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Redefinicoes Das Fronteiras ATUAL 2
Redefinicoes Das Fronteiras ATUAL 2
2013
© Autores e autoras – 2013
Conselho Editorial
Bernardete A. Gatti
Iria Brzezinski
Maria Celia de Abreu
Osmar Favero
Pedro Demo
Rogério de Andrade Córdova
Sofia Lerche Vieira
Apresentação ....................................................................................... 7
A privatização do público: implicações para a democratização
da educação ......................................................................................... 9
Vera Maria Vidal Peroni
A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas
globais em educação ........................................................................... 33
Stephen J. Ball
Antonio Olmedo
Autonomia das escolas: entre público e privado ................................... 48
João Barroso
Diretor(a) de escola pública: unipessoalidade e concentração
do poder no quadro de uma relação subordinada ................................ 58
Licínio C. Lima
Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação.
Notas de um estudo no campo da Educação e Formação
de Adultos em Portugal ...................................................................... 82
Fátima Antunes
Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em
Portugal: da Revolução dos Cravos aos nossos dias ........................... 120
Raquel Varela
Sandra Duarte
Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad
social universitaria” y las politicas de “tercera via” ............................ 140
Susana E. Vior
Laura R. Rodríguez
O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico .. 159
Daniela de Oliveira Pires
A influência das consultorias internacionais nas decisões das
políticas educacionais no Brasil ......................................................... 175
Jaqueline Marcela Villafuerte Bittencourt
Maria de Fátima Oliveira
Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da
Educação: uma análise do plano de ações articuladas ........................ 198
Alexandre José Rossi
Liane Maria Bernardi
Lucia Hugo Uczak
Expansão da Educação Infantil através de parceria público-privada:
algumas questões para o debate (quantidade versus qualidade no
âmbito do direito à educação) ........................................................... 220
Maria Luiza Rodrigues Flores
Maria Otília Kroeff Susin
As parcerias público-privadas na educação brasileira e as decorrências
na gestão da educação: o caso do Instituto Ayrton Senna (IAS) ......... 245
Luciani Paz Comerlatto
Maria Raquel Caetano
Sistema de ensino Aprende Brasil – Grupo POSITIVO ...................... 266
Monique Robain Montano
Relação público-privada na Educação Básica no Brasil: uma análise
da proposta do Instituto Unibanco para o Ensino Médio público ....... 276
Marcelisa Monteiro
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
– Pronatec: um olhar a partir das relações entre o público e o privado.. 290
Maurício Ivan dos Santos
Romir de Oliveira Rodrigues
A relação entre a educação pública e a privada na Educação
Especial brasileira ............................................................................. 308
Fabíola Borowsky
AlfaSol e Programa Brasil Alfabetizado: a parceria público-privada
nas políticas de educação de jovens e adultos ..................................... 327
Denise Maria Comerlato
Jaira Coelho Moraes
Sobre autores e autoras ..................................................................... 347
6
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Apresentação
7
Apresentação
8
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
1
Sujeitos na concepção de Thompson (1981).
9
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
2
Contexto histórico e geográfico na concepção de Harvey (2005).
3
Sobre a não separação entre o econômico e o político ver WOOD (2003).
4
Ver PERONI (2003, 2006) e PERONI, ADRIÃO (2005).
5
Essa discussão aparece de forma mais aprofundada no meu texto “As relações entre o público
e o privado nas políticas educacionais no contexto da Terceira Via”, no livro “Reconfigurações
10
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
do Estado: implicações da Terceira Via para políticas sociais no Brasil, Portugal e Inglaterra”,
Brasília. Editora Líber, 2013 (no prelo).
11
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
riores, já constatávamos que, na crise dos anos 1990, o Estado era mínimo
para as políticas sociais e máximo para o capital (PERONI, 2003); verifica-
mos que no período atual de crise essa tendência permanece e se acentua.
Com base nos autores mencionados, a crise do Estado seria conse-
quência e não a causa da crise do capital. No entanto, para a teoria neolibe-
ral, o Estado é o culpado pela crise, tanto porque gastou mais do que podia
para se legitimar, já que tinha que atender às demandas da população por
políticas sociais, o que provocou a crise fiscal, como porque, ao regulamen-
tar a economia, atrapalhou o livre andamento do mercado. Para a teoria
neoliberal, as políticas sociais são um verdadeiro saque à propriedade pri-
vada, pois são formas de distribuição de renda, além de também atrapalhar
o livre andamento do mercado (PERONI, 2003).
Conforme Harvey, no processo de neoliberalização6, “o bem social é
maximizado se se maximizam o alcance e a frequência das transações de mer-
cado” (HARVEY, 2008, p. 13). Para o autor, o mercado regula inclusive o bem-
estar humano. A competição é o mecanismo regulador. “as regras de base da
competição no mercado têm de ser adequadamente observadas (...). E adverte
ainda que “em situações nas quais estas regras não estejam claramente estabe-
lecidas ou em que ajam dificuldades para definir os direitos de propriedade, o
Estado tem de usar o seu poder para impor ou inventar sistemas de mercado”.
O autor destaca ainda que para os neoliberais “ (...) a privatização e a
desregulação combinadas com a competição eliminam os entraves buro-
cráticos, aumentam a eficiência e a produtividade, melhoram a qualidade e
reduzem os custos” (p. 76). E portanto:
o sucesso e o fracasso individuais são interpretados em termos de virtudes
empreendedoras ou de falhas pessoais (como não investir o suficiente em
seu próprio capital humano por meio da educação) em vez de atribuídos a
alguma propriedade sistêmica (como as exclusões de classe que se costu-
mam atribuir ao capitalismo) (HARVEY, 2008, p. 76).
6
No livro “O neoliberalismo: história e implicações”, Harvey faz um balanço do neoliberalismo
na prática, o que chama de neoliberalização.
12
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
13
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
7
Ver a Tese de Aloísio Mercadante Oliva: “As bases do Novo-desenvolvimentismo no Brasil:
Análise do governo Lula (2003-2010)”; tese defendida na UNICAMP em 2010.
8
O Partido dos Trabalhadores esteve no governo brasileiro com Luis Inácio Lula da Silva em dois
governos (2003-2010) e atualmente permanece com a presidente Dilma Roussef (2011-2014).
14
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
15
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
16
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
17
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
O caso brasileiro
No Brasil, além das características históricas de pouca cultura demo-
crática, o país viveu várias ditaduras, sendo que a última foi um golpe mili-
tar iniciado em 1964, que perdurou até 1985. Os anos 1980 foram marca-
dos por um processo de abertura política, com grande participação popular
e de organização da sociedade na luta pelos seus direitos.
18
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
19
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
9
Como era chamada a Terceira Via desde o seu início.
10
(http://alainet.org/active. Acesso em: 20 ago. 2011).
20
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
11
Sobre os aspectos jurídicos da relação entre o terceiro setor e o sistema público ver PIRES
2009, 2011.
12
De acordo como o site: http://www.gespublica.gov.br/anteprojeto-de-lei-organica/consulta-
publica-sobre-o-anteprojeto-de-lei-organica, o Anteprojeto de Lei Orgânica da Administração
Pública Federal está na fase de consulta pública. (Acesso em: 13 mar. 2013).
21
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
13
A educação brasileira está organizada em dois níveis: educação básica e superior. A educação
básica é composta de três etapas: educação infantil, fundamental e média. E as modalidades
educação especial, educação de jovens e adultos e educação profissional.
14
Houve também alguns avanços na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBen/
1996) no que se refere à construção da gestão democrática; por exemplo, o art. 14 determina a
participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a
participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. E o art. 15
determina que “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação
básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão
financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público” (BRASIL, 1996).
22
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
15
Emenda Constitucional n. 59/2009. Obrigatoriedade de 4 a 17 anos e inclusive aos que não
tiverem acesso na idade própria.
16
Sobre os convênios com creches comunitárias ver o texto de FLORES e SUSIN neste livro.
23
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
17
Sobre a parceria do Instituto Unibanco com escolas públicas de ensino médio ver o texto de
MONTEIRO neste livro.
18
Sobre o PRONATEC ver o texto de SANTOS e RODRIGUES neste livro.
24
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
19
Ver texto de COMERLATTO, MORAES sobre Alfabetização Solidária (Alfasol) e Programa
Brasil Alfabetizado neste livro.
20
Sobre a educação especial ver o texto de BOROWSKY neste livro.
25
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
21
O PDDE foi objeto de uma pesquisa nacional realizada nas cinco regiões brasileiras, publica-
da pelo INEP (PERONI, ADRIÃO, 2007).
22
Projeto nacional coordenado por esta autora e financiado pelo CNPq para a reunião dos gru-
pos de pesquisa das cinco regiões brasileiras. O relatório foi publicado pelo INEP (PERONI,
ADRIÃO, 2007).
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Por fim, vale destacar o “fluxo” do dinheiro, que é público, mas que
passa por uma instituição privada (Unidade Executora) para ser gasto pelo
poder público, o que parece estar de acordo com o diagnóstico de que o
privado é mais eficiente.
Continuamos as pesquisas verificando a parceria entre sistemas pú-
blicos e o terceiro setor. Por entendermos a importância da atuação do Ins-
tituto Ayrton Senna (IAS) nas redes públicas de ensino em todo o país.
A pesquisa foi realizada por um grupo nacional com coletivos em
dez estados brasileiros e diferentes regiões. O Brasil é um país federado23
com muitas diferenças regionais, tanto socioeconômicas como culturais.
Assim buscamos analisar como uma política ou uma parceria em nível na-
cional tem diferentes implicações no contexto local.24
A pesquisa envolveu a análise da proposta de gestão educacional do
Instituto Ayrton Senna, em especial dos Programas Escola Campeã e Ges-
tão Nota 10; dos sistemas/redes educacionais de cada município seleciona-
do e de uma escola municipal em cada grupo.
Verificamos que, entre as principais implicações da parceria para a
gestão democrática da educação, está a diminuição da autonomia do pro-
fessor. Que entre outros fatores fica minimizada, desde quando recebe o
material pronto para utilizar em cada dia na sala de aula e tem um supervi-
23
A divisão político-administrativa no Brasil é constituída pela União, pelo Distrito Federal e
pelos estados e municípios, todos autônomos segundo os termos da Constituição Federal de
1988. Os estados brasileiros, em número de 26, encabeçam a hierarquia na divisão político-
administrativa do país, sendo subdivididos em 5.565 municípios. (Disponível em: <http://
www.angelfire.com/al/Geografia/estados.html>. Acesso em: 14 set. 2010.)
24
Ver relatório final: Adrião, Theresa; Peroni, Vera (2010) em www.ufrgs.br/faced/peroni.
27
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
sor que verifica se está tudo certo até a lógica da premiação por desempe-
nho, que estabelece valores como o da competitividade entre alunos, pro-
fessores e escolas. Como se a premiação dos mais capazes induzisse a qua-
lidade via competição. A outra questão diz respeito às metas estabelecidas,
que passam a dar mais ênfase ao produto final e não mais ao processo,
como é característica da gestão democrática, que visa construir uma socie-
dade democrática e participativa.
Destacamos que as parcerias que inicialmente estavam no âmbito
estadual e municipal atualmente também ocorrem com a Presidência da
República para a elaboração de políticas nacionais de educação. Destaca-
mos interlocução dos Institutos Unibanco e Ayrton Senna com o governo
federal, mais especificamente a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-
sidência da República, para que seus programas sejam transformados em
políticas de alcance nacional:
O Instituto Unibanco e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República (SAE) firmam (...) o acordo de Cooperação Técnica para o
desenvolvimento de estudos, projetos, pesquisas e avaliações em conjunto.
O foco das ações que serão desenvolvidas por meio do acordo será a área de
educação, com ênfase nos jovens do Ensino Médio público. (Disponível em:
<http://www.sae.gov.br/site/?p=7567>. Acesso em: 02 ago. 2012.)
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco,
assina, (...), acordo de cooperação técnica com o Instituto Ayrton Senna,
para realizar, de forma conjunta, projetos e programas de interesse comum,
voltados para a educação.(...) O objetivo dos trabalhos conjuntos será subsi-
diar a Secretaria na formulação de políticas públicas com foco na educação.
(http://www.sae.gov.br/site/?p=8130, acesso em 2 de agosto de 2012)
28
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Algumas considerações
No Brasil, por um lado, avançamos na tão batalhada democracia,
mas, por outro, há um esvaziamento das políticas sociais, principalmente
das políticas sociais como um direito universal, nesse período particular do
capitalismo de privatização do público.
Destacamos também as diferenças entre Terceira Via e neoliberalis-
mo, e aqui particularmente o que as duas teorias entendem por democra-
cia, principalmente porque o neoliberalismo tem sua teoria de classe explí-
cita, mas na Terceira Via com o discurso de democratizar a democracia,
aprofundar a participação da sociedade civil e suas teorias e estratégias de
ação têm sido implementadas por governos de direita, centro e esquerda
em nível internacional. A parceria entre o público e o privado acaba sendo
“a política” pública, com grandes implicações para as relações federativas
na consecução do direito à educação.
É importante, ainda, ressaltar que a relação público/privado não ini-
cia nesse período particular do capitalismo e com a Terceira Via ou o neo-
liberalismo. Ao contrário, historicamente foram muito tênues as linhas di-
visórias entre o público e o privado em nosso país. Assim, a democratiza-
ção da educação pública ainda é um longo processo em construção.
Questionamos por que as redes públicas têm buscado as parcerias
com as instituições privadas: se é uma forma de atingir a tão almejada “qua-
lidade da educação”, mais uma vez tendo como parâmetro a lógica mer-
cantil.
Afinal, tanto lutamos contra o Estado e a sociedade da ditadura, na
construção de um Estado mais transparente, com maior controle social e
29
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
Referências
ADRIÃO, T.; PERONI, V. Análise das consequências de parcerias firmadas entre
municípios brasileiros e a Fundação Ayrton Senna para a oferta educacional. Rela-
tório de pesquisa, 2010.
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e a negação
do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.
BRANCO, Rodrigo Castelo. O novo desenvolvimentismo e a decadência ideológi-
ca do estruturalismo Latino-Americano. OIKOS, Rio de Janeiro, v. 8, n. 01, p. 71-
90, 2009.
BRASIL. Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE). Plano Di-
retor da Reforma do Aparelho de Estado. Brasília, DF. 1995.
______. Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Brasília, DF, 1996.
______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Plano de Gestão do Go-
verno Lula, Brasília, DF, 2003.
30
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
31
PERONI, V. M. V. • A privatização do público: implicações para a democratização da educação
32
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Stephen J. Ball
Antonio Olmedo
* Texto traduzido por Lisa Gertum Becker e revisado por Jaqueline Marcela Villafuerte Bittencourt.
1
http://marmoogle.blogspot.com/2007/04/global-philanthropy-forum-that-is.html.
33
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
2
http://www.nytimes.com/2006/11/13/us/13strom.html?pagewanted=print.
3
http://www.nytimes.com/2006/11/13/us/13strom.html?pagewanted=print.
34
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
35
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
4
http://www.forbes.com/2008/03/05/richest-people-billionaires-billionaires08-
cx_lk_0305billie_land.html.
5
http://www.microsoft.com/presspass/exec/billg/speeches/2008/01-24wefdavos.mspx.
36
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
6
http://www.clintonglobalinitiative.org/ourmeetings/2010/meeting_annual_actionareas.asp?
Section=OurMeetings&PageTitle=Action%20Areas.
7
http://blogs.wsj.com/financial-adviser/2010/03/08/not-your-parents-philanthropy/tab/print/.
37
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
8
Jane Wales, President and CEO World Affairs Council of Northern California and Global Phi-
lanthropy Forum in the 2007 Sixth Annual Global Philanthropy Forum. Available in: http://
www.philanthropyforum.org/images/forum/PastConferences/2007/GPF_2007Transcripts_
FINAL.pdf.
9
http://www.gatesfoundation.org/global-health/Pages/grand-challenges-explorations.aspx.
10
http://www.gatesfoundation.org/united-states/Pages/program-overview.aspx.
38
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
11
Embora as escolas charter sejam, em princípio, escolas sem fins lucrativos, e não estejam autori-
zadas a cobrar mensalidades, algumas empresas com fins lucrativos, EMOs Educational Mana-
gement Organization, têm funcionado como Escolas charter e o caráter não-lucrativo do progra-
ma tem sido questionado.
12
http://www.gatesfoundation.org/college-ready-education/Pages/charter-schools-networks.aspx.
13
http://www.newsweek.com/2011/05/01/back-to-school-for-the-billionaires.html.
14
http://www.bizjournals.com/seattle/stories/2009/05/18/story2.html.
39
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
40
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
15
http://www.philanthropyforum.org/forum/About_Us.asp?SnID=743149094.
16
http://www.clintonglobalinitiative.org/aboutus/ourmodel.asp?Section=AboutUs&PageTitle=
Our%20Model.
41
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
17
http://www.clintonglobalinitiative.org/aboutus/ourmodel.asp?Section=AboutUs&PageTitle=
Our%20Model.
