de Conteúdos
INDICE
PREFACIO
INTRODUÇAO
Capı́tulo I MITOS COSMOLOGICOS E CONTOS DE ORIGENS
GERAÇAO ESPONTANEA: VIDA E MORTE
OS GOVERNADORES DO MUNDO: A LUTA ENTRE O SOL DA DEUSA E A
TEMPESTADE DE DEUS
MAIS CONFLITOS E COMPROMISSOS
EPISODIOS E MITOS DE ORIGEM
CRENÇAS A RESPEITO DA ALMA
O PARAISO BUDISTA E OS CUSTODIOS DO MUNDO
Capı́tulo II LEGENDAS LOCAIS E OSS DE CULTOS COMUNAIS
TOPOGRAFIA E DIVISAO EM CLAS
Capı́tulo III FADAS, SERES CELESTIMOS, OS HOMENS DA MONTANHA
A ORIGEM DOS CONTOS DE FADAS
AS FADAS DOMESTICAS
AS FADAS BUDISTAS, O TENNIN E OS RYUJIN
4. OS TAOISTAS IMORTAIS
Capı́tulo IV DEMONIOS, VAMPIROS E OUTROS SERES FANTASMA
O DIABO
O FANTASMA COM FOME E O ESPIRITO IRRITADO
OUTROS SERES FANTASMA
Capı́tulo V HISTORIAS ROMANTICAS
Capı́tulo VI CONTOS HEROICOS
Capı́tulo VII HISTORIAS DE ANIMAIS
I. ANIMAIS GRATOS
ANIMAIS VENGATIVOS E MALICIOSOS
A SERPENTE
O AMOR E O CASAMENTO DOS ANIMAIS
INSETOS, ESPECIALMENTE BORBOLETAS
Capı́tulo VIII HISTORIAS DE PLANTAS E FLORES
ARVORES MITICAS
OS GENIOS DAS PLANTAS
AS FADAS DA FLOR
4. O CALENDARIO FLORAL
Capı́tulo IX HISTORIAS DE ENSINO, HUMOR E SATRIES
A ADAPTAÇAO DE HISTORIAS PARA FINS DE ENSINO
A HISTORIA DE BONTENKOKU
HUMOR E SATYRE
UM TEMPO DE DESCONTENTE E SATYRE
APENDICE
BIBLIOGRAFIA
Sobre o autor
-MITOLOGIA JAPONESA-
*
MASAHARU ANESAKI
© 1947 Masaharu Anesaki
ÍNDICE
Prefácio
Introdução
Capítulo I. Mitos e histórias cosmológicas das origens
I. Geraçã o Espontâ nea: Vida e Morte
II. Os governantes do mundo: a luta entre a deusa-sol e o deus-
tempestade
III. Mais con litos e compromissos
4. Episó dios e mitos das origens
V. Crenças Relacionadas à Alma
SERRAR. O paraı́so budista e os guardiã es do mundo
Capítulo II. Lendas locais e cultos comunitários
Capítulo III. Fadas, seres celestiais, homens das montanhas
I. A Origem dos Contos de Fadas
II. As fadas-donzelas
III. As fadas budistas, o Tennin e o Ryujin
4. Os Imortais Taoı́stas
Capítulo IV. Demônios, vampiros e outros seres
fantasmagóricos
I. O diabo
II. O Fantasma Faminto e o Espı́rito Enfurecido
III. Outros seres fantasmagó ricos
Capítulo V. Histórias Românticas
Ã
INTRODUÇÃO
AS PESSOAS, A TERRA E O CLIMA EM RELAÇAO A MITOLOGIA E AO
FOLCLORE
Capítulo III
FADAS, SERES CELESTIMOS,
OS HOMENS DA MONTANHA
(Lamento da Fada)
F
Em vã o meus olhares vagam pelo prado celestial,
onde os vapores que envolvem o ar sobem,
e ocultar as trilhas familiares de nuvem para nuvem.
R ̃
Nuvens! Nuvens viajando! Ela suspira e suspira em vã o
voando como você para pisar no cé u novamente;
em vã o ele suspira ao ouvir como costumava ouvir
os acentos mistos do pá ssaro do paraı́so;
Essa voz abençoada ica fraca Em vã o cé u
ressoa com a cançã o do guindaste voltando;
em vã o escute, onde o oceano lava a areia,
a suave gaivota ou as ondas do mar;
em vã o ele observa onde o zé iro varre a campina;
tudo, tudo pode voar... mas ela nunca mais voará .
(A fada dança)
F
E neste irmamento surge um palá cio na Lua, construı́do por mã os
má gicas.
R ̃
E daquele palá cio trinta monarcas governam,
dos quais quinze, até a lua cheia,
eles entram à noite, vestidos de branco;
mas que, desde a dé cima sexta noite de lua cheia,
cada noite, um tem que desaparecer no espaço,
e cinquenta monarcas vestidos de preto tomam seu lugar,
entretanto, sempre girando em torno de cada rei feliz,
as fadas que os servem cantam mú sica celestial.
F
E um desses sou eu.
R ̃
Já que aqueles brilhantes sã o feras
ainda por um momento, esta doce donzela aparece.
Aqui no Japã o desce (deixando o cé u para trá s)
para ensinar a arte da dança à humanidade.
E quando o grupo de penas
de fadas passam com suas asas de prata,
Eles vã o levar a rocha de granito.
Oh, sons má gicos que enchem nossos ouvidos excitados!
A fada canta e das esferas nubladas
os alaú des ressoam em unı́ssono,
os cı́mbalos e cı́mbalos dos anjos
e suas lautas lindamente prateadas.
F
Salve os reis que estã o se afastando da Lua!
O cé u é a sua casa, e os Budas també m.
R ̃
Vestimentas má gicas cobrem os membros das donzelas.
F
Eles sã o, como os pró prios cé us, da mais tenra cor azul.
R ̃
Ou, como as né voas da primavera, todo branco prateado,
perfumada e linda... linda demais para o olhar mortal!
Dance, doce donzela, nas suas horas felizes...
Dance, doce donzela, enquanto a magia loresce
coroando suas tranças, elas tremulam ao vento
movido por suas asas em movimento.
Dance, porque a dança mortal nunca pode
competir com aquela doce dança que você traz do cé u;
e quando, atravé s das nuvens, você deve retornar em breve
para sua casa na lua cheia,
ouça nossas oraçõ es, e com sua linda mã o
despeje grandes tesouros em nossa terra feliz.
Abençoe nossas praias, refresque todos os prados,
para que a terra possa produzir mais safras.
Mas ah, a hora, a hora de sair soa!
Pego pela brisa, as asas má gicas da fada
Eles a levam para o cé u da costa dos pinheiros.
Outra histó ria em que uma fada virgem desce à Terra é o "La
Dama Resplandecente" (Kaguya-hime). Uma de suas versõ es é a
seguinte:
Era uma vez um velho que morava na provı́ncia de Suruga, onde ica
o Monte Fuji. Ele cresceu bambus. Na primavera, dois vaga-lumes
izeram seu ninho no bosque de bambu, e lá ele encontrou uma
adorá vel velhinha que chamou Kaguya-hime. O velho pegou a garota e
a criou com todo o seu amor. Quando a menina cresceu, ela se tornou a
jovem mais bonita do paı́s. Assim, ela foi chamada para a corte imperial
e se tornou a princesa consorte do imperador. Sete anos se passaram e
um dia a princesa disse ao marido:
"Eu nã o sou como você , um ser humano, embora um certo vı́nculo
me ligue a você ." Agora meu tempo na Terra acabou e devo retornar à
sua morada celestial. Sinto deixar você , mas é meu dever. Guarde em
minha memó ria este espelho no qual verá minha imagem.
Com essas palavras, ele desapareceu da vista do imperador. Ele
sentia tanto a falta de sua esposa que decidiu segui-la para o cé u. Em
seguida, ele escalou o cume do Fuji, a montanha mais alta do paı́s,
carregando o espelho na mã o. Mas quando chegou ao topo, nã o viu
nenhum vestı́gio da donzela perdida, nem conseguiu subir ainda mais
aos cé us. Sua paixã o era tã o poderosa que uma chama brotou de seu
peito[39] e o espelho pegou fogo. A fumaça subiu para o cé u e, desde
aquele dia, continua subindo do topo do Fuji.
Outra versã o da mesma lenda é conhecida pelo nome de "O
plantador de bambu". Segundo essa versã o, o velho encontrou
a menina dentro de um caule de bambu e, quando ela cresceu, muitos a
quiseram em casamento. Ela pediu a seus pretendentes que
realizassem uma façanha muito difı́cil e prometeu se casar com aquele
que melhor executasse a tarefa designada. Cinco pretendentes
concordaram em ser testados e cada um foi convidado a trazer um
objeto precioso para a jovem. Os pretendentes izeram o que puderam,
mas todos falharam. Para isso, cada um inventou uma mentira
inteligente para justi icar o fracasso. Mas a donzela adivinhou a
verdade e rejeitou todos eles. Essa histó ria, portanto, é didá tica e
satı́rica.
