legal.
Destaque-se que a formação do conhecimento está diretamente relacionada
com o momento histórico no qual ele é produzido, partindo da observação do concreto
para fundamentar o trabalho do observador. Tendo em vista a natureza construtiva do
conhecimento, que resulta de operações mentais que representam a realidade
objetiva, tem-se que o resultado dos fenômenos históricos se dá não pela soma de
fatos isoladamente considerados, mas da composição entre esses fatos e as relações
existentes entre eles (PRADO JÚNIOR, 1973, p. 48-53).
Utilizando-se de epistemologia semelhante à da evolução da história, pode-se
aplicar ao pensamento constitucional brasileiro uma perspectiva materialista da
história, entendendo que a escolha do conteúdo da Constituição imperial foi resultado
da opção dos atores envolvidos no processo de elaboração, decorrente do
pensamento da época e da sucessão de acontecimentos que se desencadearam
anteriormente.
O movimento de independência do Brasil foi bem particular, na medida em que
a corte portuguesa se transferiu de Portugal para a colônia, que passou a ser a sede
imperial. Não se tratou somente da vinda da família real, mas de uma corte, que, com
ela, teve de trazer o aparelhamento político e administrativo da monarquia.
A peculiaridade é que, quando da emancipação política, os laços de
subordinação não foram rompidos por meio de luta armada como nas demais colônias
americanas, já que foi o próprio governo metropolitano que laçou as bases da
autonomia brasileira. Na verdade, se for levada em consideração a significação íntima
dos fatos, e não somente seus caracteres externos e formais, a independência

1 Texto extraído do link: revistainterdisciplinar.uninovafapi.edu.br

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brasileira poderia ser contada da transferência da família real, em 1808 (PRADO
JÚNIOR, 2012, p. 42-44).
A repercussão da agitação em Portugal, devido à Revolução do Porto de 1820,
associada às contradições econômicas e sociais decorrentes da incompatibilidade da
manutenção do estatuto colonial concomitante à presença da corte portuguesa na
colônia moveram o período que antecedeu a emancipação política e o movimento
constitucional.
Não se deve olvidar que tal movimento também sofreu influência da Revolução
Francesa, em 1789, em que os valores de liberdade, igualdade e fraternidade
ecoaram nas terras luso-brasileiras e integraram as discussões políticas da época.
Almejava-se a liberdade nas suas diversas acepções que, juntas, definiam uma nova
ordem política. Significava não só libertação do Brasil em relação à metrópole, mas
também expressava liberdade individual, de imprensa, de pensamento e
comunicação. A elite da época buscava uma Constituição liberal, que garantisse o
maior espectro possível de direitos (NEVES, 2003, p. 141-147).
Ao lado desses direitos de liberdade, estavam também a igualdade e a
fraternidade, entretanto articuladas de forma menos enfática que a ansiada liberdade.
Despida de qualquer conotação jurídica ou política, a igualdade não chegava a ser
social, mas apenas perante a lei. De semelhante modo, a fraternidade foi pouco
utilizada, destacando-se sua aplicação para se referir à relação entre brasileiros e
portugueses (NEVES, 2003, p. 156-163), apesar de o projeto da constituinte dissolvida
deixar evidente a vontade de afastar qualquer influência dos portugueses na vida
política nacional, por meio da restrição da participação destes nos quadros
governamentais (PRADO JÚNIOR, 2012, p. 55).
Tinha lugar uma nova denominação: o cidadão. No Brasil, com exceção do
escravo e das mulheres, todos podiam ser considerados cidadãos (NEVES, 2003, p.
182). Estas tinham uma participação na vida política menos expressiva, enquanto
aqueles eram tidos como propriedade, o que não lhes permitia usufruir dos direitos
políticos. Boa parte da população estava alijada do processo político, não tendo sido
contemplada pelos direitos que seriam legitimados.
Muito embora o pensamento conservador defenda que a vontade nacional,
resultado da conjunção das vontades do povo e do imperador, era fundamento do
regime imperial e estava expressa na Constituição (TORRES, 1964, p. 71-72), sabe-

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se que não se pode considerar que houve participação popular no processo e
independência e, por conseguinte, na nova ordem política, de forma que o poder ficou
absorvido pelas classes superiores da antiga colônia (PRADO JÚNIOR, 2012, p. 54).
Por essa razão, não é de gerar estranhamento que os interesses constitucionalmente
tutelados foram da classe que articulou o movimento de independência.
Tais aspectos refletiam a realidade constitucional da época, pois, a despeito de
ser um Estado dotado de um documento formal garantidor de direitos, a atenção
primordial estava no direito de liberdade individual em face do poder do monarca,
exercendo o poder moderador. A existência de um poder central personificado no
imperador é um dos principais elementos de destaque da Constituição imperial,
juntamente com a existência de um senado vitalício (TORRES, 1964, p. 432).
Frise-se que o momento era de consolidação da monarquia constitucional
brasileira, de maneira que o Estado imperial necessitava fincar suas bases. A
ideologia constitucional do século XIX estava voltada, assim, para a formação do
Estado liberal brasileiro, o que implicava que as discussões políticas se centravam na
maneira como se organizaria o Estado, na defesa da integridade territorial do país
emancipado de Portugal e na garantia da liberdade. Como D. Pedro I estava à frente
do Reino Unido a Portugal e Algarves, quando da elaboração da Constituição, e
exercia forte influência política, o regime monárquico permaneceria. O caráter liberal
se daria por meio do sistema da representatividade no tocante à escolha dos membros
da Assembleia Geral, bem como da garantia dos direitos civis e políticos.
A inviolabilidade dos referidos direitos, notadamente de liberdade, igualdade,
segurança individual e propriedade, expressos na Constituição imperial, era garantida
aos homens livres, os quais eram considerados cidadãos. Sendo assim, boa parte dos
habitantes não era abrangida por tais disposições, a exemplo dos escravos. Apesar
de a Constituição imperial não permitir ou vedar expressamente a escravidão, a
interpretação que se extraía do artigo 94, inciso II (BRASIL, 1824), é de que essa
prática era aceita, já que homens libertos – o que faz presumir terem sido escravos -
eram excetuados do rol de eleitores e de eleitos.
Os direitos constitucionalmente garantidos, segundo importante obra que
realizou comentários à Constituição imperial, por quem seria chamado “bandeirante
do direito brasileiro”, eram classificados como direitos naturais ou individuais, civis e
políticos (BUENO, 1857, p. 390). Os direitos individuais, que eram tidos como de

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origem divina, estavam associados à defesa propriedade, liberdade nas suas variadas
manifestações, segurança, igualdade, entre outros. Os civis relacionavam-se à vida
em sociedade e dividiam-se em direitos pessoais, das coisas e das obrigações.
Distinguiam-se dos políticos pelo fato de estes estarem à disposição apenas dos que
faziam parte da vida do Estado, de maneira que os menores de idade e os analfabetos
não eram eleitores e, por isso, não gozavam de mencionados direitos (OLIVEIRA
TORRES, 1964, p. 250).

Fonte: nossacausa.com

No âmbito social, estava-se diante da formação e afirmação de uma classe


burguesa, que constituiria a elite brasileira e tentava se livrar das residuais ingerências
portuguesas na organização da sociedade, muito embora o monarca fosse português
e estivesse no comando das duas nações.
Do ponto de vista econômico, na visão liberal da época, a função do Estado era
garantir a liberdade de ação econômica de maneira eficaz, o que implementava o
patriarcado rural (OLIVEIRA TORRES, 1964, p. 245), confirmando a perspectiva
individualista instaurada após a Revolução Francesa. Como a figura política e
economicamente ativa era o homem, que reunia as características de proprietário,
contratante e pai de família, os demais grupos ficavam à margem da atenção
legislativa. Não havia ainda a preocupação latente de tutelar categorias específicas
de pessoas.

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1.2 A progressiva proteção constitucional da criança e do adolescente

Muito embora a Constituição imperial de 1824 não tivesse tratado dos direitos
de crianças e adolescentes, as mudanças sociais foram caminhando em direção à
necessidade de tutela desses sujeitos. Ainda em 1823, José Bonifácio, em
representação à assembleia geral constituinte e legislativa sobre a escravidão,
apresentou um projeto de emancipação gradual de escravos, no qual chagava a
garantir certa assistência à infância e à maternidade (COSTA, 1998, p. 395).
Entre a colônia e o império, as crianças tinham um papel de pouca visibilidade
na história do Brasil. No âmbito privado, quando ainda bebês, uma vez passada a fase
de amamentação, iniciava-se a segunda fase da infância, que ia até os sete anos.
Nesse período, a criança estava constantemente com os pais nas tarefas do cotidiano,
crescendo à sombra destes, o que só mudaria mais tarde, quando passavam a
desenvolver pequenas atividades, trabalhar, estudar ou aprender algum ofício como
aprendizes (DEL PRIORI, 2010, p. 84).
Relata-se que as crianças eram tratadas como se fossem pequenos animais
de estimação, verdadeiros brinquedos, o que não era encontrado só no Brasil, mas
também nas grandes famílias extensas da Europa ocidental. Para os moralistas do
século XVII, a boa educação era baseada em castigos físicos e palmadas,
contrariando o tratamento cheio de mimos dado pelas mães. (DEL PRIORI, 2010, p.
96-97).
A escravidão e a relação que daí se formou entre negros e brancos foi fato de
significativa importância na formação da sociedade brasileira, tendo sido objeto de rica
pesquisa nacional. Em meio aos debates acerca da abolição da escravidão que
polarizaram as ideias entre escravistas e emancipacionistas, embora o interesse
central discutido não fosse a proteção dos menores, houve um avanço com a edição
da lei 2.040 de 28 de setembro de 1871, conhecida como “Lei do Ventre Livre”.
Concedia liberdade aos escravos nascidos a partir da data de sua
promulgação. Apesar de ser um passo rumo à abolição, tinha efeito mais simbólico
que prático, pois, a despeito de serem considerados livres, estavam sob a
responsabilidade de seus genitores, que ainda eram cativos. Portanto, eram
legalmente livres, mas a efetivação dessa liberdade estava comprometida porque

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mantida a escravidão de seus ascendentes, que só seriam totalmente libertos com a
Lei Áurea, em 1888.
Na época, dava-se o desenvolvimento da indústria brasileira, e a mão-de-obra
feminina e infantil foi largamente utilizada, principalmente na indústria têxtil. As
crianças e os jovens eram recrutados desde muito cedo, havendo a crença de que
deveriam ser preparados para o trabalho e, assim, resolver-se-ia o problema do menor
abandonado e delinquente (RIZZINI, 2010, p. 377). Foi nesse ambiente que, antes da
promulgação da Constituição republicana de 1891, o Decreto nº 1.313, de 17 de
janeiro do mesmo ano, buscou regularizar o trabalho infantil nas fábricas da capital
federal, estabelecendo doze anos como idade mínima para o trabalho e, a partir dos
oito anos, somente na condição de aprendiz.
No mesmo ano, promulgava-se a primeira Constituição republicana, que teve
como principais características o fortalecimento da separação de poderes, o sistema
federativo e a forma presidencial de governo. Em matéria de declaração de direitos,
tratou de acabar com antigos privilégios relacionados aos resquícios de nobreza,
laicizou o Estado, fortaleceu o direito de propriedade já existente na Constituição
imperial, confirmando seu caráter liberal (BONAVIDES; ANDRADE, 1991, p. 251).
Ainda que tenha inovado em alguns pontos, a proteção da infância e juventude restou
esquecida pela Constituição de 1891.
Somente com a Constituição de 1934 são lançadas as bases de um
constitucionalismo social, que inovou o diploma constitucional ao introduzir dois novos
títulos relacionados tanto à ordem social e econômica, quanto à família, educação e
cultura. Esses direitos sociais vieram a somar aos direitos individuais já consagrados
pelos diplomas anteriores. Passou-se a fazer menção ao amparo à maternidade e
infância, no artigo 138, que previu amparo às famílias de prole numerosa, incumbindo
aos três entes federados que adotassem medidas legislativas e administrativas no
intuito de reduzir a mortalidade infantil, além de proteger a juventude contra
exploração e abandono físico, moral e intelectual (BONAVIDES; ANDRADE, 1990, p.
321-325).
Contudo, referida Constituição teve vida curta, devido ao golpe que encerrou
sua vigência e outorgou uma nova em 1937. Esta apresentava caráter autoritário e
centralizado em um Executivo forte, personificado na figura de Getúlio Vargas, que
retrocedeu no campo da defesa de direitos estampada na Carta anterior. O cenário