18
Opportunity International é uma organização não-governamental cristã internacional com sede
em Chicago. Ela trabalha em mais de 20 países e é financiada por contribuições de caridade e
subsídios do governo. Ela também reúne recursos de outras fontes (por exemplo, da Fundação
Gates Bill & Melinda e Omidyar Network). Seus escritórios estão estrategicamente situados em
EUA, Austrália, Canadá, Alemanha e Reino Unido. Sua principal atividade é o microcrédito
(empréstimos, poupança, microsseguros e treinamento) de projetos em diferentes áreas.
19
http://www.clintonglobalinitiative.org/commitments/commitments_search.asp?Section=
Commitments&PageTitle=Browse%20and%20Search%20Commitments.
20
Initially in Colombia, Dominican Republic, Ghana, India, Malawi, Mozambique, Rwanda and
Uganda.
21
http://www.communityintl.com/documents/Microschools_Opportunity_092407.pdf.
22
Sinapi é uma organização sem fins lucrativos, cristã e membro do Opportunity Rede Internacio-
nal. Tem base em Gana e seu principal foco de ação é microfinanças e treinamento.
42
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
23
http://www.opportunity.org/wp-content/uploads/2010/06/Impact-2007-Fall.pdf.
24
http://www.opportunity.org/blog/meeting-ugandan-students-reflections-of-an-american-teenager/.
25
http://globalpf.org/strategic-advisors.html?show=8.
26
http://www.gimpa.edu.gh/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=54.
43
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
27
http://www.prnewswire.com/news-releases/silent-revolution-of-african-education-markets-fin-
ds-expression-in-the-new-apsi-index-58736087.html.
28
http://schoolventures03.goodbarry.com/FAQRetrieve.aspx?ID=35960&Q=.
44
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Observações finais
As mudanças e os movimentos aqui envolvidos são formados e im-
pulsionados por um complexo conjunto de processos políticos e econômi-
cos implicando o ativismo (por Empreendedores de Políticas e Redes de
Promoção Transnacionais), interesses empresariais (novas oportunidades
29
http://www.prnewswire.com/news-releases/silent-revolution-of-african-education-markets-fin-
ds-expression-in-the-new-apsi-index-58736087.html.
45
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação
46
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Referências
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BRONFMAN, C.; SOLOMON, J. The Art of Giving: Where the Soul Meets a Busi-
ness Plan. San Francisco: Jossey-Bass, 2009.
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Challenges and the New Philanthropy. STEPS Working Paper 24. Brighton: STEPS
Centre, 2009.
EDWARDS, M. Just Another Emperor? The Myths and Realities of Philanthrocapita-
lism. New York: Demos and The Young Foundation, 2008.
HORNE, J. R. A Social Laboratory for Modern France: The Social Museum and the
Rise of the Welfare State. Durham, NC: Duke University Press, 2002.
HOWARD, P. N. Network Ethnography and the Hypermedia Organization: New
Media, New Organizations, New Methods. New Media Society, 4(4), 2002, p. 550-
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PECK, J.; TICKELL, A. Neoliberalizing space. Antipode, 34(3), 2002, p. 380-404.
SALTMAN, K. J. The Gift of Education. Public Education and Venture Philanthropy.
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SHAMIR, R. The age of responsibilitization: on market-embedded morality. Eco-
nomy and Society, 37(1), 2008, p. 1-19.
STEWART, R.; VAN ROOYEN, C.; DICKSON, K.; MAJORO, M.; DE WET, T.
What is the impact of microfinance on poor people? A systematic review of evidence from
sub-Saharan Africa. London: EPPI-Centre, Social Science Research Unit, Institute
of Education, University of London, 2010.
ZIZEK, A. Violence. New York: Picador, 2008.
47
Autonomia das escolas:
entre público e privado1
João Barroso
Introdução
As políticas de reforço da autonomia das escolas inserem-se numa
narrativa comum que tem marcado as recentes alterações na organização
do Estado e da sua administração e que, nesse caso, se polarizou, sobretudo
em torno de dois movimentos ou correntes de opinião: (a) os que viam, nas
políticas de definição e reforço da autonomia das escolas, uma maneira de
preservar e de modernizar o ensino público, ajustando as suas características
à diversidade dos contextos e das populações escolares; (b) os que considera-
vam que o reforço da autonomia das escolas constitui um instrumento para a
introdução de uma lógica concorrencial no interior do serviço público, essen-
cial para promover a “liberdade de escolha” entre ofertas educativas diferen-
ciadas (pelo projeto e pelos resultados), contribuindo assim para a criação de
um quase mercado educativo que abrange, em idênticas condições de provi-
são e de financiamento, a escola pública e a escola privada.
No primeiro caso, a “autonomia das escolas” é defendida, principal-
mente, por suas “virtudes” para resolver alguns dos graves problemas da “es-
cola pública”. Nomeadamente, porque permite ultrapassar os constrangimen-
tos resultantes da rigidez da sua organização, do caráter homogêneo da sua
oferta, do modo centralizado da sua coordenação, através do recurso à terri-
torialização das políticas educativas, ao desenvolvimento de projetos educa-
tivos próprios, ao reforço da participação e à diversificação da oferta.
1
O presente artigo baseia-se parcialmente na intervenção que fiz no Conselho Nacional de Edu-
cação, em Lisboa (Portugal), no dia 5 de maio de 2012, no Seminário “Serviço Público de
Educação”.
48
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
2
Para uma análise da situação no Brasil, nomeadamente no que se refere às parcerias público-
privadas, consultar entre outros Adrião e Peroni (orgs.), 2008; Peroni e Rossi (orgs.), 2011.
49
BARROSO, J. • Autonomia das escolas: entre público e privado
sar das várias perspetivas com que esse conceito é utilizado (e que não irei
discutir aqui), a privatização envolve, em geral, como afirma Whitty (2000),
um declínio da “provisão estatal”, uma redução dos “subsídios com di-
nheiros públicos”, uma maior “desregulação” e uma “transferência de ser-
viços para o sector privado”.
Essas características comuns podem dar lugar a diferentes variantes
de privatização, tendo em conta a relação entre o financiamento e a gestão
(ver a esse propósito CHAKRABART e PETERSON, 2009, p. 4). Num dos
extremos encontra-se o “grau zero de privatização” – financiamento público
e gestão pública, e, no outro extremo, o “grau máximo de privatização” –
financiamento privado e gestão privada. Entre esses dois extremos encon-
tram-se diversas modalidades de parcerias público-privadas, caracterizadas
pelo financiamento público e gestão privada (como, por exemplo, escolas sob
contrato, os cheques-ensino, as “charter-schools, o “franchising” escolar), ou
o financiamento privado e a gestão pública (bolsas, por exemplo).
Convém sublinhar que a adoção dessas diferentes modalidades de
organização e de financiamento resulta de opções políticas sobre a nature-
za pública ou privada da educação. É o que procuro ilustrar no quadro
seguinte com a configuração de quatro “modelos” explicativos da maior ou
menor intervenção do Estado, definidos em função das variáveis “bem co-
mum – bem de consumo” e “monopólio estatal – mercado livre”.
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BARROSO, J. • Autonomia das escolas: entre público e privado
Pode dizer-se, por isso, que as relações entre público e privado estão a
mudar na educação, sem que isso signifique forçosamente uma privatiza-
ção global do sistema. Ao contrário do que as teses radicais querem fazer
crer, hoje em dia, na maior parte dos países, os dois sistemas sobrepõem-se
em muitos domínios, as suas fronteiras diluem-se, a sua especificidade di-
minui. Em vez de um jogo de soma nula entre dois setores estanques, veri-
fica-se (como foi referido) uma hibridação do público e do privado e uma
complexificação das suas relações.
Para essa “hibridação” muito tem contribuído a progressiva diluição
das fronteiras éticas, filosóficas e religiosas, que tradicionalmente separa-
vam, do ponto de vista institucional, esses dois sistemas. Como assinala
Maroy (2011), a propósito da situação na Comunidade Francófona da Bél-
gica, onde a “liberdade de escolha” (por motivos religiosos) é bastante am-
pla: o ensino público e o ensino privado passaram a estar submetidos à
3
Carlos Estêvão fala a esse propósito de “providenciação pública do privado na educação portu-
guesa” (ESTÊVÃO, 2012, p. 33-65). Ver igualmente Estêvão (1998).
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BARROSO, J. • Autonomia das escolas: entre público e privado
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Retomo aqui as posições que defendi em 2004 a propósito da Escola da Ponte (BARROSO,
2004b).
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
sem que isso signifique ser o Estado o detentor único da legitimidade dessa
justificação.
– Que a intervenção do Estado não perca em legitimidade o que tem
de ganhar em eficácia e, simultaneamente, não perca em eficácia o que tem
de ganhar em legitimidade.
Numa lógica de serviço público, a autonomia constitui, assim, um
instrumento fundamental para ajustar a oferta educativa às características
dos territórios e às dinâmicas locais no respeito pelas orientações gerais de
um sistema público nacional de ensino. Desse ponto de vista, a autonomia
das escolas não é um processo de “fechamento social” nem um instrumen-
to para promover a oferta das escolas privadas e a concorrência entre as
escolas, mas sim uma condição para abrir a escola à diversidade dos seus
públicos, reforçando a participação, a democracia e a flexibilização na sua
organização.
A autonomia das escolas (juntamente com o reforço das competên-
cias das autarquias) pode, por isso, contribuir decisivamente para a cria-
ção de uma nova ordem no domínio educativo, que concilia interesses
individuais e ideais coletivos, a regulação nacional com a regulação local.
Para que assim seja, a autonomia obriga ao reforço da dimensão cívica e
comunitária da escola pública na busca de um compromisso entre a fun-
ção reguladora do Estado, a participação dos cidadãos e o profissionalis-
mo dos professores, tendo em vista a construção do “bem comum”, que é
a educação das crianças e dos jovens” (ver BARROSO, 2000).
Nesse contexto, o alargamento dos poderes de decisão dos atores es-
colares (sobretudo na gestão pedagógica) e o reforço dos correspondentes
instrumentos e recursos podem contribuir para introduzir “públicas virtu-
des” na educação privada e “virtudes privadas” na educação pública. No
primeiro caso, através da contratualização de um serviço público comum
que preserve a universalidade, a equidade e a democracia na oferta escolar.
No segundo caso, através da diversificação e flexibilização da organização
e da gestão. É nessa alteração das relações entre público e privado que é
preciso encontrar um novo princípio de justiça que combine a satisfação
das necessidades individuais e das expectativas dos alunos e suas famílias
(subjacente à privatização) com a justiça escolar (subjacente ao ideal de
escola pública), garantindo a equidade no acesso a uma educação de quali-
55
BARROSO, J. • Autonomia das escolas: entre público e privado
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56
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Diretor(a) de escola pública:
unipessoalidade e concentração do poder
no quadro de uma relação subordinada1
Licínio C. Lima
Introdução
O presente texto incide sobre a emergência, ainda recente em Portu-
gal, da figura de diretor(a) de escola pública, instituída pelo Decreto-Lei nº
75/2008, numa dupla perspectiva de análise: por um lado, como possível
“analisador” da política educativa, considerando a centralidade que lhe foi
atribuída como elemento da reforma da administração das escolas através
da consagração jurídica de um novo modelo que, genericamente, se inscre-
ve nas tendências internacionais das chamadas “gestão centrada na escola”
ou “escola autogerenciada”, marcadas por vários traços da “Nova Gestão
Pública” e daquilo a que, criticamente, tenho chamado de cânone gerenci-
alista; por outro lado, enquanto elemento de possível ruptura com o princí-
pio da gestão democrática, da colegialidade e da participação, que conti-
nua, todavia, formalmente em vigor, mas agora em acentuada erosão e sob
uma distinta concepção de organização escolar e da sua administração,
mais dependente da liderança unipessoal e da respectiva concentração de
poderes no interior das escolas.
Não obstante a alteração jurídica operada e as correspondentes mu-
danças em curso no plano da ação, já objeto de múltiplas investigações,
embora a maioria ainda em curso e sem resultados publicados, parte-se da
1
Versão adaptada para publicação no Brasil do texto inicialmente incluído em A. Neto-Mendes,
J. A. Costa & A. Ventura (Orgs.). A emergência do diretor da escola: questões políticas e organiza-
cionais (p. 47-63). Atas do VI Simpósio de organização e gestão escolar. Aveiro: Universidade
de Aveiro.
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ele, ou ela, passará a ser muito mais exigente com os seus subordinados,
passando, igualmente, a assacar-lhes as responsabilidades que lhes caibam.
Cenário em que a escola, como referia um dos professores entrevistados
por Ferreira (2010, p. 191), se pode transformar “numa ditadura com uma
cara de democracia. Porque tudo se centra na figura do diretor”.
Também o predomínio da linguagem económica tem sido destacado,
no que concerne à caracterização das funções do executivo escolar e à sua
formação, destacando as competências de ordem técnico-gestionária e a
importância das “boas práticas” (cf. EACOTT, 2011), em geral baseadas
numa visão descontextualizada da liderança e na hegemonia da razão ins-
trumental, ignorando uma dimensão central da liderança escolar: aquela
que, transcendendo uma visão mecanicista, admite não se tratar apenas de
um meio para atingir determinados fins ou resultados, mas também de uma
ação intrinsecamente pedagógica, isto é, de um testemunho educativo (COS-
TA, 2000, p. 27).
O que a focalização da administração das escolas nessas dimensões
técnico-instrumentais e hiperburocráticas, por um lado, e de concentração
de poderes, por outro, pode significar, não só em termos de governação
democrática das escolas, mas também em termos educacionais, é muito
mais do que tem sido admitido e, entre outros elementos, pode incluir: per-
da do que resta da (reduzida) autonomia pedagógico-didática dos professo-
res, maior escrutínio e controle da sua ação na sala de aula, menos seguran-
ça e confiança para o risco, a tentativa-erro e, em suma, para a sua inscrição
educativa e pedagógica, fora de um regime de medo, de vigilância e de
alienação.
As investigações em curso e outras a realizar no futuro incidirão, cer-
tamente, quer sobre as invariantes estruturais antes referidas e sobre as lógi-
cas induzidas pelos diversos atores políticos e administrativos centrais, quan-
to sobre as lógicas próprias, e igualmente divergentes, dos atores escolares
periféricos; sobre os macropoderes da administração e sobre as micropolíti-
cas e os micropoderes em contexto organizacional; sobre o plano das orien-
tações para a ação, segundo distintos níveis e processos de decisão e o pla-
no da ação efetivamente atualizada em contextos escolares específicos.
Admitindo, assim, as influências das reformas políticas e organizacionais
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Referências
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80
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Reforma do Estado e políticas públicas:
a governação em ação
Notas de um estudo no campo da
Educação e Formação de Adultos em Portugal
Fátima Antunes
Introdução
Numa pesquisa anterior, sugerimos que, pelo menos desde a criação
do subsistema de Escolas Profissionais em 1989, encontramos o estabeleci-
mento de novas modalidades de provisão da educação, envolvendo altera-
ções no papel do Estado, no que constitui a educação e no direito social e
humano que lhe é aplicável (ANTUNES, 2001, p. 190; 2004, p. 235). Com-
preender as políticas públicas enquanto formas de intervenção (do Estado)
na sociedade para responder, condicionar e impulsionar mudanças sociais,
eis a questão que nos move ainda hoje a estudar certas dimensões e movi-
mentos de políticas de educação; atentamos em particular para modalida-
des de provisão que se distanciam do que tipicamente consideramos ser o
sistema educativo, público, gratuito, com um corpo profissional específico
(de docentes) e uma distribuição geográfica relacionada com a demografia
do território nacional considerado.
Desde há várias décadas, com ritmos distintos de acordo com as lati-
tudes consideradas, intensificou-se a atividade do Estado na criação dessas
novas modalidades de provisão de educação (e outros bens e serviços que
corporizam direitos sociais) (cf., entre outros, ADRIÃO & PERONI, 2005;
BALL & YOUDELL, 2007). Em Portugal, são os anos 1990 e as áreas da
educação profissional, da educação de infância e, posteriormente, da edu-
cação de adultos que vêm suceder-se nessa reordenação da governação acom-
panhada, no primeiro e no último casos, de formas de intervenção do Esta-
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Na União Europeia (UE), essa reorganização foi tematizada em torno de agendas políticas
como a Estratégia de Lisboa, voltada para a capacitação da ‘Europa’ na competição por mercados
mundiais, sustentada pela aprendizagem ao longo da vida na sociedade/economia do
conhecimento (cf. HODJAN, 2009).
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Trata-se do dispositivo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC),
lançado em Portugal em 2000.
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Partindo da experiência na coordenação de um programa das chamadas escolas comunitárias no
Rio de Janeiro, Márcio Costa discute criticamente certos elementos contraditórios de processos
de democratização através da gestão local de serviços públicos que sustentam direitos sociais
(como a educação). O autor sugere, nesse debate, que as condições socioculturais efetivas de
participação obrigam a questionar as práticas sociais que dão corpo a fórmulas de governação de
aspiração contra-hegemônica (COSTA, 2005).
