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TEORIA DA

CONTABILIDADE

Aline Alves
Revisão técnica:

Lilian Martins
Cientista contábil
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora de Curso de Graduação em Ciências Contábeis

A474t Alves, Aline.


Teoria da contabilidade [recurso eletrônico] / Aline
Alves; [revisão técnica: Lilian Martins.]. – Porto Alegre:
SAGAH, 2017.

Editado também como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-280-5

1. Contabilidade. I.Título.

CDU 657

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147


Identificação dos princípios
e das convenções contábeis
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar os princípios contábeis adotados no Brasil.


„„ Reconhecer os princípios atuais de contabilidade aceitos, conforme
CPC 00–R1.
„„ Analisar as convenções contábeis quanto a objetividade, materialidade,
consistência e conservadorismo.

Introdução
Você sabe quais são os princípios contábeis adotados no Brasil? Neste
capítulo, você vai estudar os princípios da contabilidade geralmente
aceitos e as Resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que
regem esses princípios no Brasil, listados a partir do CPC 00–R1. Além
disso, vai ler sobre as convenções contábeis que orientam o trabalho do
profissional contador.

Os princípios contábeis no Brasil


Ao longo do tempo, os acontecimentos ocorridos durante o desenvolvimento
da contabilidade indicaram a necessidade da definição de princípios que
orientassem as práticas contábeis. A busca por princípios contábeis teve origem
na necessidade de atingir a finalidade da contabilidade de modo que fosse
suficiente, almejando atender a todas as demandas de informações. Isso porque
a finalidade da contabilidade é fornecer informações que tenham utilidade
aos diversos usuários.
Os princípios contábeis geralmente aceitos representam normas decorrentes
da evolução dos princípios técnicos, que são usados constantemente no meio
contábil, possibilitando a compreensão de modo integral das demonstrações
2 Identificação dos princípios e das convenções contábeis

contábeis. Os princípios se desenvolvem e se alteram de acordo com a evolução


do conhecimento, levando a contabilidade a adotar essas modificações.
Os primeiros impulsos a fim de definir os princípios contábeis ocorreram
logo no início do século XX, quando houve grande avanço da evolução
industrial e econômica, resultando na utilização cada vez mais constante
das informações contábeis no meio social. Isso fez surgir a necessidade
de unificar os métodos, visando elaborar documentos confiáveis e que
pudessem ser comparados com períodos diferentes, consolidando, assim,
os princípios contábeis.

No Brasil, primeiramente, os princípios contábeis foram elaborados com a Resolução


CFC nº. 530, de 28 de outubro de 1981, em união com a Resolução CFC nº. 529, de 23
de outubro de 1981, que aprovou as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs), que
correspondem aos procedimentos que derivam da execução dos princípios, estando
a eles vinculadas (CONSELHO, 2008).

Outra importante é a Resolução CFC nº. 750, de 29 de dezembro de 1993,


que apresenta os princípios contábeis, entre eles o da entidade, conforme segue:

Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da


Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferen-
ciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes,
independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas,
uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou
sem fins lucrativos. Por consequência, nessa acepção, o Patrimônio não se
confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade
ou instituição (CONSELHO..., 1993).

A Resolução CFC nº 750/1993 foi atualizada pela Resolução CFC n°. 1.282,
de 28 de maio de 2010, e, com isso, passou a ter alguns dos seus artigos
modificados:

Art. 5º — O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará


em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos com-
ponentes do patrimônio levam em conta essa circunstância.
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Art. 6º — O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração


e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações ín-
tegras e tempestivas. Parágrafo único: a falta de integridade e tempestividade
na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de
sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade
e a confiabilidade da informação.
Art. 7º — O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os
componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores
originais das transações, expressos em moeda nacional.
Art. 9º — O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações
e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, indepen-
dentemente do recebimento ou pagamento. Parágrafo único: o Princípio da
Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de
despesas correlatas.
Art. 10 — [...] Parágrafo único: o Princípio da Prudência pressupõe o emprego
de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às esti-
mativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas
não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados,
atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação
dos componentes patrimoniais (CONSELHO..., 2010).