Bem, o imperador reinante, ao saber da beleza da jovem, chamou-a
ao palá cio, mas ela se recusou a ir embora ele lhe mandasse cartas e
poemas. O imperador se consolou com essa correspondê ncia, mas de
repente soube que a donzela era de origem celestial e que retornaria
ao palá cio de seu pai na Lua quando fosse meado do outono. O
imperador, desejando manter a donzela na Terra, enviou um exé rcito
ordenando aos soldados que guardassem a casa da menina. A noite
chegou, uma nuvem de nuvens apareceu no cé u e os soldados nã o
puderam atirar ou lutar porque seus braços e pernas estavam
paralisados. Assim, a donzela foi trazida para sua morada por seu pai, o
Rei da Lua. No entanto, ele deixou um baú com remé dios e uma carta
para o imperador. Apó s o desaparecimento da donzela, o Imperador
mandou seus homens com o baú ao topo do Monte Fuji. Lá eles
queimaram os remé dios e desde entã o aquele vulcã o fumega.
EMPREGADA
Embora eu nã o seja um ser humano.
R ̃
Ele se manifesta na igura maravilhosa de tamanho monstruoso,
g ,
emergiu das nuvens e das né voas,
transformando de acordo com o que o cerca...
Faz com que as folhas do salgueiro cresçam verdes com os brotos,
e que as lá grimas crescem, de uma bela cor rosa,
por si pró prios, e os deixa sozinhos.
Desta forma, a Donzela da Montanha sempre vagueia pelo mundo,
à s vezes consola o lenhador,
dando a ele um lugar para descansar sob uma á rvore lorida,
ao longo das trilhas das encostas das montanhas...
Ou suba em uma janela
ao lado do qual uma jovem trabalha em seu rack,
e ajuda suas mã os juvenis;
como o rouxinol cantando no salgueiro,
tece os ios verdes dos galhos pendurados.
R ̃
Na primavera, quando se aproxima a é poca das lores.
EMPREGADA
Eu vagueio em busca de lores.
R ̃
No outono, quando a noite é calma e o ar translú cido.
E
Eu migro de montanha em montanha,
apreciando a luz prateada da lua.
R ̃
No inverno, quando as nuvens trazem tempestades e neve.
E
Eu voo sobre a neve, sobre picos e trilhas.
R ̃
Ela vagueia incansavelmente entre as nuvens da ilusã o,
e vamos ver sua igura como as montanhas,
embora em constante mudança.
Voe em volta dos picos
sua voz ecoa nos vales.
A igura tã o perto um momento atrá s
voa para longe, voando para cima e para baixo,
à direita e à esquerda, circulando os picos,
vagando entre as cadeias de montanhas, voando e planando,
e inalmente sem deixar vestı́gios.
Capítulo V
HISTÓRIAS ROMÂNTICAS
No sé culo XI teve inı́cio a é poca heró ica do Japã o, caracterizada pela
ascensã o da classe guerreira. O clã que desempenhou o papel principal
na histó ria daqueles tempos foi o Minamoto, e entre os primeiros
heró is do clã , yoshi-iye é o mais popular. Yoshi-iy e celebrou a
cerimô nia que marca sua maioridade diante do santuá rio dedicado a
Hachiman, o ilho de Jingo, e em tempos posteriores esses dois heró is
foram reverenciados como patronos e protetores do clã Minamoto e,
conseqü entemente, como guerreiros eminentes..
O animal intimamente associado ao deus-heró i, Hachiman, deus
dos Oito Estandartes, era a rola, e os Minamoto sempre consideraram o
aparecimento das rolas acima dos campos de batalha como um bom
pressá gio. Os feitos de yoshi-iye estã o associados com suas expediçõ es
militares para o nordeste do Japã o, e já referida lendas locais que lhe
dizem respeito.
O mais popular e famoso dos primeiros generais do
clã Minamoto é Raiko, mais apropriadamente Yorimitsu.[62]. Ele
estava sempre rodeado por quatro bravos tenentes,[63] e vá rias
lendas sã o contadas sobre cada um deles. A mais conhecida é a
expediçã o de aventura contra um grupo d diabó licos e seres, cujo lı́der
era Shuten Doji, ou "Young Sot" cuja força estava no monte Oye-yama.
O Beodo era uma espé cie de ogro que se alimentava de sangue
humano. Ele tinha um rosto jovem, mas do tamanho de um gigante, e
usava roupas escarlates. Seus vassalos també m eram seres diabó licos,
de aspecto extremamente repulsivo. Suas incursõ es em busca de
pilhagem e excessos de todos os tipos nã o demoraram muito para se
espalhar pelas vizinhanças de sua residê ncia, chegando à capital, e
muitas damas nobres foram suas vı́timas, entã o o governo ordenou
a Raiko que derrotasse esses demô nios. Tsuna, um dos quatro tenentes
de Raiko, já havia dominado um ogro enorme, cortando seu braço,
entã o esperava-se que o Beodo també m nã o fosse
invencı́vel, embora nã o tenha sido fá cil para Raiko e seus tenentes
invadir a residê ncia forti icada. do ogro.
Raiko decidiu disfarçar seus homens como um grupo de sacerdotes
da montanha, como os que perambulavam pela regiã o. Desta forma, o
grupo foi admitido na fortaleza de Beodo, para a qual foram guiados
por um homem misterioso, que també m deu a Raiko uma certa
quantidade de uma bebida má gica, para envenenar o ogro.
Recebia seus convidados sem descon iar de nada e, ao anoitecer, os
supostos frades ofereceram a bebida venenosa ao Beodo e seus
servos, divertindo-os com cantos e danças alegres. Quando os ogros
icaram bastante atordoados, os guerreiros tiraram seus disfarces,
aparecendo com armaduras e capacetes, e depois de uma luta á rdua
conseguiram matar o ogro e seus seguidores.
O espı́rito do Beodo estremeceu de fú ria com a morte de seu corpo,
e sua cabeça, cortada por Raiko, ergueu-se no ar e tentou atacá -lo. Mas
os heró is, graças à sua coragem e ajuda divina, logo assumiram o
controle da situaçã o. A cidade de Miyako estremeceu de alegria quando
o vitorioso Raiko, com seus quatro tenentes, voltou mostrando a
cabeça do monstro e liderando uma procissã o de mulheres que haviam
sido libertadas do cativeiro na fortaleza do ogro.
A ascensã o e queda alternada dos dois clã s militares, Minamoto e
Taira, que ocorreu em rá pida sucessã o durante a segunda metade do
sé culo XII, foi uma rica fonte de contos heró icos. Os dois clã s foram
chamados coletivamente de Gen-Pei,[64] e sua rivalidade, suas
vitó rias e suas derrotas constituem a substâ ncia da poesia, romances
e dramas. Um dos heró is é picos mais populares é Tame-moto, o
famoso arqueiro, embora ainda mais conhecidos sejam Yoshitsune,
seu amigo e servo Benkei, e sua amante, Shizuka.
Compreenderemos melhor suas histó rias se soubermos algo sobre
seus antecedentes histó ricos. Os dois clã s militares tornaram-se
in luentes no campo polı́tico com a guerra civil de 1157, embora o
caminho já estivesse preparado para eles. No entanto, o equilı́brio de
poder entre os dois clã s nã o foi facilmente preservado, e quando outra
guerra civil estourou em 1159, os Mi Namoto foram completamente
derrotados pelos Taira. Na guerra de 1157, cada lado foi dividido
igualmente em dois campos rivais. Tamemoto estava do lado perdedor
e um dos irmã os lutava do outro e, na paixã o do momento, ousou até
mesmo executar o pai. Tamemoto, de quem falaremos mais tarde, foi
para o exı́lio numa ilha do Pacı́ ico. Na segunda guerra, os Tairas
derrotaram os Minamoto, e seu chefe, irmã o de Tamemoto, morreu em
uma das batalhas. Ele deixou trê s ilhos, que os vencedores estavam
prestes a matar, embora no inal tenham poupado suas vidas. Este ato
de compaixã o produziu frutos infelizes para os Taira, pois os trê s
jovens perdoados os derrotaram trinta anos depois. Naquela é poca, o
mais velho dos trê s ó rfã os era o chefe do clã Minamoto, mas o
guerreiro mais famoso era Yoshitsune, o mais jovem dos trê s irmã os e
o mais popular de todos os heró is japoneses.
Por sua vez, Tamemoto, o infeliz tio de Yoshitsune, era famoso como
arqueiro, ainda na infâ ncia. Insatisfeito com as condiçõ es em Miyako,
onde a oligarquia Fujiwara oprimia os militares, Tamemoto fugiu da
capital e foi para o oeste quando tinha apenas quatorze anos. Lá , suas
aventuras entre os guerreiros locais izeram dele um heró i temido e
lı́der de outros lı́deres menos famosos. Quando a guerra estourou em
Miyako em 1157, Tamemoto voltou a lutar ao lado de sua famı́lia. Mas
seu clã foi derrotado, seu pai foi morto e ele voltou para o exı́lio.
No entanto, seu espı́rito aventureiro nã o diminuiu. Ele dominou os
habitantes da ilha para a qual havia sido exilado e os governou como
rei. O governo japonê s soube disso e enviou uma expediçã o à
ilha. Quando Tamemoto viu a frota se aproximando, ele pegou sua
besta mais poderosa e com uma lecha tocou um dos navios,
perfurando um dos lados, fazendo com que o navio virasse. O
maravilhoso arqueiro poderia ter afundado os outros navios da mesma
forma, mas hesitou em fazê -lo e até em se defender com a ajuda dos
ilhé us, pois isso signi icaria a morte de mais homens por sua
causa. Portanto, ele se retirou para o interior da ilha e lá se suicidou.