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O estudo consistiu em oito entrevistas, com a duração de mais de uma hora cada, com
responsáveis de CNO de instituições diferentes. Procurou-se abranger um leque amplo de
entidades envolvidas com o dispositivo de RVCC e a política de EFA. Foram entrevistados os
responsáveis de CNO promovidos por: (i) uma escola pública secundária; (ii) um centro de
formação profissional de gestão participada; (iii) uma escola profissional privada; (iv) uma
associação industrial; (v) uma câmara municipal; (vi) três associações de desenvolvimento local.
As entrevistas foram transcritas, totalizando cerca de 200 páginas de texto. Procedeu-se à análise
do conteúdo das entrevistas através da categorização dos enunciados e desenvolvendo o conjunto
de procedimentos de construção de uma grelha de análise do conteúdo das entrevistas (MAROY,
1997; ANTUNES, 2004). Neste texto ensaia-se a análise exploratória de uma parte dos dados
construídos até este momento da pesquisa.
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No momento actual de imposição da governação neoliberal, como matriz sociopolítica de regulação
social, na UE, há instâncias de poder efectivo que não parecem concentrar-se em autoridades
públicas legítimas nem atuar no quadro de sistemas políticos democráticos. Hoje, na União
Europeia, é mais vincado do que nunca o défice democrático e ainda mais verificável do que
outrora a afirmação de um cientista social de que “pela bitola dos critérios da democracia
representativa, a União tem uma tendência deplorável para pôr legitimidade lá onde não há
poder, e poder lá onde há falta de legitimidade” (NESTOR, 2004, p. 131). Do mesmo modo,
revela-se brutalmente verdadeira a constatação, atribuída a um conhecido sociólogo, durante
uma conferência (quer a história seja verídica ou não): “Se a União Europeia se candidatasse à
adesão a si mesma, não seria aceita, por falta de um sistema político democrático”. A democracia
é hoje na UE uma aspiração e uma construção instável, e em muitos aspectos sob assalto. Esta
é uma evidência sustentada quer pela existência de uma troika de credores (Comissão Europeia,
Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) que impõe políticas de ajustamento
estrutural, sob o signo da austeridade, em diversos países, quer pela dominação na União, de
forma gritante até há alguns meses, de um directório germano-francês (Merkel e Sarkozy, ou
Merkozy, na designação adotada pela comunicação social), à revelia do sistema político europeu
instituído. Para múltiplos efeitos, é como se a tímida e débil democracia existente tivesse, de
facto, sido suspensa na UE, realizando a proposta de uma governante, para Portugal, um par
de anos atrás. Daí que, pese embora a vincada insuficiência, no contexto atual, da proposta
concetual de análise de políticas educativas que aqui discutimos, ela constitui, mesmo assim, a
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nhar a preocupação de: (i) por um lado, estudar as políticas educativas eu-
ropeias nas suas dimensões de delimitação e capacitação de ação6; e (ii) por
outro lado, analisar as práticas nos contextos educacionais, nas suas intera-
ções com os quadros de constrangimento e capacitação institucionais e
políticos de níveis nacional e supranacional.
Dito de outro modo, uma perspectiva teórico-metodológica de análi-
se de trajetória de inovações sociopolíticas permite conceber o ciclo político
como articulação de distintos e específicos quadros de ação povoados de
atores situados (por exemplo, supranacional/europeu; nacional; regional/
local; institucional; profissional); cada um desses cenários se constitui como
fonte de poder e influência que delimita e capacita em sentidos próprios a
ação de outros contextos. Essas relações sociais constituem-se como moda-
lidades de autonomia/dependência relativas a caracterizar e analisar empi-
ricamente. Considera-se, assim, qualquer medida de política de educação e
formação como um processo multidimensional, em que a ação política tem
lugar em todos os ‘níveis’, ‘dimensões’, ‘momentos’ considerados. Como
se constituem e caracterizam as diversas dimensões ‘europeia’, ‘nacional’,
‘regional’ ou ‘local’, ‘institucional’ ou ‘profissional’ é matéria de análise
ferramenta analítica mais consolidada e com mais potencial heurístico de que dispomos hoje.
Com ela trabalhamos, tendo consciência de que dimensões significativas da dinâmica da
realidade nos escapam.
6
Mesmo admitindo a hipótese de trabalho de Roger Dale de que um dos resultados possíveis de
estruturas e processos associados com a constituição do Espaço Europeu de Educação e da
política europeia de educação pode ser “a emergência de novos sectores de ‘educação’ distintos
e paralelos” ao nível da UE e dos Estados-membros, com diferentes mandatos, capacidades e
formas de governação” (DALE, 2009: 15), uma e outra realidades relacionam-se estreitamente
e envolvem implicações recíprocas (ANTUNES, 2004; 2005). Consideramos importante a
chamada de atenção sobre o viés do pressuposto de relações hierárquicas e de influência
unidirecionais entre aquelas instâncias (DALE, 2009); julgamos que é igualmente indispensável
entender que, muito concretamente, os Estados-membros são expressamente convocados a
responder às políticas europeias (agora mais incisivamente através de planos de acção e metas
nacionais específicos; cf., por exemplo, Conselho da União Europeia, 2009 e European
Commission, 2010), são estreitamente monitorizados, formal e publicamente posicionados em
listas ordenadas em função do seu desempenho face aos objectivos, indicadores e parâmetros
daquelas políticas europeias. Neste quadro, tornam-se também objecto obrigatório de pesquisa
as relações de poder entre os países, que definem vincadas assimetrias quanto à capacidade de
negociação e autonomia, por parte das instâncias nacionais, em casos tão díspares quanto, por
exemplo e face a políticas diversas, a Inglaterra, a Eslovénia, Portugal ou a Alemanha (cf.,
entre outros, ALEXIADOU, FINK-HAFNER & LANGE, 2010; NEVES, 2010).
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Eis o testemunho de Alberto Melo: “E, falando de tempo, gostava de recuar trinta anos (…)
[quando] pela primeira vez, assumi algumas funções de responsabilidade no campo da educação
de adultos. O que estava na mesa era então uma campanha de alfabetização, que se propunha
erradicar o analfabetismo em três anos. Foi o meu primeiro choque, de certo modo, com uma
lógica de planeamento contra aquela que sempre defendi e tenho procurado adoptar: uma
lógica de política. Muitas vezes faz-se planeamento, porque não se quer, não se pode, ou não se
sabe fazer política (MELO, 2007, p. 65)”. É nosso entendimento que esta reflexão-chave sublinha
e enriquece a interpretação do mais influente estudioso das dinâmicas de mudança
socioeducacional e das realidades portuguesas, em termos de política e planeamento, num ensaio
pioneiro sobre as relações entre Estado e sociedade civil entre 1926-1980, exactamente intitulado
Educação, estado e desenvolvimento em Portugal (STOER, 1982, p. 82).
8
Para ampliar a discussão sobre instituições do terceiro sector envolvidas em políticas sociais e
educativas, enquanto sociedade civil secundária e/ou tutelada, consultar Santos (1993), Hespanha
et al. (2000) e Lima & Afonso (2006).
94
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
9
Estas interrogações traduzem e formulam para este objecto de estudo e campo de pesquisa
empírica específicos as problemáticas da governação como matriz de regulação social,
questionando o sentido político – na esteira de Santos (2005), o papel do Estado e dos excluídos,
os problemas e respostas construídos quanto aos reconhecimento e redistribuição sociais –, da
regulação da educação como política pública – a que educação acede quem, em que condições,
com que efeitos/consequências, adoptando sugestões de Dale (2001). Sugere-se que, enquanto
problemática teórica, a regulação seja explorada quer como propriedade sistémica (que não
depende da intenção dos actores), quer como ação com sentido, que dinamiza (produz, modifica
e reproduz) essa propriedade (BARROSO & CARVALHO, 2012).
10
Debatendo esta mesma problemática para o contexto Brasileiro, Peroni & Adrião analisam
políticas públicas envolvendo o chamado terceiro setor que realizam a reforma do Estado no
campo educacional (PERONI & ADRIÃO, 2005). Também Cardoso desenvolve uma
elucidativa discussão em torno da “formação do terceiro setor em Portugal e na Inglaterra e
sobre suas repercussões na área da regulação da educação (…) enquadrada no estudo das
formas emergentes de governo, financiamento, gestão e avaliação escolares e do modo como
estas estão alterando as relações entre o Estado, o mercado e a sociedade civil, as formas e os
espaços para o exercício da democracia” (CARDOSO, 2005, p. 82).
95
ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
96
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
11
Como afirma uma outra responsável: “Muitas vezes, quando abrem várias candidaturas [no
âmbito de programas do Quadro de Referência Estratégico Nacional, com financiamento
comunitário, da UE], tentamos de alguma forma articular as candidaturas entre si, não é?
Muitas vezes temos ideias de projectos que de forma articulada teriam determinados resultados
e o que acontece é que (…) Os tempos de aprovação são diferentes e se calhar quando o
projecto A vem aprovado, o B ainda não está e só fazia sentido os dois em conjunto. E quando
o A está a terminar é que vem o B e nem sempre é possível uma intervenção articulada e
estipulada por nós como deveria ter. Isso é uma grande limitação, porque dependemos a 100%
do financiamento. Outra limitação é que (…) têm limitação no tempo e não sabemos se tem
continuidade ou não e muitas vezes despertamos processos que depois morrem e nem sempre
isso é bom para a nossa actividade e claro está sente-se no território. (…) é raro haver
continuidade nos projectos que se vão desenvolvendo e muitas vezes o que se nota nos projectos,
e não é só nos Centros Novas Oportunidades, é que quando os vários projectos entram em
velocidade de cruzeiro e as pessoas se habituam a recorrer àqueles serviços está a terminar e
termina, não é? (Coordenadora do CNO Estrela Polar).
97
ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
Claro que um dos patamares está aquém das nossas expectativas, é o núme-
ro de inscritos. As inscrições têm reduzido; nós este ano que passou, em
2010, só atingimos 60% das nossas metas em termos de inscrições. (…) Em
termos de percentagem de realização estamos perto dos 40%. Isto leva-nos a
crer que de facto nem sempre é fácil, não é tão fácil como se diz por aí
(Coordenadora do CNO do Rosal).
Eu acho que nomeadamente aqui no meu Centro tenho às claras o cumpri-
mento das metas, nomeadamente em temos de certificações, claramente es-
tou… pronto, não tenho esse cumprimento. A contratualização que é feita
com a Agência claramente eu não a cumpro (Coordenador do CNO Vila do
Porto).
12
E continua a mesma responsável: “Eu posso dizer-lhe por exemplo que o SIIFSE teve… o
POPH contou mal as nossas… os nossos resultados relativos a 2008/09 e tínhamos, de acordo
com aquilo que foi o levantamento inicial deles para o saldo final, nós tínhamos cumprido
apenas 70%, 60% dos indicadores, 60% e qualquer coisa. E eles cortaram logo em 40% daquilo
que era o saldo final, quer dizer, é completamente cego. Para já, nós reclamamos e provamos
que tínhamos cumprido as metas e o dinheiro afinal já não foi todo cortado, mas isto mostra
que é completamente cego, não interessa tudo aquilo que andamos a fazer e a diferença que
marcamos na comunidade. O que interessa são os números finais que são aqueles que atribuem
dinheiro” (Coordenadora do CNO do Topo).
98
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
De alguma forma, por que os CNO só intervêm nos RVCC e nos encami-
nhamentos, não é? Agora, é claro que nós fazemos… as atividades que faze-
mos que é para a comunidade ou as atividades que queremos fazer (…) são
sustentadas pela equipe de formadores que faz… que trabalham para além
das horas. E que têm gosto em mostrar e motivar os adultos que estão a
fazer o processo… (Coordenadora do CNO de Lages)
100
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
dos jovens, seja das crianças. É mais fácil começar por aí, a dificuldade às
vezes é imputar esses custos ao trabalho do Centro (Coordenadora do CNO
do Topo).
Nas empresas é extremamente difícil, ou seja, é necessário andar muitos
meses a batalhar numa empresa para conseguir um grupo de meia dúzia de
pessoas, que influencia muito pouco as metas a atingir. Portanto, é um tra-
balho difícil, demorado e que resulta pouco em números, mas é esse o traba-
lho principal a fazer, agora difícil como disse; (…) o segundo trabalho, que é
o das instituições, é um trabalho que se tornou complexo, porque os CNO
estão todos a fazer isso, e portanto quando eu vou a alguma instituição, já lá
foram quatro ou cinco CNO e portanto é um trabalho de concorrência mui-
to grande. (…). Portanto, trabalhar com as instituições é difícil. Depois, es-
tar aberto ao público-alvo e ter um cartaz ali fora, ‘CNO Fénix’, estamos
aqui para isso, mas (…) coloco em primeira linha as empresas, que é mais
difícil, mas é obviamente a única forma de ter um projecto sustentável (Co-
ordenador do CNO Fénix).
Nós temos uma plataforma, temos uma rede informal onde os centros reú-
nem periodicamente, e quando digo os centros… a diversos níveis, desde os
coordenadores, as equipes profissionais e cada uma delas naturalmente por
setores, também os profissionais de RVCC e os formadores, portanto reú-
nem, fazem também alguma formação ou autoformação, e há um espírito
salutar que move [enuncia quatro concelhos limítrofes]. (…) mas esta rede
informal permite aqui haver este diálogo, não há ninguém de costas voltadas
e portanto há (…) interligação em termos da intervenção no território (Di-
rector do CNO Vila da Vitória).
Portanto, a concorrência aí sente-se no dia-a-dia. Felizmente, aqui em [con-
selho] chegamos a um acordo, a um trabalho de rede. Então, para trabalhar
em rede, distribuímos os territórios. Cada um tem o território definido e
portanto tornamo-nos não só concorrentes … é certo que todos temos me-
tas a atingir e queremos atingi-las, portanto somos concorrentes. Mas pelo
menos não há aquela concorrência feroz, ainda bem que trabalhamos e co-
laboramos uns com os outros, não é? Distribuímos o tempo e os sítios e
desta forma ficamos com todos abrangidos de forma coerente13 (Coordena-
dora do CNO Estrela Polar).
13
Um outro responsável destaca desta forma o potencial promissor de consolidação de dinâmicas
de cooperação educativa nos territórios: “Os territórios estão-se a organizar no que diz respeito
às qualificações, têm sido dados passos nos últimos anos naquilo que é o trabalho em rede,
parceria entre centros e isto vai ter resultados no futuro. Ainda não está a ter propriamente no
presente, portanto está, passo a passo, de uma forma lenta, estão-se a produzir realmente
novas formas de transferência de conhecimento e de experiências e os territórios num futuro
próximo vão ter claramente um sistema organizado no terreno que coopera entre si, solidificado
naquilo que são as necessidades reais de cada região, as respostas efectivas a dar às pessoas.
Portanto, este modelo está a ser construído, aquilo que se teme é que no momento que o
modelo estiver afinado possa deixar de existir e portanto vai-se criar este problema às regiões”
(Coordenador do CNO Fénix).
101
ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
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Para alargar o debate em torno dessa problemática, a partir de um foco particular na constituição
e em desenvolvimentos do terceiro setor, consultar ainda, por exemplo, Ferreira (2009).
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
nos moldes em que ocorreu, como “um erro” “cruel”. Nessa perspetiva,
são sublinhadas implicações da reorganização do campo da educação e
formação de adultos segundo um modelo institucional e de regulação vol-
tado ao fomento do mercado da educação/formação e que descarateriza a
intervenção dos serviços públicos para os posicionar como um operador
entre outros. Nessa narrativa, a perspetiva de referência é o desenvolvimen-
to sobretudo econômico da região, assente no planeamento e na consolida-
ção da política pública de Educação e Formação de Adultos, como via de
qualificação de recursos humanos, que não se compagina com os interesses
particulares de instituições movidas por perspetivas de negócio.
(…) porque as entidades formadoras apresentam planos de formação mui-
tas vezes de acordo com as suas conveniências, de acordo com o modelo de
negócio que criaram e não de modo interligado com o interesse regional e
isso tem que estar concertado, o interesse regional com o interesse da enti-
dade. (…) é uma questão que eu acho que é fundamental, é que foi dada
abertura para qualquer tipo de instituição poder ser Centro Novas Oportu-
nidades, poder ter um Centro Novas Oportunidades e eu entendo que isso é
um erro crasso do sistema de educação e formação de adultos, porque clara-
mente quem tem o domínio desta matéria e o domínio histórico e tem valên-
cias e qualidade de trabalho são as escolas, porque toda a vida fizeram tam-
bém a formação de adultos e são os Centros de Formação da rede do IEFP.
(…) A educação de adultos não pode ser tratada como uma matéria de ne-
gócios, não há negócio, é uma matéria estrutural, é uma matéria que exige
investimento e não pode ser visto como um negócio e, portanto, como não
pode ser visto como um negócio, vejo de forma cruel entregue ao setor pri-
vado. (…) O Estado aproveitou o facto de existir setor privado na formação
e deu-lhes mais uma oportunidade para o seu negócio (…) Portanto houve
aqui um desresponsabilizar (…) o que acho é que o setor público tem uma
maturidade diferente (…) enquanto que o setor privado tem um negócio
momentâneo, não dá, fechou (Coordenador do CNO Fénix).
