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A Terapia Ocupacional utilizando-se da teoria da Integração Sensorial e

da Análise Aplicada do Comportamento para minimizar estereotipias


de crianças com transtornos do espectro do autismo

STÉPHANNY MARIA RAMPAZO

FACIS – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo


Pós-Graduação em Terapia Ocupacional – Saúde Funcional

Resumo:
O presente texto pretende demonstrar como a Terapia Ocupacional com ênfase na abordagem de integração
sensorial e com base na Análise Aplicada do Comportamento pode contribuir de maneira teórica e prática para a
diminuição de estereotipias (que podem aparecer de formas variadas e incontáveis) nos sujeitos com diagnóstico de
Transtorno do espectro do autismo e que podem ser prejudiciais por impedir que esses sujeitos emitam outros
comportamentos mais produtivos socialmente, além de as estereotipias fortalecerem circuitos cerebrais de repetição.
Outra hipótese é que as estereotipias ocorrem para a regulação de disfunções sensoriais presentes em crianças com
diagnósticos dentro dos transtornos do espectro do autismo (TEA).
Portanto inicialmente nesse trabalho, será apresentado sobre os Transtornos do espectro do autismo,
especificamente sobre os comportamentos estereotipados, e em seguida será explanado sobre as contribuições tanto da
terapia de Integração Sensorial (IS), quanto da terapia de Analise Aplicada do Comportamento (ABA) para a
diminuição de estereotipia e regulação das disfunções sensoriais através da terapia ocupacional. Para então deixar esse
trabalho como base para futuras pesquisas sobre a efetividade da terapia de Integração Sensorial e da analise do
comportamento aliados à Terapia Ocupacional para o proposto objetivo de investigar as possibilidades de minimizar
estes comportamentos repetitivos, as estereotipias.

Palavras Chaves: Autismo, Terapia Ocupacional, Integração Sensorial, Analise Aplicada do Comportamento,
Estereotipia.

Abstract: This paper seeks to demonstrate how occupational therapy approach with emphasis on sensory integration
and based on applied behavior analysis can contribute to theoretical and practical way for the reduction of stereotypes
(which can appear in various forms and countless) in subjects with a diagnosis of autism spectrum disorder and may be
harmful by preventing these guys emit other behaviors more socially productive, and strengthen brain circuits
stereotypic repetition. Another hypothesis is that these behaviors occur for the regulation of sensory dysfunction in
children with these diagnoses within the autism spectrum disorders (ASD).
So initially this work will be presented on the autism spectrum disorders, specifically about the stereotypes, and
then will be explained on the contributions of both the sensory integration therapy (IS) therapy and applied behavior
analysis (ABA) to reduce stereotyping and regulation of sensory dysfunction through occupational therapy. And then
leave this as a basis for future research on the effectiveness of sensory integration therapy and behavior analysis
combined with occupational therapy for the proposed purpose of investigating the possibilities to minimize these
repetitive, stereotypic.