Essa é a velha lenda, mas a imaginaçã o popular nunca se contentou
com esse inal, desejando que o heró i vivesse para realizar mais
façanhas. A tradiçã o, desta forma, faz com que Tamemoto nã o morra,
mas fuja da ilha para outras aventuras maravilhosas. Tomando isso
como base, um escritor do sé culo 19 queria contar a vida posterior do
heró i e como ele veio para as ilhas Loochoo e fundou ali uma dinastia
real. Esta fantasia, juntamente com as façanhas de icçã o que o escritor
atribuiu ao seu heró i, tornou-se tã o popular que hoje muitos acreditam
na realidade de tais histó rias, e chamar Tamemoto o primeiro rei das
ilhas. Loochoo.
O segundo heró i famoso é Yoshitsune, que teve um ilho
chamado Ushiwaka. Na segunda guerra civil, ele salvou sua vida quase
por milagre, junto com sua esposa, fugindo dali, e a lenda diz que ele e
seus irmã os foram poupados pela lı́der dos vencedores, Taira, por
amor à mã e. O mais jovem dos trê s irmã os foi enviado para um
mosteiro em Kurama, uma montanha ao norte de Miyako, onde viveu
como pajem de um mau, com o nome de Ushiwaka Maru.
O pequeno Ushiwaka, mesmo na infâ ncia, sempre planejou vingar a
derrota de sua famı́lia nas mã os do Taira. Considerando que a primeira
virtude de um bom guerreiro era ser um bom espadachim, o menino ia
todas as noites, quando todos dormiam, para a loresta contı́gua ao
mosteiro, onde praticava incansavelmente com uma espada de madeira
contra as á rvores. A tirâ nica ditadura do clã Taira já provocava uma
revolta popular e, segundo a lenda, os
sobrenaturais dez gus simpatizavam com o espı́rito de rebeliã o. O
gê nio do Monte Kurama foi um deles, um chefe Tengu chamado Sojo-
bo. Uma noite, Sojo-bo parecia Ushiwaka para oferecer sua ajuda,
simpatizando com o seu entusiasmo por vingança.
Vamos imaginar a cena. Na escuridã o da noite, entre as montanhas,
nada se ouvia. De repente, o gigantesco monstro tengu estava na frente
do garoto armado com sua espada de madeira. Os olhos raivosos do
tengu brilharam na escuridã o da loresta, suas roupas eram escarlates
e na mã o direita ele carregava o leque de tengu.
[65] O tengu gigante perguntou ao menino por que ele continuamente
exercitava sua espada. Ushiwaka confessou seu desejo ardente de
vingança, e o tengu, aprovando essa ambiçã o, prometeu ensinar-lhe
alguns segredos da arte da esgrima e instruı́-lo em tá ticas e
estraté gias militares. Sojobô entã o convocou seus servos,
os tengus voadores, e ordenou-lhes que dessem a Ushiwaka o
benefı́cio de sua experiê ncia e a habilidade de aprimorar sua esgrima.
Em seguida, Ushiwaka se reunia com o tengus todas as noites, e
logo ele era tã o adepto da esgrima que nã o podiam mais rivalizar com
ele. Finalmente, Sojo-bo, orgulhoso do progresso do menino, ensinou-
lhe todos os segredos da arte militar e entregou-lhe um pergaminho
em que foram escritos esses segredos. Assim, Ushiwaka se formou em
ciê ncias militares na academia arborizada de tengus, e acredita-se que
todos os seus triunfos militares nos anos posteriores foram o resultado
da instruçã o zelosa de Sojo-bo.
Ushiwaka nã o era tã o ingê nuo a ponto de pensar que suas façanhas,
sem ajuda, trariam seus projetos à fruiçã o, entã o ele
orava regularmente a Kwannon, a deusa da misericó rdia, por sua
orientaçã o e proteçã o constantes. Para isso, todas as noites ele visitava
um templo da deusa chamada Kiyomizu Kwannon, na parte sudeste de
Miyako. No caminho ele teve que cruzar a Ponte Cojo, a Ponte da
Quinta Avenida, que cruzou o rio Kamo, o Mestre da Florença japonesa,
e a aparê ncia noturna do jovem misterioso, seu rosto escondido por
um ino vé u de seda, foi logo assunto de fofoca entre o povo Miyako.
Naquela é poca, havia um monge soldado chamado Benkei, que
havia pertencido ao mosteiro no Monte Hiei, mas que agora residia em
Miyako em busca de uma aventura emocionante. Benkei ouviu falar do
jovem misterioso e decidiu descobrir se era um ser humano ou uma
apariçã o sobrenatural. Para fazer isso, Benkei se armou de vá rias
armas: espadas, uma barra de ferro, uma serra, etc., e vestiu suas
vestes moná sticas e o capuz inevitá vel.
Enquanto procurava o garoto misterioso, ele ouviu o som das botas
laqueadas do jovem nas pranchas do convé s. Eles foram se
aproximando cada vez mais até que, quando chegaram ao meio da
ponte, o monge gigantesco foi visto, gritando:
"Pare, garoto!" Quem é ?
Ushiwaka ignorou essas palavras. O bravo Benkei tentou detê -lo,
mas o menino continuou sem nem mesmo olhar para o monge. Isso
irritou Benkei tanto que ele investiu contra Ushiwaka, que o defendeu
com um golpe que arrancou a arma da mã o do
monge. Compreendendo quem teve que lutar ferozmente contra
aquele ducho adversá rio, Benkei pegou na barra de ferro, mas o
menino saltou e se esquivou de tremendo golpe poderoso. Para piorar
as coisas, ele riu zombeteiramente sob o nariz do monge, que estava
lançando golpe apó s golpe em seu oponente evasivo... tudo em vã o. O
jovem disparou ao redor, acima e atrá s de Benkei como um
pá ssaro. O longo treinamento de Ushikawa com os Tengus estava
provando seu valor e, no inal, Benkei foi forçado a se ajoelhar diante
desse garoto misterioso e pedir seu perdã o.[66]. A partir de
entã o, Benkei foi um servo iel de Ushiwaka e lutou ao seu lado em
todas as suas batalhas, até morrer para salvar a vida de seu mestre.
Existem muitos relatos sobre as façanhas guerreiras de Yoshitsune,
como eles acabaram chamando Ushiwaka e de seu iel
amigo Benkei. Juntos, eles alcançaram grandes vitó rias contra os Taira,
e juntos foram banidos quando Yoshitsune sofreu com o ciú me e as
suspeitas de seu irmã o mais velho. Essas lendas, especialmente a da
ú ltima luta desesperada de Benkei e dos ú ltimos momentos de Benkei,
quando ele morreu diante de lechas lançadas por seus adversá rios
triunfantes, sã o contadas até hoje com admiraçã o e entusiasmo.
[67] Mas eles sã o muito longos e numerosos para contar aqui, entã o
vamos nos referir apenas a um episó dio da vida heró ica de Yoshitsune.
Apó s sua brilhante vitó ria que quebrou o poder do clã
Tiara, Yoshitsune permaneceu em Miyako, a capital imperial, mas logo
se desentendeu com seu irmã o mais velho, o ditador militar. O chefe do
clã Minamoto invejava a fama de seu irmã o mais novo, e havia muitos
cortesã os ansiosos para in lamar ainda mais suas suspeitas e
ciú me. Por im, o ditador baniu Yoshitsune, que foi expulso de Miyako
por um ataque surpresa. Em seguida, ele se refugiou em Yoshino, um
lugar famoso pela beleza de suas cerejeiras. Lá , ele foi forçado a pegar
em armas contra os monges traiçoeiros que os emissá rios de seu irmã o
levantaram contra ele.
Durante todo esse tempo, ele foi acompanhado por Benkei e outros
servos ié is, bem como por sua amante Shizuka. Quando ele foi banido
de Miyako, um de seus tenentes morreu por ele. O perigo era tã o
grande que ele teve que se disfarçar de frade da montanha e partir com
apenas dois ou trê s de seus seguidores. A situaçã o lamentá vel do heró i,
sua tristeza pela morte de seu servo e sua triste separaçã o de sua
amada, sã o os temas favoritos de suas lendas.
A trá gica histó ria do exı́lio de Yoshitsune põ e um im paté tico à sua
brilhante carreira. A partir de entã o, sua vida foi uma sucessã o de
infortú nios e di iculdades, até que inalmente encontrou a morte na
derrota,[68] embora sempre tenha preservado sua nobreza e coragem,
já que a qualidade heró ica do homem nã o é menos nobre na
adversidade do que no triunfo. Nenhum outro heró i do Japã o, histó rico
ou imaginá rio, é tã o popular quanto Yoshitsune, e nenhum outro teve
uma carreira tã o cheia de feitos lindos e româ nticos, ou infortú nios
perturbadores ou vicissitudes emocionantes.
Os quatro sé culos que se seguiram ao segundo testemunharam o
surgimento do regime feudal. A guerra entre os clã s foi constante e
todo o perı́odo está repleto de romances heró icos. Quase todas as
histó rias sã o baseadas com demasiada irmeza em fatos histó ricos para
serem tratadas em um livro dedicado à mitologia. Mas aquela é poca
produziu muitas histó rias de feitos heró icos totalmente imaginá rios e
até fantá sticos, mas, ainda assim, re letindo perfeitamente o espı́rito da
é poca.
