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SISTEMA DE ESGOTO

SANITÁRIO

VALDINEI DA SILVA
LUCY ANNE GUTIERREZ
JOSÉ ALMIR PEREIRA
O termo esgoto é comumente utilizado sanitário na engenharia sanitária para
denominar a água residuária acumulada a partir das contribuições de esgoto doméstico,
de efluentes industriais e de água do terreno que entra nas tubulações coletoras de
esgoto (PEREIRA E SOARES, 2006).

Normalmente, o maior volume do esgoto sanitário na área urbana é relacionado


com o esgoto doméstico, que é constituído por material fecal e por águas servidas de
banheiros, cozinhas e lavatórios de residências, de estabelecimentos comerciais e de
áreas e instalações públicas.

Os efluentes dos processos e as águas de lavagem formam o esgoto industrial,


que pode apresentar grande vazão e elevado potencial de poluição / contaminação do
meio ambiente, mais particularmente dos recursos hídricos.

As águas de infiltração são aquelas que ao escoar ou infiltrar no terreno,


penetram nos coletores de esgoto, seja por juntas mal executadas ou aberturas nos
componentes da rede coletora de esgoto.A figura 1.1 representa as parcelas que formam
o esgoto sanitário.

ESGOTO SANITÁRIO
Esgoto doméstico Esgoto Industrial Águas de Infiltração

Figura 1.1 - Constituição do Esgoto Sanitário.

1.1VAZÃO DE ESGOTO SANITÁRIO

O volume de esgoto sanitário gerado em determinado tempo édenominado de


vazão, expresso normalmente em L/s, m3/h ou m3/d, com valores variando de acordo
com o horário, o padrão sócio-econômico da população, as condições climáticas, a
regularidade do sistema de abastecimento de água e a manutenção da rede coletora
de esgoto, conforme representado na figura 1.2.
Va z ã o

m a x

m e d

m in

H o ra

Figura 1.2 - Variação da Vazão de Esgoto Sanitário.

O conhecimento dos valores máximo, médio e mínimo da vazão de esgoto


sanitário é empregado no planejamento, projeto e operação dos sistemas de esgotamento
sanitário, pois permite.
 Identificar a ocorrência de contribuições indevidas 1 de águas de infiltração
(pluviais e subterrâneas) e de efluentes industriais;
 Verificar se o valor da contribuição per capita de esgoto (l/hab.dia) é compatível
com as contribuições da área atendida;
 Dimensionar as unidades do sistema de esgotamento sanitário.

Quando não é possível a realização da medição da vazão de esgoto sanitário, a


Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986), na Norma Brasileira NBR 9649,
recomenda a utilização da vazão média de esgoto sanitário (Qmed), que éa soma das
vazões doméstica, de infiltração (Qinf) e de efluentes industriais (Qind):

Qmed = Qdom+ Qinf + Qind


Qmed = Pop .qe + Qinf + Qind

A Qmedcorreponde a multiplicação do número de habitantes pelo valor da


produção de esgoto de um habitante por dia, enquanto a Qind é a soma das vazões dos
efluentes das indústrias que contribuem para a rede coletora de esgoto sanitário 2.

1
A diluição ocasionada pela entrada de águas pluviais nos coletores reduz as concentrações de
sólidos, compostos orgânicos e compostos inorgânicos, podendo resultar em transtorno para o
tratamento do esgoto sanitário.
2 Na NBR 9800 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) são recomendados limites
máximos, em termos de composição, para o lançamento de efluentes industriais na rede coletora de
esgoto, o que pode tornar necessário o tratamento prévio dos efluentes líquidos industriais antes do
lançamento no sistema coletor público de esgoto sanitário .
Por sua vez, a Qinf é a multiplicação do comprimento total da rede pelo valor da
taxa de infiltração. Segundo a NBR 9649 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1986), o valor da taxa de infiltração pode ser adotado entre 0,05 e 1,0 L/s.km.

O fato de muitos locais não terem rede coletora de esgoto sanitário dificulta a
determinação da vazão e, naturalmente, do valor percapita de esgoto sanitário (qe).
Assim, os projetistas consideram o valor per capita de esgoto sanitário como o
resultado da multiplicação do valor per capita de água (q) por um coeficiente de
retorno (C), que relaciona o volume de esgoto com o volume de água utilizada, sendo
usual o valor de C = 0,80.

O valor per capita de água é mais fácil de ser obtido, em razão de a


concessionária do sistema de abastecimento de água ter conhecimento do volume de
água efetivamente consumido. A
Tabela 1.1 apresenta valores per capita de água (q) obtidos em experimentos
realizados em municípios brasileiros:

Tabela 1.1Consumo de Água em Cidades Brasileiras.


CIDADE-ESTADO População (hab) Ano Percapta (L/hab.dia) Fonte
Caieiras – SP 16.000 1980 200 SABESP
S. Bernardo do Campo – SP 264.000 1980 250 SABESP
Aracaju – SE 320.000 1979 192 ABES
Porto Alegre – RS 1.123.000 1981 318 DMAE
Salvador – BA 1.295.000 1979 248 ABES
Rio de Janeiro – RJ 4.410.000 1968 359 CEDAE
Grande São Paulo – SP 12.400.000 1980 282 DAE
Fonte: Pereira e Maciel (1999).

O valor per capita de água é utilizado para estimar a parcela doméstica da vazão
de esgoto sanitário. Exemplificando a vazão doméstica média (Qdomméd) na Região
Metropolitana de Belém (cerca de 1.700.000 habitantes), com o consumo per capita
de água de 265 L/hab.dia observado na pesquisa de Pereira e Maciel (1999) e o
coeficiente de retorno de 0,80:
Qdom med = Pop .q . C
Qdom med = 1.700.000 hab . 265 (l/hab.dia) .0,80
Qdommed = 360.400.000 L/dia= 360.400 m3/dia

Esse resultado indica que o volume médio diário de esgoto doméstico gerado no
município de Belém é semelhante ao de um prédio de 60 m de largura x 60 m de
comprimento x 100 m de altura, sendo importante ressaltar que nesse valor não estão
computadas as vazões de infiltração e de efluentes industriais.

1.2 COMPOSICÃO DO ESGOTO SANITÁRIO


O esgoto sanitário tem suas características físicas, químicas e biológicas
alteradas de acordo com o tipo de contribuição. Teoricamente é constituído por 99,9%
de água e 0,1% de sólidos, conforme representado na figura 1.3.

ESGOTO BRUTO 100%


Água (99,9%) Sólido (0,1%)

Orgânicos (70%) (30%) Inorgânicos

Figura 1.3Percentuais dos componentes presentes no esgoto

Os sólidos (grosseiros e suspensos), os compostos orgânicos e inorgânicos e os


microrganismos são poluentes / contaminante encontrados no esgoto sanitário e que,
portanto, precisam ser identificados e quantificados.

Entre as determinações laboratoriais mais comuns estão as físicas (temperatura,


sólidos totais, sólidos suspensos, sólidos sedimentáveis etc.), as químicas (pH,
alcalinidade, teor de matéria orgânica, metais etc.) e as biológicas (bactérias,
protozoários, vírus etc.).

ATabela 1.2 mostra a classificação do esgoto sanitário em fraco, médio e forte


proposta por Metcalf&Eddy (1991).
Tabela 1.2 - Classificação do Esgoto Sanitário Quanto à Composição.
Concentrações
Constituintes (mg/L, onde não indicados)
Forte Médio Fraco
1. Sólidos totais 1200 720 350
1.1 Dissolvidos totais 850 500 250
1.1.1Fixos 525 300 145
1.1.2Voláteis 325 200 105
1.2Suspensos totais 350 220 100
1.2.1Fixos 75 55 20
1.2.2Voláteis 275 165 80
2. Sólidos sedimentáveis 20 10 5
3. DBO5, 20°C 400 220 110
4. Carbono total (TOC) 260 160 80
5. DQO 1000 500 250
6. Nitrogênio total (como N) 85 40 20
6.1Orgânico 35 15 8
6.2Amônia livre 50 25 12
6.3Nitritos 0 0 0
6.4Nitratos 0 0 0
7.Fósforo total 15 8 7
7.1Orgânicos 5 3 1
7.2 Inorgânicos 10 5 3
8.Cloretos 100 50 30
9.Alcalinidade (como CaCO3) 150 100 50
10.Graxa 150 100 50
Fonte:Metcalf&Eddy (1991).

