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Resumo
É minha pretensão fazer uma reflexão sobre a infecção hospitalar, com o objectivo
ao objectivo desta unidade curricular que define para os seus alunos a capacitação de
autores conceituados na área das várias disciplinas que se irão cruzar para o efeito,
tentando no entanto, impor um cunho pessoal tanto na sua elaboração como de modo
Esta reflexão, não irá de todo ao encontro de soluções objectivas para a prevenção
da infecção hospitalar, pois nunca poderia aspirar sequer a tal, mantendo-me na minha
condição humilde, de que as soluções, meios e práticas, já terão sido levantadas há muito
condicionantes, barreiras as quais, que em parte poderão dever a sua existência, por sua
vez, à inexistência de hábitos de pensamento crítico na acção e/ou depois da mesma. Certo
Tenho plena consciência, que esta problemática, não se prende de todo apenas à
categoria profissional de Enfermagem, sendo uma questão que envolve muitos outros
profissionais do seio hospitalar, no entanto será sobre esta categoria profissional que me
irei debruçar, uma vez que faço parte dela, como elemento orgulhoso do seu melhor,
Reflexão
conta da sua existência, em tempos imemoriais, baseando-se na sua essência como refere
Wanda Horta de “gente que cuida de gente”, sendo que, a pessoa que cuida, sempre teve
Assim era no tempo das tribos, dos Xamãs por exemplo, mas numa perspectiva
mais simples e básica, também as mães aprendem a “cuidar” dos seus filhos através dos
ensinamentos, por sua vez das suas próprias mães e assim foi ao longo dos tempos. Esta
formação inicialmente, seria uma formação na prática, com base na repetição, com uma
Esta formação dos cuidados de saúde em enfermagem, evolui até aos nossos dias,
arrastada pela própria evolução da ciência, mas principalmente como fruto da reflexão
como Enfermeiros como somos hoje, a quem devemos a nossa evolução para o amanhã.
crítico, na sua produção científica que está a elevar o reconhecimento da enfermagem aos
pensamento, elevando a pessoa acima dos outros seres que não pensam, aproximando-o de
nossa espécie e torna-se um referencial da essência para a condição humana, no caso das
profissões da saúde em geral, uma das modalidades de exercício da bondade por meio de
técnicas para a promoção da vida e da saúde, a oferta da cura por meios técnicos deve ser
vista como um gesto de doação de saber, exercido com arte em benefício exclusivo do
utente.
bem e o mal, no caminho a seguir no seu percurso do cuidar, em que os meios nem sempre
justificam os fins, temos que ter sempre presente a ética em Enfermagem a ética
deontológica, definida inicialmente por Kant, que preconiza a qualidade dos cuidados
A verdade é que, muitos dos problemas éticos que surgem hoje em dia, estão
e até na sociedade em geral. A ética e a moral surgem aqui como adversários, em vez de
complementos em si, entre a moral da manutenção e promoção da vida e a ética da
manipulação da mesma.
minha perspectiva incompleta pois muito antes de conseguirmos pensar, muito antes de
pensamento e acções, muito antes de os nossos olhos sequer se abrirem para este mundo
que nos há-de desafiar a sermos tudo aquilo que quisermos ser, já somos pessoas, somos
gente. Somos pessoas ainda no ventre, no escuro conforto da protecção física maternal, no
milagre da multiplicação celular, que nos forma na perfeição, à imagem de quem nos
concebe. E esta reflexão que foi feita uma e outra vez por milhares de pessoas é e será
Neste pensamento crítico, em que intervêm muito mais que simplesmente a ética e
a moral, surge a Bioética, que numa definição muito directa será a ciência da vida.
