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Síntese: Este trabalho de pesquisa tem por objetivo fazer uma refle-
xão bioética sobre as Diretivas Antecipadas da Vontade à luz da moral
cristã e da Doutrina do Magistério da Igreja, em vista da dignidade hu-
mana, nas questões relativas à terminalidade da vida. Para tanto, parte
de uma reflexão sobre dignidade humana, direito à vida e autonomia,
na perspectiva da doutrina cristã católica e conclui que apenas dentro
de um contexto de profundo respeito pelo ser humano, o que inclui o
respeito pela vida humana, desde a concepção até a morte natural, as
Diretivas Antecipadas da Vontade podem vir a constituir-se uma opção
ética, não entrando em conflito com a moral católica.
Palavras-chave: Diretivas antecipadas. Bioética. Magistério da Igreja
Católica.
Abstract: This paper aims to make a bioethical reflection on Advance
Health Care Directive under the perspective of Christian morality and
the Catholic Church’s Magisterium doctrine, in view of human dignity
in matters relating to life termination. Therefore, it starts reflecting on
human dignity, right to life and autonomy in the Catholic Christian
doctrine perspective and concludes that only within a context of deep
respect for the human being, which includes respect for human life
from conception to natural death, advance directives may constitute an
ethical option that does not conflict with Catholic moral.
Keyword: Advance directives. Bioethics. Catholic Church’s Magisterium
Introdução
O fenômeno da morte e o processo de morrer têm gerado inúme-
ras polêmicas e levantado questões bioéticas que estão longe de ser
respondidas à luz de uma ética global. Os questionamentos éticos que
envolvem a terminalidade da vida são originários, por um lado, do ace-
lerado progresso na área da saúde, tanto em tecnologia médica quanto
1. Expressão criada por Max Horkheimer, filósofo da escola de Frankfurt, e designa a operacio-
nalização dos processos racionais onde conhecer significa dominar. A redução da razão à sua dimensão
instrumental leva a uma concepção utilitarista que se transforma em critério para a eficiência das ações.
À razão instrumental, eficientista, opõe-se à razão crítica (Petry, 2014).
2. JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Evangelium vitae (EV) – ver referências bibliográficas.
814 M.E.O.S. Silva. Diretivas antecipadas da vontade
3. Segundo Kress (2008, p. 285), podem ser distinguidas, sob o conceito de “eutanásia”, quatro
diferentes opções de ação: acompanhamento terminal, eutanásia indireta, eutanásia ativa ou direta e
eutanásia passiva. O acompanhamento terminal consiste no alívio de dor e cuidados básicos com o pa-
ciente terminal, como: satisfação das necessidades básicas de fome e sede, desobstrução das vias aéreas
e cuidados físicos. A eutanásia indireta consiste em atenuar a dor do paciente terminal, mesmo tendo
por efeito colateral e não desejado a abreviação de sua vida (ação de duplo efeito). A eutanásia direta
consiste na abreviação da vida “desejada e objetivada”, portanto, a morte direta do paciente terminal ou
gravemente enfermo, pelo médico. A eutanásia passiva consiste na interrupção de tratamento médico
com o fim de abreviar a vida de paciente terminal, assegurando-se assistência básica, como; higiene,
leito, atendimento humano, necessidades de fome e sede e atenuação da dor. É interessante salientar
que o acompanhamento terminal que Kress engloba sob o conceito de eutanásia corresponderia à orto-
tanásia que envolve os cuidados paliativos. Neste artigo, como será exposto oportunamente, propomos
que ortotanásia e eutanásia são axiologicamente opostas.
4. CONCILIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et spes (GS).
REB, Petrópolis, volume 75, número 300, p. 809-826, Out./Dez. 2015 819
Considerações finais
O relativismo ético tem levado o ser humano a ferir sua própria
dignidade, repetindo erros de um passado não muito distante que mar-
caram profundamente a humanidade, erros estes que levaram às atro-
cidades cometidas no nazismo. É urgente que uma ética de respon-
sabilidade seja recuperada para que isto não se repita na história da
humanidade. Diante dos avanços tecnológicos é necessária não apenas
a responsabilidade com o futuro da humanidade, mas também com o
próprio ser humano em sua singularidade. Apenas dentro de um con-
texto de profundo respeito pelo ser humano, o que inclui o respeito
pela vida humana desde a concepção até a morte natural, as Diretivas
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