Acadêmicas
Fernanda Albuquerque Gil
Janete Alves Xavier de Souza
Tutor Externo
Valquiria Pereira
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A dança é uma forma de expressão artística baseada no movimento corporal praticada desde a antiga
humanidade.
Segundo VERDERI (2009), o ato de dançar vem dos povos primitivos, que usavam a dança para
diferentes ocasiões: como no período de colheita, em rituais á Deuses, em homenagem a natureza,
em casamentos, etc. Ou seja, o homem dançava por inúmeros significados: caça, colheita, alegria,
tristeza...O homem dançava para tudo que tinha significado.
O pensamento de VERDERI nos faz perceber que a dança é realmente uma das artes mais antigas,
ela foi a primeira forma de expressão emotiva, que marcou vários acontecimentos na humanidade em
diversas épocas.
Ao longo dos anos a dança evoluiu em seus conceitos, nos fatos sociais e culturais e, em tempos
atuais, ela executa um papel fundamental para o ser humano, pois aperfeiçoa a coordenação motora,
trazendo ao cotidiano uma grande paz de espírito e quando realizada em grupo proporciona uma
convivência social saudável.
Além disso, quem dança tem mais facilidade para construir a imagem do próprio corpo, o que é
fundamental para o crescimento e a maturidade do indivíduo e a formação de sua consciência social.
A criança é um ser que vive em constante movimento. Seus impulsos são espontâneos, seus
movimentos chegam a ser similares ao da dança, sendo ela uma forma natural de expressão. Além
disso através do movimento a criança busca conhecimento de si e de tudo que está a sua volta.
Nessa perspectiva LABAN (1990) afirma:
“Quando criamos e nos expressamos por meio da dança, interpretamos seus ritmos e formas, aprendemos a relacionar
o mundo interior com exterior”.
Com base no raciocínio de LABAN, é possível ter o entendimento de que a dança é uma dimensão
importante do desenvolvimento dos movimentos e da cultura humana. Ao movimentar-se as crianças
expressam sentimentos, emoções, pensamentos, adquirem cada vez mais controle sobre o seu próprio
corpo e interagem com diferentes grupos adquirindo autoconhecimento e aprendendo a viver em
sociedade.
Desse modo, reforçamos a importância da presença da dança no ambiente escolar. E, a Educação
Infantil é então, um período propício para a introdução da dança, para a descoberta de si, do outro e
do mundo.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96 a Educação Infantil é
a fase que envolve crianças de 0 a 6 anos de idade. Ela é uma área de conhecimento em construção,
responsável pelo bom desenvolvimento da criança de forma integral, que atua não só da forma
cognitiva, mas também do físico e emocional.
É partindo dessa concepção que buscamos nesse trabalho apontar a dança como uma ferramenta
preciosa a ser utilizada na Educação Infantil através de práticas pedagógicas.
De acordo com PEREIRA (2001):
(...) “a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela pode-se levar
os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a explorarem o mundo da emoção e
da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos, movimentos livres (...). Verifica-se
assim, as infinitas possibilidades de trabalho do/ para o aluno com sua corporeidade por
meio dessa atividade”.
Partindo dessa visão e conforme estudos, compreendemos que trabalhar com a dança no espaço
escolar não se resume ao ensino de danças ou técnicas de movimento.
A dança permite ensinar, da maneira mais divertida todo o potencial de expressão do corpo humano,
ela fortalece a socialização e além disso, se torna um ótimo recurso para desenvolver uma linguagem
diferente da fala e da escrita.
No entanto, muitos professores da Educação Infantil ainda não veem a dança como uma atividade
pedagógica. Portanto, será que a dança tem sido utilizada no currículo com a real importância
pedagógica que ela pode proporcionar?
Ainda hoje, em muitas instituições de ensino, é percebido que a dança mesmo tendo conquistado seu
espaço na área educacional ainda não ganhou ampla importância como um recurso pedagógico de
grande valia para a aprendizagem.
Nesse sentido vale reforçar alguns apontamentos de MARQUES (1990):
a ignorância daquilo que pode ser considerada dança, a visão equivocada de que dança tem que ser algo acadêmico, a
dificuldade dos profissionais de lidar com o corpo e a falta de experiência são algumas das razões para a dança ser
pouco compreendida como área de conhecimento.
A dança está presente na educação, mas de uma forma muito restringida por não ser considerada uma
disciplina específica. Com isso, a visão sobre ela é refletida com inúmeras mazelas em relação a sua
introdução dentro do contexto escolar, como por exemplo, falta uma proposta pedagógica adequada,
o despreparo do professor para realizar tal tarefa, a ignorância daquilo que pode ser considerado
dança, entre outros...