Como os sólidos presentes no esgoto sanitário apresentam tamanhos, tipos e


formatos diferentes, é comum classificá-los em 3 grupos, de acordo com o tamanho,
conforme mostrado na fFigura 1.4.

Figura 1.4 Classificação dos tipos de sólidos


É importante observar que a visão humana percebe sólidos com dimensões
acima de 102m, sendo que os vírus, bactérias e protozoários não são perceptíveis a
olho nu pelo homem. Apesar dos 3 grupos para classificação dos sólidos, a
determinação do tamanho dos sólidos somente é possível com o auxílio de microscópio,
o que no caso do esgoto sanitário é pouco utilizado, pois:

a) É grande a variedade de sólidos;


b) São necessários equipamentos especiais para separação dos sólidos por
faixas de tamanho;
c) É demorado o tempo para essa determinação.

Desse modo, é comum a utilização de procedimentos mais simples e rápidos


para determinação dos sólidos. Entre esses procedimentos estão:

a) determinação dos sólidos totais e dos sólidos suspensos, que relacionam as


concentrações dos sólidos com o volume da amostra, sendo normalmente
expressos em mg/l;
b) determinação do volume dos sólidos sedimentáveis, que relaciona o volume de
sólidos que sedimenta em período de 1 hora em um cone Imhoff de 1 L, sendo
normalmente expresso em ml/l.

Os sólidos também podem ser classificados quanto a sua composição química,


sendo divididos em dois grandes grupos:

a) sólidos voláteis são orgânicos;


b) sólidos fixos são referentes a matéria inorgânica ou mineral.

O conhecimento da concentração da matéria orgânica é fundamental na operação


da estação de tratamento ou para avaliar os impactos do esgoto no corpo receptor,
especialmente da fração biodegradável que pode ser utilizada pelos microrganismos,
entre os quais estão os patogênicos.

É comum a utilização da Demanda Química de Oxigênio (DQO) e da Demanda


Bioquímica de Oxigênio (DBO5) para quantificar as concentrações de matéria orgânica
total e de matéria orgânica biodegradável, respectivamente.
A figura 1.5representa as formas em que a matéria orgânica pode ser encontrada
no esgoto sanitário.

MATÉRIA ORGÂNICA TOTAL


(DQO)
Biodegradável (DBO 5) Não Biodegradável

Figura 1.5 Classificação da Matéria Orgânica.

No esgoto sanitário também são encontrados compostos de fósforo e de


nitrogênio, os quais são macronutrientes que favorecem o crescimento de algas e de
macrófitas, o que pode ocasionar significativas alterações no ambiente aquático,
como a redução do teor de oxigênio dissolvido e alteração da biota aquática.

Como o metabolismo dos microrganismos (obtenção de energia, crescimento,


reprodução etc) é relacionado com a decomposição de substratos orgânicos e
inorgânicos, o lançamento de esgoto sanitário favorece a proliferação de
microrganismos e, simultaneamente, a redução do teor de oxigênio dissolvido (OD)3
nos corpos d’água.

Assim, o conhecimento da carga do esgoto sanitário é utilizado para avaliar o


grau de poluição/contaminação do esgoto sanitário, definir o tratamento mais
adequado, monitorar o desempenho da Estação de Tratamento de Esgoto - ETE,
verificar o enquadramento do efluente tratado na legislação ambiental e estimar a
capacidade de autodepuração do corpo receptor.

As cargas de poluição/contaminação são normalmente expressas em kg/dia,


sendo o resultado da multiplicação da vazão pela concentração do parâmetro de
interesse. Por exemplo, as cargas de sólido total (C ST) e de matéria orgânica
(CODBO5) são CST =Q (m3/d) . ST (g/m3)e CODBO5 = Q (m3/d) . DBO5 (g/m3),
respectivamente.

3
Os microrganismos aeróbios utilizam OD como aceptor de elétrons na decomposição do material
orgânico biodegradável, o que, naturalmente, reduz a concentração do OD na massa líquida,
podendo, em alguns casos, tornar o ambiente anaeróbio.
1.3 SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Como o lançamento de esgoto sanitário no meio ambiente é relacionado com a


degradação dos corpos d’água e com problemas de saúde pública, o sistema de
esgotamento sanitário (SES) é indispensável na infra-estrutura de áreas urbanas.Esse
sistema é formado pelas unidades coleta, elevação, tratamento e destino final, podendo
ser coletivo ou individual, de acordo com as características da comunidade.

1.3.1 Sistema Individual

O sistema individual é caracterizado pela coleta e/ou tratamento de pequena


contribuição de esgoto sanitário de imóveis domiciliares, comerciais e públicos em
locais desprovidos de rede coletora de esgoto.
Normalmente, esse sistema é utilizado como alternativa de afastamento do
esgoto do local da geração, tendo menor eficiência de remoção de poluentes e de
contaminantes do que a observada nos sistemas coletivos.
O grande número e o lançamento difuso de esgoto bruto ou de esgoto
parcialmente tratado nos sistemas individuais altera as características dos corpos d’água,
dificultando o monitoramento e controle da poluição / contaminação nesses corpos
receptores. Apesar disso, a falta de sistemas de esgotamento sanitário na infra-estrutura
urbana faz com que as soluções individuais ainda sejam muito utilizadas no Brasil,
conforme pode ser observado na tabela 1.3.

Tabela 1.3 Soluções utilizadas em locais sem rede coletora de esgoto.

Distritos sem Rede Coletora de Esgoto


Principal Solução Alternativa
Total de
Regiões Fossa Lançamentos
Distritos Fossa Vala Não
Total Séptica e em Cursos Outras
Seca Aberta Disponível
Sumidouro D’água
Brasil 9.848 5.751 2.776 2.431 197 143 185 19
Norte 607 572 182 284 85 14 4 3
Nordeste 3.084 2.151 1.026 865 94 53 113 -
Sudeste 3.115 571 146 312 10 52 40 11
Sul 2.342 1.841 1.234 555 8 24 17 3
C. Oeste 700 616 188 415 - - 11 2
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2002).
A fossa seca e o tanque séptico4 não são alternativas mais indicadas para
tratamento de esgoto em locais com grandes densidades populacionais, seja pela menor
eficiência de remoção de poluentes / contaminantes do que a observada nos sistemas
coletivos de tratamento, pela área requerida nos imóveis particulares, pelas dificuldades
do poder público para fiscalização da construção, operação e manutenção etc.

Pereira e Soares (2006) observam que o efluente líquido de tanque séptico ainda
apresenta concentrações de matéria orgânica, de sólidos e de microrganismos que
podem comprometer a qualidade da água dos recursos hídricos.

Dacach (1990) observa que, mesmo quando o tanque séptico é bem projetado e
satisfatoriamente operado, o efluente apresenta de 30 a 40% de sólidos em suspensão e
DBO não inferior a 30% dos valores referentes ao esgoto afluente.

Apesar disso, a falta de soluções coletivas de esgotamento sanitário faz com que
os tanques sépticos ainda sejam muito utilizados na maioria dos municípios brasileiros.

Em algumas situações, o efluente líquido dos tanques sépticos é encaminhado


para tratamento complementar5 em filtro anaeróbio, porém, comumente ocorre o
lançamento direto desse efluente em corpos d’água; na tubulação coletora de água
pluvial que termina em corpo d’água superficial ou em sumidouros que facilitam a
entrada no aqüífero subterrâneo.

Normalmente, essas soluções individuais são empregadas para esgoto


doméstico, porém o lançamento desse material residual em vala aberta ou diretamente
em corpos d’água não pode ser considerado como solução tecnicamente adequada e
ambientalmente segura.