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nacional só mudaria com a Constituição de 1946, cuja discussões acerca da
constituinte ocorreram em um ambiente de repúdio ao Estado Novo de Vargas.
O título V, que contém os capítulos referentes aos direitos sociais e
econômicos, bem como à família provieram, em sua boa parte, do diploma de 1934.
Garantiu-se, assim, que à família, constituída pelo vínculo indissolúvel do casamento,
seria concedida especial proteção por parte do Estado (BRASIL, 1946, art. 163). Ficou
mantida a previsão da assistência à maternidade e à infância, além de ter sido incluída
a adolescência.
Passou a regular o ensino de maneira descentralizadora e liberal, de forma que
à União incumbia a política nacional da educação, ao passo que aos estados e Distrito
Federal cabia a organização dos respectivos sistemas de ensino (CALMON, 1956, p.
297 e 315-318). Assim, ainda que não houvesse diretamente a estruturação de uma
política voltada para a proteção e o desenvolvimento da infância e juventude, a
atenção a esses sujeitos se estabelecia por meio da atenção à família, educação e
cultura.
Em seguida, o Brasil teria mais uma Constituição de caráter autoritário,
decorrente do golpe militar de 1964, com a retomada da centralização e fortalecimento
do Executivo. O diploma de 1967 manteve os mesmos direitos e garantias individuais,
mas somente do ponto de vista formal, já que, na prática, o exercício desses direitos
estava comprometido pelo regime militar. Golpe mais severo ainda para o
desenvolvimento constitucional foi a emenda de nº 1, de 1969, que efetuou profundas
modificações na Constituição de 1967, adaptando os vários atos institucionais e
complementares (BONAVIDES; ANDRADE, 1991, p. 443).
Esse cenário somente mudaria com a edição da Constituição de 1988, após a
redemocratização que se seguiu a um período de intenso autoritarismo político.
Conhecida como constituição cidadã, devido à gama de direitos e garantias
fundamentais por ela albergados, trouxe o Título VIII, que trata da ordem social, no
qual consta o Capítulo VII, o qual se dedicou à tutela da infância e juventude.

1.3 A tutela dos menores na Constituição de 1988

A partir de 1988, os princípios insculpidos na Constituição Federal deixaram de


ser considerados meros conselhos ou programas políticos, passando a normas

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vinculantes não só da relação dita vertical - entre pessoa e Estado - mas também
horizontal - dos particulares entre si. A Constituição de 1988 foi fundamental na defesa
dos direitos da infância e da juventude, ao elevar a dignidade da pessoa humana a
fundamento da República, e a solidariedade social a um de seus objetivos, além de
colocar a família como base da sociedade.
Calcada nesses pilares, estabeleceu importantes valores que reverberaram na
posição do menor na sociedade. A tutela mais contundente dos direitos das crianças
e adolescentes insere-se no contexto das transformações pelas quais vem passando
o direito de família, como a igualdade entre cônjuges nas relações familiares, bem
como a igualdade entre filhos, independentemente da origem. Verifica-se, assim, a
democratização das relações entre os membros da família.
A família deixou de ser centrada no modelo extraído do sistema de gênero
trazido pelos colonizadores portugueses, que persistiu no século XIX, em que as
relações de gênero eram patriarcais. A família ocupava o centro das relações sociais
baseadas no binário formado entre honra e vergonha, cuja defesa era atribuição do
chefe masculino (BARMAN, 2005, p. 26). As mudanças na família e no poder familiar,
ao longo do tempo, permitiram afirmar a transição de instituição rigidamente
hierarquizada, com estrutura patriarcal e originada exclusivamente do matrimônio a
instituição formada por diversos arranjos, advindos de origens as mais diversas, entre
as quais o matrimônio é apenas uma espécie.
A criança foi reconhecida como pessoa em desenvolvimento, dotada de
dignidade e personalidade. De mera expectadora da vida familiar e cumpridora de
deveres, alçou posição central na família, devendo ter seus diretos protegidos e
promovidos. O pátrio poder, tido como um direito subjetivo a ser exercido pelo pai de
maneira impositiva, passou por transformações que permitem o considerar autoridade
parental, a ser exercida por ambos os genitores no sentido de promover o
desenvolvimento e personalidade do menor.
Nesse sentido renovador da Constituição Federal, referido diploma passou a
prever expressamente a tutela do melhor interesse da criança e do adolescente. Estes
surgiram como sujeitos merecedores de especial proteção, tarefa atribuída não mais
somente à família, mas também ao Estado e à sociedade. Os direitos das crianças e
adolescentes passaram a ser oponíveis também à própria família.

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Ao contrário da antiga visão de que as crianças só teriam os direitos concedidos
pelo pai e na medida permitida por este, o posicionamento atual é de que, por serem
pessoas e, portanto, dotadas de dignidade e personalidade, devem ser protegidas
pelo Estado também contra eventuais abusos da liberdade dos pais. Em oposição ao
modelo patriarcal, em que os filhos não participavam do processo decisivo em relação
às escolhas a ele inerentes, a família atual abre espaço para que os filhos sejam
ouvidos e tenha sua vontade considerada na medida do discernimento e visando ao
seu desenvolvimento.
Nesse sentido é que o poder familiar deve ser entendido como consequência
da parentalidade, uma vez que os pais têm o dever de “assistir, criar e educar os filhos
menores” (BRASIL, 1988, art. 229). Evidencia-se por meio de deveres que
correspondem a direitos titularizados pelos filhos, cujo conteúdo mínimo se encontra
na Constituição (BRASIL, 1988, art. 227), entre os quais figuram os direitos: à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além do
dever de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
Importante inovação constitucional consiste na doutrina da proteção integral,
entendida como o dever da família, do Estado e da sociedade de promover os direitos
desses sujeitos com absoluta prioridade, reconhecendo a necessidade de proteção
especial por serem pessoas em desenvolvimento. Assim, faz-se necessária a
efetivação de direitos fundamentais, que pode ser feita de duas formas: políticas
sociais públicas e tutela jurisdicional diferenciada, que se realizam, por exemplo,
através da participação de entidades sociais na execução de políticas públicas
voltadas à infância e adolescência e da possibilidade do uso de ação civil pública para
defesa de direitos das crianças e dos adolescentes, respectivamente (MACHADO,
2003, p. 140-141).
Em âmbito internacional, A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, e ratificada
pelo Brasil e inserida no plano interno por meio do Decreto nº 99.710, em 21 de
novembro de 1990, também estabeleceu a proteção integral. Isso trouxe para os
países signatários, como o Brasil, o compromisso de implementar as medidas nela
contidas e adequar a legislação interna aos objetivos da Convenção.

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Fonte: www.a12.com

Outro importante instrumento de proteção é o Estatuto da Criança e do


Adolescente que, em conjunto com a Constituição e a Convenção sobre os Direitos
da Criança formam um arcabouço de direitos e garantias em que se sustenta a atual
proteção do menor no Brasil. Não há mais legislações diversas para regular as
crianças em diferentes circunstâncias, separando crianças ditas em situação irregular
daquelas em condições regulares, vivendo no seio familiar. Ademais, efetuou-se a
extensão a essas pessoas dos direitos já constitucionalmente previstos para o cidadão
maior de idade e, em adição a isso, foram criados direitos em espécie, como o direito
à convivência familiar, ao não trabalho e à profissionalização que são direcionados
especificamente a esse público.
Referidas conquistas se apresentam como consequência de um processo
longo de valorização dos sujeitos da família, que vem se desenvolvendo durante anos.
Assim como aconteceu com as mulheres, idosos e deficientes, as crianças vêm sendo
reconhecidas como sujeitos ativos no âmbito familiar, dotados de dignidade e
merecedores de tutela específica.

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2 A PROTEÇÃO INTEGRAL E SUA PERSPECTIVA NO ESTADO
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO2

A teoria da proteção integral, proposta pela Constituição Federal de 1988 e


regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), tem origem
na Convenção Internacional de 1989 sobre Direitos da Criança e do Adolescente. Esta
teoria objetivou esclarecer e propor, a nível universal, quais seriam os direitos que as
crianças e os adolescentes deveriam ter, considerando-os merecedores de proteção
especial e de atenção prioritária por parte da sociedade em geral. No âmbito interno
brasileiro, no que concerne a estes direitos, pode-se constatar que são os mesmos
previstos na Constituição Federal de 1988, nas suas proposições fundamentais, pois,
crianças e adolescentes passaram a ser considerados sujeitos de direito a partir da
promulgação desta nova Constituição, levando em consideração que esta ideia já
estava sendo concretizada também a nível internacional.
A perspectiva da proteção integral, dentro do Estado brasileiro, deve ser
analisada levando em conta a capacidade da família, sociedade e estado na busca da
efetivação dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
O chamado “sistema de garantias” advindo do Estatuto da Criança e do
Adolescente requer um olhar que, ao mesmo tempo, deverá ser globalizante e
unificador, no sentido de haver um trabalho em conjunto com todas as esferas que
lidam com a efetivação de direitos fundamentais de crianças e adolescentes, sendo
que, nestas esferas, incluem-se os poderes públicos (Executivo, Legislativo e
Judiciário), a sociedade em geral e a família.
Segundo Murillo Digiácomo (2013, p.2), o chamado sistema de garantias não
deve ser pensado como algo isolado ou como se cada parte dele fosse totalmente
independente uma da outra e dependente de uma hierarquia entre elas para que se
concretizem os direitos fundamentais; pelo contrário, devem se unir formando um elo
de relacionamento que proporcione um melhor atendimento à população infanto-
juvenil.
Uma das possibilidades para que ocorra esta integração entre os entes sociais,
na realização da proteção integral, passa também pelas políticas públicas
relacionadas à área de proteção e efetivação dos direitos fundamentais, pois, a partir

2 Texto extraído do link: www.periodicos.ulbra.br

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do momento em que todos, inclusive o Estado, são responsáveis por zelar e construir
caminhos que levem ao crescimento e ao desenvolvimento do ser humano, entende-
se que, se não houver investimentos e tentativa de inter-relação nas áreas da
educação, saúde, cultura, trabalho, não haverá desenvolvimento integral do ser
humano e a teoria proposta pela convenção internacional dos direitos da criança não
se concretizará.

2.1 Políticas públicas

As políticas públicas, de acordo com Martha de Toledo Machado (2003, p.137),


vêm pela criação de “instrumentos jurídicos que assegurem essa efetivação”, pois, na
sua base, estão os direitos fundamentais, e, por isso, são necessários.
A respeito desta questão é bem vinda a análise de Denis Pestana (2011, p.31)
quando destaca a importância dos ditames constitucionais a respeito do assunto. O
autor cita o artigo 3º da Constituição Federal que dita os objetivos da República
Federativa do Brasil, o qual inclui entre eles a erradicação da pobreza e da
marginalização assim como a redução das desigualdades sociais. Entende o autor
que, através das políticas públicas, autorizadas e ordenadas a serem criadas por este
ditame constitucional, contribuem para tal intento na medida em que são criadas com
o objetivo da transformação social e que na área da infância e da juventude são
representados pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e pelo Conselho
Tutelar.
Segundo André Viana Custódio (2008, p.22-43), os direitos fundamentais
sociais, para que sejam efetivados, dependem também de uma postura reivindicatória
dos beneficiários na construção de políticas públicas que atendam às demandas e,
por isso, “a família, a sociedade e o Estado tem o dever de assegurar a efetivação dos
direitos fundamentais, ou seja, transformá-los em realidade”. No caso dos Conselhos
Tutelares, é importante que sejam protagonistas nestas ações reivindicatórias, pois
são os representantes da sociedade na busca pela efetivação dos direitos infanto-
juvenis. De acordo com Denis Pestana:

Às vezes, o Conselho Tutelar se depara com a inexistência do serviço público


ou, quando existe, é deficitário, não podendo se omitir e manter o silêncio em
prejuízo dos interesses da criança e do adolescente, mas comunicar por
escrito ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no
sentido de discutir como política essencial e buscar os meios de

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cumprimento, sob pena de omissão; afinal cuida-se de um órgão deliberativo
e controlador das ações nesta área.
É muito comum a presidência do CMDCA receber e não dar a resposta.
Nesse caso, deverá o Conselho Tutelar reiterar pedidos de providências,
inclusive no sentido de pautar para as reuniões futuras do CMDCA o
comparecimento de um representante do Conselho Tutelar para acompanhar
as discussões e, se possível, explicar a razão do requerimento. (PESTANA,
2011, p.135)

