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Sarfati Gilberto:

Teoria das Relações Internacionais, cap. 8


Tema: Liberalismo

Capítulo 8 – LIBERALISMO
O Idealismo é uma teoria que desapareceu do debate teórico com a vitória do Realismo
nas RIs. Associado a crença nas instituições e na vontade inequívoca de cooperar.
Compartem ideias em comum com o Liberalismo, como o pacifismo democrático de
Kant, sendo parte do bloco idealista; porém não existe uma fronteira bem definida entre
essas teorias.
Vários conceitos do Liberalismo continuam relevantes a discussão das RIs, o autor
presenta a categorização de variantes do Liberalismo de dois autores; Doyle e
Moravcsik ; enquanto o primeiro nos apresenta as visões históricas do Liberalismo, o
segundo atualiza a discussão teórica relevante as RI. Tornando contemporânea a teoria
ao se preocupar por investigar as relações causais entre os interesses particulares dos
indivíduos e a Politica externa. Ele mergulhe em como são formadas as preferências dos
Estados concluindo que a ação estatal Internacional não é necessariamente racional, por
ser basicamente o resultado das preferências dos Estados formadas internamente;
determinadas pelos grupos vencedores na ação politica doméstica, anterior ao
relacionamento interestatal, por outro lado a relação entre Estados afeta na determinação
das preferências, produto da interdependência.

Doyle 1
1. Liberalismo pacifista: O economista Schumpeter, em sua Sociologia dos
imperialismos (1919) apresenta a tese de que o capitalismo democrático levaria a paz.
Ele postula que o Imperialismo estatal é uma ilimitada expansão pela forca, combinação
de máquina de guerra com comportamentos monopólicos de exportação; esse desejo de
dominação econômica leva o Estado a conquistar novos territórios a fim de saciar as
necessidades de expansão do capital, enfrentando as fronteiras fechadas por altas tarifas
impostas desde o exterior. O imperialismo beneficia os interesses de uma pequena elite
que seriam coartados pelos interesses de indivíduos econômicos, racionais, preocupados

1 DOYLE, M. W. Liberalism and world politics. American Political Science Review, v. 80, no 4, dezembro de 1986.
em ganhar dinheiro trabalhando; filhos do capitalismo. Nessa racionalidade a maioria não
apoiaria pagar custos de guerras sem fim e dariam preferência ao livre-comércio.
Eis uma breve explicação da tese Schumpeteana da importância do livre comércio
como elemento pacificador das relações entre Estados.
O autor Sarfati cita as palavras do escritor Friedman 2 que demostram uma clara
associação entre as ideias do Liberalismo pacifista de Schumpeter e a lógica da
globalização.“Ou eles engajam a economia de seus países na globalização, o que implica o
fortalecimento do capitalismo internamente e dos laços comerciais com o mundo, ou submeterão seus
países eternamente a intermináveis guerras ideológicas que levarão ao aprofundamento da miséria”.
2. Liberalismo Imperialista, é uma vertente associada as ideias de Maquiavel, para o
autor numa democracia o povo teria igual interesse em criar um exército (popular), como
minimo para não ser oprimido por outros povos. Em sua visão o povo busca muito mais
do que satisfazer necessidades materiais e como consequência deriva no Imperialismo.
3. Liberalismo Internacionalista (pacifista), é uma vertente associada as ideias de
Immanuel Kant, na obra Paz perpétua (1975), ideias baseadas em dois pilares: a
conjunção do republicanismo democrático e união dos Estados Liberais por meio de uma
federação que promulgue a paz.
A maior premissa é a ideia de que os Estados liberais democráticos não fazem guerras
entre si. Porem não sendo pacifistas com os regimes não-liberais, muitas das guerras
ocorridas nesse período foram geradas por potências como Frância e Inglaterra, no
expansionismo colonial.
A teoria pacifista de Kant determina que o caminho para a paz passa pela adesão a três
artigos: 1. A constituição civil do Estado deve ser republicana. 2. A paz é alcançada
por meio da federação (união) pacifica dos Estados, seria um pacto de não agressão
internacional. 3. Estabelecimento da Lei Cosmopolitana: invoca o tratamento
hospitaleiro aos estrangeiros com fins de promover o comércio e o turismo entre os
países.
Em resumo, a divisão de poderes, a democracia e o Estado de direito deveriam impedir
que o governo entre em guerra. Se no campo interno se garantem os direitos
constitucionais , no externo é preciso respeitar a soberania dos outros Estados.
Eis basicamente a tese Kantiana da importância da democracia como elemento
pacificador das RIs.

2 FRIEDMAN, T. L. O lexus e a oliveira: entendendo a globalização. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999, p. 251.
Moravcsik 3 propõe o liberalismo contemporâneo em três suposições:
1. A primacia dos atores sociais, seriam os indivíduos ou grupos privados racionais.
Assim a análise das RIs tem o seu nível no indivíduo e no ambiente social naturalmente
conflituoso pela luta de interesses, especialmente no relativo aos bens públicos
trasladando os conflitos de interesse ao relacionamento internacional.
2. Representação e preferências dos Estados, O Estado é o representante dos
interesses políticos domésticos que invocam a representação pelo governo, não sendo
um ator fundamental nas RIs. As preferências são um grupo de interesses definidos em
um universo de Estados, definidas endogenamente no processo politico interno de cada
país.
3. Interdependência e sistema internacional, entendendo a interdependência como um
conjunto de custos e benefícios criados pelas sociedades estrangeiras, acionando por
meio de seus grupos dominantes buscando maximizar suas preferências em relação
interestatal, querendo impor custos em outros Estados, veriamos uma convivencia estatal
conflituosa.
Eis as premissas básicas da análise Liberal contemporânea das Ris, baseada na
centralidade dos atores sociais como formadores de preferências estatais.

Segundo Moravcsik, se desprendem assim três vertentes do modelo liberal:


1.Liberalismo ideacional: a base da determinação das preferências estatais são
determinadas pelas identidades e valores sociais domésticos.
2. Liberalismo comercial: seria o comportamento dos Estados em relação aos incentivos
de mercado dos atores domésticos e transnacionais (os governos utilizam métodos
coercitivos a fim de controlar os mercados internacionais).
3. Idealismo republicano: implica as instituicoes domesticas que viabilizam as
demandas sociais e interesses econômicos gerando assim politicas de Estado.
Acreditam assim poder determinar as preferencias sociais nas politicas externa do
Estado.

3 MORAVCSIK, A. Taking preferences seriously: a liberal theory of international politics. International


Organization, v. 51, n. 4, outono de 1997

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