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15
O bem público comum e interesse geral, do ponto de vista desse entrevistado, relacionam-se
com o desenvolvimento econômico dos territórios e consolidação da política de educação e
qualificação das populações.
111
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
3. Apontamentos finais
A exploração das questões de investigação permitiu observar alguns
aspectos da dimensão nacional da política de E/ALV na primeira década
do século XXI, agora apreendida através dos testemunhos recolhidos sobre
perspetivas, orientações e práticas sustentadas por responsáveis institucio-
nais16. A análise de cursos de ação e pontos de vista sugere os contornos de
delimitação e de capacitação de ação, colocados pelos termos da política
do Estado gestionário. Assim, em síntese, queremos salientar certos traços de
apropriações locais e institucionais do dispositivo de RVCC no quadro da
política de EFA:
(i) a mobilização social muito significativa, quer de entidades, quer
da população adulta, para processos de educação e formação de adultos;
16
Num outro trabalho, a partir da análise de documentos programáticos, de estudos e de outros
elementos empíricos de âmbito limitado, sobre o desenvolvimento da política de EFA,
propusemos que em Portugal essa verificou: (i) a ambivalência entre uma política social
multidimensional e uma política para/segundo a economia, reduzida às vertentes formais da
EFA; (ii) a omissão e o compromisso limitado do Estado com o direito à educação da população
adulta portuguesa, por um lado, ampliando a oferta pública e a população abrangida e, por
outro lado, prescindindo de uma política global e de um sistema público de EFA; (iii) o
desenvolvimento da política no quadro de programas temporários e estruturas provisórias,
baseados na precarização inflexível de direitos sociais da população e dos trabalhadores
envolvidos (ANTUNES, 2011).
113
ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
114
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
116
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ANTUNES, F. • Reforma do Estado e políticas públicas: a governação em ação
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119
Paixão pela educação... privada
– Educação e terceira via em Portugal:
da Revolução dos Cravos aos nossos dias
Raquel Varela
Sandra Duarte
Educar na revolução
No dia 25 de abril de 1974, um golpe levado a cabo pelo Movimento
das Forças Armadas (MFA) põe fim à ditadura portuguesa. De imediato, e
contra o apelo dos militares, milhares de pessoas saíram de casa, e foi com
as pessoas à porta, a gritar “morte ao fascismo”, que no Quartel do Carmo,
em Lisboa, o governo foi cercado; as portas da prisão de Caxias e Peniche
abriram para saírem todos os presos políticos. Uma semana depois do gol-
pe que põe fim a 48 anos de ditadura, a celebração do 1º de maio de 1974
junta nas ruas de Lisboa meio milhão de trabalhadores e 2 milhões em todo
o país, 20% da população total de Portugal. As palavras de ordem demo-
cráticas já se misturavam com reivindicações sociais (salário mínimo, etc.).
Um mês depois do golpe, a capital do país está paralisada com greves.
A revolução portuguesa foi marcada pelo protagonismo político de
um poderoso movimento operário e social que atingiu amplos setores da
sociedade portuguesa. Para além dos trabalhadores diretamente ligados à
produção de valor, e particularmente os operários industriais, a revolução
portuguesa caracterizou-se por conflitos sociais muito radicalizados no mo-
derno setor laboral dos serviços, o setor informal, uma ampla participação
das mulheres e os setores intermediários e de base das forças armadas e um
amplo e radical movimento que alterou as bases estruturais do ensino, in-
troduzindo aquele que foi até dois anos o sistema mais democrático de
gestão das escolas em toda a Europa ocidental.
120
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
1
Favelas.
121
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
122
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
2
50 anos de Estatística da Educação. Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação e
Instituto Nacional de Estatística, Lisboa, 2009.
123
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
3
“Saneamento” foi uma palavra que nasceu na gíria popular no início da revolução, para classi-
ficar os processos de destituição de dirigentes ligados ao Estado Novo de cargos de responsabi-
lidade política, bem como de empresários e patrões das empresas ocupadas.
124
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4
50 anos de Estatística da Educação. Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação e
Instituto Nacional de Estatística, Lisboa, 2009.
5
Lei nº 46/86 de 14 de outubro.
125
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
126
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
6
“300 mil nas manifestações da Geração à Rasca”. Disponível em: <http://www.esquerda.net/
artigo/extraordin%C3%A1ria-mobiliza%C3%A7%C3%A3o-da-%E2%80%9Cgera%C3%A7%
C3%A3o-%C3%A0-rasca%E2%80%9D>. Acesso em: 15 jul. 2012.
127
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
7
Em Portugal, o Partido Social Democrata chama-se Partido Socialista (PS), e o Partido Liberal
chama-se Partido Social Democrata (PSD). Essa esquerdização do nome dos partidos é uma
herança da revolução que radicalizou o vocabulário.
8
O tempo das crianças na escola (em contexto de sala de aula) passou de 5 horas diárias em
1980 para 8 horas diárias em 2010. Os adolescentes ficam em média 37 horas por semana em
sala de aula, a mais alta taxa no quadro da EU.
9
50 anos de Estatística da Educação. Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação e
Instituto Nacional de Estatística, Lisboa, 2009.
128
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
129
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
10
“Professores denunciam carga horária ilegal”, 22 de novembro de 2008. Disponível em: <http://
www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1037315>. Acesso em: 13 abr.
2011.
130
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11
Na sua origem histórica, irmandade que tem como missão o tratamento e sustento a enfermos
e inválidos.
131
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
aplicados com Guterres. É de referir ainda que à frente de uma grande fatia
desses contratos está a igreja católica12, direta beneficiária dessas transfe-
rências de dinheiros públicos13. Como indica a Tabela 1, a revolução de
1974-1975 tem um impacto generalizado na diminuição do ensino privado,
que só volta a crescer a partir da década de 1990. Continua a ser nos primei-
ros anos de escolaridade que o ensino privado teve uma evolução constante
de aumento de alunos. Porém, como consta do Gráfico 1, o financiamento
privado é cada vez mais alto, quer em termos absolutos, quer em termos
relativos, dada a relação entre financiamento e número de turmas.
12
Disponível em: <http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=84403>. Acesso em:
11 jul. 2011.
13
Uma turma hoje de 25 alunos recebe do Estado no setor privado com contrato de associação
80 mil euros. Disponível em: <http://www.ionline.pt/conteudo/95867-ensino-particular-go-
verno-vai-pagar-80080-euros-turma-e-ano-partir-do-proximo-ano-letivo>. Para ver a legislação
acessar: <http://www.min-edu.pt/data/Portaria_1324_A_2010.pdf>.
132
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
14
Disponível em: <http://www.oecd.org/dataoecd/11/40/44455820.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2011.
15
Disponível em: <http://www.examesnacionais.org/resultados-dos-exames-nacionais-2011/>.
Acesso em: 15 jul. 2011.
133
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
134
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
16
Sigla de um movimento de defesa dos direitos dos professores e da qualidade da escola pública.
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VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
Notas conclusivas
A educação pública está em uma encruzilhada em Portugal. Ainda
no rescaldo das mobilizações de professores de 2007 e 2008, as maiores de
toda a Europa, vive-se, porém, aquilo que pode ter sido também uma der-
rota significativa. Perderam-se oportunidades de trazer o debate da quali-
dade do ensino para dentro da escola pública e questionar as fundações da
educação no quadro da atual fase de desenvolvimento do capitalismo por-
tuguês.
17
Disponível em: <http://www.fenprof.pt/Download/FENPROF/SM_Doc/Mid_115/
Doc_3337/Anexos/Memorando%20entendimento.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2011.
136
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
137
VARELA, R.; DUARTE, S. • Paixão pela educação... privada – Educação e terceira via em Portugal
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139
Las actividades de extension en el marco
de la “responsabilidad social universitaria”
y las politicas de “tercera via”1
Susana E. Vior
Laura R. Rodríguez
1
Una primera versión de este trabajo fue presentada en el XX Seminario Internacional de
Investigadores de Formación de Profesores del Mercosur/Conosur. Universidad de Concepción/
Universidad Católica de la Santísima Concepción. Chile, Noviembre de 2012.
2
La extensión fue incorporada en varios proyectos de ley originados en diputados de la Unión
Cívica Radical en la década de 1940; uno de ellos (1946) hacía de la extensión una actividad
orgánica y obligatoria tanto para profesores como para alumnos, proponiendo un organismo
especial de coordinación con la participación de sindicatos. Por el contrario, las dos leyes
140
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
universitarias sancionadas durante el primer y segundo gobierno de Juan D. Perón ( Ley 13.031/
47 y 14.297/54) no contenían apartados específicos que regularan la actividad de extensión,
aunque estaba mencionada entre las funciones de las universidades, y como responsabilidad de
los Consejos Directivos.
3
El interés por la cuestión social por parte de los organismos internacionales de cooperación en
el contexto de “Guerra Fría” era explícito: “El servicio social universitario está unido en gran
parte al esfuerzo realizado para hacer participar a los estudiantes y, en términos más generales,
a las instituciones de enseñanza superior en general, en el progreso de la nación, y para relacionar
la teoría con la práctica. Como tendencia, comenzó a manifestarse a partir de situaciones
específicas, por ejemplo, la de los países socialistas en un momento dado de su desarrollo
histórico, como consecuencia de sus esfuerzos por transformar la sociedad y crear nuevos valores
humanos unidos a la plena realización del individuo” (UNESCO, 1984, p. 1).
141
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
4
Dice el art.1° de la Ley: “Las Universidades Nacionales son comunidades de trabajo que integran
el sistema nacional de educación en el nivel superior con el fin de impartir enseñanza, realizar
investigación, promover la cultura nacional, producir bienes y prestar servicios con proyección
social y, haciendo los aportes necesarios y útiles al proceso de liberación nacional, contribuir a
la solución de los grandes problemas argentinos”.
142
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
143
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
145
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
5
Robert Reich (2008, p. 2) sintetiza con claridad la forma en que se difundió el paradigma de la
Responsabilidad Social Empresaria, actualmente “un tema candente en las escuelas de negocios
[…] Hacia 2006, más de la mitad de los planes de estudio de las maestrías en administración de
negocios exigían a los alumnos al menos un curso sobre la temática. Más del 80% de las agencias
de empleo afirman que los graduados de las escuelas de negocios tienen que demostrar
conocimiento del asunto y reconocer su importancia. Anualmente es tratada en centenares de
conferencias empresarias, y decenas de miles de ejecutivos escuchan atentamente a consultores
explicar la importancia de la RSE y cómo las empresas pueden ofrecer evidencias de su
compromiso. Los CEOs y ejecutivos que se reúnen anualmente en el Foro Económico Mundial
de Davos (Suiza) discuten y solemnemente proclaman su adhesión al nuevo paradigma”.
146
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
6
http://www.educoas.org/portal/ineam/cursos_2008/ETICA-E103_08.aspx?culture=es&
navid=241.
147
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
7
Bajo el lema “Sus aportes a los Derechos Humanos y al Desarrollo Sustentable”, este Congreso
convocó a más de 1000 participantes y 600 expositores.
148
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
149
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
8
http://www.portales.educacion.gov.ar/spu/promocion-de-la-universidad-argentina.
9
http://www.portales.educacion.gov.ar/spu/promocion-de-la-universidad-argentina/areas-
prioritarias/. No hemos podido acceder a información sobre los recursos asignados a proyectos
específicos de Extensión dentro de este Programa.
150
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
151
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
152
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
10
Según datos de la Secretaría de Políticas Universitarias, en 2010, sólo el 12% de los cargos
docentes eran de dedicación exclusiva.
153
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
155
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
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157
VIOR, S. E.; RODRÍGUEZ, L. R. • Las actividades de extension en el marco de la “responsabilidad social universitaria”...
158
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
1. Introdução
Este artigo irá analisar o histórico da relação público-privada através
das legislações constitucionais e infraconstitucionais brasileiras, com o obje-
tivo de relacionar o conteúdo das legislações com o processo de democratiza-
ção da educação e o predomínio dos interesses da esfera privada no conteúdo
dos textos legais. Este estudo é parte constitutiva de uma pesquisa mais am-
pla intitulada: Parcerias entre sistemas públicos e instituições do terceiro setor: Brasil,
Argentina, Portugal e Inglaterra e as implicações para a democratização da educação,
sob a coordenação da prof. Dra. Vera Maria Vidal Peroni.
Nesse sentido, não iremos realizar uma mera descrição de fatos his-
tóricos relacionados ao período em questão, tomando por base o conteúdo
das Constituições brasileiras. O objetivo é aprofundar o processo de confi-
guração da relação público-privada, em âmbito nacional, levando em con-
sideração também o contexto internacional, buscando assim entender as
razões que levaram à consolidação das reformas promovidas no Estado
brasileiro, especialmente a partir da década de 1990, em relação à promo-
ção da educação, que já estavam presentes, em certa medida, desde a Cons-
tituição Imperial de 1824 (BRASIL, 1824).
O estudo está organizado da seguinte maneira. Primeiramente, ana-
lisaremos alguns aspectos das Constituições brasileiras vinculados à pro-
moção da educação. Em um capítulo próprio, iremos detalhar o conteúdo
da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), considerada um marco
legal na declaração dos direitos sociais.1 Em outro segmento do estudo,
1
Parte dos resultados advém da coleta de dados para a elaboração do Projeto de Tese: “O Histórico
da relação público-privada no Brasil na promoção do Direito à Educação”, apresentado em
159
PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
160
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
162
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
164
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
166
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
168
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
169
PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
170
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
5. Considerações finais
Este estudo teve como objetivo analisar o histórico da relação públi-
co-privada na promoção da educação no Brasil, tomando por base a evolu-
ção da legislação constitucional e infraconstitucional.
A partir desta análise, constata-se que o Estado historicamente e de
maneira gradativa não assume a função de principal promotor do direito
social à educação, passando a um mero fiscalizador na execução da educa-
ção. No caso do histórico da relação público-privada na educação, ocorre
um aprofundamento a partir da década de 1990 no Brasil, primeiro através
da promulgação do PDRAE durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, no qual foram criados setores de ações não estatais para o atendi-
mento de políticas, e mais atualmente com a proposta de alteração da ad-
ministração pública federal com a inserção dos entes de colaboração. A
educação passa a figurar como uma ação não exclusiva do Estado. Para
tanto foi proposta a transferência da promoção do direito à educação para
o público não estatal e o quase mercado, entendidos enquanto esferas de
atuação privada dentro do espaço público.
A principal consequência para a sociedade é a sua própria desarticu-
lação, pois irá gerar o esvaziamento dos espaços e locus de discussão e cons-
trução de posições mais autônomas frente à realidade atual, uma vez que a
sociedade, ao assumir as obrigações do Estado com os direitos sociais, legi-
tima a sua própria ausência.
Dessa forma, quando nos aproximamos da análise atual das políticas
educacionais, percebemos o predomínio da política do consenso e do pre-
domínio dos interesses particulares em face das demandas da coletividade;
preponderam, pois verificamos cada vez mais que empresários, instituições
171
PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
172
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Referências
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______. Constituição da República Federativa do Brasil: Senado Federal, 1934.
173
PIRES, D, de O. • O histórico da relação público-privada no Brasil: o enfoque jurídico
______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil: Senado Federal, 1891.
______. Constituição Política do Império do Brazil: Senado Federal, 1824.
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WOOD, Ellen Meisksins. Democracia contra o capitalismo – a renovação do materialis-
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174
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Introdução
Este artigo é parte da pesquisa “Parcerias entre sistemas públicos e
instituições privadas do terceiro setor: Brasil, Argentina, Portugal e Ingla-
terra: implicações para a democratização da educação”, que se propõe ana-
lisar a relação entre o público e o privado e as consequências para a demo-
cratização da educação no Brasil, Argentina, Inglaterra e Portugal e o que
se entende em cada país por público e privado, democracia e direito à edu-
cação – CNPQ, coordenado pela prof. Dra.Vera Maria Vidal Peroni, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Neste espaço, pre-
tendemos problematizar a influência das mediações das consultorias inter-
nacionais no Brasil na elaboração das políticas educacionais. Analisamos de
maneira mais atenta a consultoria McKinsey & Company. Temos como foco
descrever e analisar a legitimidade, credibilidade e isenção das recomenda-
ções por ela emanadas no sentido de verificar as implicações na democracia.
A contratação do trabalho das consultorias baseia-se em alguns pres-
supostos que garantem aos contratantes não duvidarem dos relatórios, re-
comendações e resultados emitidos. A imagem de transparência e credibili-
dade é aliada à imagem e ao prestígio dos seus clientes.
Os diagnósticos das consultorias ganham poder de verdade e rara-
mente são contestados. Com a McKinsey não é diferente. O fato de entrar
em nosso espectro analítico é por se tratar de uma instituição privada que
realiza trabalhos para empresas e governos baseados em hipóteses que não
diferenciam contextos e onde tudo, por eles sugerido, é passível de ser repli-
cado, independente do setor econômico ou social a que pertençam.
175
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
1
Histórico e detalhes: ver Julio César Donadoni (2003).
176
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
2
Site Internacional: <http://www.mckinsey.com> e no Brasil: <www.mckinsey.com.br>. Acesso
em: 05. set. 2012.