A partir da Constituição Federal de 1988, ocorreram mudanças na relação do


Estado com o cidadão. O Estado democrático elevou o indivíduo a um patamar
participativo com o qual pode começar a fazer escolhas em relação ao seu papel
dentro da sociedade. Um dos caminhos desta participação é trilhado pelo cidadão
através da participação da sociedade civil nos chamados Conselhos Municipais. De
acordo com Luciana Tatagiba:

Os conselhos gestores de políticas constituem uma das principais


experiências de democracia participativa no Brasil contemporâneo.
Presentes na maioria dos municípios brasileiros, articulados desde o nível
federal, cobrindo uma ampla gama de temas como saúde, educação,
moradia, meio ambiente, transporte, cultura, dentre outros, representam uma
conquista inegável do ponto de vista da construção de uma institucionalidade
democrática entre nós. Sua novidade histórica consiste em apostar na
intensificação e na institucionalização do diálogo entre governo e sociedade-
em canais públicos e plurais- como condição para uma alocação mais justa e
eficiente dos recursos públicos. (TABAGIBA, 2005)

No que concerne à Criança e Adolescente, a Constituição Federal também


descentralizou a capacidade de atendimento e elaboração de políticas de proteção
que objetivam a participação popular e a aproximação do povo na sua construção. Por
isso, tendo em vista a implementação democrática e participativa da sociedade civil,
implementaram-se, nos Municípios, entre outros conselhos, os Conselhos Municipais
da Criança e do Adolescente que, como dito acima, é composto por representantes
da sociedade civil e governamental e são responsáveis pelas deliberações das
políticas públicas do setor com o intuito de ampliar as garantias individuais destes
sujeitos de direito. O Conselho é órgão captador e criador de parceiros
governamentais e não governamentais com a intenção de ampliar os programas de
atendimento, promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Os Conselhos são criados por lei em todos os níveis de governo, inclusive o
Municipal, e têm autonomia no seu âmbito de competência. Sua composição é
paritária, com o mesmo número de representantes das áreas governamentais e não
governamentais, e suas decisões são feitas através das reuniões do colegiado

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(representantes da sociedade civil e do governo) na qual discutem as possíveis
políticas que poderão se tornar públicas para que possam atender às demandas da
sociedade em geral, no setor da criança e do adolescente. De acordo com Luiz
Antônio Miguel Ferreira (2011, p.98), as decisões tomadas nos Conselhos têm caráter
normativo, que seguem as legislações federal e estadual, porém são em forma de
“portarias, resoluções, pareceres e outros documentos pertinentes, que melhor
orientem as ações e diretrizes a serem desenvolvidas”.
Há de se lembrar que as políticas elaboradas e os envolvidos nesta elaboração
devem estar em consonância com as necessidades da população na qual este
Conselho está inserido, para que essas ações sejam realmente eficazes.
Essa consonância de interesses com a população exige muito mais do que
apenas criar novas políticas; exige, também, uma integração entre os entes estatais
responsáveis por parcelas de atendimento da criança e do adolescente, como, por
exemplo, na área da saúde, da educação, da cultura, trabalho, assim como integrar-
se com os movimentos não governamentais, como os movimentos estudantis, ONGs,
voluntários e todos que se interessem de alguma forma pelo compromisso do cuidado.

2.2 Proteção integral

O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição Federal propuseram


a proteção integral, que significa uma ampla corresponsabilidade entre os entes
sociais a fim de efetivar direitos infanto-juvenis. Assim, se pensarmos nesta
responsabilidade apenas contando com as políticas públicas em sentido estrito, isto
é, aquela feita em gabinete, e que muitas vezes não se torna efetiva, não
alcançaremos o objetivo por lei determinados. Segundo Murillo José Digiácomo (2013,
p.1) dentro do sistema de garantias “o papel de cada um é igualmente importante para
que a proteção integral de todas as crianças e adolescentes, prometida no art.1º, da
lei nº 8.069 de 1990, seja alcançada”.
Uma das possibilidades desta integração, dentro do Estado democrático, em
busca de maior eficácia e efetividade dos direitos fundamentais de crianças e
adolescentes seria a visão e a aplicação desses direitos pela chamada “rede”, que
significa nunca ser isolado, o que seguiria características antidemocráticas. Como
pondera Murillo José Digiácomo, nunca “compartimentado, fazendo com que a criança

16
e o adolescente passe de um órgão, programa ou serviço para outro, cada qual
realizando um trabalho isolado” (DIGIÁCOMO, 2013, p.2), muitas vezes sem a
possibilidade de vislumbrar outras saídas para a resolução de problemas que se
referem a infância e adolescência.
Ainda se referindo às ideias de Murillo Digiácomo (2013, 01-09), o autor declara
que, a chamada rede de atendimento, abrange toda a gama de instituições ligadas à
prestação de garantias de direitos aos infantes, inclusive no que se refere à
assistência social com representação municipal e outras instituições governamentais
como escolas, hospitais, entidades esportivas, de lazer e culturais, assim como as não
governamentais. Esta rede, a qual atualmente, de acordo com Denis Pestana (2011,
p.87), representa uma “pulverização do poder de forma descentralizada”, deverá
desenvolver um trabalho interdisciplinar e cultivar o bom relacionamento entre seus
representantes e a comunidade em prol da criança e do adolescente para que o
intento da realização dos direitos fundamentais seja eficaz.
No Brasil, o trabalho em rede, nas cidades que efetivamente se propõe a
trabalharem neste sentido, como em Porto Alegre, por exemplo, tem reunido com
sucesso instituições e pessoas com objetivos em comum. O padrão organizacional
das redes objetiva a descentralização e torna os serviços mais diretos e dinâmicos,
pois estas características dão aos entes envolvidos mais autonomia e torna as
relações entre todos, inclusive com os cidadãos, mais horizontalizada, buscando
sempre maior eficácia.

2.3 Presença da família

Outra questão importante na discussão seria a presença da família no


processo, pois, como a própria lei determina, no caso, a Constituição Federal (art.
227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) a família está inserida
na corresponsabilidade de efetivação e acompanhamento na aplicação de direitos
fundamentais. Aduz a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 226, que “a família
é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado”, portanto, tem papel
importante no tocante à criação e aproveitamento dessas políticas, pois é dela que
emerge a população infanto-juvenil vitimizada e é para ela que também devem ser
direcionadas estas políticas, na tentativa de criar um esteio familiar que suporte, e

17
que, ao mesmo tempo, evite a agressão aos direitos humanos de crianças e
adolescentes. Há de se lembrar que a família não é considerada a única ou a principal
culpada das agressões, pois o Estado tem responsabilidade no provimento de
políticas que possam melhorar a condição de vida da criança conjuntamente a da sua
família. Tal argumento é autorizado pelo artigo 3º do Estatuto da criança e do
adolescente quando diz que:

[...] é assegurado por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e


facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (ECA, 2011,
art.3º)

O que ocorre, sem este investimento familiar, é justamente a perpetuação das


agressões aos direitos fundamentais, sem a perspectiva da realização da proteção
integral. Esta perpetuação pode ocorrer tanto em nível de não provimento de políticas
públicas pelo Estado como dentro do núcleo familiar. Nesta conformidade, está Murillo
José Digiácomo que diz:

É ainda inadmissível realizar qualquer intervenção junto a uma criança ou


adolescente de forma dissociada do atendimento de seus pais ou
responsável legal, ignorando por completo a importância (e
imprescindibilidade) do papel da família no processo educacional (no mais
puro sentido do preconizado pelo artigo 205, da Constituição Federal) e de
efetivação dos demais direitos infanto-juvenis. (DIGIÁCOMO, 2011, p.2)

Segue na mesma linha de pensamento o jurista João Roberto Elias (2010,


p.187), o qual apregoa que, o Conselho Tutelar, ao atender e aconselhar os pais ou
responsáveis, como dita o inciso II do artigo 136 do ECA, deve estar preparado e
qualificado para poder fazer o melhor encaminhamento aos programas disponíveis
para a infância e juventude no que se refere à educação e à saúde mental. O Conselho
deve perceber, também, na análise do contexto social onde estas crianças e
adolescentes vivem, o que será mais vantajoso para esta família e para esta criança
ou jovem em termos de encaminhamento, para que a medida tenha sucesso em
termos de resultado concreto.

18
Fonte: www.blogadao.com

O mesmo olhar, desta perspectiva global do contexto da criança e do


adolescente, deve ser feito também através das ações dos Conselhos Tutelares, pois
este órgão representa o canal direto entre a criança e a experiência da efetivação dos
direitos fundamentais e, tendo este órgão, contato com o ambiente familiar da criança
e do adolescente, mais fácil e provável será a sua inserção em uma política de direitos
humanos adequada a sua necessidade.

3 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE3

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal (8.069


promulgada em julho de 1990), que versa sobre os direitos das crianças e
adolescentes em todo o Brasil.
Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em partes geral e
especial, onde a primeira traça, como as demais codificações existentes, os princípios
norteadores do Estatuto. Já a segunda parte estrutura a política de atendimento,
medidas, conselho tutelar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais.
A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem distinção de raça,
cor ou classe social, passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e deveres,

3 Texto extraído do link: ambito-juridico.com.br

19
considerados como pessoas em desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta
do Estado.
O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos, proporcionando a
eles um desenvolvimento físico, mental, moral e social condizentes com os princípios
constitucionais da liberdade e da dignidade, preparando para a vida adulta em
sociedade.
O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência
familiar e comunitária para meninos e meninas, e também aborda questões de
políticas de atendimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre
outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados à Constituição da
República de 1988.
Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela compreendida entre doze e dezoito anos.
Entretanto, aplica-se o estatuto, excepcionalmente, às pessoas entre dezoito e vinte
e um anos de idade, em situações que serão aqui demonstradas.
Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, por
qualquer pessoa que seja, devendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente
aos seus direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que a criança e o
adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
em condições dignas de existência.
As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguardar a família
natural ou a família substituta, sendo esta última pela guarda, tutela ou adoção. A
guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional, a tutela
pressupõe todos os deveres da guarda e pode ser conferida a pessoa de até 21 anos
incompletos, já a adoção atribui condição de filho, com mesmos direito e deveres,
inclusive sucessórios.
A instituição familiar é a base da sociedade, sendo indispensável à organização
social, conforme preceitua o art. 226 da CR/88. Não sendo regra, mas os adolescentes
correm maior risco quando fazem parte de famílias desestruturadas ou violentas.

20
Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos, não
constituindo motivo de escusa a falta ou a carência de recursos materiais, sob pena
da perda ou a suspensão do pátrio poder.
Caso a família natural, comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e
seus descendentes, descumpra qualquer de suas obrigações, a criança ou
adolescente serão colocados em família substituta mediante guarda, tutela ou adoção.
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar
e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes.
Por tal razão que a responsabilidade dos pais é enorme no desenvolvimento
familiar e dos filhos, cujo objetivo é manter ao máximo a estabilidade emocional,
econômica e social.
A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são fatores que
interferem diretamente no desenvolvimento das crianças e adolescentes, visto que
não permanecem exclusivamente inseridos na entidade familiar.
Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto que cabe a sociedade, família e ao
poder público proibir a venda e comercialização à criança e ao adolescente de armas,
munições e explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de
conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes.
Cada município deverá haver, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de
cinco membros, escolhidos pela comunidade local, regularmente eleitos e
empossados, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente.
O Conselho Tutelar é uma das entidades públicas competentes a salvaguardar
os direitos das crianças e dos adolescentes nas hipóteses em que haja desrespeito,
inclusive com relação a seus pais e responsáveis, bem como aos direitos e deveres
previstos na legislação do ECA e na Constituição. São deveres dos Conselheiros
Tutelares:
1. Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de proteção.
2. Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medidas pertinentes
previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

