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AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO (DURKHEIM)

1. PREFÁCIO:
- Formulas provisórias, que serão repensadas pelos sociólogos do futuro.
- Os métodos mudam à medida que a ciência avança.
- Durkheim o criador da sociologia objetiva?
- Fatos como coisas = base do método durkheimiano.
- Fatos sociais = coisas sociais.
- Do exterior ao interior.
- Distância do senso comum.
- "É preciso que ao penetrar no mundo social, ele - o sociólogo - tenha
consciência de que penetra no desconhecido."
- Será que hoje - diferentemente do tempo de Durkheim - a sociologia já chegou
à maturidade?
- "Um fato, para ser convenientemente determinado, deve igualmente ser
estudado desde fora.
- Importância da concepção de grupo sobre os fatos.
- É preciso usar sempre o mesmo método? Para D, sim. E hoje, ainda pensamos
assim?
- "Fenômenos sociais como exteriores aos indivíduos [...] os fatos da vida
individual e os da vida coletiva são heterogêneos em certo grau."
- Os fatos sociais residem na sociedade que os produz e não em suas partes,
isto é, em seus membros. Nesse sentido, portanto, eles são exteriores às
consciências individuais.
- "Os fatos sociais não diferem apenas em qualidade dos fatos psíquicos, eles
têm outro substrato, não evoluem no mesmo meio, não dependem das mesmas
condições."
- Leis próprias.
- É preciso considerar a natureza da sociedade e não a dos participantes, para
então poder compreender a primeira.
- Individual x coletivo - similitudes abstratas.
- O fato social pode ser caracterizado de várias maneiras diferentes.
- O que é e como funciona a coerção social para Durkheim?
"Maneiras coletivas de agir e de pensar tem uma realidade exterior aos
indivíduos que, a cada momento, conforma-se à elas. [...] Supremacia moral e
material que a sociedade exerce sobre seus membros."
- "As crenças e as práticas sociais agem sobre nós desde fora."
- Sociologia, para D, como ciência das instituições.
- Conceito de instituições: crenças e modos de conduta instituídos pela
coletividade.

2. PREFÁCIO:
- "Pensar os méritos comparados da dedução e da indução e fazer uma
inspeção sumária dos recursos mais gerais de que dispõe a investigação
sociológica."

C1. O QUE É UM FATO SOCIAL?

"É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda, toda maneira de fazer o que é
geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma
existência própria, independente de suas manifestações individuais."

C2. REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS:

"Considerar os fatos sociais como coisas."

"É preciso descartar sistematicamente todas as prenoções."

"Jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo de fenômenos


previamente definidos por certos caracteres exteriores que lhe são comuns, e
compreender na mesma pesquisa todos os que correspondem a essa definição."

"Fatos sociais [...] se apresentam isolados de suas manifestações individuais."

C3. REGRAS RELATIVAS À DISTINÇÃO ENTRE O NORMAL E O PATOLÓGICO:

"Um fato social é normal para um tipo social determinado, considerado numa
fase determinada de seu desenvolvimento, quando ele se produz na média das
sociedades dessa espécie, consideradas na fase correspondente à sua
evolução."
"Os resultados dos métodos precedentes podem ser verificados mostrando-se
que a generalidade do fenômeno se deve às condições gerais da vida coletiva no
tipo social considerado."

"Essa verificação é necessária quando esse fato se relaciona a uma espécie


social que ainda não consumou sua evolução integral."

C4. REGRAS RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DOS TIPOS SOCIAIS:

"Começar-se-á por classificar as sociedades de acordo com o grau de


composição que elas apresentam, tomando por base a sociedade perfeitamente
simples ou de segmento único; no interior dessas classes, distinguir-se-ão
variedades diferentes conforme se produza ou não uma coalescência completa
dos segmentos iniciais."

"Portanto, quando se procura explicar um fenômeno social, é preciso pesquisar


separadamente a causa eficiente que produz e a função que ele cumpre."

C6. REGRAS RELATIVAS À ADMINISTRAÇÃO DAS PROVAS:

"A um mesmo efeito corresponde sempre a uma mesma causa."

CONCLUSÃO:
[...]

ÉMILE DURKHEIM E A EDUCAÇÃO MORAL: A FORMAÇÃO DO CIDADÃO


REPUBLICANO. (VARES, REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS,
2019)

INTRODUÇÃO:
- Émile Durkheim - 1858-1917.
- Um pensador positivista, mas não somente.
- Positivista, conservador, comprometido com a ordem e que entende que há
uma primazia do social sobre o individual.
- Contribuições do neokantismo e do socialismo francês, não sendo portanto, a
obra durkheimiana uma mera reprodução do comtismo.
- "em 1895, quando inicia uma série de estudos sobre os fenômenos morais e
religiosos, desloca o centro das suas atenções dos aspectos morfológicos para
os aspectos ideais e morais da vida social. [...] individualismo, moral e educação
são temas que se interpenetram, sendo, pois, difícil separá-los."
- "A educação moral, visto que nessa obra encontram-se os elementos para o
desenvolvimento de uma teoria da moral."

AS INFLUÊNCIAS TEÓRICAS DE DURKHEIM: DO POSITIVISMO AO


REPRESENTACIONISMO.

- "Durkheim encara o social como um fenômeno autônomo, difuso e munido de


uma dinâmica própria que se impõe, mais ou menos coercitivamente, aos
indivíduos."
- Umas das questões fundamentais que Durkheim busca responder é:
"Por que as sociedades complexas, caracterizadas por uma
complexa divisão do trabalho e por um alto grau de
individualismo, não se esfalecem mesmo diante do
enfraquecimento da consciência comum? Em outros
termos, quais são os laços que permitem às modernas
configurações sociais continuarem a ser chamadas de
sociedade?"
- Proximidade com comtismo: atribuir a sociedade de um modo geral, e ainda, aos
fatos sociais em especial um caráter autônomo, em razão de sua dinâmica
própria, no que diz respeito à distância e relação com os indivíduos.
- Fatores extra-individuais.
- Teoria da socialização: discussão sobre o processo de socialização que coloca
em pauta a questão da moralidade.
- Referências do pensamento de Durkheim:
- pensamento neocriticista de Renouvier, filósofo francês responsável por
promover uma releitura do pensamento kantiano.
- pensamento republicano.
- Neokantismo + pensamento republicano = base para o desenvolvimento de uma
espécie de moral secular.

- Moralidade:
"Em 1896, quando passa a se dedicar, com o auxílio de grupo
seleto de alunos, a um leque de temas específicos, tais
como a religião, a família, a educação, o direito e etc, que
Durkheim encara o problema da moralidade com maior
afinco."
A partir de 1896, como mencionado, há uma reorientação dos interesses
do sociólogo em comento, que se deslocam dos aspectos infra estruturais para
os aspectos simbólicos da vida coletiva.
- Conceito de representação coletiva (aparece em 1898, em: Representações
individuais e coletivas): Funções mentais socialmente constituídas, através do qual
o indivíduo pensa a si mesmo e à realidade do qual faz parte, bem como orienta
suas ações.
Para Durkheim, há entre as representações religiosas e morais um forte
vínculo originário, e disso se depreende um dos maiores problemas de sua
pesquisa sociológica:
- É que se os valores são, em essência, derivações do universo religioso, como
vislumbrar, no caso das sociedades complexas, uma moralidade assentada em
bases científicas e racionais?
"Durkheim procura superar esse dilema afirmando que
também a ciência e a racionalidade têm sua origem mais
remota na religião. Em outros termos, nenhuma delas
constitui uma ruptura com o universo religioso, mas são dele
derivações que, autonomizadas, permitem estabelecer as
bases de uma moral adequada às configurações sociais
modernas."
- Durkheim busca construir uma nova moralidade, para superar o caráter
anômico que acometia às sociedades complexas, posto que os valores religiosos
já não eram, ao seu tempo, capazes de resolver e regular a vida social. Para
criar esta nova moralidade, Durkheim procura analisar os limites e o potencial
transformador da ação educativa, afinal, para ele, é por meio da educação que
o indivíduo adquire uma natureza social, que passa a prevalecer sobre sua
natureza individual.
- Tipo de sociologia de Durkheim: Sociologia da educação (social?).
"Essa relação entre moral e educação, portanto, tem uma
razão de ser, pois é função da educação transmitir às
novas gerações, ou seja, as crianças e adolescentes, os
valores adequados ao seu meio social de origem."
EDUCAÇÃO E MORALIDADE EM DURKHEIM:
- Educação moral: primeiro curso parisiense ministrado por Durkheim em 1902 e
1903, publicado postumamente em 1934.