Keywords: Autism, Occupational Therapy, Sensory Integration, Applied Behavior Analysis, Stereotypy.
Introdução adquirido habilidades de comunicação social, o que é
um fator de stress, por ser o fator mais difícil para os
O autismo é considerado um distúrbio do
pais de pessoas autistas. (Boyd, McDonough, Rupp,
desenvolvimento, sendo o transtorno invasivo do
Khan, Bodfish, 2010)
desenvolvimento (TID) mais conhecido e estudado. Suas
características são: 1) prejuízo na área social: Como já citado anteriormente, o comportamento
dificuldade em manter contato visual, iniciar e manter repetitivo pode aparecer com diversas topografias,
interação, ter atenção compartilhada e reciprocidade; 2) subdivididas em duas categorias, as de ordem inferior
socioemocional; 3) dificuldade de comunicação: não (estereotipia motora, manipulação repetitiva e sem
falam, falam pouco, falam de maneira disfuncional e função de objetos e partes do corpo gerando até auto-
produzem ecolálica (repetem o que lhe é dito); 4) agressão) e as de ordem superior (comportamentos
presença de comportamentos estereotipados: interesses compulsivos, rituais, rotinas com pouca variabilidade,
restritos, dependência compulsiva de rotinas, interesses por temas restritos). (Boyd, McDonough,
estereotipias motoras e preocupação com partes isoladas Rupp, Khan, Bodfish, 2010)
de objetos. Na maioria dos casos estas características
Para algumas teorias, isso se deve a limitações de
aparecem antes dos três anos de idade, com dificuldade
comunicação entre a região frontal e posterior do
em contato visual e orientação social (olhar nos olhos
sistema nervoso central, afetando as tarefas que
quando é chamado ou quando alguém aparece no
necessitam do funcionamento concomitante da região
ambiente), nos primeiros meses de vida. (Klin, 2006;
frontal e posterior, gerando então comportamentos
Gillberg, 2005)
repetitivos e estereotipados. (Schipul, Keller, Just, 2011)
O diagnóstico do autismo é clínico, ou seja, baseado
Analiso, ainda, pode-se afirmar que a estereotipia é
na observação direta do sujeito e através de relato dos
um comportamento improdutivo, visto que a pessoa com
pais e familiares sobre o desenvolvimento e sobre o
autismo pode aprender e apresentar outras formas mais
repertório comportamental atual do mesmo, além do uso
adequadas de expressar-se (sensorialmente reguladas e
de testes como Autism Diagnostic Observation Schedule
com mais requisitos comportamentais estabelecido)
(ADOS) e Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-
diminuindo, entre outras questões, os conflitos que
R), que são ferramentas de diagnóstico que medem
emergem no contexto familiar, educacional e social em
características comportamentais do autismo. (Gillberg,
razão das estereotipadas.
2005; Schipul e Keller, 2011)
Comumente ocorrem analises interpretativas da
topografia do comportamento estereotipado
Comportamentos repetitivos, restritos e (movimentos corporais), ou seja, alega-se que esses
estereotipias no autismo comportamentos são uma forma de expressão
expontânea como diz Bettelheim: “por estranho e
mesmo ineficazes que esses sintomas possam ser,
Os comportamentos repetitivos vêm sendo muito representam, não obstante, a realização mais
estudados e o que é notável é que as topografias variam espontânea da criança”. (1987, 503p.)
de sujeito para sujeito, porém é universal. (Kern,
O comportamento estereotipado é espontâneo na
Koegel, Dyer, Blew, Fenton, 1982)
medida em que representa uma resposta adaptativa ao
As crianças com autismo que apresentam mundo e cuja aprendizagem se dá dentro para fora e sem
comportamentos repetitivos e restritos vivem uma um ensino formal. Todavia, diferentemente de outros
