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Dimensionamento Estrutural de Poços Profundos em

Betão Armado Inseridos em Maciços Rochosos Fraturados

Miguel Luzia Parrinha

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador: Prof. Doutor Rui Vaz Rodrigues

Júri

Presidente: Prof. Doutor José Joaquim Costa Branco de Oliveira Pedro

Orientador: Prof. Doutor Rui Vaz Rodrigues

Vogal: Prof. Doutor António José da Silva Costa

Outubro 2015
Agradecimentos

Ao meu orientador, o Professor Rui Rodrigues, por todo o apoio, constante disponibilidade e pelos
valiosos conhecimentos transmitidos ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus pais, a quem não consigo agradecer o suficiente por tudo o que fizeram, fazem, e de
certeza continuarão a fazer por mim em tudo na vida, e que fizeram de mim a pessoa que sou hoje.

Ao meu irmão, Gonçalo, que mesmo sem nada dizer é a minha principal fonte de força e vontade.

À Caroline, por me motivar quando estive em baixo, por me aturar nos momentos de maior
ansiedade, por me alegrar e sobretudo por acreditar em mim quando eu próprio não acreditava.

A todos os meus amigos, em especial ao Carvalho, ao Eddy, ao Garcia e ao Vinagre que foram os
meus fiéis companheiros neste percurso, sem eles teria sido mais difícil.

i
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Resumo

Na conceção de poços profundos, de secção circular, revestidos em betão armado, inseridos em


maciço rochoso fraturado, é importante conhecer o comportamento e a repartição das cargas verticais
entre a estrutura de betão e a rocha, de forma a proceder ao dimensionamento estrutural do poço. Com
o propósito de conhecer esta repartição, desenvolve-se, nesta dissertação, um modelo analítico para a
obtenção da repartição da carga entre o betão e o maciço rochoso, que tem por base a consideração
estrutural das recravas existentes na parede da rocha, resultantes da utilização de explosivos na
escavação do poço, sendo que este conjunto recrava-rocha ostenta uma certa rigidez capaz de
absorver parte da carga que atua na estrutura de betão. Apresentam-se uma avaliação e análise de
sensibilidade ao modelo concebido, de forma a entender quais os parâmetros mais influentes no
mesmo. Compara-se de seguida o modelo analítico com um modelo obtido através do método de
elementos finitos, discutindo as diferenças observadas entre ambos. Efetua-se, também, o
dimensionamento estrutural de um poço profundo, de secção circular, de modo a verificar a segurança
do mesmo. Em geral, os resultados apresentados pelo modelo analítico são uma boa aproximação em
relação aos resultados obtidos através do Método de Elementos Finitos (MEF), estando do lado da
segurança, pois ambas as forças máximas de tração e de compressão no betão, fornecidas pelo
modelo se exibem superiores às respetivas forças obtidas pelo modelo concebido pelo método de
elementos finitos.

Palavras-Chave: Repartição de carga; dimensionamento estrutural de poços profundos; maciço


rochoso fraturado; betão armado.

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Abstract

In the design of circular cross-section deep shafts, with a reinforced concrete lining, inserted into a
fractured rock mass, it is important to know the behavior and distribution of vertical loads between the
concrete structure and the rock in order to proceed to the structural design of the shaft. With the
purpose of knowing this distribution it is develop, in this thesis, an analytic model to obtain the load
distribution between the concrete and the rock mass, which is based on the structural consideration of
the existing wedges on the wall of the rock, resulting from the use of explosives in the shaft
excavation, this wedge-rock set presents a certain stiffness capable of bearing part of the actuating
load on the concrete structure. It is presented an assessment and sensitivity analysis of the model in
order to understand which the most influent parameters on it are. Then the analytic model is
confronted with model obtained through the finite element method, discussing the differences between
them. It is performed, also, the structural design of a deep shaft of circular cross-section, in order to
verify the safety of the same. In general, the results presented by the analytic model are a good
approximation to the Finite Elements Method (FEM) results, being on the safe side, since both the
maximum traction and compression forces on the concrete, provided by the model, exhibit themselves
superior to respective strengths obtained by the finite element method model.

Key-Words: Vertical load distribution; structural design of deep shafts; fractured rock masses;
reinforced concrete.

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Índice

Agradecimentos ..................................................................................................................................... i
Resumo.................................................................................................................................................. iii
Abstract .................................................................................................................................................. v
Simbologia .......................................................................................................................................... xiii
1 Introdução ...................................................................................................................................... 1
1.1 Conceitos Gerais .................................................................................................................. 1
1.2 Enquadramento..................................................................................................................... 1
1.3 Objetivos ................................................................................................................................ 2
1.4 Estrutura Temática ............................................................................................................... 2
2 Poços Revestidos em Betão Armado .......................................................................................... 5
2.1 Tipos de Poços ..................................................................................................................... 5
2.2 Escavação de Poços............................................................................................................ 8
2.2.1 Poços Profundos Inseridos em Maciço Rochoso ............................................................ 8
2.3 Generalidades de Sísmica para Grandes Estruturas Subterrâneas .......................... 11
3 Modelo Analítico para Obtenção da Repartição de Carga ...................................................... 13
3.1 Equilíbrio na Situação de Deslizamento ......................................................................... 14
3.2 Deformação do Betão e do Maciço Rochoso ................................................................. 16
3.2.1 Deformação Horizontal do Anel de Betão ..................................................................... 16
3.2.2 Deformação Horizontal do Maciço Rochoso ................................................................. 17
3.2.3 Deformação Vertical do Maciço Rochoso ..................................................................... 22
3.2.4 Deformação Vertical da Parede de Betão ..................................................................... 25
3.3 Rigidez do Conjunto Cunha-Rocha ................................................................................. 26
3.4 Cálculo Analítico da Repartição da Carga Axial ............................................................ 28
4 Avaliação e Análise de Sensibilidade do Modelo .................................................................... 31
4.1 Avaliação do Modelo de Repartição de Carga .............................................................. 31
4.1.1 Comportamento do Conjunto Cunha-Rocha ................................................................. 32
4.1.2 Deformação Vertical da Parede da Rocha .................................................................... 34
4.1.3 Comportamento da Parede em Betão ........................................................................... 35
4.1.4 Rigidez do Conjunto Cunha-Rocha ............................................................................... 36
4.1.5 Cálculo da Repartição de Carga ................................................................................... 38
4.2 Análise de Sensibilidade do Modelo de Repartição de Carga .................................... 42
4.2.1 Força Axial Máxima no Betão ........................................................................................ 43
4.2.2 Força Máxima no Maciço Rochoso ............................................................................... 46
4.2.3 Deslocamento no Topo do Poço ................................................................................... 48

vii
5 Modelo de Barra Simples ............................................................................................................ 53
5.1 Barra Sem Molas ................................................................................................................ 53
5.2 Barra Com Molas ................................................................................................................ 57
6 Modelo do Poço por Elementos de Casca ................................................................................ 65
6.1 Modelação Sem Molas ...................................................................................................... 66
6.2 Modelação Com Molas ...................................................................................................... 70
7 Discussão da Hipótese do Campo de Deslocamentos ........................................................... 79
7.1 Comparação com a Situação Sem Recravas ................................................................ 83
7.2 Comparação com a Situação Com Recravas ................................................................ 85
8 Dimensionamento Estrutural do Poço ...................................................................................... 91
8.1 Verificação da Compressão no Betão ............................................................................. 91
8.2 Verificação da Tração no Betão e Cálculo de Armaduras ........................................... 93
9 Conclusões e Desenvolvimentos Futuros ................................................................................ 97
10 Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 99
Anexos ................................................................................................................................................ 101

viii
Índice de Figuras

Figura 1- Tipos de poços de captação de água (adaptado de www.tratamentodeagua.com.br) ........... 6


Figura 2- Construção de poço de ataque para túnel (retirado de http://seguranca-na-
construcao.dashofer.pt) ........................................................................................................................... 7
Figura 3- Central hidroelétrica com poço de barramentos (adaptado de www.wikienergia.pt) .............. 7
Figura 4- Ilustração dos efeitos dos explosivos nas imediações do poço (adaptado de Silva, 2005) .... 9
Figura 5- Principais fases de escavação com Raise Boring Machine (adaptado de Terratech
Copmany’s Brochure 2011) ................................................................................................................... 10
Figura 6- Escavação com Shaft Boring Machine (de Herrenknecht Copmany’s Brochure 2011) ........ 10
Figura 7 - Representação da superfície de contacto entre maciço rochoso e anel de betão onde se
encontram as recravas .......................................................................................................................... 13
Figura 8 - Equilíbrio de uma recrava isolada......................................................................................... 14
Figura 9- Representação do anel de betão sob pressão exercida pelo maciço ................................... 17
Figura 10- Representação dos anéis de rocha fraturada e não fraturada ............................................ 18
Figura 11- Representação do anel de rocha fraturada e das pressões que nele atuam ...................... 19
Figura 12- Representação do anel de rocha não fraturada e das pressões que nele atuam ............... 20
Figura 13- Representação da degradação de tensões pelo maciço .................................................... 22
Figura 14- Representação e geometria da degradação de tensões na zona rochosa que contem o
poço ....................................................................................................................................................... 23
Figura 15- Representação geométrica da degradação de tensões da segunda zona ......................... 24
Figura 16- Transposição dos deslocamentos horizontais para deslocamentos verticais ..................... 26
Figura 17- Campo de deslocamentos linear da totalidade do poço e diagrama de corpo livre de um
troço do poço ......................................................................................................................................... 29
Figura 18- Equilíbrio de uma recrava isolada........................................................................................ 33
Figura 19 – Gráfico da repartição de carga em função de z ................................................................. 39
Figura 20 – Gráfico de representação dos deslocamentos verticais .................................................... 41
Figura 21 - Força de Adesão em função de z ....................................................................................... 42
Figura 22 - Variação da força axial no betão com Ec (esquerda) e Erf (direita) .................................... 43
Figura 23 - Variação da força axial no betão com t (esquerda) e α (direita) ......................................... 44
Figura 24 - Variação da força axial no betão com número de recravas (esquerda) e µ (direita) ......... 45
Figura 25 - Variação da força axial no betão com Rc (esquerda) e espessura (direita) ....................... 45
Figura 26 - Variação da força no maciço com Ec (esquerda) e Erf (direita) .......................................... 46
Figura 27 - Variação da força no maciço com t (esquerda) e α (direita) ............................................... 47
Figura 28 - Variação da força no maciço com número de recravas (esquerda) e µ (direita) ............... 47
Figura 29 - Variação da força no maciço com Rc (esquerda) e espessura (direita) ............................. 48
Figura 30 - Variação do deslocamento no topo do poço com Ec (esquerda) e Erf (direita) .................. 49
Figura 31 - Variação do deslocamento no topo com t (esquerda) e α (direita)..................................... 49
Figura 32 - Variação do deslocamento no topo com número de recravas (esquerda) e µ (direita) ..... 50
Figura 33 - Variação do deslocamento no topo com Rc (esquerda) e espessura (direita) ................... 51

ix
Figura 34- Diagrama de corpo livre de um troço do poço sem recravas .............................................. 54
Figura 35- Vista de topo da barra vertical concebida pelo MEF ........................................................... 55
Figura 36- Diagrama de esforço axial no betão obtido pelo MEF ......................................................... 55
Figura 37 – Gráfico que representa o esforço axial no betão em função de z (eixo contrário a x) ...... 56
Figura 38 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x) . 57
Figura 39- Diagrama de corpo livre de um troço do poço com recravas .............................................. 58
Figura 40- Troço inicial da barra vertical com molas concebida no SAP2000 ...................................... 59
Figura 41 – Gráfico que representa a força axial no maciço em função de z (eixo contrário a x) ........ 61
Figura 42 – Gráfico que representa a força axial no betão em função de z (eixo contrário a x) .......... 62
Figura 43 – Gráfico que representa a reação total da estrutura em função de z (eixo contrário a x) .. 62
Figura 44 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x) . 63
Figura 45- Secção circular constituída por 20 elementos de casca ..................................................... 66
Figura 46- Vista de topo da modelação de elementos de caca sem molas concebida no SAP2000... 67
Figura 47- Diagrama de tensões verticais no betão obtido pelo MEF .................................................. 67
Figura 48 – Gráfico que representa o esforço axial no betão em função de z (eixo contrário a x) ...... 68
Figura 49 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x) . 69
Figura 50- Deformada do poço e deslocamento no topo (sem molas) ................................................. 69
Figura 51- Troço inicial do poço com molas concebido no SAP2000 ................................................... 71
Figura 52- Diagrama de tensões verticais no betão obtido pela modelação com molas ..................... 73
Figura 53 – Gráfico que representa a força axial no maciço em função de z (eixo contrário a x) ........ 74
Figura 54 – Gráfico que representa a força axial no betão em função de z (eixo contrário a x) .......... 75
Figura 55 – Gráfico que representa a reação total da estrutura em função de z (eixo contrário a x) .. 75
Figura 56- Deformada do poço e deslocamento no topo (com molas) ................................................. 76
Figura 57 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x) . 77
Figura 58- Campo de deslocamentos parabólico da totalidade do poço e diagrama de corpo livre de
um troço do poço ................................................................................................................................... 79
Figura 59 – Gráfico que representa a repartição de carga em função de z ......................................... 81
Figura 60 – Gráfico de representação dos deslocamentos verticais em função de z .......................... 82
Figura 61 – Gráfico que representa o esforço axial no betão em função de z (eixo contrário a x) ...... 84
Figura 62 – Representação dos deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x) ............ 84
Figura 63 – Gráfico da representação da força axial no maciço em função de z (eixo contrário a x) .. 86
Figura 64 – Gráfico que representa a força axial no betão em função de z (eixo contrário a x) .......... 87
Figura 65 – Gráfico que representa a reação total da estrutura em função de z (eixo contrário a x) .. 88
Figura 66 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x) . 88

x
Índice de Quadros

Quadro 1 - Valores de características sugeridos para o betão armado ............................................... 31


Quadro 2 - Valores de características sugeridos para o maciço rochoso ............................................ 31
Quadro 3 - Valores de características sugeridos para a cunha/recrava ............................................... 31
Quadro 4 - Valores sugeridos relativos à degradação de tensões ....................................................... 32
Quadro 5 - Características da secção quadrada equivalente e sobrecarga ......................................... 53
Quadro 6 - Rigidez de cada mola .......................................................................................................... 60
Quadro 7 - Características da secção circular real do poço e sobrecarga ........................................... 65
Quadro 8 - Características da secção de um elemento de casca ........................................................ 65
Quadro 9 - Rigidez de cada mola a cada nível de profundidade .......................................................... 72
Quadro 10 - Valores de tensão de compressão no betão para os três modelos .................................. 92
Quadro 11 - Valores de tensão de tração no betão para os três modelos ........................................... 94
Quadro 12 - Armaduras necessárias em cada modelo ......................................................................... 95
Quadro 13 - Armadura mínima necessária ........................................................................................... 95

xi
xii
Simbologia

Letras Latinas

𝐴 – área do anel de betão

𝐴(𝑧) – área da degradação de tenções em relação à profundidade

𝐴′ (𝑧) – área de rocha mobilizada pela degradação de tensões em relação à profundidade

𝐴1 – área superior mobilizada pela degradação de tensões na zona abaixo da base do poço

𝐴2 – área inferior mobilizada pela degradação de tensões na zona abaixo da base do poço

𝐴3 – área superior mobilizada pela degradação de tensões na zona abaixo da base do poço quando o
anel de betão está isolado

𝐴4 – área inferior mobilizada pela degradação de tensões na zona abaixo da base do poço quando o
anel de betão está isolado

𝐴𝑠 - área de armadura necessária calculada

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 - área de armadura mínima necessária calculada

𝑎𝑣 – coeficiente para a posição da resultante do diagrama de tensões verticais

𝐶1 – coeficiente simplificativo do deslocamento horizontal da face exterior do anel de betão

𝐶2 – coeficiente simplificativo do deslocamento horizontal da face interior do anel de rocha fraturada

𝐷(𝑧) – diâmetro da degradação de tensões em relação à profundidade

𝑒 – espessura do anel de betão

𝐸𝑐 – módulo de elasticidade do betão

𝐸𝑟 – módulo de deformabilidade da rocha não fraturada

𝐸𝑟𝑓 – módulo de deformabilidade da rocha fraturada

𝐸𝑟𝑣 – módulo de deformabilidade vertical da rocha

𝑓(𝑥) – força distribuída na rocha ao longo do poço em função da profundidade

𝑓𝑐𝑑 – valor de cálculo da tensão de rotura do betão à compressão

𝑓𝑐𝑘 – valor característico da tensão de rotura do betão à compressão

𝑓𝑐𝑡𝑑 – valor de cálculo da tensão de rotura do betão à tração

xiii
𝑓𝑐𝑡𝑘,0,05 – valor característico inferior da tensão de rotura do betão à tração

𝑓𝑐𝑡𝑚 - valor médio da tensão de rotura do betão à tração

𝐹𝑡 – força de tração total no betão

𝑓𝑦𝑑 – tensão de cedência do aço

𝐾 – rigidez nominal de uma mola

𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 – rigidez de uma recrava isolada

𝐿 – comprimento do poço

𝐿𝑚 – comprimento de difusão considerado abaixo da base do poço

𝑚 – coeficiente simplificativo

𝑛 – número de recravas por metro vertical

𝑁(𝑥) – força axial no betão em função da profundidade

𝑁𝑐𝑚á𝑥 – força máxima de compressão qua atua no betão em todo o comprimento do poço

𝑁𝑡𝑚á𝑥 – força máxima de tração qua atua no betão em todo o comprimento do poço

𝑃 – carga vertical total aplicada

𝑝 – carga que atua no poço

𝑝𝑏 – pressão horizontal exercida pelo anel de betão no anel de rocha fraturada

𝑝𝑏′ - pressão horizontal exercida pela rocha não fraturada no anel de rocha fraturada

𝑅𝑐 – raio interior do poço

𝑅𝑑 – raio exterior do anel de rocha fraturada

𝑅𝑏 – resultante do diagrama de pressões horizontais

𝑅𝑛 – resultante do diagrama de tensões normais à superfície da cunha

𝑅𝑣 – resultante do diagrama de tensões verticais

𝑅1 – coeficiente simplificativo do deslocamento vertical da parede rochosa na zona do topo até à base
do poço

𝑅2 – coeficiente simplificativo do deslocamento vertical da parede rochosa na zona do abaixo da base


do poço

𝑡 – largura ou espessura de uma cunha

𝑥 – distância na diagonal entre 𝑅𝑛 e o ponto A

xiv
Letras Gregas

𝛼 – ângulo que a cunha faz com a vertical

𝛼𝑐𝑐 – coeficiente que tem em conta os efeitos de longo prazo na resistência à compressão e os
efeitos desfavoráveis resultantes do modo como a carga é aplicada

𝛼𝑐𝑡 – coeficiente que tem em conta os efeitos de longo prazo na resistência à tração e os efeitos
desfavoráveis resultantes do modo como a carga é aplicada

𝛾 - coeficiente parcial de segurança relativo à carga total

𝛾𝑐 – coeficiente parcial de segurança relativo ao betão

𝛿𝑐 – deslocamento horizontal da face exterior do anel de betão

𝛿𝑐,𝑉 (𝑥) - deslocamento vertical relativo à componente horizontal da deformação do anel de betão

𝛿𝑟 – deslocamento horizontal da face interior do anel de rocha fraturada

𝛿𝑟,𝑉 (𝑥) - deslocamento vertical relativo à componente horizontal da deformação da rocha

𝛿𝑟1 – deslocamento horizontal da face exterior do anel de rocha fraturada

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 – deslocamento no topo do poço

𝛿𝑉𝑐 – deslocamento vertical do anel de betão isolado

𝛿𝑉𝑟1 – deslocamento vertical da parede rochosa na zona do topo até à base do poço

𝛿𝑉𝑟1 (𝑥) - deslocamento vertical da parede do maciço na zona que está compreendida entre o início e
o fundo do poço

𝛿𝑉𝑟2 – deslocamento vertical da parede rochosa na zona do abaixo da base do poço

𝛿𝑉𝑟2 (𝑥) - deslocamento vertical da parede do maciço na zona imediatamente posterior ao fundo do
poço

𝛿𝑉2 – deslocamento da zona abaixo da base do poço quando o anel de betão está isolado

𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 – deslocamento vertical total do poço

𝛿(𝑥) - deslocamento em função da profundidade

𝜀𝑉,𝑟 – extensão na rocha em relação à profundidade

𝜃 – ângulo da degradação das tensões

𝜇 – coeficiente de atrito na superfície rocha betão

𝜈𝑟 – coeficiente de Poisson da rocha não fraturada

xv
𝜈𝑟𝑓 – coeficiente de Poisson da rocha fraturada

𝜎𝑐 – tensão de compressão no betão

𝜎𝑐𝑡 – tensão de tração no betão

𝜎𝑛 – tensões normais à superfície da cunha

𝜎𝑣 – tensões verticais na recrava

𝜎𝑉,𝑟 – tensão na rocha a em relação à profundidade

xvi
1 Introdução

1.1 Conceitos Gerais

A Engenharia Civil inclui o projeto e construção de grandes obras geotécnicas, tais como, fundações,
túneis, estabilização e contenção de terras e poços. É sobre estes últimos que se centra esta
dissertação, especialmente, poços circulares revestidos em betão armado.