EDUCAÇÃO MORAL E A FORMAÇÃO DO CIDADÃO REPUBLICANO:


- Introdução (título): A moral laica.
- O autor discute os elementos constitutivos da moralidade: 1. Elementos
pétreos = espírito de disciplina e adesão aos grupos sociais. 2. Elemento da
moralidade típico de sociedade complexas = autonomia da vontade.
- duas partes: 1. Elementos da moralidade. 2. Como constituir na criança os
elementos da moralidade.
"Adepto do republicanismo, Durkheim nutria grande interesse
em consolidar uma moral verdadeiramente republicana. Por
isso, entendia que a educação tinha um importante papel a
desempenhar na formação dos futuros cidadãos. [...] Tendo,
pois, como objetivo precípuo suscitar e desenvolver, na
criança, certo número de estados físicos, intelectuais e
morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto,
e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se
destine. [...] Como a definição supracitada deixa entrever,
há, na ótica durkheimiana, uma relação bastante próxima
entre educação e moral, o que, sem dúvida, explica o fato
de todo conteúdo expresso na primeira parte de A
educação moral gravitar especificamente em torno da
natureza e constituição da vida moral."

"Demonstrar que a moral, independente do modelo de


organização social, exige de seus membros certo grau de
disciplina, visto que, sem ela, o indivíduo tende a agir
egoisticamente. Todavia, a vida moral também requer do
indivíduo certo grau de adesão aos vínculos sociais, pois, do
contrário, sem algum nível de esforço ou abnegação, o
indivíduo seria incapaz de reconhecer e de se submeter às
regras e normas sociais estabelecidas."

- Moralidade para as sociedades complexas exige certo nível de autonomia.


"Nessa perspectiva, o diferencial dos sistemas morais
modernos reside no fato de que o indivíduo, além do espírito
de disciplina e da adesão aos vínculos sociais, dispõe de
certo grau de autonomia, sendo, pois, imputado a refletir
acerca da validade racional dos valores e normas sociais.
[...] Nesse tipo de moralidade, o indivíduo, longe de aderir
passivamente às normas e valores sociais, o faz
conscientemente. De fato, a maior parte das normas e
valores, por ser socialmente produzida, dispõe de validade."
--
ÉMILE DURKHEIM E A FUNDAMENTAÇÃO SOCIAL DA MORALIDADE (WEISS,
RAQUEL ANDRADE, 2010)

INTRODUÇÃO

- Objetivo de Durkheim: Aprender e explicar objetivamente a realidade social +


moral como fenômeno natural + fatos sociais devem ser tratados como coisas.
"Ao lado dessa parte essencialmente positiva, existe uma
outra, que podemos caracterizar como sendo
essencialmente propositiva, que diz respeito a sua adesão
normativa a um ideal moral particular, ao qual se vinculam
diversos enunciados a respeito do dever ser."
- Principal proposta para o universo da moral: Projeto de instituição de uma
educação moral laica.
"Postulava a necessidade e a possibilidade de uma "ciência da
moral", como um campo do saber diverso daquele
constituído pela filosofia, que teria como função primordial
conhecer e explicar os valores morais. [...] Discussão sobre
a divisão do trabalho pretendia ser uma obra de ciência da
moral."
- Em da divisão social do trabalho, Durkheim diz:
"Nós não queremos obter a moral a partir da ciência, mas
fazer a ciência da moral, o que é algo bem diferente. Os
fatos morais são fenômenos como os outros, eles
constituem em regras de ação que são conhecidas por
certas características distintivas, deve, portanto, ser
possível observá-los, descrevê-los, classificá-los e buscar as
leis que os explicam."
- "Propunha-se, então, a tratar os fatos da vida moral segundo o método das
ciências positivas".
"Essa ciência considera o domínio da moral como um
conjunto de fatos já existentes, ou seja, aplica-se ao domínio
do "ser" e, tomando tais fatos como seus objetos,
propõe-se a observá-los, descrevê-los, classificá-los e
buscar as leis que os explicam. [...] Que a ciência da moral
tal como concebida por Durkheim tem uma função
eminentemente teórica, uma vez que se preocupa em
conhecer e explicar aquilo que existe, ou seja, aquilo que a
moral é. [...] Seria a finalidade prática que legitimaria os
procedimentos da ciência da moral, pois acreditava que esta
seria destituída de sentido caso permanecesse como um
saber fechado sobre si mesmo."
- "Construção moral da república era um dever de todos aqueles
comprometidos com a ciência e, em particular, com a ciência da moral. [...]
Intervenção possível da ciência em relação ao futuro da moral."
- "Durkheim reafirmou que a ciência se ocupa dos fatos, e não com a
determinação da existência ou não de ideias transcendentais, o que seria tarefa
da metafísica. [...] A ciência possui ou pode possuir alguma relação com a
determinação dos ideais. [...] A ciência possui alguma relação com o domínio da
prática e, segundo o ponto de vista durkheimiano, ela pode oferecer alguma
contribuição em relação ao domínio dos ideais morais."
- Sobre a divisão social do trabalho (livro): "Deve contribuir para combater, para
abalar esse preconceito de que a ciência não pode fornecer regras para o
futuro, e esse combate se daria ao mostrar que "a ciência pode ajudar-nos a
encontrar o sentido segundo o qual devemos orientar nossa conduta, a
determinar o ideal para o qual tendemos confusamente". Ora, em momento algum
está dito que a ciência irá criar este ideal ou conjunto de ideias, mas se trata de
"ajudar a encontrar o sentido" e "determinar o ideal" para o qual já "tendemos
confusamente". [...] Para esclarecer que não se trata de uma relação de
"criação", mas de tornar mais claros os ideais que já existem."

- Problema:
"De que modo é possível fundamentar os enunciados durkheimianos em relação
ao dever ser moral, tendo como ponto de partida a hipótese de que tal
fundamentação não depende - ao menos não exclusivamente - das descobertas
de sua ciência? De onde surgem os ideais que ele próprio defende?"

- Em resposta a Deploige, em Le Conflict de la Morale et de la Sociologie, 1913,


Durkheim menciona que:
"Para nós, não há, nem pode haver, um conflito entre a moral e a sociologia: a
única coisa que exigimos é que a arte moral seja precedida por uma ciência da
moral mais metódica do que as costumeiras especulações da moral dita teórica.
Toda nossa tese pode ser resumida da seguinte maneira: Para determinar o que
deve ser a moral em um determinado período, é preciso antes de tudo saber
aquilo que a moral é, saber distinguir aquilo que a moral é daquilo que não o é, e
não podemos responder a essa questão se, anteriormente, não estivermos
estudados os fenômenos morais em si mesmos e por si mesmos. Não podemos
simplesmente encontrar um critério apenas como um ato de vontade; a única
coisa que podemos fazer é observar e encontrar esse critério a partir dos
fatos."

- O ideal moral defendido por Durkheim não pode ter sido criado pela ciência.
- Georges Davy entende que a moralidade sempre foi a finalidade das pesquisas
e das reflexões teóricas de Durkheim. Célestin Bouglé afirma que a
preocupação central, que permeia todos os livros de Durkheim, sempre foi a de
tentar entender a natureza da moralidade.