177
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
3
Ferramenta gerencial também conhecida por matriz McKinsey. A Mckinsey desenvolveu seu
modelo de ferramenta gerencial como parte de seu relacionamento com a General Eletric na
implantação do sistema de planejamento em 1970 (OLIVEIRA, 2005).
178
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
179
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
4
Empresário da área financeira (ABDALLAH, 2012).
180
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
5
Em sânscrito significa: ausência de sofrimento (ASHOKA, 2012).
181
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
Os documentos elaborados
pela consultoria McKinsey
Como já destacamos, a consultoria McKinsey elabora documentos
que visam analisar temáticas diversas; para esta parte do trabalho foram
escolhidos dois documentos: “Cinco prioridades para as políticas públicas
do Brasil” (McKINSEY & COMPANY, 2005), que trata de uma visão macro
sobre o cenário brasileiro, e o outro documento apresenta um estudo na
área da educação: “Como um sistema escolar de baixo desempenho pode
evoluir para tornar-se bom? E como um sistema de bom desempenho pode
atingir o nível de excelência?” (McKINSEY & COMPANY, 2007). Os do-
cumentos numa pretensa “neutralidade” buscam avaliar no plano macro e
microeconômico a realidade brasileira, principalmente em relação à busca
de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB, juntamente com o desen-
volvimento e a melhoria da educação.
182
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Informalidade
Importante constatar que esse trabalho sobre a produtividade brasi-
leira não é algo novo. O mesmo fora elaborado oito anos antes, em 1998,
pela própria McKinsey. Nesse período, ela informava que, em vez de traba-
lhadores individuais com caixas de ferramentas, houvesse mais empresas
de construção; em vez de vendedores de rua, existissem lojas de departa-
mentos. O primeiro é observado no crescimento ocorrido no período de
2004 a 2008, em que a construção civil cresceu a uma taxa média de 5,1%
acima da economia nacional. Entretanto, o Produto Interno Bruto, PIB, no
mesmo espaço de tempo foi de 4,8% (MIRANDA, 2011).
183
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
184
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Gasto do governo
O segundo aspecto levantado pela consultoria diz respeito à questão
do desequilíbrio fiscal. O Brasil, segundo o relatório, gasta muito mais do
que arrecada. Perfazendo gastos por parte do governo em despesas de con-
sumo, que incluem gastos com seguridade social, saúde e aposentadorias e
salários do setor público. Além disso, há despesas, investimentos e paga-
mentos da dívida pública. Esse gasto representa mais de 40% do PIB, o que
tende a aumentar, pois as despesas com bem-estar social têm aumentado
nos últimos anos.
Algumas sugestões emanadas no documento para redução das des-
pesas governamentais centram-se no aumento da idade mínima para apo-
sentadoria, dissociação do aumento das aposentadorias pelo salário míni-
mo, redução das alíquotas de impostos e redução das taxas de juros (McKIN-
SEY, 2005).
A McKinsey destaca que através da redução substancial do consumo
do governo como percentual do PIB possibilitará ao Brasil gerar um ciclo
virtuoso em que uma despesa pública menor permitiria ao governo reduzir
os impostos e o peso da dívida do setor público. A primeira iniciativa gover-
namental poderia auxiliar na diminuição da informalidade, e a segunda
iniciativa ajudaria na redução das taxas de juros; isso se refletiria no au-
mento de investimentos, fazendo a economia crescer. Consequentemente,
haveria um aumento da receita fiscal, o que permitiria investimentos públi-
cos em infra-estrutura, incentivando a produtividade de vários setores eco-
nômicos, gerando mais crescimento econômico e, quiçá, a redução maior
da dívida e dos encargos sociais no Brasil (McKINSEY, 2005, grifo nosso).
6
Leia o artigo “As Cinco Prioridades para a Economia no Brasil”. Disponível em: <http://
download.mckinseyquarterly.com/BrazilMGI_Portuguese.pdf>.
185
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
Sistema Judiciário
A reforma do judiciário brasileiro de acordo com a McKinsey é o
início de uma mudança mais ampla para a expansão de tais mudanças em
outros serviços públicos prestados pelo Estado, como a saúde e a educação.
A consultoria ainda destaca que nossa ineficiência é responsável pelo distan-
ciamento da produtividade estrutural entre nosso país e os Estados Unidos.
A ineficiência não deve ser combatida com um número maior de juí-
zes, pois esses já embolsam boa parte dos recursos governamentais, além
do grande número de funcionários de apoio que os mesmos utilizam. Para
reduzir e quiçá acabar com essa ineficiência, a McKinsey (2005) sugere
simplificação da legislação brasileira, racionalização do uso do judiciário
por parte das instituições públicas e inclusão da colaboração de autorida-
des financeiras e sociais para a criação de normas administrativas, indican-
do quando recorrer aos serviços judiciais. Tudo isso em prol da redução do
número de ações no judiciário.
Nesse item, a consultoria faz uma longa argumentação e sugere que
as mudanças a serem implementadas no judiciário serviriam de “bom exem-
plo para reformas a serem feitas nas áreas da saúde, educação e em outros
serviços públicos” (McKINSEY, 2005, p. 3).
No entanto, essa simplificação sugerida não leva em conta as profun-
das diferenças entre esses setores. A educação, por exemplo, não goza de
todos os benefícios sociais e salariais do judiciário. De fato, o crescimento
salarial do magistério e da saúde depende do poder executivo; o setor judi-
ciário legisla por conta própria. Desse modo, a sugestão de replicar para
todo o setor público é inviável.
186
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Infraestrutura
De acordo com o documento elaborado pela McKinsey sobre as Cin-
co Prioridades para o Brasil (McKINSEY & COMPANY, 2005), os investi-
mentos em infraestrutura decresceram assustadoramente. Isso resultou em
estradas, usinas de energia elétrica, portos e saneamento inadequados. Criou-
se um distanciamento da produção brasileira em relação à americana. Para
reduzir tal distanciamento em relação aos países desenvolvidos, o Brasil
deverá investir de US$20 bilhões a US$36 bilhões anuais. O documento
informa que, para custear esse valor, urge a necessidade da criação de par-
cerias público-privadas com regulamentações simplificadas e vantajosas para
ambas as partes (McKINSEY, 2005).
Uma regulamentação clara e justa para parcerias público-privadas é igual-
mente importante. Em Bogotá, capital da Colômbia, essas regras foram fun-
damentais para o sucesso do novo sistema de ônibus urbanos, que reduziu o
número de acidentes fatais em 90 por cento e a poluição em 43 por cento,
criando ao mesmo tempo 18.000 novos empregos. Para isso, foi desenvolvi-
do um sistema sustentável no longo prazo, evitando subsídios, delegando ao
setor privado a responsabilidade pelas operações, gerenciando as receitas
por meio de um fundo administrado pelo Banco Lloyds e limitando as inter-
ferências do governo (McKINSEY, 2005, p. 78).
187
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
188
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
189
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
A parte mais relevante desse trabalho pode ser resumida nos oito acha-
dos desta pesquisa: o tempo de obter ganhos com as reformas; a ênfase no
processo; o aprendizado das experiências; o contexto não é determinante;
existem intervenções comuns a fazer; o equilíbrio entre autonomia e uni-
formidade da prática de ensino; as reformas são provocadas por eventos
específicos; e a continuidade da liderança é essencial.
A ênfase no processo
As reformas teriam que dar ênfase ao processo – esse é o segundo
achado. Eles sustentam que, quando os resultados obtidos pelos alunos fi-
caram estagnados ou regrediram, verificava-se uma ênfase muito reduzida
em “processos” no debate educacional.
As melhorias no desempenho do sistema baseado na necessidade de:
a) provocar mudanças nas estruturas, estabelecendo novas instituições ou
implementando novos tipos de escola, ou mesmo modificando os anos e ní-
veis de escolaridade, ou descentralizar as responsabilidades dentro do siste-
ma; b) provocar mudanças no financiamento na aplicação de recursos com a
alocação de mais pessoal da educação (pagamento de mensalidades, por exem-
plo) nas escolas ou incrementar o financiamento público dos sistemas; c)
provocar mudanças nos processos, modificando o currículo e melhorando a
maneira como os professores ensinam e como os diretores lideram.
190
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
191
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
193
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
reforma, mas também para sustentá-las. Dois aspectos destacam-se nos lí-
deres de sistemas educacionais com melhorias: a longevidade e o cuidado
com a formação da geração seguinte de líderes. Esse aspecto garante a con-
tinuidade em longo prazo dos objetivos de reforma. Supomos que nada é
mais verdadeiro do que reconhecer que a permanência de lideranças à fren-
te de sistemas garante a implementação e o realinhamento de ações e polí-
ticas educacionais.
O resumo executivo na versão em português do relatório dessa pes-
quisa finaliza afirmando:
O desafio fundamental a ser vencido pelos líderes dos sistemas de ensino é
como conduzir o sistema rumo a melhores resultados dos alunos. Essa jor-
nada é ainda mais complexa porque os pontos de partida são diferentes, os
contextos variam e os líderes se defrontam com múltiplas escolhas e combi-
nações de ações a tomar ao longo do caminho – um passo inadequado pode
inadvertidamente levá-los a ingressar em um curso não desejado. É certo
que não existe um percurso único para melhorar o desempenho dos siste-
mas escolares; contudo, a experiência dos vinte sistemas em melhoria que
analisamos mostra que a natureza do caminho trilhado por eles têm fortes
aspectos comuns. O presente relatório descreve os aspectos dessa trajetória
que são universais, aqueles que são específicos ao contexto, e a interação
entre ambos. Esperamos que essas experiências possam trazer benefícios
para sistemas escolares do mundo todo, cada qual em seu percurso próprio
rumo à melhoria (McKINSEY, 2007, p. 4).
Considerações finais
Diante dos documentos analisados, podemos verificar que essa con-
sultoria, como qualquer outra, sutilmente preserva seu espaço de trabalho e
de abrangência. No entanto, os achados da consultoria não são novidades.
De fato, os governos, se bem intencionados e com estrutura institucional,
conseguem elaborar suas políticas e ações no espectro apontado na pesqui-
sa. A questão que fica visível é a forma como eles vendem as ideias, algu-
194
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
195
BITTENCOURT, J. M. V.; OLIVEIRA, M. de F. • A influência das consultorias internacionais...
Referências
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tivos está se unido a governos e ONGs para salvar a educação pública. São Paulo:
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BrazilMGI_Portuguese.pdf>. Acesso em: 10 set. 2012.
McKINSEY & COMPANY. Como um sistema escolar de baixo desempenho pode evoluir
para tornar-se com? E como um sistema de bom desempenho pode atingir o nível de excelên-
cia? 2007. Disponível em: <http://mckinseyonsociety.com/downloads/reports/
Education/Education_Intro_Standalone_Nov24_Portugeuse.pdf>. Acesso em: 12
set. 2012.
McKINSEY QUARTERLY. As cinco prioridades para as políticas públicas do Brasil.
Disponível em: <http://download.mckinseyquarterly.com/Brazil MGI_
Portuguese.pdf>. Acesso em: 05 set. 2012.
196
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
197
Relação público-privada no
Programa de Desenvolvimento da Educação:
uma análise do plano de ações articuladas
Introdução
Este artigo é parte de uma pesquisa realizada pelo grupo de pesquisa-
dores vinculados ao Programa de Pós Graduação em Educação da Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul, que trata das “Parcerias entre siste-
mas públicos e instituições do terceiro setor no Brasil, Argentina, Portugal
e Inglaterra: implicações para a democratização da educação”, coordena-
do pela professora Vera Maria Vidal Peroni.
Abordaremos a política educacional implementada pelo governo de
Luiz Inácio Lula da Silva e mantida por Dilma Rousseff a partir do Plano
de Metas Compromisso Todos pela Educação e da implantação do Progra-
ma de Desenvolvimento da Educação (PDE). O programa materializou-se,
entre outras formas, no instrumento chamado PAR – Plano de Ações Arti-
culadas, que, partindo de um diagnóstico da realidade educacional local,
apresentou ações e subações de assistência técnica e financeira aos municí-
pios e estados com baixo Índice de Desenvolvimento da Educação – IDEB.
A questão norteadora do texto indaga como o setor privado adentra
e influencia o setor público e quais as implicações para a democratização
da educação. A base material da pesquisa traz os dados coletados nos docu-
mentos disponibilizados pelo MEC: Decreto nº 6.094/07, Guia de Ações
2011-2014, Guia de Tecnologias Educacionais e os próprios instrumentos
de elaboração do diagnóstico e do planejamento disponibilizados através
do Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle (SIMEC).
198
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
199
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
200
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
1
Ver seção ii.
201
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
202
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
203
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
[...] o caráter de amparo, apoio, suporte, ajuda ou auxílio parece ser o que
mais se adéqua à atribuição da União de assistir técnica e financeiramente
aos estados, Distrito Federal e aos municípios. O apoio e o auxílio – quer
dizer, a assistência – são posicionados como o modo concreto, o instrumen-
to que viabiliza o exercício das funções redistributiva e supletiva da União,
de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão
mínimo de qualidade do ensino. Já o termo técnica, que adjetiva a assistên-
cia, encaminha para a compreensão de que os apoios ou suportes são estea-
dos num conhecimento especializado – o qual tem uma base referencial téc-
nico científica – e visam atingir determinado resultado (FARENZENA, 2012,
p. 14).
204
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
2
Para o MEC, municípios prioritários são os que apresentaram o pior desempenho na avaliação
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) nos anos de 2005 e 2007 e que,
portanto, seriam prioritariamente atendidos pelo Programa PAR. Na prática, porém, todos os
municípios brasileiros puderam aderir ao Compromisso e ter acesso ao PAR.
3
Essa afirmação é oriunda de dois membros do grupo dessa pesquisa terem trabalhado como
assessores técnicos do PAR em diversos municípios, acompanhando sua implantação e moni-
toramento.
205
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
4
São agrupamentos de grandes traços ou características referentes aos aspectos de uma institui-
ção ou de um sistema sobre os quais se emite juízo de valor e que, em seu conjunto, expressam
a totalidade da realidade local (BRASIL/MEC, Instrumento de Campo, 2007, p. 12).
5
O Guia Prático de Ações, assim como a política, vem sofrendo transformações desde o início
da implementação do PAR.
6
Conjunto de características comuns usadas para agrupar, com coerência lógica, os indicadores.
Entretanto, não são objetos de avaliação e pontuação (BRASIL/MEC, 2007).
206
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
7
Para maiores detalhamentos referente às áreas e indicadores, ver Guia Prático de Ações do
MEC de 2007.
8
Para maiores detalhamentos referente às áreas e indicadores, ver Guia Prático de Ações do
MEC de 2011.
9
Critérios são os padrões que servem de base para comparação, julgamento ou apreciação de
um indicador (CAMINI, 2008, p. 116 ).
207
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
208
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
10
São tecnologias pré-selecionadas pelo MEC. Ver maiores detalhes na seção iii.
209
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
210
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
11
O MEC considera Tecnologias Educacionais: “processos, ferramentas e materiais de natureza
pedagógica que estejam aliados a uma proposta educacional que evidencie sólida fundamen-
tação teórica e efetiva coerência metodológica” (Aviso de Chamamento Público 01/2009 – ).
211
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
12
WWW.pete.com.br
212
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Quadro 2
Tecnologia Tecnologia
Item Categoria desenvolvida externa Total
pelo MEC ao MEC
2009 2011 2009 2011 2009 2011
1 Gestão da Educação 09 11 06 07 15 18
2 Ensino-Aprendizagem 04 09 51 51 55 60
3 Formação dos profissionais da educação 10 12 14 15 24 27
4 Educação Inclusiva 06 11 01 01 07 12
5 Portais Educacionais 04 05 12 11 16 16
6 Diversidade e Educação de Jovens e Adultos 10 17 07 11 17 28
7 Educação Infantil – – – 08 – 08
8 TOTAL 43 65 91 104 134 169
213
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
Gráfico elaborado a partir dos dados do Guia de Tecnologias Educacionais do MEC 2011.
214
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
13
Consta no material que se trata do método fonovisuoarticulatório, embasado teoricamente no
construtivismo, porém o conteúdo do livro do aluno destaca a memorização e a silabação
como nos exemplos de frases: O sapo pula. O pirulito tem um palito. O piloto pegou um lápis.
Ou no texto que traz a orientação ao professor: “Leia junto com as crianças, pois há letras que
ainda não foram aprendidas”. Paulo é piloto da polícia. Ele pilota avião, jato e pula de para-
quedas. Outro dia, ele passou por cima de São Paulo e pôde ver pessoas pulando no trampolim
de uma piscina. Ele levou sua família para passear de avião, e todos pediram para ele pousar e
levantar bem ligeiro. Paulo acha muito legal ser piloto da polícia.
14
Exemplo de texto no livro do aluno: O melão mela. E o mamão mela? A lama é mole e mela.
A lama é mole e mela? A mamãe mia? A mamãe da Mimi mia. Miau! A meia da Ema. Meia
da ema? Ema de meia? Melou? Melou!
15
Para um estudo detalhado sobre a parte jurídica das parcerias, ver PIRES, Daniela (2009). A confi-
guração jurídica e normativa da relação público-privada no Brasil e na promoção do direito à educação.