21
3. Promover a execução de suas decisões, podendo requisitar serviços
públicos e entrar na Justiça quando alguém, injustificadamente, descumprir suas
decisões.
4. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o Estatuto tenha
como infração administrativa ou penal.
5. Encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes.
6. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas socioeducativas
aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores.
7. Expedir notificações em casos de sua competência.
8. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e adolescentes,
quando necessário.
9. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentaria
para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente.
10. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para que estas se
defendam de programas de rádio e televisão que contrariem princípios constitucionais
bem como de propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à
saúde e ao meio ambiente.
11. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações judiciais de perda
ou suspensão do pátrio poder.
12. Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamentais que
executem programas de proteção e socioeducativos.
Considerando que todos têm o dever de zelar pela dignidade da criança e do
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor, havendo suspeita ou confirmação de maus-
tratos contra alguma criança ou adolescente, serão obrigatoriamente comunicados ao
Conselho Tutelar para providências cabíveis.
Ainda com toda proteção às crianças e aos adolescentes, a delinquência é uma
realidade social, principalmente nas grandes cidades, sem previsão de término,
fazendo com que tenha tratamento diferenciado dos crimes praticados por agentes
imputáveis.
Os crimes praticados por adolescentes entre 12 e 18 anos incompletos são
denominados atos infracionais passíveis de aplicação de medidas socioeducativas.
Os dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente disciplinam situações nas

22
quais tanto o responsável, quanto o menor devem ser instados a modificarem atitudes,
definindo sanções para os casos mais graves.
Nas hipóteses do menor cometer ato infracional, cuja conduta sempre estará
descrita como crime ou contravenção penal para os imputáveis, poderão sofrer
sanções específicas aquelas descritas no estatuto como medidas socioeducativas.
Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, mas respondem pela
prática de ato infracional cuja sanção será desde a adoção de medida protetiva de
encaminhamento aos pais ou responsável, orientação, apoio e acompanhamento,
matricula e frequência em estabelecimento de ensino, inclusão em programa de
auxílio à família, encaminhamento a tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico,
abrigo, tratamento toxicológico e, até, colocação em família substituta.
Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (inimputáveis) que pratica
algum ato infracional, além das medidas protetivas já descritas, a autoridade
competente poderá aplicar medida socioeducativa de acordo com a capacidade do
ofensor, circunstâncias do fato e a gravidade da infração, são elas:
1) Advertências – admoestação verbal, reduzida a termo e assinada pelos
adolescentes e genitores sob os riscos do envolvimento em atos infracionais e sua
reiteração,
2) Obrigação de reparar o dano – caso o ato infracional seja passível de
reparação patrimonial, compensando o prejuízo da vítima,
3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo conscientizar o
menor infrator sobre valores e solidariedade social,
4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o enfretamento da
prática de atos infracionais, na medida em que atua juntamente com a família e o
controle por profissionais (psicólogos e assistentes sociais) do Juizado da Infância e
Juventude,
5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez que exigem dos
adolescentes infratores o trabalho e estudo durante o dia, mas restringe sua liberdade
no período noturno, mediante recolhimento em entidade especializada,
6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extrema do Estatuto da
Criança e do Adolescente devido à privação total da liberdade. Aplicada em casos
mais graves e em caráter excepcional.

23
Antes da sentença, a internação somente pode ser determinada pelo prazo
máximo de 45 dias, mediante decisão fundamentada baseada em fortes indícios de
autoria e materialidade do ato infracional.
Nessa vertente, as entidades que desenvolvem programas de internação têm
a obrigação de:
1) Observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes,
2) Não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na
decisão de internação,
3) Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao
adolescente,
4) Diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos
familiares,
5) Oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda infraestrutura
e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área de lazer e atividades culturais
e desportivas,
6) Reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses,
dando ciência dos resultados à autoridade competente.
Uma vez aplicada as medidas socioeducativas podem ser implementadas até
que sejam completados 18 anos de idade. Contudo, o cumprimento pode chegar aos
21 anos de idade nos casos de internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA.
Assim como no sistema penal tradicional, as sanções previstas no Estatuto da
Criança e do Adolescente apresentam preocupação com a reeducação e a
ressocialização dos menores infratores.
Antes de iniciado o procedimento de apuração do ato infracional, o
representante do Ministério Público poderá conceder o perdão (remissão), como
forma de exclusão do processo, se atendido às circunstâncias e consequências do
fato, contexto social, personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação
no ato infracional.
Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui medidas aplicáveis aos
pais ou responsáveis de encaminhamento a programa de proteção a família, inclusão
em programa de orientação a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a
tratamento psicológico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou programas de
orientação, obrigação de matricular e acompanhar o aproveitamento escolar do

24
menor, advertência, perda da guarda, destituição da tutela e até suspensão ou
destituição do pátrio poder.
O importante é observar que as crianças e os adolescentes não podem ser
considerados autênticas propriedades de seus genitores, visto que são titulas de
direitos humanos como quaisquer pessoas, dotados de direitos e deveres como
demonstrado.
A implantação integral do ECA sofre grande resistência de parte da sociedade
brasileira, que o considera excessivamente paternalista em relação aos atos
infracionais cometidos por crianças e adolescentes, uma vez que os atos infracionais
estão ficando cada vez mais violentos e reiterados.
Consideram, ainda, que o estatuto, que deveria proteger e educar a criança e
o adolescente, na prática, acaba deixando-os sem nenhum tipo de punição ou mesmo
ressocialização, bem como é utilizado por grupos criminosos para livrar-se de
responsabilidades criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa.
Cabe ao Estado zelar para que as crianças e adolescentes se desenvolvam em
condições sociais que favoreçam a integridade física, liberdade e dignidade. Contudo,
não se pode atribuir tal responsabilidade apenas a uma suposta inaplicabilidade do
estatuto da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais são do que o
produto da entidade familiar e da sociedade, as quais têm importância fundamental
no comportamento dos mesmos.

3.1 A Constituição Federal e o ECA

Sob determinação de “prioridade absoluta”, a Constituição versa que os direitos


das crianças devem ser priorizados tanto pelo Estado quanto pela família e sociedade.
Lembrando que a Constituição Federal é a lei suprema em nosso país, o que significa
que nenhuma outra lei pode ir contra o que está determinado nela, portanto, ali já se
determinavam a proteção e garantia dos direitos da infância.
O ECA reforça essa ideia de prioridade absoluta e transformou-se na lei mais
importante relacionada à infância. O Estatuto da Criança e do Adolescente foi
efetivado, e somente possível, por ser um preceito da Constituição Federal, e
instaurado pela Lei 8.069, de 1990.

25
3.2 Código de Menores

Antecedente ao ECA, existia o chamado Código de Menores (CM). O CM


possuía um caráter discriminatório, ele se destinava aos menores em “situação
irregular” e associava a delinquência à pobreza. Os menores considerados
abandonados, carentes ou infratores eram chamados de "inadaptados" - e essas
crianças e jovens tinham sua tutela transferida ao Estado. Eles eram considerados
“entraves” ao desenvolvimento e à ordem pública - e, nem é preciso dizer que eram
“excluídos”.
Esses menores, no período imediatamente anterior à criação do ECA, eram
direcionados às Fundações Nacional e Estadual do Bem-estar do Menor - Fundabem
e Febem, respectivamente. Anterior a isso havia outros tipos de centros de triagem
(nos anos 30) e Serviços de Assistência ao Menor (anos 40 e 50), até serem criadas
as fundações.
Importante salientar que há um histórico, “internações” nesses centros e
fundações, relacionados a castigos físicos e ao jovem ser marginalizado pela
sociedade.
O código de Menores foi instituído, inicialmente, em 1927. O código de 1979, a
Lei 6.697, deu ao Estado poder sobre os menores abandonados, que eram recolhidos
e internados até que alcançassem a maioridade.
Com a realidade se modificando, o CM começou a tornar-se ineficiente.
Passou-se a se dirigir um olhar mais atencioso às crianças e jovens, e entre uma
situação e outra, atuaram os Juízes de Menores. Até que, em 1986, movimentos
influentes de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes iniciaram um
movimento para que fosse introduzido em nossa Constituição Federal o conteúdo da
Convenção dos Direitos da Criança da ONU. Foi o fim da era do Código de Menores
e o início de uma nova vida aos nossos jovens e crianças. Uma nova realidade os
aguardava, selada pela Lei 8.069, em julho de 1990.

3.3 Situação de crianças e adolescentes no Brasil

Nos mais de 25 anos de existência do ECA, houve avanços bastante


significativos. De acordo com documento comemorativo lançado pela UNICEF,
nessas mais duas décadas, indicadores relacionados à educação avançaram e o
26
Brasil se destaca pela redução na taxa de mortalidade infantil. Apesar disso, há ainda
que alcançar as crianças que ainda estão fora das escolas, predominantemente
negros, pobres, indígenas e quilombolas. Estima-se que essas minorias não estejam
frequentando a escola por terem que trabalhar para ajudar no sustento da família ou
porque são crianças com algum tipo de deficiência - lembrando que caminhamos a
passos lentos na educação inclusiva, pois meninos e meninas com deficiência ainda
encontram barreiras ao entrar na escola regular, como a falta de ambientes adaptados
e o atendimento especializado. Acontece que isso fere os direitos das crianças se
desenvolverem, livres de julgamento por sua etnia, raça, gênero, local onde vive e
condição física ou social.
Ainda representam um grande problema as situações de abuso, maus-tratos,
exploração sexual e trabalho escravo, além do alto número de mortes de
adolescentes. Sobre a morte de adolescentes há um dado preocupante: desde que o
ECA foi aprovado, dobrou o número de homicídios de crianças e adolescentes.
O Brasil figura como um país que tem altos índices de violência contra crianças
e adolescentes. Entre os piores crimes estão o abandono, a exploração sexual, o
trabalho infantil (e escravo), maus-tratos e abuso infantil. Diariamente a mídia veicula
manchetes sobre crianças e jovens explorados, abusados ou assassinados. Veja um
pouco mais sobre esses tipos de violência.
 Abandono
Nos noticiários locais e nacionais sempre apresentam casos de bebês ou
crianças abandonados, largados à própria sorte - principalmente recém-nascidos. Em
2012, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos contou ter recebido 82 mil
denúncias, dessas, 40% eram sobre casos de abandono. Em julho de 2015, foi
divulgado um levantamento do Disque 100 - que recebeu, de janeiro a julho, mais 40
mil ligações que denunciavam violações dos direitos da criança e do adolescente.
Dessas mais de 40 mil ligações (42.114 pra exato), 76,35% foram de negligência
(ausência ou ineficiência no cuidado).
 A exploração do trabalho infantil e o trabalho escravo
Somos um país referência no combate à exploração do trabalho infantil, mas
ainda há muito para se fazer. A Constituição Brasileira determina que a menores de
18 anos está proibido o “trabalho noturno, perigoso ou insalubre” e que a menos de
16 anos está proibido qualquer tipo de trabalho (Artigo 7, inciso XXXIII). A exceção é

27
feita aos aprendizes. O ECA prevê a aprendizagem, que foi inclusive, regulamentada
pela Lei 10.097, de 2000, mas para que esses jovens trabalhem, há condições
específicas, como carga horária reduzida e emprego condicionado à frequência
escolar.
Jovens entre 16 e 18 anos podem, na forma de “trabalho adolescente
protegido”, entrar no mercado de trabalho, desde que não seja em horário noturno e
nem em atividades insalubres ou perigosas. Essas atividades estão listadas no
decreto 6.481 de 2008, que define as “piores formas de trabalho infantil”, conhecida
como Lista TIP.
Sobre o trabalho infantil há ainda um agravante: o trabalho infantil escravo. Não
raro, famílias que vêm de outros países, e mesmo das regiões mais pobres do país,
em busca de uma vida melhor, são usadas como mão de obra barata (incluindo
crianças e adolescentes), por exemplo, em oficinas de fabricação de roupas. Além
disso, são mantidas em condições precárias de sobrevivência. Outro exemplo são as
plantações pelo interior do Brasil - fazendas de cacau, fazendas de tomate, lavouras
de canas e carvoarias, que vez ou outra aparecem nos noticiários por promover
trabalho escravo, inclusive usando crianças e adolescentes.
 Maus-tratos e abuso sexual
Cresce o número de casos em que a criança sofre maus-tratos em casa, por
parte da própria família. Há, inclusive, um alto índice de óbito nesses casos. Entre os
principais motivos estão o uso de drogas por parte dos pais e dificuldades no
relacionamento do casal, o que impacta fortemente quando a mãe tem um namorado
que não é o pai da criança e que “não gosta” da criança ou se irrita frequentemente
com ela. Há casos de barbáries, que nem dá para acreditar quando se fica sabendo.
Assim como os casos em que as crianças são abusadas sexualmente e ninguém
sabe, muitas vezes até pelos próprios familiares.
Esses exemplo de violência abordados aqui mostram a importância de acionar
os meios de proteção à criança e ao adolescente e, principalmente, de se estar
preparado e informado para ajudar esses jovens em situações de risco.