"O próprio fato de um sociólogo resolver tratar de


questões morais já causou um incômodo considerável,
incômodo esse que se tornou ainda maior quando o autor
decidiu falar abertamente sobre a necessidade de uma
"ciência da moral", que aliás, já estaria dando seus primeiros
passos. Na verdade, a afirmação de Durkheim de que ele
trataria as coisas morais segundo os métodos das ciências
positivas ou suas considerações críticas sobre as
pretensões da filosofia moral, foram interpretadas -
erroneamente, segundo a autora da tese em comento - ou
como a tentativa de fundar uma "ética científica", isto é, um
conjunto de prescrições morais elaboradas a partir de
descobertas científicas, ou então, como uma destruição
sumária de todo sistema de filosofia moral e de todo tipo de
reflexão sobre o "bem".
- Ernest Wallwork diz sobre Durkheim: "Muitas das características distintivas da
sociologia durkheimiana derivam de seu interesse pela filosofia moral. [...] A
sociologia durkheimiana não apenas é inseparável de sua filosofia moral, como é
subproduto desta."
Já Weiss - autora da tese em comento - recusa o pensamento de
Wallwork, ou seja, discorda do fato de que Durkheim criou uma ética científica
e de que sua sociologia é um subproduto dessa ética ou de sua filosofia moral.
- Watts Miller, em 1996, menciona que: "Todo o tratamento das questõe relativas
a moral na obra de Durkheim, podem e devem ser entendidas no contexto de
seu programa internalista, e que resulta na afirmação crucial de que, no fim das
contas, para Durkheim, não há uma cisão entre o ser e o dever ser, mas uma
fusão, em que o dever ser já é o ser, desde que o ser, o que já é, seja o normal
entendido não enquanto o que existe de forma generalizada, mas o normal
enquanto a própria dinâmica da lógica subjacente à realidade social."

- Durkheim defendeu que a ciência poderia emitir juízos sobre as sociedades que
investiga, recusando-se a apenas explicá-las.
- Durkheim defendeu uma moral laica, "que pressupõe o espírito de autonomia, do
culto ao indivíduo como ideal fundamental, e de um modelo político republicano
que busca equilíbrio na interação entre Estado, indivíduos e associações
intermediárias."
- A obra de Durkheim, em certos momentos tem a natureza prático-propositiva
e sua tarefa maior - a constituição de uma ciência da moral - desempenha um
importante papel para isto.

"A teoria moral de Durkheim contempla um conjunto de enunciados propositivos


sobre a moral que transcendem o domínio da ciência da moral, embora sejam
relacionados com este. Tais enunciados - morais - são criados coletivamente,
mas são elucidados e avaliados pela ciência, e legitimados pela ideia do sagrado
que, em última instância, justifica-se em sua concepção sobre a natureza dual do
homem."
CAPÍTULO 2. ATRIBUIÇÕES E LIMITES DE UMA CIÊNCIA DA MORAL:

- Gurvitch menciona inicialmente que: "O problema da moral sempre foi uma das
preocupações centrais de Durkheim. Foi para resolvê-lo e encontrar a solução
para a temida crise moral da época que ele empreendeu suas vastas
investigações sociológicas."
- Wallwork entende que: "Não seria um exagero dizer que a sociologia
durkheimiana é inseparável de sua filosofia moral, que é subproduto dela."
- A autora da tese em comento, Weiss, nos lembra que Durkheim partilhava das
convicções de Renouvier, de que aqueles devotados à ciência, tinham o dever, a
obrigação moral, de contribuir para a consolidação da república.
- Segundo Weiss: "O objetivo primordial de Durkheim, especialmente nos primeiros
anos de sua carreira, foi o de construir uma ciência. Tendo proposto a si
mesmo o desafio de fundar uma ciência da sociedade, qual seja, a sociologia, não
tardou em falar sobre uma ciência da moral, que ora aparece como um ramo
da sociologia, ora como uma ciência especial.

- Problema e/ou objetivo do capítulo: Entender como Durkheim concebia a moral


e como propunha a investigá-la, deste modo, parte do princípio de entender o
que ele considerava como ciência e como ele imaginava ser possível uma "ciência
da moral".

- Durkheim buscou uma fundamentação para a moral em geral, enquanto ser, e


inclusive para a moral do ponto de vista do dever ser.

- Concepção de ciência: baseada em neutralidade axiológica e naturalismo


metódico, que ao mesmo tempo é engajada com um projeto de reforma moral, e
a defesa da república, da democracia. Dá a ciência uma utilidade prática, que é
indispensável.
-> Concepção de ciência -> definição de moral -> jurisdição de ciência da
moral.

- O PROJETO DE CONSTITUIÇÃO DE UMA CIÊNCIA DA MORAL E SEUS


PRESSUPOSTOS:

"O problema das relações entre o conhecimento teórico e a moral reaparece


no final do século XIX na França, quando se coloca o problema da contribuição
das ciências positivas como sociologia e antropologia para o estudo das
questões morais."

"A ciência tem uma finalidade essencialmente prática, qual seja, determinar com
precisão quais devem ser as bases morais da sociedade sendo que, nesse caso,
a sociedade é vista essencialmente como fenômeno moral."

- Durkheim considera sua tese um trabalho de ciência moral.

- Referências usadas por Durkheim:


- Boutroux: afirma o âmbito particular de cada ciência e a possibilidade de
que o conhecimento humano estenda-se também à realidade social.
- Contra B e de acordo com Kant: acredita que as ciências - humanas e
naturais - devem ser igualmente ancoradas sobre o princípio da determinação
causal. "explicar um fenômeno é estabelecer relações causais, o que pressupõe
uma objetividade delimitada pela verificação."
- Para D: o objeto é sempre aquele dado positivamente, e não aquele que existe a
título de objeto na ideia.
- Contra K e de acordo com Comte: possibilidade de uma ciência da moral,
posto que, para ele - D - a moral esta quase inteiramente radicada nos planos
dos fatos determinados causalmente. O "quase" é o elemento central que
distância D de Comte, desse modo: "Se para Durkheim a moral não é o terreno
da autodeterminação racional da vontade e se não é o domínio do incondicionado,
da liberdade, isso não quer dizer que esse espaço da liberdade seja inexistente,
que a moral seja o produto de leis invariáveis e determináveis cientificamente,
como queria Comte."

- Conceito de naturalismo metodológico: Postulado segundo o qual a ciência é una,


ou seja, só há um método para as ciências naturais e humanas.
- Método: Análise causal: Berthelot nos mostra que nas Regras, Durkheim
menciona que o princípio da causalidade delimita o espaço da cientificidade no
qual a sociologia pode se instalar. Desse modo: "O princípio da causalidade é o
coração das Regras". Com isso. Weiss entende que Durkheim pretende mostrar
que o social não é redutível ao humano, ele pertence a ordem da legalidade da
natureza, sendo consequentemente submetido ao princípio das relações
constantes e necessárias entre as coisas.
- Segundo Massella: "O estabelecimento de relações causais é, para Durkheim, a
meta do conhecimento científico. Uma relação causal encerra sempre, para ele,
uma regularidade. Inserir as sociedades na natureza significa dizer que os
fenômenos sociais são submetidos a leis regulares.
- Durkheim equipara forças sociais e morais com as forças físicas e entende
que o que as diferencia é o caráter mais ou menos rígido do determinismo que
envolve-as. Ele rejeita explicações finalistas, não somente por seu caráter
teleológico, mas principalmente por que as finalidades são sempre psicológicas,
ou seja, individuais, o que impossibilita, consequentemente, a constituição de um
domínio próprio à sociedade. Se fosse possível tudo ser explicado por meio dos
indivíduos considerados em si mesmos a sociologia perderia sua razão de ser, e
as explicações seriam, como já mencionado, teleológicas e/ou subjetivistas,
conforme o caso. Porém, Durkheim defende uma ótica e uma versão
não-reducionista do naturalismo, ao acreditar e defender a autonomia dos
fenômenos sociais em relação aos demais e não nega a existência e/ou a
possibilidade de outros modos de conhecimento, como aqueles voltados às
necessidades práticas. Porém, é preciso lembrar que Durkheim, ao criticar
explicações finalistas, não exclui a possibilidade de que a ação humana possa ser
orientada na busca de fins, o que ele mostra e dá ênfase é que as coisas
sociais possuem uma realidade própria e que seu surgimento não depende
somente de atos da vontade.