Os poços são estruturas que podem ter várias finalidades, como por exemplo, aceder a níveis de
elevada profundidade, recolher matéria ou recursos que se encontram no subsolo, realizar sondagens,
servir de apoio a outras grandes obras subterrâneas e, também, com funções de ventilação.

Dependendo da sua finalidade o poço apresenta diferentes características, como o diâmetro, a


profundidade e a espessura do anel de betão. As características apresentadas pelo poço influenciam,
por sua vez, as suas fases construtivas: na escavação, que pode ser feita apenas por perfuração, no
caso de poços de menor diâmetro, ou por explosivos, no caso de poços de maior diâmetro; na aplicação
do betão, que pode ser pré-fabricado, no caso de poços pouco profundos ou com fins de saneamento,
com betão projetado, no caso em que existem grandes diâmetros e profundidade relativamente baixa,
ou betonado in-situ, com possibilidade de pregagens ou ancoragens para poços de grande diâmetro e
de profundidade elevada.

1.2 Enquadramento

A presente dissertação tem como propósito complementar os estudos existentes no campo de poços
profundos de secção circular, com diâmetro interno médio a elevado, revestidos em betão armado, de
elevada profundidade, inseridos em meio rochoso (maciço rochoso fraturado), como por exemplo os
poços de barramentos, criados no âmbito do projeto de centrais hidroelétricas do tipo caverna.

Dado que os poços de profundidades elevadas podem atingir valores da ordem dos 300 metros (ou
superiores), e atendendo, ainda, ao imbricamento entre a estrutura de betão armado e a superfície do
maciço rochoso (quando existente), importa conhecer o comportamento e repartição de cargas verticais
entre a estrutura de betão e o maciço, por forma a proceder ao dimensionamento estrutural do poço.

1
1.3 Objetivos

O objetivo primário desta dissertação é o desenvolvimento de um modelo analítico para obtenção da


repartição de carga entre maciço rochoso e estrutura em betão armado no caso de poços profundos;
para tal recorrer-se-á às teorias e estudos de diferentes autores.

Ir-se-á, também, conceber um estudo da influência de diferentes parâmetros, tais como o módulo de
deformabilidade do maciço rochoso, nível de "rugosidade" da superfície de contacto rocha-betão,
coeficiente de atrito entre as superfícies do betão e maciço rochoso, através de uma análise de
sensibilidade, por forma a observar o impacto destes nos resultados finais do modelo desenvolvido.
Comparam-se, em seguida, os resultados fornecidos pelo modelo com os resultados obtidos, num poço
com as mesmas características, analisado com recurso ao software de elementos finitos SAP2000,
efetuando, posteriormente, o dimensionamento estrutural.

1.4 Estrutura Temática

Esta dissertação encontra-se estruturada em 9 capítulos, incluindo este primeiro capítulo


correspondente à introdução.

O segundo capítulo apresenta aspetos fundamentais à melhor compreensão do tema, nomeadamente:


sobre os tipos de poços e as suas funcionalidades, com especial incidência para os poços profundos;
sobre diferentes métodos de escavação, particularizando a escavação de poços profundos,
apresentando vantagens e desvantagens dos vários métodos.

No terceiro capítulo, desenvolve-se o modelo analítico de repartição de carga vertical entre a estrutura
de betão e o maciço rochoso, bem como a definição de todos os processos que permitem a obtenção
deste modelo.

O capítulo 4 divide-se em duas partes: na primeira parte é testado o modelo analítico, obtido no terceiro
capítulo, num caso geral de um poço profundo, com determinadas características físicas e geométricas,
inserido num maciço rochoso fraturado, sendo também apresentados comentários aos resultados
obtidos através do modelo; na segunda parte é efetuada a análise de sensibilidade dos resultados
obtidos na primeira parte, quando se variam alguns dos mais importantes parâmetros físicos e
geométricos da estrutura em questão, com o propósito de analisar a influência dos mesmos no modelo.

No quinto capítulo, desenvolve-se um modelo do Método dos Elementos Finitos (MEF), de uma barra
vertical simples com secção quadrada equivalente, comparando-se os resultados obtidos com os do
modelo analítico.

2
No capítulo 6 é elaborado um modelo numérico (MEF) através de elementos de casca com
características idênticas ao do quarto capítulo, de forma a comparar os resultados obtidos pelo modelo
analítico e pelo modelo de barra com os resultados fornecidos, apresentando-se, também, os
comentários relativos a essa comparação.

No capítulo 7 é adotada uma nova hipótese para o campo de deslocamentos admitido no modelo
analítico, com o objetivo de aproximar os seus resultados aos resultados fornecidos pelo modelo de
SAP2000.

O oitavo capítulo apresenta o dimensionamento estrutural do poço, que inclui as verificações de


segurança do betão à compressão e à tração e, ainda, o cálculo das armaduras a adotar no poço.

No nono e último capítulo são expostas as conclusões e considerações finais da presente dissertação
relativamente à estrutura do modelo e sua viabilidade, bem como sugestões para desenvolvimentos
futuros sobre este tema.

3
4
2 Poços Revestidos em Betão Armado

Um poço define-se como uma estrutura vertical subterrânea, feita pelo Homem através de escavação,
com o intuito de atingir diferentes níveis de profundidade do solo, por forma a aceder e transportar algo
que é inacessível à superfície do terreno.

A adoção de revestimento em betão armado para um poço pode trazer várias vantagens, como a
possibilidade de reforço de zonas de rocha “fraca”, controlo de infiltrações de água ao longo do poço,
prevenção da erosão da rocha, prevenção de instabilidade do maciço e até vantagens económicas por
ser menos oneroso que um revestimento em aço (ASCE, 1989).

2.1 Tipos de Poços

É possível caracterizar um poço em relação aos seus atributos geométricos (forma da secção,
profundidade, espessura do betão), ao meio em que se encontra inserido (solo brando, solo rochoso),
e, mais comummente, à sua funcionalidade.

Os poços mais frequentemente construídos são os poços para captação de água que se encontra
armazenada em aquíferos, que podem ser poços escavados com recurso a pás ou retroescavadoras
(método pouco utilizado nos dias de hoje) ou podem ser poços perfurados com recurso a trados. Estes
podem variar entre diferentes gamas de profundidade (desde poços rasos até poços de elevada
profundidade) dependendo do nível a que se encontra a água. É possível, ainda, dividi-los em três tipos
de poços (fig. 1): artesianos, que são poços normalmente profundos, tubulares de pequeno diâmetro
(10 a 20 cm), em que a pressão da água é suficiente para a sua subida à superfície; em poços semi-
artesianos, que apresentam as mesmas características dos anteriores, mas cuja pressão da água não
é suficiente para a sua subida à superfície, necessitando instalação de equipamento para efetuar o
bombeamento da água; e, ainda, em poços freáticos que se denominam como poços rasos ou pouco
profundos (profundidades entre 3 e 20 metros), de diâmetro médio (1 a 2 metros), carecendo, também
estes, de equipamento de bombagem para trazer a água à superfície (Júnior, 2014).

5
Figura 1- Tipos de poços de captação de água (adaptado de www.tratamentodeagua.com.br)

No campo da captação de petróleo, é indispensável a utilização de poços de grande profundidade, pois


esta matéria-prima localiza-se sob vários estratos de solo. Usualmente os poços de petróleo são
profundos, de diâmetros pequenos, e, normalmente, revestidos com calda de cimento com o objetivo
de salvaguardar o trilho perfurado. Podem ser poços exploratórios, que visam a descoberta de novas
jazidas de petróleo, ou poços de extração, que servem para o transporte do petróleo até à superfície
(Mian, 1992).

Na área da prospeção geotécnica, é também comum a utilização de poços para a realização de


sondagens e recolha de amostras a maiores profundidades, com o objetivo de avaliar em profundidade
as características do solo, e, a menores profundidades, com um diâmetro maior que permite a
observação direta do solo e a realização de ensaios in-situ e testes de tensão (Plumb & Hickman, 1985).

Durante a construção de alguns túneis, particularmente em áreas urbanas, existe a necessidade da


abertura de poços (revestidos a betão armado ou projetado) (fig. 2), que podem variar de pequenas a
grandes profundidades e com um diâmetro normalmente médio a elevado, de modo a facultar acesso
vertical até ao nível das operações no túnel. Estes poços podem ser temporários ou permanentes: os
primeiros são utilizados durante os trabalhos de construção e, no fim destes, o poço é aterrado e
coberto; já os poços permanentes, no final da construção, tornam-se parte integral da estrutura do
túnel, tendo várias possibilidades de utilização como ventilação, bombeamento de águas ou podem,
ainda, ser alargados e transformados em estações, como no caso dos metropolitanos (Jenny, 1996).

6
Figura 2- Construção de poço de ataque para túnel (retirado de http://seguranca-na-construcao.dashofer.pt)

Também no projeto de centrais hidroelétricas do tipo caverna é necessária a construção de poços de


elevada profundidade, e de grandes diâmetros, revestidos em betão armado. Estes são designados de
poços de barramentos, e têm como principal função o transporte de energia desde a central localizada
a uma cota baixa até à subestação que se encontra em níveis superiores (fig. 3), sendo também
utilizados para transporte de pessoas e ventilação; portanto, estes poços alojam os barramentos, que
transportam a energia produzida, cabos e também elevadores e/ou escadas.

Figura 3- Central hidroelétrica com poço de barramentos (adaptado de www.wikienergia.pt)

7
2.2 Escavação de Poços

Os métodos de escavação utilizados para a abertura de poços dependem, em grande parte, de três
principais condicionantes: a profundidade do poço, o diâmetro do poço e, ainda, o tipo de solo.

Para solos fracos, o método de escavação usualmente utilizado é a escavação com recurso a uma
escavadora com guindaste e balde (Jenny, 1996). Os poços temporários são, normalmente, revestidos
com anéis de betão pré-fabricados, de várias dimensões preconizadas, que são colocados em
conformidade com a escavação. No caso dos poços permanentes, estes terão um revestimento final
em betão armado, mas no decorrer da escavação podem ser utilizados vários tipos de sistemas de
contenção das paredes do poço, tais como perfis de aço cravados no solo, o congelamento do solo
(Shuster, 1985) e paredes de lamas bentoníticas (Xanthakos, 1979).

No caso de terrenos de fundação, como rochas, existem, por um lado, métodos mais convencionais
como a simples perfuração (diâmetros de poço pequenos), perfuração e uso de explosivos (diâmetros
elevados) e, ainda, o método Alimak (Lashgari et al, 2011); por outro lado, existem recentes métodos
mecanizados de perfuração rotativa pelo uso de Raise Boring Machine e Shaft Boring Machine, que
são capazes de atingir profundidades elevadíssimas (Ozdemir, 1986).

2.2.1 Poços Profundos Inseridos em Maciço Rochoso

A escavação de poços profundos e de diâmetro elevado inseridos em maciços rochosos é, usualmente,


executada através dos métodos de perfuração e uso de explosivos, método Alimak e perfuração rotativa
por Raise Boring Machine e Shaft Boring Machine.

O método de perfuração com explosivos consiste em duas fases principais que se executam em ciclos
de 5 em 5 metros e é aplicável a todas as operações de escavação de poços (Grieves, 1996); primeiro,
a escavação por recurso a métodos de perfuração por percussão ou por rotação, seguida da detonação
de explosivos dispostos na escavação já efetuada. Dependendo do diâmetro requerido para o poço,
podem ser efetuadas uma ou mais perfurações para a colocação dos explosivos. Segundo Hartmann
(1992), a ação dos explosivos provoca fortes vibrações e libertação de gases que causam o
fraturamento do maciço rochoso nas imediações do poço (fig. 4), sendo, ainda, que a parede do maciço
no diâmetro apresenta uma superfície irregular, irregularidades essas que se denominam como
recravas ou cunhas.

8
Figura 4- Ilustração dos efeitos dos explosivos nas imediações do poço (adaptado de Silva, 2005)

O método Alimak é semelhante ao anterior, consistindo em ciclos de cinco fases distintas: perfuração,
disposição dos explosivos, detonação, ventilação e descamação. Este método pode ser utilizado em
escavações superiores a 200 metros de profundidade, e oferece soluções de diâmetros desde 1,8 até
6 metros (Ferreira, 2005).

Os dois métodos acima descritos apresentam as vantagens de serem, também, aplicáveis a poços
pouco profundos, têm um baixo custo, em comparação com outros métodos, e são passiveis de serem
aplicados a todos os tamanhos e ângulos; como inconvenientes, surgem o ambiente pouco seguro na
operação, a produção de ruídos, poeiras e vibrações indesejados, são métodos de demorado tempo
de execução e requerem sempre sistemas de ventilação.

Raise Boring Machine é uma máquina automatizada para efetuar escavações até 1260 metros de
profundidade e com uma gama de diâmetros que pode variar desde 0,7 até 7,1 metros (Ferreira, 2005).
Esta máquina é instalada no topo do sítio da escavação e, com uma cabeça de rompimento pequena,
executa uma perfuração preliminar até um nível requerido, aí ocorre a troca para uma cabeça
ramificada com o diâmetro requerido, efetuando-se, de seguida, a escavação de baixo para cima, sendo
que a máquina puxa a cabeça ramificada para cima, com um movimento rotativo em simultâneo, de
forma a realizar um buraco circular na rocha (fig. 5) (Ozdemir, 1986).

9
Figura 5- Principais fases de escavação com Raise Boring Machine (adaptado de Terratech Copmany’s Brochure 2011)

Shaft Boring Machine é uma máquina exclusiva para a escavação de poços profundos verticais, com
diâmetros até 8,5 metros (Ozdemir, 1986). Ao contrário do método anterior, este realiza a escavação
de cima para baixo, mas igualmente com recurso a perfuração rotativa (fig. 6).

Figura 6- Escavação com Shaft Boring Machine (de Herrenknecht Copmany’s Brochure 2011)

10
Estes dois métodos possuem algumas desvantagens como o facto de apresentarem um elevado custo
por metro, o tamanho dos diâmetros e profundidade são pré-definidos, requerem um terreno de
condições estáveis e escavam somente em linha reta; por outro lado, exibem um baixo tempo de
execução, são métodos muito seguros, não necessitam de sistemas de ventilação e, como não está
envolvida a utilização de explosivos, não existem todos os aspetos negativos relacionados com a
detonação (ruído, poeiras, vibrações excessivas).

2.3 Generalidades de Sísmica para Grandes Estruturas Subterrâneas

As estruturas subterrâneas, como túneis ou poços, são menos suscetíveis a danos quando expostas a
um evento sísmico, em comparação com estruturas superficiais. No entanto, alguns estudos como o
de Yoshida e Nakamura (1996), Sharma e Judd (1991), Power et al (1998), apresentam vários casos
de estruturas subterrâneas, construídas sem incluírem efeitos sísmicos, que sofreram danos na sua
estrutura; já no caso da primeira estrutura subterrânea projetada tendo em consideração o efeito da
ação sísmica, o sistema BART (Kuesel, 1969), ou seja, a via de trânsito rápido da área da baía de San
Francisco, CA, E.U.A., que consiste numa série de túneis e estações, não sofreu qualquer dano
aquando do sismo de Loma Pietra em 1989 (Hashash et al, 2001). Isto assinala a importância da
consideração dos efeitos sísmicos em estruturas subterrâneas de grande comprimento.

11
12
3 Modelo Analítico para Obtenção da Repartição de Carga

No presente capítulo apresenta-se um modelo analítico para obtenção da repartição de carga entre o
maciço rochoso e o anel de betão. Esta repartição de carga é possível por intermédio de
cunhas/recravas (fig. 7), existentes na parede rochosa que resultam da utilização de um método de
escavação com recurso a explosivos, que têm capacidade de suportar parte das cargas atuantes no
betão. Em conjunto com o maciço rochoso, as recravas exibem um comportamento do tipo mola e
apresentam uma certa rigidez, e é através desta rigidez que se pretende determinar qual a carga
absorvida quer pelo maciço rochoso quer pelo betão. De modo a calcular esta rigidez é, primeiro,
necessário o cálculo de todos os deslocamentos associados.

Figura 7 - Representação da superfície de contacto entre maciço rochoso e anel de betão onde se encontram as recravas

Como hipóteses simplificativas admite-se que as recravas são semelhantes entre si ao longo do poço,
com uma largura 𝑡 e de ângulo 𝛼 com a vertical, e, ainda, que as características do maciço rochoso
não variam com a profundidade, em conformidade com o indicado na figura 7. Admite-se ainda que a
betonagem é feita de baixo para cima e toda de uma só vez.

13
3.1 Equilíbrio na Situação de Deslizamento

O deslocamento entre betão e superfície rochosa dá-se pelo deslizamento do primeiro sobre o segundo,
sendo possível determinar, nesta situação, a relação entre as tensões normais e as tensões tangenciais
presentes.

Recorrendo ao equilíbrio, tem-se a situação representada na figura 8.

Figura 8 - Equilíbrio de uma recrava isolada

Recorrendo ainda às três equações de equilíbrio fundamentais:

∑𝐹𝐻 = 0 <=> 𝑅𝑛 × cos 𝛼 − 𝜇 × 𝑅𝑛 × sin 𝛼 − 𝑅𝑏 = 0 (3.1)

∑𝐹𝑉 = 0 <=> 𝑅𝑛 × sen 𝛼 + 𝜇 × 𝑅𝑛 × cos 𝛼 − 𝑅𝑣 = 0 (3.2)

𝑡 𝑡
∑𝑀𝐴 = 0 <=> − 𝑅𝑛 × 𝑥 + 𝑅𝑣 × + 𝑅𝑏 × =0 (3.3)
𝑎𝑣 2 × tan 𝛼

Em que,

14
𝑅𝑣 – resultante do diagrama de tensões verticais (𝜎𝑣 ) (KN/m);

𝑅𝑏 – resultante do diagrama de pressões horizontais (𝑝𝑏 ) (KN/m);

𝑅𝑛 – resultante do diagrama de tensões normais à superfície da cunha (𝜎𝑛 ) (KN/m);

𝜇 – coeficiente de atrito na superfície rocha betão;

𝑡 – largura ou espessura de uma cunha (m);

𝑎𝑣 – coeficiente para a posição da resultante do diagrama de tensões verticais;

𝑥 – distância na diagonal entre 𝑅𝑛 e o ponto A (m);

𝛼 – ângulo que a cunha faz com a vertical (º).

Sendo 𝑅𝑣 conhecido, pois é a resultante do diagrama de tensões aplicadas numa recrava que advém
da carga vertical total aplicada (peso próprio e sobrecargas do betão), 𝑃, como exprimido na equação
(3.4), e 𝜇, 𝑡, 𝑎𝑣 e 𝛼 constantes dependentes apenas das características da rocha, restam, então, três
incógnitas (𝑥, 𝑅𝑏 e 𝑅𝑛 ) para três equações de equilíbrio (observar 𝑅𝑐 , raio interior do poço, e a espessura
do mesmo, 𝑒, na figura 9). Sabe-se que:
𝑡
𝑃 = 2 × 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒 + ) × 𝑅𝑣 <=>
𝑎𝑣
𝑃
𝑅𝑣 = 𝑡 (3.4)
2 × 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒 + )
𝑎𝑣

Da equação (3.2):

𝑅𝑣
𝑅𝑛 = (3.5)
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼)

Substituindo (3.5) em (3.1) e resolvendo em ordem a 𝑅𝑏 ,

𝑅𝑣 𝑅𝑣
𝑅𝑏 = × cos 𝛼 − × 𝜇 × sin 𝛼 (3.6)
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼) (sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼)

Simplificando (3.6),
(cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼)
𝑅𝑏 = 𝑅𝑣 × (3.7)
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼)

Por último, substituindo (3.5) e (3.7) em (3.3) obtém-se,

15
𝑅𝑣 𝑅𝑣 × 𝑡 (cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼) 𝑡
− ×𝑥+ + 𝑅𝑣 × × =0
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼) 𝑎𝑣 (sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼) 2 × tan 𝛼

Resolvendo a equação acima em ordem a 𝑥:

𝑅𝑣 × 𝑡 (cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼) 𝑡
+ 𝑅𝑣 × ×
𝑎𝑣 (sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼) 2 × tan 𝛼
𝑥=
𝑅𝑣
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼)

Simplificando:

sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 cos 2 𝛼 𝜇 × cos 𝛼


𝑥 =𝑡×( + − ) (3.8)
𝑎𝑣 2 × sin 𝛼 2

É, ainda, possível obter a pressão horizontal imposta pelo betão ao maciço rochoso, através da
seguinte expressão:

𝑅𝑏 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼


𝑝𝑏 = 𝑡 = 𝑅𝑣 × (sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 ) × 𝑡 (3.9)
tan 𝛼

3.2 Deformação do Betão e do Maciço Rochoso

3.2.1 Deformação Horizontal do Anel de Betão

Analisando o anel de betão, observa-se que sobre este atua uma pressão radial, 𝑝𝑏 , exercida pela
rocha (figura 9). Esta pressão causa um deslocamento, também radial e simétrico em relação ao eixo,
em todo o anel. Este deslocamento pode ser determinado apenas com recurso às propriedades do anel
de betão, admitindo a hipótese das paredes finas:

𝑝𝑏 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
𝛿𝑐 = × (𝑅𝑐 + 𝑒) <=>
𝑒 × 𝐸𝑐

cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 (𝑅𝑐 + 𝑒)2


𝛿𝑐 = [𝑅𝑣 × ( )× ]× (3.10)
sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 𝑒 × 𝐸𝑐

Em que,

16
𝑅𝑐 – raio interior do poço (m);

𝑒 – espessura do anel de betão (m);

𝐸𝑐 – módulo de elasticidade do betão (MPa).