28
4 DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Fonte: udcdob.org.br

4.1 A Doutrina da Proteção Integral no cenário da infância e adolescência


brasileira4

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi inovadora ao


adotar a Doutrina da Proteção Integral na questão da infância e adolescência no
Brasil. A referida doutrina teve seu crescimento primeiramente em âmbito
internacional, em convenções e documentos na área da criança, dentre os quais se
destaca a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989, aprovada
por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Conforme Liberati (2003,
p. 20), a Convenção “representou até agora, dentro do panorama legal internacional,
o resumo e a conclusão de toda a legislação garantista de proteção à infância".
A Convenção definiu a base da Doutrina da Proteção Integral ao proclamar um
conjunto de direitos de natureza individual, difusa, coletiva, econômica, social e
cultural, reconhecendo que criança e adolescente são sujeitos de direitos e,
considerando sua vulnerabilidade, necessitam de cuidados e proteção especiais.
Exige a Convenção, com força de lei internacional, que os países signatários adaptem

4 Texto extraído do link: www.ambito-juridico.com.br

29
as legislações às suas disposições e os compromete a não violarem seus preceitos,
instituindo, para isto, mecanismos de controle e fiscalização. (VERONESE;
OLIVEIRA, 2008).
O Brasil, com base nas discussões sobre a Convenção, adota no texto
constitucional de 1988 a Doutrina da Proteção Integral, consagrando-a em seu art.
227.

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.”

Segundo Saraiva (2002), pela primeira vez na história brasileira, a questão da


criança e do adolescente é abordada como prioridade absoluta e a sua proteção passa
a ser dever da família, da sociedade e do Estado.
Contudo, a interferência prática desta opção constitucional coube à legislação
especial, aprovada em 13 de julho de 1990, através da promulgação da Lei Federal
Nº 8.069/90 – o Estatuto da Criança e do Adolescente.

“A gama de direitos elencados basicamente no art. 227 da Constituição


Federal, os quais constituem direitos fundamentais, de extrema relevância,
não só pelo seu conteúdo como pela sua titularidade, devem,
obrigatoriamente, ser garantidos pelo Estatuto, e uma forma de tornar
concreta essa garantia deu-se, justamente, por meio do Estatuto da Criança
e do Adolescente, o qual tem a nobre e difícil tarefa de materializar o preceito
constitucional.” (VERONESE, 1996, p. 94).

Deste modo, para Veronese (1996) o surgimento de uma legislação que


tratasse crianças e adolescentes como sujeitos de direitos era imprescindível,
evitando que os preceitos constitucionais fossem reduzidos a meras intenções. Sendo
crianças e adolescentes titulares de direitos próprios e especiais, em razão de sua
condição específica de pessoas em desenvolvimento, tornou-se necessária a
existência de uma proteção especializada, diferenciada, integral.
Complementa Paula (2002) ser da própria essência do Direito da Criança e do
Adolescente a presença da proteção integral:

“[...] me parece que a locução proteção integral seja autoexplicativa [...]


Proteção Integral exprime finalidades básicas relacionadas às garantias do
desenvolvimento saudável e da integridade, materializadas em normas
subordinantes que propiciam a apropriação e manutenção dos bens da vida
necessários para atingir destes objetivos.” (PAULA, 2002, p. 31).

30
A Doutrina da Proteção Integral veio contrapor a Doutrina da Situação Irregular
então vigente instituída pelo Código de Menores de 1979, “[...] onde a criança era vista
como problema social, um risco à estabilidade, às vezes até uma ameaça à ordem
social [...] a infância era um mero objeto de intervenção do Estado regulador da
propriedade [...]”. Assim, a doutrina da situação irregular não atingia a totalidade de
crianças e adolescentes, mas somente destinava-se àqueles que representavam um
obstáculo à ordem, considerados como tais, os abandonados, expostos, transviados,
delinquentes, infratores, vadios, pobres, que recebiam todos do Estado a mesma
resposta assistencialista, repressiva e institucionalizante. (CUSTÓDIO; VERONESE,
2009, p. 68).
Pela nova ordem estabelecida, criança e adolescente são sujeitos de direitos e
não simplesmente objetos de intervenção no mundo adulto, portadores não só de uma
proteção jurídica comum que é reconhecida para todas as pessoas, mas detém ainda
uma “supraproteção ou proteção complementar de seus direitos”. (BRUNÕL, 2001,
p.92). A proteção é dirigida ao conjunto de todas as crianças e adolescentes, não
cabendo exceção.
O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente esclarece a proteção
complementar instaurada pela nova doutrina, ao afirmar que à criança e ao
adolescente são garantidos todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa
humana, bem como são sujeitos a proteção integral.

“Art.3° A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.”

Fica evidenciado o princípio da igualdade de todas as crianças e adolescentes,


estes compreendidos como todos os seres humanos que contam entre zero e 18 anos,
ou seja, não há categorias distintas de crianças e adolescentes, apesar de estarem
em situações sociais, econômicas e culturais diferenciadas.
Lembra Machado (2003) que sistema especial de proteção tem por base a
vulnerabilidade peculiar de crianças e adolescentes, que por sua vez influencia na
aparente quebra do princípio da igualdade, isto por que:

“a) distingue crianças e adolescentes de outros grupos de seres humanos


simplesmente diversos da noção do homo médio; b) autoriza e opera a
aparente quebra do princípio da igualdade – porque são portadores de uma

31
desigualdade inerente, intrínseca, o ordenamento confere-lhes tratamento
mais abrangente como forma de equilibrar a desigualdade de fato e atingir a
igualdade jurídica material e não meramente formal.” (MACHADO, 2003, p.
123).

Assim, com base na supremacia que o valor da dignidade da pessoa humana


recebeu na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, foi inaugurado
um sistema especial de proteção à infância, expressamente referido no parágrafo 3º
do artigo 227, também no artigo 228, artigo 226, caput §§ 3º, 4º, 5º e 8º e 229, primeira
parte da CF/88. Ainda, XXX e XXXIII do artigo 7º, e § 3º do artigo 208.
Extrai-se do art. 227 da Constituição Federal e art. 4º do Estatuto da Criança e
do Adolescente que o dever de assegurar este sistema especial de proteção cabe à
família, comunidade, sociedade em geral, poder público, que o farão com absoluta
prioridade.
Liberati (2003) entende prioridade absoluta como estar a criança e o
adolescente em primeiro lugar na escala de preocupações dos governantes, que em
primeiro lugar devem ser atendidas as necessidades das crianças e adolescentes.
Exemplifica:

“Por absoluta prioridade, entende-se que, na área administrativa, enquanto


não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e
emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deverão
asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos etc.,
porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes
que as obras de concreto, que ficam para demonstrar o poder do governante.”
(LIBERATI, 2003. p. 47).

A lei ordinária nº 8.069/90, no parágrafo único do artigo 4º, detalhou a garantia


da prioridade absoluta como sendo: a) primazia de receber proteção e socorro em
quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais
públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com
a proteção à infância e à juventude.
Outra base que sustenta a nova doutrina é a compreensão de que crianças e
adolescentes estão em peculiar condição de pessoas humanas em desenvolvimento,
encontram-se em situação especial e de maior vulnerabilidade, ainda não
desenvolveram completamente sua personalidade, o que enseja um regime especial
de salvaguarda, o que lhes permite construir suas potencialidades humanas em
plenitude.

32
Neste sentido, afirma Machado (2003) que o direito peculiar de crianças e
adolescentes desenvolver sua personalidade humana adulta integra os direitos da
personalidade e é relevante tal noção por estar ligada estruturalmente a distinção que
os direitos da crianças e adolescentes recebem do texto constitucional.

“[...] sustento, pode-se afirmar, ao menos sob uma ótica principiológica ou


conceitual, que a possibilidade de formar a personalidade humana adulta –
que é exatamente o que estão “fazendo” crianças e adolescentes pelo
simples fato de crescerem até a condição adulta – há de ser reconhecida
como direito fundamental do ser humano, porque sem ela nem poderiam ser
os demais direitos da personalidade adulta, ou a própria personalidade
adulta.” (MACHADO, 2003, p. 110).

Entretanto, frisa a autora, que a personalidade infanto-juvenil não é valorizada


somente como meio de o ser humano atingir a personalidade adulta, isto seria um
equívoco, uma vez que a vida humana tem dignidade em si mesma, em todos os
momentos da vida, seja no mais frágil, como no momento em que o recém-nascido
respira, seja no momento de ápice do potencial de criação intelectual de um ser
humano. Assim, o que gera e justifica a positivação da proteção especial às crianças
e adolescentes não é meramente a sua condição de seres diversos dos adultos, mas
soma-se a isto a maior vulnerabilidade destes em relação aos seres humanos adultos,
bem como a força potencial que a infância e juventude representam à sociedade.
(MACHADO, 2003).
Ocorre que a efetivação dos direitos fundamentais de cidadania pressupõe a
criação de um Sistema de Garantia de Direitos, que atue na perspectiva da promoção,
da defesa e do controle. Este direito deve ser produzido na sociedade, onde se
experimenta um intenso processo de correlações de forças, considerando a histórica
postura de negligência e arbitrariedade com crianças e adolescentes no Brasil.

4.2 Crianças e adolescentes são sujeitos de direitos fundamentais especiais

A Doutrina da Proteção Integral instaurou um sistema especial de proteção,


delineando direitos nos artigos 227 e 228 da Constituição brasileira, tornando crianças
e adolescentes sujeitos dos direitos fundamentais atribuídos a todos os cidadãos e
ainda titulares de direitos especiais, com base na sua peculiar condição de pessoa em
desenvolvimento.

33
Machado (2003) afirma serem os direitos elencados no caput do artigo 227 e
228 da CF/88 também direitos fundamentais da pessoa humana, pois o direito à vida,
à liberdade, à igualdade mencionados no caput do artigo 5º da CF referem-se a
mesma vida, liberdade, igualdade descritas no artigo 227 e § 3º do artigo 228, ou seja,
tratam-se de direitos da mesma natureza, sendo todos direitos fundamentais.
Porém, os direitos fundamentais de que trata o artigo 227 são direitos
fundamentais de uma pessoa humana de condições especiais, qual seja pessoa
humana em fase de desenvolvimento. Neste sentido, Bobbio (2002, p.35) aponta
como sendo singular a proteção destinada às crianças e adolescentes:

“Se se diz que “criança, por causa de sua imaturidade física e intelectual,
necessita de uma proteção particular e de cuidados especiais”, deixa-se
assim claro que os direitos da criança são considerados como um ius
singulare com relação a um ius commune; o destaque que se dá a essa
especificidade do genérico, no qual se realiza o respeito à máxima suum
cuique tribuere.”

Os direitos fundamentais de crianças e adolescentes são especiais e, de


acordo com Machado (2003), eles podem ser diferenciados do direito dos adultos por
dois aspectos, sendo um quantitativo, pois crianças e adolescentes são beneficiários
de mais direitos do que os adultos, e ainda podem ser classificados pelo seu aspecto
qualitativo ou estrutural, por estarem os titulares de tais direitos em peculiar condição
de desenvolvimento.

Na sequência serão analisados os direitos fundamentais de crianças e


adolescentes, apresentando certo detalhamento sobre cada um deles. Tendo em vista
a extensa gama de direitos fundamentais, optou-se por realizada a abordagem dos
direitos elencados no art. 227 da CF, quais sejam: “direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

34
Fonte:www.conselhotutelar.com.br

4.3 Direito à Vida e à Saúde

O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988 iniciam a exposição dos direitos fundamentais pelo
direito à vida e à saúde. No artigo 7º do ECA, lê-se: “A criança e o adolescente têm
direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas que permitam
o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência”.
O próprio ECA preceitua várias medidas de caráter preventivo, além de
políticas públicas que permitam o nascimento sadio, configurando-se, segundo Elias
(2005) o direito de nascer.
Assegura-se à gestante o atendimento pré e perinatal, pelo Sistema Único de
Saúde (art. 8). Às mães é assegurado o aleitamento materno, mesmo se estiverem
submetidas a medida privativa de liberdade (art.9). Aos hospitais e demais
estabelecimentos são impostas obrigações, tais como a manutenção de registros
(prontuários) pelo período de 18 anos, identificação do recém-nascido, proceder a
exames acerca de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, prestar
orientação aos pais, fornecer declaração de nascimento onde constem as
intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato (art. 10).