quebra da funcionalidade em suas atividades de vida comportamentos espontâneos que auxiliam o processo
diária, uma vez que tendem a manter-se nesse constante de desenvolvimento adaptativo ao mundo (ao
comportamento. Tal fato reduz a possibilidade de dia a dia) e que sustentam outras formas de
momentos de aprendizagem e, via de consequência, a aprendizagem formal, o comportamento estereotipado é
possibilidade do desenvolvimento de comportamentos um fator impeditivo do referido desenvolvimento. Daí a
adaptativos. Além disso, existem pesquisas que relatam necessidade de tais comportamentos serem regulados
que os comportamentos repetitivos estão relacionados sensorialmente e minimizados a partir de outros
aos problemas de comportamento de crianças com comportarmentos mais adequados, visto que sujeitos
autismo. Esses comportamentos estereotipados são mais com TEA podem apresentar realizações espontâneas
identificáveis por volta de 2 e 3 anos de idade, e muito mais eficazes, produtivas e comunicativas.
persistem na idade adulta, mesmo que as pessoas tenham
Características sensoriais e motoras no receptores proximais) captam sensações táteis,
autismo proprioceptivas, vestibulares, olfativas, gustativas,
auditivas, visuais, transformam esses estímulos em
Muitos comportamentos repetitivos estão
impulsos que são conduzidos até o córtex sensorial, que
relacionados com o perfil sensorial e motor nos
as integra, organiza, interpreta e as envia para o córtex
transtornos do espectro do autismo. (Boyd, McDonough,
motor, que por sua vez as transforma em respostas
Rupp, Khan, Bodfish, 2010)
motoras a esses estímulos. (Jasmin, Couture, McKinley,
As crianças com autismo apresentam um perfil Reid, Fombonne, Gisel, 2008)
sensorial diferenciado com hipersensibilidade ou
Com a população do espectro do autismo observa-se,
hiposensibilidade a diversos estímulos do ambiente,
em muitos casos, algumas respostas sensoriais
além de déficits motores por conta de desordens
diferenciadas, uma irregularidade na recepção e na
voluntárias e involuntárias. (Baranek, Parham, Bodfish,
organização destes estímulos, que podem causar uma
2005)
disfunção de integração sensorial (DIS) ou transtorno de
“Dificuldades sensoriais e motoras podem modulação sensorial (TMS), gerando aversão, ausência
impactar o funcionamento adaptativo, social ou uma necessidade exacerbada de estímulos sensoriais.
e acadêmico de indivíduos com autismo. Por Estes aspectos comprometem as atividades de vida
isso, avaliações das habilidades funcionais diária, causam problemas posturais e práxicos.
do sistema sensório-motor em que
Por exemplo, geralmente os pais se
indivíduos com autismo estejam mostrando
preocupam com o fato de a criança não
dificuldades são cruciais para o
estar ouvindo bem, uma vez que não
estabelecimento de objetivos terapêuticos
responde aos sons, de se mostrar
prioritários.” (Saulnier, Quirmbach, Klin,
socialmente isolada, porque se envolve em
2011)
comportamentos estereotipados não usuais,
A hipótese desse estudo é que existe relação entre os como ficar balançando as mãos (flapping), e
comportamentos repetitivos e as alterações sensoriais, e de se tornar muito desregulada em relação à
ainda que os comportamentos estereotipados sua resposta aos estímulos cotidianos, como
manifestam-se como forma de compensação sensorial, os sons de utensílios domésticos. Essas
ou seja, a criança apresenta uma alteração sensorial dificuldades podem interferir no
significativa e utiliza dos movimentos estereotipados de aprendizado em ambientes educacionais, no
maneira compensatória para cessar e/ou regular esse estabelecimento de interações sociais
desconforto por hipo-responsividade ou por recíprocas e na participação em rotinas
hiperresponsividade. familiares.” (Saulnier, Quirmbach, Klin,
2011)