A Resolução CFC nº. 1.282/2010, assim com o a Resolução CFC nº. 750/1993,
foi revogada, conforme NBC TSP — Estrutura Conceitual, entrando em vigor
a partir de 1/1/2017 (BRASIL, 2017).

Princípios aceitos, conforme CPC 00–R1


Os princípios da contabilidade geralmente aceitos buscam harmonizar os
princípios conhecidos mundialmente. São relativos à avaliação da atividade
econômica, no instante em que são realizadas e escrituradas, à demonstração
que abrange essas atividades e à elaboração e evidenciação delas, condensadas
nas demonstrações contábeis. Os princípios contábeis, de acordo com o
Comitê de Pronunciamentos Contábeis — Pronunciamento Conceitual Básico
(CPC 00–R1), são os seguintes:

Entidade — o princípio da entidade assegura que o patrimônio do sócio não


seja confundido com o patrimônio da organização. Dessa forma, ao realizar
um registro contábil da organização, o profissional de contabilidade precisa
analisar se o evento de fato é oriundo da empresa.
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Continuidade — a partir desse princípio, é possível entender que a empresa


terá a continuidade das suas operações, ou seja, que não possui uma data
específica para encerramento das suas atividades.

Denominador comum monetário — com ele, fica garantido que todos os


bens, os direitos e as obrigações da organização sejam escriturados por meio
de uma moeda permanente e comum, favorecendo o entendimento com relação
aos relatórios contábeis.

Registro pelo valor — estabelece que os elementos patrimoniais precisam


ser registrados no início pelos valores originais das operações, evidenciados
em moeda nacional.

Competência — mediante esse princípio, fica definido que as entradas e as


saídas devem ser registradas no instante em que aconteceram, desconsiderando
o recebimento ou pagamento.

Compreensibilidade — fica definido que as informações produzidas pelos


relatórios contábeis precisam ser transparentes para que possam ser compreen-
didas pelos usuários. No entanto, existem informações complexas, necessárias
para o entendimento comum, fundamentais devido a sua importância e que,
por isso, não podem ser excluídas.

Relevância — corresponde à influência que a informação possui sobre a tomada


de decisões. As informações são consideradas importantes quando realmente
refletem nas decisões econômicas dos usuários, auxiliando-os a mensurar os
efeitos de fatos passados, aprimorando suas avaliações anteriores ou prestando
auxílio em processos futuros por intermédio de previsões de resultados. A
relevância depende da essência e da materialidade do elemento em debate.

Materialidade — deve diferenciar entre o que é importante e resultará em


vantagens e o que não é importante, resultando apenas em obrigações. A infor-
mação é considerada material quando sua omissão ou desvio refletir nas decisões
econômicas dos usuários. A materialidade representa uma percepção significante
e específica da empresa fundamentada na essência, na relevância ou em ambos.

Confiabilidade — a informação contábil não deve conter erros e deve ser


evidenciado de modo correto aquilo que pretende. Para que se tenha confiança
nas informações apresentadas, elas devem apresentar adequadamente as
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movimentações dos fatos ocorridos. O balanço patrimonial da empresa deve


demonstrar as transações decorrentes das contas do ativo, do passivo e as
mutações patrimoniais.

Consistência — um mesmo critério precisa ser adotado e aplicado até o


encerramento do exercício social, pois, assim, é possível que se realize a com-
paração entre os relatórios contábeis do exercício vigente com os anteriores.

Essência sobre a forma — a informação deve ser registrada em conformidade


com a sua substância e a real situação econômica.

Neutralidade — visando à confiança da informação contábil, é preciso que


exista imparcialidade no momento da escrituração e o devido levantamento
dos demonstrativos.

Integridade — significa que a informação precisa ser íntegra, considerando


os limites de materialidade e custo.