35
Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente garante o tratamento igualitário
de todos os sujeitos, independentemente da condição social (art. 11). Os portadores
de deficientes receberão tratamento especializado (§ 1º), incumbindo ao poder público
o fornecimento gratuito de medicamentos, próteses e outros recursos quando
necessários (§ 2º). No caso de internação da criança e do adolescente, os hospitais
deverão propiciar condições para que um dos pais permaneça com o paciente (art.12).
O Sistema Único de Saúde promoverá ainda programas de assistência médica,
odontológica e campanhas de vacinação das crianças (art. 14).
Observa-se, desta forma, que o direito à vida, incutido no direito à saúde, é
considerado o mais elementar e absoluto dos direitos fundamentais, pois é
indispensável ao exercício de todos os outros direitos. Não pode ser confundido com
sobrevivência, pois o direito à vida implica o reconhecimento do direito de viver com
dignidade, direito de viver bem, desde o momento da formação do ser humano. (AMIN,
2007).
Neste sentido, Lenza (2007) afirma que o direito à vida abrange tanto o direito
de não ser morto, privado da vida, portanto o direito de continuar vivo, como também
o direito de ter uma vida digna, garantindo-se as necessidades vitais básicas do ser
humano, e proibindo qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas de caráter
perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, entre outros.
Amim (2007) ilustra a efetivação do direito à vida e à saúde, apontando para a
hipótese de adolescente que estando à beira da morte, deve ser assegurado a ele,
minimamente, os recursos para tentar mantê-lo vivo, ou se for inevitável a sua morte
precoce, que ao menos haja tratamento digno. Ainda, na hipótese de uma criança ou
adolescente sem as duas pernas, seria indigno que se arrastasse no intuito de se
locomover, neste caso caberia providenciar uma cadeira de rodas, eventual cirurgia
para colocação de prótese, enfim todos os meios para assegurar dignidade na forma
de viver.

4.4 Direito à Alimentação

O art. 227 da Constituição Federal inclui, logo após o direito à vida e à saúde,
o direito à alimentação no rol dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.

36
É um direito especial de crianças e adolescentes positivado, levando em
consideração a maior vulnerabilidade por estarem em peculiar condição de pessoa
em desenvolvimento. Este direito tem estreita ligação com o direito à vida e direito ao
não- trabalho. Assim, a positivação deste direito criou para o Estado o dever de
assegurar alimentação a todas as crianças e adolescentes que não tenham acesso a
ela por meio dos pais ou responsáveis e, ainda, faz nascer o direito individual de exigir
esta prestação. (MACHADO, 2003).
Conforme determina o art. 1.696 do Código Civil de 2002, “o direito à prestação
de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes,
recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns na falta de outros”, assim na
falta dos genitores poderá a criança e o adolescente pleitear os alimentos dos outros
parentes, respeitando a ordem de sucessão. Define o art. 2° da Lei de Alimentos, n.
5.478/68, que o credor, ao postular pela concessão dos alimentos, exporá suas
necessidades e provará apenas o parentesco ou a obrigação de alimentar do devedor.

4.5 Direito à Educação

A educação figura na Constituição Federal de 1988 como direito fundamental


do ser humano, buscando conferir suporte ao desenvolvimento de crianças e
adolescentes. Este direito está expresso nos art. 205 a 214 da Constituição Federal
de 1988, na Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes da Educação) e na Lei 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente).
A Lei de Diretrizes da Educação Nacional, conhecida como Lei Darcy Ribeiro,
reafirma a obrigação solidária do Poder Público, da família e da comunidade na busca
de garantir a educação.

“Art. 2º. A educação é direito de todos e dever da família e do Estado, terá


como bases os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade humana
e, como fim, a formação integral da pessoa do educando, a sua preparação
para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.”

Conforme descrito no artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o


Estado buscará a efetivação do Direito à educação, assegurando o ensino
fundamental gratuito e universal a todos (inciso I), com acesso a “programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde” (inciso VII). Ainda, será oferecido atendimento especializado aos portadores

37
de deficiências (inciso III), e educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças de
zero a seis anos de idade (inciso IV). A não oferta do ensino obrigatório importa em
responsabilização da autoridade competente (§ 2º).
Fazendo alusão ao § 3º do artigo 54 do ECA, Machado (2003) ressalta a
prestação positiva imposta ao Estado em assegurar o direito à educação, não
bastando a oferta de vagas, a Constituição exige do Estado o recenseamento de
crianças e adolescentes em idade escolar, que proceda a chamada deles e que zele,
junto com os pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Contudo, alerta Meneses (2008, p. 28):

“[...] o aluno fora da sala de aula afronta a juridicidade. Mas um aluno na sala
de aula, sem espaço para o erro, e por causa dele, desautorizado a
reconstruir concepções, afronta a proteção integral de pessoa em
desenvolvimento. Ainda o aluno na sala de aula, porque assim determina a
lei, que não respeita a convivência com o educador e com os outros alunos,
liquida com a qualidade da relação [...].” (MENESES, 2008, p.28).

Veronese e Oliveira (2008, p. 67) esclarecem ser o direito de aprender, explícito


no direito ao acesso à educação regular, um dos direitos humanos fundamentais. Isto
se deve a relação existente entre educação e cidadania. Cidadania entendida como
“[...] um exercício contínuo de reivindicação de direitos. Como reivindicar o que não
se conhece? Daí decorre a necessidade de investimento em educação [...]”. Ainda,
sendo crianças e adolescentes sujeitos de direitos em processo de desenvolvimento,
a educação se tornou um direito indisponível, um requisito indispensável para garantir
o crescimento sadio, nos aspectos físico, cognitivo, afetivo e emocional.

4.6 Direito à Cultura, ao Esporte e ao Lazer

As crianças e adolescente necessitam de vários estímulos na sua formação:


emocionais, sociais, culturais, educativos, motores, entre outros. Assim, a cultura
estimula o pensamento de maneira diversa da educação formal. O esporte desenvolve
habilidades motoras, socializa o indivíduo. O lazer envolve entretenimento, a diversão
que são importantes para o desenvolvimento integral do indivíduo. (AMIN, 2007).
Cabe aos Municípios, com o apoio dos Estados e da União, estimular e destinar
recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer, voltadas para
a infância e a juventude, conforme art. 59 do ECA.

38
Elias (2005) ressalta a importância da cultura, do esporte e lazer no processo
de formação dos indivíduos, sob o ponto de vista físico e mental. Desta forma, a
municipalização facilita o atendimento nestas áreas, contribuindo para afastar
crianças e adolescentes dos perigos das drogas e de outros vícios que prejudicam o
desenvolvimento de uma personalidade saudável, o que, no futuro, poderá levá-los a
uma vida sem qualidade e à criminalidade.
Para Amin (2007) estes direitos devem ser assegurados pelo Estado através
da construção de praças, instalação de teatros populares, promoção de shows abertos
ao público, construção de complexos ou simples ginásios poliesportivos. A família
deve buscar proporcionar o acesso a estes direitos, e a escola tem papel importante
na promoção destes, quando realiza passeios ou forma grupos de teatro com os
próprios alunos.
Aponta Machado (2003) que um direito que se desprenderia do direito ao lazer,
à convivência familiar e comunitária, do direito ao não-trabalho, seria o direito de
brincar. A garantia deste direito auxiliaria no desenvolvimento cognitivo, psicológico e
social da criança e do adolescente.
Assegurar o direito de brincar encontra seu significado quando inserido numa
sociedade influenciada pela mídia que passou a exigir um comportamento adulto
daqueles que ainda não o são. Assim, crianças e adolescentes assumem uma agenda
de horários similar a dos adultos, a outros ainda é imposta a responsabilidade pelo
cuidado de irmãos menores, correndo o risco de lhes faltar tempo para brincar,
conversar, se divertir. (AMIN, 2007).

4.7 Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

O direito ao trabalho “repousa basicamente na proteção do interesse individual


de ter liberdade para exercer as potencialidades que todo trabalho humano comporta
e na proteção o interesse individual de prover as próprias necessidades”. (MACHADO,
2003, p. 176).
Observa, contudo, Machado (2003) que, quando a criança ou o adolescente
exercitam o trabalho não mais como impulso de experimentação das suas
potencialidades, mas, sim, como necessidade de prover seu próprio sustento, o
trabalho conflitua com outros interesses necessários ao seu pleno desenvolvimento.

39
O trabalho poderá retirar as forças imprescindíveis para o acompanhamento das aulas
regulares, limitando a capacidade de aprendizado e prejudicando sua qualificação
teórico-profissional. Ainda, o trabalho poderá representar um esforço superior ao seu
estágio de crescimento, comprometendo a saúde e o seu desenvolvimento cognitivo.
Por estas razões, visando proteger crianças e adolescentes e, ao mesmo
tempo, assegurar-lhes o direito fundamental à profissionalização, o ordenamento
estabeleceu um regime especial de trabalho, com direitos e restrições.
A Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98 alterou o inciso XXXIII do art. 7º
restringindo o trabalho adolescente a partir dos 16 anos, salvo na condição de
aprendiz a partir dos 14 anos, conforme art. 403 da CLT e art. 60 da Lei 8.069/90.
Além da limitação etária, é proibido o trabalho noturno, entre às 22 e 5 horas, o
trabalho perigoso, insalubre ou penoso, realizado em locais prejudiciais à formação e
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social do adolescente, bem como em
horários que prejudiquem a sua frequência à escola (art. 67 do ECA e arts. 403, 404,
405 da CLT). Também lhe são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários
(art. 65 do ECA).
O direito ao trabalho protegido, exercido por adolescente entre 14 a 18 anos,
não pode ser confundido com o direito à profissionalização, existindo na essência
antagonismos entre eles. De acordo com Machado (2003, p.188):

“[...] o direito à profissionalização objetiva proteger o interesse de crianças e


adolescentes de se preparem adequadamente para o exercício do trabalho
adulto, do trabalho no momento próprio; não visa o próprio sustento durante
a juventude, que é necessidade individual concreta resultante das
desigualdades sociais, que a Constituição visa reduzir.”

Diante do mundo contemporâneo que exige qualificação elevada, da qual a


educação é requisito necessário, a qualificação profissional dos adolescentes é
garantidora de um mínimo de igualdade entre os cidadãos quando da inserção no
mercado de trabalho. Entretanto, quando o adolescente passa a exercer o trabalho
regular precocemente, mais se limitam suas chances de desenvolver adequadamente
sua profissionalização, para que possa, na idade adulta, competir no mercado de
trabalho, mantendo, desta forma, sua desigualdade na inserção social, pois a
aprendizagem é limitada e precária, basicamente laboral e não educativa, que se
norteia pelos princípios da produtividade do trabalho e lucro do empregador.
(MACHADO, 2003).

40
4.8 Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade,


por serem pessoas em desenvolvimento e sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
(art. 15 da Lei 8.069/90).
O direito à liberdade é mais amplo do que o direito de ir e vir. O art. 16 do ECA
compreende a liberdade também como liberdade de opinião, expressão, crença e
culto religioso, liberdade de brincar, praticar esportes e divertir-se, participar da vida
em família, na sociedade e vida política, assim como buscar refúgio, auxílio e
proteção.
Porém, conforme verificado no inciso I, do art. 16 são impostas restrições legais
ao direito à liberdade de crianças e adolescentes. Para Elias (2005), as limitações à
liberdade são impostas devido a própria condição de pessoas em desenvolvimento,
para o seu bem estar. Neste sentido, Machado (2003) justifica que as restrições à
liberdade da pessoa física em fase de desenvolvimento têm suas especificidades
ligadas à questão da imaturidade de crianças e adolescentes, o que auxilia que estas
se protejam contra agressões aos seus direitos.
Por seu turno, o direito ao respeito é descrito no art. 17 do ECA como a
“inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores,
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

“[...] Toda criança nasce com o direito de ser. É um erro muito grave, que
ofende o direito de ser, conceber a criança como apenas um projeto de
pessoa, como alguma coisa que no futuro poderá adquirir a dignidade de um
ser humano. É preciso reconhecer e não esquecer em momento algum, que,
pelo simples fato de existir, a criança já é uma pessoa e por essa razão
merecedora do respeito que é devido exatamente na mesma medida a todas
as pessoas.” (DALLARI; KORCZACK, 1986, p. 21).

Reafirma o art. 18 do ECA, ser dever de todos zelar pela suprema dignidade
de crianças e adolescentes, colocando-os a salvo de qualquer forma de tratamento
desumano, aterrorizante, constrangedor, bem como qualquer espécie de violência,
seja a violência física, a psicológica ou a violência moral.