4
A Associação Brasileira de Normas Técnicas utiliza a denominaçãotanque séptico na Norma
Brasileira 7229/1993 (, 1993)
5
As valas de filtração e de infiltração são alternativas de tratamento complementar do efluente de
tanques sépticos instalados em áreas pouco adensadas
1.3.2 Sistema coletivo

O crescimento populacional e a redução de áreas livres nas habitações


dificultam a utilização de sistemas individuais, caracterizando os sistemas coletivos
como solução mais adequada em locais de médio ou grande adensamento
populacional.
O ideal é que as zonas urbanas sejam dotadas de todas as unidades
componentes do sistema de esgotamento sanitário, no caso as unidades de coleta,
elevação, tratamento e destino final, conforme representado na figura 1.6.

Figura 1.6 Esquema do SES convencional.


Fonte: Pereira e Soares (2006)

A unidade de coleta recebe e transportar o esgoto sanitário. É formada por


ramais prediais, tubos coletores e órgãos acessórios. Sempre que possível, deve ser
instalada para possibilitar o escoamento por gravidade, o que evita o bombeamento do
esgoto sanitário e, naturalmente, os gastos com obras civis e com energia elétrica.
Contudo, existem situações em que a grande profundidade dos coletores requer a
utilização de equipamentos eletromecânicos (conjuntos moto-bombas), para transferir o
esgoto sanitário de cota baixa para cota mais alta ou para locais mais distantes.

Todo esgoto sanitário coletado deve ser encaminhado até a unidade de


tratamento, para remoção dos materiais e compostos poluentes/contaminantes. Essa
unidade é baseada em operações físicas combinadas com processos químicos e/ou
biológicos, sendo o efluente líquido tratado retornado ao meio ambiente, na maioria das
vezes é lançado em corpo d’água próximo da estação de tratamento.
1.3.3 Concepção do sistema coletivo de esgoto sanitário
O estudo da concepção que avalie as alternativas e integre as partes
componentes é a primeira atividade no planejamento de qualquer sistema da infra-
estrutura urbana.

No caso específico do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES), é preciso


verificar a viabilidade técnica, econômica, financeira e ambiental do sistema
proposto em função do número e da localização da(s) Estação(ões) de Tratamento de
Esgotos ETE(s), pois essa unidade do sistema é diretamente relacionada com o
projeto e funcionamento das unidades anteriores (rede coletora e estações elevatórias
de esgoto bruto) e posteriores (estações elevatórias de esgoto tratado e destinação
final do efluente tratado).

O projetista precisa definir a viabilidade de implantação de uma ou mais ETEs


de grande capacidade ou a instalação de número maior de ETEs que tenham pequena
capacidade, conforme representado na figura 1.7.

A B

Rede Rede
Tratamento EEE 1 Área/ Bacia 1
Área/ Bacia 1 ETE 1 EEE Final
EEE 1

Rede Tratamento Rede


Tratamento EEE 2 Área/ Bacia 2
Área/ Bacia 2 EEE 2 EEE Final ETE ETE 2 EEE Final

Destino Final Rede


Rede Tratamento
Área/ Bacia 3 EEE 3 Área/ Bacia 3
EEE 3 ETE 3 EEE Final

Elevatória de rede - depende da topografia ou da necessidade de transposição do esgoto

Figura 1.7 Sistema centralizado (A) e Sistema descentralizado (B)


Fonte: Silva (2005)

Os que são contrários à centralização da ETE observam que esse tipo de


concepção requer a construção de unidade de tratamento de grandes
dimensões,assentamento de coletores com grandes extensão, profundidade 6 e diâmetro7
e a freqüente necessidade de EEE de esgoto sanitário8, seja para reduzir a profundidade

6
Sempre que possível, os coletores de esgoto devem ser instalados com escoamento por gravidade, o
que faz com que a cota de montante (início) seja maior do que a de jusante (final).
7
A contribuição de esgoto sanitário (número de ligações) aumenta com a extensão do coletor.
8
Normalmente são escavados no máximo 6,0 m para assentar a rede coletora de esgoto.
dos coletores ou para transportar esgoto coletado de uma bacia para outra. Os que
criticam a alternativa centralizada justificam que o maior volume de recursos acaba
dificultando a implantação do SES (PEREIRA E SOARES, 2006).

Os custos também são utilizados como argumento pelos contrários a


descentralização do SES, pois o maior número de ETEs exige a contratação de pessoal
de operação9, maior número de equipamentos eletro-mecânicos, aumento no consumo
de energia elétrica, aumento na freqüência das atividades de manutenção e aumenta a
quantidade das rotinas de controle. Em alguns casos, a descentralização das ETEs
também pode acarretar, de forma global, maiores custos construtivos.

Independentemente das opiniões contraditórias, o certo é que cada sistema de


esgotamento sanitário apresenta características próprias e, portanto, exige a realização
do estudo de alternativas antes da definição da concepção, sendo essa etapa
imprescindível para reduzir futuros erros de projeto, falhas operacionais e investimentos
desnecessários.

Com a concepção do SES é possível definir as características e calcular as


dimensões básicas das unidades de tratamento e, com isso, selecionar a área mais
apropriada para a construção da Estação de Tratamento. Essa etapa ocorre no início do
projeto e está ligada diretamente ao planejamento das atividades, já que, em muitas
situações, envolve desapropriações ou aquisições de terrenos.

É importante que o terreno tenha boa consolidação geológica, pois terrenos


alagados necessitam de reforço nas fundações e estruturas das unidades, o que pode
aumentar o custo construtivo em até 30%. Também é recomendado que a ETE esteja
localizada próximo de curso d’água, para reduzir a capacidade dos equipamentos
eletromecânicos e as dimensões das tubulações que irão recalcar e transportar,
respectivamente, o efluente tratado até o corpo receptor, o que, naturalmente, também
resulta em custos de construção e operação.

9
Operadores, técnicos de laboratório, engenheiros, vigias etc.
Conhecidos a área e o corpo receptor, é preciso caracterizar o esgoto sanitário
quanto a sua variação de vazão e composição, o que serve para o estudo das soluções
factíveis e responde às seguintes indagações: Qual o volume e a composição do esgoto?
Como tratar? Qual o tipo de sistema que será utilizado? Qual a eficiência que se espera
nesse tratamento? Quanto custa tratar? e quais são os subprodutos decorrentes desse
tratamento?

Vale ressaltar que na escolha da alternativa de concepção do sistema coletivo de


esgotamento sanitário devem ser consideradas as opiniões de equipe multidisciplinar,
pois existem questões como a adequação da alternativa ao Plano Diretor do município,
desapropriação de áreas e remoção de moradores, características do terreno,
disponibilidade de sistemas de abastecimento de água e energia elétrica etc.

No caso específico do ponto de lançamento do esgoto tratado, devem ser


consultados profissionais que atuem em temas relacionados com recursos hídricos e
meio ambiente, como engenheiros sanitarista, geólogos, biólogos e outros.
Após a definição da concepção, deve ser definido o período de alcance,
calculadas as populações de atendimento (inicial e final) e obtidas as informações para
elaboração do projeto na área a ser atendida pelo sistema de esgotamento sanitário.

1.4. COLETA E TRANSPORTE DE ESGOTO SANITÁRIO

O esgoto sanitário é formado por esgoto doméstico, águas de infiltração e


efluentes industriais, podendo ser coletado isoladamente (sistema separador absoluto),
em conjunto com as águas pluviais que escoam nos logradouros e residências (sistema
unitário) ou em conjunto com as águas pluviais provenientes dos telhados e pátios das
residências (sistema separador parcial).

Na coleta tipo unitário ou combinado é utilizada apenas uma tubulação para


receber os esgotos sanitários e as águas provenientes de precipitações pluviométricas, o
que faz com que:
a) O projeto dos coletores unitário seja mais trabalhoso, pois requer a previsão
das vazões de esgoto sanitário e de águas pluviais;
b) as tubulações, Estações Elevatórias e de Tratamento de Esgotos tenham
capacidade maior, pois devem atender ao aumento da vazão nos períodos
com precipitação pluviométrica
c) Os recursos para construção sejam maiores, em razão da grande dimensão
das tubulações.

