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X - HABEAS CORPUS 2009.02.01.

005089-8

RELATOR : ANDRÉ FONTES


IMPETRANTE : MARCELO MARCONDES MEYER-KOZLOWSKI
IMPETRADO : JUIZO FEDERAL DA 1A VARA DE TRES RIOS-RJ
PACIENTE : PAULO CESAR ESTRELLA JUNIOR
ADVOGADO : MARCELO MARCONDES MEYER-KOZLOWSKI
ORIGEM : VARA ÚNICA DE TRÊS RIOS (200451130001184)

RELATÓRIO

Trata-se de habeas corpus, com requerimento de liminar, para que a


autoridade impetrada “não realize qualquer audiência até que sejam
produzidos nos autos os documentos solicitados pelo paciente em sua
defesa, a saber, a juntada do cadastro de fornecedores do Município de
Areal, bem como a juntada da íntegra dos processos administrativos de
licitação por convite, provas essenciais à sua defesa e que se encontram em
poder da administração, bem como (...), quando da eventual realização das
referidas audiências, seja estritamente observada a ordem de produção de
provas estabelecida pelo artigo 400 do Código de Processo Penal”, a ser
confirmada no julgamento final do “writ”.

O impetrante alega que (i) na denúncia da ação penal originária, o


Ministério Público almeja a condenação do paciente e de outros corréus pela
suposta prática da conduta descrita no artigo 90 da Lei nº 8.666-91 em dois
procedimentos licitatórios conduzidos pela Administração do Município de
Areal, na modalidade Carta-Convite, para fins de prestação de serviços de
exames laboratoriais; (ii) “Citado, o paciente apresentou sua defesa, na
qual requereu (i) o exame do cadastro de fornecedores do Município de
Areal e (ii) a juntada da íntegra dos processos administrativos de
licitação”, o que foi indeferido pela autoridade impetrada, que designou
uma audiência, para oitiva dos Réus e testemunhas arroladas pela acusação
(16.04.2009) e outra, para oitiva das testemunhas de defesa (30.04.2009).

Sustenta que foram violadas as garantias da ampla defesa e do devido

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processo legal, já que a ordem de produção de provas prevista no artigo 400


do Código de Processo Penal não foi observada, bem como o previsto no
artigo 234 do mesmo diploma (“Se o juiz tiver notícia da existência de
documento relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa,
providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das partes,
para sua juntada aos autos, se possível”).

Os autos foram instruídos com os documentos de fls. 09-24.

Liminar parcialmente deferida às fls. 26-29, determinando a suspensão


do curso do feito principal.

Informações prestadas pela autoridade impetrada às fls. 33-37.

O Ministério Público, em parecer de fls. 40-44, da lavra do d.


Procurador Regional da República, Artur de Brito Gueiros Souza, opinou
pela denegação da ordem.

É o relatório.

Em mesa, nos termos regimentais.

Em 19.05.2009.

ANDRÉ FONTES
Relator
Desembargador do TRF 2ª Região

VOTO VENCEDOR

O deslinde da causa em que se questiona a regularidade de licitação,

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evidentemente, está atrelado ao conteúdo do processo administrativo, onde


se questiona a ausência do caráter competitivo do procedimento licitatório.
O indeferimento da juntada deste procedimento aos autos da ação penal
fere o princípio da isonomia, da ampla defesa e do devido processo legal,
mormente considerando-se que ao Ministério Público foi permitida a juntada
de documentos.
Outrossim, tendo em vista que o MM. Juízo Impetrado afirma que a
juntada das provas pretendida pela defesa está sendo indeferida, por ora, tão
somente por questões de praticidade, para não causar tumulto processual,
não havendo qualquer alegação de desnecessidade da prova, considero
prudente, a fim de que se evite futura alegação de nulidade, a juntada dos
documentos em questão.
No que pertine ao pedido de observância da ordem de produção das
provas, perde objeto o presente Habeas Corpus, tendo em vista a revisão do
ato coator.
Pelo exposto, CONCEDO PARCIALMENTE A ORDEM para
determinar ao MM. Juízo impetrado que sejam juntados aos autos cópia
integral dos processos licitatórios, bem como do cadastro de fornecedores do
Município de Areal/RJ.
É como voto.

Des. Fed. MESSOD AZULAY NETO


Relator p/ acórdão
2ª Turma Especializada

VOTO

I - Parcialmente revisto o ato que deu ensejo à impetração,


fica, nessa parte, prejudicado o habeas corpus, nos termos do
artigo 659 do Código de Processo Penal, pela perda do seu
objeto, notadamente se, nesse aspecto, o ato atacado sequer
produziu o efeito que, segundo alegado, seria prejudicial ao
paciente.

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II – A postergação da apreciação do requerimento de


juntada de prova documental, para momento posterior à
audiência prevista no artigo 400 do Código de Processo Penal
não constitui, por si só, constrangimento ilegal a ser sanado via
habeas corpus, se não há prejuízo para o réu.

O impetrante pretende, com o “writ”, que seja assegurada a juntada de


documentos requerida ao juízo a quo, antes da realização da audiência e
instrução e julgamento, “indeferida por ora”, bem como que seja assegurada
a ordem prevista legalmente para os atos da instrução, nos termos do artigo
400 do Código de Processo Penal.

Quanto ao segundo aspecto do requerimento, verifica-se que o “writ”,


nessa parte, está prejudicado, pela perda do seu objeto, nos termos do artigo
659 do Código de Processo Penal. Isso porque, conforme as informações
prestadas pela autoridade impetrada às fls. 33-35, o ato indigitado coator foi
revisto, nessa parte, frise-se, pela decisão de fls. 36-37, na qual a MM. Juíza
a quo determinou “que a realização dos interrogatórios ocorra após
ouvidas as testemunhas de defesa”, o que se procederá em data a ser
redesignada, diante da suspensão do processo determinada por este Relator
na apreciação do requerimento de liminar formulado neste feito.