- Conceito de ciência: Em aulas no Liceu de Sens, em 1883-84, Durkheim já


anunciava sua concepção de ciência:
"O objetivo da ciência consiste em estabelecer relações de identidade ou de
causalidade - dado que o objetivo da ciência é o de explicar - e que explicar é
estabelecer relações de causalidade e identidade entre coisas. [...] É preciso que
a ciência tenha um objeto de estudo que lhe seja próprio [...] esse objeto precisa
ser submetido ou à lei da identidade ou à lei da causalidade, porque sem isso
nenhuma explicação e nenhuma ciência é possível. [...] Para explicar um objeto é
preciso que este seja acessível a nós. [...] O termo usado para designar a
disposição da mente para estudar um objeto é "método"."
- Durkheim entende que a explicação dos fenômenos sociais consiste em
descobrir as causas eficientes que os determinam.
Para a problematização da concepção durkheimiana de moral e sobre a relação
possível entre moral e ciência é preciso refletir especialmente sobre três
regras dispostas nas Regras do Método Sociológico:
1. Indução: observação da realidade investigada e objetividade por parte do
pesquisador. Desse modo Durkheim defende que somente um meticuloso estudo
da realidade poderia chegar a uma formulação mais ou menos exata do que é a
moral, por meio da determinação das causas e funções das regras existentes
no seio das inúmeras sociedades.
- Nas Regras, Durkheim menciona que:
"Nossa representação da moral provém do próprio
espetáculo de regras que funcionam sobre nossas olho e as
figuram esquematicamente e consequentemente, são essas
regras, e não a noção sumária que temos delas, que
fornecem a matéria das ciências, da mesma forma que a
física tem como objeto os corpos tais como existem, e não
a idéia que deles se faz."
2. "A ciência lida com fatos, não com idéias, de modo que seu objetivo são
os fatos sociais, que devem ser tratados como coisas." Entende a moral como
um fenômeno empírico, como algo que está encarnado no domínio real e não
somente um princípio criado filosoficamente. Desse modo a ciência da moral é
aquela que se preocupa com a moral TAL COMO ELA É, E NÃO TEM
COMPETÊNCIA PARA DEFINIR O QUE ELA DEVERIA SER.
3. Homogeneidade entre causa e efeito, do modo que um fato social só
pode, consequentemente, ser explicado por outro fato social

- Objeto da ciência social em geral, e da ciência da moral em particular:


A representação das regras provém das próprias regras, ou seja, a percepção
que temos da moral provém da própria moral, da moral que existe, não da moral
tal como a imagino. E é apenas nesse sentido, enquanto moral real, enquanto a
moral que é, que pode constituir o objeto de uma ciência: A ciência lida com
fatos, a ciência da sociedade lida com fatos sociais, portanto a própria moral é
um fato social. [...] Fato para Durkheim é o feito, é o que é produto que resulta
de uma construção coletiva. [...] O fato é social na medida em que é coletivo, na
medida em que é produto de um processo que não pode resultar da minha
vontade ou ação individual, e é em virtude disso que se impõe a nós como algo
exterior.
- Nas Regras, Durkheim menciona que: "Para que haja fato social, é preciso que
vários indivíduos, pelo menos, tenham juntado sua ação e que essa combinação
tenha produzido algo novo. [...] Essa síntese ocorre fora de cada um de nós - já
que envolve uma pluralidade de consciências - ela necessariamente tem por
efeito fixar, instituir fora de nós certas maneiras de agir e certos julgamentos
que não dependem de cada vontade particular isoladamente."

- Fato social como objeto da ciência, como produto da interação, elemento


ontológico no qual a interação tem um poder criador que se impõe a qualquer
criação da consciência intelectual. O fato social na realidade é produzido por
uma consciência coletiva.

- Conceito de fato social das Regras:


"É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda, toda uma maneira de fazer
que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui
existência própria, independente das suas manifestações individuais."

- Sobre moral: "Prática generalizada na medida em que está enraizada nas


consciências.
- Elemento coercitivo: Em cada indivíduo coexistem um ser individual e um
ser social. Resistência por parte do indivíduo, porque o obriga a elevar-se acima
de seus interesses particulares e a pensar e agir segundo um padrão exterior.
Para Durkheim o ser individual não existe sem o ser coletivo, tudo que há de
verdadeiramente humano é aquilo que foi herdado da civilização. Mas é
justamente porque há sempre uma parte do ser social que não esta totalmente
internalizada que o fato social sempre se apresenta ao indivíduo como
coercitivo.
- Característica da moral: obrigatoriedade e/ou dever.
- Esse elemento coercitivo não é negativo para o autor, é apenas uma
constatação: Um fato social exerce uma coerção exterior do mesmo modo que
a lei da gravidade.

- Nas Regras, D menciona que: "Nosso principal objetivo, com efeito, é estender
à conduta humana o racionalismo científico, mostrando que, considerada no
passado, ela é redutível a relações de causa e efeito que uma operação não
menos racional pode transformar em regras de ação para o futuro.

- Fatos sociais COMO coisas: "Não esta dito que os fatos sociais são coisas,
mas que DEVEM SER TRATADOS COMO coisas, o que restitui o caráter
metodológico da afirmação. [...] Tudo mais que constitutivo da realidade social
que escapa a essa conotação de coisas, também escapa à ciência. Portanto,
para D, a moral também deve ser tratada como uma coisa.

- Em Regras, conceito de coisa:


"A coisa se opõe à idéia assim como o que se conhece a partir de fora se opõe
ao que se conhece a partir de dentro. É coisa todo objeto do conhecimento que
não é naturalmente penetrável à inteligência, tudo aquilo que não podemos fazer
uma noção adequada por um simples procedimento de análise mental, tudo aquilo
que o espírito não pode chegar a compreender a menos que saia de si mesmo,
por meio de observações e experimentações, passando progressivamente do
caracteres mais exteriores e mais imediatamente acessíveis ao menos visíveis e
aos mais profundos. Tratar os fatos de certa ordem como coisa não é,
portanto, nessa ou naquela categoria do real, é observar diante deles uma certa
atitude mental."

- Conceito de Moral: Não sendo uma idéia, e sim uma coisa, a moral é algo que
subsiste em si mesmo, que possuí uma existência própria, independente de nossas
representações individuais e que, portanto, só podemos conhecer a partir de
fora, e só lentamente é que podemos saber suas características próprias. [...]
Ela possui leis próprias, não pode ser mudada a partir de um decreto da
vontade, porque ela existe objetivamente. Não que ela seja refratária a qualquer
modificação, pondera D, mas essa modificação depende da transformação
concomitante de uma série de condições objetivas, e é preciso, sobretudo, que
corresponda a uma mudança real na consciência coletiva."