Integração sensorial
Sobre as disfunções sensoriais e
A teoria e a terapia de Integração Sensorial foi
transtornos de modulação sensorial
desenvolvida na década de 70, pela terapeuta
ocupacional Dra Jean Ayres, que foi pioneira em Segundo Miller (2007), há três (03) subtipos de
elucidar pressupostos sobre a relação entre Transtorno de modulação sensorial:
processamento sensorial, comportamento, aprendizagem
Hiper-responsivo:
e desenvolvimento. Inicialmente estudou crianças que
apresentavam em comum déficit de atenção e Diante de estímulos sensoriais as pessoas com hiper-
dificuldades em coordenação. Os avanços nas pesquisas responsividade tátil ou defensividade tátil, demonstram
possibilitaram que a metodologia fosse difundida para a respostas aversivas ou exacerbadas, esquivando-se e
aplicação no desempenho ocupacional de pessoas com rejeitando estímulos táteis desagradáveis para elas cujas
diversos diagnósticos. respostas, por exemplo, são: a) cócegas exagerada; b)
evitar ser tocado; c) aversão quando carregados,
abraçados ou embalados; d) esfregar o lugar em que foi
Sobre a recepção de estímulos sensoriais tocado; e) aversão a algumas atividades de vida diária
como banho de chuveiro, lavar o rosto, cortar unhas e
O ambiente nos fornece diversos estímulos
cabelo, escovar os dentes; f) aversão a materiais como
sensoriais, ou seja, as nossas vias sensórias (órgãos e
tinta, massinha, geleca; g) hiper-sensibilidade a tipos de olhos, a boca, os cabelos e) movimentar-se (mudar de
tecidos e roupas; preferência ou aversão a comidas posição constantemente).
dependendo de sua textura ou temperatura; h) evitam
Existem hipóteses de que estereotipias possam estar
andar descalças em algumas superfícies, como areia ou
diretamente relacionadas com as características de busca
grama;
sensorial, como forma do sistema nervoso central tentar
As pessoas com hiper-responsividade sensorial ou suprir através das estereotipias essa necessidade
defensividade sensorial, apresentam esquivas ou sensorial para organizar uma resposta. (Ornitz, 1974;
respostas exacerbadas; exemplificando: a) ao responder Brown, Dunn, 2010)
a sons ambientais normalmente imperceptíveis; b) cobrir
A pessoa com estereotipia pode apresentar diversas
os ouvidos quando ouve sons que incomodam; c)
topografias como: Flapping (movimento com as mãos),
assustar-se com freqüência; d) hipersensibilidade
pular (cama, sofá e chão), girar sobre o próprio eixo,
olfativa, normalmente imperceptível; e)
realizar movimento repetitivo de tronco para frente e
hipersensibilidade por luz ou claridade aumentada.
para trás, manter-se correndo, andar na ponta dos pés,
Outras respostas de hiper-responsividade, são: f) a
balançar as mãos; etc.
insegurança gravitacional que está relacionado estímulos
vestibulares e proprioceptivos e se manifestam, por
exemplo, no bebê, que apresenta choro ao pegarem-no
Estereotipia do ponto de vista sensorial
do berço, ou movê-lo do local; g) incomodo quando os
pés saem do chão, por exemplo, num balanço ou rede; As estereotipias são respostas repetitivas da pessoa
incomodo em grandes altitudes; intolerância a ficar de para regular uma modulação cerebral deficitária. Na
cabeça para baixo; incomodo em superfícies instáveis ou literatura as estereotipias também aparecem ou são
escadas; h) incomodo em ser virado de costas, ao pular, definidas como auto-estimulação, o que significa que a
saltar, correr e escalar. criança se estimula por si só e de modo solitário para
alcançar esta auto-regulação.
Baraneck, 2005, refere que crianças com TEA que
manifestam defensividade sensorial, tem mais chance de Um problema em deixar a pessoa realizando estes
apresentar inflexibilidade e comportamentos rígidos comportamentos repetitivos é que quanto mais ela os
como verbalizações repetitivas e estereotipias. executa, mais os circuitos cerebrais são reforçados de
maneira repetitiva, prejudicando a aprendizagem e a
Hiporresponsivo:
variabilidade de repertórios. Portanto, é importante não
As pessoas que apresentam hiporresponsividade ou estimulá-la a emitir essas respostas e não permitir que a
dormência sensorial são mais passivas e apresentam pessoa realize este comportamento, já que ele não é
maior latência de respostas. Elas não demonstram produtivo socialmente e impede que ela aprenda outras
nenhuma resposta diferencial às mudanças ambientais habilidades enquanto realiza a auto-estimulação.
ou aos novos estímulos sensoriais do ambiente. Esse tipo
Posto que essas respostas repetitivas representam
de transtorno apresenta hiporrespostas como: a) às vezes
uma necessidade de regulação sensorial é importante
não notar que não tem mais fome, comendo mais que o
garantir que elas sejam satisfeitas. Todavia, não de