Nas coletas tipo separador (absoluto ou parcial) são instaladas duas tubulações
coletoras, uma componente do sistema de esgotamento sanitário e a outra do sistema de
drenagem pluvial.

Essas tubulações são menores do que a do sistema de coleta unitário, já que as


águas pluviais em sua totalidade (separador absoluto) ou em parte (separador parcial)
são encaminhadas para a tubulação do sistema de drenagem pluvial.

O sistema separador parcial é pouco utilizado, em razão de ocasionar maiores


trabalhos no projeto, na construção e na operação. No Brasil é muito utilizado nos
projetos o sistema separador absoluto.

Nos locais com intensa precipitação pluviométrica, na Norma de Projeto de


Rede Coletora de Esgoto Sanitário – NBR 9.649 - Projeto de Redes Coletoras de Esgoto
Sanitário (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986) é
recomendado o uso do sistema separador absoluto.

Esse sistema também é recomendado na NBR 9648/1986 - Estudo de concepção


de sistema de Esgoto Sanitário, que o define como o conjunto de condutos, instalações e
equipamentos destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar somente
esgoto sanitário a uma disposição final conveniente, de modo contínuo e higienicamente
seguro (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986).

Apesar da coleta de esgoto tipo separador absoluto ter sido projetada em muitos
municípios brasileiros, a falta de sistema de drenagem pluvial faz com que, na prática,
os coletores de esgoto também recebam águas pluviais, funcionando, então, como tipo
unitário.
Essa ligação de águas pluviais é realizada de forma clandestina, aumenta a vazão
em relação ao valor projeto e facilita a entrada de esgoto dos sólidos carreados nas
águas pluviais, o que resulta em problemas na rede coletora de esgoto tipo separador
absoluto de municípios brasileiros, como:
a) acúmulo de areia e outras partículas sólidas no interior dos coletores;
b) transbordamentos em poços de visita;
c) retorno de esgoto nas ligações prediais com cotas menores;
d) extravasamento em poços úmidos de estações elevatórias;
e) diluição do esgoto sanitário;
f) aumento do tempo de funcionamento de conjuntos motor e bomba de
estações elevatórias de esgoto;
g) alteração na eficiência de estações de tratamento de esgoto;
h) aumento dos custos operacionais na estação de tratamento de esgoto
(energia elétrica, produtos químicos, pessoal etc).

Os críticos do sistema separador (absoluto ou parcial) citam que a utilização de


duas tubulações reduz o espaço livre nas ruas, dificultando a conexão das ligações dos
ramais prediais no coletor de esgoto e dos tubos (espinhas) que interligam as bocas de
lobo com a tubulação de drenagem pluvial.

No entanto, a implantação de dois sistemas distintos e independentes nos


logradouros resulta em dimensões menores das tubulações, das demais unidades e dos
dispositivos dos sistemas de esgotamento sanitário e de drenagem pluvial.
Os tipos mais utilizados de coleta de esgoto sanitário são a coleta convencional;
a coleta condominial e a coleta em redes simplificadas, todos tendo coletor em posição
que permite a ligação do ramal predial de esgoto dos imóveis.

1.4.1 Coleta convencional

A coleta convencional de esgoto é a mais utilizada nas cidades brasileiras, tendo


como características principais o assentamento da tubulação em área pública (passeio ou
via), o atendimento das recomendações da NBR n o 9.649 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986) e a concessionária dos serviços de
água e esgoto ser responsável integralmente pelas atividades de operação e manutenção
(Pereira e Mendes, 2003).

Essa coleta é localizada em área pública (passeio ou na rua) e constituída por


coletor predial, coletor secundário, coletor primário e interceptor, conforme
representado nafigura 1.8.

Figura 1.8 Coleta convencional.Fonte: Pereira e Soares (2006).

De acordo com Pereira e Soares (2006), os coletores secundários recebem a


contribuição de esgoto sanitário das ligações prediais em qualquer ponto da sua
extensão e, normalmente, são instalados no passeio com pequeno diâmetro e extensão.

Já os coletores primários são tubulações que podem receber e transportar


contribuições de esgoto de ligações prediais e de coletores secundários. São
denominados de:
a) coletor tronco quando somente recebem contribuições de coletores
secundários;
b) coletor principal, quando é o coletor de maior extensão na bacia de
esgotamento.
O interceptor recebe e transporta o esgoto dos coletores primários da bacia de
esgotamento até a estação elevatória ou de tratamento. Normalmente, apresenta grande
diâmetro e extensão. Nesse coletor ocorre o amortecimento das maiores vazões, o que
acontece quando:
a) a vazão máxima nos coletores contribuintes não ocorrer de forma
simultânea;
b) o interceptor receber essa contribuição apenas nos poços de visita
(PV)10.

O assentamento dos interceptores é realizado nas partes mais baixas da bacia de


esgotamento, ao longo dos talvegues e às margens dos cursos de água, lagos e oceanos,
para evitar o lançamento direto do esgoto sanitário nesses corpos d’água (ARAÚJO et
al.,2003).

Alguns autores consideram que o último trecho do interceptor, da última


contribuição de esgoto até a estação (elevatória ou de tratamento), pode ser denominado
de emissário, o que faz sentido quando observado que “emissário” é a tubulação que
recebe contribuição apenas de montante. Contudo, não é correto quando o “emissário” é
considerado a tubulação que transporta o esgoto (tratado ou não) até o destino final, ou
seja, o corpo d’água, quando essa tubulação integra a unidade de destino final.

- Órgãos Acessórios ou Singularidades

No início e no final de cada trecho do coletor são instalados órgãos acessórios,


como o poço de visita – PV e o tubo de inspeção e limpeza – TIL, que são dispositivos
fixos e não mecanizados destinados, principalmente, a facilitar a inspeção e a limpeza
dos coletores.

Esses dispositivos são utilizados nos pontos de derivação e/ou mudança de


declividade, diâmetro, material e cota. São importantes na construção, operação e,
principalmente, inspeção e manutenção da rede coletora de esgotos, especialmente em
relação à desobstrução e à remoção de material acumulado no interior desses condutos.

10
Não é permitida conexão de ligações prediais de esgoto no interceptor.
Para isso, a distância entre o início e o final de cada trecho de coletor é
estabelecida de acordo com as características dos equipamentos de manutenção 11, tendo,
normalmente, comprimento máximo de 100 m.
O PV é uma câmara visitável, construída em concreto ou alvenaria, com abertura
na parte superior para possibilitar o acesso de homens e equipamentos, e, com isso, a
realização das atividades de inspeção, desobstrução e limpeza do coletor, enquanto o
TIL é um dispositivo não visitável, fabricado em PVC ou em outro material plástico,
destinado à inspeção visual e à introdução de equipamentos de desobstrução e limpeza
dos coletores, ou seja, os trabalhadores não têm contato com o material residual.

1.4.2 Coleta condominial

O sistema de coleta condominial é instalado em área pública e em área


particular, tendo a característica de redução dos custos construtivos ao não atender
alguns parâmetros de projeto recomendados na NBR nº 9.649/86, da ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, como os valores mínimos de declividade e
de recobrimento mínimo do coletor.

Nesse tipo de coleta os imóveis da comunidade são atendidos por quadra


(quarteirão), como condomínios horizontais, compartilhando os habitantes da
responsabilidade de manutenção dos coletores com a empresa concessionária.
O sistema de coleta condominial é formado por ramais prediais e rede
condominial. Os ramais prediais são conectados a rede condominial da quadra
(condomínio), que transporta todo o esgoto para a rede básica que atende diversas
quadras e é, normalmente, instalada na rua.
A rede condominial pode ser assentada no fundo do lote, em frente ao lote e no
passeio, conforme mostrado nafigura 1.9.

11
A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB adota normalmente 80 m.
a b c

Figura 1.9 Representação do Sistema Condominial Tipo Fundo de Lote (a), Frente de Lote (b) e Passeio
(c).Fonte: Pereira e Mendes (2003).