- SOBRE A DEFINIÇÃO DE MORAL:

A maior parte dos textos de Durkheim trata, de uma forma ou de outra, de


questões que podem ser consideradas morais. Mas o que é, para D, moral?
Consoante o pensamento de Weiss, para D, a moral não diz respeito a um
princípio geral, nem a uma ideia, para ele a moral deve ser uma coisa, pois possui
e precisa possuir uma realidade objetiva. D trata sobre moral, especialmente nos
seguintes textos:
- A educação moral, de 1902/03.
- As formas elementares da vida religiosa, 1912.
- Introdução à primeira edição de A divisão social do trabalho, que
posteriormente recebeu o título de A definição do fato moral.
Weiss nos informa que em cada um desses textos, e nos demais, D trata
da moral sob uma ótica distinta, porém, em todos eles há DUAS IDÉIAS que se
mantém constantes, e que por isto, constituem a base de sua concepção sobre
a moral.
1. A moral consiste em um conjunto de regras de conduta. A moral é
considerada como tendo dois aspectos irredutíveis:
A. Dever, ou obrigatoriedade como característica exterior.
B. Bem, ou desejabilidade.
2. Essa dupla característica - dever e bem - deve ser explicada a partir
da apreensão da origem real do fenômeno moral, de sua causa, a partir da
única entidade real que justifica tanto o caráter imperativo quanto à
desejabilidade da moral.
= Essa entidade não é outra senão a própria SOCIEDADE, que não apenas
é sua origem, mas também a sua finalidade. Desse modo:
"Todas as nossas idéias quanto ao que devemos ou não
fazer, todas as regras que prescrevem a nossa conduta,
todas as nossas ideias de bem ou de mal, de justo e de
injusto, são uma criação social. Não só: a finalidade dessas
regras é a manutenção desse ser social, formado pela
coletividade dos indivíduos, mas que também os transcende,
que é algo qualitativamente diferente da soma dessas
partes."
Os fatos morais, para D, constituem regras de conduta, em regras sob o
qual a desobediência produz uma sanção, definida em uma pena específica e
pré-estabelecida pela sociedade. Desse modo, Weiss nos mostra que em
Durkheim, a regra moral é aquela cuja transgressão não provoca uma reação
imediata à ação, e sim uma reação mediada pela sociedade.

- Natureza social.
Sobre moral e desejabilidade: Essa segunda característica aparece
posteriormente em A educação moral, que é considerado o seu principal
tratado teórico sobre a moral, que foi publicado postumamente a partir de
versões de anotações para um curso dado nos anos de 1902-03. Essa obra
busca, como objetivo: Explicar teoricamente o que é a moral em geral, em que
consiste a nova moral que se pretendia constituir e como ensinar a moral em
geral e a nova moral em particular. Em síntese, segundo Weiss: "Uma tomada de
posição em favor de uma moralidade laica, em detrimento de qualquer tipo de
moralidade religiosa stricto sensu e, ainda, uma doutrina pedagógica."

Disposições fundamentais a moralidade:


- Espírito de disciplina.
- Espírito de adesão ao grupo.
"Nada mais é que a contrapartida individual, psicológica mesmo, dos dois
elementos que constituem a moral, quais sejam, o dever e o bem.
EM A EDUCAÇÃO MORAL, D MENCIONA QUE:
"O dever é a moral, sempre que esta ordena e proíbe, e a moral severa é rude,
usando de prescrições coercitivas; é a ordem que é necessário obedecer. [...]
O bem é a moralidade quando esta se nos apresenta como algo de bom, como
um ideal amado, a que aspiramos à mercê de um movimento espontâneo de
vontade."
D chega a este pensamento ao tentar explicar a dualidade da moral a
partir de uma análise sobre a imbricação histórica entre a moral e a religião,
uma tese que encontrou seu ápice e sua melhor forma em As Formas
Elementares da Vida Religiosa. A relação entre moral e religião é fundamental
para compreensão do Sagrado, sendo este, para D, o fundamento último da
moral e ainda, o elemento central usado por D para defender a legitimidade da
sociedade como origem da moralidade e como critério para julgar as regras de
cada sociedade. Porém, já na Educação Moral, D demonstra perceber o fato de
que, ao caminhar da história, a moral sempre se apresentou sob signos
religiosos. Desse modo, o estudo da moral religiosa pode ser um bom modo e/ou
ponto de partida para se aprender os elementos constitutivos da moral, suas
características mais essenciais. Vejamos, em A Educação Moral, o que nos diz o
autor em estudo:
"É preciso ir buscar, no próprio seio das concepções religiosas, as realidades
morais que ali estão perdidas e dissimuladas; é preciso decantá-las, descobrir em
que consistem, determinar sua própria natureza e exprimi-las em uma linguagem
racional. É preciso, em uma palavra, descobrir os equivalentes racionais dessas
noções religiosas que, durante muito tempo, serviram de veículo às ideias morais
mais essenciais."

OBJETIVO DE A EDUCAÇÃO MORAL: Discutir como seria possível ensinar uma


moral laica, e não apenas justificar um ensino laico da moral. Sua tese era a de
que antes de determinar em que poderia consistir uma moral laica, seria preciso
determinar em que consiste a moral em geral, quais os elementos fundamentais
que a constituem, sem os quais sequer podemos falar em moral.
"Ora, esses dois elementos são justamente o dever e o bem, que, como afirmei
logo acima, aqui são traduzidos em termos de disposições morais essenciais - a
ideia de uma educação moral pressupõe a formação de determinadas
disposições, para que tenham efeitos práticos - definidas enquanto espírito de
disciplina e espírito de adesão aos grupos sociais."
EDUCAÇÃO MORAL LAICA: Demanda conhecer a verdadeira razão de ser
dessas características, a verdadeira autoridade por trás da regra e a
verdadeira fonte de sua desejabilidade. Weiss mostra que para D, tanto no caso
do dever, quanto no caso do bem, é sempre a origem social da regra que
explica suas características, posto que, a regra é a emanação da vontade da
sociedade, que possui todos os elemento precisos para ser respeitada e
desejada, para obrigar e ser amada. Durkheim percebe ainda que a sociedade
tem as mesmas características da divindade, é algo sagrado.
EM A EDUCAÇÃO MORAL: O ponto de partida é a consciência moral geral,
posto que são os juízos da consciência comum, como se mostram ao
observador, que constituem o único objeto de estudo possível da obra. É então,
a consciência moral geral, o ponto de partida, mas o ponto de chegada é, a
elaboração sistemática, que tem por finalidade esclarecer a própria consciência
comum.
EM QUE CONSISTE A MORAL ENQUANTO DEVER E ENQUANTO BEM - EM A
EDUCAÇÃO MORAL:
"O dever é a moral enquanto ela ordena; é a moral concebida como uma
autoridade à qual devemos obedecer, porque ela é uma autoridade, e por essa
única razão; O bem é a moral concebida como uma coisa boa, que atrai a
vontade, que provoca espontaneamente o desejo. Ora, é fácil perceber que o
dever é a sociedade enquanto ela nos impõe regras, estabelece limites à nossa
natureza; enquanto o bem é a sociedade como uma realidade mais rica do que a
nossa, a qual aderimos e com isso enriquecemos nossa própria existência [...]
Moral se apresenta à nós sob um duplo aspecto: aqui, como uma legislação
imperativa e que reclama de nós uma completa obediência, lá, como um
magnífico ideal ao qual a sensibilidade aspira espontaneamente."
- Entender a moral é entender a sociedade, em A educação moral, D menciona
que:
"Esses dois elementos da moral são apenas aspectos
diferentes de uma mesma realidade. O que constitui sua
unidade não é o fato de um ser corolário do outro; é a
própria unidade do ser real que nos exprime em diferentes
modos de ação. Porque a sociedade está acima de nós, ela
nos comanda; por outro lado, porque é superior a nós, ela
nos penetra, porque faz parte de nós mesmos, ela nos
atrai, com essa atração especial que nos inspiram a fins
morais. Não há, pois, motivos para tentar deduzir o bem do
dever ou vice-versa. Mas, de acordo com o aspecto da
sociedade que enfatizamos, ela nos aparece de uma ou de
outra maneira, como uma potência, que nos impõe leis, ou
como um ser amado ao qual nos doamos; e, conforme
nossa ação seja determinada por uma ou pela outra
representação, agimos por respeito pela lei ou por amor ao
bem."
A moral, para D, é um conjunto de regras de condutas de caráter obrigatório,
posto que seu descomprimento sempre esta acompanhado de uma sanção, uma
reação por parte da sociedade. Do mesmo modo, a moral é, como já
mencionamos, desejável, posto que a conduta moral contribui para realizar o
ideário social ao qual os indivíduos aderem, consciente ou inconscientemente. O
duplo caráter da moral, coercitivo e desejável, é explicado pelo fato da moral
ser uma criação social, com a finalidade última de manter a sociedade, o que
requer, indispensavelmente, um mínimo de coesão entre os indivíduos que a
constituem.

