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Você sabe

o que é
intertextualidade?
Prof.ª Amanda
“Intertextualidade: a relação “entre textos”, o diálogo entre textos.
Toma-se, aqui, texto num sentido amplo do termo: um poema, um
romance, uma notícia de jornal, os quadrinhos são textos. Mas
também o são uma propaganda, um filme, um quadro, uma
música. [...] A produção de um texto sempre implica a retomada
de muitos outros e depende do olhar do leitor para que se criem e
recriem significações, já que este último é corresponsável por sua
construção. A intertextualidade se dá, pois, tanto na produção
como na recepção da grande rede cultural, de que todos
participam. Escrita e leitura são faces da mesma moeda. O leitor
também participa dessa ampla rede dialógica ao trazer para o
texto que está lendo sua bagagem de leituras de outros textos, de
variadas linguagens e diferentes gêneros.” (Prof.ª Maria Zilda Cury)
Quais exemplos de
intertextualidade
você conhece?
Intertextualidade

implícita - sem citação expressa da


fonte
explícita - citação e referência
expressa do intertexto
(KOCH, 2003)
Citação
“representa [...] uma presença “evidente” [...]
de um texto em outro. Ela é o tipo que
comumente costuma vir assinalado por sinais
tipográficos, tais como aspas, negrito, itálico
etc” (FORTE, 2013, p. 67)
Referência

remissão explícita, direta a autores, obras,


textos, personagens
“Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de
Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô”

(Eduardo e Mônica - Legião Urbana)


Paráfrase

“é a reafirmação, em palavras diferentes, do


mesmo sentido de uma obra escrita. [...] pode ser
uma afirmação geral da ideia de uma obra como
esclarecimento de uma passagem difícil.”
(BECKSON & GANZ, 1965 apud SANT’ANNA, 1999, p. 17)
Ou seja, a paráfrase é uma
ratificação, isto é, uma
confirmação do anteriormente
dito/escrito ou o que foi
dito/escrito em um outro texto ao
que se faz referência.
Alusão
relação intertextual de remissão indireta,
implícita ao intertexto, exigindo maior
participação do leitor
“Por amor às causas perdidas
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas”

(Dom Quixote, Engenheiros do Hawaii)

* O título da canção, Dom Quixote, possui uma relação intertextual do tipo referência com a obra
homônima do escritor espanhol Miguel de Cervantes; o trecho destacado, entretanto, faz alusão à
mesma obra de Cervantes, pois não a há relação explícita.
Paródia

relação que se dá entre textos em que um


segundo transforma o primeiro com intuito
de se afastar do sentido do original para
comunicar uma ideia diferente (humorística,
poética, crítica, etc.)
https://casavogue.globo.com/Curiosidades/noticia/2014/05/1-imagem-3d-da-historia-e-mona-lisa.html
Mona Lisa (La Gioconda)
Leonardo Da Vinci (~1506)
Mona Lisa
Fernando Botero (1977)

http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=199
Marcel Duchamp (1919)
L.H.O.O.Q. ou La Joconde

https://www.nortonsimon.org/art/detail/P.1969.094
Pastiche

relação entre textos em que o segundo modifica o


primeiro imitando seu estilo
Memorial do fim
(Haroldo
Maranhão, 1991)
usa o pastiche
para criar
romance
simulando estilo
machadiano

Em liberdade
(Silviano Santiago, 1981)
simula, via pastiche, estilo
literário de Graciliano Ramos
Relacionando temas já
estudados:
poesia, romantismo (europeu
e brasileiro), intertextualidade
e epígrafe
Minha terra tem palmeiras,
Canção do exílio Onde canta o Sabiá.