1.4.3 Redes simplificadas

As redes simplificadas são de pequena extensão e instaladas em locais sem


sistema público de coleta (convencional e condominial), sendo utilizadas na ligação das
instalações sanitárias da habitação com o local de lançamento do esgoto sanitário. Em
algumas situações, a rede simplificada também é utilizada em sistema individual de
esgoto, para interligar a unidade de tratamento até o corpo receptor, conforme
representado nafigura 1.10.

Ramal Predial Tanque Séptico Rede Simplificada

Destino Final

Figura1.10Representação de Sistema com Rede Simplificada.

Em áreas com terreno alagado e com moradias tipo palafita, é muito comum a
aplicação apenas desse tipo de rede, já que a falta de espaço dificulta a instalação de
tanques sépticos. Nesse tipo de situação a rede simplificada deve ser assentada acima do
nível máximo da água, o que pode ser conseguido por atracação nas estivas ou apoio em
peças verticais de madeira ou de concreto.

No entanto, essa opção para coletar o esgoto em áreas alagadas requer


concepção ampla que integre as unidades sanitárias, as estivas e a rede coletora, sendo
recomendado que a rede simplificada seja projetada para transportar o esgoto coletado
até estação elevatória ou de tratamento instalada em terreno consolidado e próximo da
comunidade.

1.4.4 Unidade de elevação de esgoto sanitário


Quando as tubulações dos sistemas de coleta de esgoto convencional,
condominial ou simplificado apresentam trechos instalados em locais com
acentuados desníveis topográficos, no sentido montante para jusante, pode ser
necessária a utilização de equipamentos eletromecânicos para bombear a massa
líquida para posição mais elevada, conforme mostrado nafigura 1.11.

Figura 1. 11 Equipamento eletromecânico – EEE 413N Caesb-DF

Para isso são utilizadas Estações Elevatórias de Esgoto (EEE), que podem ser
instaladas:

a) Na própria rede coletora, tendo os conjuntos motor e bomba instalados em


poço úmido para armazenar o esgoto sanitário até o bombeamento;
b) Em local próprio, com poço úmido e poço seco, para armazenamento do
esgoto e instalação dos conjuntos motor e bomba.
Apesar de essenciais em algumas situações, as EEE aumentam os custos de
construção, operação e manutenção do sistema, razão para, sempre que possível,
serem projetadas unidades de coleta com escoamento por gravidade em todos os
trechos.
1.5 TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

De maneira simplificada, a estação de tratamento pode ser considerada como a


unidade de processamento que transforma o esgoto sanitário (matéria-prima) em
efluente líquido tratado (produto final), gerando nesse processo dois subprodutos (lodo
e gases), conforme representado nafigura 1.12.

Matéria Prima Unidade de Processamento Produto Final


Esgoto Bruto Estacão de Tratamento de Esgoto Efluente Líquido Tratado

Subprodutos
Lodos e Gases

Figura1.12 Tratamento de esgoto

Van Haandel e Lettinga (1994) citam que o objetivo principal do tratamento é


corrigir as características indesejáveis do esgoto, de tal maneira que o seu uso ou
disposição final possa ocorrer de acordo com as regras e critérios definidos pela
legislação ambiental.
A seqüência de etapas comumente encontrada em estações de tratamento de
esgoto é mostrada nafigura 1.13.

1.5.1 Tratamento preliminar

O tratamento preliminar é localizado na entrada da ETE e antecede ao medidor


de vazão de esgoto sanitário. Normalmente é constituído por grade de barras paralelas e
caixa de areia, para retenção de sólidos grosseiros e de sólidos de grande densidade
(areia, silteetc), respectivamente. Afigura 1.14 mostra imagens dessa etapa do
tratamento de esgoto.
Componentes removidos

Esgoto Sólidos grosseiros


Gorduras
Bruto Areia

Sólidos em suspensão
Tratamento sedimentáveis

Preliminar DBO em suspensão (matéria


orgânica componente dos sólidos
em suspensão (sedimentáveis)

Sólidos não sedimentáveis


Tratamento DBO
Nutrientes
Primário Patogênicos

Nutrientes
Patogênicos
Compostos não biodegradáveis
Metais pesados
Tratamento Sólidos inorgânicos dissolvidos
Sólidos em suspensão remanescentes
Secundário

Tratamento
Componentes removidos Terciário

Esgoto
Tratado
Esgoto Sólidos grosseiros
Gorduras
Bruto Areia

Sólidos em suspensão
Tratamento sedimentáveis

Preliminar DBO em suspensão (matéria


orgânica componente dos sólidos
em suspensão (sedimentáveis)

Sólidos não sedimentáveis


Tratamento DBO
Nutrientes
Primário Patogênicos

Nutrientes
Patogênicos
Compostos não biodegradáveis
Metais pesados
Tratamento Sólidos inorgânicos dissolvidos
Sólidos em suspensão remanescentes
Secundário

Tratamento
Terciário

Esgoto
Tratado
Figura1.13 – Seqüência de tratamento de esgoto
Figura 1.14 – Gradeamento da ETE Gama no DF (a), Peneira Rotativa da ETE Piracicamimirim SP (b),
Desarenador ETE Sideral PA e Medidor de vazão da ETE Parque das Palmeiras em SP.

A grade de barras paralelas é instalada transversalmente ao fluxo do esgoto


sanitário no canal de entrada, podendo ter limpeza manual ou mecânica. De acordo com
o porte da ETE e o tamanho dos sólidos, também pode ser utilizada peneira estática ou
móvel.

A unidade de desarenação é instalada após a grade, tendo largura maior do que a


do canal na entrada da ETE, para reduzir a velocidade de escoamento e facilitar a
sedimentação dos sólidos inorgânicos de maior peso específico presentes no esgoto.

Essa remoção parcial dos sólidos melhora o aspecto estético do esgoto sanitário
e o desempenho das unidades subseqüentes de tratamento, protegendo os conjuntos
motor e bomba, raspadores de lodo, removedores de escuma, aeradores, tubulações,
válvulas, peças especiais e dispositivos de entrada e de saída.

De acordo com as características do esgoto bruto, no tratamento preliminar


também pode ser instalada unidade para remoção de óleos, graxas e gordura, bem como
tanque para equalização e homogeneização da vazão e da composição do esgoto que
será tratado.
1.5.2 Tratamento primário

Na etapa de tratamento primário ocorre a remoção de parte dos sólidos


suspensos não retidos na caixa de areia, no caso os sólidos orgânicos. Para isso são
utilizados tanques de grandes dimensões, o que reduz a velocidade de escoamento a
valores inferiores ao da caixa de areia, resultando na separação dos sólidos mais densos
e do material flotante.

O esgoto distribuído na parte inferior da região central do sedimentador tem


fluxo ascendente, para facilitar a saída do efluente líquido na parte superior da unidade e
a sedimentação de partículas para o fundo do tanque, as quais passam a forma o lodo
sedimentado. A figura 1.15 representa o decantador primário12.

Efluente Clarificado

Lodo Acumulado no Fundo

Saída de lodo

Figura 1.15Sedimentador utilizado no tratamento primário do esgoto


Fonte: Leite (1999).

O raspador giratório é localizado no fundo do decantador e tem a finalidade de


encaminhar o lodo acumulado até o ponto de descarga (saída de lodo). Na área
periférica superior do sedimentador são instalados vertores para coleta do efluente
líquido, que ainda apresenta os sólidos suspensos de baixa sedimentabilidade.
Os sólidos removidos nas unidades de tratamento preliminar e de tratamento
primário precisam ser retirados do sistema e encaminhados para destinação final

12
Em termos de eficiência, tanque séptico dos sistemas individuais pode ser classificado como
tratamento primário.
adequada, o que, normalmente, ocorre em aterro sanitário. Para reduzir os custos de
transporte, é conveniente que seja retirado o excesso de líquido do lodo (desaguamento).
As grandes dimensões, a pequena remoção de poluentes, a necessidade de
proteção dos recursos hídricos e a evolução das alternativas de tratamento vêm
transferindo a remoção de partículas orgânicas para a etapa secundária, o que reduz a
aplicação da etapa de tratamento primário de esgoto.

