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INTRODUCAO AO DIREITO

Teoria Geral do Fato jurídico

1 – Sintetize e explique o significado do conceito de “fato jurídico”.


No campo da teoria geral do direito o fato jurídico é o conceito que tem maior
significado.
Pontes de Miranda criou um sistema para explicar como o fenômeno jurídico se
desenvolve. A partir de uma visão de mundo: mundo como ser um conjunto de todos
os fatos que ocorrem, ocorreram, e irão ocorrer no cotidiano dos indivíduos, fazendo
com que haja uma mudança no mundo. Nesse mundo há fatos relevantes e fatos
irrelevantes.
Como a finalidade do direito é obter a paz social, a paz no mundo das relações sociais.
Quando um fato interfere nessas relações interpessoais, criando distúrbios,
desentendimentos, nessa hipótese esse fato é irrelevante para o direito, porque ele
precisa ser regulado de forma a que essas condutas indesejáveis passem a serem
orientadas para poder conduzir a paz social.
Sobre o mundo dos Fatos: quando um fato é relevante para o direito? Quando ele
pertence ao mundo jurídico, isto é, pela existência de uma regra jurídica que prevê
(hipótese fáctica) em abstrato, fatos sobre os quais serão imputadas certas
consequências. Essa previsibilidade contida na norma jurídica é o que se chama de
suporte fáctico. Assim, temos que um determinado fato concreto pode corresponder
a mais de um suporte fáctico previsto nas regras jurídicas, nada impede que o mesmo
fato seja suporte fático de regras de direito civil, de direito penal, de direito processual,
de direito constitucional etc.

Quando é verificado o que está delineado em abstrato no mundo fático, isto é, quando
o suporte fáctico se concretiza no mundo real, tem-se a incidência e o fato passa a
ser, também, fato jurídico. Desta forma ingressa ao mundo jurídico, tendo sido um
fato do mundo dos fatos que foi juridicizado. Uma vez que houve incidência da regra
jurídica.

As vezes pode existir a regra prevista, ocorrer o suporte fáctico, mais não ter incidência,
uma vez que se encontra no período denominado de vacatio legis. Termo que reflete o
período, que poderá ser delineado pela própria regra jurídica, e que separa, no tempo,
o momento da existência da regra e o da sua incidência.
Mapa mental:

Fato Concreto
INCIDENCIA da Regra
Jurídica*
MUNDO MUNDO DO
DOS FATOS DIREITO

Seleção do
Suporte Fáctico e
Entrada do Fato
Juridicização
Jurídico, carregado
pela Incidência, no
mundo do direito

MUNDO
MUNDO DO
DOS FATOS DIREITO

*A incidência da norma jurídica ocorre independentemente da adesão das pessoas, as torna obrigatórias.

Outra forma de simplificar o conceito de Fato jurídico para a Teoria geral do direito
poderia ser que Fato Jurídico é todo fato social ou natural tutelado pelo direito, ou seja,
contemplado no suporte fáctico da norma jurídica. (Fato jurídico = fato social+ norma
jurídica). Onde todo fato jurídico gera um nascimento, modificação e extinção de
relações jurídicas.
A primeira distinção entre os fatos parte da diferenciação de fenômeno natural que
ocorre sem a intervenção da conduta humana e o fenômeno social é provindo da
atividade humana. Frise-se que todoOrdinários:
fato socialsão
nãoosnecessariamente
fatos previsíveis; nascimento,
é importantemorte,
para
maioridade
o direito porem todo fato jurídico é necessariamente um fato social ou natural.
Podemos ver graficamente no seguinte quadro a distinção dos fatos segundo a
natureza1:

11
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: p. 111
KUCZURA, Nedel Nathalie. A Teoria do Fato Juridico de Pontes de Miranda: p 63-87
Acontecimentos Naturais Extraordinários: são os fatos imprevisíveis e inesperados;
(Fato jurídico stricto sensu) terremotos, raios, caso fortuito/forca maior

de efeitos jurídicos voluntarios


Ações humanas (Ato jurídico Lícito ou Lato sensu)
(Ato)
de efeitos jurídicos involuntarios
(Ato Ilícito)

2 – Como podem ser classificados os fatos jurídicos? Quais são suas espécies, como são
caracterizadas e quais as distinções essenciais entre elas?

E necessário salientar que a doutrina não apresenta uma classificação unânime sobre
o tema, em que pese, ao final apresentem conceitos similares.
Uns dos debates em destaque é a classificação do ato ilícito como fato jurídico em
contraposição com os doutrinadores que o consideram fora dessa classificação.
Em geral podemos dizer que os fatos jurídicos são acontecimentos ou eventualidades
que ocorrem e acarretam a origem, modificação ou extinção de direitos. O fato jurídico
difere-se em (1) Fato jurídico natural (ou fato jurídico stricto sensu); (2) Ato Jurídico
em sentido amplo (ou ato lícito) e (3) Ato ilícito.