Como bem destacado pelo Ministério Público, em seu parecer, a


decisão supra referida se deu em 15 de abril do corrente, antes de realizada a
primeira audiência, pelo que não subsiste, nesse particular, o ato atacado,
que não chegou a surtir efeito prejudicial ao paciente ou ao bom andamento
do feito originário.

Em relação ao indeferimento da juntada de documento, requerida pela


defesa por ocasião da resposta prevista no artigo 396 do Código de Processo
Penal, verifica-se que não se tratou de um indeferimento propriamente dito,
mas de postergação da análise do requerimento, como se infere do seguinte
trecho (fls. 23-24), verbis:

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“2 – Indefiro, por ora, o traslado de peças da Ação Civil


Pública de Improbidade nº 2003.51.13.001027-2, requerido pelos
Réus Pedro Augusto Romão, Aunir José Carneiro e Luiz Alberto
Toraldo, postergando o exame deste pedido específico para após
a realização da audiência;

3 – Por iguais razões indefiro, por ora, os requerimentos


formulados pelo Réu Paulo Cezar Estrella Junior em fl. 340 e
pelo MPF na denúncia”

Sobre esse ponto, a MM. Juíza esclarece em suas informações que (fl.
34), verbis:

“Na decisão atacada por este habeas corpus, este juízo


entendeu não configurar violação ou ameaça de lesão ao direito
de locomoção dos réus indeferir, por ora, a juntada de
documentos que já estão disponíveis ao juiz da causa, que
também funciona como juiz da instrução da ação civil pública em
comento.

A juntada de cópias dos vários volumes de documentos que


instruem a ação civil pública de improbidade dificultaria
sobremaneira o manuseio dos autos, além do que devem ser
juntados, mas em outro momento no qual não se tenham que
expedir enorme quantidade de mandados e cartas precatórias,
como o atual.”

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Fica claro que o juízo a quo não indeferiu em caráter definitivo a


juntada de documentos requerida tanto pela defesa, quanto pela
acusação, mas sim vem tentando conduzir o procedimento, tendo em
vista as particularidades do caso, de forma em que os autos não se
formem de maneira tumultuada. Ademais, não há prejuízo para o
paciente pelo adiamento da apreciação do requerimento de juntada de
documentos, já que não há preclusão a recair sobre pleito formulado
pela defesa no momento adequado, no caso, a resposta prevista no
artigo 396 do Código de Processo Penal, o qual, com a produção da
prova oral poderá ou não vir a ser reiterado pela defesa na fase do
artigo 402 do referido diploma legal.

Ressalte-se que a instrução penal não se encerra com a audiência


prevista no artigo 400 do Código de Processo Penal (“Na audiência de
instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60
(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa,
nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o
acusado.”), mas sim com a fase para requerer diligências “cuja
necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na
instrução”, conforme previsto no artigo 402 do citado estatuto.

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Diante desse quadro, não há como se concluir pela existência lesão


decorrente de constrangimento ilegal imposto ao paciente por error in
procedendo do juízo a quo, ou mesmo ameaça de lesão. A existência de
possível dano em razão do indeferimento do traslado de documentos
existentes nos autos da ação civil pública, que trata dos mesmos fatos
da ação penal originária, só pode ser aferida se, ao final de toda a fase
instrutória, os atos supervenientes do juízo venham a caracterizar algum
tipo de cerceamento de defesa. Ressalto que, ainda nesse caso,
considerado o fato como futuro e incerto, a conclusão dependerá da
verificação da pertinência da prova pelo juízo, questão que pode dar
ensejo à nova impetração.

Todavia, diante dos fatos trazidos neste “writ”, não há como se concluir
pela existência ou iminência de ato ilegal a ser corrigido via habeas
corpus.

Ante o exposto, voto pela EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM


APRECIAÇÃO DO MÉRITO (artigo 267, VI, do Código de Processo Civil,
em interpretação conjunta com o artigo 3º do Código de Processo Penal), em
relação ao pedido objetivando assegurar a ordem da produção de provas
prevista no artigo 400 do Código de Processo Penal e pela DENEGAÇÃO
DA ORDEM no tocante à necessidade da juntada dos documentos
requeridos pela defesa antes da realização de qualquer audiência, pelo que
fica revogada a decisão que deferiu parcialmente a liminar.

Em 19.05.2009.

ANDRÉ FONTES
Relator
Desembargador do TRF 2ª Região

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EMENTA
HABEAS CORPUS – PRODUÇÃO DE PROVAS – INVERSÃO DA
ORDEM – ART. 400 DO CPP – JUNTADA DE DOCUMENTOS.
I - O indeferimento da juntada de prova documental aos autos da ação
penal, tão somente por questões de praticidade, para não causar tumulto
processual, não havendo qualquer alegação de desnecessidade da prova, fere
o princípio da isonomia, da ampla defesa e do devido processo legal,
mormente considerando-se que ao Ministério Público foi permitida a juntada
de documentos;
II - Perda de objeto da impetração no que pertine ao pedido de
observância da ordem de produção das provas, tendo em vista a revisão do
ato coator;
III – Ordem parcialmente concedida.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima
indicadas:
Decide a Segunda Turma Especializada do Tribunal Regional Federal
da 2ª Região, por maioria, CONCEDER PARCIALMENTE A ORDEM, nos
termos do Relatório e do Voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Rio de Janeiro, 19 de maio de 2009. (data de julgamento)

Des. Fed. MESSOD AZULAY NETO


Relator p/ acórdão
2ª Turma Especializada

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