Figura 9- Representação do anel de betão sob pressão exercida pelo maciço

3.2.2 Deformação Horizontal do Maciço Rochoso

Como se pode verificar na figura 10, envolvendo o anel de betão encontra-se uma zona de rocha
fraturada devido à ação dos explosivos utilizados na fase de escavação, ou seja, a aplicação deste
método de escavação causa fendas na parte rochosa situada nas imediações do poço. É possível
definir esta zona fraturada como um anel de raio interior 𝑅𝑐 + 𝑒 e raio exterior 𝑅𝑑 . Na periferia desta
zona de rocha fraturada encontra-se rocha sã, ou não fraturada, pois esta zona do maciço rochoso já
não foi afetada pela agressividade do método de escavação. Admite-se, também, esta zona como um
anel de raio interior 𝑅𝑑 e de raio exterior dez vezes superior a 𝑅𝑑 .

17
Figura 10- Representação dos anéis de rocha fraturada e não fraturada

No anel de rocha fraturada atuam, interiormente, uma pressão exercida pelo betão de valor 𝑝𝑏 , e
exteriormente uma pressão exercida pelo anel de rocha não fraturada de valor 𝑝𝑏′ , em conformidade
com a figura 11. Estas pressões causam deslocamentos radiais neste anel. Para determinar estes
deslocamentos recorreu-se à expressão de deformação radial simétrica, em relação a um eixo para
peças espessas sujeitas a pressões interiores e exteriores, proposta por Timoshenko (1940), que se
pode adaptar à rocha fraturada. Determinam-se, então, as expressões dos deslocamentos na face
interior (𝛿𝑟 ) e na face exterior (𝛿𝑟1) do anel:

1 − 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑝𝑏 − 𝑅𝑑2 × 𝑝𝑏′ 1 + 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑2 × (𝑝𝑏 − 𝑝𝑏′ )
𝛿𝑟 = × × (𝑅𝑐 + 𝑒) + × 2 (3.11)
𝐸𝑟𝑓 𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 𝐸𝑟𝑓 (𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × (𝑅𝑐 + 𝑒)

1 − 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑝𝑏 − 𝑅𝑑2 × 𝑝𝑏′ 1 + 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑2 × (𝑝𝑏 − 𝑝𝑏′ )
𝛿𝑟1 = × × 𝑅𝑑 + × (3.12)
𝐸𝑟𝑓 𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 𝐸𝑟𝑓 (𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × 𝑅𝑑

Em que;

𝐸𝑟𝑓 – módulo de deformabilidade da rocha fraturada (MPa);

𝑅𝑑 – raio exterior do anel de rocha fraturada (m);

18
𝜈𝑟𝑓 – coeficiente de Poisson da rocha fraturada.

Figura 11- Representação do anel de rocha fraturada e das pressões que nele atuam

No que diz respeito ao anel de rocha sã, neste é atua apenas uma pressão interior (𝑝𝑏′ ) exercida pela
rocha fraturada (figura 12), que causa mais uma vez deslocamentos radiais no anel. Segundo
Timoshenko (1940), é possível definir o deslocamento na face interior do anel de rocha sã, que será,
por compatibilidade, igual ao deslocamento da face exterior da rocha fraturada (𝛿𝑟1):

𝑅𝑑 × 𝑝𝑏′ 𝑅𝑑2 + (10 × 𝑅𝑑 )2


𝛿𝑟1 = ×[ + 𝜈𝑟 ] <=>
𝐸𝑟 (10 × 𝑅𝑑 )2 − 𝑅𝑑2

𝑅𝑑 × 𝑝𝑏′ 101
𝛿𝑟1 = ×[ + 𝜈𝑟 ] (3.13)
𝐸𝑟 99

Em que,

𝐸𝑟 – módulo de deformabilidade da rocha não fraturada (MPa);

𝜈𝑟 – coeficiente de Poisson da rocha não fraturada.

19
Figura 12- Representação do anel de rocha não fraturada e das pressões que nele atuam

De modo a serem conhecidos todos os elementos para os cálculos de 𝛿𝑟 e 𝛿𝑟1, é necessário, ainda,
definir a pressão 𝑝𝑏′ . Para definir esta pressão igualar-se-ão as expressões do deslocamento da face
exterior do anel de rocha fraturada (equação (3.12)) e o deslocamento da face interior do anel de rocha
não fraturada (equação (3.13)) que, por compatibilidade, são iguais:

1 − 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑝𝑏 − 𝑅𝑑2 × 𝑝𝑏′ 1 + 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑2 × (𝑝𝑏 − 𝑝𝑏′ ) 𝑅𝑑 × 𝑝𝑏′ 101
× 2 2
× 𝑅𝑑 + × 2 2
= ×[ + 𝜈𝑟 ]
𝐸𝑟𝑓 𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒) 𝐸𝑟𝑓 (𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒) ) × 𝑅𝑑 𝐸𝑟 99

1 − 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑝𝑏 × 𝑅𝑑 1 − 𝜈𝑟𝑓 𝑅𝑑3 × 𝑝𝑏′ 1 + 𝜈𝑟𝑓


<=> × 2 ′ − × 2 +
𝐸𝑟𝑓 2
(𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒) ) × 𝑝𝑏 𝐸𝑟𝑓 (𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × 𝑝𝑏′ 𝐸𝑟𝑓
(𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 × 𝑝𝑏 1 + 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 × 𝑝𝑏′ 𝑅𝑑 101
× − × = ×[ + 𝜈𝑟 ]
(𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × 𝑝𝑏′ 𝐸𝑟𝑓 (𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × 𝑝𝑏′ 𝐸𝑟 99

(𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 𝑝𝑏
<=> 2 2
× ′ × ((1 − 𝜈𝑟𝑓 ) + (1 + 𝜈𝑟𝑓 ))
𝐸𝑟𝑓 × (𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒) ) 𝑝𝑏
𝑅𝑑 101 1
= ×[ + 𝜈𝑟 ] + 2
𝐸𝑟 99 𝐸𝑟𝑓 × (𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 )
× [(1 − 𝜈𝑟𝑓 ) × 𝑅𝑑3 + (1 + 𝜈𝑟𝑓 ) × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 ] <=>

20
𝑝𝑏′ =
= 𝑝𝑏
2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 (3.14)
×
𝐸𝑟𝑓 101
× 𝑅𝑑 × (𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × [ + 𝜈𝑟 ] + [(1 − 𝜈𝑟𝑓 ) × 𝑅𝑑3 + (1 + 𝜈𝑟𝑓 ) × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 ]
𝐸𝑟 99

Por razões de simplificação de notação, define-se:

𝑚=
2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 (3.15)
=
𝐸𝑟𝑓 101
× 𝑅𝑑 × (𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × [ + 𝜈𝑟 ] + [(1 − 𝜈𝑟𝑓 ) × 𝑅𝑑3 + (1 + 𝜈𝑟𝑓 ) × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 ]
𝐸𝑟 99

Assim:

𝑝𝑏′ = 𝑝𝑏 × 𝑚 (3.16)

Posto isto substituindo (3.16) em (3.11):

1 − 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑝𝑏 − 𝑅𝑑2 × 𝑝𝑏 × 𝑚 1 + 𝜈𝑟𝑓 (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑2 × (𝑝𝑏 − 𝑝𝑏 × 𝑚)


𝛿𝑟 = × × (𝑅𝑐 + 𝑒) + ×
𝐸𝑟𝑓 𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 𝐸𝑟𝑓 (𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × (𝑅𝑐 + 𝑒)

𝑝𝑏
<=> 𝛿𝑟 =
𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2
1 − 𝜈𝑟𝑓 1 + 𝜈𝑟𝑓
×[ × [(𝑅𝑐 + 𝑒)3 − 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × 𝑚] + × 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × (1 − 𝑚)]
𝐸𝑟𝑓 𝐸𝑟𝑓

Tendo, ainda, em conta a equação (3.9), reescreve-se:

cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 1


𝛿𝑟 = [𝑅𝑣 × ( )× ]× 2
sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2
1 − 𝜈𝑟𝑓 1 + 𝜈𝑟𝑓
×[ × [(𝑅𝑐 + 𝑒)3 − 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × 𝑚] + × 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) (3.17)
𝐸𝑟𝑓 𝐸𝑟𝑓

× (1 − 𝑚)]

Fica, desta maneira, totalmente definida a expressão para o deslocamento horizontal da face interior
do anel de rocha fraturada, que já contabiliza o efeito da pressão exercida pela rocha não fraturada
através do parâmetro 𝑚.

21
3.2.3 Deformação Vertical do Maciço Rochoso

Para a determinação da deformação da parede rochosa, considera-se que existe uma degradação de
tensões, atuantes no betão, que se dispersa pelo maciço de forma cónica (figura 13).

Figura 13- Representação da degradação de tensões pelo maciço

É necessário diferenciar duas zonas, em profundidade, da rocha: primeiro, a zona que está
compreendida entre o topo e a base do poço; segundo, a zona imediatamente abaixo da primeira, e
que lhe serve de suporte. Esta necessidade provém do facto de a primeira zona ser onde se localiza o
poço e devido a esse facto apresenta condições diferentes da segunda zona.

Na primeira zona, podemos definir o diâmetro da degradação de tensões, bem como a área da mesma
em relação à profundidade z, como é possível verificar na figura 14, da seguinte forma:

𝐷(𝑧) = 2 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡) (3.18)

𝐴(𝑧) = 𝜋 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡)2 (3.19)


Sendo,

𝑧 – profundidade, a partir da superfície do solo (m);

𝑅𝑐 – raio interior do poço (m);

22
𝑒 – espessura do anel de betão (m);

𝑡 – largura ou espessura de uma cunha (m);

𝜃 – ângulo da degradação das tensões (º).

Figura 14- Representação e geometria da degradação de tensões na zona rochosa que contem o poço

No entanto, a expressão acima (3.19) não representa a área que recebe tensões, pois nesta primeira
zona encontra-se o poço, sendo a área do mesmo desprovida de rocha, portanto conclui-se que a área
mobilizada pelas tensões é:

(2 × 𝑅𝑐 + 2 × 𝑒)2
𝐴′ (𝑧) = 𝜋 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡)2 − 𝜋 × <=>
4

𝐴′ (𝑧) = 𝜋 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡)2 − 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 (3.20)

Define-se, então, a tensão a uma profundidade z como:

𝑃
𝜎𝑉,𝑟 = (3.21)
𝐴′ (𝑧)

E a extensão a uma mesma profundidade z:

𝑃
𝜀𝑉,𝑟 = (3.22)
𝐴′ (𝑧) × 𝐸𝑟𝑣

23
Onde,

𝐸𝑟𝑣 – módulo de deformabilidade vertical da rocha (MPa).

Neste momento, pode ser determinado o deslocamento vertical da parede rochosa do topo até à base
do poço:

𝑧
𝑃 1
𝛿𝑉𝑟1 = ×∫ ′ 𝑑𝑧 <=>
𝐸𝑟𝑣 0 𝐴 (𝑧)

𝑧
𝑃 1
𝛿𝑉𝑟1 = ×∫ 𝑑𝑧
𝜋 × 𝐸𝑟𝑣 0 (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡)2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2

Resolvendo o integral,

𝑃 ln(𝑧 × cot 𝜃 + 𝑡) − ln(𝑧 × cot 𝜃 + 2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡) ln 𝑡 − ln(2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡)


𝛿𝑉𝑟1 = [ − ] (3.23)
𝜋𝐸𝑟𝑣 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒) 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒)

Analisando, agora, a degradação de tensões na segunda zona, 𝐿𝑚 além da base do poço (figura 15),
considera-se necessário definir as áreas mobilizadas superior e inferior desta zona, 𝐴1 e 𝐴2 ,
respetivamente.

Figura 15- Representação geométrica da degradação de tensões da segunda zona

𝐴1 = 𝐴′ (𝑧) = 𝜋 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡)2 − 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 (3.24)

𝜋 × [𝐷(𝑧) + 2 × 𝐿𝑚 × cot 𝜃]2


𝐴2 = (3.25)
4

24
Onde,

𝐿𝑚 – comprimento de difusão considerado abaixo da base do poço (m).

Assim, define-se o deslocamento vertical da parede rochosa além (𝐿𝑚 ) da base do poço como:

𝐿𝑚 𝐿𝑚
𝜎𝑣 𝑃 1
𝛿𝑉𝑟2 = ∫ 𝑑𝑦 = ×∫ 𝑑𝑦
𝐸𝑟𝑣 𝐸𝑟𝑣 𝐴 2 𝐴1
0 0 ( − ) × 𝑦 + 𝐴1
𝐿𝑚 𝐿𝑚

Resolvendo o integral,

𝑃 × 𝐿𝑚 𝐴2
𝛿𝑉𝑟2 = × ln (3.26)
𝐸𝑟𝑣 × (𝐴2 − 𝐴1 ) 𝐴1

3.2.4 Deformação Vertical da Parede de Betão

De modo obter o valor da deformação vertical da parede de betão, há que determinar o deslocamento
vertical da mesma (𝛿𝑉𝑐 ), bem como o deslocamento do maciço rochoso abaixo da base do poço (𝛿𝑉2 ),
quando submetidos a uma carga atuante no betão, 𝐹𝑏 .

𝑁×𝑧 𝐹𝑏 × 𝑧
𝛿𝑉𝑐 = = (3.27)
𝐸 × 𝐴 𝐸𝑐 × 𝜋 × ((𝑅𝑐 + 𝑒)2 − 𝑅𝑐2 )

𝐹𝑏 × 𝐿𝑚 𝐴4
𝛿𝑉2 = × ln (3.28)
𝐸𝑟𝑣 × (𝐴4 − 𝐴3 ) 𝐴3
Com,

𝐴3 = 𝜋 × ((𝑅𝑐 + 𝑒)2 − 𝑅𝑐2 ) (3.29)

𝐴4 = 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒 + 2 × 𝐿𝑚 × cot 𝜃)2 (3.30)

Sendo, então, a deformação vertical da parede de betão a soma dos deslocamentos anteriores:

𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡,𝑐 = 𝛿𝑉𝑐 + 𝛿𝑉2 (3.31)

25
3.3 Rigidez do Conjunto Cunha-Rocha

Pela adoção da lei de Hooke (Timoshenko & Goodier, 1951), tem-se a seguinte relação entre a carga
𝑃 e o deslocamento (fictício) 𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 de uma faixa do poço alinhada com a recrava:

𝑃
𝐾= (3.32)
𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡

Em que o deslocamento vertical total, representa a soma dos deslocamentos verticais do betão sobre
a cunha e do maciço rochoso:

𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 = (𝛿𝑐 + 𝛿𝑟 ) × cot 𝛼 + 𝛿𝑉𝑟1 + 𝛿𝑉𝑟2 (3.33)

Em que os deslocamentos horizontais 𝛿𝑐 e 𝛿𝑟 são transpostos para deslocamentos verticais através da


sua multiplicação por cot 𝛼, como se verifica na figura 16.

Figura 16- Transposição dos deslocamentos horizontais para deslocamentos verticais

Tendo em conta a expressão (3.4), podem redefinir-se 𝛿𝑐 e 𝛿𝑟 , de modo a que estas dependam da
carga P:

26
𝑃 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 (𝑅𝑐 + 𝑒)2
𝛿𝑐 = 𝑡 × [( ) × ] × (3.34)
2𝜋(𝑅𝑐 + 𝑒 + ) sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 𝑒 × 𝐸𝑐
𝑎𝑣

𝑃 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 1


𝛿𝑟 = 𝑡 × [(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 ) × 𝑡 ] × 𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2
2𝜋(𝑅𝑐 + 𝑒 + )
𝑎𝑣
1 − 𝜈𝑟𝑓 1 + 𝜈𝑟𝑓 (3.35)
×[ × [(𝑅𝑐 + 𝑒)3 − 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × 𝑚] + × 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
𝐸𝑟𝑓 𝐸𝑟𝑓

× (1 − 𝑚)]

Por simplificação de notação das equações (3.34) e (3.35), respetivamente, considerar-se-á:

1 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 (𝑅𝑐 + 𝑒)2


𝐶1 = 𝑡 × [( ) × ] × (3.36)
2𝜋(𝑅𝑐 + 𝑒 + ) sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 𝑒 × 𝐸𝑐
𝑎𝑣

1 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 1


𝐶2 = 𝑡 × [(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 ) × 𝑡 ] × 𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2
2𝜋(𝑅𝑐 + 𝑒 + )
𝑎𝑣
1 − 𝜈𝑟𝑓 1 + 𝜈𝑟𝑓 (3.37)
×[ × [(𝑅𝑐 + 𝑒)3 − 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × 𝑚] + × 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
𝐸𝑟𝑓 𝐸𝑟𝑓

× (1 − 𝑚)]

Considera-se, também, por simplificação de notação da equação (3.23):

1 ln(𝑧 × cot 𝜃 + 𝑡) − ln(𝑧 × cot 𝜃 + 2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡) ln 𝑡 − ln(2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡)


𝑅1 = [ − ] (3.38)
𝜋 × 𝐸𝑟𝑣 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒) 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒)

Considera-se, ainda, por simplificação de notação da equação (3.26):


𝐿𝑚 𝐴2
𝑅2 = × ln (3.39)
𝐸𝑟𝑣 × (𝐴2 − 𝐴1 ) 𝐴1

Assim, é possível reescrever 𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 do seguinte modo:

𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 = (𝑃 × 𝐶1 + 𝑃 × 𝐶2 + 𝑃 × 𝐶3 ) × cot 𝛼 + 𝑃 × 𝑅1 + 𝑃 × 𝑅2 (3.40)

Deste modo, a expressão da rigidez do conjunto é:

27
𝑃
𝐾= (𝐾𝑁/𝑚/𝑟𝑒𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎) (3.41)
(𝑃 × 𝐶1 + 𝑃 × 𝐶2 + 𝑃 × 𝐶3 ) × cot 𝛼 + 𝑃 × 𝑅1 + 𝑃 × 𝑅2

Simplificando, e tendo em conta a dependência em relação ao número de recravas por metro vertical
de poço (𝑛), obtém-se a rigidez da mola que representa o comportamento da cunha em conjunto com
o maciço rochoso:

𝑛
𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = (𝐾𝑁/𝑚) (3.42)
(𝐶1 + 𝐶2 ) × cot 𝛼 + 𝑅1 + 𝑅2

Esta rigidez poderá ser utilizada para calcular a repartição de carga, adaptada para o efeito de um
modelo de barra conforme se ilustra na figura 17.

3.4 Cálculo Analítico da Repartição da Carga Axial

Neste ponto, definem-se agora as expressões que permitem obter as forças axiais quer no maciço
rochoso quer no anel de betão, por outras palavras, a repartição de carga entre os dois elementos
quando submetidos a um carregamento. Admitindo que na estrutura atua apenas uma carga distribuída,
que é definida por:

𝑝 = 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑏𝑒𝑡ã𝑜 + 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎𝑠

A esta carga opõem-se, essencialmente, duas reações para a equilibrar (figura 17): uma força
distribuída 𝑓(𝑥), correspondente à resistência prestada pelo conjunto recrava-rocha, e uma força 𝑁(𝑥),
correspondente à reação do próprio betão, onde 𝑥 é a profundidade a partir do topo do poço, conforme
se pode verificar na figura 17. Portanto, por equilíbrio:

𝑥
𝑁(𝑥) + ∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝑝 × 𝑥 (3.43)
0

28
Figura 17- Campo de deslocamentos linear da totalidade do poço e diagrama de corpo livre de um troço do poço

Admitindo, também, a hipótese de o campo de deslocamentos variar linearmente com a profundidade,


define-se a força distribuída ao longo do poço como:

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜
𝑓(𝑥) = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿 − 𝑥) (3.44)
𝐿
Sendo esta em função do deslocamento em 𝑥.

Integrando, obtém-se a expressão (3.45)

𝑥
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ∫ (𝐿 − 𝑥)𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿 × 𝑥 − ) (3.45)
0 𝐿 0 𝐿 2

Substituindo, agora, (3.45) na expressão (3.43) e resolvendo em ordem à força axial no betão, 𝑁(𝑥):

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ( − 𝐿 × 𝑥) (3.46)
𝐿 2

Para 𝑁(𝑥) e 𝑓(𝑥) ficarem completamente definidos é importante, ainda, determinar a expressão para o
deslocamento no topo do poço.