Neologismo que surge como derivante das palavras gregas bios (vida, como fenómeno) e
ethos (ética - vida em si mesma, o existente vivo, reflexão sobre os fundamentos da acção
humana).
apreensão dos conhecimentos científicos de ponta, se cria uma ânsia dirigida à excelência
pessoa que está doente, para a doença que está no doente. Despersonalizando-se os
perdendo a qualidade.
cuidados que lhe são dirigidos, os cuidados que lhe são prestados, devem ser únicos na sua
adaptação ao mesmo, a verdade é que nunca serão únicos e irrepetíveis na sua essência,
aos seus valores, crenças, á sua cultura, á sua liberdade de aceitar ou recusar o tratamento
Quando entramos no hospital não deixamos de ser pessoas para sermos uma
doença, tratável pelo protocolo, sem passar pelos passos preconizados pelo processo de
resultados), sendo que a avaliação, não é um simples olhar clínico que despoleta uma
Dito isto, a conclusão a que se chega, é que pela realidade vivenciada na nossa
prática, isto tudo é verdade, mas não deixa também de ser verdade, que realmente se chega
à conclusão que a competência é uma circunstância difícil de atingir mas não inatingível.
conhecimentos que nos são inerentes como profissão autónoma e científica, sendo que o
seu aprofundamento é fulcral para a melhoria das práticas no aspirar à perícia/mestria, não
de uma técnica mas de todo um conjunto, demonstrando segurança aos nossos pares e
principalmente aos utentes. Da mesma forma não é possível executá-los, num processo
algo isolado quase extra corpórea, até porque o próprio termo cuidar na sua essência, não
se aplicaria.
Nós somos humanos, somos pessoas, como tal sujeitos à nossa circunstância, à
subjectividade da nossa moral, mesmo que sendo norteada pela ética e pelo código
deontológico da nossa profissão, a nossa conduta não deixa de ser dependente da nossa
físico e psíquico, enquanto pessoa que cuida, enquanto prestador de cuidados de saúde.
Mas nós somos enfermeiros e o Enfermeiro detém pela sua condição, implícito à
sua conduta, atribuída pela sociedade, o privilégio de lhe ser concedido a confiança, de
poder aceder tanto ao corpo como à “alma” do doente, que se abre e se entrega num acto
de boa fé, para receber o dom da cura, advindo daí o dever inviolável do respeito pelo
corpo e pela informação que nos é confiada mantendo o sigilo como lacre inviolável de
uma relação fraternal de beneficência e amor. Advindo daí também, num abraço
desconfortável, um poder imenso, quase divino que é a manipulação sobre a vida e a morte
vida, mitigar o sofrimento ou, por erro ou omissão, causar a morte, configurando culpa por
atitude involuntária
dependentes de nós, nos escapam entre os dedos, das mãos que cuidam e que
simultaneamente agridem com uma arma invisível. Perigando a vida daquele que tentamos
libertar das garras do sofrimento, envolvendo-o numa nuvem tóxica da doença nosocomial
que poderá corroer e corromper o seu corpo na sua fragilidade da condição humana,
constante na busca da perfeição que se exprime na oferta dessa dotação, à comunidade que
delas depende, para a continuidade da sua vida, da continuidade da espécie que ajudamos a
perpetuar.
ciência ao dispor do cuidar, com mestria e saber, tanto para si prestador como para o
sujeito dos cuidados, respeitando sempre o utente como pessoa humana, na sua dignidade e
invisibilidade na proliferação através das más práticas, pela negligência dos nossos
beneficência na não maleficência, são vários dos factores que nos levaram a esta situação.
materiais.
práticas, no entanto a conjuntura actual e dizendo actual, refiro-me talvez aos últimos 6
anos, não tem permitido, alterar a falta de recursos humanos, materiais e físicos, de forma
a eliminar alguns factores, para a diminuição das infecções cruzadas nos Hospitais.