O tema principal dessas histó rias é aventura e vingança. First Class,
a histó ria da expediçã o Raiko contra o ogro Sot, já narrado, é o mais
tı́pico. Uma das primeiras e mais famosas histó rias cujo tema é a
vingança é fornecida por "Corda". E sobre a histó ria de dois ó rfã os que
conseguiram, diante de inú meras di iculdades, matar o assassino de
seu pai. Este episó dio é histó rico. Aconteceu na segunda metade do
sé culo 12 e mexeu tanto com a imaginaçã o do povo que a histó ria faz
parte do folclore japonê s[69].
E uma histó ria muito autê ntica para caber aqui, mas pelo nosso
conhecimento e crença, existem muito poucos relatos româ nticos
desse perı́odo que sã o puramente imaginativos.
A mais popular é a histó ria de Momotaro, ou a "á rvore do pê ssego".
[70] E tã o popular hoje que os folcloristas japoneses planejam erigir
uma está tua de bronze em memó ria do jovem heró i ictı́cio, todas as
crianças japonesas conhecem bem essa histó ria. Diz assim:
Era uma vez um casal de idosos que morava perto das
montanhas. Um dia, quando a esposa estava lavando algumas roupas
em um riacho, ela viu um grande pê ssego lutuando na á gua. A velha
pegou a fruta e a trouxe para o marido, e quando ele a abriu apareceu
um jovem robusto. O casal adotou o menino, que se tornou um menino
inteligente e inquieto. Pouco depois ele decidiu sair em busca de uma
aventura emocionante, indo visitar a Ilha dos Demô nios. Sua mã e fez
alguns donuts doces para ele e Momotaro saiu apenas com essas
provisõ es. No caminho ele conheceu um cachorro, que lhe pediu um de
seus donuts. Momotaro deu a ele e o cachorro começou a segui-
lo. Entã o, da mesma forma, a companhia de Momotaro aumentou com
um macaco e um faisã o, e todos juntos partiram para a Ilha dos
Demô nios. Apó s sua chegada, eles atacaram a fortaleza do demô nio,
nã o tendo di iculdade em controlar aqueles monstros. Assim, eles
voltaram com os tesouros tirados dos demô nios. O velho casal recebeu
o jovem com jú bilo, e animais ami gos de Momotaro dançaram diante
deles.
Um conto heroico associado à s fadas do mar é o de Tawara Toda, "o
guerreiro Toda com o saco de arroz", que viveu no sé culo XI. Uma noite,
quando Toda estava cruzando a famosa Ponte Seta sobre o ralo do
Lago Biwa, ele avistou uma cobra monstruosa deitada na ponte. O
heró i passou por ela com calma e compostura, como se isso nã o fosse
nada de extraordiná rio. Mais tarde naquela noite, uma jovem foi à casa
de Toda. Ela explicou que era ilha do Rei Dr. Agon, e que o admirava
pela coragem fria demonstrada na Ponte Seta, já que aparentemente a
enorme cobra tinha sido a mesma jovem em outra forma. Depois, ele
perguntou ao heró i se ele queria tentar derrotar uma terrı́vel
centopeia que estava matando muitos de seus semelhantes.
Todos, dispostos a cumprir o desejo da jovem, dirigiram-se para a
ponte. Enquanto esperava pelo monstro, ele viu o farol circundando o
Monte Mikanii do outro lado do lago e també m avistou duas luzes
cintilantes como espelhos em chamas. Eles eram os olhos da terrı́vel
centopeia. Toda atirou duas lechas naqueles olhos em chamas, mas as
lechas ricochetearam como se tivessem atingido placas de
metal. Entã o Toda, percebendo que a saliva era um veneno fatal para
uma centopeia, disparou uma terceira lecha embebida em sua saliva. O
monstro caiu sem vida, e os dragõ es estavam a salvo do temido
extermı́nio de toda sua raça.
Na noite seguinte, a senhora dragã o visitou Toda novamente para
agradecê -la por sua valente ajuda neste momento. Em seguida, ela
implorou que ele a honrasse e a todo o seu povo visitando seu palá cio,
Toda a seguiu até o palá cio subaquá tico, nas profundezas do lago, onde
lhe ofereceram todas as iguarias mais deliciosas que a á gua pode
oferecer. Antes de deixar o palá cio, o Rei Dragã o presenteou-o com trê s
presentes: um saco de arroz que acabou sendo, como a taça da
Fortuna, inesgotá vel; um rolo de seda que lhe forneceu tecidos de
duraçã o eterna; e um sino da India, que há muito estava escondido no
fundo do lago.
Toda dedicou o sino a um templo erguido nas margens do lago e
guardou os outros dois tesouros, que o ajudaram proveitosamente em
suas aventuras posteriores. Precisamente por possuir o inesgotá vel
saco de arroz, o povo sempre chamou Tawara Toda, "Senhor Toda do
saco de arroz".
Capítulo VII
HISTÓRIAS DE ANIMAIS
Como ú ltimo exemplo deste tipo de histó ria, contaremos a histó ria
de uma grega que se casou com seu benfeitor.
Era uma vez um nobre que perdeu toda a sua fortuna e foi viver
para o campo. Um dia ele viu um caçador que, depois de pegar
um guindaste, estava prestes a pendurá -lo. Piedade do nobre, ele
implorou ao caçador que nã o pendurasse o belo pá ssaro, mas o
indivı́duo cruel nã o quis soltar o guindaste sem um bom resgate, e
como o nobre nã o tinha nada alé m de sua espada preciosa, ele a
ofereceu ao caçador, feliz em sacri icar aquele tesouro e, assim, salvar a
vida do pá ssaro.
Na noite seguinte, uma jovem acompanhada por um ú nico criado
ligou para a cabana do nobre, pedindo asilo para pernoitar. O nobre
icou pasmo com a delicadeza de uma donzela em um lugar tã o
impró prio para ela, mas a recebeu com generosa hospitalidade. A
jovem disse a ela que sua madrasta malvada a tinha expulsado de
casa[72] e que, nã o tendo para onde ir, implorou para poder icar na
casinha do idalgo. Este ú ltimo concedeu-lhe permissã o para fazê -lo e,
com o tempo, os dois se apaixonaram e se casaram. A jovem deu ao
marido uma certa quantidade de ouro que havia trazido com ela, e o
casal conseguiu viver sem estresse. Mas sua existê ncia idı́lica nã o
durou muito. Um dia, o senhor feudal da regiã o organizou uma grande
caçada, e a jovem teve que confessar ao marido que era na verdade a
garça que ele salvara e que chegara a hora de voltar para o reino dos
pá ssaros. Assim, ela levou seu marido para o maravilhoso palá cio de
seus pais, mas no inal ambos tiveram que se separar por causa de
seus destinos diferentes.[73].
2. ANIMAIS VENGATIVOS E MALICIOSOS
Nã o há espaço aqui para contar mais histó rias desse tipo, mas
vamos adicionar um exemplo de uma travessura de que uma raposa foi
culpada.
Há muito, muito tempo, um homem foi com seu servo em busca de
um cavalo perdido. Depois de muitas buscas infrutı́feras, eles
chegaram a um prado. Lá eles viram
um criptô mero gigantesco, embora nunca tivessem visto aquela
á rvore naquele prado. Eles até duvidaram de seus pró prios olhos, mas
a verdade é que ambos viram a á rvore com clareza. Entã o, eles
pensaram que haviam confundido um prado com outro, embora
soubessem que isso era impossı́vel, e como ú ltimo recurso, eles
chegaram à conclusã o de que a á rvore misteriosa deve ser obra de um
espı́rito maligno. Por assim eles atiraram lechas á rvore gigante, que
desapareceram imediatamente. Eles voltaram para casa em segurança
e, na manhã seguinte, voltaram à campina, encontraram uma velha
raposa morta com alguns ramos de criptomo na boca.[74].
As histó rias sobre o texugo sã o semelhantes à s da raposa, embora o
texugo nunca seja tã o ruim quanto o francê s "Renard". Os dois animais
sã o retratados enganando os homens ao se transformarem em seres
humanos-um monge ou um menino-uma diferença talvez sugerida
pelas cores diferentes dos dois animais. També m o gato,
principalmente se for velho, é considerado uma criatura maliciosa, e
embora as transformaçõ es da raposa e do texugo sejam temporá rias, o
gato costuma adotar a igura humana permanentemente, e é um agente
ativo de uma longa histó ria como a de o tamanho da raposa. Durante o
regime feudal, principalmente no sé culo VIII, circularam muitas
histó rias em que uma gata se transformava em uma bela mulher para
ser amante de um senhor feudal e arruiná -lo. Mas essas histó rias nã o
pertencem, propriamente falando, ao folclore, embora ilustrem a
crença popular no cará ter malicioso do gato e em seus poderes
má gicos.
As cores do pelo do gato in luenciaram muito a popularizaçã o
dessas ideias sobre aquele animal. O gato mais temido era um
gato marrom avermelhado ou rosado, chamado de "gato da lor
dourada". Existe també m o gato com trê s cores mistas: branco, preto e
marrom. Acreditava-se que os poderes má gicos dos gatos pretos ou
brancos podiam prever o tempo, entã o os marinheiros sempre tinham
um no barco.