29
𝐿
𝑁(𝑥) 1 𝐿
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = ∫ 𝑑𝑥 = × ∫ [𝑝 × 𝑥 + 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ( − 𝐿 × 𝑥)] 𝑑𝑥 <=>
0 𝐸𝑐 × 𝐴 𝐸𝑐 × 𝐴 0 𝐿 2

1 𝑝 × 𝐿2 𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 × 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 × 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2


𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = ×( + − ) <=>
𝐸𝑐 × 𝐴 2 6 2

𝑝 × 𝐿2
2 × 𝐸𝑐 × 𝐴
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = <=>
𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2
1− +
6 × 𝐸𝑐 × 𝐴 2 × 𝐸𝑐 × 𝐴

3 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = × (3.47)
2 (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴)

Redefinindo, então, as expressões (3.45) e (3.46), tendo em conta a equação do deslocamento no topo
do poço (3.47), tem-se que:

𝑥
𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 𝑥2 3 𝑝 × 𝐿2
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = × (𝐿 × 𝑥 − ) × × (3.48)
0 𝐿 2 2 (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴)

𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 𝑥2 3 𝑝 × 𝐿2
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + × ( − 𝐿 × 𝑥) × × (3.49)
𝐿 2 2 (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴)

Em suma, é, desta forma, possível prever quais as cargas transferidas para o maciço rochoso pela
expressão (3.48), e, ainda, o esforço axial no poço de betão à profundidade 𝑥, com recurso à expressão
(3.49), em função da profundidade, quando neste atua apenas o peso próprio e as sobrecargas
referentes ao poço.

30
4 Avaliação e Análise de Sensibilidade do Modelo

Neste ponto pretende-se avaliar as equações do modelo desenvolvido no capítulo anterior, recorrendo
a um exemplo de um poço fictício com determinadas características físicas e geométricas; deste
exemplo obter-se-ão os valores da carga vertical atuantes no maciço rochoso e no betão,
respetivamente, bem como os deslocamentos verticais, ao longo de toda a profundidade do poço.

Posto isto, proceder-se-á a uma análise de sensibilidade relativa aos valores obtidos do exemplo, ou
seja, procurar-se-á variar alguns dos mais importantes parâmetros dentro de uma certa gama de
valores, observando o impacto que os mesmos podem ter nos resultados finais fornecidos pelo modelo.

4.1 Avaliação do Modelo de Repartição de Carga

Sugere-se, então, o exemplo de um poço fictício com as características a que se propôs o modelo, por
outras palavras: um poço de betão armado, de profundidade bastantemente elevada, com um raio
também elevado e inserido num maciço rochoso fraturado devido ao método de escavação utilizado.
Tendo em conta estas características, sugerem-se os seguintes valores para o exemplo:

Quadro 1 - Valores de características sugeridos para o betão armado

L - Profundidade do poço (m) 300


Rc - Raio interior do poço (m) 2,95
e - Espessura nominal do revestimento (m) 0,3
Ec - Módulo de elasticidade do betão (Mpa) 20000

Quadro 2 - Valores de características sugeridos para o maciço rochoso

Rd - Raio referente à zona de rocha fendilhada (m) 15


Er - Módulo de deformabilidade da rocha não fraturada - horizontal (Mpa) 10000
Erf - Módulo de deformabilidade da rocha fraturada - horizontal (Mpa) 10000
Erv - Módulo de deformabilidade da rocha - vertical (Mpa) 10000
µ - Coeficiente de atrito na superfície rocha-betão 0,7
νr - Coeficiente de Poisson da rocha não fraturada 0,3
νrf - Coeficiente de Poisson da rocha fraturada 0,25

Quadro 3 - Valores de características sugeridos para a cunha/recrava

α - Inclinação das recravas (relativamente à vertical) (°) 30


t - Largura de uma recrava (m) 0,2
n - Quantidade de recravas mobilizadas por metro (na vertical) 0,1
av - Posição da resultante vertical na recrava (em t/av) 3

31
Quadro 4 - Valores sugeridos relativos à degradação de tensões

θ - Degradação de tensões no maciço (angulo relativamente à horizontal) (°) 45


Lm - Comprimento de difusão considerado abaixo da cota de fundo do poço (m) 100

Seguidamente, efetua-se o cálculo das várias fases do modelo de repartição de carga com recurso aos
valores das tabelas acima.

4.1.1 Comportamento do Conjunto Cunha-Rocha

4.1.1.1 Equilíbrio da Cunha

De modo a proceder ao cálculo das equações de equilíbrio da recrava, há que adotar uma carga vertical
total (fictícia) imposta na cota da cunha analisada, sugerindo-se então:

𝑃 = 233 𝐾𝑁

Posto isto, determina-se o valor da resultante do diagrama de tensões verticais:

𝑃 233
𝑅𝑣 = 𝑡 = = 11,18 𝐾𝑁/𝑚 (4.1)
0,2
2 × 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒 + ) 2 × 𝜋 × (2,95 + 0,3 + )
𝑎𝑣 3

Com este valor é, assim, possível calcular quer a resultante do diagrama de tensões horizontais (𝑅𝑏 ),
quer a resultante do diagrama de tensões normais à superfície da cunha (𝑅𝑛 ) e respetiva posição na
diagonal (𝑥):

(cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼) (cos 30 − 0,7 × sin 30)


𝑅𝑏 = 𝑅𝑣 × = 11,18 × = 5,22 𝐾𝑁/𝑚 (4.2)
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼) (sin 30 + 0,7 × cos 30)

𝑅𝑣 11,18
𝑅𝑛 = = = 10,11 𝐾𝑁/𝑚 (4.3)
(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼) (sin 30 + 0,7 × cos 30)

sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 cos 2 𝛼 𝜇 × cos 𝛼


𝑥 =𝑡×( + − )
𝑎𝑣 2 × sin 𝛼 2
(4.4)
sin 30 + 0,7 × cos 30 cos 2 30 0,7 × cos 30
= 0,2 × ( + − ) = 0,163 𝑚
3 2 × sin 30 2

32
Podem, então, visualizar-se na figura 18, todas as forças atuantes numa recrava isolada, de modo a
obter o equilíbrio na mesma.

Figura 18- Equilíbrio de uma recrava isolada

4.1.1.2 Deformação Horizontal do Anel de Betão

Para determinar a deformação horizontal, referente ao anel de betão, é necessário o cálculo da pressão
radial que nele atua:

cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 cos 30 − 0,7 × sin 30 tan 30


𝑝𝑏 = 𝑅𝑣 × ( )× = 11,18 × ( )×
sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 sin 30 + 0,7 × cos 30 0,2
(4.5)
= 15,06 𝐾𝑃𝑎

Portanto, tem-se a seguinte deformação:

𝑝𝑏 × (𝑅𝑐 + 𝑒) 15,06 × (2,95 + 0,3)


𝛿𝑐 = × (𝑅𝑐 + 𝑒) = × (2,95 + 0,3) × 103 = 0,0265 𝑚𝑚 (4.6)
𝑒 × 𝐸𝑐 0,3 × 20000 × 103

33
4.1.1.3 Deformação Horizontal do Maciço Rochoso

Define-se, agora, o valor da deformação horizontal do maciço rochoso fraturado, quando nele atua a
mesma pressão 𝑝𝑏 e, ainda, a pressão exterior exercida pela rocha não fraturada 𝑝𝑏′ , que se define
como:

𝑝𝑏′ = 𝑝𝑏 × 𝑚 (4.7)

Sendo o fator adimensional 𝑚:

2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑
𝑚=
𝐸𝑟𝑓 101
× 𝑅𝑑 × (𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2 ) × [ + 𝜈𝑟 ] + [(1 − 𝜈𝑟𝑓 ) × 𝑅𝑑3 + (1 + 𝜈𝑟𝑓 ) × (𝑅𝑐 + 𝑒)2 × 𝑅𝑑 ]
𝐸𝑟 99
2 × (2,95 + 0,3)2 × 15
=
10000 101
× 15 × (152 − (2,95 + 0,3)2 ) × [ + 0,3] + [(1 − 0,25) × 153 + (1 + 0,25) × (2,95 + 0,3)2 × 15]
10000 99
= 0,0454

Por conseguinte:

𝑝𝑏′ = 𝑝𝑏 × 𝑚 = 15,06 × 0,0454 = 0,68 𝐾𝑃𝑎 (4.8)

Por fim, calcula-se, então a deformação horizontal do maciço rochoso fraturado:

cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 1


𝛿𝑟 = [𝑅𝑣 × ( )× ]× 2
sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 𝑅𝑑 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2
1 − 𝜈𝑟𝑓 1 + 𝜈𝑟𝑓
×[ × [(𝑅𝑐 + 𝑒)3 − 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × 𝑚] + × 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
𝐸𝑟𝑓 𝐸𝑟𝑓

× (1 − 𝑚)]
(4.9)
cos 30 − 0,7 × sin 30 tan 30 1
= [11,18 × ( )× ]× 2
sin 30 + 0,7 × cos 30 0,2 15 − (2,95 + 0,3)2
1 − 0,25
×[ × [(2,95 + 0,3)3 − 152 × (2,95 + 0,3) × 0,0454]
10000 × 103
1 + 0,25
+ × 152 × (2,95 + 0,3) × (1 − 0,0454)] × 103 = 0,0061 𝑚𝑚
10000 × 103

4.1.2 Deformação Vertical da Parede da Rocha

Neste ponto, torna-se necessário definir a distância (z), a que a recrava que está a ser tratada, se
encontra do topo do poço: adotou-se então z = 300 m, o que corresponde a uma recrava localizada na
base do poço.

34
Há que calcular, também, o deslocamento das duas partes em que se pode dividir o maciço, já referidas
no capítulo anterior (parte superior, que se desenrola até à base do poço e a parte inferior que se
desenrola até uma distância 𝐿𝑚 , além da base do poço).

No que se refere à parte superior definem-se, então, o diâmetro e a área de difusão na base do poço:

𝐷(𝑧) = 2 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡) = 2 × (300 × cot 45 + 2,95 + 0,3 + 0,2) = 606,9 𝑚 (4.10)

𝐴′ (𝑧) = 𝜋 × (𝑧 × cot 𝜃 + 𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝑡)2 − 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒)2


= 𝜋 × (300 × cot 45 + 2,95 + 0,3 + 0,2)2 − 𝜋 × (2,95 + 0,3)2 (4.11)
2
= 289250,6 𝑚

Calcula-se, de seguida, o deslocamento da parte superior do maciço:

𝑃 ln(𝑧 × cot 𝜃 + 𝑡) − ln(𝑧 × cot 𝜃 + 2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡) ln 𝑡 − ln(2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡)


𝛿𝑉𝑟1 = [ − ]
𝜋𝐸𝑟𝑣 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒) 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
233 ln(300 × cot 45 + 0,2) − ln(300 × cot 45 + 2(2,95 + 0,3) + 0,2)
= [ (4.12)
𝜋 × 10000 × 103 2 × cot 45 × (2,95 + 0,3)
ln 0,2 − ln(2 × (2,95 + 0,3) + 0,2)
− ] × 103 = 0,004 𝑚𝑚
2 × cot 45 × (2,95 + 0,3)

Em relação à parte inferior do maciço (𝐿𝑚 além da base do poço), torna-se indispensável o cálculo das
áreas mobilizadas superior e inferior desta zona, 𝐴1 e 𝐴2 , respetivamente.

𝐴1 = 𝐴′ (𝑧) = 289250,6 𝑚2 (4.13)

𝜋 × [𝐷(𝑧) + 2 × 𝐿𝑚 × cot 𝜃]2 𝜋 × [606,9 + 2 × 100 × cot 45]2


𝐴2 = = = 511363 𝑚2 (4.14)
4 4

Assim, o valor do deslocamento desta zona do maciço é:

𝑃 × 𝐿𝑚 𝐴2 233 × 100 511363


𝛿𝑉𝑟2 = × ln = × ln × 103
𝐸𝑟𝑣 × (𝐴2 − 𝐴1 ) 𝐴1 10000 × 103 × (511363 − 289250,6) 289250,6
(4.15)
= 0,000006 𝑚𝑚 ≈ 0 𝑚𝑚

4.1.3 Comportamento da Parede em Betão

Para a definição do comportamento da parede em betão, ou seja, para o cálculo do deslocamento do


poço em betão, torna-se importante definir uma força atuante no betão; adota-se aqui um valor de 𝐹𝑏 =
1000 𝐾𝑁, e a distância entre a secção em análise e o topo do poço, 𝑧 = 300 𝑚.

Relativamente ao deslocamento, tem-se o deslocamento do poço em betão, isolado:

35
𝐹𝑏 × 𝑧 1000 × 300
𝛿𝑉𝑐 = = × 103
𝐸𝑐 × 𝜋 × ((𝑅𝑐 + 𝑒) − 𝑅𝑐 ) 20000 × 10 × 𝜋 × ((2,95 + 0,3)2 − 2,952 )
2 2 3
(4.16)
= 2,567 𝑚𝑚

Adicionalmente, há que determinar também o valor do deslocamento do maciço rochoso de


profundidade 𝐿𝑚 além da base do poço, que serve de suporte ao mesmo:

𝐴3 = 𝐴𝑎𝑛𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑏𝑒𝑡ã𝑜 = 5,84 𝑚2 (4.17)

𝐴4 = 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒 + 𝐿𝑚 × cot 𝜃)2 = 𝜋 × (2,95 + 0,3 + 100 × cot 45)2 = 33491,14 𝑚2 (4.18)

𝐹𝑏 × 𝐿𝑚 𝐴4 1000 × 100 33491,14


𝛿𝑉2 = × ln = × ln × 103
𝐸𝑟𝑣 (𝐴4 − 𝐴3 ) 𝐴3 1000 × 103 × (33491,14 − 5,84) 5,84
(4.19)
= 0,003 𝑚𝑚

Sendo, portanto, a deformação vertical da parede de betão a soma dos deslocamentos anteriores:

𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡,𝑐 = 𝛿𝑉𝑐 + 𝛿𝑉2 = 2,567 + 0,003 = 2,570 𝑚𝑚 (4.20)

4.1.4 Rigidez do Conjunto Cunha-Rocha

É possível agora calcular a rigidez do conjunto cunha-rocha de duas formas distintas. A primeira forma,
resume-se a calcular o deslocamento vertical total do conjunto recorrendo às deformações calculadas
anteriormente e, de seguida, dividir a força 𝑃 por esse deslocamento total:

𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 = (𝛿𝑐 + 𝛿𝑟 ) × cot 𝛼 + 𝛿𝑉𝑟1 + 𝛿𝑉𝑟2 = (0,0265 + 0,0061) × cot 30 + 0,004 + 0


(4.21)
= 0,0605 𝑚𝑚

𝑃 233
𝐾= = = 3851,24 × 103 𝐾𝑁/𝑚/𝑟𝑒𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎 (4.22)
𝛿𝑉,𝑡𝑜𝑡 0,0605 × 10−3

Há, ainda, que ter em conta o número de recravas por metro:

𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 𝑛 × 𝐾 = 0,1 × 3851,24 × 103 = 385,124 × 103 𝐾𝑁/𝑚/𝑚 (4.23)

A segunda forma para determinar a rigidez do conjunto rochoso mostra-se independente da força 𝑃, e
é obtida com o deslocamento total vertical do conjunto a ser calculado através dos coeficientes 𝐶1 , 𝐶2 ,
𝑅1 e 𝑅2 , cujas expressões foram determinadas no capítulo precedente.

36
Procede-se, então, ao cálculo destes coeficientes:

1 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 (𝑅𝑐 + 𝑒)2


𝐶1 = 𝑡 × [( ) × ] ×
2𝜋(𝑅𝑐 + 𝑒 + ) sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 𝑡 𝑒 × 𝐸𝑐
𝑎𝑣
1 cos 30 − 0,7 × sin 30 tan 30
= × [( )× ] (4.24)
0,2 sin 30 + 0,7 × cos 30 0,2
2𝜋(2,95 + 0,3 + )
3
(2,95 + 0,3)2
× = 11,3756 × 10−8 𝑚. 𝑟𝑒𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎/𝐾𝑁
0,3 × 20000 × 103

1 cos 𝛼 − 𝜇 × sin 𝛼 tan 𝛼 1


𝐶2 = 𝑡 × [(sin 𝛼 + 𝜇 × cos 𝛼 ) × 𝑡 ] × 𝑅𝑑2 − (𝑅𝑐 + 𝑒)2
2𝜋(𝑅𝑐 + 𝑒 + )
𝑎𝑣
1 − 𝜈𝑟𝑓 1 + 𝜈𝑟𝑓
×[ × [(𝑅𝑐 + 𝑒)3 − 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒) × 𝑚] + × 𝑅𝑑2 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
𝐸𝑟𝑓 𝐸𝑟𝑓

× (1 − 𝑚)]

1 cos 30 − 0,7 × sin 30 tan 30


= × [( )× ] (4.25)
0,2 sin 30 + 0,7 × cos 30 0,2
2𝜋(2,95 + 0,3 + )
3
1
× 2
15 − (2,95 + 0,3)2
1 − 0,25
×[ × [(2,95 + 0,3)3 − 152 × (2,95 + 0,3) × 0,0454]
10000 × 103
1 + 0,25
+ × 152 × (2,95 + ,03) × (1 − 0,0454)]
10000 × 103
= 2,6318 × 10−8 𝑚. 𝑟𝑒𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎/𝐾𝑁

1 ln(𝑧 × cot 𝜃 + 𝑡) − ln(𝑧 × cot 𝜃 + 2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡) ln 𝑡 − ln(2(𝑅𝑐 + 𝑒) + 𝑡)


𝑅1 = [ − ]
𝜋 × 𝐸𝑟𝑣 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒) 2 × cot 𝜃 × (𝑅𝑐 + 𝑒)
1 ln(300 × cot 45 + 0,2) − ln(300 × cot 45 + 2(2,95 + 0,3) + 0,2)
= 3
[ (4.26)
𝜋 × 10000 × 10 2 × cot 45 × (2,95 + 0,3)
ln 0,2 − ln(2(2,95 + 0,3) + 0,2)
− ] = 1,7091 × 10−8 𝑚. 𝑟𝑒𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎/𝐾𝑁
2 × cot 45 × (2,95 + 0,3)

𝐿𝑚 𝐴2 100 511363
𝑅2 = × ln = 3
× ln
𝐸𝑟𝑣 × (𝐴2 − 𝐴1 ) 𝐴1 10000 × 10 × (511363 − 289250,6) 289250,6
(4.27)
−11
= 2,5653 × 10 𝑚. 𝑟𝑒𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎/𝐾𝑁

37
Calcula-se, em seguida, a rigidez do conjunto maciço-cunha, já tendo em conta o número de recravas
por metro de profundidade, recorrendo à seguinte fórmula:

𝑛
𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 =
(𝐶1 + 𝐶2 ) × cot 𝛼 + 𝑅1 + 𝑅2
0,1
= × 10−3 (4.28)
(11,3756 × 10−8 + 2,6318 × 10−8 ) × cot 30 + 1,7091 × 10−8 + 2,5653 × 10−11
= 385,011 × 103 𝐾𝑁/𝑚/𝑚

A diferença entre os resultados dos dois 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 calculados, devem-se aos arredondamentos efetuados
nos cálculos dos diversos parâmetros, sendo que o resultado mais exato é este último, razão pela qual
se prossegue com 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 385,011 × 103 𝐾𝑁/𝑚/𝑚.

4.1.5 Cálculo da Repartição de Carga

Por fim, procede-se ao cálculo da repartição de carga, ou seja, o cálculo das forças axiais no betão e
no maciço em função da profundidade 𝑥, através das expressões (3.45) e (3.46) do capítulo anterior:

𝑥
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿 × 𝑥 − ) (3.45)
0 𝐿 2

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ( − 𝐿 × 𝑥) (3.46)
𝐿 2

Primeiramente, é necessário calcular os valores da carga distribuída 𝑝 e do deslocamento do poço


(𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 ) da seguinte forma:

𝑝 = 𝐴𝑎𝑛𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑏𝑒𝑡ã𝑜 × 𝛾𝑏𝑒𝑡ã𝑜 + 𝑞 = 5,843 × 25 + 10 = 156,08 𝐾𝑁/𝑚 (4.29)

3 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = ×
2 (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴)
3 156,08 × 3002 (4.30)
= × × 103
2 (385,011 × 103 × 3002 + 3 × 20000 × 103 × 5,843)
= 0,602 𝑚𝑚

Portanto, as expressões das forças axiais no betão e no maciço em função da profundidade são:

0,602 × 10−3 𝑥2
𝑁(𝑥) = 156,08 × 𝑥 + 385,011 × 103 × × ( − 300 × 𝑥)
300 2
(4.31)
= 0,38629 × 𝑥 2 − 75,69662 × 𝑥

38
𝑥
0,602 × 10−3 𝑥2
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 385,011 × 103 × × (300 × 𝑥 − )
0 300 2 (4.32)
2
= 231,77662 × 𝑥 − 0,38629 × 𝑥

Posto isto, calcularam-se os valores destas forças axiais para profundidades de 10 em 10 metros, do
topo até à profundidade final do poço de 300 metros, apresentando-se os resultados na figura 19 e,
mais detalhadamente, no quadro A.1 do anexo A.

N Betão (kN) N maciço (kN) N total (kN)

350

300

250

200
z(m)

150

100

50

0
-10 000 0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
N (kN)

Figura 19 – Gráfico da repartição de carga em função de z

Nota: por razões de representação visual adotou-se um eixo 𝑧 contrário ao eixo 𝑥, ou seja, um eixo que
tem o seu ponto inicial na base do poço, e o topo do poço em 𝑧 = 300 𝑚.