necessário para a faixa etária; b) come qualquer
modo a realizar, isto é, pela auto-estimulação, ao
alimento; c) não nota sons ambientais desagradáveis; d)
contrário, com a presença de outra pessoa e por outra
não possuem nenhuma resposta a cheiros desagradáveis,
pessoa. A presença do outro garante que a pessoa
inclusive as próprias fezes; e) dor diminuída; não chora
receberá os estímulos que seu corpo necessita associados
ao cair e se machucar;
ao contato visual, à atenção compartilhada e à
Busca sensorial: reciprocidade sócio-emocional. Essa última dimensão é
fundamental, pois não basta explorar somente os
A pessoa com busca sensorial emite respostas
estímulos sensoriais e táteis sem função presentes no
intensas e excessivas, procurando estímulos sensoriais
ambiente. Essa estimulação funcional apartada do
na maior parte do tempo; alguns comportamentos mais
estímulo da dimensão sócio-emocional pode ensejar o
comuns na busca sensorial são: a) tocar tudo que
aumento das estereotipias em razão do já mencionado
encontra, andar passando a mão pelas texturas das
reforço das ligações cerebrais de repetição.
paredes; b) aperta as outras crianças ou animais e gosta
de morder ou ser mordida; c) bater dedos em superfícies,
emitir vocal play (sons initeligiveis); d) manipular os
Analise aplicada do comportamento processamento sensorial visando à diminuição de
(ABA) estereotipias, que são tão persistentes no quadro de
características das pessoas com TEA.
Segundo o DSM-IV, a limitação da variabilidade de
comportamentos é marcada principalmente por Os princípios básicos da analise aplicada do
preocupação circunscrita a um interesse especial; comportamento, referenciam que todas as ações
dependência compulsiva de rotinas, estereotipias (respostas) de uma pessoa só se devem, pois existem
motoras e preocupação com partes de objetos. Do ponto estímulos que antecedem (geram / eliciam) uma
de vista da analise aplicada do comportamento, isso resposta, que são chamados de estímulos antecedentes e
ocorre por conta de uma restrição comportamental, no estímulos que consequenciam essas respostas, que são
qual as dificuldades em aprender comportamentos chamados de estímulos conseqüentes ou conseqüência.
sociais, verbais e de brincar levam a um repertório
Esta relação entre antecedente, resposta e
restrito. Com isso, o sujeito ocupa seu tempo com os
conseqüência é denominada de tríplice contingência.
poucos comportamentos aprendidos e que geram prazer.
Portanto, o comportamento se define como a relação
O primeiro passo para lidar com isso é ensinar novas entre essas três frentes.
habilidades nas diversas áreas do desenvolvimento: o
A partir dessa contribuição da análise aplicada do
brincar (habilidades sociais, verbais e motoras
comportamento, a tabela abaixo exemplifica um recorte
envolvidas nas brincadeiras funcionais e que geram
da tríplice contingência do ponto de vista sensorial, no
interação com os pares), as atividades de vida diária e
qual o movimento de estereotipia com as mãos
práticas, higiene e autonomia, na comunicação
(Flapping) e uma possível aversão auditiva estão em
(comportamentos verbais vocais ou por troca de pistas
evidência para essa análise comportamental.
visuais) e nas habilidades acadêmicas (conceitos
básicos, leitura, escrita, conceitos matemáticos, etc).
Instalados estes comportamentos é necessário cuidar
para que a pessoa dê preferência a eles como
reguladores ao invés das estereotipias. Para tanto, alguns Antecedente no Resposta do Consequência do
procedimentos utilizados pela análise aplicada do ambiente sujeito ambiente ou das pessoas
comportamento devem ser observados pela Terapia presentes
Ocupacional: Estímulos sonoros O sujeito Reforço negativo (estímulo
diferenciados no coloca a mão aversivo retirado): alivio do
Reforço diferencial: é preciso consequenciar ambiente. na orelha estímulo aversivo (som),
positivamente os comportamentos adequados e atenção social das pessoas
funcionais ensinados nas diversas áreas do presentes.
desenvolvimento e, paralelamente, retirar as Necessidade Flapping Atenção social, saciedade da
consequêcias dos comportamentos inadequados (Ex: fisiológica não necessidade fisiológica,
identificada. reforçamento intrínseco do
atenção).
organismo pela repetição.
Bloquear estereotipias: como não se consegue evitar
o reforçamento automático das auto-estimulações deve-
se bloquear o máximo possível e redirecionar a atenção
da criança para outra atividade de seu interesse.
Avaliação
Ocupar o tempo: é preciso evitar a ociosidade
engajando a criança em atividades funcionais, adequadas Após o conhecimento das possíveis alterações
e estruturadas o maior tempo possível. Na ociosidade sensoriais e de como a analise aplicada do