215
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
Algumas considerações
Neste artigo, abordamos o PDE/PAR, evidenciando as possibilida-
des de parcerias público-privadas que se abrem a partir da elaboração do
Plano de Ações Articuladas aos estados e municípios ao realizar o plano,
buscando destacar os caminhos pelos quais o setor privado adentra e influ-
encia o setor público nas políticas educacionais e as implicações para a
democratização da educação.
No estudo em questão, observamos desde o Decreto nº 6.094/07,
passando pelo diagnóstico, Guia de Ações e Guia de Tecnologias que as
parcerias são mapeadas e estimuladas caso os sistemas não as tenham.
Ao mesmo tempo que a política avança na questão da oferta de assis-
tência técnica e financeira com critérios de conhecimento público e de um
diagnóstico da realidade local, rompendo com práticas clientelistas e desi-
guais entre sistemas, qualificando a participação democrática entre os en-
tes federados, possibilitando exercer o controle social através dos Comitês
Locais e chegando onde nunca antes o Estado esteve presente na educação
básica, contraditoriamente, o conteúdo da proposta apresenta elementos
que desresponsabilizam o Estado como executor da política, transferindo a
qualificação da educação para as parcerias com entidades do setor privado,
que se pautam pela lógica de mercado. Coincidentemente, o Estado apre-
senta um discurso que referenda a gestão democrática estabelecida consti-
tucionalmente, defendendo a participação de todos na construção da quali-
216
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
217
ROSSI, A. J. et al. • Relação público-privada no Programa de Desenvolvimento da Educação
Referências
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cacional do capital. Boletim Germinal – Grupo de Estudos e Pesquisas Marxismo,
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Publicado no D.O.U. Seção 3, p. 41/42/43/44, de 21/05/2009.
______. Decreto nº 6.094, de 24 abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do
Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em
regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participa-
ção das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência
técnica e financeira, visando à mobilização social pela melhoria da qualidade da
educação básica.
BRASIL, MEC. Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), 2007.
______. Instrumento de Campo PAR, 2011-2014. Brasília: Ministério da Educação,
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Brasília, 2007.
CAMINI, Lucia. Compreender a política de gestão do plano de desenvolvimento da educa-
ção na perspectiva da gestão democrática. 179f. Projeto tese (Doutorado) – Universida-
de Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Educação. Por-
to Alegre, 2008.
FARENZENA, Nalú (org.). Implementação de planos de ações articuladas municipais:
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UFPel, 2012.
218
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Site:
http://www.simec.mec.gov.br/. Acesso em: 14 mar. 2012.
http://www.mec.gov.br/. Acesso em: 07 jan. 2013.
219
Expansão da Educação Infantil
através da parceria público-privada:
algumas questões para o debate (quantidade
versus qualidade no âmbito do direito à educação)
Introdução
Este artigo analisa implicações da política de conveniamento entre o
poder público e instituições privadas sem fins lucrativos para a oferta de
Educação Infantil no Brasil, integrando-se a uma pesquisa maior, que ana-
lisa as parcerias público-privadas no âmbito da Educação Básica brasileira.
A pergunta norteadora do estudo indaga até que ponto a política de parce-
rias público-privadas (PPP) democratiza a educação para as crianças de zero
a seis anos, considerados os princípios da Constituição Federal de 1988 –
CF/88 e a realidade social, econômica, cultural e educacional de nosso país.
A metodologia do estudo envolveu uma análise da legislação vigente
para a educação nacional e seu financiamento, incluindo documentos ofi-
ciais produzidos no âmbito do governo federal que orientam a oferta edu-
cacional. O documento intitulado “Orientações sobre convênios entre se-
cretarias municipais de educação e instituições comunitárias, confessionais
ou filantrópicas sem fins lucrativos para a oferta de Educação Infantil” (BRA-
SIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009b) teve uma análise específica
por ser esse o documento orientador para acordos firmados entre o poder
público e instituições da sociedade civil, emitido pelo Ministério da Educa-
ção/Secretaria da Educação Básica/Coordenação Geral da Educação In-
fantil/COEDI. Além desse documento, analisamos a Medida Provisória
nº 562 (BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 2012a), de 20 de março de
220
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
221
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
1
Nesse documento do MEC, há, ainda, diversos anexos disponibilizados aos municípios como
referências para a elaboração de termos de convênio.
2
Como exemplo dessa expansão, podemos citar Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul,
onde a expansão das vagas nos últimos anos se deu prioritariamente através de convênios. Em
1996, a capital tinha 5.125 crianças em creches conveniadas e 5.955 em Escolas Municipais de
Educação Infantil. Em 2011, esses números passaram respectivamente para 13.574 e 5.759
crianças.
228
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
não só pelo poder público, mas pela sociedade civil, impõe-se a necessidade
da publicidade das exigências legais e sociais para a efetivação dessas par-
cerias com mais qualidade, é, sem dúvida, do MEC esse papel indutor.
A proliferação das práticas de conveniamento em detrimento da apli-
cação de recursos públicos exclusivamente em educação pública também
encontra apoio legal na Medida Provisória nº 562, de 20 de março de 2012,
convertida na Lei nº 12.695/12, que, entre outros, altera o artigo 8º da Lei
nº 11.494/2007, do FUNDEB, permitindo o que segue:
§ 1º Será admitido, para efeito da distribuição dos recursos previstos no
inciso II do caput do art. 60 do ADCT, em relação às instituições comunitá-
rias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o
poder público, o cômputo das matrículas efetivadas:
I - na educação infantil oferecida em creches para crianças de até 3 (três)
anos;
II – [...]
§ 3º Será admitido, até 31 de dezembro de 2016, o cômputo das matrículas
das pré-escolas, comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucra-
tivos, conveniadas com o poder público e que atendam às crianças de 4 (qua-
tro) e 5 (cinco) anos, observadas as condições previstas nos incisos I a V do
§ 2o, efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado até a data de pu-
blicação desta Lei (Lei nº 11.494/2007, art. 8º – BRASIL, CONGRESSO
NACIONAL, 2007).
3
A Emenda Constitucional 59/09 – EC alterou a CF/88, tornando obrigatória a matrícula na
pré-escola para as crianças de 4 e 5 anos, dando como prazo para sua efetivação o ano de 2016.
229
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
4
“As Rodas de Expostos eram asilos administrados pelas Santas Casas, possuindo um mecanis-
mo giratório que garantia sigilo na entrega das crianças, através do qual eram recebidos os
expostos, crianças recém-nascidas, abandonadas por suas famílias” (FLORES, 2007, p. 42).
230
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
231
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
ca, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos
de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, comple-
mentando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, CONGRESSO
NACIONAL, 1996).
Entendemos que o arcabouço jurídico elencado é fortalecido com a
aprovação da Resolução CNE/CES nº 01/2006 (BRASIL, CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2006), que institui as Diretrizes Curricu-
lares Nacionais para os Cursos de Pedagogia. Em seu Art. 5º, essa norma
afirma a dimensão educacional dessa etapa da Educação Básica, quando
preconiza que a educação e o cuidado das crianças pequenas matriculadas
na Educação Infantil devem ser efetivados por profissionais do Magistério
com habilitação em nível superior, curso de licenciatura: “O egresso do
curso de Pedagogia deverá estar apto a: [...] II - compreender, cuidar e edu-
car crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir para o seu desenvol-
vimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social”
(BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2006).
Nas últimas décadas, o Ministério da Educação, a partir da criação
de uma coordenação própria para a Educação Infantil, a COEDI/MEC,
contribuiu para a consolidação do campo a partir da formulação e divulga-
ção de inúmeros documentos. Destacamos a seguir alguns deles: Referen-
ciais Curriculares Nacionais – 1998 (BRASIL, MINISTÉRIO DA EDU-
CAÇÃO, 1998a); Parecer 022/98 do CNE/CEB (BRASIL, 1998b); Dire-
trizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) estabele-
cidas pela Resolução CNE/CEB nº 01/1999 (BRASIL, CONSELHO NA-
CIONAL DE EDUCAÇÃO, 1999). Aquilo que veio se consolidando en-
quanto concepção de Educação Infantil nesses documentos é representati-
vo do avanço da área, resultado do acúmulo construído em termos de pes-
quisas e práticas de educação e cuidado das crianças pequenas, como afir-
ma Barbosa (2009):
Apesar de as instituições de atendimento para crianças pequenas, como os
jardins de infância e creches, já estarem presentes na sociedade brasileira
desde o século 19, a sua inserção nos espaços de gestão da educação é bas-
tante recente. Estas conquistas iniciaram-se nos debates da Constituição
Federal, nas deliberações da LDB e do PNE, com a inclusão da Educação
Infantil como parte da Educação Básica do país, e continuaram com a deci-
são da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação de
232
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
233
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
234
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
5
As Secretarias Municipais de Educação são os órgãos governamentais responsáveis pela admi-
nistração das instituições de educação dos sistemas municipais de ensino, bem como mantene-
doras das instituições de educação da rede própria. Os conselhos municipais de educação,
quando possuem a função normativa, e os conselhos estaduais são os responsáveis pela regula-
mentação e fiscalização da oferta de educação nos respectivos sistemas.
235
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
nal podem optar por “políticas pequenas para as crianças pequenas” (CAM-
POS, 2012), opção comum a vários países latino-americanos, com políticas
de atenção de caráter socioeducativo ou mesmo meramente assistencial e
não educacional, havendo, inclusive, o risco do repasse desse atendimento
de forma preferencial para as entidades filantrópicas.
Nesse sentido, Flores, Santos e Klemann (2009) apresentam alguns
aspectos que se encontram ameaçados em função da falta de financiamen-
to adequado para o atendimento na etapa creche. Entre eles, podemos citar
um fato bastante comum nas instituições conveniadas: a atuação de profis-
sionais sem a habilitação estabelecida pela LDBEN em função do custo da
contratação de professoras habilitadas em número suficiente para atender à
relação adulto/criança definida nas normativas.
Como outra questão destacada por Flores; Santos; Klemann (2009),
temos a retração da oferta de vagas para as crianças bem pequenas, assim
como a redução da oferta de atendimento em tempo integral, duas práticas
que já vêm sendo observadas em diferentes estados do país. Esses movi-
mentos promovem uma perda na unidade pedagógica da Educação Infan-
til e, ao mesmo tempo, um retrocesso a partir da negação do direito consti-
tucional à educação para as crianças até 3 anos.
Na seção seguinte, abordaremos algumas consequências da política
de conveniamento para a oferta de Educação Infantil, em um contexto
macropolítico de crise do capital, no qual ocorre o incentivo à realização de
convênios entre o poder público e entidades privadas do terceiro setor. Esse
incentivo se sustenta no fato de ser essa uma forma mais ágil e também de
menor custo para o atendimento aos direitos da população, mas que, nem
sempre, em nosso entendimento, garante os princípios constitucionais.
236
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
6
Atualmente, essa forma de parceria pode ser encontrada em toda a Educação Básica, incluindo
as modalidades de Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos e, ainda, a Educação
Profissional.
237
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
238
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
7
Conforme Art. 89 da LDBEN 9394/96: “As creches e pré-escolas existentes ou que venham a
ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da publicação desta Lei, integrar-se ao
respectivo sistema de ensino” (BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1996).
239
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
Considerações finais
O objetivo deste artigo foi avaliar se a parceria público-privada para a
oferta de Educação Infantil se configura, de fato, como uma democratiza-
ção dessa etapa da Educação Básica. Um breve desenvolvimento teórico a
respeito da crise do capital foi necessário para que se compreendesse a pers-
pectiva de conveniamentos entre o poder público e instituições privadas
filantrópicas desde um contexto ampliado de análise. Questões relativas ao
financiamento educacional contribuem na compreensão acerca da opção
de certos governantes, nas últimas décadas, por políticas de parceria públi-
co-privada, ao invés da expansão da rede pública de Educação Infantil, a
despeito do ordenamento legal vigente com reiteradas referências e indica-
ções a padrões mínimos de qualidade.
Nas últimas décadas, leis federais legitimam a parceria público-priva-
da ao regulamentarem o repasse de recursos públicos para matrículas da
Educação Infantil das instituições comunitárias, confessionais, filantrópicas,
240
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
241
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
Referências
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Brasília: Presidência da República, Câmara da Reforma do Estado. Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado/MARE, 1995.
______. Presidência da República. Lei Nº 9424, de 24 de dezembro 1996. Brasília: Casa
Civil, 1996b.
______. Presidência da República. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Casa
Civil, 1996.
______. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Casa Civil, 1988.
______. Presidência da República. Lei Nº 11.494, de 20 de junho de 2007. Brasília:
Casa Civil, 2007.
______. Presidência da República. Medida Provisória nº 562, de 20 de março de 2012.
Casa Civil, 2012.
______. Presidência da República. Lei Nº 12.695, de 25 de julho de 2012. Conversão
da Medida Provisória nº 562 de 2012. Casa Civil, 2012.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Política Nacional
de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação. Brasília,
2006a.
242
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
243
FLORES, M. L. R.; SUSIN, M. O. K. • Expansão da Educação Infantil através da parceria público-privada
244
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
As parcerias público-privadas na
educação brasileira e as decorrências
na gestão da educação: o caso do
Instituto Ayrton Senna (IAS)1
Considerações iniciais
Este artigo apresenta como tema as parcerias público-privadas na
educação. Visa analisar as decorrências dessas parcerias no contexto da
educação brasileira no que diz respeito ao exercício da gestão democrática.
Para isso, apresenta o Instituto Ayrton Senna (IAS) como exemplo concre-
to da educação impregnada da lógica empresarial2, adotando como parâ-
metro o mercado através das indicações de produtividade, eficiência e efi-
cácia. Apresentamos a tese de que a adoção do gerencialismo na educação
compromete a autonomia do sujeito histórico social, aqui entendida en-
quanto a capacidade de pensar, criar, criticar, construir e reconstruir indivi-
dualmente e, sobretudo, coletivamente3 a sua vida no processo histórico,
independente da sua condição social, étnica e de gênero.
Desde as últimas décadas do século passado, vivenciamos, no con-
texto da educação pública brasileira, a inserção da lógica privada na gestão
1
Este artigo integra a pesquisa “Parcerias entre sistemas públicos e instituições privadas do
terceiro setor: Brasil, Argentina, Portugal e Inglaterra: implicações para a democratização da
educação”, que se propõe analisar a relação entre o público e o privado e as consequências
para a democratização da educação no Brasil, Argentina, Inglaterra e Portugal e o que se
entende em cada país por público e privado, democracia e direito à educação – CNPQ, coorde-
nado pela prof. Dra.Vera Maria Vidal Peroni da UFRGS.
2
Utilizamos a expressão gerencialismo como sinônimo de gestão da educação sob a lógica em-
presarial.
3
O coletivo aqui se refere à sociedade como um todo.
245
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
4
Para aprofundar essa discussão, sugerimos o estudo da obra “Para além do Capital”, de Istvan
Mészáros.
5
Ver Comerlatto (2013).
246
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
com o atual momento histórico, ela busca estratégias para educar com vis-
tas às necessidades do mercado. Segundo Marx (1989), no contexto do sis-
tema capitalista, a educação está a serviço da promoção das qualificações
necessárias ao funcionamento da economia e a busca do controle político.
Essa contradição remete a uma nova forma de gerir as lutas que his-
toricamente estavam sob a responsabilidade do Estado. Segundo Mészáros
(2005, p. 25),
poucos negariam hoje que os processos educacionais e os processos sociais
mais abrangentes de reprodução estão intimamente ligados. Consequentemen-
te, uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a corres-
pondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da
sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções
de mudança (MÉSZÁROS, 2005, p. 35).
6
Ver PERONI, Vera. Mudanças na configuração do estado e sua influência na política educacio-
nal. In: Dilemas da educação brasileira em tempos de globalização neoliberal: entre o público e o priva-
do. 1. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006, v. 3, p. 11-24.
7
Sabemos que esse processo de minimização do Estado (característico dos anos 1990) já se
reconfigurou nos anos 2000. No entanto, mantém o favorecimento ao setor empresarial, dele-
gando-o à gestão das políticas sociais.
247
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
8
Esse tema foi aprofundado na pesquisa nacional “Análise das consequências de parcerias firma-
das entre municípios brasileiros e a Fundação Ayrton Senna para a oferta educacional” (2008-
2011), cujo objetivo foi analisar as características dos Programas Escola Campeã e Gestão Nota 10,
propostos pelo Instituto Ayrton Senna, e as consequências de sua implantação para a oferta e a
gestão da educação em nove municípios brasileiros, sob a coordenação da professora Dra. Vera
Maria Vidal Peroni e da Dra. Theresa Maria de Freitas Adrião.
248
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
249
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
9
Políticas e gestão da educação básica no Brasil: limites e perspectivas Educ. Soc., Campinas, vol.
28, n. 100 – Especial, p. 921-946, out. 2007. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>.
250
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
10
Tais documentos, quando construídos coletivamente, baseados na práxis, configuram um va-
lor essencial, um elo de ligação entre o coletivo escolar.