39
Analisando a figura, é possível observar que o esforço axial total aumenta linearmente com a
profundidade, o que era esperado uma vez que quanto maior é a profundidade, maior é o peso próprio
do anel de betão, ou seja, maior é a carga 𝑝. Relativamente à força axial no betão, denota-se que existe
tração em grande parte do comprimento do poço, e compressão mais junto da base, devendo-se isto
ao efeito do tipo mola conferido pelas recravas do maciço. Enquanto isso, a força axial no maciço
aumenta seriamente nos primeiros metros de profundidade e tende a estabilizar nos últimos metros,
devido à rigidez do conjunto maciço-cunha.

Determina-se também, neste ponto, o deslocamento vertical total do poço. Para melhor compreensão,
calculam-se as parcelas de deslocamento vertical relativo entre componentes horizontais de
deformação do anel de betão e da rocha, e das parcelas de deslocamento vertical da parede do maciço
da zona que está compreendida entre o início e o fundo do poço e, ainda, da zona imediatamente
posterior ao fundo do poço.

É necessário calcular, previamente, a força distribuída em função da profundidade instalada no maciço


rochoso, 𝑓(𝑥):

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 0,602 × 10−3


𝑓(𝑥) = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿 − 𝑥) = 385,011 × 103 × × (300 − 𝑥)
𝐿 300 (4.33)
= 231,77662 − 0,77259 × 𝑥

Apresentam-se os resultados para as diferentes profundidades, no quadro A.1 do anexo A.

Deslocamento vertical relativo à componente horizontal da deformação do anel de betão (1):

𝐶1 11,3756 × 10−8
𝛿𝑐,𝑉 (𝑥) = × cot 𝛼 × 𝑓(𝑥) = × 1,732 × (231,77662 − 0,77259 × 𝑥)
𝑛 0,1 (4.34)
−4 −6
= 4,5666 × 10 − 1,5222 × 10 ×𝑥

Deslocamento vertical relativo à componente horizontal da deformação da rocha (2):

𝐶2 2,6318 × 10−8
𝛿𝑟,𝑉 (𝑥) = × cot 𝛼 × 𝑓(𝑥) = × 1,732 × (231,77662 − 0,77259 × 𝑥)
𝑛 0,1 (4.35)
= 1,0565 × 10−4 − 3,5217 × 10−7 × 𝑥

Deslocamento vertical da parede do maciço na zona (zona 1) que está compreendida entre o início e o
fundo do poço (3):

𝑅1 1,7091 × 10−8
𝛿𝑉𝑟1 (𝑥) = × 𝑓(𝑥) = × (231,77662 − 0,77259 × 𝑥)
𝑛 0,1 (4.36)
−5 −7
= 3,9613 × 10 − 1,3204 × 10 ×𝑥

40
Deslocamento vertical da parede do maciço na zona (zona 2) imediatamente posterior ao fundo do
poço (4):

𝑅2 2,5653 × 10−11
𝛿𝑉𝑟2 (𝑥) = × 𝑓(𝑥) = × (231,77662 − 0,77259 × 𝑥)
𝑛 0,1 (4.37)
= 5,9458 × 10−8 − 1,9819 × 10−10 × 𝑥

Assim, o deslocamento vertical total do poço em função da profundidade é dado pela soma das quatro
parcelas anteriores. Os resultados de todos estes deslocamentos são apresentados na figura 20 e,
mais detalhadamente, no quadro A.2 do anexo A.

(1) Comp. Hor. Def. Anel Betão (2) Comp. Hor. Def. Rocha
(3) Comp. Vertical Maciço Zona 1 Deslocamento total (1)+(2)+(3) + (4)
(4) Comp. Vertical Maciço Zona 2
350

300 (4) (3)


(2)
(1)
250
(1)+(2)+(3)+(4)

200
z (m)

150

100

50

0
0,000 0,100 0,200 0,300 0,400 0,500 0,600 0,700
Deslocamento vertical (mm)

Figura 20 – Gráfico de representação dos deslocamentos verticais

Nota: Adotou-se, novamente, um eixo 𝑧 contrário ao eixo 𝑥, ou seja, um eixo que tem o seu ponto inicial
na base do poço, e o princípio do poço em 𝑧 = 300 𝑚.

Como seria de prever, os deslocamentos verticais são mais elevados quando a profundidade é menor.
É possível observar que a parcela que presta maior contribuição para o deslocamento vertical total é a

41
do deslocamento vertical relativo à componente horizontal da deformação do anel de betão (1), que
representa cerca de 76% do deslocamento total, enquanto a parcela do deslocamento vertical da
parede do maciço da zona 2 (4), é praticamente desprezável na sua contribuição para o deslocamento
vertical total, pois representa apenas 0,03% deste. Relativamente às parcelas do deslocamento vertical
relativo à componente horizontal da deformação da rocha (2) e do deslocamento vertical da parede do
maciço da zona 1 (3), representam aproximadamente 17,5% e 6,5%, respetivamente, do deslocamento
total.

Apresenta-se ainda, para uma melhor compreensão da repartição de carga, a tensão de aderência do
betão ao maciço rochoso (figura 21), que resulta do quociente entre a força distribuída (𝑓(𝑥)) e o
perímetro do poço.

𝑓(𝑥) 231,77662 − 0,77259 × 𝑥


𝑇𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 (𝑥) = = (4.38)
2 × 𝜋 × (𝑅𝑐 + 𝑒) 2 × 𝜋 × (2,95 + 0,3)

350

300

250

200
z (m)

150

100

50

0
0 2 4 6 8 10 12
Tensão de Aderência (KN/m2)

Figura 21 - Força de Aderência em função de z

4.2 Análise de Sensibilidade do Modelo de Repartição de Carga

Para um melhor estudo do modelo, procede-se neste subcapítulo a uma análise de sensibilidade do
modelo criado, de modo a verificar a alteração dos mais importantes resultados quando se variam
algumas das características iniciais quer do poço de betão, quer do maciço rochoso.

42
Os resultados mais importantes a observar são a força axial no betão e a força no maciço (𝑁(𝑥) e
𝑥
∫0 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 , respetivamente) quando estas atingem o valor máximo, ou seja, na base do poço (quando
𝑥=300 m); para além destas, observa-se também a variação do deslocamento no topo do poço (𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 ).

4.2.1 Força Axial Máxima no Betão

Observa-se, em seguida, a alteração da força axial máxima no betão quando se variam,


individualmente, os seguintes parâmetros: módulo de elasticidade do betão (𝐸𝑐 ); módulo de
deformabilidade da rocha fraturada (𝐸𝑟𝑓 ); largura da recrava (𝑡); inclinação das recravas relativamente
à vertical (𝛼); número de recravas por metro (𝑛); coeficiente de atrito (𝜇); raio interior do poço (𝑅𝑐 ) e a
espessura do betão (𝑒).

16 000 16 000

14 000 14 000

12 000 12 000
Força Axial no Betão (kN)

Força Axial no Betão (kN)

10 000 10 000

8 000 8 000

6 000 6 000

4 000 4 000

2 000 2 000

0 0
0 20 000 40 000 0 20 000 40 000 60 000
Ec (MPa) Erf (MPa)

Figura 22 - Variação da força axial no betão com Ec (esquerda) e Erf (direita)

No lado esquerdo da figura 22, é possível verificar que com o aumento do 𝐸𝑐 também a força axial no
betão apresenta um crescimento, embora muito ténue (cerca de 100 KN) pois a área do anel de betão
é mínima em relação ao maciço; este crescimento era expectável uma vez que quanto maior for o
módulo de elasticidade do betão, maior é a sua rigidez. No que diz respeito ao lado direito da figura 22,
observa-se uma diminuição da força axial no betão quando 𝐸𝑟𝑓 é maior; nota-se um decréscimo abrupto
da força na parte inicial do gráfico (na zona dos primeiros 500 MPa) e uma estabilização da mesma de
seguida, sendo que só faz sentido observar esta última parte do gráfico porque, segundo os dados

43
compilados por Balmer (1953), Johnson & DeGraff (1988) e Hatheway & Kiersch (1989) o módulo de
deformabilidade de rochas pode variar entre 1900 e 59000 MPa.

16 000 16 000

14 000 14 000

12 000 12 000
Força Axial no Betão (kN)

Força Axial no Betão (kN)


10 000 10 000

8 000 8 000

6 000 6 000

4 000 4 000

2 000 2 000

0 0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 0 10 20 30 40 50
t (m) α (º)

Figura 23 - Variação da força axial no betão com t (esquerda) e α (direita)

Observando a figura 23, denota-se que a força axial no betão diminui quer com aumento da largura das
recravas quer com o aumento do ângulo 𝛼; estes resultados eram expectáveis, uma vez que o aumento
destas características confere às recravas uma geometria mais robusta e de maior rigidez, o que
permite a estas absorverem mais carga, que consequentemente alivia a força axial no betão. De referir,
ainda, que na primeira situação há um decréscimo maior da força, quando 𝑡 está compreendido entre
0,05 e 0,2 metros (cerca de 1000 KN), e tende a estabilizar posteriormente.

44
16 000 16 000

14 000 14 000

12 000 12 000
Força Axial no Betão (kN)

Força Axial no Betão (kN)


10 000 10 000

8 000 8 000

6 000 6 000

4 000 4 000

2 000 2 000

0 0
0 2 4 6 8 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
nº recravas µ

Figura 24 - Variação da força axial no betão com número de recravas (esquerda) e µ (direita)

Novamente, através da análise dos gráficos da figura 24, nota-se uma redução da força axial no betão
com o aumento do número de recravas por metro e também com o aumento do coeficiente de atrito.
No que diz respeito ao número de recravas por metro, a força diminui quando este varia entre 0,1 e 1
e mantem-se praticamente constante daí para a frente. Quando 𝜇 é incrementado, a redução da força
aparenta ser de declive suave (chegando, no entanto, a atingir os 1000 KN de variação).

50 000 50 000

45 000 45 000

40 000 40 000
Força Axial no Betão (kN)

Força Axial no Betão (kN)

35 000 35 000

30 000 30 000

25 000 25 000

20 000 20 000
15 000 15 000
10 000 10 000
5 000 5 000
0 0
0 2 4 6 8 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Rc (m) Espessura (m)

Figura 25 - Variação da força axial no betão com Rc (esquerda) e espessura (direita)

45
Como previsto, quanto maiores são quer o raio interior do poço, quer a espessura do anel de betão,
maior é também a força axial no betão, pois o aumento destas duas características geométricas do
poço faz com que o peso próprio do mesmo aumente igualmente.

4.2.2 Força Máxima no Maciço Rochoso

De novo se variam, individualmente, parâmetros: módulo de elasticidade do betão (𝐸𝑐 ); módulo de


deformabilidade da rocha fraturada (𝐸𝑟𝑓 ); largura da recrava (𝑡); inclinação das recravas relativamente
à vertical (𝛼); número de recravas por metro (𝑛); coeficiente de atrito (𝜇); raio interior do poço (𝑅𝑐 ) e a
espessura do betão (𝑒), de modo a analisar a alteração da força máxima no maciço rochoso.

40 000 40 000

35 000 35 000

30 000 30 000
Força no Maciço (kN)

Força no Maciço (kN)

25 000 25 000

20 000 20 000

15 000 15 000

10 000 10 000

5 000 5 000

0 0
0 20 000 40 000 0 20 000 40 000 60 000
Ec (MPa) Erf (MPa)

Figura 26 - Variação da força no maciço com Ec (esquerda) e Erf (direita)

Comparando os gráficos da figura 22 com os gráficos da figura 26, respetivamente, verifica-se que
estes são proporcionalmente inversos, isto é, na segunda nota-se uma redução muito ténue da força
no maciço (100 KN) e na primeira observa-se um aumento da força do mesmo valor; portanto com o
crescimento de 𝐸𝑐 aumenta a rigidez do poço, o que permite aumentar a força no betão, aliviando a
força instalada no maciço (ainda que esta variação seja diminuta). O mesmo acontece com o
crescimento de 𝐸𝑟𝑓 que confere mais rigidez ao maciço, permitindo o aumento da força no mesmo e
aliviando a força axial no betão, no mesmo valor.

46
40 000 40 000

35 000 35 000

30 000 30 000
Força no Maciço (kN)

Força no Maciço (kN)


25 000 25 000

20 000 20 000

15 000 15 000

10 000 10 000

5 000 5 000

0 0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 0 10 20 30 40 50
t (m) α (º)

Figura 27 - Variação da força no maciço com t (esquerda) e α (direita)

Observando os gráficos acima, pode verificar-se que a força no maciço cresce quando 𝑡 e 𝛼 aumentam,
sendo que isto era previsível, pois, como já havia sido referido anteriormente, o aumento destas
características confere às recravas uma geometria mais robusta e de maior rigidez, o que permite a
estas absorverem mais carga, aumentando a força no maciço rochoso.

40 000 40 000

35 000 35 000

30 000 30 000
Força no Maciço (kN)

Força no Maciço (kN)

25 000 25 000

20 000 20 000

15 000 15 000

10 000 10 000

5 000 5 000

0 0
0 2 4 6 8 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
µ
nº recravas

Figura 28 - Variação da força no maciço com número de recravas (esquerda) e µ (direita)

47
Observando os gráficos da figura 28 atesta-se que, com o incremento de ambos os parâmetros (número
de recravas por metro e coeficiente de atrito), aumenta também a força no maciço rochoso. Por
comparação com os gráficos da figura 24, respetivamente, verifica-se novamente que existe uma
transferência de força atuante no betão para força atuante no maciço com o aumento de 𝑛 e 𝜇.

100 000 100 000

80 000 80 000
Força no Maciço (kN)

Força no Maciço (kN)


60 000 60 000

40 000 40 000

20 000 20 000

0 0
0 2 4 6 8 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Rc (m) Espessura (m)

Figura 29 - Variação da força no maciço com Rc (esquerda) e espessura (direita)

Da figura 29 regista-se que a força no maciço cresce quanto maiores são quer o raio interior do poço,
quer a espessura do anel de betão, porque, mais uma vez, o aumento destas duas características
geométricas do poço tem como consequência o aumento do peso próprio do mesmo.

4.2.3 Deslocamento no Topo do Poço

Verifica-se agora a alteração do deslocamento no topo do poço quando se variam, novamente e


individualmente, os parâmetros: módulo de elasticidade do betão (𝐸𝑐 ); módulo de deformabilidade da
rocha fraturada (𝐸𝑟𝑓 ); largura da recrava (𝑡); inclinação das recravas relativamente à vertical (𝛼); número
de recravas por metro (𝑛); coeficiente de atrito (𝜇); raio interior do poço (𝑅𝑐 ) e a espessura do betão (𝑒).

48
2,40 2,40

2,00 2,00

1,60 1,60
δ topo (mm)

δ topo (mm)
1,20 1,20

0,80 0,80

0,40 0,40

0,00 0,00
0 20 000 40 000 0 20 000 40 000 60 000
Ec (MPa)
Erf (MPa)

Figura 30 - Variação do deslocamento no topo do poço com Ec (esquerda) e Erf (direita)

No lado esquerdo da figura 30, observa-se que o tipo de betão utilizado no poço tem uma influência
considerável no deslocamento do mesmo, pois quanto maior é o módulo de elasticidade do betão
utilizado menor será o deslocamento. Já à direita, e como só faz sentido observar a parte do gráfico
onde 𝐸𝑟𝑓 se encontra entre 1900 e 59000 MPa, nota-se que com o aumento deste o deslocamento
permanece praticamente constante.

2,40 2,40

2,00 2,00

1,60 1,60
δ topo (mm)

δ topo (mm)

1,20 1,20

0,80 0,80

0,40 0,40

0,00 0,00
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 0 10 20 30 40 50
t (m) α (º)

Figura 31 - Variação do deslocamento no topo com t (esquerda) e α (direita)

49
Dos gráficos representados na figura 31, retira-se a informação de que com o crescimento de 𝑡 e 𝛼, o
deslocamento do topo do poço será cada vez menor. Confirma-se, portanto, que estas duas
características das recravas apresentam grande impacto no valor do deslocamento do poço, pois
quanto mais robustas forem as recravas melhor “seguram” o betão.

2,40 2,40

2,00 2,00

1,60 1,60
δ topo (mm)

δ topo (mm)
1,20 1,20

0,80 0,80

0,40 0,40

0,00 0,00
0 2 4 6 8 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
nº recravas µ

Figura 32 - Variação do deslocamento no topo com número de recravas (esquerda) e µ (direita)

À esquerda na figura 32, observa-se que, com o aumento do número de recravas por metro, o
deslocamento no topo do poço tende assimptoticamente para zero. À direita, é possível afirmar-se que
o deslocamento é tanto menor quanto maior for o coeficiente de atrito. Conclui-se que ambas as
características têm um elevado impacto no valor do deslocamento no topo do poço.

50
2,40 2,40

2,00 2,00

1,60 1,60

δ topo (mm)
1,20 1,20
δ topo (mm)

0,80 0,80

0,40 0,40

0,00 0,00
0 2 4 6 8 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Rc (m) Espessura (m)

Figura 33 - Variação do deslocamento no topo com Rc (esquerda) e espessura (direita)

Verifica-se, nos gráficos da figura 33, que com o incremento quer do raio interior do poço quer da
espessura do anel de betão, aumenta também o peso próprio do poço e, consequentemente, o
deslocamento no topo do poço; sendo que no primeiro o aumento do deslocamento é, aparentemente,
exponencial (devendo-se isto à deformação do maciço rochoso) e no segundo apresenta-se com um
declive mais suave.

51
52
5 Modelo de Barra Simples

No presente capítulo concebe-se um modelo de barra simplificado, através do programa de cálculo de


elementos finitos SAP2000, com as mesmas características do poço do capítulo anterior, com o
propósito de comparar os resultados obtidos pelo modelo analítico desenvolvido, com os resultados do
SAP2000.

De maneira a garantir que esta barra possui as mesmas características do poço, adota-se uma barra
de secção quadrada equivalente com os seguintes atributos e sobrecarga:

Quadro 5 - Características da secção quadrada equivalente e sobrecarga

Área da secção (𝒎𝟐 ) 5,843


Lado da secção (𝒎) 2,4173
Ec (𝑴𝒑𝒂) 20000
L (𝒎) 300
q (𝑲𝑵/𝒎) 10

5.1 Barra Sem Molas

Primeiramente, de forma a fazer uma análise mais detalhada do modelo, desenvolve-se, no software
SAP2000, um modelo de elementos finitos (MEF) de barra vertical sem molas ao longo do seu
comprimento e encastrado na base; isto corresponde ao caso em que não existe qualquer recrava em
todo o comprimento do poço, ou seja, toda a carga (permanente e sobrecarga) é suportada unicamente
pelo betão armado (fig. 34).

Derivado do facto de não existirem recravas, a rigidez destas é nula, ou seja, 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 0. Posto isto, as
equações do modelo analítico que fornecem o deslocamento do topo do poço (3.47) e o esforço axial
no betão (3.46) alteram-se, respetivamente, nas seguintes:

3 𝑝 × 𝐿2 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = × = (5.1)
2 (0 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴) 2 × 𝐸𝑐 × 𝐴

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 0 × × ( − 𝐿 × 𝑥) = 𝑝 × 𝑥 (5.2)
𝐿 2

Como se admitiu a hipótese do campo de deslocamentos variar linearmente ao longo da profundidade


do poço, a expressão para o deslocamento em função da profundidade é:

53
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜
𝛿(𝑥) = × (𝐿 − 𝑥) (5.3)
𝐿

Figura 34- Diagrama de corpo livre de um troço do poço sem recravas

Concebeu-se, portanto, uma barra vertical de secção quadrada equivalente, com as características
apresentadas no quadro 5, através do programa de cálculo de elementos finitos, que se apresenta na
figura 35.

54
Figura 35- Vista de topo da barra vertical concebida pelo MEF

Efetuando, então, a análise pelo programa de cálculo obteve-se um diagrama de esforço axial de
compressão, no betão, linear (fig. 36) tal como era esperado.

Figura 36- Diagrama de esforço axial no betão obtido pelo MEF

55
Comparando o esforço axial obtido pelo MEF com o esforço axial obtido pela equação (5.2) (fig. 37 e
quadro B.1 do anexo B), é possível concluir que, para o caso em que não existem recravas no poço,
os resultados do esforço axial no betão dados pelo modelo analítico construído, são praticamente iguais
aos resultados do programa de cálculo, variando apenas nas casas decimais.

350

300

250

200
z (m)

150 MEF

100 Modelo
Analítico
50

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Força Axial no Betão (KN)

Figura 37 – Gráfico que representa o esforço axial no betão em função de z (eixo contrário a x)

Analisando, agora, os deslocamentos produzidos quer no programa de cálculo quer do modelo analítico
(pela equação 5.3), nota-se que, de facto, a hipótese admitida para o modelo na qual se representa
uma variação linear do campo de deslocamentos não é exata, uma vez que a variação de
deslocamentos obtidos pelo modelo numérico aparenta ter uma forma de meia parábola (figura 38 e
quadro B.1 do anexo B). Ainda assim, a hipótese admitida representa uma aproximação razoável, não
obstante a existência de deslocamentos menores ao longo da profundidade, mas com idêntico
deslocamento no topo do poço, em relação aos resultados fornecidos pelo programa de cálculo.

56
350

300

250

200
z (m)

MEF
150
Modelo
100
Analítico
50

0
0 20 40 60 80
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 38 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x)

Como principal consequência da não exatidão da hipótese do campo de deslocamentos, prevê-se


também a não exatidão dos esforços axiais no betão e no maciço rochoso em função da profundidade,
aquando da existência de recravas no poço, pois ambos dependem diretamente do deslocamento a
cada nível do poço.