1.5.3 Tratamento secundário

A etapa de tratamento secundário pode ser considerada o “coração” da ETE,


sendo destinada a remoção de matéria orgânica particulada ou solúvel na massa líquida.
Para isso podem ser empregadas unidades com:
 Operações físicas e processos químicos;
 Processos biológicos aeróbio;
 Processos biológicos anaeróbios;
 Combinação de operações e processos de tratamento.

A decomposição da matéria orgânica biodegradável é realizada pela ação de


microrganismos aeróbios ou anaeróbios, o que resulta em menor custo operacional
quando em comparação com sistemas que utilizam produtos químicos.

a- Operações Físicas e Processos Químicos

Nesse tipo são aplicados produtos químicos para remoção de material orgânico
particulado e solúvel na forma de flocos (agregados) ou de precipitados,
respectivamente.

Entre as alternativas mais utilizadas estão os processos físico-químicos de


coagulação e a floculação, os quais, de acordo com o peso específico dos flocos, podem
ser instalados na seqüência unidade de decantação ou flotação. Também existem ETEs
que utilizam membranas filtrantes, adsorção, oxidação química etc.
Segundo Campos et al. (1996), o tratamento físico-químico, com ênfase à
aplicação da flotação por ar dissolvido, precedida de coagulação química e floculação,
tem apresentado elevada eficiência na remoção da carga orgânica residual, de sólidos
em suspensão e da concentração de fosfato total presentes nos efluentes de reatores
anaeróbios.

b- Processo Biológico Aeróbio

Os microorganismos aeróbios utilizam oxigênio molecular (O 2) como receptor


de elétrons na decomposição da matéria orgânica, o que requer o fornecimento externo
de oxigênio para a massa líquida, conforme mostrado nafigura 1.16.
O2 Parcela Líquida
Efluente Líquido Tratado
Alimento Microorganismos
Matéria Orgânica Oxidação da Matéria Orgânica
presente no esgoto e consumo de O 2 Parcela Sólida
Novos Microorganismos
(Bios ólido)

Figura 1.16 Decomposição da matéria orgânica.

Há uma grande variedade de sistemas aeróbios de tratamento de esgoto, como


os sistemas de lodo ativado, lagoas aeradas, filtros biológicos aeróbios, valos de
oxidação.

O sistema de lodo ativado é o mais utilizado no tratamento de esgoto sanitário e


de efluentes industriais, tendo microrganismos na forma de flocos no tanque de aeração,
que apresenta equipamentos para agitação, mistura e aeração da massa líquida.

A agitação evita a sedimentação dos flocos e facilita o contato do grande número


de microrganismos presentes nos flocos suspensos na massa líquida, razão para a grande
decomposição do material orgânico no tanque de aeração. Afigura1.17 mostra tanques
de aeração e flocos de microrganismos.
Figura 1.17 Tanque de aeração da ETE Jardim das Flores SP (a), Microorganismos em Lodos Ativados
identificados por Mendez (2004) (b)

O efluente líquido do tanque de aeração é encaminhado para unidade de


sedimentação (decantador secundário), sendo a fração sólida (flocos) sedimentada e
acumulada até a remoção do material sedimentado no fundo do tanque (lodo).

O lodo é recirculado para a entrada do tanque de aeração, sendo descartado


quando excede a quantidade estabelecida como limite no sistema de lodo ativado,
conforme representado na figura 1.18.

Figura 1.18 Esquematização do funcionamento do sistema de lodos ativados


Até o final dos anos 80 do século passado, predominaram ETEs convencionais
aeróbias para tratamento de esgoto sanitário, principalmente nas regiões sul e sudeste
do Brasil, justamente as que apresentam condições ambientais mais aproximadas das
que ocorrem nos países da Europa e da América do Norte, locais em que essa
alternativa de tratamento é bastante difundida.

Em que pese a grande eficiência dos sistemas aeróbios, a necessidade de


fornecimento de oxigênio, o grande número de unidades e a grande produção de lodo
são desvantagens desse tipo de tratamento quando em comparação com os sistemas
anaeróbios13.

c- Processo Biológico Anaeróbio

Nas pesquisas realizadas para reduzir as desvantagens ou encontrar alternativas


ao tratamento aeróbio de esgoto foi intensificada a tecnológica baseada no processo
anaeróbio, no qual os microrganismos não utilizam oxigênio molecular, O 2 , como
aceptor de elétronsna decomposição da matéria orgânica, mas sim oxigênio combinado.

Os digestores anaeróbios convencionais, ditos de baixa taxa, foram otimizados


até a concepção dos atuais reatores anaeróbios de alta taxa, que possuem grande
aplicação nas mais diversas alternativas de tratamento de esgoto. Entre esses estão o
Reator Anaeróbio de Manta de Lodo e o Reator anaeróbio de Leito Expandido /
Fluidificado.

O Reator Anaeróbio de Manta de Lodo, citado na literatura inglesa como


UpflowAnaerobicSludgeBlanket - UASB, foi inicialmente utilizado no tratamento de
águas residuárias industriais concentradas, tendo no Brasil várias denominações como
Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente - RAFA, Digestor Anaeróbio de Fluxo
Ascendente - DAFA (VAN HAANDEL E LETTINGA, 1994).

13
O metabolismo e a taxa de crescimento de muitas bactérias anaeróbicas é intensificado em
temperaturas da ordem de 30º C, sendo essa é uma das características das regiões Norte e Nordeste
do Brasil.
O UASB é caracterizado pela capacidade de reter grandes quantidades de
biomassa de elevada atividade, mesmo com a aplicação de baixos tempos de detenção
hidráulica, o que possibilita a concepção de reatores compactos, com volumes bastante
inferiores aos digestores anaeróbios convencionais, garantindo elevado grau de
estabilização da matéria orgânica (METCALF & EDDY, 1991; CHERNICHARO,
1997).

O funcionamento de reator UASB consiste basicamente no esgoto entrar pelo


fundo do reator em fluxo ascendente, passando pela zona de digestão (manta de lodo)
formada por leito denso com elevada atividade biológica.

Após a reação do esgoto afluente com a biomassa ativa presente na manta de


lodo, o escoamento continua em direção ao sistema separador de fases, o que possibilita
a separação das parcelas sólidas, liquidas e gasosas.

A parcela líquida é encaminhada aos vertedores, enquanto as bolhas de biogás,


resultantes da decomposição da matéria orgânica, são direcionadas ao sistema de coleta
de biogás. A maior parte da parcela sólida permanece retida no interior do reator, o que
aumenta o tempo de permanência dos microrganismos no reator. Afigura 1.19 apresenta
o funcionamento de reator UASB.

Vertedor Vertedor

ZONA DE
DECANTAÇÃO

ZONA DE
DIGESTÃO

Figura 1.19 Funcionamento de reator UASBFonte: Adaptado de Campos, 1999.


1.5.4. Tratamento terciário

O efluente líquido do tratamento secundário ainda apresenta microrganismos,


pois nos processos biológicos (tratamento secundário) ocorre ambiente favorável para o
crescimento, o que resulta em maior número do que no esgoto bruto14.

Esses microrganismos precisam ser eliminados ou inativados na etapa de


tratamento terciário. Para isso podem ser empregadas unidades com desinfetantes
químicos (cloro, ozônio etc) ou sistemas com radiação ultra-violeta.

O tratamento terciário ainda pode ser destinado à remoção de macronutrientes,


na forma de compostos de fósforo e de nitrogênio. Contudo, a maioria das ETEs
brasileiras ainda não dispõe desse tipo de unidade.

a- Combinação de unidades de tratamento

A associação de processos aeróbios, anaeróbios e físico-químicos é uma


alternativa para aumentar a eficiência e reduzir os custos (construtivos e operacionais)
nas estações de tratamento de esgoto sanitário. Por muito tempo, a associação de
processos biológicos somente foi observada nas lagoas de estabilização, conforme
representado na figura 1.20.

lagoa facultativa
Lagoa anaeróbia (Aeróbia + Anaeróbia) Lagoa de maturação

Figura 1.20Combinação entre lagoas de estabilização

14
A decomposição do material orgânico intensifica o metabolismo e a reprodução dos
microrganismos
Apesar da associação de lagoas anaeróbias e aeróbias, foi muito grande a
resistência ao uso de reatores anaeróbios associados a reatores aeróbios, como UASB e
lodo ativado. Isso perdurou até o início dos anos 90, especialmente pelos que defendiam
o processo aeróbio como única tecnologia aplicável ao tratamento do esgoto.