251
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
11
A instituição (IAS) saiu do papel em 15 dias para absorver a fortuna que o piloto tinha a
receber por conta de contratos publicitários em andamento. Em 1995, o ano da largada, as
doações somaram R$ 1 milhão. Nos 12 meses seguintes, houve uma ligeira aceleração – R$
1,2 milhão. Em 1997, liberou R$ 5 milhões, marca superada pelos R$ 9 milhões que garanti-
ram combustível, em 1998, para projetos educativos de impacto. Disponível em: <http://
epoca.globo.com/edic/19990503/soci3.htm>. Acesso em: 25 out. 2009.
252
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
253
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
12
Dados coletados do site: <http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/br/default.asp>.
Acesso em: 04 abr. 2010.
13
O Guia de Tecnologias Educacionais foi criado com o objetivo de apoiar os sistemas públicos
de ensino na busca de soluções que promovam a qualidade da educação. O guia é composto
da descrição de cada tecnologia e de informações que auxiliam os gestores a conhecer e iden-
tificar aquelas que possam contribuir para a melhoria da educação em suas redes de ensino. O
guia está organizado em cinco blocos: gestão da educação, ensino-aprendizagem, formação
de profissionais da educação, educação inclusiva e portais educacionais. Os sistemas que, ao
elaborarem o PAR, incluírem como demanda as tecnologias que consideram importantes para
o desenvolvimento do seu trabalho, serão atendidos pelo Ministério. Fonte: <http://
www.mec.gov.br>. O material também foi divulgado para as secretarias municipais de educa-
ção de todo o Brasil.
14
Condicionado ao número de crianças atendidas pelo projeto e está sendo pago pelo FNDE ao
instituto em sete parcelas, correspondentes à execução integral das sete fases contratadas, as
quais são calculadas de acordo com o número de alunos atendidos nos municípios já referidos.
254
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
15
O discurso salvacionista da educação tem sido comum nos atuais discursos proferidos pelo
empresariado em relação à educação brasileira.
255
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
257
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
258
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Quanto a essa questão, Viviane Senna informa que sabe on-line o que está
acontecendo nas escolas:
Posso escolher uma escola e saber até quantos livros o aluno leu, em que
lição ele está etc. Nós montamos todo esse processo. O professor passa os
dados para o supervisor, que assiste à aula desse professor, de 15 em 15 dias,
para acompanhá-lo. O supervisor é capacitado para ver onde o professor
está acertando e onde não está. Temos também uma avaliação externa, con-
tratada. Ou seja, o que fazemos é uma dupla checagem. A gestão tem de ser
muito eficiente. O professor não é funcionário nosso, nós não podemos de-
miti-lo e ele não ganha mais por trabalhar mais ou para que o sistema real-
mente funcione (SENNA, 2007, p. 10).
259
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
261
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
Algumas considerações
Com base na exposição acima, evidenciamos que o IAS apresenta
uma proposta de gestão educacional pautada na lógica empresarial, a servi-
ço do mercado, e utiliza-se de promessas salvacionistas para inserir-se e
manter-se no campo da educação brasileira, que nas últimas décadas tem
sido foco de interesses diversos, inclusive lucrativos em termos econômi-
cos, uma vez que favorece, através de incentivos de isenção e/ou diminui-
ção de impostos, o empresariado brasileiro. Essas promessas encontram
sustentação nos constantes discursos, inclusive midiáticos, de que a educa-
262
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
263
COMERLATTO, L. P.; CAETANO, M. R. • As parcerias público-privadas na educação brasileira...
Referências
CAETANO, Maria Raquel. Relações entre o público e o privado: a gestão pedagógica
da educação no Programa Circuito Campeão do Instituto Ayrton Senna (2007-
2010). Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade
de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação, Porto Alegre, RS, 2013.
301f.
COMERLATTO, Luciani Paz Comerlatto. A gestão democrática da educação no con-
texto da sociedade capitalista: da coisificação humana à promoção do sujeito históri-
co-social. Tese de doutorado – Faculdade de Educação, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
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ESTEVÃO, Carlos A. V. Qualidade e gestão da qualidade total em educação: con-
tributos para a desocultação da sua agenda. Revista Brasileira de Docência, Ensino e
Pesquisa em Turismo. Cristalina, v. 1, n. 1, p. 34-51, maio/2009.
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ciência e eficácia como dimensões operacionais da avaliação. Texto para discussão nº
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FALCONI, Vicente. TQC: Controle da Qualidade Total. Belo Horizonte: Funda-
ção Cristhiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG, 1992.
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JACOMELI, M. R. M. Parâmetros curriculares nacionais (PCNS) para o ensino funda-
mental e Relatório Delors: estabelecendo aproximações. Quaestio (UNISO), v. 10, p.
145-172, 2008.
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MARX, K. Contribuição para a crítica da economia política. São Paulo: Mandacaru,
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MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.
MISKALO, Inês. Soluções Educacionais para o Desenvolvimento Humano. Educação:
teoria e prática, v. 19, n. 32, jan./jun. 2009, p. 37-55.
264
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Sites:
SENNA, Viviane. Vencer o atraso, consolidar e ampliar a fronteira da qualidade na educa-
ção. Apresentação do Relatório de Resultados 2011. Disponível em: <http://
senna.globo.com/institutoayrtonsenna/relatorioresultados2011/institucional/
apresentacao.html>. Acesso em: 02 nov. 2011.
Instituto Ayrton Senna. Relatório de Resultados 2011. Disponível em: <http://
senna.globo.com/institutoayrtonsenna/relatorioresultados2011/institucional/
solucoeseducacionais.html>. Acesso em: 02 nov. 2011.
http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/programas/programas.
http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/br/default.asp. Acesso em: 4 abril
2010. 50 jeitos de mudar o mundo, uma edição da UNESCO no Brasil. Disponível em:
<www.worldvolunteerweb.org/fileadmin/docdb/unv/.../MDG_2.pdf>. Acesso
em: 10 abr. 2010.
http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/br. Acesso em: 10 out. 2009.
265
Sistema de ensino Aprende Brasil
– Grupo POSITIVO
1
Sobre o tema ver ADRIÃO (2010); ADRIÃO, GARCIA, BORGHI (2009) e ADRIÃO et al.
(2009a).
266
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
2
As tecnologias educacionais compreendem material educativo, sejam Softwares ou Jogos Edu-
cacionais. Esses sistemas são moldados com conteúdos pré-determinados para utilização em
turmas de alunos, acompanhados por educadores, necessitando, no entanto, que esses profissio-
nais possuam conhecimento básico em informática.
267
MONTANO, M. R. • Sistema de ensino Aprende Brasil – Grupo POSITIVO
O Grupo POSITIVO
Fundado na década de 1970, por um grupo de oito professores, ini-
ciou com um curso pré-vestibular e uma gráfica para impressão de material
didático. Posteriormente, ampliou sua atuação educacional abrindo uma
escola de Ensino Médio, investindo na produção de microcomputadores.
Cabe ressaltar que nessa época o Brasil ainda não estava aberto à importa-
ção de equipamentos informatizados. Na década de 1990, então, cria uma
universidade e expansão da produção de microcomputadores para atendi-
mento da demanda das escolas conveniadas privadas, aliando a oferta de
material impresso e equipamentos informatizados. Concomitante a isso, a
partir de uma reorganização, passou a distribuir seu sistema de ensino para
escolas conveniadas.
Dados do próprio site demonstram que a expansão da venda de siste-
mas de ensino para a rede pública ocorre a partir do ano de 2001, aproxi-
madamente. Destaca-se que, em meados da década de 1990, o Ministério
268
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
269
MONTANO, M. R. • Sistema de ensino Aprende Brasil – Grupo POSITIVO
nado às escolas das redes públicas. Nos sistemas são encontrados conteúdos
programáticos, como áreas das linguagens, exatas, ciências humanas, entre
outras que atendem toda a Educação Básica com sugestões de atividades
ou mesmo planejamento de aulas. Entretanto, para acessar qualquer con-
teúdo ou recurso, faz-se necessário a instalação do sistema operacional pago.
Em ambos os sistemas, a compra ocorre por opção do gestor, seja da
escola da iniciativa privada ou pelo secretário de educação no caso para as
escolas da rede pública. Os produtos que compõem o sistema comercializa-
do para a rede privada compreendem livros didáticos, com conteúdos para
a educação infantil até cursos preparatórios para o ingresso no curso supe-
rior; assessoria pedagógica; assessoria em gestão escolar e o portal POSITI-
VO. Dos itens integrantes do sistema destinado à rede pública estão livros
didáticos, da Educação Infantil ao Ensino Médio; assessoria pedagógica; o
portal Aprende Brasil e o Sistema de monitoramento. No caso das redes
públicas, não há oferta de material preparatório para o ingresso no curso
superior.
Um olhar mais aproximado entre os itens dos produtos disponibili-
zados aos diferentes conveniados revela sutil diferença aqui expressa. A
assessoria pedagógica para a rede privada propõe-se o aperfeiçoamento e a
capacitação a partir de formação continuada para a equipe docente. Já para
a rede pública, apresenta como proposta a oferta de cursos e o atendimento
pedagógico personalizado com equipes de profissionais especializados, os
professores, os coordenadores das escolas e das secretarias de educação,
com vistas a subsidiar e garantir a funcionalidade do sistema.
Quanto à assessoria pedagógica especializada para as conveniadas
privadas está a oferta de suporte para garantia de adequação à proposta
metodológica das escolas parceiras; para as escolas da rede pública, a asses-
soria pedagógica personalizada implica tornar operacional o Sistema de
Ensino Aprende Brasil, a metodologia para o uso do livro didático, bem
como para a utilização das ferramentas e dos conteúdos disponibilizados
no Portal Aprende Brasil e para o planejamento e avaliação.
Quanto ao programa para os cursos ofertados pelo assessoramento
pedagógico, existe também um diferencial para aquele oferecido à iniciati-
va privada e aquele à rede pública; qual seja: para as escolas privadas o
270
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
3
Dados disponibilizados no sítio do Grupo Positivo.
271
MONTANO, M. R. • Sistema de ensino Aprende Brasil – Grupo POSITIVO
272
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
273
MONTANO, M. R. • Sistema de ensino Aprende Brasil – Grupo POSITIVO
Referências
ADRIÃO, T. Sistemas apostilados de ensino e municípios paulistas: o avanço do setor
privado sobre a política educacional local. FASE 1, 2010, 117 p.
______; GARCIA, T.; BORGHI, R.; ARELARO, R. Estratégias municipais para a
oferta da educação básica: análise de parcerias público-privado no estado de São Pau-
lo, 2009, 360 p.
274
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Sites:
http://www.positivo.com.br/. Acesso em: 30 jul. 2012.
http://portal.mec.gov.br/. Acesso em: 01 set. 2012.
http://www.pead.faced.ufrgs.br/. Acesso em: 01 nov. 2012.
275
Relação público-privada na
Educação Básica no Brasil: uma análise
da proposta do Instituto Unibanco
para o Ensino Médio público
Marcelisa Monteiro
Introdução
Este artigo apresenta uma análise da parceria entre o Instituto Uni-
banco e os governos estaduais na gestão da Educação Básica brasileira atra-
vés das tecnologias educacionais desenvolvidas para o Ensino Médio públi-
co mediante o questionamento sobre como o privado entra, influencia e se
materializa no setor público. Questões que advêm da pesquisa mais ampla
intitulada Parcerias entre sistemas públicos e instituições do terceiro setor: Brasil,
Argentina, Portugal e Inglaterra e as implicações para a democratização da educa-
ção, coordenada pela prof. Dra. Vera Maria Vidal Peroni.
Inicialmente, o artigo situa os movimentos do processo histórico e
as correlações de forças que permitem a entrada do setor privado no setor
público em forma de “quase mercado”, ou seja, quando o privado modi-
fica o conteúdo do público, mesmo mantendo-o público. Justificando, as-
sim, a presença do Instituto Unibanco nas escolas públicas em alguns
estados brasileiros. Para tal, o estudo apoia-se no referencial teórico com
base em Peroni (2010), Ball (2010), Freitas (2009), Wood (2003) e Gramsci
(1980).
A seguir, apresenta o Instituto Unibanco e, mediante resultados par-
ciais da análise documental, mostra as suas iniciativas no sentido de trans-
ferir seus programas para os governos estaduais em forma de políticas pú-
blicas, qualificadas pelo Ministério da Educação.
276
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
1
Parte dos resultados desta análise advém da coleta de dados para construção do Projeto de
Tese: “Práticas Educativas: as relações de forças e a produção de sentidos no trabalho docen-
te”, que analisa o Projeto Jovem de Futuro, empreendido pelo Instituto Unibanco junto às
escolas públicas, apresentado em dezembro de 2011 no Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a orien-
tação da Profa. Dra. Carmen Lucia Bezerra Machado.
2
Conforme Peroni (2010, p. 222), o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvi-
mento (BID) organizam documentos específicos para cada país que tome seus empréstimos. O
memorando (CAS 1997) do Banco Mundial para o Brasil indica que o país deve “aumentar o
tempo de instrução e qualidade do ensino”, e, em contrapartida, a instituição “vai exigir uma
melhor definição nas contas nos níveis nacional e subnacional, um aumento da participação
do setor privado e da sociedade civil na educação e no melhor gerenciamento das escolas”.
277
MONTEIRO, M. • Relação público-privada na Educação Básica no Brasil
278
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
3
Esses dados foram extraídos do site www.institutounibanco.org.br, dos exemplares de divulga-
ção das tecnologias e metodologias do Instituto Unibanco, produzidos pelo próprio instituto e
distribuídos nas escolas que desenvolvem suas tecnologias e do http://portal.mec.gov.br/ do
Ministério da Educação.
4
http://www.sae.gov.br/site/?p=7567.
279
MONTEIRO, M. • Relação público-privada na Educação Básica no Brasil
5
Dados extraídos do “Relatório de Atividades do ano de 2010” do Instituto Unibanco. Os rela-
tórios de atividades de todos os anos são disponibilizados no site e alguns deles nas escolas
onde o Projeto Jovem de Futuro é desenvolvido.
6
Conforme o Relatório de Atividades de 2010 (p.13), “as atividades do Instituto Unibanco são
mantidas por um fundo patrimonial, criado exclusivamente para esse fim. Esse sistema de
dotação não depende de aportes adicionais”.
280
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
7
Conforme o “Manual para elaboração do Plano de Melhoria da Qualidade do Ensino” do
Instituto Unibanco – versão 24-2-2009, o método se baseia no “Marco Lógico, que é um méto-
do de planejamento desenvolvido no final dos anos 60 por uma empresa de consultoria privada
nos EUA, a pedido da United States Agency for International Development (USAID)”. Cabe
lembrar que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
281
MONTEIRO, M. • Relação público-privada na Educação Básica no Brasil
atua como reforço à política externa dos Estados Unidos. Os acordos entre o MEC-USAID
tiveram influência nas reformas do ensino brasileiro no período da ditadura militar e inseriam-
se num contexto histórico fortemente marcado pelo tecnicismo educacional da teoria do capi-
tal humano, isto é, pela concepção de educação como pressuposto do desenvolvimento econô-
mico. Sobre os acordos entre MEC-USAID, ver os estudos de ARAPIRACA, José Oliveira
(1982), ALVES, Márcio Moreira (1968) e GOERTZEL, Ted (1967).
282
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
8
“Criado em 1995, o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) tem por finalidade prestar
assistência financeira, em caráter suplementar, às escolas públicas da educação básica das re-
des estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas de educação especial man-
tidas por entidades sem fins lucrativos, registradas no Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) como beneficentes de assistência social, ou outras similares de atendimento direto e
gratuito ao público. Em 2009, com a edição da Medida Provisória nº 455, de 28 de janeiro
(transformada posteriormente na Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009), foi ampliado para
toda a educação básica, passando a abranger as escolas de ensino médio e da educação
infantil.” Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/dinheiro-direto-escola/dinhei-
ro-direto-escola-apresentacao.
283
MONTEIRO, M. • Relação público-privada na Educação Básica no Brasil
284
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
285
MONTEIRO, M. • Relação público-privada na Educação Básica no Brasil
9
Exemplar de divulgação do Instituto Unibanco intitulado: “O que faz o Instituto Unibanco”,
distribuído nas escolas estaduais com as quais tem convênio e disponibilizado no seu site.
286
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Considerações finais
A análise das tecnologias e metodologias educacionais do Instituto
Unibanco, enquanto parte do movimento histórico e das correlações de
forças constitutivas das políticas educacionais, permitiram alguns questio-
namentos sobre as implicações decorrentes das parcerias entre o sistema
público e as instituições do terceiro setor para o processo de democratiza-
ção da educação.
As disputas em torno dos programas a serem implementados junto
às escolas públicas representam disputas entre projetos societários diferen-
tes, por isso a universalização da educação, a ampliação do acesso, a quali-
dade, a inclusão e a autonomia são antigas questões de luta da sociedade
brasileira em relação ao processo de democratização. Tomando-os como
indicadores, percebemos que, se por um lado, o Estado incrementa as polí-
ticas públicas, disponibilizando uma série de programas destinados à edu-
cação de maneira geral e ao Ensino Médio, em particular, promovendo sua
expansão. Por outro, ao repassar para o setor privado o poder de definição
10
Conforme apresentação do Ciclo de Produção de Tecnologias e Metodologias encontrado no
Relatório de Atividades do Instituto Unibanco, referente ao ano de 2010.