Além disso, a dança ainda é vista em muitos espaços escolares apenas como um recurso pedagógico,
ou até como uma forma de recreação, com aulas apenas de dança, Educação Física ou Artes,
ministradas por um profissional, cuja formação se dê na Licenciatura de Dança ou Educação Física.
De acordo com VERDERI (2000) e MARQUES (2003) promover a educação através da dança
escolar não se resume em buscar sua execução em “festinhas comemorativas” e tão pouco oferecer a
ideia de que dançar se aprende dançando.
A dança deve ser introduzida e trabalhada na educação de uma maneira lúdica, ou seja, deve ser
divertida, alegre, com brincadeiras, jogos..., permitindo que o aluno descubra mais sobre seu próprio
corpo e sobre o ambiente com o qual interage.
É por meio do ato de dançar descontraidamente que a criança consegue perceber o espaço ao seu
redor, os colegas que dançam com ela, o ritmo e a melodia da música que toca, o peso de seu próprio
corpo, entre outros.
Ao longo das aulas, o professor deve atuar como um mediador que propõe as atividades e observa as
crianças atentamente.
Assim, conseguirá identificar as características de cada uma delas, bem como a maneira como reagem
ao processo educativo.
Dentre os tópicos que podem ser propostos durante a prática da dança, é possível estimular os alunos
a ampliarem seus movimentos e descobrirem variações destes.
Eles podem ser, por exemplo: firmes, leves, fortes, diretos, fluídos, expansivos, lentos, etc.
Além disso, também é possível brincar com as diferentes emoções adquiridas durante uma dança,
bem como as formas para expressar os sentimentos que vão surgindo como alegria, surpresa, frio,
medo, amor, serenidade, etc.
E ainda, como a dança constitui-se em um processo social, durante a interação entre o grupo, os
alunos podem ajudar uns aos outros nas descobertas e aprendizados possíveis.
É extremamente importante promover atividades coerentes com a turma e sua realidade, associada às
vivências de cada um.
Com isso, ressaltamos que professores devem ter o discernimento que os conteúdos trabalhados deve
estar centrado na realidade e no contexto dos alunos e devem ser transformados de forma
problematizadora e consciente, para que os alunos entendam a dança como um processo individual,
coletivo e social no qual podem produzir saberes e conhecimentos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esse trabalho caracteriza-se por uma pesquisa descritiva, qualitativa, baseada na metodologia de
pesquisa bibliográfica. Levamos o período de 3 meses desde a sua elaboração e conclusão, em que
coletamos da internet dados de trabalhos científicos, artigos, revistas e vídeos do youtube
relacionados a educação.
E, também como complemento, foi utilizada a troca de vivências entre as componentes do grupo, em
que ambas valeram-se de suas próprias experiências e de seus filhos no ambiente escolar.
Através da nossa pesquisa procuramos demonstrar que a dança pode ser um instrumento de auxílio
no ensino de aprendizagem da criança na Educação Infantil, capaz de promover a criança a um bom
desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social.
E, que é de grande relevância que o professor busque saber a real proposta da dança dentro de sala de
aula e tenha a consciência de que o uso da dança como prática pedagógica é benéfico em todos os
aspectos sejam eles de habilidade, socialização, educação, etc.
Portanto, faz-se necessário que tais educadores se preocupem com a construção do conhecimento da
criança e que estejam abertos a inovações e mudanças.
Os vídeos assistidos no canal do youtube serviram de apoio ao nosso entendimento sobre o tema abordado, e
em especial não poderíamos deixar de citar aqui o trabalho que a arte-educadora Juliana Montoia desenvolve
há 6 anos, com seus alunos de educação infantil de uma escola pública de São Paulo, em que descobriu na
dança uma nova linguagem para trabalhar com seus alunos, ela conseguiu inserir dentro da grade curricular a
dança, em que é possível aplica-la em diversas atividades e ainda pertencer a um projeto específico. Além
disso, ela reforça como educadora experiente, que é necessário uma formação docente, afim de que entendam
e conheçam o significado e a importância do movimento pra si e para as próprias crianças. Pois é na troca de
movimentos é que se pode construir o saber, a habilidade, afetividade, a independência, etc.
E, ainda do material pesquisado, também foram analisadas as reflexões da obras de autores afim de
um maior e melhor entendimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando falamos em dança não tem como deixar de ligá-la ao movimento, pois dança é movimento e
o bailarino e filósofo húngaro Rudolf Laban observou isso, tanto que ele desenvolveu o Método da
Movimentação composto de 16 temas de movimentos. Esses temas estão relacionados a 4 fatores de
movimento aonde estão interligados todos os gestos do nosso cotidiano: o peso; o tempo; o espaço e
a fluência.
Em sua teoria, ele afirma cada indivíduo tem o seu modo de se movimentar, o seu próprio repertório
que é formado por sua experiência em descobrir seu corpo e o mundo. E que esse movimento deve
ser natural na sua espontaneidade e riqueza.