Deve-se a Pontes de Miranda a precisão classificatória após estudo minucioso dos fatos
jurídicos, a partir da revisão dos processos lógicos e metodológicos empregados para
classifica-los. Essa classificação parte da individualização dos elementos nucleares
(cerne) diferenciais do suporte fáctico, temos assim:
a) A conformidade ou não conformidade do fato jurídico com o direito.
b) A presença ou não do ato humano volitivo no suporte fáctico hipotético

A observação dos fatos da vida sobre o prisma do mundo do direito revela que existem
fatos que se concretizam conformes as prescrições jurídicas, seriam os fatos conforme
a direito ou Lícitos, por outro lado, há outros fatos cuja concreção implica a violação
das normas jurídicas, por tanto a negação do direito: são os fatos contrários ao direito
geralmente chamados ilícitos2

Podemos apresentar uma classificação basilar onde as doutrinas comungam, esta


classificação pode se dizer que é segundo a natureza, considera a vontade humana (se
é volitivo o ato) e se está conforme a direito ou não (se é licito ou ilícito), para maior
compreensão, ressalve-se que existe uma diferencia entre Fato e Ato, onde os primeiros
são os acontecimentos e os segundos incluem a manifestação da vontade do homem.

a) Fato Jurídico Stricto sensu (ato-fato): são os fenômenos naturais; como fatos,
expressam os fenômenos da natureza independentes do ato humano como cerne
essencial, são exemplos dessa espécie de fato jurídico o nascimento, o implemento da
idade, a morte, a aluvião e a avulsão, chuva forte, alagamento que atinge veículo
segurado; ou desmoronamento de barranco sobre construção vizinha.
Como espécie de ato, podemos entender a participação de um ato humano, mas o
elemento volitivo não é relevante, isto é que não importa se houve ou não vontade
de praticar o ato. É ressaltada a consequência do ato, ou o fato resultante. São exemplos
de ato real a caça; a pesca; o fato de o louco pintar um quadro e lhe adquirir a
propriedade; a criança descobrir um tesouro enterrado e lhe adquirir a propriedade. 3

Na classificação de pontes de Miranda as espécies descritas são divididas em a) fato


jurídico stricto sensu e b) ato-fato jurídico (resultado factício de vontade
humana irrelevante), ambas dentro da categoria conforme a direito (lícitos); o ato-fato
jurídico se subdivide em três espécies: Atos reais (cerne: o resultado fático, não o ato
humano como elemento volitivo), Atos fatos indenizativos (O ato não é ilícito, não há
uma vontade (intenção) de causar o prejuízo, gera o dever de indenizar) e Atos –fatos
caducificantes (cerne: efeito: extinção de direito. Ato volitivo irrelevante)

b) Ato jurídico (ato jurídico stricto sensu): Também chamado de não negocial,
Há uma vontade manifesta ou declarada conscientemente com um objetivo

2
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: p. 115

3
KUMELL, Marcelo Barroso, a Classificação dos Fatos Jurídicos
https://revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/758/481
determinado, não há escolha da categoria jurídica e os efeitos decorrem diretamente
da lei por estarem preestabelecidos. São exemplos o reconhecimento de paternidade,
o estabelecimento de domicilio, adoção de uma criança. Obs.: o ato é administrativo,
ato jurídico praticado por agente público, no exercício de sua competência legal.

c) Negócio jurídico: É um ato jurídico em que há uma composição de


Interesses com finalidade específica e cujos efeitos decorrem da manifestação de
vontade das partes. Tem liberdade para a escolha da categoria jurídica bem como a
estruturação do conteúdo eficacial das relações jurídicas. Existe o predomínio da
autonomia da vontade, com os limites estabelecidos pela lei, especialmente pelas
normas públicas (que visam ao predomínio do interesse público). Os contratos em
geral são exemplos dessa espécie de fato jurídico, exemplo: contrato de compra venda.

Na categoria dos atos contrários a direito encontramos o:

d) Ato ilícito: podemos definila como uma conduta humana antijurídica, que tem
por efeitos a geração de sanções em desfavor de seus praticantes. tipos de atos
ilícitos: civis; administrativos; penais.
A Doutrina atual predominante considera ato ilícito como ato volitivo, limitan-se a
classifica-lo segundo a norma positivada no artigo 159 do Código Civil Brasileiro, não
considerando atos ilícitos que decorram da natureza ou que não envolvam vontade.
Segundo Pontes há mais atos ilícitos contrários a direito de que provém obrigação de
indenizar, em outras palavras as hipóteses de ilicitude são mais abrangentes.
Diferenciemos que na corrente ponteana os fatos ilícitos também são fatos jurídicos
por serem considerados seus efeitos não pretendidos pelo agente, mas sim as
consequências sancionatórias pretendidas pela norma.