5.2 Barra Com Molas

De forma a simular, agora, um poço em que existem recravas no maciço rochoso ao longo do seu
comprimento, desenvolve-se um modelo de barra vertical com molas ao longo desse mesmo
comprimento e encastrado na base, no software SAP2000. Aqui, a carga total (permanente e
sobrecarga) imposta no poço, será teoricamente repartida entre o maciço rochoso e o betão (fig. 39).

57
Figura 39- Diagrama de corpo livre de um troço do poço com recravas

Devido à presença de recravas, o valor da sua rigidez já não será nulo, admitindo-se, portanto, o valor
obtido no capítulo anterior 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 385011,4 𝐾𝑁/𝑚/𝑚, correspondente a um número de recravas por
metro vertical de poço de 𝑛 = 0,1, ou seja, uma recrava de 10 em 10 metros . Portanto, são válidas as
equações do deslocamento no topo do poço (3.47), do esforço axial no betão (3.46) e do esforço axial
no maciço rochoso (3.45):

3 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = × (3.47)
2 (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴)

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ( − 𝐿 × 𝑥) (3.46)
𝐿 2

𝑥
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿 × 𝑥 − ) (3.45)
0 𝐿 2

58
Pela hipótese do campo de deslocamentos variar linearmente ao longo da profundidade do poço, a
expressão para o deslocamento em função da profundidade continua a ser:

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜
𝛿(𝑥) = × (𝐿 − 𝑥) (5.3)
𝐿

Gerou-se, então, uma barra vertical de secção quadrada, com as características apresentadas no
quadro 5, e com uma mola de 10 em 10 metros para representar o efeito das recravas, através do
programa de cálculo de elementos finitos, da qual se apresenta um troço na figura 40.

Figura 40- Troço inicial da barra vertical com molas concebida no SAP2000

A rigidez de cada mola colocada no modelo do programa de cálculo é dada pela rigidez de recrava
(𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 ) multiplicada pelo comprimento de influência de cada mola (𝑙𝑖 ), ou seja:

𝐾𝑖 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝑙𝑖 (5.4)

59
Na seguinte tabela são apresentados os valores da rigidez de cada mola em cada nível de
profundidade:

Quadro 6 - Rigidez de cada mola

𝒙 (𝒎) 𝑲𝒎𝒐𝒍𝒂 (𝑲𝑵/𝒎/𝒎) 𝒍𝒊 (𝒎) 𝑲𝒊 (𝑲𝑵/𝒎)


0 5 1 925 057,1
10 10 3 850 114,2
20 10 3 850 114,2
30 10 3 850 114,2
40 10 3 850 114,2
50 10 3 850 114,2
60 10 3 850 114,2
70 10 3 850 114,2
80 10 3 850 114,2
90 10 3 850 114,2
100 10 3 850 114,2
110 10 3 850 114,2
120 10 3 850 114,2
130 10 3 850 114,2
140 10 3 850 114,2
150 385 011,4 10 3 850 114,2
160 10 3 850 114,2
170 10 3 850 114,2
180 10 3 850 114,2
190 10 3 850 114,2
200 10 3 850 114,2
210 10 3 850 114,2
220 10 3 850 114,2
230 10 3 850 114,2
240 10 3 850 114,2
250 10 3 850 114,2
260 10 3 850 114,2
270 10 3 850 114,2
280 10 3 850 114,2
290 10 3 850 114,2
300 5 1 925 057,1

60
Na figura 41 (e mais detalhadamente no quadro B.2 do anexo B) é possível observar a comparação
entre as forças axiais no maciço rochoso, calculadas pelo MEF (força absorvida pelas molas) e pelo
modelo analítico. Nota-se que, nos primeiros 180 metros de profundidade do poço, os resultados dados
pelo modelo analítico são superiores aos resultados obtidos pelo programa de cálculo, com uma
diferença máxima na ordem dos 2900 KN, sendo que nos últimos 120 metros de profundidade a
situação inverte-se, chegando a existir no fundo do poço uma superioridade dos resultados obtidos pelo
MEF de 9228 KN. Estas diferenças devem-se ao facto, já referido anteriormente, de que o campo de
deslocamentos não é linear como a hipótese admitida.

350

300

250

200
z (m)

MEF
150
Modelo
100 Analítico

50

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Força Axial no Maciço (KN)

Figura 41 – Gráfico que representa a força axial no maciço em função de z (eixo contrário a x)

Comparando, agora, o esforço axial no betão fornecido pelo programa de cálculo de elementos finitos
com o esforço alcançado pelo modelo analítico (fig. 42 e quadro B.2 do anexo B), observa-se que
ambos apresentam o betão à tração em grande parte do poço, sendo que este efeito é conferido pelo
efeito mola das recravas, e na parte final do poço ambos revelam o betão à compressão. Mais uma vez
ocorrem diferenças significativas em ambos os métodos pela influência do campo de deslocamentos
admitido no modelo analítico; ainda assim admite-se que esta hipótese é razoável pois, como se pode
observar, os valores máximos de tração e compressão dados pelo modelo analítico estão do lado da
segurança quando comparados aos valores máximos de tração e compressão fornecidos pelo
SAP2000, com diferenças de 2900 KN e 9228 KN, respetivamente.

61
350

300

250

200
z (m)

Modelo
150 Analítico
MEF
100

50

0
-5 000 0 5 000 10 000 15 000
Força Axial no Betão (KN)

Figura 42 – Gráfico que representa a força axial no betão em função de z (eixo contrário a x)

A soma da força axial no maciço com a força axial no betão, em função da profundidade, de cada
método são coincidentes (fig. 43), sendo que isto era esperado, uma vez que esta soma dá a reação
da estrutura a cada nível que, por sua vez, é a igual à força total imposta no poço a cada nível de
profundidade.

350

300

250

200
z (m)

150 MEF

100 Modelo
Analítico
50

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Reação Total da Estrutura (KN)

Figura 43 – Gráfico que representa a reação total da estrutura em função de z (eixo contrário a x)

62
No que aos deslocamentos diz respeito, observa-se na figura 44 (e mais detalhadamente no quadro
B.2 do anexo B) que, tal como se antecipava, a hipótese de campo de deslocamentos linear não é
exata. O campo de deslocamentos obtido pelo software SAP2000 evidencia um crescimento de forma
aparentemente logarítmica em função de 𝑧. Verifica-se que o deslocamento no topo do poço calculado
pelo método analítico se apresenta superior ao calculado pelo MEF.

350

300

250

200
z (m)

MEF
150

100 Modelo
Analítico

50

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Deslcamento (mm)

Figura 44 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x)

Em relação ao modelo de barra sem molas, este modelo de barra com molas, para além de reduzir
significativamente os deslocamentos verticais, altera também a forma do campo de deslocamentos
(que, recorde-se, apresentava uma forma de meia parábola), sendo óbvio que esta alteração é devida
à presença das molas.

63
64
6 Modelo do Poço por Elementos de Casca

Neste ponto, procede-se a uma modelação do poço de betão armado, novamente através do software
de elementos finitos SAP2000, com recurso a elementos de casca, de forma a modelar,
aproximadamente, as características geométricas do poço de betão armado, de secção circular,
apresentado no capítulo 4, sendo que se apresentam as características, geométricas e físicas, reais do
poço, no quadro 7. É de referir que este modelo de elementos de casca pode ser utilizado no cálculo
de poços com geometria mais complexas, como por exemplo aberturas na parede do poço.

Quadro 7 - Características da secção circular real do poço e sobrecarga

Área da secção (𝒎𝟐 ) 5,843


Rc (𝒎) 2,95
e (𝒎) 0,3
Ec (𝑴𝒑𝒂) 20000
L (𝒎) 300
q (𝑲𝑵/𝒎) 10

De maneira a modelar a secção circular aproximada no software SAP2000, recorreu-se a elementos


de casca, de secção retangular, dispostos circularmente e ligados entre si (fig. 45), e que percorrem
todo o comprimento do poço, para que o grau de aproximação fosse satisfatório. O número de
elementos considerado foi de 20, apresentando-se no quadro 8 os atributos da secção de um desses
elementos.

Quadro 8 - Características da secção de um elemento de casca

Comprimento (𝒎) 0,97


Espessura (𝒎) 0,3
Área da secção (𝒎𝟐 ) 0,291

A principal finalidade desta modelação é a de comparação de resultados desta mesma, com a


modelação de barra simplificada e, ainda, com os resultados obtidos através do modelo analítico .

65
Figura 45- Secção circular constituída por 20 elementos de casca

6.1 Modelação Sem Molas

Começa-se, então, por analisar o modelo constituído por elementos de casca, sem qualquer mola ao
longo do seu comprimento (fig. 46), o que corresponde novamente à situação de não existir qualquer
recrava em toda a profundidade do poço, sendo a carga total suportada apenas pelo betão armado.

De novo a rigidez das recravas é, portanto, nula (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 0), sendo válidas as equações (5.1) e (5.2)
do capítulo anterior, para o deslocamento do topo do poço e para o esforço axial no betão,
respetivamente.

𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = (5.1)
2 × 𝐸𝑐 × 𝐴

𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 (5.2)

Também para o modelo linear é de novo válida a equação (5.3), que corresponde à hipótese de campo
de deslocamentos linear admitida no modelo analitico.

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜
𝛿(𝑥) = × (𝐿 − 𝑥) (5.3)
𝐿

66
Figura 46- Vista de topo da modelação de elementos de casca sem molas concebida no SAP2000

Efetuando a análise do modelo de elementos de casca no SAP2000, obtém-se o diagrama de tensões


verticais nos elementos apresentados na figura 47.

Figura 47- Diagrama de tensões verticais no betão obtido pelo MEF (KN/m2)

67
Confrontando os resultados obtidos, para o esforço axial no betão (fig. 48 e quadro B.1 do anexo B),
pelo MEF com elementos de casca com os anteriormente obtidos pelo modelo de barra e ainda pelo
modelo analítico, observa-se claramente que, aquando da não existência de recravas no poço, os
resultados são idênticos, variando apenas no modelo de elementos de casca, pois a junção dos 20
elementos adotados representa uma aproximação ao anel de betão real, tendo por isso uma área
ligeiramente menor, o que provoca um esforço axial tenuemente mais baixo ao longo do seu
comprimento.

350

300

250
MEF (Modelo
200 de Cascas)
z (m)

150 Modelo
Analítico
100
MEF (Modelo
50 de Barra)

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Força Axial no Betão (KN)

Figura 48 – Gráfico que representa o esforço axial no betão em função de z (eixo contrário a x)

Examinando, agora, os deslocamentos facultados pelo modelo de cascas e comparando com os


deslocamentos do modelo de barra e do modelo analítico (fig. 49 e quadro B.1 do anexo B), nota-se
que os dois modelos desenvolvidos pelo software SAP2000 fornecem deslocamentos similares,
reforçando, assim, a não exatidão da hipótese de campo de deslocamentos lineares admitida no
modelo analítico, não deixando esta de ser uma aproximação razoável, observando-se que os
deslocamentos no topo do poço dados pelo modelo analítico, pelo modelo de elementos de casca (fig.
50) e pelo modelo barra são iguais.

68
350

300

250
MEF (Modelo
200 de Cascas)
z (m)

150 Modelo
Analítico
100
MEF (Modelo
de Barra)
50

0
0 10 20 30 40 50 60 70
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 49 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x)

Verifica-se que, de uma maneira geral, para uma análise vertical (tensões verticais, esforços axiais e
deslocamentos do poço), os resultados apresentados pelo modelo de elementos de casca são idênticos
aos resultados apresentados pelo modelo de barra simples.

Figura 50- Deformada do poço e deslocamento no topo (sem molas)

69
6.2 Modelação Com Molas

Para ter em conta, agora, o efeito das recravas que existem no maciço rochoso ao longo do
comprimento do poço, trabalhou-se, recorrendo mais uma vez ao software de elementos finitos
SAP2000, um modelo de elementos de casca, que simula a forma do anel de betão do poço, com molas
no desenvolvimento da sua profundidade, com o objetivo de simular a repartição de carga existente
entre o betão armado e o maciço rochoso fraturado.

Portanto, admite-se novamente a rigidez correspondente à existência de recravas de 10 em 10 metros


de profundidade, 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 385011,4 𝐾𝑁/𝑚/𝑚, vigorando, assim, as expressões do deslocamento no
topo do poço (3.47), do esforço axial no betão (3.46) e do esforço axial no maciço rochoso (3.45):

3 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = × (3.47)
2 (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2 + 3 × 𝐸𝑐 × 𝐴)

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ( − 𝐿 × 𝑥) (3.46)
𝐿 2

𝑥 𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥2
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿 × 𝑥 − ) (3.45)
0 𝐿 2

O modelo de elementos de casca apresenta, então, molas de 10 em 10 metros de profundidade, sendo


que no perímetro de cada um desses níveis de profundidade dispõem-se 20 molas de igual rigidez,
devido aos 20 elementos de casca existentes, de forma a que os deslocamentos e esforços sejam
iguais em todos os pontos do mesmo nível (fig. 51).

70
Figura 51- Troço inicial do poço com molas concebido no SAP2000

A rigidez a cada nível de profundidade do modelo de elementos de casca pode ser calculada recorrendo
à equação (5.4) do capítulo anterior:

𝐾𝑖 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝑙𝑖 (5.4)

Sendo, portanto, a rigidez de cada mola (𝐾𝑠𝑖 ) de um nível de profundidade, a divisão entre a rigidez
desse nível (𝐾𝑖 ) e o número de molas (ou de elementos de casca, pois serão iguais) do mesmo (𝑠):

𝐾𝑖 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝑙𝑖
𝐾𝑠𝑖 = = (6.1)
𝑠 𝑠

Expõem-se, no quadro 9, os valores da rigidez de cada mola em cada nível de profundidade:

71
Quadro 9 - Rigidez de cada mola a cada nível de profundidade

𝒙 (𝒎) 𝑲𝒎𝒐𝒍𝒂 (𝑲𝑵/𝒎/𝒎) 𝒍𝒊 (𝒎) 𝑲𝒊 (𝑲𝑵/𝒎) 𝑲𝒔 (𝑲𝑵/𝒎)


0 5 1 925 057,1 96 252,9
10 10 3 850 114,2 192 505,7
20 10 3 850 114,2 192 505,7
30 10 3 850 114,2 192 505,7
40 10 3 850 114,2 192 505,7
50 10 3 850 114,2 192 505,7
60 10 3 850 114,2 192 505,7
70 10 3 850 114,2 192 505,7
80 10 3 850 114,2 192 505,7
90 10 3 850 114,2 192 505,7
100 10 3 850 114,2 192 505,7
110 10 3 850 114,2 192 505,7
120 10 3 850 114,2 192 505,7
130 10 3 850 114,2 192 505,7
140 10 3 850 114,2 192 505,7
150 385 011,4 10 3 850 114,2 192 505,7
160 10 3 850 114,2 192 505,7
170 10 3 850 114,2 192 505,7
180 10 3 850 114,2 192 505,7
190 10 3 850 114,2 192 505,7
200 10 3 850 114,2 192 505,7
210 10 3 850 114,2 192 505,7
220 10 3 850 114,2 192 505,7
230 10 3 850 114,2 192 505,7
240 10 3 850 114,2 192 505,7
250 10 3 850 114,2 192 505,7
260 10 3 850 114,2 192 505,7
270 10 3 850 114,2 192 505,7
280 10 3 850 114,2 192 505,7
290 10 3 850 114,2 192 505,7
300 5 1 925 057,1 96 252,9

Na figura 52, observam-se as tensões verticais produzidas através da análise do programa de cálculo.

72
Figura 52- Diagrama de tensões verticais no betão obtido pela modelação com molas (KN/m2)

Examinando a figura 53 (e mais detalhadamente no quadro B.2 do anexo B), que mostra a comparação
dos esforços axiais no maciço rochoso em função de 𝑧, obtidos pelo modelo de elementos de casca,
pelo modelo de barra e ainda pelo modelo analítico, observa-se que os resultados dos dois primeiros
são idênticos, com um pequeno desfasamento (188 KN na base) que se explica pelo facto de que os
elementos de casca representam uma aproximação ao anel de betão, tendo uma área ligeiramente
menor, enquanto a secção quadrada do modelo de barra tem exatamente a mesma área da secção do
poço, sendo novamente o modelo analítico uma aproximação destes, em função da hipótese admitida
para o campo de deslocamentos.

73
350

300

250

MEF (Modelo
200 de Cascas)
z (m)

150 Modelo
Analítico
100
MEF (Modelo
50 de Barra)

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Força Axial no Maciço (KN)

Figura 53 – Gráfico que representa a força axial no maciço em função de z (eixo contrário a x)

Em relação ao esforço axial no betão (fig. 54 e quadro B.2 do anexo B), verifica-se mais uma vez a
situação de resultados similares, apresentados quer pelo modelo de elementos de casca quer pelo
modelo de barra simplificada, com o respetivo desfasamento já identificado anteriormente; de novo o
modelo analítico aparenta ser uma aproximação razoável dos modelos de elementos finitos, pois,
apesar das diferenças significativas, este fornece valores máximos de tração e compressão superiores
aos respetivos valores de tração e compressão das modelações efetuadas por elementos de casca e
pela barra simples.

74
350

300

250 MEF
(Modelo
de Cascas)
200
z (m)

Modelo
Analítico
150

MEF
100 (Modelo
de Barra)
50

0
-5 000 0 5 000 10 000 15 000
Força Axial no Betão (KN)

Figura 54 – Gráfico que representa a força axial no betão em função de z (eixo contrário a x)

A reação total da estrutura (fig. 55) é dada pela adição da força axial no maciço com a força axial no
betão, que, como previsto, é igual em todos os modelos (analítico, de barra e de elementos de casca),
pois esta representa a força total imposta no poço a cada nível de profundidade.

350

300

250
MEF (Modelo
200 de Cascas)
z (m)

150 Modelo
Analítico
100
MEF (Modelo
50 de Barra)

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Reação Total da Estrutura (KN)

Figura 55 – Gráfico que representa a reação total da estrutura em função de z (eixo contrário a x)

75
A deformada do poço obtida pelo método dos elementos finitos (fig. 56), indica que o deslocamento é
de encurtamento da estrutura, o que é expectável, pois a carga total em causa é no sentido de
comprimir o betão.

Figura 56- Deformada do poço e deslocamento no topo (com molas)

Da análise da figura 57 (e mais detalhadamente no quadro B.2 do anexo B), sai reforçada a não
exatidão da hipótese de campo de deslocamentos lineares. Comparando os deslocamentos verticais
dos três métodos, confirma-se mais uma vez que os resultados obtidos pelo modelo de elementos de
casca são semelhantes aos resultados fornecidos pelo modelo de barra, aparentando ambos uma
forma logarítmica em função de 𝑧; para o deslocamento no topo do poço, o modelo analítico apresenta-
se mais conservativo que ambos os modelos desenvolvidos no programa de elementos finitos, pois
exibe um valor de deslocamento quase 50% superior.

76
350

300

MEF
250
(Modelo de
Cascas)
200
z (m)

Modelo
Analítico
150

100 MEF
(Modelo de
50 Barra)

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 57 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x)

Tanto a modelação sem molas como a modelação com molas do poço com recurso a elementos de
casca, ostentam resultados análogos ao modelo de barra simples (sem molas e com molas,
respetivamente), quer para as forças axiais quer para os deslocamentos verticais. Isto traduz-se na
ideia de que para uma análise vertical e para o caso particular de um poço profundo, é possível efetuar
a análise do mesmo através de um modelo de barra simples ou de um modelo de elementos de casca.

77
78
7 Discussão da Hipótese do Campo de Deslocamentos

Derivado da não exatidão de a hipótese adotada, do campo de deslocamentos variar linearmente em


profundidade, considera-se agora uma nova hipótese de modo a fazer uma aproximação melhorada
dos resultados reais de forças e deslocamentos do poço, em relação à primeira.

Admite-se, portanto, uma nova hipótese em que se define o campo de deslocamentos com uma forma
parabólica (fig. 58), sendo que a expressão deste novo campo de deslocamentos está representada na
equação (7.1).

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜
𝛿(𝑥) = × (𝐿2 − 𝑥 2 ) (7.1)
𝐿2

Figura 58- Campo de deslocamentos parabólico da totalidade do poço e diagrama de corpo livre de um troço do poço

Posto isto, torna-se necessário redefinir as equações correspondentes à força distribuída ao longo do
poço (3.44), à força axial no maciço (3.45), à força axial no betão (3.46) e, ainda, ao deslocamento no
topo do poço (3.47).

79
Começando, então, pela força distribuída ao longo do poço, tem-se agora:

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜
𝑓(𝑥) = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × (𝐿2 − 𝑥 2 ) (7.2)
𝐿2

Influenciando, assim, a expressão da força axial no maciço rochoso, que se designa agora pela
equação (7.3).

𝑥
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥3
∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 2
× ∫ (𝐿2 − 𝑥 2 )𝑑𝑥 = 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 2 × (𝐿2 × 𝑥 − ) (7.3)
0 𝐿 0 𝐿 3

O que, por sua vez, altera a equação da força axial no betão (equação (7.4)).

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥3
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × × ( − 𝐿2 × 𝑥) (7.4)
𝐿2 3

Portanto, a nova expressão do deslocamento no topo do poço é representada pela equação (7.5).