41
4.9 Direito à Convivência Familiar e Comunitária

O art. 19 da Lei n. 8.069/90, assegura a toda criança e adolescente o direito de


ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurando a convivência familiar e comunitária, zelando por um
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
Este direito tem por base a capacidade protetora da criança e do adolescente
na relação parental. Conforme Gueiros e Oliveira (2005, p.118), o direito à convivência
familiar deve ser garantido tanto aos filhos, como também aos pais:

“É fundamental defender o princípio de que o lugar da criança é na família,


mas é necessário pensar que essa é uma via de mão dupla – direito dos
filhos, mas também de seus pais- e, assim, sendo, deve ser assegurado à
criança o direito de convivência familiar, preferencialmente na família na qual
nasceu, e aos pais o direito de poder criar e educar os filhos que tiveram do
casamento ou de vivências amorosas que não chegaram a se constituir como
parcerias conjugais.”

Como fatores que dificultam a manutenção de crianças e adolescentes em suas


famílias, são apontados as desigualdades sociais presentes na sociedade e a
crescente exclusão social do mercado formal de trabalho que incidem diretamente
sobre a situação econômica das famílias, inviabilizando o provimento de condições
mínimas necessárias a sua sobrevivência, desta forma, vivem na negligência e
abandono, tanto pais quanto filhos. No caso presente, faz-se urgente que as famílias
contem com políticas públicas sociais que garantam o acesso a bens e serviços
indispensáveis à cidadania. (GUEIROS; OLIVEIRA, 2008).
É bem verdade que a pobreza dos genitores não constitui fator de perda ou
suspensão do poder familiar, podendo somente serem decretadas judicialmente (art.
23 e 24 da Lei 8.069/90). O Poder Familiar é conceituado por Maciel (2007, p. 72)
como um “complexo de direitos e deveres pessoais e patrimoniais com relação ao filho
menor, [...] que deve ser exercido no melhor interesse deste último [...]”.
A par disso, esclarece Ishida (2001), que nos procedimentos da infância e
juventude, a preferência é sempre de mantença da criança e do adolescente junto aos
genitores biológicos. Somente após acompanhamento técnico-jurídico que verifique a
inexistência de condições dos genitores, havendo direitos fundamentais ameaçados
ou violados, inicia-se a colocação em lar substituto.

42
Conforme art. 100 da Lei n. 8.069/90, a manutenção e o fortalecimento dos
vínculos devem ser observados também na aplicação de medidas socioeducativas,
preferindo aquelas medidas que favoreçam as relações afetivas que o adolescente já
tem construído em sua família e comunidade.

I. Convivência familiar5

A fim de um entendimento melhor da convivência familiar, faz-se necessário,


primeiramente, compreender o conceito de família. Legalmente, a Constituição
brasileira no Art. 226, parágrafo 4° “entende como a entidade familiar a comunidade
formada por qualquer um dos pais e seus descendentes”. Também o Estatuto, em seu
Art. 25°, define:

“Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para


além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes
próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos
de afinidade e afetividade”.

Já o Sistema Único da Assistência Social (BRASIL, 2004) a define como “[...]


um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e,
ou, de solidariedade.” Estas definições colocam a ênfase na existência de vínculos de
filiação legal, de origem natural ou adotiva, independentemente do tipo de arranjo
familiar onde esta relação de parentalidade e filiação estiverem inseridas.
Entretanto, a definição legal não supre a necessidade de se compreender a
complexidade e riqueza dos vínculos familiares e comunitários que podem ser
mobilizados nas diversas frentes de defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
Falar em família pressupõe pensar as diferenciações por classe também, uma vez
que o entendimento de família para o pobre não é o mesmo para a classe média.
Segundo Sarti (1995), a família é definida como o conjunto de pessoas em
quem se pode confiar, não havendo status ou poder a ser transmitido, o que vai definir
a extensão da família é a rede de obrigações construídas, pois são da família aqueles
com quem se pode contar, isto quer dizer, aqueles que retribuem ao que se dá,
aqueles, portanto, para com quem se tem obrigações.

5 Texto extraído do link: www.uel.br

43
A família se define, assim, em torno de um eixo moral, onde a noção de
obrigação sobrepõe-se à de parentesco. Conforme afirma Marcell Mauss (1974), não
há relações com parentes de sangue se com eles não for possível dar, receber e
retribuir, as três obrigações fundamentais que compõem este universo moral fundado
no princípio da reciprocidade.
Logo, a família seria uma rede que se ramifica e envolve a gama de parentes e
vizinhos, “configurando uma trama de obrigações morais que enreda os indivíduos em
dois sentidos: ao dificultar sua individualização e ao viabilizar sua existência como
apoio e sustentação básicos” (SARTI, 1995, p. 49).
Essa obrigação atrelada ao conceito de vínculo social relaciona-se diretamente
com as redes, grupos ou indivíduos de quem se recebe proteção mediante as mais
diversas necessidades, essa ideia é resumida pela autora nas expressões “ter com
que e com quem contar”, o que considera o conjunto de pessoas e/ou agentes dos
serviços com quem os indivíduos podem receber auxílio nas mais diversas situações
de necessidade.
Essa concepção considera as redes formadas por vizinhos, parentes, amigos,
como parte do contexto de proteção, o que daria à família melhores condições de
enfrentar a vulnerabilidade e o risco social. Dessa forma, o local onde a família está
situada pode, ao considerar os vínculos sociais, oferecer maior ou menor grau de
proteção,

A ideia de vínculos sociais associada à proteção social permite sintetizá-la na


expressão “ter com que e com quem contar” face às agressões, fragilidades,
aos riscos sociais e, mais do que isso, em ter segurança, ampliar o sentimento
de certeza e de reconhecimento na construção da vida social. [...] A condição
de “poder contar com” significa grau de solidez de um vínculo. [...] Os vínculos
se estabelecem entre parentes, amigos, vizinhos, mas também, com agentes
dos serviços gerando relações de certeza (SPOSATI, 2009, p.7).

Os vínculos são compreendidos enquanto laços carregados de obrigações


mútuas que norteiam as relações entre os indivíduos. Essas obrigações se alteram
dada a faixa etária, relações de status e gênero e definem o status da pessoa no
contexto familiar. Dessa forma há uma diferença entre família como domicílio e família
como rede de vínculo, nessa concepção são considerados os vínculos estabelecidos
para além dos laços consanguíneos ou das relações de parentesco.
Sob esse entendimento a família se torna o principal espaço de proteção dos
indivíduos. As relações de cuidado e proteção vão além dos laços de

44
consanguinidade, elas se estendem aos vizinhos, membros da família extensa entre
outros.
É preciso considerar ainda as mudanças que vem ocorrendo no perfil das
famílias e deve ser vista enquanto “um grupo social cujos movimentos de organização-
desorganização-reorganização mantêm estreita relação com o contexto sociocultural”
(AFONSO; FILGUEIRAS, 1995).
Logo, a família nuclear tradicional, herança da família patriarcal brasileira, deixa
de ser o modelo hegemônico e outras formas de organização familiar passam a ser
reconhecidas, evidenciando que esta não é estática e que suas funções de proteção
e socialização podem ser exercidas nos mais diversos arranjos familiares e contextos
socioculturais, refutando qualquer ideia preconcebida de modelo familiar “normal”.
Assim, o conceito de família “normal”, “estruturada”, passa pela desmistificação
de uma estrutura única tida como ideal e, ainda, o deslocamento da ênfase da
importância da estrutura familiar para suas funções de cuidado com a criança e com
o adolescente, questionando a antiga concepção de “desestruturação familiar”.
Ao longo dos anos essa instituição vem ganhando novos formatos, as relações
entre seus membros passam a ter novas configurações. Essas transformações
exigem novos olhares e interpretações em torno da família, não sendo hoje possível
considerar a sua forma nuclear (pai, mãe e filhos), como única forma possível, ou
idealizá-la como a única estrutura desejável para a formação da sociedade,

Aprendemos que as relações de parentesco são resultado da combinação de


três relações básicas; a descendência entre pais e filhos, a consanguinidade
entre irmãos e a afinidade a partir do casamento, sendo a família considerada
como grupo social onde acontecem esses vínculos. Contudo, temos
convivido com realidades diferenciadas que conformam a constituição desse
fenômeno (família) para além das relações de parentesco. Pensar família
hoje pressupõe seu entendimento enquanto um fenômeno que abrange as
mais diferentes realidades (FREITAS; BRAGA; BARROS, 2011, p.17).

Essas transformações se dão pelo fato de a família não ser uma instituição
desconecta da realidade social. Para que os indivíduos se reproduzam socialmente
eles precisam anteriormente, se reproduzir como tais, o que ocorre, no contexto da
família. Dessa forma ela acompanha e reflete as mudanças sociais, as ideias, a cultura
a própria dinâmica da vida social como um todo.
No entanto, apesar das mudanças que ocorrem em sua estrutura, as famílias
nucleares se isolam em seus próprios mundos. Os casais têm cada vez menos filhos

45
e se tornam, nos termos de Ladislau Dowbor, “a família economicamente rentável”,
sob a égide do Capital o individualismo e consumismo altera os padrões de
sociabilidade:

[...] O capitalismo moderno, centrado no consumismo, inventou a família


economicamente rentável composta de mãe, pai e um casal de filhos, o
apartamento, a geladeira para doze ovos, o sofá e a televisão. É a família
nuclear (DOWBOR, 2010, p.294).

É importante ressaltar que uma das marcas trazidas pela industrialização


ocorrida no Brasil nas primeiras décadas do século XX, foi a separação entre o público
e o privado, fato que instituiu “a dimensão privada da família, contraposta ao mundo
público” (SARTI, 2010). Mediante essa separação, a inserção das mulheres no
mercado de trabalho e com os avanços tecnológicos, os formatos das famílias foram
se alterando.
Essas mudanças ocorrem no âmbito de sua estrutura e formação,
permanecendo intocadas às expectativas e funções atribuídas à família, sua
capacidade protetiva em relação aos seus membros, continua sendo exigida, sendo,
portanto, culpabilizados os indivíduos quando essa proteção não é oferecida,
desconsiderando o caráter e as consequências trazidas pelas mudanças societárias
no contexto da família. O que se pode ver é que:

[...] observa-se a permanência de velhos padrões e expectativas da família


burguesa quanto ao seu funcionamento e desempenho de papéis paterno e
materno, independente do lugar social que ocupam na estrutura de classes
sociais (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2010, p. 55).

Para Winnicott (2005), o ambiente familiar afetivo e continente às necessidades


da criança e, mais tarde do adolescente, constitui a base para o desenvolvimento
saudável ao longo de todo o ciclo vital. Tanto a imposição do limite, da autoridade e
da realidade, quanto o cuidado e a afetividade são fundamentais para a constituição
da subjetividade e desenvolvimento das habilidades necessárias à vida em
comunidade.
Assim, as experiências vividas na família tornarão gradativamente a criança e
o adolescente capazes de se sentirem amados, de cuidar, se preocupar e amar o
outro, de se responsabilizar por suas próprias ações e sentimentos. Estas vivências
são importantes para que se sintam aceitos também nos círculos cada vez mais

46
amplos que passarão a integrar ao longo do desenvolvimento da socialização e da
autonomia.
Entretanto, é preciso ampliar a compreensão das dificuldades que as famílias
em situação de vulnerabilidade social passam para oferecer tal ambiente às suas
crianças e adolescentes, visto suas necessidades de sobrevivência, as condições
precárias de habitação, saúde e escolarização, a exposição constante aos ambientes
de alta violência urbana, dentre outros fatores. Não é por acaso que se necessita de
desenvolvimento de programas sociais voltados para as crianças e adolescentes em
situação de vulnerabilidade social, quer tenham vínculos comunitários e familiares
intactos, quer estejam em situação de afastamento provisório ou não de suas famílias.

II. Convivência comunitária

A partir da sua entrada na educação infantil ou no ensino fundamental, a


criança expande seu núcleo de relacionamentos para além da família. Durante a
infância e a adolescência o desenvolvimento é continuamente influenciado pelo
contexto no qual a criança e o adolescente estão inseridos:

A relação com colegas, professores, vizinhos e outras famílias, bem como da


utilização das ruas, quadras, praças, escolas, igrejas, postos de saúde e
outros, crianças e adolescentes interagem e formam seus próprios grupos de
relacionamento. [...] Na relação com a comunidade, as instituições e os
espaços sociais, eles se deparam com o coletivo – papéis sociais, regras,
leis, valores, cultura, crenças e tradições, transmitidos de geração a geração
– expressam sua individualidade e encontram importantes recursos para seu
desenvolvimento (NASCIUTI, 1996, p. 100, 126).