No entanto, o avanço no Brasil das pesquisas e experiências com reatores


anaeróbios resultou na construção de plantas de tratamento de esgoto sanitário em áreas
urbanas, como a Estação de Tratamento de Esgoto Piracicamirim15 implantada no
município de Piracicaba – São Paulo, na qual foi instalado reator UASB e lagoa aerada,
ao invés de um único sistema aeróbio.

Além de demonstrar a viabilidade da aplicação de reatores UASB em grande


escala, os resultados obtidos na ETE Piracicamirim confirmaram que a combinação de
diferentes processos garante a eficiência e reduz os custos de implantação e operação
das unidades de tratamento.

Paralelamente, outras experiências de associação de processos começaram a ser


realizadas, como os reatores UASB associados com disposição no solo ou lagoa de
polimento. Entre os exemplos práticos de combinação de unidades e processos
utilizados no tratamento do esgoto podem ser citados: a ETE Onça em Belo Horizonte -
MG (UASB+Lodos Ativados), a ETE Rua da Mata em Belém - PA (UASB+Lodos
Ativados) e a ETE Tavares Bastos em Belém - PA (UASB+Tratamento físico-químico
por Flotação. O tratamento físico-químico também é bastante utilizado no Distrito
Federal, como pós-tratamento do sistema de lodos ativados nas ETE`s Sul, Norte e
Melchior.

1.6. LODO DE ESGOTO

No tratamento de esgoto são gerados subprodutos, como escuma, areia, sólidos


grosseiros e o lodo. De acordo com Jordão e Pessoa (1995), o lodo é um subproduto do
tratamento da fase líquida tendo alto teor de umidade, em torno de 99 a 95% em peso.
Catunda et al. (2000) cita que normalmente o lodo é produzido como uma suspensão

15
Projeto do Prof. José Roberto Campos, da Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de
São Paulo
relativamente diluída, com teor de sólidos de 20 a 50 g/L (umidade de 95 a 98%), no
caso de aeróbios e de 50 a 100 g/L (umidade de 90 a 95 %) para lodo de sistemas
anaeróbios.

Os lodos podem apresentar três características indesejáveis, cuja correção é


objetivo do tratamento de lodo. (AISSE et al.,1999).
 Instabilidade biológica: no caso de lodo primário e de lodo aeróbio há uma
grande fração de material orgânico biodegradável;
 Qualidade higiênica péssima: especialmente no caso de esgoto sanitário há
uma grande variedade de vírus, bactérias e parasitas (protozoários, ovos de
nematóides e helmintos) que constituem uma ameaça à saúde pública;
 Grande volume: o volume de lodo é considerável e a concentração de sólidos
é relativamente baixa, sendo necessário aplicar um processo de separação de
fases para reduzir o teor de sólidos.

Assim, o lodo de esgoto é um produto poluente tanto pelas concentrações de


patógenos quanto pelos teores de nutrientes presentes, já que no processo de produção
de lodo, junto com as partículas minerais e a matéria orgânica, também, precipitam
(diretamente ou adsorvidas a partículas maiores) elementos traço com potencial tóxico e
diferentes agentes patogênicos, como ovos de helmintos, cistos de protozoários e
colônia de bactérias (ANDREOLI et al., 2001).

É importante lembrar que uma das finalidades do tratamento de esgoto é


diminuir a concentração de patógenos no efluente tratado. No entanto, os organismos
removidos são concentrados no lodo. A quantidade de patógenos presentes no esgoto de
determinada localidade é bastante variável e depende dos seguintes fatores: condições
sócio-econômica da população, condições sanitárias, região geográfica, presença de
indústrias agro-alimentares e tipo de tratamento a que o lodo foi submetido. Silva et al.
(2001). O quadro 1apresenta estimativas de cargas de patógenos presentes no lodo.
Agente patogênico Tipo de lodo Número de patógenos
Ovos de helmintos Lodo primário 103-104/kg MS
Lodo digerido 102-103/kg MS
Lodo semi desidratado 101-103/kg MS
Lodo de tratamento aeróbio, semi desidratado 102-7,5.104/kg MS
Lodo anaeróbio 6,3.103-1,5.104/kg MS
Cistos de protozoários Lodo primário 7,7.104-3.106/kg MS
Lodo digerido 3.104-4,1.106/kg MS
Lodo desidratado 7.101-102/kg MS
Bactérias Lodo 101-8,8.106/kg MS
Lodo ETE Belém -PR 108kg MS
Vírus Lodo primário 3,8.103-1,2.105/L
Lodo digerido 101-103/L
Lodo semi desidratado 101-8,8.106/kg Ms

Quadro 1 - Concentração de agentes patogênicos no lodo


Fonte: Feix e Wiart (1998), Thomaz Soccolf. (1997) Apud Silva et al. (2001 p. 99)

O lodo acumulado nos sistemas de tratamento de esgoto deve ser periodicamente


ou continuamente descartado, com a quantidade e a qualidade do lodo produzido por
ETE relacionada com a vazão de esgoto tratado, com as características do esgoto, com o
tipo de tratamento e da operação da ETE. (FERREIRA ET AL.,1999). Imhoff (1996)
comenta que quanto mais avançado é o grau de tratamento maior o volume produzido de
lodo. O quadro 2 sugere valores para a quantidade e as características de diversos tipos
de lodo.

Características do lodo produzido e descartado da fase líquida


SISTEMA (dirigido à etapa de tratamento de lodo)
kgSS/kgDQO Teor de Massa de lodo Volume de lodo
Aplicada sólidos secos (gSS/hab.d) (a) (L/hab.d) (b)
(%)
Tratamento primário (convencional) 0,35 – 0,45 2-6 35 - 45 0,6 – 2,2
Tratamento primário (tanques sépticos) 0,2 – 0,30 3-6 20 - 30 0,3 – 1,0
Lagoa facultativa 0,12 – 0,32 5 - 15 12 - 32 0,1 – 0,25
Lagoa anaeróbia – lagoa facultativa
Lagoa anaeróbia 0,2 – 0,45 15 - 20 20 - 45 0,1 – 0,3
Lagoa facultativa 0,06 – 0,10 7 - 12 6 - 10 0,05 – 0,15
Total 0,26 – 0,55 - 26 - 55 0,15 – 0,45
Lagoa aerada facultativa 0,08 – 0,13 6 - 10 8 - 13 0,08 – 0,22
Lagoa aerada mistura completa – lagoa sediment. 0,11 – 0,13 5–8 11 - 13 0,15 – 0,25
Tanque séptico + filtro anaeróbio
Tanque séptico 0,20 – 0,30 3-6 20 0 30 0,3 – 1,0
Filtro anaeróbio 0,07 – 0,09 0,5 – 4,0 7-8 0,2 – 1,8
Total 0,27 – 0,39 1,4 – 5,4 27 - 39 0,5 – 2,8
Lodos ativados convencional
Lodo primário 0,35 – 0,45 2-6 35 - 45 0,6 – 2,2
Lodo secundário 0,25 – 0,35 0,6 - 1 25 - 35 2,5 – 6,0
Total 0,60 – 0,80 1-2 60 - 80 3,1 – 8,2
Lodos ativados – aeração prolongada 0,50 – 0,55 0,8 – 1,2 40 - 45 3,3 – 5,6
Filtro biológico de alta carga
Lodo primário 0,35 – 0,45 2-6 35 - 45 0,6 – 2,2
Lodo secundário 0,20 – 0,30 1 – 2,5 20 - 30 0,8 – 3,0
Total 0,55 – 0,75 1,5 – 4,0 55 - 75 1,4 – 5,2
Biofiltro aerado submerso
Lodo primário 0,35 – 0,45 2-6 35 - 45 0,6 – 2,2
Lodo secundário 0,25 – 0,35 0,6 - 1 25 - 35 2,5 – 6,0
Total 0,60 – 0,80 1-2 60 - 80 3,1 – 8,2
Reator UASB 0,12 – 0,18 3-6 12 - 18 0,2 – 0,6
UASB + pós-tratamento aeróbio (c)
Lodo anaeróbio (UASB) 0,12 – 0,18 3-4 12 - 18 0,3 – 0,6
Lodo aeróbio (lodos ativados) (d) 0,08 – 0,14 3-4 8 - 14 0,2 – 0,5
Total 0,20 – 0,32 3-4 20 - 32 0,5 – 1,1