Prudência — ao avaliar uma informação para um relatório, é preciso ter cuidado


com relação ao julgamento dessa informação. Se ela não for confiável, é preciso
avaliar as consequências. É importante prevenir que ativos e receitas sejam superva-
lorizados com relação aos passivos e despesas, que, nesse caso, seriam depreciados.

Comparabilidade — as demonstrações contábeis são divulgadas no exercício


social e o imediatamente anterior. Por isso as demonstrações contábeis precisam
ser evidenciadas em exercícios sociais distintos, a fim de que o usuário da
informação contábil possa fazer comparativos sobre a atuação empresarial e
reconhecer tendências na sua situação patrimonial e financeira.

Tempestividade — é preciso que a informação contábil seja apresentada de


modo eficaz, para que não perca a relevância e a confiabilidade. No entanto, é
necessário estimar a agilidade da informação, visando não refletir no princípio
da continuidade. Tempestividade significa possuir a informação disponível
para auxiliar na tomada de decisão.

Oportunidade — corresponde ao método de avaliação e demonstração dos


itens patrimoniais para gerar informações completas e tempestivas.
Os princípios apresentados visam direcionar a conduta do profissional
da contabilidade, definindo instruções de comportamento perante diversas
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circunstâncias. Correspondem a regras gerais que asseguram a total aplicação


dos objetivos desses profissionais.

Convenções contábeis
As convenções contábeis surgiram fundamentadas na margem de autonomia
que os princípios contábeis possibilitam ao contador quanto à escrituração das
transações da entidade, ou seja, dos acontecimentos ocorridos. As convenções
são mais diretas e possuem a tarefa de apontar o comportamento correto que
deve ser considerado no exercício da profissão de contador. Essas convenções
se referem a considerações usadas como orientação para o profissional que
atua na contabilidade, regulamentando modelos de conduta para o registro
dos eventos contábeis.
As convenções visam estreitar o alcance dos princípios contábeis, es-
tabelecendo com maior exatidão e transparência a sua abrangência e o seu
significado. Elas são uma espécie de complemento dos princípios e postulados,
buscando limitar conceitos, tarefas e rumos a serem seguidos no que se refere
à escrituração das transações, favorecendo a atuação do profissional contábil.

Convenção da objetividade
A convenção da objetividade relaciona-se ao aspecto de neutralidade que precisa
estar na contabilidade na escrituração dos fatos que abrangem a gestão do patri-
mônio empresarial. Cabe ao contador adotar o critério mais correto para relatar um
fato contábil. O profissional deve exercer a contabilidade de modo mais prático,
desconsiderando qualquer ação de administradores ou demais indivíduos que
possam refletir na sua função. O registro contábil precisa estar fundamentado em
documentação que confirme a ocorrência dos fatos ou das transações.
A convenção da objetividade visa excluir ou limitar áreas de descomedido
liberalismo na adoção de procedimentos, especialmente de valor.

No caso de não haver documento como base, é preciso contratar peritos em avaliação,
que possam fornecer valores objetivos por meio de laudos, para que o contador
consiga aplicar a contabilidade de forma imparcial.
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Se o profissional possuir mais de uma alternativa de valores para conferir


a um bem específico, como, por exemplo, a documentação original de compra
e um laudo pericial de avaliação do bem, ele precisará escolher pelo método
mais prático — ou seja, o documento.

Convenção da materialidade
A convenção da materialidade define que a contabilidade não precisa preocupar-
-se com valores ou eventos considerados sem grande relevância com relação ao
registro e ao controle. A informação contábil precisa ser importante, justa e apro-
priada, e cabe ao contador observar a relação custo e vantagem da informação
produzida, prevenindo, assim, qualquer desperdício de recursos e de tempo.
Fica a critério da administração da entidade definir uma relação custo-
-benefício, a fim de decidir sobre a escolha de um sistema contábil mais
adequado e específico, prevenindo a perda de recursos e de tempo para mo-
nitorar os itens e as variações do patrimônio que tenham valores reduzidos
em relação ao próprio patrimônio.