O que se segue é uma histó ria caracterı́stica sobre um gato de " lor
dourada".
Era uma vez um samurai que encontrou um gato " lor dourada" e o
trouxe para a casa de sua mã e, que icou entusiasmada com o
gatinho. Algum tempo depois, o gato desapareceu e imediatamente a
velha começou a evitar a luz, reclamando que seus olhos
a incomodavam terrivelmente. No entanto, ela evitou todo tratamento
mé dico, e seu ilho, apesar de sua ansiedade, nã o conseguiu convencê -
la a deixar os cantos escuros em que ela estava escondida. De repente,
duas donzelas desapareceram das criadas da casa, e ningué m
conseguiu encontrar seu rastro até que um dia, uma criada, cavando no
jardim, descobriu as roupas das duas moças com manchas de sangue, e
cavando mais encontrou seus ossos. O servo horrorizado correu para
dentro de casa para contar ao seu patrã o o que havia encontrado, mas
encontrou a mã e do patrã o, que, cheia de fú ria, ameaçava o criado com
a morte se ele falasse a algué m sobre sua descoberta. O bom criado
icou tã o assustado com a raiva da mã e que saiu de casa em silê ncio.
Poucos dias depois, um vizinho do samurai viu sua mã e lavar a boca
ensanguentada em um riacho que corria perto de sua casa. Enquanto
eu observava, um cachorro apareceu e a velha, assim que o viu, pulou
uma saliê ncia rochosa e fugiu. Isso convenceu a vizinha de que a gata
" lor de ouro" havia comido a mã e do samurai, transformando-se nela
mesma. Pouco depois, o vizinho foi visitar o samurai e contou-lhe o que
tinha visto. Ele levou vá rios cã es para o quarto de sua mã e e abriu a
porta. O gato feiticeiro era impotente sobre os cã es e eles logo o
mataram.
Outra histó ria de um gato malvado refere-se à sua morte por
lechas. Havia um menino samurai que costumava caçar com um arco e
dez lechas. Um dia, ao sair de casa, sua mã e o aconselhou a pegar mais
uma lecha do que de costume. O jovem obedeceu, sem perguntar à
mã e o motivo de tal conselho. Em seguida, ele passou o dia todo sem
ver nenhum jogo, e à noite sentou-se em uma pedra para
descansar. Enquanto ele estava sentado lá , apreciando o pô r do sol
calmo e vendo a lua nascer, de uma forma estranha outra lua apareceu
atrá s dele no oeste. O menino icou surpreso com tal aparê ncia e
imediatamente pensou que deveria ser obra de um espı́rito
maligno. Rapidamente, ele atirou uma lecha na segunda lua, que
causou um impacto; mas a lecha ricocheteou sem causar nenhum
dano. O menino atirou outra lecha, depois uma terceira, uma quarta e
assim por diante até a dé cima, sempre em vã o. No inal, ele colocou a
dé cima primeira no arco e disparou. Instantaneamente houve um grito
e o som de algo caindo no chã o. Ele foi até aquele lugar e encontrou um
gato gigante morto com um espelho em suas garras.
O jovem samurai correu para casa e contou a sua mã e o que tinha
acontecido, e ela disse a ele que naquela manhã ela tinha visto um gato
contando as lechas de seu ilho, entã o o aconselhou a carregar uma
lecha extra, pois o comportamento do gato o atingiu como altamente
suspeito. O gato, aparentemente, tinha um espelho com o qual ele
poderia se proteger contra as dez lechas, mas como ele pensava que
eram apenas dez, ele deixou cair o espelho, sendo atingido pela dé cima
primeira lecha.
"A coruja e a á guia" é outra histó ria popular desse tipo. Era uma vez,
diz ele, vivia uma coruja chamada Eukuro. Ele amava
uma camachuela chamada Use-dori, que morava em outra loresta,
atraı́da pela beleza de suas cançõ es. Fukuro ele consultou seus
seguidores, a torre Kurozaemon a garça Shimbei saber como poderia
obter favores Use-dori. Eles responderam que a jovem rejeitou as
a irmaçõ es da á guia, o Sr. Uye-minu ("Nunca olhando para cima" ou
"Sem medo"), e aconselhou-a a perder a esperança. Mas a coruja nã o
seguir este conselho e enviou uma carta de amor de usar-dori por meio
de Shiju-gara (o grande Manchu herrerillo).
A carta era espirituosa e apaixonada,[84] e Use-dori icou tã o
emocionado que respondeu da seguinte forma:
«Nã o sou digno do teu amor e admiraçã o e nã o desejo despertar o
ciú me dos outros aceitando o teu amor, especialmente os de Uye-
minu. Mas em um futuro distante, quando as lores se abrirem no cé u e
os frutos amadurecerem na terra, nos encontraremos no paraı́so
ocidental de Ainita-Buda. "
Fukuro acreditava que essa resposta fazia alusã o a um encontro
apó s a morte e, portanto, uma rejeiçã o educada de seu amor. Abatido
por esse fracasso e lutando entre sua paixã o e sua determinaçã o de se
resignar, ele de repente encontrou conforto no conselho de uma
divindade que ele adorava. Essa divindade revelou a ele o signi icado
oculto da letra: as lores do cé u eram as estrelas, os frutos da terra
eram o amanhecer e o paraı́so uma capela do Buda Amita localizada na
encosta oeste da montanha. Fukuro, entã o, sentiu-se transportado de
felicidade por esta feliz apresentaçã o e imediatamente foi à capela para
encontrar sua amada.
Os outros pá ssaros souberam desse encontro e escreveram poesias
reclamando da sorte de Fukuro. A partir de tais poemas, a á guia Uye-
minu sabia o que estava acontecendo e voou em uma fú ria
furiosa. Seus servos atacaram os amantes quando os encontraram no
santuá rio de Amita e Fukuro conseguiu fugir, mas Uso-dori foi vı́tima
de violê ncia dos assaltantes.[85]. A coruja Fukuro icou tã o triste com
a morte de sua amada que vestiu uma tú nica moná stica e começou a
viajar pelo paı́s como um monge viajante. Por esta razã o, a coruja é
sempre encontrada nas lorestas pró ximas aos templos budistas.
5. INSETOS, ESPECIALMENTE BORBOLETAS
Capítulo VIII
HISTÓRIAS DE PLANTAS
E FLORES
Capítulo IX
HISTÓRIAS DE ENSINO,
HUMOR E SATIRAS
Quase qualquer histó ria pode ter um propó sito didá tico se o fabulista
for habilidoso, mas, para isso, as histó rias de animais sã o mais e
melhores do que outras. No Japã o, lendas e contos de animais
agradecidos sã o usados especi icamente, uma vez que os japoneses
sempre enfatizam a virtude da gratidã o em primeiro lugar. Sem dú vida,
muitas histó rias desse tipo foram originalmente inventadas para
instilar liçõ es morais, contrastando a inteligê ncia ou astú cia dos
animais com a loucura ou estupidez da humanidade, e o ser humano
ica perplexo porque permite que sua razã o e sua moralidade sejam
superadas pela paixã o ou apetite, e mais frequentemente pelo pecado
da ganâ ncia, como, por exemplo, ica claro pela mulher perversa na
histó ria "O pardal com a lı́ngua cortada", e pelo homem que Escava um
tesouro no caso da raposa vingadora.
Muitos contos tradicionais foram aceitos para ins morais ou
religiosos pelos monges budistas. Gostavam especialmente de histó rias
româ nticas, como as de Komachi ou do Prı́ncipe Genji, para ensinar a
natureza fugaz da beleza fı́sica e o triste carma do amor
româ ntico. Eles també m encontraram muitos meios de pintar os
tormentos causados pelo ó dio, raiva, arrogâ ncia e outras paixõ es
semelhantes em histó rias como as dos tengus, que eram reencarnaçõ es
de guerreiros derrotados, ou do demô nio miserá vel que nã o estava
satisfeito com a vingança. Apesar de desabafar sua animosidade contra
geraçã o apó s geraçã o entre os descendentes de seu inimigo.
Uma das histó rias que certamente foram inventadas para dar uma
liçã o moral é a de "O caçador e os macaquinhos".
Era uma vez um caçador que matou um macaco. Ele o levou para
casa e o pendurou no teto bem em frente à lareira. A noite, ele foi
acordado pelo som de pé s chutando. Ele se sentou na cama e olhou em
volta. De repente, à luz do fogo que se apagava, avistou vá rios
macaquinhos se aquecendo em frente à lareira, e logo em seguida, um
apó s o outro, tentou aquecer o corpo já congelado do macaco
pendurado, abraçando-o. Eles eram, ele achava que entendia, os ilhos
do macaco morto, e seu coraçã o icou tã o profundamente tocado que
ele nunca mais saiu para caçar e buscou outros meios de ganhar a vida.