MORAL E AUTONOMIA EM DURKHEIM:


Se, para D, a regra moral vincula-se a uma realidade que é exterior ao
indivíduo, a autonomia - mediante um critério de exclusão - não é constitutiva da
definição durkheimiana de moral. Para D, contrariando o pensamento Kantiano,
esta autonomia do indivíduo perante a moral como regra social é algo que esta
sendo construído progressivamente no decorrer da história, ou seja, a
autonomia não é um elemento constitutivo da moral, como já mencionamos,
porém, na visão de D, é um elemento desejável, um elemento que para ele deveria
caracterizar a nova moral, que para ele, precisa ser laica, ou seja,
fundamentada sobre os pressupostos da racionalidade e compatível com a idéia
de individualismo. Desse modo, Weiss, em sua tese sobre a moral durkheimiana,
menciona ser a autonomia a novidade da moralidade moderna, que demanda a
educação moral para formar o espírito de autonomia.
"Espírito de autonomia como dimensão propriamente racional
da moralidade. [...] Uma vontade autônoma é uma vontade
racional, é o desejo do possível, daquilo que a razão
considera como sendo o bem."
- Em A educação moral, sobre autonomia como adesão esclarecida, Durkheim
menciona:
"Com isso determinamos um terceiro elemento da
moralidade. Para agir moralmente, não é mais suficiente
apenas respeitar a disciplina, aderir a um grupo, é preciso
ainda que, seja no deferimento à regra, seja no devotamento
a um ideal coletivo, tenhamos a consciência, a mais clara e
completa possível, das razões de nossa conduta. Porque é
essa consciência que confere a nosso ato essa autonomia
que a consciência pública exige de todo ser
verdadeiramente e plenamente moral."
Segundo Weiss, o indivíduo aparece impotente diante de uma moral
cristalizada, sem poder influenciá-la, restando somente aceitá-la. Isso porque,
como já comentado anteriormente, a moral é a expressão normativa de um
determinado ideal que é sempre criado coletivamente. E a moral laica, defendida
como o projeto moderno de moralidade por D, seria uma moral criada por meio
de processos coletivos com alta dose de racionalidade e transparência, na
esfera do que ele chama de autonomia política. Desse modo, podemos
compreender que Durkheim defende a construção de uma moral moderna laica,
que possibilite o esclarecimento individual e ao mesmo tempo, coletivo, com a
finalidade de que todos - como indivíduos e como sociedade - tenham a
consciência de que a moralidade, ou melhor, que a instância criadora da
moralidade, não é Deus, mas a sociedade como totalidade dos indivíduos.

- MORAL, AUTONOMIA E SOCIEDADE ORGÂNICA:


O espírito de autonomia é uma demanda da educação moral moderna e
laica de Durkheim, que se pretende racional e deste modo só seria possível no
contexto de uma sociedade estruturada por meio de solidariedade orgânica. Em
A divisão social do trabalho a sociedade orgânica está voltada à coesão por
meio da dependência funcional entre os indivíduos em razão da divisão do
trabalho. Em uma sociedade de solidariedade orgânica, as regras morais podem
ser reduzidas, e há uma margem individual para o ser tomar as próprias
decisões sobre sua vida. Desse modo, em A divisão social do trabalho, Durkheim
menciona que:
"A adesão esclarecida é a adesão a uma moral que prima
pela manutenção de uma consciência coletiva que garante
essa liberdade, afinal, "a consciência se reduz cada vez mais
ao culto ao indivíduo" e o que caracteriza a moral dessas
sociedades é o fato de que "ela tem algo mais humano,
portanto, de mais racional" que não exige senão "que sejamos
ternos com nossos semelhantes, que sejamos justos e que
cujas regras "não tem uma força coercitiva, que sufoca o
livre exame" afinal, "por serem muito mais feitas para nós, e,
em certo sentido, por nós, somos mais livres diante delas."
Sua concepção de autonomia como adesão esclarecida é a resposta
individual necessária à constituição de uma moralidade que garante o respeito à
dignidade da pessoa humana e que ao mesmo tempo proporciona a liberdade do
indivíduo.
Podemos compreender, segundo Weiss, que Durkheim laicizou o sagrado,
Deus, ao mostrar a origem social do sentimento de sagrado.

- DEFINIR O QUE A MORAL É: "Regras de conduta, usualmente inconsciente, que


é desejada e coercitiva ao mesmo tempo. [...] Só é moral aquilo que é enquanto
fato, enquanto regras que efetivamente se impõem às circunstâncias e
efetivamente são desejadas de forma geral, e que tem como sinal mais exterior
o fato de que seu desrespeito sempre produz uma sanção. A racionalidade, a
consciência da regra, é apenas um elemento desejável."
- SOCIEDADE: "Seria a verdadeira finalidade de toda ação moral, justamente por
tratar-se de uma personalidade individual, que uma consciência qualitativamente
diferente da mera soma dos indivíduos, por ser a depositária dos grandes bens
da civilização. É por isso que a sociedade se impõe a nós, fazendo com que suas
regras sejam sentidas como um dever, porque não correspondem às nossas
vontades individuais, porque ela nos transcende infinitamente. É por isso também
que desejamos as regras morais, porque elas são a emanação da vontade dessa
consciência coletiva, e desejar a regra é desejar a própria vida coletiva.
Portanto, para saber se uma determinada regra é moral ou não, bastaria
descobrir se ela é uma emanação dessa consciência coletiva e se tem por
finalidade a manutenção dessa consciência. Podemos notar, portanto, que
compreender o que é a moral para Durkheim pressupõe que se entenda o que
ele entende por sociedade, pois é nisso que consiste o núcleo de sua teoria
moral."

- CONCEPÇÃO DE SOCIEDADE: Como consciência moral coletiva. Em Sociologia e


Filosofia, Durkheim menciona a respeito:
"A sociedade é, acima de tudo, um conjunto de ideias, de crenças, de sentimentos
de todo tipo, que se realizam por intermédio dos indivíduos, e no primeiro escalão
dessas idéias encontra-se o ideal moral, que é sua principal razão de ser."
Desse modo, Weiss menciona que a moral é sim um fato, porém, um fato
produzido por uma consciência e não um fato que resulta puramente de causas
materiais.

--
DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
PREFÁCIO À 2 EDIÇÃO: ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE OS AGRUPAMENTOS
PROFISSIONAIS

- Problema/objetivo: Qual o papel que os agrupamentos profissionais estão


destinados a desempenhar na organização social dos povos contemporâneos.
- Entende que em seu tempo a moral profissional era precária. Entende como
moral profissional o dever ser a respeito de relações entre empregador e
empregado, operário e empresário, entre concorrentes, entre empresários e
público, etc. Em razão da precariedade desta moral profissional, Durkheim
menciona:
"Uma moral tão imprecisa e tão inconsistente não seria
capaz de constituir uma disciplina. Daí resulta que toda essa
esfera da vida coletiva é, em grande parte, subtraída à
ação moderadora da regra."

"As paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas
respeitam."

"A liberdade - entendemos a liberdade justa, aquela que a sociedade tem o dever
de fazer respeitar é, ela própria, produto de uma regulamentação."

- Não há moral sem coerção.

"Ora, somente uma sociedade constituída desfruta da supremacia moral e


material que é indispensável para impor a lei aos indivíduos; pois a única
personalidade moral que está acima das personalidades particulares é a formada
pela coletividade."

"Uma regulamentação moral ou jurídica exprime, pois, essencialmente,


necessidades sociais que só a sociedade pode conhecer; ela repousa em um
estado de opinião, e toda opinião é coisa coletiva, produto de uma elaboração
coletiva. Para que a anomia tenha fim, é necessário, portanto, que exista ou que
se forme um grupo em que se possa constituir o sistema de regras atualmente
inexistente."