aumentam as chances de a criança utilizar o seu tempo comportamento e a Terapia Ocupacional analisam as
com estereotipias. estereotipias é possível iniciar a avaliação sensorial.
Visto que mesmo com esses procedimentos as Os padrões de habilidades e déficits
estereotipias muitas vezes, mesmo enfraquecidas, ainda sensório-motores variam amplamente entre
aparecem no repertório diário da criança, é que indivíduos com TEA, e avaliações
paralelamente a isso, deve-se garantir que a pessoa passe específicas devem ser usadas para
por um processo de intervenção de Integração Sensorial determinar a ocorrência de características
e Terapia Ocupacional, para regulação do sensório-motoras e priorizar metas
terapêuticas. Avaliações abrangentes Macios
incluem entrevistas com os pais, exames
Ásperos
médicos, observações comportamentais, e
instrumentos estruturados e padronizados Gelatinosos
que são aplicados por profissionais, e que
Térmicos
estão fundamentados nas necessidades
específicas da criança. (Saulnier,
Quirmbach, Klin, 2011)
Categoria de estímulos sensoriais:
A avaliação das características sensório-
Luminosos
motoras de indivíduos com TEA pode impor
desafios singulares, razão pela qual é Sonoros
importante que os pais procurem por
Olfativos
profissionais que tenham experiência com
avaliação de indivíduos com TEA mais Gustativos
especificamente. (Saulnier, Quirmbach,
Klin, 2011)
Categoria de estímulos proprioceptivos e
vestibulares:
As avaliações que se encontra na literatura para
Compressivos
investigar disfunções sensoriais no autismo são, na sua
maioria, questionários para pais e cuidadores, como por Preensão
exemplo, Sensory Profile (Perfil Sensorial – Dunn &
Movimento
Westman, 1995), o Short Sensory Profile (Perfil
Sensorial Reduzido - Dunn, 1999), o Sensory Profile Estes materiais deverão ser disponibilizados ao
Checklist-Revised (Lista de Checagem do Perfil indivíduo pelo profissional terapeuta ocupacional ou
Sensorial Revisada - Bogdashina, 2003), o Sensory pela família e cuidadores com supervisão e orientação
Sensitivity Questionnaire-Revised (Questionário de do terapeuta ocupacional. O objetivo da estimulação
Sensibilidade Sensorial Revisado - Talay-Ongan & direta ou orientada é garantir que a pessoa receba o
Wood, 2000), o Sensory Experiences Questionnaire estímulo de outra pessoa ao invés de explorar os
(Questionário de Experiências Sensoriais - Baranek, materiais de modo solitário, pois há como já foi dito o
David, Poe, Stone e Watson, 2006), que em seu estudo, risco da auto-estimulação. De outro modo, sem esse
foi capaz de caracterizar perfis sensoriais em crianças cuidado, por vezes, o que ocorre é a estereotipia e não a
com autismo e diferenciar seus padrões sensoriais com sua minimização.
os padrões sensoriais de crianças sem alteração no
Outro aspecto importante é garantir que a presença
desenvolvimento. (Baranek, 1999) e o Evaluation of
do Terapeuta Ocupacional seja recepcionada como parte
Sensory Processing (Avaliação do Processamento
das interações sensoriais. De outro modo, estimular a
Sensorial - Johnson-Ecker e Parham, 2000).
interação sensorial significa a reafirmação da presença
Praticamente não se encontra protocolos de avaliação do outro e, via de conseqüência, a interação social como
sensorial direta das possíveis respostas sensoriais, sendo parte indissociável do processo de cuidado.
assim, este estudo propõe um novo protocolo de
Cada estímulo deve ser apresentado por
avaliação dos perfis sensoriais, através da exposição do
aproximadamente dez segundos; as respostas sensoriais
sujeito a diversos estímulos sensoriais diferenciados,
devem ser observadas em face do estímulo; o registro
registro das respostas sensoriais e análise desses dados
deve ocorrer em torno de cinco dias na semana pelo
por um profissional Terapeuta Ocupacional com
período de um mês da avaliação sensorial. Para isto é
conhecimento da Terapia de Integração sensorial.
necessário um monitoramento por registro e por
Para investigar as respostas sensoriais diferenciadas filmagem.
dos sujeitos e então traçar o perfil sensorial, alguns
materiais foram divididos em categorias para melhor
organização ao realizar o teste. Monitoramento por filmagem
Categoria de estímulos táteis: Uma câmera deverá ser posicionada de maneira
que seja possível observar as expressões faciais da
pessoa (o corpo todo), o material utilizado e os Pode-se também avaliar as respostas de pré-
movimentos do aplicador (terapeutas ocupacionais, requisitos comportamentais básicos como contato visual,
familiares e cuidadores, os dois últimos orientados para atenção compartilhada, reciprocidade socio-emocional e
a aplicação do protocolo) antecipação da ação como na tabela abaixo.