Um aviso contra a preguiça é encontrado na histó ria de Chin-
chin Ko-bakama ou "The Toothpick Pixies". [98] Era uma vez uma
senhora que nã o fazia nada por si mesma, mandava tudo aos seus
criados. Por outro lado, ele tinha o estranho há bito de esconder todos
os palitos que usava entre os tapetes. Uma noite, enquanto ela dormia
sozinha, ela ouviu um barulho muito perto de seu travesseiro e viu
homenzinhos vestidos com um kamishimo (uma espé cie de
vestimenta com ombreiras quadradas e uma saia
larga, hakama) dançando e cantando ao lado da cama. Seu sono foi
perturbado de forma semelhante em vá rias noites sucessivas. Quando
o marido dela, que estava viajando, voltou para casa alguns dias
depois, ela contou como havia sido perturbada. O marido estava de
guarda naquela noite e quando os goblins apareceram, ele
desembainhou a espada. No momento, todos eles caı́ram sem vida e, ai
de mim! eram apenas palitos de dente usados que a senhora
costumava esconder.
Um conto de ensino mais profundamente signi icativo é a
conhecida histó ria de "O cego que encontrou um elefante", que tenta
demonstrar a loucura das disputas de seita e o perigo de tomar meias-
verdades como verdades absolutas. A histó ria é de origem indiana e
frequentemente contada por professores budistas. Em uma ocasiã o,
vá rios cegos estavam discutindo como era a aparê ncia de um
elefante. Discordando, eles decidiram testar a precisã o de suas
respectivas descriçõ es com um exame em primeira mã o de um elefante
real. Conseqü entemente, eles foram onde nã o havia ningué m e cada
um apalpou o grande animal com as mã os. O primeiro cego apalpou
uma das enormes pernas do proboscidiano e disse que o elefante era
como o tronco de uma á rvore gigante; outro apalpou a tromba e
garantiu que um elefante parecia uma cobra; o terceiro subiu nas
costas do elefante e anunciou que este animal era como uma colina; o
quarto agarrou a cauda e insistiu que um elefante era como um hossu,
um espanador feito de cabelo. A experiê ncia desses cegos nos ensina
que as grandes verdades da existê ncia có smica nunca podem ser
compreendidas por aqueles que as abordam de um ú nico ponto de
vista.
2. A HISTORIA DE BONTENKOKU
Em alguns casos, o propó sito didá tico foi combinado com um vô o
lorido da fantasia. Essa é a histó ria de " Bontenkoku, ou o Reino de
Brahma", que provavelmente data do sé culo XVI. E um dos contos de
fadas mais elaborados do Japã o.
Era uma vez um jovem prı́ncipe de alto escalã o da corte
imperial. Apó s a morte de seus pais, o prı́ncipe dedicou sua mú sica ao
bem-estar espiritual dos mortos,[99] tocando uma lauta famosa
herdada de sua famı́lia. Assim ele passou sete dias, e no oitavo dia,
enquanto ele estava sentado tocando lauta, um banco de nuvens de
uma iridescê ncia roxa apareceu no cé u. As nuvens se aproximavam, e
entre elas o prı́ncipe viu um ser celestial cujo porte era de grande
dignidade, sentado em uma carruagem dourada e auxiliado por belas
iguras angelicais. Este resplandecente sendo dito ao prı́ncipe:
"Eu sou Brahma, o Senhor dos Altos Cé us." A melodia de sua lauta
comoveu todo o meu reino e aprovamos sua piedade ilial e sua
devoçã o religiosa. Eu quero que você se case com minha ú nica ilha; se
você consentir, deve esperar por ela esta noite, quando a lua nascer um
pouco antes da meia-noite.
O prı́ncipe mal podia acreditar na realidade da visã o, mas ao
anoitecer ele arrumou tudo para receber sua noiva celestial, entã o
sentou-se para tocar lauta. De repente, o cé u foi iluminado pela luz
da lua, permitindo ver o banco de nuvens roxas descendo de cima. O ar
estava repleto de perfumes deliciosos, e entre as nuvens estava uma
princesa maravilhosa e encantada. A cerimô nia de casamento foi
realizada com o acompanhamento de uma misteriosa mú sica
celestial. Muito em breve aquele casamento milagroso foi conhecido, e
també m a beleza será ica da noiva que muitos homens a desejavam. O
pró prio imperador invejou o destino do prı́ncipe e decidiu se livrar
dele e tomar a princesa para si. Para fazer isso, ele ordenou ao prı́ncipe
que realizasse vá rios feitos impossı́veis de realizar. Um dia ele disse:
—Como você é genro do Senhor celestial, certamente você pode me
mostrar a dança do pavã o no cé u ao acompanhamento musical de um
rouxinol celestial (kalivinka). Caso contrá rio, você terá que deixar este
paı́s, pois incorrerá em minha raiva.
O prı́ncipe icou incomodado com essa ordem e consultou sua
esposa a respeito. Para a ilha de Brahma foi uma coisa fá cil convocar
aqueles pá ssaros celestiais, que desceram à terra sob sua
invocaçã o. Todos foram enviados para Miyako, onde deliciaram a corte
imperial com a beleza de sua dança e mú sica.
Mais tarde, o imperador ordenou ao prı́ncipe que lhe trouxesse a
ilha do chefe ogro, um dos servos de Brahma. A mulher també m nã o
teve di iculdade em levar a jovem ao Palá cio Imperial, para divertir a
corte com suas roupas multicoloridas e suas estranhas danças. Mais
tarde, o imperador exigiu que os Thunderers fossem apresentados a
ele. Estes chegam no momento, convocados pela princesa. O grito deles
foi tã o terrı́vel que o imperador implorou que se calassem, mas eles
apenas obedeceram ao prı́ncipe, o marido da senhora celestial.
Destemido, o imperador ainda disse ao prı́ncipe:
"Suponho que você possa obter a assinatura de seu sogro junto com
seu selo celestial." Pegue-os para mim ou nã o vou permitir que você
continue morando no meu paı́s.
O prı́ncipe nã o teve escolha a nã o ser subir ao Alto Cé u e pedir ao
sogro sua assinatura e seu selo. Para isso, a princesa fada deu ao
marido um cavalo que o elevou ao cé u. Quando o jovem chegou ao
palá cio de Brahma, Brahma o recebeu com cortê s hospitalidade e o
tratou suntuosamente. Enquanto o prı́ncipe consumia o arroz celestial
que acabara de ser servido, sua atençã o foi atraı́da para uma criatura
de aparê ncia horrı́vel, abatida e faminta, trancada na sala ao
lado. Aquele monstro pediu ao prı́ncipe uma mordida de arroz, o que o
jovem compassivo fez. Assim que aquele ser comeu o arroz, ele rompeu
suas amarras, fugiu da cela e voou para o cé u.
O prı́ncipe, assustado, interessou-se pelo prisioneiro fugitivo e
soube assim que ele era o rei dos demô nios do Mar do Sul, que haviam
tentado prender a ilha de Brahma, por isso o mantiveram amarrado
sem lhe causar nenhum mal. comer. Mas agora, enquanto o arroz
celestial dava poderes milagrosos a quem o comia, o demô nio havia
recuperado sua força anterior e nã o se sabia se os guerreiros de
Brahma poderiam dominá -lo novamente. O caso todo foi
extremamente infeliz, embora parecesse nã o ter mais alteraçõ es, entã o
Brahma deu ao prı́ncipe sua assinatura e seu selo. O jovem correu para
a terra, onde descobriu que o rei demô nio havia levado sua amada
princesa. A partir de entã o, o marido problemá tico orou
continuamente, com lá grimas nos olhos, a Kwannon, a deusa da
piedade, para que sua esposa fosse devolvida a ele. Uma noite,
enquanto ele estava orando no templo de Kwannon, a deusa apareceu
para ele em uma visã o e disse-lhe como ele poderia encontrar o lugar
onde sua esposa estava presa. Seguindo as instruçõ es da deusa, o
prı́ncipe zarpou para o sul.
Depois de navegar milhares e milhares de lé guas, seu barco pousou
em uma praia rochosa. O prı́ncipe desembarcou e começou a tocar sua
lauta. Vá rios demô nios de pele escura foram atraı́dos pelo doce som,
achando a mú sica tã o encantadora que lhe disseram onde a princesa
estava sendo mantida em cativeiro. O prı́ncipe foi lá e ao chegar ao
palá cio fez saber à sua esposa a sua presença atravé s da lauta, ao que
ela respondeu tocando em harmonia com ele, na sua pró pria lauta. O
rei dos demô nios fora chamado para longe dali, saindo em sua
carruagem que podia viajar até trê s mil lé guas em um dia. Os guardas
que guardavam a princesa icaram tã o atraı́dos pela mú sica que nã o
ofereceram oposiçã o quando o prı́ncipe conduziu a princesa para outra
carruagem que o rei demô nio ainda tinha em sua garagem. A
carruagem partiu, mas só podia viajar duas mil lé guas por dia.
Quando os guardas acordaram de seu encantamento e viram que a
princesa havia desaparecido, eles tocaram seus tambores, que
ressoaram por todo o reino dos demô nios, cujo rei, ouvindo aquele
barulho, correu de volta, soube o que havia acabado de acontecer e
correu instantaneamente em busca do casal. Sua carruagem nã o
perdeu tempo em pegar o outro e certamente ele teria agarrado os
prı́ncipes, liberando sua fú ria sobre eles, se os pá ssaros celestiais
nã o tivessem aparecido de repente, levando todos os demô nios para o
fundo de seu submundo. Desta forma, o casal principesco conseguiu se
salvar e voltar para casa.
Diz-se que o prı́ncipe e a princesa sã o o deus e a deusa adorados
na Capela Ama-no-Hashidate e que protegem a humanidade contra as
artimanhas dos demô nios.