Os espaços e as instituições sociais são, portanto, mediadores das relações


que as crianças e os adolescentes estabelecem, contribuindo para a construção de
relações afetivas e de suas identidades individual e coletiva. Nessa direção, se o
afastamento do convívio familiar for necessário, as crianças e adolescentes devem,
na medida do possível, permanecer no contexto social que lhes é familiar. Além de
muito importante para o desenvolvimento pessoal, a convivência comunitária
favorável contribui para o fortalecimento dos vínculos familiares e a inserção social da
família.
Nesse sentido, Takashima (2004) destaca que algumas estratégias da
comunidade contribuem para a proteção da criança e do adolescente, constituindo

47
formas de apoio coletivo entre famílias em situação de vulnerabilidade social: redes
espontâneas de solidariedade entre vizinhos: a família recebe apoio em situações de
crise como morte, incêndio ou doenças; práticas informais organizadas: a comunidade
compartilha com os pais ou responsáveis a função de cuidado com a criança e com o
adolescente, bem como denuncia situações de violação de direitos, dentre outras; e
práticas formalmente organizadas: a comunidade organiza projetos e cooperativas
para a geração de emprego e renda, por exemplo.
Vivências de “desenraizamento familiar e social” associam-se à falta de um
grupo familiar extenso e de vínculos significativos na comunidade aos quais a família
possa recorrer para encontrar apoio ao desempenho de suas funções de cuidado e
proteção à criança e ao adolescente. Para as referidas autoras:

Além da influência que o contexto exerce sobre o desenvolvimento da criança


e do adolescente, as redes sociais de apoio e os vínculos comunitários
podem favorecer a preservação e o fortalecimento dos vínculos familiares,
bem como a proteção e o cuidado à criança e ao adolescente. Além de
potencial para o desenvolvimento da criança, do adolescente e da família é
na utilização dos espaços e instituições sociais e nas relações socialmente
estabelecidas que direitos são também violados (PEREIRA; COSTA, 2004,
p. 40).

As famílias também podem estar particularmente expostas às tensões externas


que fragilizam seus vínculos, tornando-as mais vulneráveis. A violência, a
discriminação, o consumismo veiculado na mídia, a intolerância e a falta de acesso às
políticas sociais básicas – aspectos, relacionados à própria estruturação da sociedade
brasileira - acabam repercutindo sobre a possibilidade de uma convivência familiar e
comunitária saudável.

4.10 O plano nacional de promoção proteção e defesa do direito de crianças e


adolescentes à convivência familiar e comunitária

A legislação brasileira vigente reconhece e preconiza a família enquanto


estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da criança e do
adolescente, espaço ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos
indivíduos. Contudo, a história social das crianças, dos adolescentes e das famílias,
apresentada no início deste texto, revela que estas encontraram e ainda encontram
inúmeras dificuldades para proteger e educar seus filhos. Dificuldades que foram
traduzidas pelo Estado em um discurso sobre a pretensa “incapacidade” da família de

48
orientar os seus filhos, que subsidiou suas ações de institucionalização de crianças e
adolescentes de baixa renda ao longo de vários anos.

Fonte: radardaprimeirainfancia.org.br

Diante desse cenário de mudanças na legislação e de paradigmas, em 2002,


foi realizado no Brasil um Colóquio Técnico sobre Rede Nacional de Abrigos, que
contou com a participação de entidades governamentais e não governamentais dos
diferentes estados. Nesse evento foram identificadas ações a serem priorizadas, entre
elas: a realização de um censo nacional de crianças e adolescentes em abrigos e
práticas institucionais, e a elaboração de um plano de ação para o seu reordenamento.
Para continuação desse processo foi criado um Comitê Nacional para o
reordenamento dos abrigos, que tinha por objetivo estimular mudanças nas políticas
e práticas de atendimento, para a efetivação do que preconiza o Estatuto a respeito
do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária.
Para tanto, a efetivação desse direito envolve o esforço de toda a sociedade e
o compromisso com uma mudança cultural que atinge as relações familiares, as
relações comunitárias e as relações do Estado com a sociedade. A concretização do
direito só será garantida com a interação de todas as políticas sociais, com
centralidade na família para o acesso a serviços de saúde, educação de qualidade,
geração de emprego e renda, entre outras. Dessa forma, as contribuições sobre o
papel de cada setor no apoio e garantia dele será de grande relevância.

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Historicamente essas instituições, abrigos, orfanatos, casas-lares, tinham o
objetivo de prevenir ou tratar atitudes ou situações de “desvio” individual e social, o
que resultava na institucionalização e na quebra dos vínculos familiares e
comunitários. Sob a perspectiva da proteção integral, esses programas e instituições
passam a ter um novo foco de ação, diante das condições de vulnerabilidade
apresentadas pelas famílias.
Desta forma, o Plano denota a pertinência da convivência familiar, enquanto
direito, e estabelece ações e prazos específicos para sua efetivação. Com certeza,
representa um avanço no reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos
de direitos. No entanto, reconhece que:

[...] A defesa desse direito dependerá do desenvolvimento de ações


intersetoriais, amplas e coordenadas que envolvam todos os níveis de
proteção social e busquem promover uma mudança não apenas nas
condições de vida, mas também nas relações familiares e na cultura brasileira
para o reconhecimento das crianças e adolescentes como pessoas em
desenvolvimento e sujeitos de direitos (BRASIL, 2006, p.67).

O Plano propõe uma mudança no tocante à proposta de atendimento de


crianças e adolescentes, substituindo o modelo do abrigamento e da
institucionalização pelo “novo paradigma que elege a família como unidade básica da
ação social e não mais concebe a criança e o adolescente isolados de seu contexto
familiar e comunitário” (BRASIL, 2006, p.67).
O reordenamento das instituições de acolhimento e os programas criados no
sentido de devolver a criança e ao adolescente o convívio familiar e comunitário (como
o Programa de Famílias Acolhedoras e de Adoção), que está previsto no Plano, se
configura como mecanismos de transformação da situação de crianças e
adolescentes, cujos vínculos familiares estejam fragilizados ou tenham sido
quebrados, diante das condições de vulnerabilidade social a que foram expostos.
Essa nova determinação exige das instituições que formam a rede de proteção
à criança e ao adolescente uma mudança de metodologia de ação que vise promover
à desinstitucionalização em um tempo menor, fato que ratifica a disposição do
Estatuto de que o acolhimento é uma medida excepcional e provisória, que não implica
em privação de liberdade.
Não se trata apenas da execução da letra da lei ou do alcance de metas e
prazos estabelecidos, nem tão pouco de afiançar a qualidade dos programas de
acolhimento. Diz respeito à necessidade do trabalho social intensivo com as famílias
50
que irão receber os acolhidos, da garantia dos direitos sociais, do trabalho
intersetorial, da efetivação da proteção social, enquanto dever do Estado. Nesse
sentido, o processo de fortalecimento da família, com vistas à reintegração familiar
antecede qualquer outra providência a ser tomada em relação à criança/adolescente,
conforme versa o Art. 19, parágrafo terceiro da referida lei:

§ 3° A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família


terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será
esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo
único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do
caput do art. 129 desta Lei. (BRASIL, 2010, p.14).

A Lei atribui à família centralidade no trato e cuidado de crianças e adolescentes


em situação de acolhimento, confirmando o que tem sido preconizado pela
Constituição Federal, pelo Estatuto e por leis como Lei Orgânica de Assistência Social
e a Política Nacional de Assistência Social. É importante ressaltar que para esses
artigos da lei serem efetivados, a rede de proteção deve estar articulada, uma vez
que, tratam-se de vínculos fragilizados e/ou perdidos com essas famílias dado o
contexto de violação de direitos a que foram submetidos.
Deve ser levado em consideração o bem-estar da criança ou do adolescente,
atendendo, quando este for capaz de opinar, o seu desejo, fazendo valer o papel de
sujeito de direitos ressaltado pelo Estatuto, assim como, criando mecanismos para a
afirmação de sua autonomia, e principalmente, a desinstitucionalização.
O prazo estabelecido pela nova lei (no máximo dois anos) para o período de
acolhimento aponta um novo norte para crianças e adolescentes em medida protetiva
de abrigo, exigindo que as instituições se articulem e tracem um plano efetivo para
que a institucionalização seja de fato provisória,

Entretanto, no universo de entidades de acolhimento institucional


pesquisado, o percentual de crianças e adolescentes que permaneceram no
serviço até o período de seis meses não chega a 20%. Em torno de 50% dos
atendidos permanecem no serviço entre 6 meses a 2 anos e um número
bastante alto, correspondente a aproximadamente 35% dos acolhidos, são
mantidos nas entidades por mais de dois anos, o que corresponde a mais de
10 mil crianças e adolescentes (CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, 2013, p.52).

Mesmo diante das mudanças e avanços legislativos, o tempo de permanência


nas instituições permanece alto, o que pode ser explicado, em parte, pela dificuldade
da superação do contexto que condicionou o acolhimento institucional.

51
O desligamento deve ocorrer de forma gradativa, e nesse processo o trabalho
social envolvendo a família é primordial para essa superação. A medida de
acolhimento, embora seja necessária, não pode ser a única atitude protetiva, essa
deve ser acompanhada do acionamento da rede de proteção para que o retorno da
criança/adolescente alcance resultado satisfatório, caso contrário, o acolhimento pode
perdurar e, ainda assim, a reintegração familiar não ocorrer de forma exitosa.
Assim, a convivência familiar e comunitária é o direito assegurado às crianças
e adolescentes de serem cuidados por uma família, dentro de uma comunidade, quer
seja sua família de origem ou substituta. Rizzini entende a convivência familiar como:

[...] a possibilidade da criança permanecer no meio a que pertence. De


preferência junto à sua família, ou seja, seus pais e/ou outros familiares. Ou,
caso isso não seja possível, em outra família que a possa acolher. Assim,
para os casos em que há necessidade das crianças serem afastadas
provisoriamente de seu meio, qualquer que seja a forma de acolhimento
possível, deve ser priorizada a reintegração ou reinserção familiar – mesmo
que este acolhimento tenha que ser institucional (RIZZINI, 2007, p.22).

O Estatuto coloca o acolhimento institucional como uma medida protetiva que


só deve ser aplicada quando esgotadas todas as possibilidades de manutenção dos
vínculos familiares, ou quando o ambiente familiar se constitui ameaça ao
desenvolvimento e bem estar da criança e adolescente.
No entanto, a pesquisa realizada pelo Ministério Público apontou que nos
últimos dois meses de 2012, apenas 24% dos acolhidos em abrigos institucionais
recebiam visitas, esse percentual caiu, em 2013, para 23%. Nas Casas Lares esse
percentual é de 24,4% e 23,5% respectivamente.

52
Fonte: files.consultoriopsi.webnode.com

A ausência de visitas frequentes retrata o persistente contexto de abandono e


a necessidade da atuação das equipes das instituições as famílias de origem,
sensibilizando quanto à necessidade das visitas, identificando os motivos pelos quais
elas não ocorrem e auxiliando à família a saná-los. Essa realidade se configura em
uma dificuldade na garantia do direito à convivência familiar.
Esse direito deve ser assegurado não apenas pelas instituições responsáveis
pelo acolhimento, como também pelos órgãos que compõem a rede de proteção, que
inclui o poder Judiciário (Juizado e Curadoria da Infância e Juventude), os Conselhos
Tutelares, o poder Executivo nas três esferas – federal, estadual e municipal.

A ineficiência das políticas públicas em um contexto de diminuição de


investimentos na área social, somado a desproteção social a que estão submetidas
às famílias, causam situações de violação de direitos que o avanço legal e normativo
não é, sozinho, capaz de resolver. O investimento em serviços de caráter universal,
em programas de proteção social, pode ser considerado o início das respostas que
precisam ser dadas pelo Estado para a alteração dessa conjuntura.
Da breve análise dos princípios incorporados pela Doutrina da Proteção
Integral, bem como do rol de direitos fundamentais de crianças e adolescentes,

53
previstos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, conclui-
se que os direitos fundamentais refletem a proteção integral preconizada,
representando um avanço. Porém, o desafio que atinge a todos, sociedade, famílias
e Estado, é o de transformar os direitos fundamentais em prática no atual momento
histórico da infância e adolescência no Brasil, e não somente representar uma
conquista formal.

54
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