Assim os fatos ilícitos são classificados em Fato ilícito lato sensu, que se subdivide
em três espécies: a) Fato jurídico ilícito stricto sensu, b) Ato-fato ilícito (não volitivo);
c) ato ilícito lato sensu:(se divide em duas subespécies, Absoluto e relativo).
a) Fato jurídico ilícito lato sensu: são os acontecimentos da natureza que trazem
como consequência o dever de reparar. A ilicitude resulta de simples fato da natureza.
Pode-se apresentar como exemplo o fato de alguém responder pelos prejuízos
decorrentes de caso fortuito ou força maior, conforme os artigos 957 e 1127 do Código
Civil brasileiro4
b) Ato-fato ilícito: ato no volitivo e que causa prejuízo a terceiro. O mau uso da
propriedade que causa prejuízo à segurança, sossego e saúde dos vizinhos,
independente da vontade de prejudicar, é exemplo de ato-fato ilícito.

c) Ato ilícito lato sensu: ação ou omissão voluntária, culposa ou não, praticada por
pessoa imputável que, implicando infração de dever absoluto ou relativo, viole direito
ou cause prejuízo a outrem.

Conceitos:
Absoluto: ilícito absoluto, não existe relação jurídica entre quem pratica o ilícito e o
ofendido. É o dever geral de todos respeitar o patrimônio jurídico (incluídas a vida, a
integridade física, a liberdade, etc) de todas as pessoas. Ex: Juan abalroa na rua o
automóvel de Carlos. Geraldo mata Abelardo.
Relativo: ilícito Relativo: se entre o agente que pratica o ato ilícito e o ofendido há
uma relação jurídica anterior, por exemplo, um contrato. Exemplo: devedor não paga
sua dívida no vencimento; marido que abandona o lar.

Fato Jurídico Stricto sensu


Ato-Fato (fenômenos naturais, ou atos com
Conforme
vontade irrelevante. Resultado fático relevante)
a direito
(Lícitos)
Ato Jurídico stricto sensu (ato humano volitivo, não
Fato jurídico negocial, efeitos preestabelecidos pela norma.)
Lato sensu
Negócio Jurídico (conduta humana cujos
efeitos decorrem de manifestação de
vontade, Negocial, podem escolher a
categoria juridica)
Contrário
a direito Ato Ilícito
(Ilícitos)

4
KUMELL, Marcelo Barroso, a Classificação dos Fatos Jurídicos
https://revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/758/481
3 –Quais são os planos de análise do fato jurídico? Explique em que consiste a análise
do estudioso do direito a partir de cada um desses planos.
Pontes de Miranda considera o mundo jurídico dividido em três planos: o da
existência, validade e eficácia. No qual desenvolve-se a vida dos fatos jurídicos em
todos os seus aspectos. Esses planos são situações diferentes pelo qual os fatos
jurídicos podem passar, onde o elemento existência é a base de que dependem os
outros elementos. Quando a norma jurídica incide no suporte fáctico produzindo a
juridicização, o elemento nuclear entra no mundo jurídico como fato jurídico existente.
Sintetizando, quando é verificada a ocorrência do fato jurídico entra no plano da
existência e abarca todas as espécies de fatos jurídicos.

Por exemplo se um casamento se produz perante quem não tem autoridade para casar,
o fato jurídico não existe, por conseguinte não se há de discutir se é nulo ou ineficaz.5
Recapitulando: primeiramente, o fato deve ser jurídico para existir, assim, pode-se
examinar a sua validade, nulidade, anulabilidade. Se o fato for também válido, poderá
irradiar efeitos.

Marcos de Mello resume os planos da seguinte forma:

a) No plano da existência entram todos os fatos jurídicos, lícitos ou ilícitos, validos,


anuláveis oi nulos e ineficazes;
b) Pelo plano da validade somente tem passagem os atos jurídicos stricto sensu e
os negócios jurídicos por serem os únicos sujeitos a apreciação da validade;
c) No plano da eficácia são admitidos e podem produzir efeito todos os fatos
jurídicos lato sensu, inclusive os anuláveis e os ilícitos; os nulos, quando a lei,
expressamente, lhes atribui algum efeito6

a b c d

T ABELA 1 P ROFESSOR RODNE LIMA

Algumas variantes podem ser no caso de Ato Jurídico (stricto sensu e negócio jurídico) que:

5
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: Planos de existência p. 94
6
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: Planos de existência p. 98
a) existe, é valido, é eficaz (casamento de homem e mulher capazes, sem impedimentos dirimentes,
realizado perante autoridade competente).
b) existe, válido e é ineficaz (testamento de pessoa capaz, feito com observância das formalidades legais,
antes da ocorrência da morte do testador).
c) existe, inválido, ineficaz (doação feita pessoalmente por pessoa absolutamente incapaz).
d) existe, é inválido, é eficaz (casamento putativo, negocio jurídico anulável, antes da decretação da
anulabilidade).
e) existe, é eficaz, quando se trata de fato jurídico stricto sensu (natural), Ato-Fato Jurídico (vontade
irrelevante), ou fato ilícito Lato sensu (contrário a direito), (nascimento com vida, pintura de um quadro,
o dano causado a bem alheio.
f) existe, é ineficaz (porque a validade e questão que diz respeito apenas, aos atos jurídicos lícitos).7

7
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: Planos de existência p. 93

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