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DEMOCRACIA PARTICIPATIVA NA ERA DIGITAL

André Afonso Tavares1


Reginaldo de Souza Vieira2

O desenvolvimento do Estado do Bem Estar Social, o modelo liberal e a


democracia representativa passaram a dar sinais de desgaste, chegando a uma
crise de legitimidade que se reflete nas instituições estatais. Tal modelo de
democracia de representatividade surgiu a partir dos estados modernos, após a
Segunda Guerra Mundial, apoiada nos ideais de liberalismo econômico. Na Grécia
antiga, a democracia tinha como pressuposto básico a participação dos cidadãos
nos assuntos da polis. Em Roma, a república era vista como a soma dos cidadãos e
o Estado eram eles próprios, reunidos enquanto povo. As decisões eram tomadas
em assembléias e o interesse público era tutelado por ações populares, na alçada
de qualquer cidadão (HERMANY e GIACOBBO, 2016, p. 1).
Já Franzolin (2014, p. 340) escreve que, a democracia, nos moldes atuais,
não oferece a efetiva participação e realização da cidadania, pois não é apenas no
sufrágio e no voto que se concretiza o processo democrático.
Nesse contexto, a temática do presente estudo gira em torno da reflexão
acerca do impacto na democracia participativa decorrente das possibilidades
advindas da utilização dos recursos da tecnologia da informação e comunicação
(TICs) no contexto democrático, denominada também de Democracia digital ou
eletrônica 4.0.

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação/Mestrado em Direito da UNESC. Membro do Núcleo de
Estudos em Estado, Política e Direito (NUPED/UNESC) Especialista em Direito Público e em
Auditoria Governamental. Graduado em Direito e em Ciências Contábeis. Graduando em Engenharia
de Software. Advogado. Contador. Endereço eletrônico: afonsotavares.andre@gmail.com
2
Doutor (2013) e Mestre (2002) em Direito pelo Programa de Pós-graduação em Direito – Mestrado e
Doutorado, da Universidade Federal de Santa Catarina. Professor, pesquisador e Coordenador
Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD/UNESC). Professor e pesquisador
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDS/UNESC).
Professor titular da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Coordenador do Núcleo de
Estudos em Estado, Política e Direito (NUPED/UNESC).Endereço eletrônico:
prof.reginaldovieira@gmail.com
A problemática de pesquisa almejou responder ao seguinte questionamento:
de que forma a Democracia Digital ou Eletrônica 4.0 pode contribuir para o
aperfeiçoamento da Democracia Participativa?
Para realização da pesquisa, adotou-se como metodologia científica a
dedução, a partir de técnica de pesquisa bibliográfica e documentação indireta.
O trabalho teve por objetivo geral demonstrar as possibilidades de
aperfeiçoamento da democracia participativa a partir do entrelaçamento com a
denominada democracia digital ou eletrônica 4.0.
Num primeiro momento, foi realizado aporte teórico acerca dos conceitos
que envolvem as categorias democracia participativa e a democracia eletrônica ou
digital 4.0.
A partir do surgimento de novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), pode-se verificar a transformação de forma significativa nos modelos de
sociedades democráticas atuais, especialmente no que toca à participação popular
no exercício da cidadania, sendo anseios antigos da democracia clássica, que
acabaram ficando de lado ao longo dos anos, tal como a participação direta dos
cidadãos nos negócios públicos, vem, em razão dessas tecnologias, sendo
resgatadas e inaugurando um novo marco da democracia: a democracia digital
(ANGELO; PAGAN; GUDWIN, 2014, p. 4).
Segundo Castells (2003, p. 7), há uma mudança na sociedade a partir do
advento da internet e das novas tecnologias:
A Internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje
o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia
ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão
de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o
domínio da atividade humana. Ademais, à medida que novas
tecnologias de geração e distribuição de energia tornaram possível a
fábrica e a grande corporação como os fundamentos organizacionais
da sociedade industrial, a Internet passou a ser a base tecnológica
para a forma organizacional da Era da Informação: a rede.

Após isso, realizou-se o aprofundamento da temática em discussão, com


estudos das formas que se manifestam a democracia participativa e análise da
utilização de recursos tecnológicos nesses espaços, especialmente, no âmbito dos
conselhos municipais.
Consoante destaca Vieira (2013, p. 29), além dos mecanismos de
participação semidireta do poder, isto é, iniciativa popular, plebiscito e referendo, a
Carta Magna de 1988 também reconheceu outros espaços de cidadania, tais como a
participação da comunidade na área da saúde, o direito de reunião e associação, o
direito à informação em órgãos públicos, o direito de petição e obtenção de certidões
em órgãos públicos para a defesa de direitos, a ação popular, a iniciativa popular
municipal, a realização de audiências públicas no Congresso Nacional com a
participação da sociedade, a possibilidade de um cidadão apresentar denúncias
perante o Tribunal de Contas, o recebimento de reclamações da sociedade contra
órgãos do Poder Judiciário perante o Conselho de Justiça, o recebimento de
reclamações da sociedade contra órgãos do Ministério Público perante o Conselho
Nacional do Ministério Público.
O estudo baseou-se na hipótese de que a partir do alinhamento das novas
tecnologias e dos recursos da tecnologia da informação e comunicação (TICs), bem
como das técnicas de engenharia de software no contexto democrático, alcunhado
de democracia digital ou eletrônica 4.0, a democracia participativa pode caminhar no
mesmo sentido e aumentar o grau de alcance dos seus mecanismos participativos.
Assim, foi possível constatar que o entrelaçamento da Democracia
Participativa e da Democracia Eletrônica ou Digital 4.0 pode resultar no
aperfeiçoamento dos mecanismos de participação popular, uma vez que os recursos
tecnológicos podem aumentar o grau de alcance e diminuir as barreiras de
informação e participação atualmente existentes nesses instrumentos, tais como a
utilização de portais eletrônicos para os Conselhos Municipais, com possibilidade de
interação entre os cidadãos, o aumento da transparência das informações relativas
às etapas que compõe o ciclo das políticas públicas, e, por fim, a possibilidade de
capacitar adequadamente o exercício do controle social sobre a gestão pública.

REFERÊNCIAS:

ANGELO, Tiago Novaes; PAGAN, Cesar Bonjuani; GUDWIN, Ricardo Ribeiro. Das
praças gregas à àgora virtual: um panorama histórico da democracia digital.
Democracia Digital e Governo Eletrônico. Florianópolis, n. 11, p. 3-24, 2014.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e
a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
FRANZOLIN, Cláudio José. Teledemocracia: a democracia numa sociedade em rede
como forma periférica de participação de novos sujeitos e de construção de novos
direitos. Revista Faculdade de Direito Sul de Minas, Pouso Alegre. v. 29, n. 2: 339-
364, jul./dez. 2013.
HERMANY, Ricardo; GIACOBBO, Guilherme Estima. A democracia representativa e
crise de legitimidade: o potencial de subsidiariedade no fortalecimento da democracia
administrativa. XIII Seminário Internacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na
Sociedade Contemporânea e IX Mostra Internacional de Trabalhos Científicos. 2016.
ISSN 2358-3010.
VIEIRA, Reginaldo de Souza. A cidadania na república federativa: pressupostos para
a articulação de um novo paradigma jurídico e político para os conselhos de saúde.
2013. 540 fl. Tese (Doutorado em Direito) – Florianópolis, PPGD-UFSC, 2013.

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