Dito isto, cabe-nos a nós Enfermeiros, pensar no que nós poderemos corrigir, para
Segundo Sousa et al. (2004), esses riscos podem ser minimizados se os profissionais
tiverem acesso à informação que lhes permita agir correctamente de forma a criar e a manter
um ambiente de trabalho seguro, o que beneficiaria não só a equipa de saúde, mas também o
doente, o ambiente e a comunidade. Penso que, a nossa actuação perante esta problemática,
crítica para e na acção, de forma a corrigir actuações. Julgo que nossa actuação tem que ir
muito mais além disso, havendo necessidade evidente de não nos focalizarmos apenas nas
nossas práticas mas na de todos os outros que nos rodeiam, num processo de formação na
connosco mesmos, de outra forma perderíamos toda a legitimidade, tanto de corrigir como
inseridos, mas também perante a equipa multidisciplinar, impulsionada tanto pela posição
diferenciada que lhe está inerente, assim como pelas competências adquiridas e pelas
(2008, p.9), ficamos bem conscientes de que, qualquer situação destabilizadora que se
adicione a este tipo de doente, vai trazer consequências que poderão trazê-lo para mais
perto do seu fim, num curto ou médio prazo, como sendo uma infecção nosocomial.
Assim, todo o trabalho realizado como equipa multidisciplinar, para devolver o bem-estar
a este doente, podem ser comprometidos, por actos descuidados que propiciem a infecção
que podem até ter uma implicação jurídica para a enfermagem. Assim sendo tomo a
arriscada decisão de formular algumas hipóteses das causas que propiciam a infecção
Posto isto, surgem para mim três razões, que fomentam este processo de infecção
cruzada, que passa pela negligência, pela realização de práticas com falta de cuidado, com
desatenção e a omitir passos nas técnicas que sabemos como fundamentais para quebrar a
pode ainda estar associada à falta de conhecimento para exercer a acção, isto é, a falta de
com a consciência de que esta poderá causar dano ao outro, num acto claro de irreflexão.
seu limite poderá haver também implicações jurídicas, uma vez que a infecção traz
consequências físicas, de sofrimento e riscos para a própria vida, que poderão ser
È nisto realmente que temos que reflectir enquanto cuidadores, não podemos
deixar-nos cegar pelo grande aparato das máquinas, das técnicas evasivas mais eficazes e
mais desenvolvidas, nos grandes desafios que estes doentes representam em termos de
suportado pela questão ética da não maleficência. Fazer o bem sem que daqui decorra
nenhum mal. Subirmos o patamar da exigência e dentro de todo o enquadramento de uma
dos seus cuidados, fundamentada na acção, que nos permite enfrentar situações diferentes
produtos ou materiais, sendo necessário uma actualização constante. Esta poderá ser feita
com suporte teórico, mas também poderá ser feita pelos pares, em momentos de formação
evoluímos num processo que acompanha a nossa própria vida, e não distingo a vida
pessoal da profissional, pois ela torna-se indissociável, num conjunto que se completa e
entrelaça na compostura do ser, que definem e identificam cada profissional na sua prática
cuida, embora não para quem gere e não conhece. Para esses torna-se apenas mais um, um
número, um elemento que ocupa um lugar, bem ou mal, sem incentivo à excelência, sem
lugar à humanização, mas com exigência ao cumprimento de mais outros números por eles
ânsia é o cuidar com cuidado e não o ignorar e o destratar. Frustro-me, pois cuido no meu
à sua doença, à sua condição de fragilidade, provocada por uma variável que eu não
Incrédulo, olho em volta, num corredor ao qual quase não vislumbro o chão,
ocupado por pessoas doentes, que deitados em macas, sofrem o desalento da doença em
Enfermeiro, perde-se como grão de areia num deserto de vozes que o chamam, que
anseiam por um cuidado, uma atenção, que os desvie do pensamento – estou abandonado.
no seu dia-a-dia, está abandonado, por aqueles que acima dele decidem abandoná-lo, num
evidente caos sem qualidade. Num cenário de múltiplas necessidades a colmatar, físicas,
humanas e materiais que se somam tanto em si, como com a falta de recursos monetários e
Foi para mim um imenso prazer em realizar esta reflexão, tendo a oportunidade em
desenhando em mim novos caminhos de actuação, que de certeza farão melhorar a minha
Senti que este trabalho me recolocou perante pensamentos, que já não tinha há
algum tempo e que para além de realizar uma reflexão, para ir de encontro a uma avaliação
nesta disciplina, foi uma reflexão da qual eu precisava e que me trouxe imensos dividendos