𝐿
𝑁(𝑥) 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = ∫ 𝑑𝑥 = 6 × (7.5)
0 𝐸𝑐 × 𝐴 12 × 𝐸𝑐 × 𝐴 + 5 × 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 × 𝐿2

Recorrendo aos valores do capítulo 4 para as características físicas e geométricas do poço de betão
armado e também do maciço rochoso, e trabalhando agora com as equações (7.3) e (7.4), obtêm-se
os resultados da repartição de carga apresentados no gráfico da figura 59 (e mais detalhadamente no
quadro C.1 do anexo C).

80
N Betão (kN) N maciço (kN) N total (kN)

350

300

250

200
z(m)

150

100

50

0
-10 000 0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
N (kN)

Figura 59 – Gráfico que representa a repartição de carga em função de z

Por comparação com a repartição de carga obtida anteriormente, em que o modelo analítico admitia a
hipótese de o campo de deslocamentos ser linear, observa-se que a repartição de carga agora obtida
apresenta as mesmas tendências que a anterior, uma vez que numa primeira parte do poço o betão se
encontra tracionado e mais perto do fundo encontra-se comprimido, sendo que a força axial no maciço
rochoso é sempre de compressão, com um maior aumento nos primeiros metros e uma aparente
tendência de estabilização mais perto da base do poço. Verifica-se, também, que agora as forças
máximas no betão, quer de tração quer de compressão, são menores do que as previamente
alcançadas, significando isto que a alteração para um campo de deslocamentos de forma parabólica
implica uma menor transferência de carga do betão para o maciço, nos primeiros metros de
profundidade (pois se a força de tração no betão é menor, menor será também a força de compressão
no maciço rochoso ao mesmo nível), e um aumento desta transferência de carga nos últimos metros
de profundidade (derivado da força de compressão no betão ser menor, maior é a força de compressão
no maciço).

Apresentam-se também (figura 60 e quadro C.2 do anexo C), para esta nova hipótese, os
deslocamentos verticais totais, e das parcelas de deslocamento vertical relativo à componente
horizontal da deformação do anel de betão (1), de deslocamento vertical relativo à componente

81
horizontal da deformação da rocha (2), de deslocamento vertical da parede do maciço na zona (zona
1) que está compreendida entre o início e o fundo do poço (3) e de deslocamento vertical da parede do
maciço na zona (zona 2) imediatamente posterior ao fundo do poço (4).

(1) Comp. Hor. Def. Anel Betão (2) Comp. Hor. Def. Rocha
(3) Comp. Vertical Maciço Zona 1 Deslocamento total (1)+(2)+(3) + (4)
(4) Comp. Vertical Maciço Zona 2
350

300 (4) (3)


(2)
(1)
250
(1)+(2)+(3)+(4)

200
z (m)

150

100

50

0
0,000 0,100 0,200 0,300 0,400 0,500 0,600
Deslocamento vertical (mm)

Figura 60 – Gráfico de representação dos deslocamentos verticais em função de z

Como era previsível, todas as parcelas de deslocamento apresentam agora uma forma parabólica,
sendo que a parcela mais contributiva continua a ser a parcela do deslocamento vertical relativo à
componente horizontal da deformação do anel de betão (1), que representa cerca de 76% do
deslocamento vertical total, seguindo-se a parcela do deslocamento vertical relativo à componente
horizontal da deformação da rocha (2), com uma representatividade de 17,5%, posteriormente a parcela
de deslocamento vertical da parede do maciço na zona 1 (3), com uma contribuição de 6,5% para o
deslocamento vertical total e, por fim, a parcela do deslocamento vertical da parede do maciço na zona
2 (4), que apresenta uma contribuição praticamente nula (0,01%). Comparando com os deslocamentos
obtidos anteriormente, verifica-se que os deslocamentos no topo do poço diminuem com a adoção

82
desta nova hipótese referente ao campo de deslocamentos, enquanto os deslocamentos mais perto da
base do poço são mais elevados.

Nos subcapítulos que se seguem apresenta-se uma comparação entre o modelo analítico admitindo a
hipótese do campo de deslocamentos ser linear, o modelo analítico admitindo a hipótese do campo de
deslocamentos apresentar uma forma parabólica e o modelo de MEF de barra simples, de forma a
avaliar as diferenças entre estes.

7.1 Comparação com a Situação Sem Recravas

Procura-se, agora, efetuar uma comparação dos resultados obtidos para o modelo analítico que admite
esta nova hipótese do campo de deslocamentos parabólico, com os resultados alcançados para o
modelo analítico que admite a hipótese do campo de deslocamentos linear e com os resultados obtidos
pelo modelo de barra simples modelada através do software SAP2000, no caso em que não existem
recravas em todo o comprimento do poço.

Derivado do facto de não existirem recravas, a rigidez destas é nula, ou seja, 𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 = 0. Portanto as
equações (7.4) e (7.5), que fornecem o esforço axial no betão e o deslocamento no topo do poço,
respetivamente, alteram-se para as expressões (7.6) e (7.7).

𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑥3
𝑁(𝑥) = 𝑝 × 𝑥 + 0 × × ( − 𝐿2 × 𝑥) = 𝑝 × 𝑥 (7.6)
𝐿2 3

𝑝 × 𝐿2 𝑝 × 𝐿2
𝛿𝑡𝑜𝑝𝑜 = 6 × 2
= (7.7)
12 × 𝐸𝑐 × 𝐴 + 5 × 0 × 𝐿 6 × 𝐸𝑐 × 𝐴

Comparando os esforços axiais no betão, através do modelo de elementos finitos, e do modelo analítico
com hipótese de campo de deslocamentos linear, já obtidos anteriormente, com o esforço axial no
betão obtido agora com recurso à equação (7.6) (fig. 61 e quadro C.3 do anexo C), observa-se que
estes são idênticos, como seria previsível, pois no caso em que não existem recravas a força axial no
betão é igual à carga total imposta no poço.

83
350

300

250
MEF
200
z (m)

150 Modelo Analítico


(Hipótese Linear)
100
Modelo Analítico
50 (Hipósese
Parabólica)
0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Força Axial no Betão (KN)

Figura 61 – Gráfico que representa o esforço axial no betão em função de z (eixo contrário a x)

No que aos deslocamentos verticais diz respeito, verifica-se, pela análise da figura 62 (e mais
detalhadamente no quadro C.3 do anexo C), que estes são idênticos quando se comparam o modelo
analítico que admite um campo de deslocamentos parabólico com o modelo de barra de MEF,
significando isto que esta nova hipótese admitida para o campo de deslocamentos é exata, no caso em
que não existe qualquer recrava em toda a profundidade do poço.

350

300

250

MEF
200
z (m)

150 Modelo Analítico


(Hipótese Linear)
100
Modelo Analítico
50 (Hipótese Parabólica)

0
0 20 40 60 80
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 62 – Representação dos deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x)

84
Conclui-se, portanto, que esta nova hipótese melhora significativamente os resultados obtidos em
relação ao modelo analítico com hipótese de campo de deslocamentos linear, pois é, como já referido,
exata para a situação em que não existem recravas, e para o caso em que existem recravas prevê-se
que haja também, no mínimo, uma maior aproximação aos resultados fornecidos pelo MEF.

7.2 Comparação com a Situação Com Recravas

Considerando, agora, a presença de recravas ao longo da profundidade do poço, procura-se, em


seguida, confrontar os resultados dados pelo modelo analítico que admite a hipótese do campo de
deslocamentos parabólico com os resultados fornecidos pelo modelo analítico, quando se considera o
campo de deslocamentos linear e pelo modelo de barra do MEF.

A rigidez das recravas continua a ser a que havia sido considerada em capítulos anteriores (𝐾𝑚𝑜𝑙𝑎 =
385011,4 𝐾𝑁/𝑚/𝑚), que corresponde, uma vez mais, a considerar a presença de uma recrava de 10
em 10 metros de profundidade, vigorando então as equações (7.3), (7.4) e (7.5), obtidas anteriormente
que facultam a força axial no maciço rochoso, a força axial no betão armado e o deslocamento no topo
do poço, respetivamente.

Observando a figura 63 (e mais detalhadamente no quadro C.4 do anexo C), verifica-se que, no que
diz respeito à força axial no maciço, o modelo analítico que admite o campo de deslocamentos
parabólico desenvolve uma melhor aproximação aos resultados obtidos pelo modelo de barra, do que
o modelo analítico com hipótese de campo de deslocamentos linear, existindo, entre o primeiro e o
segundo, nos primeiros 200 metros de profundidade, uma diferença máxima de cerca de 1600 KN, e
nos últimos 100 metros uma diferença máxima de 6836 KN, diferenças estas significativas em relação
às obtidas no capítulo 5. Estas diferenças constroem a ideia de que a hipótese do campo de
deslocamento parabólico não é exata para o caso em que existem recravas na profundidade do maciço,
mas será uma melhor aproximação do que a hipótese inicialmente admitida do campo de
deslocamentos linear.

85
350

300

250

MEF
200
z (m)

Modelo Analítico
150
(Hipótese Linear)

100 Modelo Analítico


(Hipótese Parabólica)

50

0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Força Axial no Maciço (KN)

Figura 63 – Gráfico da representação da força axial no maciço em função de z (eixo contrário a x)

Relativamente à força axial no betão (fig. 64 e quadro C.4 do anexo C), os resultados obtidos pelo
modelo analítico com hipótese do campo de deslocamentos parabólico apresentam a mesma
tendência, a já observada no modelo de MEF e no modelo analítico que admite o campo de
deslocamentos linear, apresentando nos primeiros 200 metros de profundidade esforços de tração, e
nos últimos 100 metros esforços de compressão, aproximando-se mais dos resultados obtidos pelo
modelo de barra, com diferenças máximas dos esforços de tração e de compressão de 1600 e 6839
KN, respetivamente. Apesar destas diferenças, esta nova hipótese aparenta ser uma aproximação
plausível, e melhorada em relação à hipótese inicial, uma vez que os valores máximos de tração e
compressão estão do lado da segurança, em relação aos resultados dados pelo modelo de barra do
MEF.

86
350

300

250

MEF
200
z (m)

Modelo Analítico
150 (Hipótese Linear)

Modelo Analítico
100 (Hipótese Parabólica)

50

0
-5 000 0 5 000 10 000 15 000
Força Axial no Betão (KN)

Figura 64 – Gráfico que representa a força axial no betão em função de z (eixo contrário a x)

As reações totais da estrutura, que é dada pela soma da força axial no maciço rochoso com a força
axial no betão a cada nível de profundidade (fig. 65), são similares quer para o modelo de barra obtido
pelo SAP2000, quer para ambas as hipóteses do modelo analítico (campo de deslocamentos linear e
campo de deslocamentos parabólico), sendo estes resultados expectáveis, pois a reação total da
estrutura é igual à carga total imposta no poço.

87
350

300

250
MEF
200
z (m)

150 Modelo Analítico


(Hipótese Linear)
100
Modelo Analítico
50 (Hipósese
Parabólica)
0
0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000
Reação Total da Estrutura (KN)

Figura 65 – Gráfico que representa a reação total da estrutura em função de z (eixo contrário a x)

Analisando o gráfico da figura 66 (e mais detalhadamente no quadro C.4 do anexo C), verifica-se que,
de facto, a nova hipótese que admite o campo de deslocamentos parabólico não é exata para a situação
em que existem recravas ao longo do comprimento do poço; ainda assim esta representa uma melhor
aproximação aos deslocamentos obtidos pelo modelo de barra, em relação à hipótese anterior que
admitia o campo de deslocamentos linear. O deslocamento no topo do poço dado por esta nova
hipótese continua a ser conservativo, pois apresenta-se maior que o obtido no modelo de MEF.

350

300

250
MEF

200
z (m)

Modelo Analítico
150 (Hipótese Linear)

Modelo Analítico
100 (Hipótese
Parabólica)
50

0
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 66 – Gráfico que representa os deslocamentos verticais em função de z (eixo contrário a x)

88
É viável, então, afirmar que a adoção da hipótese de campo de deslocamentos parabólico apresenta,
no geral, melhorias em todos os resultados fornecidos pelo modelo analítico relativamente à hipótese
do campo de deslocamentos linear, tendo como referência os resultados do modelo de barra simples
no MEF (sendo exata no caso em que não existem recravas e aproximada no caso em que existem),
melhorando-se assim o modelo analítico obtido numa primeira fase. Uma vez que as variáveis força
axial no maciço rochoso, força axial no betão armado e deslocamento no topo do poço são dependentes
entre si, ter-se-ia que recorrer a um processo iterativo para obter a solução exata, no que respeita à
forma do campo de deslocamentos.

89
90
8 Dimensionamento Estrutural do Poço

Procede-se, neste ponto, ao dimensionamento estrutural do poço, que implica a verificação à


compressão do betão no fundo do poço, pois é onde existe uma maior força de compressão, e também
o cálculo das armaduras a adotar para acomodar o esforço de tração. Este dimensionamento será feito
para os resultados dos três casos observados no capítulo anterior: modelo analítico com hipótese de
campo de deslocamentos linear, modelo analítico com hipótese de campo de deslocamentos parabólico
e modelo de método de elementos finitos.

8.1 Verificação da Compressão no Betão

De modo a garantir que o betão não entra em rotura por compressão, é necessária a verificação da
condição expressa na equação (8.1) (expressão 3.15 do EC2), que fornece o limite máximo para a
tensão de compressão atuante no betão.

𝛼𝑐𝑐 × 𝑓𝑐𝑘
𝜎𝑐 ≤ 𝑓𝑐𝑑 = (8.1)
𝛾𝑐

Com,

𝜎𝑐 – tensão de compressão no betão (MPa);

𝑓𝑐𝑑 – valor de cálculo da tensão de rotura do betão à compressão (MPa);

𝑓𝑐𝑘 – valor característico da tensão de rotura do betão à compressão (MPa);

𝛼𝑐𝑐 – coeficiente que tem em conta os efeitos de longo prazo na resistência à compressão e os efeitos
desfavoráveis resultantes do modo como a carga é aplicada (considera-se 𝛼𝑐𝑐 = 0,85);

𝛾𝑐 – coeficiente parcial de segurança relativo ao betão (tem o valor de 1,5).

Sendo o betão considerado, um betão de classe C30/37 (com um valor de 𝑓𝑐𝑘 = 30 𝑀𝑃𝑎), o valor de
cálculo da tensão de rotura no betão é:

0,85 × 30
𝑓𝑐𝑑 = = 17 𝑀𝑃𝑎
1,5

91
A tensão de compressão atuante no betão é dada pela equação (8.2).

𝑁𝑐𝑚á𝑥 × 𝛾
𝜎𝑐 = (8.2)
𝐴𝑐

Com,

𝑁𝑐𝑚á𝑥 – força máxima de compressão qua atua no betão em todo o comprimento do poço (KN);

𝐴𝑐 – área do anel de betão (m2);

𝛾 - coeficiente parcial de segurança relativo à carga total (tem o valor de 1,5).

Apresentam-se, no quadro 10, os valores das tensões de compressão para cada um dos três casos
referidos acima (de salientar que os valores máximos da força de compressão se encontram todos na
base do poço).

Quadro 10 - Valores de tensão de compressão no betão para os três modelos

Modelo Analítico Modelo Analítico


MEF
(Hipótese Linear) (Hipótese Parabólica)
𝑵𝒎á𝒙
𝒄 (𝑲𝑵) 2829,28 12058,08 9665,83
𝑨𝒄 (𝒎𝟐 ) 5,843 5,843 5,843
𝝈𝒄 (𝑴𝑷𝒂) 0,726 3,096 2,481

Verifica-se, portanto, que quer os dois casos do modelo analítico, quer o modelo de MEF, cumprem a
condição imposta anteriormente, pois todos são menores que os 17 𝑀𝑃𝑎 que representam a tensão de
rotura do betão.

Na situação em que não se considera a rigidez das recravas é o betão que suporta toda a força axial,
sendo que no fundo do poço se apresenta 𝑁𝑐𝑚á𝑥 = 46825,20 𝐾𝑁, o que corresponde a uma tensão de
𝜎𝑐 = 12,02 𝑀𝑃𝑎, ou seja, para este caso, com um betão de classe C30/37, um poço com 300 metros
de profundidade e com uma sobrecarga de 10 𝐾𝑁/𝑚, a tensão de rotura (17 𝑀𝑃𝑎) não seria atingida,
mesmo sem a consideração da rigidez das recravas. No entanto, no caso de betões mais fracos, poços
mais profundos ou maiores sobrecargas é possível que, para o caso em que não se considera a rigidez
das recravas, a tensão de rotura por compressão seja ultrapassada, enquanto que considerando esta
rigidez através da utilização do modelo analítico seria possível a verificação da condição (8.1).

92
8.2 Verificação da Tração no Betão e Cálculo de Armaduras

É, também, importante efetuar a verificação da não rotura do betão por tração do mesmo, sendo para
isso necessário provar a condição dada pela expressão (8.3) (equação 3.16 do EC2), que fornece o
limite máximo para a tensão de tração atuante no betão.

𝛼𝑐𝑡 × 𝑓𝑐𝑡𝑘,0,05
𝜎𝑐𝑡 ≤ 𝑓𝑐𝑡𝑑 = (8.3)
𝛾𝑐

Em que:

𝜎𝑐𝑡 – tensão de tração no betão (MPa);

𝑓𝑐𝑡𝑑 – valor de cálculo da tensão de rotura do betão à tração (MPa);

𝑓𝑐𝑡𝑘,0,05 – valor característico inferior da tensão de rotura do betão à tração (MPa);

𝛼𝑐𝑡 – coeficiente que tem em conta os efeitos de longo prazo na resistência à tração e os efeitos
desfavoráveis resultantes do modo como a carga é aplicada (considera-se 𝛼𝑐𝑡 = 1);

𝛾𝑐 – coeficiente parcial de segurança relativo ao betão (tem o valor de 1,5).

O valor de cálculo da tensão de rotura por tração no betão de classe C30/37 (com 𝑓𝑐𝑡𝑘,0,05 = 2,0 𝑀𝑃𝑎)
é:

1 × 2,0
𝑓𝑐𝑡𝑑 = = 1,33 𝑀𝑃𝑎
1,5

Sendo a tensão de tração no betão fornecida pela equação (8.4), e apresentando-se no quadro 11 os
valores das tensões de tração para cada um dos três métodos.

𝑁𝑡𝑚á𝑥 × 𝛾
𝜎𝑐𝑡 = (8.4)
𝐴𝑐

93
Com,

𝑁𝑡𝑚á𝑥 – força máxima de tração qua atua no betão em todo o comprimento do poço (KN);

𝐴𝑐 – área do anel de betão (m 2);

𝛾 - coeficiente parcial de segurança relativo à carga total (tem o valor de 1,5).

Quadro 11 - Valores de tensão de tração no betão para os três modelos

Modelo Analítico Modelo Analítico


MEF
(Hipótese Linear) (Hipótese Parabólica)

𝑵𝒎á𝒙
𝒕 (𝑲𝑵) 780,76 3706,67 2376,45
𝑨𝒄 (𝒎𝟐 ) 5,843 5,843 5,843
𝝈𝒄 (𝑴𝑷𝒂) 0,200 0,952 0,610

Quanto ao cálculo das armaduras a adotar, uma vez que se trata de um poço vertical de secção circular,
é possível efetuar este cálculo como se este fosse uma parede vertical de betão, de acordo com o EC2.
A área de armadura necessária é, então, fornecida pela expressão (8.5).

𝐹𝑡
𝐴𝑠 = (8.5)
𝑓𝑦𝑑

Em que:

𝐹𝑡 – força de tração total no betão (KN);

𝑓𝑦𝑑 – tensão de cedência do aço (para A500, 𝑓𝑦𝑑 = 435 𝑀𝑃𝑎).

Uma vez que no poço não existem momentos aplicados no betão, a força total de tração é dada por
𝐹𝑡 = 𝑁𝑡𝑚á𝑥 × 𝛾. De modo a obter a distribuição de armadura no anel de betão é necessário dividir a área
de armadura pelo perímetro do mesmo (quadro 12).

94
Quadro 12 - Armaduras necessárias em cada modelo

Modelo Analítico Modelo Analítico


MEF (Hipótese Linear) (Hipótese Parabólica)

𝑵𝒎á𝒙
𝒕 (𝑲𝑵) 780,76 3706,67 2376,45
𝑭𝒕 (𝑲𝑵) 1171,1 5560,0 3564,7
𝑨𝒔 (𝒄𝒎𝟐 ) 26,9 127,8 81,9
𝑨𝒔
(𝒄𝒎𝟐 /𝒎) 1,32 6,26 4,01
𝒔
Armadura adotada
φ6//0,30 φ10//0,20 φ8//0,20
em cada face

É, ainda, essencial o cálculo da área de armadura mínima necessária, através da expressão (8.6),
apresentando-se no quadro 13 a área de armadura distribuída necessária e a respetiva armadura
adotada.

𝑓𝑐𝑡𝑚
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = × 𝐴𝑐 (8.6)
𝑓𝑦𝑑

Com,

𝑓𝑐𝑡𝑚 - valor médio da tensão de rotura do betão à tração (para o betão de classe C30/37, 𝑓𝑐𝑡𝑚 =
2,9 𝑀𝑃𝑎).