Kennst du das Land, wo die Citronen blühen, Im dunkeln die Minha terra tem primores,
Gold-Orangen glühen, Kennst du es wohl? — Dahin, dahin! Möcht Que tais não encontro eu cá;
ich... ziehn. — Goethe
Em cismar sozinho, à noite,
Minha terra tem palmeiras, Mais prazer eu encontro lá;
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam, Minha terra tem palmeiras,
Não gorjeiam como lá. Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Nosso céu tem mais estrelas, Sem que eu volte para lá;
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Sem que disfrute os primores
Nossa vida mais amores. Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Em cismar, sozinho, à noite, Onde canta o Sabiá.
Mais prazer eu encontro lá;
De Primeiros cantos (1847)
Gonçalves Dias
Epígrafe de Göethe

"Conheces o país onde florescem os limoeiros,


em meio à folhagem escura ardem os pomos de ouro,
uma brisa suave sopra no céu azul,
e o mirto e o louro em silêncio crescem?
Não o conheces?
Pois lá, para lá,
quisera contigo, meu bem amado, ir!”

Trecho de Balada de Mignon - outro exemplo de tradução da balada citada por Gonçalves Dias e
comentários sobre a obra de Göethe em https://escamandro.com/2014/08/01/goethe-1749-1832/
Tarefa
Leia os poemas a seguir e
analise-os a partir de suas
relações intertextuais, indicando
quais elementos os aproximam
e quais, porventura, os afastam
e quais sentidos se podem
apreender dessas relações.
Nova canção do exílio, Carlos
Drummond de Andrade Onde é tudo belo
e fantástico,
Um sabiá só, na noite,
na palmeira, longe. seria feliz.
Estas aves cantam (Um sabiá,
um outro canto. na palmeira, longe.)

O céu cintila Ainda um grito de vida e


sobre flores úmidas. voltar
Vozes na mata, para onde é tudo belo
e o maior amor. e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
Só, na noite, o longe.
seria feliz:
um sabiá, http://cleitoncabralblog.blogspot.com/2015/02/nova-canc
ao-do-exilio-carlos-drummond.html
na palmeira, longe.
Canto de regresso à pátria, de
Oswald de Andrade Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Minha terra tem palmares Sem que volte para lá
onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui Não permita Deus que eu morra
Não cantam como os de lá Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
Minha terra tem mais rosas E o progresso de São Paulo
E quase que mais amores
http://conpoema.org/?p=7033
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Canção do exílio, de Murilo Mendes Os sururus em família têm por
testemunha a Gioconda.
Minha terra tem macieiras da Eu morro sufocado
Califórnia em terra estrangeira.
onde cantam gaturamos de Veneza. Nossas flores são mais bonitas
Os poetas da minha terra nossas frutas mais gostosas
são pretos que vivem em torres de mas custam cem mil réis a dúzia.
ametista,
os sargentos do exército são Ai quem me dera chupar uma
monistas, cubistas, carambola de verdade
os filósofos são polacos vendendo a e ouvir um sabiá con certidão de
prestações. idade!
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos. http://www.horizonte.unam.mx/brasil/murilo1.html
Canção do Exílio Facilitada, por José Paulo Paes

Lá?
Ah!
Sabiá…
Papá…
Maná…
Sofá…
Sinhá…
Cá?
Bah!
http://conpoema.org/?p=7026
Referências

CURY, M. Z. Intertextualidade
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/intertextualidade
Acesso em 11 de maio de 2021.
FORTE, J. S. M. Funções textual-discursivas de processos intertextuais.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Letras Vernáculas, Programa de Pós-graduação em Linguística, Fortaleza (CE),
2013. Disponível em http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/8198 Acesso em 18 de
maio de 2021.
GONÇALVES DIAS, A. Canção do exílio. Disponível em
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00119a.pdf Acesso em 11 de
maio de 2021.
KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto,
2003.
SANT’ANNA, A. R. Paródia, paráfrase & cia. São Paulo: Ática, 1999.
CEIA, C. Paródia. EDTL. https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/parodia/
Acesso em 18 de maio de 2021.
___. Pastiche. EDTL. Disponível em
https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/pastiche/ Acesso em 18 de maio de
2021.
Eduardo e Mônica - https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/22497/
Acesso em 18 de maio de 2021.
MUNIZ, P. Mona Lisa está diferente.
https://www.oversodoinverso.com.br/mona-lisa-ta-diferente-versoes-ines
peradas-da-obra-de-arte/ Acesso em 19 de maio de 2021.

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