Quadro 2 Características e quantidade do lodo produzido em sistemas de tratamento de esgotos


Nas unidades com longo período de detenção do lodo (ex: lagoas, tanques sépticos, reator UASB,
filtro anaeróbio), os valores apresentados incluem a digestão e adensamento que ocorrem na própria
unidade (os quais reduzem a massa e o volume de lodo).
(a) Assumindo 0,1 kg DQO/hab. d e 0,06 kg SS/ hab. dia
(b) Litros de lodo por hab. d = {(gSS/hab.d)/(sólidos secos (%))} x (100/1000) (assumindo densidade
de 1000 kg/m3)
(c) Pós-tratamento aeróbio: lodos ativados, biofiltro aerado submerso, filtro biológico
(d) Lodo ativado do UASB, após redução de massa e volume na digestão e adensamento que ocorrem
no próprio reator UASB (o lodo aeróbio excedente afluente ao UASB é também menor, pois neste
caso a influência da perda de sólidos no efluente do decantador secundário passa a desempenhar uma
maior influência).
Fonte: Von Sperling e Gonçalves (2001)

1.6.1 Gerenciamento do lodo de esgoto

Os processos de tratamento do lodo visam reduzir o teor de material orgânico


biodegradável, os organismos patogênicos e o teor de água no lodo, para que se obtenha
material sólido e estável (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999).
O gerenciamento do lodo pode ocorrer em seis etapas (adensamento,
estabilização, condicionamento, desaguamento, higienização e disposição final), as
quais podem ser incluídas no processamento do lodo, dependendo das características
dos mesmos (VON SPERLING E GONÇALVES, 2001)
O adensamento tem a finalidade de reduzir o volume de lodo, pela diminuição de
umidade, para reduzir os custos de implantação e operação das unidades de secagem e
digestão do lodo. Já a estabilização é um processo bioquímico que objetiva a redução de
matéria orgânica, microrganismos e de odores.

O condicionamento do lodo é a etapa do tratamento que precede o


desaguamento, consistindo da adição de agentes coagulantes para proporcionar maior
eficiência na separação sólido /líquido na etapa de desaguamento. Assim, o
condicionamento tem a finalidade de melhorar o desempenho da unidade de
desaguamento, que é a operação destinada a redução do volume de lodo, pelo aumento
do teor de sólidos.

A higienização é uma etapa complementar, que tem a finalidade de diminuir o


número de microrganismos patogênicos, para possibilitar o seu reaproveitamento de
forma segura.

A escolha da destinação final do lodo de esgoto é complexa e depende das


características físicas, químicas e do grau de patogenicidade do lodo gerenciado, o que é
relacionado com a disponibilidade de recursos (pessoal, instalações e equipamentos).

1.7 CORPO RECEPTOR

A Resolução no357, DE 17 DE MARÇO DE 2005 apresenta a classificação e as


diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de água superficiais, bem como
estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes.

No entanto, a falta de atendimento da legislação ambiental tem ocasionado


poluição / contaminação dos recursos hídricos, especialmente os localizados na área
urbana, com o lançamento indevido de esgoto sanitário comprometendo
significativamente usos básicos da água, como o abastecimento público e a
recreação.
Valenzuela (1999) comenta que os rios e lagos estão seriamente contaminados
com metais pesados e esgotos, que dizimam muitos tipos de vida aquática benéficas
ao homem e também geram ambiente propício a outras espécies aquáticas não
desejáveis. Esse autor ainda ressalta que aqüíferos subterrâneos estão poluídos por
efluentes de tanques sépticos e sumidouros, resultando disso a contaminação de
pessoas e animais que usam água subterrânea.

Pereira e Mendes (2003) citam os principais inconvenientes do lançamento de


esgoto bruto em corpos d’água:
 Prejuízo do aspecto estético, pela presença de materiais grosseiros e de sólidos
suspensos;
 Redução do teor de oxigênio dissolvido na decomposição bioquímica do
material orgânico, o que pode ocasionar danos irreparáveis à biota aquática;
 Contaminação da massa líquida, pela presença de organismos patogênicos.
Em algumas situações, o corpo receptor tem capacidade de assimilar a carga
poluente/contaminante do esgoto sanitário, porém é indispensável que sejam realizados
estudos para avaliar a capacidade de autodepuração antes e após o lançamento de esgoto
bruto ou efluente tratado no corpo receptor.

No estudo de autodepuração devem ser calculadas a distância e o tempo


necessários para que as características físicas, químicas e biológicas do corpo receptor
voltem a ser similares ao observado antes do lançamento do esgoto bruto ou
parcialmente tratado.

Assim, a eficiência desejada para a ETE é diretamente relacionada com as


características do esgoto (vazão e composição) e com a capacidade de autodepuração do
corpo receptor. Em algumas situações, a grande capacidade de diluição do corpo
receptor e o rápido retorno às condições iniciais podem dispensar tratamentos
completos. Isso ocorre em algumas cidades brasileiras que lançam parte dos esgotos
sanitários coletados no oceano, como Rio de Janeiro e Fortaleza, e em grandes rios,
como Manaus e Belém.
Contudo, o crescimento acelerado da população e o aumento da industrialização
tornam maior a carga poluidora / contaminante do esgoto sanitário, indicando a
necessidade de estudos e monitoramentos para que não sejam atingidos os limites
máximos de autodepuração desses corpos d´água que recebem esgoto bruto ou
parcialmente tratado.

Assim, a escolha do processo de tratamento de esgoto depende das


características quantitativas e qualitativas do esgoto bruto, da eficiência do sistema, dos
custos construtivos e operacionais e dos impactos no corpo receptor.

1.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os empreendimentos na área de saneamento estão diretamente relacionados com


a questão ambiental, assim o SES deve ser planejado para atender a toda a zona urbana,
bem como para o incremento da população que, além de aumentar a carga contribuinte
de esgoto sanitário, resulta na necessidade de novo reordenamento urbano.

Em qualquer projeto devem ser realizados estudos detalhados para o


conhecimento das características da área contribuinte, elaboradas diferentes alternativas
de concepção do sistema de esgotamento sanitário e estimados os custos construtivos.
Essa seqüência de atividades deve ser sempre atendida, pois evita decisões apressadas
que podem resultar na utilização de tecnologias não adequadas tecnicamente para a área
que será beneficiada.

Vale observar que na maioria dos municípios brasileiros não existe sistema de
esgotamento sanitário na infra-estrutura urbana, o que resulta na utilização de soluções
individuais, como os tanques sépticos. Apesar de essa solução amenizar os impactos
ambientais, esse tipo de tratamento é classificado como primário, tendo baixa eficiência
na remoção de microrganismos (< 30%), matéria orgânica (< 60%) e sólidos suspensos
(< 70%), o que pode representar ameaça para o meio ambiente e, naturalmente, para a
saúde da população.
Nesse sentido, o sistema coletivo de esgotamento sanitário adquire grande
importância, sendo um desafio para as administrações municipais, que precisam
compatibilizar as alternativas de concepção com a preservação do meio ambiente,
especialmente a dos recursos hídricos, que em muitas cidades ainda são pontos de
recebimento de esgoto bruto.

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