287
MONTEIRO, M. • Relação público-privada na Educação Básica no Brasil
11
Ver www.institutounibanco.org.br.
288
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Referências
ANDRÉ, Claudio Fernando (Org.). Guia de Tecnologias Educacionais 2009. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2009.
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289
O Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego – Pronatec:
um olhar a partir das relações
entre o público e o privado
Introdução
Nos últimos anos, com o crescimento econômico experimentado na
economia brasileira, um dos elementos que tem ganhado destaque na agenda
nacional é a questão da qualificação dos trabalhadores para acompanhar
esse processo de expansão econômica. Nessa perspectiva, o debate sobre a
Educação Profissional e Tecnológica – EPT, em todos os seus níveis, assu-
me uma posição central e torna-se um campo de disputa entre os vários
sujeitos, públicos e privados, envolvidos com esse nível de ensino.
Buscando interferir nesse cenário, foi criado pelo governo brasileiro,
por meio da Lei 12.513, em 26 de dezembro de 2011, o Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec –, que se constitui em
um conjunto de ações que visam ampliar a oferta de vagas na EPT brasilei-
ra. Com metas ousadas de atender oito milhões de beneficiados, criação de
200 novas escolas técnicas federais e investimento de um bilhão de reais, o
Pronatec ocupa, atualmente, o centro do debate sobre a Educação Profissi-
onal e apresenta, em sua estrutura, espaços onde se evidenciam relações
entre o público e o privado para o atendimento de suas metas.
Este texto tem como objetivo analisar o Pronatec em sua dimensão
de política pública e, principalmente, nos aspectos em que são identificadas
inter-relações entre o público e o privado de maneira a possibilitar a emer-
gência das contradições em suas concepções e práticas.
290
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
291
DOS SANTOS, M. I.; RODRIGUES, R. de O. • O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
292
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
1
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) foi criada em 25 de feve-
reiro de 1948 pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) e tem sua
sede em Santiago, Chile. É uma das cinco comissões econômicas regionais das Nações Unidas
(ONU). Foi criada para monitorar as políticas direcionadas à promoção do desenvolvimento
econômico da região latino-americana, assessorar as ações encaminhadas para sua promoção
e contribuir para reforçar as relações econômicas dos países da área, tanto entre si como com as
demais nações do mundo.
2
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros ou ISEB foi um órgão criado em 1955, vinculado
ao Ministério de Educação e Cultura, dotado de autonomia administrativa, com liberdade de
pesquisa, de opinião e de cátedra, destinado ao estudo, ao ensino e à divulgação das ciências
sociais. O instituto funcionou como núcleo irradiador de ideias e tinha como objetivo principal
a discussão em torno do desenvolvimentismo e, a princípio, a função de validar a ação do
Estado durante o governo de Juscelino Kubitschek. Foi extinto após o golpe militar de 1964.
293
DOS SANTOS, M. I.; RODRIGUES, R. de O. • O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
3
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi criado em 2007 no segundo mandato
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010) e se propôs a retomada do planejamento
e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país,
contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável, o aumento da oferta de
empregos, a geração de renda e a elevação do investimento público e privado em obras fun-
damentais.
294
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
295
DOS SANTOS, M. I.; RODRIGUES, R. de O. • O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
296
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
4
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia foram criados em dezembro de 2008
pela Lei 11.892, formando um novo modelo de educação profissional, oferecendo cursos téc-
nicos em nível médio, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas, mestrados e doutorados.
5
Ação voltada, inicialmente, para a formação de mil mulheres em situação de risco social das
regiões Norte e Nordeste, articulando elevação de escolaridade e formação profissional, acha-
se atualmente disseminada em outras regiões do país.
6
Dados do Inep/Mec.
7
Dados do Inep/Mec.
8
Dados do Inep/Mec.
9
Relatório Anual SENAI 2010. Disponível em: <http://www.senai.br/infografico/relatorioa-
nual2010/relatorio_anual_2010.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2012.
10
Cabe ressaltar que, durante a década de 1940, o Governo Vargas, conhecido como o Estado
Novo, foi um período ditatorial marcado por medidas de total intolerância e cerceamento, por
exemplo, diante das iniciativas autônomas dos trabalhadores, em razão do controle e do en-
quadramento sindical, com a promulgação da legislação de natureza corporativista.
297
DOS SANTOS, M. I.; RODRIGUES, R. de O. • O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
298
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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304
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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306
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
307
A relação entre a educação pública e a privada
na Educação Especial brasileira
Fabíola Borowsky
Introdução
Este artigo é parte da pesquisa “Parcerias entre sistemas públicos e
instituições do terceiro setor no Brasil, Argentina, Portugal e Inglaterra:
implicações para a democratização da educação”, coordenada pela profes-
sora Vera Maria Vidal Peroni, vinculada ao Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O texto apresenta os estudos realizados até o presente momento den-
tro da pesquisa, que abarcam a Educação Especial1. Buscamos, no decorrer
do processo de investigação, compreender como instituições privadas atua-
ram no campo da Educação Especial (EE) e como essa relação está confi-
gurada hoje no Brasil.
O objetivo do artigo é discutir como se deu a relação público-privada
na EE no decorrer de sua história no Brasil, como se constitui hoje essa
relação e apresentar suas contradições.
Para isso, analisamos a história da Educação Especial, especialmen-
te os estudos de Gilberta de Martino Jannuzzi (2006). Utilizamos dados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e
também documentos e legislação elaborados entre os anos de 1988 e 2011,
momento em que a área ganha força no país em nível de Estado. As contri-
buições, principalmente de Rosalba Cardoso Garcia (2009 e 2004), Vera Maria
1
A Educação Especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e mo-
dalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e servi-
ços e orienta quanto à sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns
do ensino regular. O público-alvo da Educação Especial são alunos com deficiência, transtor-
nos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2008).
308
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Vidal Peroni (2009), Nalú Farenzena e Maria Gorete Farias Machado (2006),
Élcia Esnarriaga de Arruda, Mônica Kassar e Marielle Santos (2006) e Juca
Gil et al (2010), sustentam as discussões que vêm sendo realizadas.
O texto está organizado em três momentos. Inicialmente, fizemos
um resgate histórico de como se deu a oferta de EE no Brasil. Após, apre-
sentamos como está organizada hoje a área em questão2 e quais os princi-
pais programas de governo que a orientam. Em seguida, apontamos, na
legislação, onde está garantido o financiamento público a instituições pri-
vadas. Por fim, tecemos considerações preliminares sobre a política de EE.
2
A Educação Especial tinha, até início do ano de 2012, uma secretaria própria dentro do Minis-
tério da Educação (MEC), chamada Secretaria de Educação Especial (SEESP). Devido a uma
nova compreensão da área (que será mais bem explicada posteriormente), na perspectiva da
Educação Inclusiva, a Educação Especial passa a integrar, para fins administrativos, a Secreta-
ria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). Em alguns
momentos, o presente texto trará referências encontradas no site da SEESP, que não disponibi-
liza mais as informações.
309
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
310
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
3
Essa não é apenas uma mudança na nomenclatura, mas sim na compreensão da área. A respei-
to dessa discussão, exclusão/inclusão educacional, que não poderá ser aqui desenvolvida devi-
do às limitações físicas do artigo, concordamos com Oliveira (2004) que afirma que os concei-
tos exclusão/inclusão não podem ser compreendidos como novos paradigmas sociais, visto
que são formas contemporâneas de aparecimento da lógica interna do sistema capitalista. Para
maiores esclarecimentos sobre o debate, ver OLIVEIRA, Avelino da Rosa. Marx e a exclusão.
Pelotas: Seiva, 2004. 162p.
4
De acordo com o decreto 6.571/2008 “§1º, considera-se atendimento educacional especializa-
do o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucio-
nalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino
regular” (BRASIL, 2008b, p. 01).
5
“(...) as salas de recursos multifuncionais são ambientes dotados de equipamentos, mobiliários
e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado”
(BRASIL, 2010, p. 05).
6
Sobre isto ver BOROWSKY, Fabíola. Fundamentos teóricos do Curso de Aperfeiçoamento de Profes-
sores para o Atendimento Educacional Especializado (2007): novos referenciais? Dissertação (Mes-
trado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
311
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
7
“O Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, instituído pelo MEC/
SEESP por meio da Portaria Ministerial nº 13/2007, integra o Plano de Desenvolvimento da
312
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Educação – PDE, destinando apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino para garantir o
acesso ao ensino regular e a oferta do AEE aos alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e/ou altas habilidades/superdotação” (BRASIL, 2010, p. 09).
8
Visa “(...) a formação de gestores e educadores para efetivar a transformação dos sistemas
educacionais em sistemas educacionais inclusivos, tendo como princípio a garantia do direito
dos alunos com necessidades educacionais especiais de acesso e permanência, com qualidade,
nas escolas regulares” (BRASIL, 2005, p. 09). Esse programa vem sendo implementado pelo
MEC e pela antiga SEESP desde 2003 numa lógica de municípios-polos que exercem o papel
de multiplicadores. A inspiração de tal programa é o conhecido material da Unesco “Forma-
ção de Professores: as necessidades especiais na sala de aula” (GARCIA, 2009).
9
“Promover a acessibilidade e inclusão de estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação matriculados em classes comuns do ensino
regular, assegurando-lhes o direito de compartilharem os espaços comuns de aprendizagem,
por meio da acessibilidade ao ambiente físico, aos recursos didáticos e pedagógicos e às comu-
nicações e informações” (BRASIL, 2012, p. 05-06) é a meta desse programa, que disponibiliza
recursos por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE, às escolas contempladas
pelo Programa Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais.
10
Objetiva “promover a inclusão de estudantes com deficiência na educação superior, garantin-
do condições de acessibilidade nas Instituições Federais de Educação Superior”. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view =article&id=
17433&Itemid=817>. Acesso em: 28 jan. 2013.
313
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
314
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
315
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
316
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
11
O FUNDEF foi regulamentado pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997. Foi implantado,
nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, quando passou a vigorar a nova sistemática de redistri-
buição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental. A maior inovação do FUNDEF consis-
tiu na mudança da estrutura de financiamento do Ensino Fundamental no país (1ª a 8ª séries
do antigo 1º grau), ao subvincular a esse nível de ensino uma parcela dos recursos constitu-
cionalmente destinados à educação. A Constituição de 1988 vincula 25% das receitas dos
estados e municípios à educação. Com a Emenda Constitucional nº 14/96, 60% desses recur-
sos (o que representa 15% da arrecadação global de estados e municípios) ficam reservados ao
Ensino Fundamental. Além disso, introduz novos critérios de distribuição e utilização de 15%
dos principais impostos de estados e municípios, promovendo a sua partilha de recursos entre
o governo estadual e seus municípios, de acordo com o número de alunos atendidos em cada
rede de ensino. Genericamente, um fundo pode ser definido como o produto de receitas espe-
cíficas, que, por lei, vincula-se à realização de determinados objetivos. O FUNDEF é caracte-
rizado como um fundo de natureza contábil. Disponível em: <http://mecsrv04.mec.gov.br/
sef/fundef/funf.shtm>. Acesso em: 27 jan. 2013.
317
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
318
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
319
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
12
Custo-aluno-ano quantifica monetariamente os recursos utilizados, por aluno matriculado, no
período de um ano. O custo-aluno-qualidade seria o valor, por aluno, no período de um ano,
dos recursos necessários ou desejáveis para um ensino de qualidade (FARENZENA, 2006).
320
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
13
A pesquisa envolveu apenas escolas especiais públicas. Aqui apenas expusemos os dados a
título de comparação, sem considerar as diferenças econômicas regionais e o número de esco-
las de cada Estado que participaram da pesquisa.
321
BOROWSKY, F. • A relação entre a educação pública e a privada na Educação Especial brasileira
Considerações finais
Observamos que, historicamente, o descompromisso do Estado na
Educação Especial é mais evidente do que no restante da educação e que o
setor privado sempre foi mais atuante na área. Porém, com o chamado
movimento de inclusão escolar de alunos com deficiência, percebemos o
Estado atuando na área, mas de forma diferenciada e contraditória, já que
ao mesmo tempo fomenta a participação de instituições privadas na oferta
de atendimento.
Analisando a questão dentro do movimento histórico da sociedade
capitalista, é possível perceber que, no Brasil, as políticas educacionais para
as pessoas com deficiência são criadas na medida em que a sociedade as vê
como capazes de integrar a força de trabalho ou no intuito de liberar a
família para o trabalho. Além disso, esse movimento poderia contribuir
para o aumento da produtividade como alavanca do progresso e do desen-
volvimento do país, onde a escola passa também a ter o objetivo de prevenir
a delinquência e manter a “ordem” do sistema (JANNUZZI, 2006).
A Educação Especial historicamente foi ofertada pelo setor privado,
enquanto o Estado esteve isento dessa responsabilidade. Com movimentos
oriundos da sociedade, essa passa a ser considerada um direito público. Con-
tudo, políticas de conveniamento fazem com que instituições privadas sem
fins lucrativos atendam a maior parte dos sujeitos da Educação Especial,
durante um longo tempo. A reforma do Estado reforça essa situação, que já
era uma prática comum na Educação Especial.
Atualmente, a política prevê o chamado atendimento educacional
especializado, que pode ocorrer dentro das escolas regulares (no que antes
se chamavam salas de recursos) e/ou nos centros de especializados, que são
as escolas especiais transformadas nesse novo modelo de atendimento, em
turno inverso ao da escola regular, dentro da perspectiva da chamada inclu-
são. Essa reconfiguração pela qual tem passado a Educação Especial quan-
to ao tipo de educação ofertada aos alunos, quanto às terminologias e ao
papel do professor, não ocorre no que diz respeito ao local onde deve ocor-
rer, já que a política não extingue a oferta de Educação Especial privada
mas, pelo contrário, a fomenta e legitima.
322
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
14
BOROWSKY (2010); LEHMKUHL (2011).
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação
Nível de formação
Fundamental Médio Superior Pós-Graduação
4% 81% 15% 0
Fonte: MEC (2012)
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Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/fnde/legislacao/resolucoes/resolucoes-2011?start=40>.
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Economista na Unidade de Redução da Pobreza e Gestão Econômica da América Latina e
Caribe do Banco Mundial. Antes de entrar para o banco, era um pesquisador do Instituto
Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada e superintendente de Monitoramento e Avalia-
ção na Secretaria de Finanças do Estado do Rio de Janeiro. Ele é o atual presidente do
Comitê Executivo da Rede de Pobreza e Desigualdade do BID-Banco Mundial-PNUD-
LACEA e fez ampla consultoria e pesquisa para o Banco Mundial, BID, PNUD, UNESCO,
o Departamento Britânico de Trabalho e pensão, e os ministérios brasileiros da Educação e
da Assistência Social.
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A Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa e Informação é uma associação civil sem fins
lucrativos, fundada em 1994. Atualmente, seu programa é constituído por várias linhas de
atuação: elaboração de propostas pedagógicas, materiais didáticos e paradidáticos; forma-
ção de educadores; avaliação de programas, pesquisa e monitoramento de políticas públicas
e participação em redes, comissões e fóruns. A coleção didática Viver, Aprender, voltada à
alfabetização e à educação básica de pessoas jovens e adultas, é um dos destaques da área.
Em 2010, a importância da coleção foi reconhecida com a aprovação dos livros destinados
ao primeiro e ao segundo segmentos do Ensino Fundamental no PNLD (Programa Nacio-
nal do Livro Didático) para EJA.
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A Coleção Educação para Todos, lançada pelo Ministério da Educação e pela UNESCO em
2004, é um espaço para a divulgação de textos, documentos, relatórios de pesquisas e eventos,
estudos de pesquisadores, acadêmicos e educadores nacionais e internacionais, que têm por
finalidade aprofundar o debate em torno da busca de educação para todos.
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Conforme Soares (1995, p. 10), “numa dimensão social ou cultural, letramento é o uso que se
faz das habilidades de leitura/escrita para responder às demandas sociais”.
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SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade.
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Entes Executores corresponde aos estados, municípios e Distrito Federal.
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Algumas considerações
O Programa Nacional de Alfabetização da AlfaSol e o Programa
Brasil Alfabetizado mantêm muitas semelhanças. Tanto que se confundem
nos locais onde a AlfaSol executa o Brasil Alfabetizado. E a AlfaSol, uma
organização privada, sem fins lucrativos, apresenta ainda uma diversidade
de ações capaz de penetrar, de forma legal, nas políticas públicas munici-
pais, estaduais e nacional, ofertando orientação de projetos, capacitação de
professores e até mesmo a metodologia para o trabalho com estudantes da
educação de jovens e adultos no Ensino Fundamental.
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Conforme CURY (2000), o IBGE apontava, no ano de 1996, 15.560.260 pessoas analfabetas
na população de 15 anos de idade ou mais, perfazendo 14,7% do universo de 107.534.609
nessa faixa populacional.
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