Quadro 13 - Armadura mínima necessária

𝑨𝒔,𝒎𝒊𝒏 (𝒄𝒎𝟐 ) 338,9

𝑨𝒔,𝒎𝒊𝒏 16,60
(𝒄𝒎𝟐 /𝒎)
𝒔
Armadura adotada
φ16//0,20
em cada face

Portanto, a armadura longitudinal a adotar será a armadura mínima, uma vez que esta é superior quer
à área de armadura calculada nos dois casos do modelo analítico, quer no modelo de elementos finitos.
Relativamente à armadura transversal adota-se, por segurança e de modo a ter uma maior robustez
estrutural, φ20//0,20. No anexo D são apresentados os desenhos de pormenor das armaduras.

95
96
9 Conclusões e Desenvolvimentos Futuros

O objetivo prioritário desta dissertação era o de obter um modelo analítico que simulasse a repartição
de carga entre betão e maciço rochoso para o dimensionamento de poços profundos de betão armado
inserido em maciços rochosos fraturados; este objetivo foi cumprido, pois alcançou-se um modelo
analítico que aproxima esta repartição de carga.

Como principal conclusão, tem-se que o modelo analítico obtido para a repartição de carga fornece
resultados aproximados, devido ao campo de deslocamentos considerado não ser exato, sendo que,
no caso da força axial no betão, os resultados máximos fornecidos (de tração e de compressão) estão
sempre do lado da segurança, transmitindo, assim, a ideia que o modelo analítico representa uma
aproximação conservativa.

Relativamente aos resultados da repartição de carga obtida pelo modelo analítico desenvolvido,
salienta-se que em relação à força axial no betão, observa-se tração em grande parte do comprimento
do poço, e compressão mais junto do fundo do mesmo, reconhecendo-se que este resultado se deve
ao efeito do tipo mola conferido pelas recravas do maciço rochoso; já a força axial no maciço aumenta
grandemente nos primeiros metros de profundidade e tende a estabilizar nos últimos metros.

O campo de deslocamentos real não é linear, como inicialmente se admitia no modelo analítico,
apresentando uma forma aparentemente logarítmica que deriva do facto da carga aplicada no poço ser
um carga distribuída e, principalmente, do efeito do tipo mola conferido pelas recravas. A hipótese
posteriormente admitida que supõe o campo de deslocamentos parabólico representa uma melhor
aproximação que a anterior, ainda que não seja também a exata.

Da análise de sensibilidade efetuada ao modelo analítico, observa-se que os seus parâmetros mais
influentes são o raio interior do poço, a espessura do anel de betão, a largura das recravas, a inclinação
destas relativamente ao eixo vertical e, ainda, o coeficiente de atrito da rocha, com estes três últimos a
apresentarem uma transferência de carga do betão para o maciço rochoso que pode chegar aos 1000
KN.

Relativamente ao dimensionamento estrutural do poço, conclui-se que quer para o modelo analítico,
quer para o modelo de MEF encontram-se verificadas a segurança do betão à compressão e a
segurança do betão à tração, com as armaduras adotadas a corresponderem à armadura mínima
imposta pelos regulamentos. No caso de não se considerar a rigidez das recravas é possível que, para
betões mais fracos, poços mais profundos ou elevadas sobrecargas, não se verifique a segurança do
betão à compressão, contrariamente ao caso em que esta rigidez é considerada através do modelo
analítico. Posto isto, conclui-se que este modelo permite a adoção de betões mais fracos, pois a tensão
de compressão é aliviada pelas recravas.

97
Como estudos futuros sugerem-se o melhoramento da forma do campo de deslocamentos admitido no
modelo, de maneira a aproximar cada vez mais os resultados deste aos resultados obtidos pelo método
dos elementos finitos; a verificação, também, de toda a hipótese desenvolvida no que diz respeito à
rigidez de uma recrava isolada; a aplicação do modelo a outros exemplos reais comparando resultados,
se possível; e ainda a aplicação do modelo de elementos finitos com elementos de casca a geometrias
mais complexas, como por exemplo uma abertura na parede do poço para acessos. Sugere-se também
ainda a consideração dos efeitos de retração e fluência do betão na determinação do deslocamento
horizontal do anel de betão.

98
10 Referências Bibliográficas

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99
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100
Anexos

101
102
ANEXO A

103
104
Quadro A.1- Valores da repartição de carga em função de z
𝒙
𝒛 (𝒎) 𝒇(𝒙) (𝑲𝑵/𝒎) ∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙 (𝑲𝑵) 𝑵(𝒙) (𝑲𝑵) 𝑭𝒐𝒓ç𝒂 𝑻𝒐𝒕𝒂𝒍 (𝑲𝑵)
𝟎
300 232 0 0 0
290 224 2 279 -718 1 561
280 216 4 481 -1 359 3 122
270 209 6 606 -1 923 4 683
260 201 8 653 -2 410 6 243
250 193 10 623 -2 819 7 804
240 185 12 516 -3 151 9 365
230 178 14 332 -3 406 10 926
220 170 16 070 -3 583 12 487
210 162 17 731 -3 684 14 048
200 155 19 315 -3 707 15 608
190 147 20 822 -3 652 17 169
180 139 22 251 -3 521 18 730
170 131 23 603 -3 312 20 291
160 124 24 878 -3 026 21 852
150 116 26 075 -2 663 23 413
140 108 27 196 -2 222 24 973
130 100 28 239 -1 704 26 534
120 93 29 204 -1 109 28 095
110 85 30 093 -437 29 656
100 77 30 904 313 31 217
90 70 31 638 1 140 32 778
80 62 32 295 2 044 34 338
70 54 32 874 3 025 35 899
60 46 33 376 4 084 37 460
50 39 33 801 5 220 39 021
40 31 34 149 6 433 40 582
30 23 34 419 7 723 42 143
20 15 34 613 9 091 43 704
10 8 34 729 10 536 45 264
0 0 34 767 12 058 46 825

105
Quadro A.2- Valores dos deslocamentos verticais

𝒛 (𝒎) 𝜹𝒄,𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝒓,𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝑽𝒓𝟏 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝑽𝒓𝟐 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎)
300 0,457 0,106 0,040 0,000 0,602
290 0,441 0,102 0,038 0,000 0,582
280 0,426 0,099 0,037 0,000 0,562
270 0,411 0,095 0,036 0,000 0,542
260 0,396 0,092 0,034 0,000 0,522
250 0,381 0,088 0,033 0,000 0,502
240 0,365 0,085 0,032 0,000 0,482
230 0,350 0,081 0,030 0,000 0,462
220 0,335 0,077 0,029 0,000 0,441
210 0,320 0,074 0,028 0,000 0,421
200 0,304 0,070 0,026 0,000 0,401
190 0,289 0,067 0,025 0,000 0,381
180 0,274 0,063 0,024 0,000 0,361
170 0,259 0,060 0,022 0,000 0,341
160 0,244 0,056 0,021 0,000 0,321
150 0,228 0,053 0,020 0,000 0,301
140 0,213 0,049 0,018 0,000 0,281
130 0,198 0,046 0,017 0,000 0,261
120 0,183 0,042 0,016 0,000 0,241
110 0,167 0,039 0,015 0,000 0,221
100 0,152 0,035 0,013 0,000 0,201
90 0,137 0,032 0,012 0,000 0,181
80 0,122 0,028 0,011 0,000 0,161
70 0,107 0,025 0,009 0,000 0,140
60 0,091 0,021 0,008 0,000 0,120
50 0,076 0,018 0,007 0,000 0,100
40 0,061 0,014 0,005 0,000 0,080
30 0,046 0,011 0,004 0,000 0,060
20 0,030 0,007 0,003 0,000 0,040
10 0,015 0,004 0,001 0,000 0,020
0 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

106
ANEXO B

107
108
Quadro B.1– Valores de esforço axial no betão e deslocamentos verticais no caso em que não existem recravas

𝑵(𝒙) (𝑲𝑵) 𝜹𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎)


Modelo MEF MEF Modelo MEF MEF
𝒛 (𝒎)
Analítico (Barra) (Cascas) Analítico (Barra) (Cascas)
0 46825 46825 46633 0,00 0,00 0,00
10 45264 45264 45078 2,00 3,94 3,88
20 43704 43703 43524 4,01 7,75 7,70
30 42143 42143 41970 6,01 11,42 11,37
40 40582 40582 40415 8,01 14,96 14,91
50 39021 39021 38861 10,02 18,36 18,32
60 37460 37460 37306 12,02 21,64 21,59
70 35899 35899 35752 14,02 24,78 24,73
80 34338 34338 34197 16,03 27,78 27,73
90 32778 32778 32643 18,03 30,65 30,60
100 31217 31217 31089 20,03 33,39 33,34
110 29656 29656 29534 22,04 35,99 35,95
120 28095 28095 27980 24,04 38,46 38,42
130 26534 26534 26425 26,04 40,80 40,75
140 24973 24973 24871 28,05 43,01 42,96
150 23413 23413 23316 30,05 45,08 45,03
160 21852 21852 21762 32,05 47,01 46,97
170 20291 20291 20208 34,06 48,82 48,77
180 18730 18730 18653 36,06 50,48 50,44
190 17169 17169 17099 38,06 52,02 51,97
200 15608 15608 15544 40,07 53,42 53,38
210 14048 14048 13990 42,07 54,69 54,64
220 12487 12487 12435 44,07 55,83 55,78
230 10926 10926 10881 46,08 56,83 56,78
240 9365 9365 9327 48,08 57,70 57,65
250 7804 7804 7772 50,08 58,43 58,38
260 6243 6243 6218 52,09 59,03 58,99
270 4683 4683 4663 54,09 59,50 59,45
280 3122 3122 3109 56,09 59,83 59,79
290 1561 1561 1554 58,10 60,03 59,99
300 0 0 0 60,10 60,10 60,05

109
Quadro B.2 - Valores de esforço axial na rocha, esforço axial no betão e deslocamentos verticais no caso em que existem
recravas
𝒙
∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙 (𝑲𝑵) 𝑵(𝒙) (𝑲𝑵) 𝜹𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎)
𝟎
Modelo MEF MEF Modelo MEF MEF Modelo MEF MEF
𝒛 (𝒎)
Analítico (Barra) (Cascas) Analítico (Barra) (Cascas) Analítico (Barra) (Cascas)
0 34767 43996 43807 12058 2829 2826 0,000 0,000 0,000
10 34729 43996 43807 10536 1268 1272 0,020 0,175 0,173
20 34613 43321 43142 9091 383 382 0,040 0,275 0,273
30 34419 42263 42089 7723 -120 -120 0,060 0,331 0,330
40 34149 40988 40820 6433 -406 -404 0,080 0,363 0,362
50 33801 39589 39427 5220 -568 -566 0,100 0,382 0,380
60 33376 38120 37964 4084 -660 -657 0,120 0,392 0,390
70 32874 36611 36461 3025 -712 -709 0,140 0,398 0,396
80 32295 35080 34936 2044 -742 -739 0,161 0,401 0,399
90 31638 33536 33398 1140 -758 -755 0,181 0,403 0,401
100 30904 31985 31853 313 -768 -765 0,201 0,404 0,402
110 30093 30429 30304 -437 -773 -770 0,221 0,405 0,403
120 29204 28871 28753 -1109 -776 -773 0,241 0,405 0,403
130 28239 27312 27200 -1704 -778 -775 0,261 0,405 0,403
140 27196 25752 25647 -2222 -779 -776 0,281 0,405 0,404
150 26075 24192 24093 -2663 -779 -776 0,301 0,405 0,404
160 24878 22632 22539 -3026 -780 -777 0,321 0,405 0,404
170 23603 21071 20984 -3312 -780 -777 0,341 0,405 0,404
180 22251 19510 19430 -3521 -780 -777 0,361 0,405 0,404
190 20822 17950 17876 -3652 -781 -777 0,381 0,405 0,404
200 19315 16389 16321 -3707 -781 -777 0,401 0,405 0,404
210 17731 14828 14767 -3684 -780 -777 0,421 0,405 0,404
220 16070 13267 13212 -3583 -780 -777 0,441 0,405 0,404
230 14332 11706 11658 -3406 -780 -777 0,462 0,405 0,404
240 12516 10145 10104 -3151 -780 -777 0,482 0,405 0,404
250 10623 8585 8549 -2819 -781 -777 0,502 0,405 0,404
260 8653 7024 6995 -2410 -781 -777 0,522 0,405 0,404
270 6606 5463 5440 -1923 -780 -777 0,542 0,405 0,404
280 4481 3902 3886 -1359 -780 -777 0,562 0,405 0,404
290 2279 2341 2332 -718 -780 -777 0,582 0,405 0,404
300 0 780 777 0 -780 -777 0,602 0,405 0,404

110
ANEXO C

111
112
Quadro C.1- Valores da repartição de carga em função de z com a hipótese do campo de deslocamentos parabólico
𝒙
𝒛 (𝒎) 𝒇(𝒙) (𝑲𝑵/𝒎) ∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙 (𝑲𝑵) 𝑵(𝒙) (𝑲𝑵) 𝑭𝒐𝒓ç𝒂 𝑻𝒐𝒕𝒂𝒍 (𝑲𝑵)
𝟎
300 186 0 0 0
290 186 1 857 -296 1 561
280 185 3 710 -589 3 122
270 184 5 555 -873 4 683
260 182 7 388 -1 144 6 243
250 181 9 204 -1 400 7 804
240 178 10 999 -1 634 9 365
230 176 12 770 -1 844 10 926
220 173 14 511 -2 025 12 487
210 169 16 220 -2 173 14 048
200 165 17 892 -2 283 15 608
190 161 19 522 -2 353 17 169
180 156 21 107 -2 376 18 730
170 151 22 642 -2 351 20 291
160 145 24 123 -2 272 21 852
150 139 25 547 -2 134 23 413
140 133 26 909 -1 935 24 973
130 126 28 205 -1 670 26 534
120 119 29 430 -1 335 28 095
110 111 30 581 -926 29 656
100 103 31 654 -437 31 217
90 95 32 645 133 32 778
80 86 33 548 790 34 338
70 77 34 361 1 539 35 899
60 67 35 078 2 382 37 460
50 57 35 697 3 324 39 021
40 46 36 213 4 369 40 582
30 35 36 621 5 522 42 143
20 24 36 917 6 786 43 704
10 12 37 098 8 166 45 264
0 0 37 159 9 666 46 825

113
Quadro C.2 - Valores dos deslocamentos verticais com a hipótese do campo de deslocamentos parabólico

𝒛 (𝒎) 𝜹𝒄,𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝒓,𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝑽𝒓𝟏 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝑽𝒓𝟐 (𝒙) (𝒎𝒎) 𝜹𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎)
300 0,366 0,085 0,032 0,000 0,483
290 0,366 0,085 0,032 0,000 0,482
280 0,364 0,084 0,032 0,000 0,480
270 0,362 0,084 0,031 0,000 0,478
260 0,360 0,083 0,031 0,000 0,474
250 0,356 0,082 0,031 0,000 0,469
240 0,351 0,081 0,030 0,000 0,463
230 0,346 0,080 0,030 0,000 0,456
220 0,340 0,079 0,029 0,000 0,448
210 0,333 0,077 0,029 0,000 0,439
200 0,325 0,075 0,028 0,000 0,429
190 0,317 0,073 0,027 0,000 0,418
180 0,308 0,071 0,027 0,000 0,405
170 0,297 0,069 0,026 0,000 0,392
160 0,286 0,066 0,025 0,000 0,377
150 0,275 0,064 0,024 0,000 0,362
140 0,262 0,061 0,023 0,000 0,345
130 0,249 0,057 0,022 0,000 0,328
120 0,234 0,054 0,020 0,000 0,309
110 0,219 0,051 0,019 0,000 0,289
100 0,203 0,047 0,018 0,000 0,268
90 0,187 0,043 0,016 0,000 0,246
80 0,169 0,039 0,015 0,000 0,223
70 0,151 0,035 0,013 0,000 0,199
60 0,132 0,030 0,011 0,000 0,174
50 0,112 0,026 0,010 0,000 0,147
40 0,091 0,021 0,008 0,000 0,120
30 0,070 0,016 0,006 0,000 0,092
20 0,047 0,011 0,004 0,000 0,062
10 0,024 0,006 0,002 0,000 0,032
0 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

114
Quadro C.3 - Valores dos deslocamentos verticais e do esforço axial no betão no caso em que não existem recravas

𝑵(𝒙) (𝑲𝑵) 𝜹𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎)


Modelo Modelo Modelo Modelo
𝒛 (𝒎) MEF Analítico Analítico MEF Analítico Analítico
(Linear) (Parabólico) (Linear) (Parabólico)
300 0 0 0 60,10 60,10 60,10
290 1561 1561 1561 60,03 58,10 60,03
280 3122 3122 3122 59,83 56,09 59,83
270 4683 4683 4683 59,50 54,09 59,50
260 6243 6243 6243 59,03 52,09 59,03
250 7804 7804 7804 58,43 50,08 58,43
240 9365 9365 9365 57,70 48,08 57,70
230 10926 10926 10926 56,83 46,08 56,83
220 12487 12487 12487 55,83 44,07 55,83
210 14048 14048 14048 54,69 42,07 54,69
200 15608 15608 15608 53,42 40,07 53,42
190 17169 17169 17169 52,02 38,06 52,02
180 18730 18730 18730 50,48 36,06 50,48
170 20291 20291 20291 48,82 34,06 48,81
160 21852 21852 21852 47,01 32,05 47,01
150 23413 23413 23413 45,08 30,05 45,08
140 24973 24973 24973 43,01 28,05 43,01
130 26534 26534 26534 40,80 26,04 40,80
120 28095 28095 28095 38,46 24,04 38,46
110 29656 29656 29656 35,99 22,04 35,99
100 31217 31217 31217 33,39 20,03 33,39
90 32778 32778 32778 30,65 18,03 30,65
80 34338 34338 34338 27,78 16,03 27,78
70 35899 35899 35899 24,78 14,02 24,77
60 37460 37460 37460 21,64 12,02 21,64
50 39021 39021 39021 18,36 10,02 18,36
40 40582 40582 40582 14,96 8,01 14,96
30 42143 42143 42143 11,42 6,01 11,42
20 43703 43704 43704 7,75 4,01 7,75
10 45264 45264 45264 3,94 2,00 3,94
0 46825 46825 46825 0,00 0,00 0,00

115
Quadro C.4 - Valores de esforço axial na rocha, esforço axial no betão e deslocamentos verticais no caso em que existem
recravas
𝒙
∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙 (𝑲𝑵) 𝑵(𝒙) (𝑲𝑵) 𝜹𝑽 (𝒙) (𝒎𝒎)
𝟎
Modelo Modelo Modelo Modelo Modelo Modelo
𝒛 (𝒎) MEF Analítico Analítico MEF Analítico Analítico MEF Analítico Analítico
(Linear) (Parabólico) (Linear) (Parabólico) (Linear) (Parabólico)
300 780 0 0 -780 0 0 0,405 0,602 0,483
290 2341 2279 1857 -780 -718 -296 0,405 0,582 0,482
280 3902 4481 3710 -780 -1359 -589 0,405 0,562 0,480
270 5463 6606 5555 -780 -1923 -873 0,405 0,542 0,478
260 7024 8653 7388 -781 -2410 -1144 0,405 0,522 0,474
250 8585 10623 9204 -781 -2819 -1400 0,405 0,502 0,469
240 10145 12516 10999 -780 -3151 -1634 0,405 0,482 0,463
230 11706 14332 12770 -780 -3406 -1844 0,405 0,462 0,456
220 13267 16070 14511 -780 -3583 -2025 0,405 0,441 0,448
210 14828 17731 16220 -780 -3684 -2173 0,405 0,421 0,439
200 16389 19315 17892 -781 -3707 -2283 0,405 0,401 0,429
190 17950 20822 19522 -781 -3652 -2353 0,405 0,381 0,418
180 19510 22251 21107 -780 -3521 -2376 0,405 0,361 0,405
170 21071 23603 22642 -780 -3312 -2351 0,405 0,341 0,392
160 22632 24878 24123 -780 -3026 -2272 0,405 0,321 0,377
150 24192 26075 25547 -779 -2663 -2134 0,405 0,301 0,362
140 25752 27196 26909 -779 -2222 -1935 0,405 0,281 0,345
130 27312 28239 28205 -778 -1704 -1670 0,405 0,261 0,328
120 28871 29204 29430 -776 -1109 -1335 0,405 0,241 0,309
110 30429 30093 30581 -773 -437 -926 0,405 0,221 0,289
100 31985 30904 31654 -768 313 -437 0,404 0,201 0,268
90 33536 31638 32645 -758 1140 133 0,403 0,181 0,246
80 35080 32295 33548 -742 2044 790 0,401 0,161 0,223
70 36611 32874 34361 -712 3025 1539 0,398 0,140 0,199
60 38120 33376 35078 -660 4084 2382 0,392 0,120 0,174
50 39589 33801 35697 -568 5220 3324 0,382 0,100 0,147
40 40988 34149 36213 -406 6433 4369 0,363 0,080 0,120
30 42263 34419 36621 -120 7723 5522 0,331 0,060 0,092
20 43321 34613 36917 383 9091 6786 0,275 0,040 0,062
10 43996 34729 37098 1268 10536 8166 0,175 0,020 0,032
0 43996 34767 37159 2829 12058 9666 0 0,000 0,000

116
ANEXO D

117

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