- Palavras que se relacionam com moral:


- Vida coletiva.
- Sindicatos - como organização profissional -.

- Importância das organizações corporativas:


- influência moral.
- poder moral capaz de conter os egoísmos individuais. Sentimento de
solidariedade comum.
- salvaguardar interesses comuns.
- fraternidade.
- comunidade de interesses.
- parentesco espiritual.
- ambientes morais.

- Os regulamentos exprimem a moral de seu tempo.

"A utilidade comum, qualquer que seja esta, tem sempre um caráter moral, pois
implica necessariamente algum espírito de sacrifício e de abnegação."

- Relação de religião com moral: "Porque toda comunidade religiosa constituía,


então, um ambiente moral, do mesmo modo que toda disciplina moral tende
necessariamente a adquirir uma forma religiosa."

"Porém, uma vez formado o grupo, dele emana uma vida moral que traz,
naturalmente, a marca das condições particulares em que é elaborada. [...] Ora,
esse apego que supera o indivíduo, essa subordinação dos interesses
particulares ao interesse geral, é a própria fonte de toda atividade moral."

- Os homens se associam para levar juntos uma mesma vida moral.

"Do mesmo modo que a família foi o ambiente no seio do qual se elaboraram a
moral e o direito domésticos, a corporação é o meio natural no seio do qual
devem se elaborar a moral e o direito profissionais."

- Para que serve a moral: para enquadrar e regular uma forma de atividade
coletiva. Exprime e organiza o funcionamento da vida comum. Porém:
"Essa ação reguladora, embora necessária, não deve degenerar em estreita
subordinação, como aconteceu no século XVI e XVII."
E é preciso ainda: "especializar ainda mais a regulamentação profissional
segundo as necessidades locais ou regionais. A vida econômica poderia ser assim
regulada e determinada, sem nada perder de sua diversidade."
Porém: "É preciso evitar acreditar que todo o papel da corporação deva
consistir em estabelecer regras e aplicá-las. Sem dúvida, onde quer que se
forme um grupo, forma-se também uma disciplina moral. Mas a instituição dessa
disciplina não é mais que uma das numerosas maneiras pelas quais se manifesta
toda a atividade coletiva. Um grupo não é apenas uma autoridade moral que rege
a vida dos seus membros, é também uma fonte de vida sui generis."

- Base da organização política: corporação. E porque não o Estado? "Porque a


atividade coletiva é sempre demasiado complexa para poder ser expressa
unicamente pelo órgão do Estado. Além disso, o Estado esta demasiado distante
dos indivíduos, mantêm com eles uma relação demasiada externa e intermitente
para que lhe seja possível penetrar fundo nas consciências individuais e
socializá-las interiormente. [...] Uma nação só pode se manter se entre o Estado
e os particulares, se intercalar toda uma série de grupos secundários bastante
próximos dos indivíduos para atraí-los fortemente em sua esfera de ação e
arrastá-los, assim, na corrente geral da vida social. Acabamos de mostrar que
os grupos profissionais estão aptos a cumprir esse papel e que, inclusive, tudo
os destina a tanto."

- Papel da corporação:
- Elemento essencial da estrutura social.
- A saúde geral do corpo social que esta envolvida.
- Está envolvido tão intimamente na vida econômica que não pode deixar de
sentir todas as necessidades desta e ao mesmo tempo tem uma perenidade ao
menos igual a da família.
- Problema mais urgente de atenção pública, porque os demais só
poderão ser abordados quando este estiver resolvido.
- Órgão necessário a instituição de um novo direito. (O novo direito é
determinado pelas forças morais).

PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO

- Objetivo do livro: tratar os fatos da vida moral a partir do método das


ciências positivas. E ainda, Durkheim menciona que: "Não queremos tirar a moral
da ciência, mas fazer a ciência da moral, o que é muito diferente. Os fatos
morais são fenômenos como os outros; eles consistem em regras de ação que
se reconhecem por certas características distintivas, logo, deve ser possível
observá-los, descrevê-los, classificá-los e procurar as leis que os explicam."
Para Durkheim: "É possível que a moral tenha algum fim transcendental,
que a experiência não é capaz de alcançar; cabe ao metafísico ocupar-se deste.
Mas o que é certo, antes de mais nada, é que ela - moral - se desenvolve na
história, sob o império de CAUSAS históricas, e tem uma função em nossa vida
temporal. Se ela é esta ou aquela num momento dado, é porque as condições em
que vivem então os homens não permitem que ela seja outra, e a prova disso é
que ela - moral - muda quando essas condições mudam."
- Como e porque a moral muda? Porque, consoante o pensamento de
Durkheim há na estrutura das sociedades mudanças que tornam necessárias
mudanças nos costumes. Desse modo: "A moral se forma, se transforma e se
mantém por uma série de razões de ordem experimental; são apenas essas as
razões que a ciência da moral procura determinar."
- Estudar a realidade e melhorá-la. "Porque a ciência pode nos ajudar a
determinar o ideal para o qual tendemos confusamente." Durkheim complementa
ainda o pensamento mostrando que o ideal para qual a sociedade tende
confusamente pode e precisa ser extraído da realidade. E ainda, sobre a ciência
da moral: "Há um estado de saúde moral que só a ciência pode determinar com
competência. [...] Ora, a ciência, ao nos proporcionar a lei das variações pelas
quais ele - estado de saúde moral - já passou, permite-nos antecipar as que
estão se produzindo e que a nova ordem de coisas reclama.

- O que é moral para Durkheim:


Um sistema de fatos realizados, ligado ao sistema total do mundo. Desse
modo, menciona que: "Todo fato de ordem vital - como são os fatos morais - em
geral não pode durar, se não servir para alguma coisa, se não corresponder a
alguma necessidade. [...] Convém intervir [...] Mas a intervenção é limitada, então:
ela não tem por objeto forjar inteiramente uma moral ao lado ou acima do que
reina, e sim corrigir essa última ou melhorá-la parcialmente. [...] O que reconcilia
ciência com a moral é a ciência da moral; pois, ao mesmo tempo que nos ensina
a respeitar a realidade moral, ela nos fornece os meios de melhorá-la."

- Problema/ Objeto que originou o livro: Relações entre a personalidade individual


e a solidariedade social.
- Desenvolvimento cada vez mais considerável da divisão do trabalho.
- Objeto de estudo do livro: Divisão do trabalho.

INTRODUÇÃO
- O PROBLEMA:

- Durkheim reconhece que em seu tempo já era, e hoje ainda mais, perceptível a
extrema divisão do trabalho. Para ele, a divisão do trabalho "não é mais apenas
uma instituição social que tem sua fonte na inteligência e na vontade dos homens,
mas um fenômeno da biologia geral, cujas condições, ao que parece, precisam
ser buscadas nas propriedades essenciais da matéria organizada. [...] Semelhante
fato não pode, evidentemente, produzir-se sem afetar profundamente nossa
constituição moral. [...] A divisão do trabalho, ao mesmo tempo que lei da
natureza, também é uma regra moral de conduta humana? [...] Todo mundo
sente bem que ela é e se torna cada vez mais uma das bases fundamentais da
ordem social."
- Caráter especial que a educação adquire.

- Imperativo categórico da consciência moral: Coloca-te em condições de


cumprir proveitosamente uma função determinada.

- Sobre a vida moral: "A vida moral, como a do corpo e do espírito,


corresponde a necessidades diferentes e mesmo contraditórias; logo, é natural
que ela seja feita, em parte, de elementos antagônicos que se limitam e se
ponderam mutuamente."

- Divisão do trabalho como fenômeno moral.

"Sem querermos tomar o lugar da consciência moral das sociedades, sem


pretendermos legislar em seu lugar, poderemos lhe trazer um pouco de luz e
diminuir suas perplexidades."