Monitoramento por registro


Pré-requisitos comportamentais básicos
Para avaliar as respostas segue adiante uma Contato Atenção Recirpocidade Antecipação
proposta de um registro minucioso que possibilita visual compartilhada socio emocional da ação
analisar e mensurar todas as respostas esperadas durante
a avaliação e procedimento.
O processo de avaliação pressupõe estimular e Contato visual: olhar nos olhos do aplicador.
observar a resposta simultaneamente. As respostas a
Atenção compartilhada: olhar nos olhos do
serem observadas são: imitação, identificação de partes
aplicador, alternando o olhar com o objeto/item
do corpo, imitação motora com objeto,
utilizado.
compartilhamento da vez. Além disso, é necessário
registrar o tipo de estímulo sensorial utilizado e em que Reciprocidade sócio-emocional: divertir-se junto, ter
parte do corpo ele ocorreu. Segue tabela de referência: reações emocionais.
Antecipação da ação: apresentar respostas motoras e
expressões faciais apenas ao visualizar o material já
Habilidades de conceitos básicos experenciado ou não.
Parte Imitação
Estímulo Identificação Nomeação
Data do motora
sensorial de partes do de partes Avaliam-se também as respostas sensoriais
corpo com
corpo do corpo
objeto primárias, que ao receber os estímulos sensoriais,
poderão ser de aversão ao estímulo, procura do estímulo
ou indiferença ao estímulo e se ocorreu alguma
estereotipia durante a estimulação.
De outro modo, mais especificamente:
Respostas sensoriais primárias (marque com um x)
A data: Registro do dia em que o estímulo foi Apresentou
ocorreu. Não quis mais Quis mais do
Não reagiu à estereotipia
o material ou o material ou
estimulação durante a
O estímulo sensorial: Registro do tipo de material movimento movimento
aplicação
que foi utilizado para realizar o estímulo.
A parte do corpo: Registro da parte do corpo que
recebeu estímulo.
A identificação de partes do corpo: Registrar se a Na tabela a seguir as respostas secundárias que
pessoa soube identificar a parte do corpo estimulada e também são avaliadas:
falada pelo aplicador, ou seja, o aplicador diz o nome da
parte do corpo, como por exemplo, barriga, e a pessoa
deverá apontar onde está a barriga e então inicia-se a Respostas sensoriais secundárias (marque com um x)
estimulação sensorial. Acalmou Agitou