3. HUMOR E SATIRA
Na maioria das histó rias de ensino, as coisas mais importantes sã o
enfatizadas pelo exagero dos resultados do mal ou da tolice
humana. Esses exageros costumam ser humorı́sticos ou satı́ricos, e
mesmo à s vezes essas histó rias acabam sendo nada mais do que meros
contos de humor ou humor satı́rico. A histó ria do
Sennin caı́do de Kumé é mais humorı́stica do que seriamente
didá tica, especialmente quando descobrimos que o Sennin se casou
com a mulher que o fez perder seus poderes Sennin. Na histó ria da
Kaguya-hime, estratagemas e invençõ es dos pretendentes a senhora, a
im de fazer as coisas ou deturpar a H ada Lua pede-lhes como
uma condiçã o para o consentimento para o casamento, eles sã o muito
divertidos.
Os motivos humorı́sticos e satı́ricos que encontramos em muitas
lendas e contos foram usados livremente pelos escritores das farsas
conhecidas como K yogen, representadas nas obras Nã o. Daremos
aqui alguns exemplos, e assim, a farsa chamada Zazen ou "Meditaçã o",
[100] tem este argumento:
Um homem queria ver sua amante, mas para isso ele tinha que trair
sua esposa ciumenta. Entã o ela disse a ele que iria se sentar um dia e
uma noite em " Zazen ", um estado de meditaçã o tranquila, e que
durante esse tempo ningué m, nem mesmo ela, deveria entrar em seu
quarto. Mas temendo que sua esposa ainda entrasse, ele ordenou
que seu servo se sentasse em seu lugar e se cobrisse completamente
com um pano muito grande. Em seguida, foi visitar sua amante,
con iando que tudo sairia de acordo com seus desejos. Mas a esposa
estava descon iada demais para icar tanto tempo fora da sala. Ele
abriu a porta e viu um homem sentado, com a cabeça coberta. Quando
ele falou com ela, o homem nã o respondeu, e a mulher, puxando o
pano, descobriu que o homem sentado era o servo e nã o seu
marido. Imediatamente, ele o empurrou e tomou seu lugar, cobrindo-se
exatamente como o servo. Quando na manhã seguinte o marido voltou
da casa da amante, sem suspeitar do que havia acontecido em sua
ausê ncia, contou ao suposto criado tudo o que havia feito com sua
amante. Assim que o agustus foi despachado, a esposa se viu
confrontada com o imenso choque do marido in iel.
Outro Kyogen é chamado de "Os Trê s Deformados". Um homem
rico, extremamente caridoso, anunciou que qualquer homem que fosse
deformado, ou que tivesse perdido a visã o ou a audiçã o, poderia vir à
sua mansã o, onde comeria e seria bem cuidado por toda a vida. Um
vagabundo que tinha apostado toda a sua pequena fortuna, foi
reclamar a caridade do rico, sendo recebido com hospitalidade
ingindo ser cego. O pró ximo a aparecer foi amigo do primeiro
impostor e ingiu ser surdo, e o terceiro passou por aleijado. O caridoso
senhor os acolheu a todos com solicitude, cuidando deles com todo o
carinho. Um dia ele teve que sair de casa e designou os trê s homens
deformados para cuidar da adega onde o vinho, sedas e outros artigos
valiosos eram armazenados. Quando ele se foi, os trê s patifes tiraram
os disfarces e derramaram no vinho, dando-se um verdadeiro
banquete, cantando e dançando. Eles estavam tã o entusiasmados que
até esqueceram que seu benfeitor poderia voltar repentinamente. E de
fato, ele apareceu no meio da festa, encontrando o surdo cantando, o
aleijado dançando e o cego assistindo a dança e mantendo o ritmo com
as mã os. Quando os trê s impostores viram seu protetor diante deles,
tentaram apressadamente adotar seus respectivos disfarces, mas já era
tarde e foram expulsos de casa.
Uma terceira farsa foi intitulada "Vinho da Tia". Um jovem
dissipado sabia que sua tia tinha uma certa quantidade de saquê e
pediu a ela um copo. A tia recusou porque sabia que para o sobrinho
uma bebida signi icava uma sucessã o interminá vel de bebidas. Quando
o jovem percebeu que pela persuasã o nã o conseguiria nada, decidiu
obter a bebida assustando a mulher. Para isso, ele pegou uma má scara
do diabo e, assim, apareceu para ele disfarçado. A tia apavorada
implorou ao chamado demô nio para levar todos os seus suprimentos,
mas deixá -la viva. O jovem imediatamente começou a beber sem tirar a
má scara e à medida que icava mais bê bado a cada bebida, começava a
fazer tantas caretas e contorçõ es que a má scara escorregava. Ao
perceber, colocou-o sobre uma orelha, virando aquele lado do rosto
para a tia, mas ela descon iou do truque, olhou para o diabo e
descobriu o engano. Naturalmente, ele nã o perdeu tempo em expulsar
o sobrinho bê bado de casa.
4. UM TEMPO DE DESCONTENTAMENTO E SATIRA
Houve um tempo especı́ ico em que a sá tira prevaleceu na literatura
japonesa. Abrange a segunda parte do sé culo XVIII e os primeiros anos
do sé culo XIX. Naquela é poca, o governo implementou a censura
literá ria e emitiu vá rias regras suntuá rias, muito irritantes. As
histó rias, contos e romances da é poca sã o obviamente morais e quase
nã o tê m valor literá rio. Mas logo houve uma reaçã o popular, e entã o
houve outro perı́odo de excessiva liberdade de expressã o. Muitos
escritores se refugiaram nele, escondendo um propó sito satı́rico sob
uma seriedade ingida, ou escreveram sarcasmos contra o regime de
forma velada. Apenas nesta classe de obras existe um certo vigor e
originalidade. As produçõ es normais sã o sem vida e tediosas, cheias de
convençã o e literatura arti icial. Entre as obras imaginativas desse
perı́odo, as mais populares foram dois livros de viagens imaginá rias,
cujo autor foi Bakin, o maior escritor do Japã o. Trata-se de Wa SO-Byo-
ye, ou o "Andanças" do japonê s Chuang-Tse, sendo Chuang o taoı́sta
chinê s que sonhava em ter se tornado uma borboleta, e duvidava que
ele tinha transformado em uma borboleta ou uma borboleta tinha
transformado em Chuang; e Muso-Byoye ou "O Homem do
Sonho Visioná rio". O japonê s Chuang-Tse residia em Nagasaki. Certa
vez, ele estava pescando de um barco quando começou a soprar um
forte vendaval e o barco saiu para o mar, sem que ele soubesse para
onde estava indo ou para onde estava. Assim, ele veio para a Terra
da Imortalidade, onde nã o há doenças ou mortes. Todos os seus
habitantes estã o mais do que fartos da vida e rezam constantemente a
Deus para que a morte os prive da vida, ou pelo menos da saú de, mas
tudo é em vã o. O mesmo Wa-Entã o, depois de viver ali ci erto tempo,
ele també m quis morrer, porque a morte é tudo o que se pode
desejar. Assim, ele tentou cometer suicı́dio se atirando de um alto
penhasco, mas seu corpo caiu no chã o tã o suavemente que ele saiu
ileso do transe. Depois, ele tentou se afogar, mas teimosamente lutuou
até a superfı́cie da á gua. Sua ú nica saı́da era fugir para outro reino, o
que ele inalmente conseguiu fazer na garupa de um guindaste.
Isso o levou à Terra da Opulê ncia. Lá o povo ansiava por ser pobre, a
ponto de adorar o deus da Pobreza, enquanto a Riqueza era a
divindade temida. Entã o a garça levou Wa-So para a Terra da Vaidade,
depois para a Terra das Antiguidades, o paı́s cujos habitantes nunca
consentem com a menor mudança, depois para a Terra da Lascı́via e
inalmente para a Terra dos Gigantes. Um deles pegou Wa-So para
examiná -lo e, quando o soltou, voltou para sua casa em Nagasaki. No
esforço de descrever os costumes singulares dos habitantes
desses paı́ses imaginá rios, Bakin soube pintar com grande humor
satı́rico as peculiaridades da vida social de sua é poca.
Na continuaçã o deste livro, Wa-So se cansa de sua vida domé stica e
volta à s suas andanças. Ele vai para o mar e uma tartaruga aparece e
ele a leva em novas aventuras. O primeiro lugar que você leva é a Terra
da Pureza, onde os japoneses acabam se entediando com tanta
limpeza e ordem. Ele escapa de lá e em cima da tartaruga chega à Terra
das Pernas Longas e dos Muito Armados. Lá , os estranhos colonos
nunca pensaram em reduzir suas deformidades por meio
de casamentos mistos, mas Wa-So os induz a fazê -lo. Antes de ter a
oportunidade de ver o resultado deste mé todo, Wa-So tem que
percorrer alguns des iladeiros montanhosos e diversas selvas em
direçã o à Terra da Misé ria; e entã o atravé s de vastos prados sombrios
para a Terra da Audá cia. Outras regiõ es visitadas por ele sã o a Terra do
Ouro e Jó ias e a Terra dos Bá rbaros com Cabelo Comprido e
Orelhas Grandes. Por im, até a Ilha das Mulheres.[101] Ali Wa-So é
calorosamente recebido pelas mulheres que povoam a ilha, pois quase
enlouquecem com a ideia de poder ver e abraçar um ser
masculino. Wa-So é , portanto, o convidado de honra da corte da
Rainha, mas descobre que está em condiçã o de prisioneiro e apressa-
se em tentar fugir. Ao acordar, percebe que suas aventuras nã o
passaram de um sonho.