LIVRO I: A FUNÇÃO DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO: CAPÍTULO I: MÉTODO


PARA DETERMINAR ESSA FUNÇÃO.

- OBJETIVO DO CAPÍTULO: Perguntar-se qual é a função da divisão do trabalho,


procurar a que necessidade ela corresponde.
- Caráter moral da divisão social do trabalho.
- Condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades.
[...] A moral é um mínimo indispensável, sem o qual as sociedades não podem
viver. [...] A moral nos obriga a seguir um caminho determinado em direção a um
objetivo definido. E quem diz obrigação, diz coerção.
- todas as regras de ação se impõe imperativamente a conduta e a qual está
vinculada uma sanção. Portanto, se a divisão social do trabalho fosse
responsável somente por tornar a civilização possível, ela não seria de caráter
moral, pois a civilização não é, mas, a DST não é somente isto, como veremos
posteriormente.
"Veremos que a civilização não tem valor intrínseco e absoluto; o que lhe dá seu
preço é o fato de corresponder a certas necessidades e tais necessidades
são consequências da divisão social do trabalho."
- A DST produz um efeito moral, sua real função é criar entre os seres
sociais um sentimento de solidariedade. Desse modo, Weiss menciona que: "O mais
notável efeito da divisão do trabalho não é aumentar o rendimento das funções
divididas, mas torná-las solidárias. [...] Não é simplesmente embelezar ou melhorar
sociedades existentes, mas tornar possíveis sociedades que, sem elas, não
existiriam. [...] Consiste no estabelecimento de uma ordem social e moral sui
generis. [...] Que essas grandes sociedades políticas também só se podem
manter em equilíbrio graças à especialização das tarefas; que a divisão do
trabalho é a fonte, senão única, pelo menos principal da solidariedade social."

- PROXIMIDADE COM COMTE: Comte entendia que a divisão social do trabalho


era a condição mais essencial da vida social, causa elementar da extensão e da
complicação crescente do organismo social.
- DST como garantia de coesão social, ao determinar as características
essenciais de sua constituição. Desse modo, Durkheim menciona que a DST: "
Deve ter um caráter moral, porque as necessidades da ordem, da harmonia, da
solidariedade social são geralmente tidas como morais."

- SOBRE VERIFICAR SE, DE FATO, NAS SOCIEDADES EM QUE VIVEMOS, É DA


DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO QUE DERIVA ESSENCIALMENTE A
SOLIDARIEDADE SOCIAL:
Durkheim inicia, em DST, classificando as diferentes espécies de
solidariedade social e considerando-a um fenômeno totalmente moral, que por si
só não se presta a observação, procura um fato externo que a simbolize, o
Direito, isto porque a vida social, tende inevitavelmente a tomar uma forma
definida e a se organizar e o direito é um modo de organização e nele se
refletem todas as variedades essenciais da solidariedade social.
Porém, há relações cuja regulamentação não se dá neste grau de
precisão e organização, e são somente reguladas pelos costumes, o costume,
segundo Durkheim "tempera os rigores do direito". É preciso perceber ainda,
que para D, os costumes não são contrários ao direito, são sua base. "Se pode
haver tipos de solidariedade social que tão-somente os costumes manifestam,
esses tipos são bastante secundários; ao contrário, o direito reproduz todos os
que são essenciais e são eles os únicos que precisamos conhecer. [...] Pelos
efeitos que eles produzem."
Durkheim menciona que a solidariedade social tem suas características
específicas e sua natureza dadas pelo grupo ao qual a unidade ela assegura, e
desse modo, pode variar em razão dos tipos sociais. Desse modo, seu método
procura compreender as diferenças entre os efeitos sociais da solidariedade
nos diferentes tipos sociais. Porém, ele reconhece que há um elemento comum
a toda solidariedade, a tendência à sociabilidade. Mas, "esse resíduo nada mais é
que uma abstração; pois a sociabilidade em si não é encontrada em parte alguma;
O que existe e vive realmente são formas particulares de solidariedade, a
solidariedade doméstica, profissional, nacional, de ontem, de hoje, etc."
O estudo da solidariedade é, segundo o autor em comento, de domínio da
sociologia, posto que sendo a solidariedade um fato social, só pode ser
realmente conhecido por intermédio de seus efeitos sociais. Mas, o que torna a
solidariedade social possível? "Para que possa existir, é preciso que nossa
constituição física e psíquica a comporte." Para que se mostre de modo
apreensível, é preciso perceber as suas consequências sociais. E ainda, é
preciso lembrar que ela depende sempre de condições sociais, para ser
explicada, condições das quais é inseparável. Ainda segundo o método usado por
Durkheim, há que se mencionar a busca por classificação das diferentes
espécies de direito em prol da descoberta das diferentes espécies de
solidariedade social que correspondem à elas. E sobre o direito, seguindo o
método proposto, Durkheim procura encontrar uma característica essencial a
todos os sistemas jurídicos, mas variável em razão de suas particularidades,
desse modo lembra que, de um modo geral o direito é "uma regra de conduta
sancionada" e consequentemente, convém classificar os diferentes sistemas
jurídicos em razão das diferentes sanções que eles emanam. Há sanções
repressivas, como o caso das impostas pelo Direito Penal e ainda restitutivas,
que buscam a reparação e o restabelecimento das relações a sua forma
natural. Mas, a que sorte de solidariedade social corresponde cada uma dessas
espécies?

CAPÍTULO II: SOLIDARIEDADE MECÂNICA OU POR SIMILITUDES


Os crimes afetam da mesma maneira a consciência social das nações e
produzem a mesma consequência, desse modo, todos os crimes são atos
reprimidos por castigos definidos. As regras penais, segundo Durkheim,
enunciam, para cada tipo social, as condições fundamentais da vida coletiva.
Crimes são atos universalmente reprovados pelos membros de sua sociedade.
O direito tem um duplo objeto: impor certas obrigações e definir sanções
para elas. O legislador, segundo D, resolve separadamente estas questões. O
direito civil diz sobre o dever, enquanto o direito penal diz sobre a pena.
- Autoridade da regra:
- "O conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de
uma mesma sociedade forma um sistema determinado que tem vida própria;
podemos chamá-lo de consciência coletiva ou comum. [...] Ela é o tipo psíquico da
sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, modo de
desenvolvimento.""
- Um ato é considerado e regulado como criminoso quando ofende/desrespeita
estados fortes e definidos da consciência coletiva. + Um ato é considerado
criminoso porque ofende a consciência comum, é um crime quando é reprovado
socialmente ao ofender alguns dos órgãos diretores da vida social.
- A sociedade reprime imoralidades por meio de penas organizadas.
"O crime não é apenas a lesão de interesses, inclusive consideráveis, é uma
ofensa a uma autoridade de certa forma transcendente. Ora,
experimentalmente, não há força moral superior ao indivíduo, salvo a força
coletiva."

- NATUREZA SOCIAL DA PENA: Defender a sociedade de imoralidades. "Para que


o temor da pena paralise as más vontades malignas. [...] A pena ainda é um ato
de vingança, já que é uma expiação. O que vingamos, o que o criminoso expia, é o
ultraje à moral."
Mas, já em seu tempo, Durkheim percebe que a vingança esta mais bem
dirigida, do que nos primórdios da sociedade. Mas é importante pensarmos o que
o autor entende por pena, continuando a exercer o seu método, ele entende a
pena como uma reação passional de intensidade graduada, de caráter social,
posto que, só pode ser suspensa pelo governo e em nome da sociedade. Desse
modo, compreendemos que é o atentado contra a sociedade que é reprimido
pela pena. Mas qual a origem do direito penal? Ele era, segundo o autor,
essencialmente religioso nos seus primórdios e como a religião é essencialmente
social e responsável por exercer sobre o indivíduo uma coerção permanente,
do mesmo modo o é o direito penal. Do mesmo modo que o direito penal religioso,
o direito penal do tempo de D é

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