Convenção da consistência
A convenção de consistência determina que os procedimentos escolhidos no
registro dos atos e fatos administrativos devem permanecer constantes, ou seja,
não devem ser modificados frequentemente. Essa convenção representa o padrão,
o uso de métodos uniformes durante um período mais extenso para o registro
dos eventos contábeis e o desenvolvimento das demonstrações financeiras.
Se houver a precisão das alterações com relação aos procedimentos defini-
dos, esses procedimentos devem ser apresentados em notas explicativas, me-
diante os relatórios contábeis, esclarecendo ao usuário da informação contábil
a modificação ocorrida. A elaboração dos relatórios deve ter embasamento
no conteúdo das informações sólidas, para facilitar o seu entendimento e a
verificação pelos diversos usuários.
A descontinuação da consistência nos registros contábeis tem reflexos
nos demonstrativos contábeis, afetando a análise transparente e eficiente
relacionada ao comparativo dos demonstrativos dos exercícios anteriores.

Convenção do conservadorismo
A convenção do conservadorismo estabelece que o contador precisa manter
um comportamento tradicional em se tratando dos resultados que deverão
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ser evidenciados, prevenindo que os usuários da informação contábil tracem


projetos distorcidos. A conduta cautelosa do profissional de contabilidade é
demonstrada, por exemplo, na preocupação de antecipar o prejuízo e não o
lucro. Assim, as ações do contador não causam efeitos sobre os acionistas,
ou seja, ele entende que é melhor estimar um lucro menor e ter como retorno
um lucro superior ao esperado do que o contrário. Cabe ressaltar que essa
variação deve ser irrelevante, pois precisa estar o mais próximo da realidade.
A finalidade do conservadorismo é não apresentar uma imagem positiva em
uma situação que pode mostrar-se contraditória.
Na existência de opções igualmente válidas para se conferir valores aos
itens patrimoniais, tendo por base a prevenção, é preciso escolher os valores
menores ao ativo e os valores elevados ao passivo. Assim, se surgirem dúvidas
em mais de um valor com relação à dívida que a empresa possui com terceiros,
o profissional de contabilidade deve registrar o valor maior.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Princípios e normas brasileiras de contabilidade.


3. ed. Brasília, DF: CFC, 2008. Disponível em: <http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-
-content/uploads/2013/01/Livro_Principios- e-NBCs.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2017.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 750/1993. Dispõe sobre
os Princípios de Contabilidade (PC). Brasília, DF, 1993. Disponível em: <www.cfc.org.
br/sisweb/sre/docs/RES_750.doc>. Acesso em: 19 out. 2017.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 1.282/2010. Atualiza e
consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os Princípios
Fundamentais de Contabilidade. Brasília, DF, 2010. Disponível em: <http://www1.cfc.
org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1282.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2017.
CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL. Normas brasi-
leiras de contabilidade: NBCs — NBCs T 10 — NBC T 15 NBC TSP Estrutura Conceitual
— NBCs TSP NBCs T 16 — NBCs PG. Porto Alegre: CRCRS, 2017. v. 1. Disponível em:
<http://www.crcrs.org.br/arquivos/livros/livro_principios_normas_v1.pdf>. Acesso
em: 04 nov. 2017.
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Leituras recomendadas
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamentos técnicos contábeis 2012.
Brasília, DF: CFC, 2013. Disponível em :<http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2017.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 1.121/2008. Aprova a NBC
TG ESTRUTURA CONCEITUAL – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação
das Demonstrações Contábeis. Brasília, DF, 2008. Disponível em: <http://www1.cfc.
org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1121.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2017.
LUNKES, R. J. Contabilidade gerencial: um enfoque na tomada de decisão. Florianópolis:
VisualBooks, 2007.
LUZ, É. E. Teoria da contabilidade. Curitiba: Intersaberes, 2015.
SANTOS, A. S. Contabilidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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