A nomeação de partes do corpo: Registrar se a Depois de registradas essas informações, os dados


pessoa soube dizer o nome da parte do corpo apontado deverão ser copilados para identificar um padrão de
pelo aplicador. respostas, traçando um perfil sensorial para então iniciar
o procedimento para cada resposta sensorial.
A imitação motora com objeto: O aplicador deverá Exemplo de analise de dados das respostas
solicitar que o sujeito faça no aplicador o mesmo primárias:
movimento que o aplicador fez no sujeito e registrar o
resultado.
com estímulos prazerosos e reforçadores, para
minimizar a aversão, além de bloquear, redirecionar e
prevenir estes estímulos.
Hiporresponsividade: Se avaliado que a pessoa
apresenta dormência sensorial, deve-se estimular a
sensibilidade de uma região específica ou de todo o
corpo com os materiais que mais proporcionaram
respostas de procura ao estímulo (verificado durante a
avaliação sensorial).
Insegurança gravitacional: Se avaliado que a pessoa
apresenta aversão a alguns movimentos deve-se oferecer
estímulos vestibulares em meio ao brincar (dirigidos e
Intervenção pareados com estímulos reforçadores).
Busca sensorial e estereotipia: Se avaliado que o
A proposta do presente trabalho é a utilização da sujeito apresenta busca sensorial e estereotipias motoras,
integração sensorial em um cenário lúdico onde ato de esse comportamento deverá ser bloqueado e a pessoa
brincar seja precursor de cada estímulo, uma vez que redirecionada para outra atividade, por conta dos
esta é a melhor forma de desenvolver a integração possíveis prejuízos que pode ter com a continuidade da
sensorial, uma vez que onde o prazer e o estímulo são auto-estimulação. Depois de um tempo, deverá ser dada
indissociáveis a pessoa aprende mais facilmente sobre os uma demanda pequena de outra atividade, para então
seus movimentos, os limites do seu corpo no espaço, disponibilizar o estímulo sensorial com características
sobre a textura e o peso das coisas do mundo, sobre a similares à topografia da estereotipia, já que esse suprirá
presença do outro e como relacionar todos esses a necessidade de maneira funcional e por não ser
estímulos do ambiente de maneira funcional e social. disponibilizado logo após a emissão da estereotipia, não
se corre o risco de a estereotipia ser consequenciada.
Procedimentos gerais Conforme o desenvolvimento do programa de
Após avaliação, os procedimentos gerais sugeridos integração sensorial, também é possível encontrar
por este trabalho é o uso da integração sensorial e seus estímulos que o sujeito utiliza com função adequada e
materiais para: utilizá-los como reforçador para os comportamentos
adequados no dia-dia, uma vez que são estímulos mais
Dessensibilizar: tornar uma determinada sensação naturais para os ambientes sociais e menos intrusivos.
menos aversiva, banalizando-a e pareando-a com
estimulações prazerosas e nunca permitindo que sinta A partir deste estudo a intenção deste trabalho é abrir
novamente a aversão àquele objeto. portas para pesquisas mais aprofundadas sobre eficácia
da integração sensorial com o objetivo de minimizar
Bloquear estereotipia: Se a partir da análise estereotipias e disfunções sensoriais de sujeitos do
observou-se que alguns materiais bloqueiam uma espectro do autismo.
estereotipia, eles poderão ser utilizados no dia-dia com
essa finalidade.
Redirecionar: ensinar a pessoa a manipular aquele
objeto de uma forma mais adequada, com um uso mais
funcional do objeto.
Prevenir: Usar o material para regulação sensorial
antes que o comportamento de auto-estimulação ocorra
através da modulação sensorial.

Procedimentos específicos para cada possível


resposta sensorial
Hiper-responsividade: Se avaliado que o sujeito
apresenta defesividade tatil e/ou defensividade sensorial,
deve-se dessensibilizar, pareando estímulos aversivos
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