Além disso, LABAN apesar de pertencer a outra época, já tinha uma visão de que teríamos
necessidades em um mundo moderno, em que o corpo acabaria sendo limitado por regras e padrões
de comportamento.
Afinal, necessidade de expressão não é um dom de poucos. É de todos. Faz parte da natureza humana.
Tanto que o método pedagógico de LABAN, é um dos caminhos para o movimento consciente. Pois
o método propõe que através da conscientização do movimento livre e improvisação seja ampliado
um repertório de movimentação do indivíduo.
A improvisação acontece como uma forma de intuição que integra corpo e mente ou trabalha mais
com as sensações, raciocínios e imaginação.
Desse modo não há como reconhecer que o método de LABAN nos faz ver que ao movimentar-se as
crianças expressam sentimentos, emoções, pensamentos, adquirem cada vez mais controle sobre o
seu próprio corpo e interagem com diferentes grupos adquirindo autoconhecimento e aprendendo a
viver em sociedade. E que a educação não deve limitá-las, por seguir moldes ainda de um ensino
tradicional ou simplesmente por falta de conhecimento. É necessário compreender que ao restringir
os movimentos de um indivíduo, também estamos restringindo a sua inteligência e os seus
sentimentos.
Para LABAN, a dança deve ensinar a criança a viver, mover-se e expressar-se no ambiente que rege sua vida
e, por isso consideramos que suas reflexões devem ser providas de reconhecimento e referência na
Educação Infantil.
Já a escritora, diretora e professora de Dança Isabel Marques, reforça a importância do ensino da arte
na escola e suas diferentes linguagens.
Movida pela influência de Laban, pelas suas próprias experiências e por sua metodologia aplicada
em sua Cia de Dança Caleidos e na sua atuação nas escolas rede pública dos estados do Paraná e São
Paulo ela defende a possibilidade do indivíduo de se manifestar a partir da dança e não só seguir
passos pré-estabelecidos (repertórios prontos).
MARQUES aponta que a dança sempre deve estar associada a Educação, e que sua linguagem deve
ser compreendida para que seus elementos possam ser trabalhados com os alunos.
E que o ato de dançar deve ser compreendido que é uma forma de expressão da vontade do
conhecimento, e não apenas uma reprodução da mídia ou interpretações da nossa cultura popular
(Carnaval, Festa Junina, etc.) ou ainda algo estritamente acadêmico.
MARQUES vê na dança a possibilidade do ser humano ser diferente.
Além disso, ela defende a necessidade do professor se preparar para trabalhar com a dança. Pois
muitos educadores, não conseguem ter relação com a dança, justamente porque não estão preparados
para ela e, dessa forma aponta que é vital a busca pelo conhecimento por parte dos educandos.
Afirma ainda que estamos em processo de transição, nesse mundo moderno, e que a legislação dá
suporte a dança dentro da Educação.
Portanto, Marques ressalta que a dança é um conhecimento para ser sistematizado.
E que a dança é um conhecimento como outro qualquer (matemática, história, geografia, etc). E que
ela nos proporciona diversas leituras do mundo e que quando aplicada na escola de forma clara, com
qualidade, o aluno passa a conhecer a dança em outros aspectos e ele deixa de ser um mero brincante
da dança para virar um conhecedor da dança.
Contudo que expusemos nesse trabalho, ficou evidente que é importante que profissionais da
educação entendam como a dança pode ser pedagógica para que o aluno consiga adquirir suas
habilidades. Pois a dança possui ferramentas que possibilitam a realização de aulas prazerosas, que
por consequência trarão bons rendimentos no processo de aprendizagem, beneficiando as crianças,
em sua questão motora, afetiva e cognitiva.
A dança dentro do processo educacional proporciona uma diversidade de vivências, nas quais a
criança descobre várias formas de se movimentar, conhece seu corpo, suas limitações, enfrenta seus
desafios, expressa seus sentimentos, interage com os outros, desenvolve suas capacidades físicas e
intelectuais, assim construindo conceitos e ideias.
Portanto, professores da Educação Infantil saiam da zona de conforto, é preciso superar barreiras, se
preocupem com a construção do conhecimento da criança, estejam abertos a mudanças, onde é válido
aplicar diferentes recursos para formação delas, sejam eles a dança ou até mesmo brincadeiras, teatro,
música, etc.
É relevante a utilização de práticas novas no intuito de desenvolver e extrair o melhor das crianças.
Permitam-se a dançar com seus alunos uma dança que vai muito além de uma coreografia perfeita.
Esperamos que nossas reflexões levem a novas ideias e discussões, fazendo dessa arte um meio de
educação afim de formar cidadãos conscientes e críticos.
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