Muso Byoye, "O Homem dos Sonhos Visioná rios", é guiado em suas
viagens por Urashima, o antigo heró i que era namorado da Princesa
Dragã o. Urashima deu a Muso sua vara e linha de bambu, e Muso fez
uma pipa com elas, com a qual voou pelo ar. O primeiro lugar que visita
é a Terra das Crianças, onde Pai, Mã e e Enfermeira sã o divindades
representadas por imagens, e onde as pessoas nã o fazem nada alé m de
brincar, brigar e chorar. A pipa entã o o leva para a Terra da
Luxú ria. Enquanto Muso é dominado pela luxú ria desavergonhada do
povo, ele perde a pipa e o jovem nã o sabe como pode continuar sua
jornada. Entã o, ele conhece Urashima, que vive como um eremita entre
o povo obsceno, que dá a Muso um barco para ir para a Terra da Bebida
Perpé tua. Mas nã o demora muito para se juntar aos grupos de
bebedores, mas no meio da farra uma enorme á guia o agarra, que o
leva para a Terra da Ganâ ncia. Lá ele reencontra a pipa e nela viaja para
a Terra dos Mentirosos, para a Terra das Paixõ es Nunca Satisfeitas e,
por im, para a Terra das Delı́cias. O rei deste reino é mais uma
vez Urashima e quando Muso já saciou sua sede de prazeres em uma
regiã o tã o feliz, graças a Urashima ele retorna para sua casa no Japã o.
APÊNDICE
O FOLCLORE JAPONES EM CANÇOES TRADICIONAIS
BIBLIOGRAFIA
Abreviações
JRAS.... Jornal da Royal Asiatic Society
MDGO... Mitteilungen der Deutschen Gesellschaft für Natur und
Völkerkunde Ostasiens (Tó quio).
SBE... Livros Sagrados do Oriente.
TASJ.... Transações da Sociedade Asiática do Japão (Yokohama).
TCHR... Transações do Congresso Internacional de História das
Religiões.
TISL.... Transações da Sociedade Japonesa, Londres
TEXTO:% S
Xintoísmo
Rituais Japoneses Antigos. Trad, Sir E. Sat ow, TASJ, vols. vii, ix, 1879,
1881, e continuado por K. Florenz, ib., vol. xxvii, 1899.
Das Shinto Gebet dergrossen Reinigung. H. Wei pert, MGDO, vol. vi,
1897.
Japanese Texts, Primitive and Medieval Ed. With Introd., Notes and
Glossaries de FV Dickins, C. B. 2 vols. Oxford, 1906.
Ko-ji-ki, ou Records of Ancient Matters. T rad. por BH
Chamberlain. Suplemento ao vol. x, TASJ 1883. Indice para N. Walter e
A. Lloyd, ib., 1906.
Sobre o autor
Masaharu Anesaki (1873-1949), també m conhecido sob o pseudô nimo
de " Chofu Anesaki " foi um estudioso intelectual e japonê s,
fundamental no perı́odo do Meiji.
Anesaki é considerado o pai dos estudos religiosos no Japã o, mas
també m escreveu sobre uma ampla variedade de assuntos, incluindo
cultura, literatura e polı́tica. Ele també m foi membro da Comissã o
Internacional de Cooperaçã o Intelectual da Liga das Naçõ es.
Depois de estudar Filoso ia na Universidade Imperial de Tó quio, passou
trê s anos na Europa (1900-1903) com o apoio parcial de Albert Kahn, o
ilantropo francê s. Durante esse tempo, ele estudou com Deu ssen,
Hermann Oldenberg, Gerbe e Albrecht Weber na Alemanha, bem como
Thomas William Rhys Davids na Inglaterra.
Ele passou dois anos (1913-1915) como professor visitante na
Universidade de Harvard, lecionando sobre literatura japonesa e a
vida. As notas de aula desse perı́odo foram expandidas e revisadas e
mais tarde formaram a base para o livro Histó ria da Religiã o Japonesa.
Ele era um budista devoto e seu livro mais conhecido, o Nichiren, trata
desse assunto. Ele també m publicou tı́tulos como "Como o cristianismo
atrai um budista japonê s" (Hibbert Journal, 1905). Ele
traduziu Die Welt als Wille und Vorstellung de Schopenhauer para o
japonê s e foi essencial para a compreensã o mú tua do budismo e da
iloso ia ocidental.
[1] Conhecido em espanhol como Cantar de Heike, é um poema é pico clá ssico da literatura
japonesa, fonte de inú meras lendas, personagens e histó rias que nele se originam. Ele narra o
surgimento da classe guerreira do samurai e sua violenta irrupçã o na polı́tica do paı́s, evocando
també m com saudade a vida cortê s e elegante da capital. Do ponto de vista histó rico, é o relato
literá rio do im de uma era, o perı́odo Heian (792-1185), e do inı́cio de outra, a dos clã s
militares, que durará até a entrada do Japã o no mundo moderno era, em 1868. (N. del T.)
[33] Esta histó ria é contada no Fudo-ki de Hitachi, onde essas duas montanhas sã o
claramente visı́veis.
[34] Ver acima, Cap., I, III.
[35] O nome Nasé pode signi icar "Caro" ou "Nã o tenha ciú mes." Outro nome dado à s vezes
ao homem é Naka-samuta ("o Campo Frio Central"). Azé pode signi icar "Rosto" ou "Meu
caro", e outro nome é Unakami-aze ("A Trilha no Mar"?)
[36] No Japã o antigo, o costume de organizar esta reuniã o entre jovens de ambos os
sexos era o mesmo em todos os lugares. Os poemas trocados entre Nasé e Azé sã o obscuros,
embora signi iquem: "Eu, oh, Azé , te enfeitaria como um pinheiro jovem com pedaços de
câ nhamo pendurados em seus galhos." A resposta: “A maré alta pode te esconder, ó Nasé , mas
eu quero te seguir mesmo que passe por oitenta ilhotas e rochas rochosas.” Por “pedaços de
câ nhamo pendurados” ele se refere a um feitiço usado pelos jovens para unir.
[37] Em uma das versõ es atribuı́das a Hinu-yama no Tango, o homem é um velho que
adota a fada. Muitos homens contestam seus favores, mas todos falham. Esta histó ria,
portanto, se assemelha à da Senhora Brilhante, que é contada mais tarde. Quando
seus pretendentes a insistem em se casar, ela foge para o cé u.
[38] Para uma traduçã o em inglê s, ver BH
Chamberlain, The Classical Poetry of the Japanese, Londres, 1880. A ú ltima parte dessa
traduçã o é reproduzida aqui.
[39] A expressã o japonesa para paixã o forte é "peito
inchado".
[40] Conto famoso do escritor americano Washington Irving. (N. de T.)
[41] Nas costas do Japã o existem vá rios montes que, de acordo com a crença popular, sã o
tantos tú mulos de Urashima. Um deles, perto de Kanagawa, foi usado por Bakin, que escreveu
um "Gulliver" japonê s sobre um pescador que vivia perto do monte. Veja o cap. IX.
[42] Uma versã o é que o menino era ilho natural de Fubito.
[43] Esta histó ria foi dramatizada em uma das peças No, retratando uma visita feita
por Fusazaki, ilho da falecida mulher. A histó ria é contada com mais detalhes por Y. Ozaky em
"O Buda de Cristal".
[44] O homem é Same-bito, "o homem-tubarã o". Cf. Lafcadio Hearn, Shadowings, London,
1900.
[45] Em sâ nscrito: Eka-srga. Cf. Takakusu, The Study of Ekasrga (Hansei Zasshi), 1898, p. 10 e
segs.
[46] Kala, originalmente signi icava "morte", mas neste caso é interpretado como "preto".
[47] A mitologia xintoı́sta antiga fala dos Magatsumi, os espı́ritos malignos, cujo chefe é Oh-
maga-tsumi, o Grande Maligno, cujas hordas sã o servos do Deus Tempestade e seus
descendentes, especialmente o Grande Senhor dos à terra. Mas sua aparê ncia e má s açõ es
nunca foram descritas. Aqueles seres foram completamente ofuscados por demô nios budistas, e
foi Hiraa, o Xintoı́smo pseudo-racionalista revivalista, que ressuscitou o medo desses
malfeitores no 19o sé culo. Mas sua in luê ncia nã o atingiu a mente popular.
[57] O nome castelhano do dond iego carece das caracterı́sticas femininas atribuı́das à
personagem (N. del T.). Suas lores claras, que desabrocham ao anoitecer, sugerem solidã o e
melancolia, o poço simbolizando o temperamento e o trá gico destino da infeliz jovem fada.
[58] Atualmente escrito em caracteres latinos como "Susanoo". Nesse
caso, poré m, manteremos a redaçã o do texto original.
[59] Observe que a histó ria tem semelhanças com a de Susa-no-wo.
Texto original
Tras haber visto las hipó tesis de los actuales expertos, veamos qué nos dicen las
antiguas leyendas
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