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4 de Setembro de 2021

Por que nós advogados podemos acessar processos


eletrônicos de terceiros, mas somos alertados sobre o
rastreamento do acesso?

Continuando a narrar a minha experiência de jovem advogado lembro


o dia que tive que pesquisar o processo de um cliente e me deparei com
essa mensagem: "Conforme a Resolução CNJ n.º 121 e o PCA
0000547-84.2011.2.00.0000, o acesso aos autos de processo
de que o advogado não faz parte será registrado para fins
de eventual responsabilização civil, administrativa ou
criminal. Continuar?"

Confesso que me preocupei, afinal responsabilização independente da


esfera jurídica é algo sério ainda mais quando estamos engatinhando
na profissão. Todavia, decidi CONTINUAR e depois quando o cliente se
retirou do escritório busquei saber o motivo daquela mensagem e
principalmente o que dizia, respectivamente, a Resolução n.º 121 do
CNJ e o PCA 0000547-84.2011.2.00.0000.

Quando digitei na pesquisa tive acesso imediato ao ato normativo do


CNJ que datava de 05 de outubro de 2010. Entendi que a Resolução
regulamentava especificamente a divulgação de dados processuais
eletrônicos na internet, a expedição de certidões judiciais e o acesso
dos advogados aos processos eletrônicos. Era esse terceiro assunto
abordado que mais me interessava.

Quando finalizei a leitura continuei com algumas dúvidas e parti para a


busca pelo Procedimento de Controle Administrativo cujo número
aparecia na mensagem de advertência.
Foi nesse momento que compreendi de fato como funcionava o acesso
dos advogados aos processos eletrônicos, haja vista que no PCA havia
uma discussão de mérito bastante pertinente sobre a aplicação prática
dos termos contidos na supracitada Resolução.

Ocorre que a OAB/RJ ajuizou o procedimento de controle em face da


Corregedoria Geral da Justiça Federal da 2a Região e do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro em razão do Provimento da CRJF
da 2ª Região e da Resolucao TJ/RJ haverem supostamente violado a
Resolução nº 121 do CNJ.

Os atos impugnados pela OAB/RJ determinavam que, para ter acesso


aos autos do processo eletrônico, o advogado sem procuração deveria
peticionar ao juiz competente. De forma razoável o conselheiro do CNJ
Nelson Tomaz Braga, relator do processo, entendeu que o pedido de
acesso por escrito dificultava as pesquisas feitas pelos advogados,
sobretudo as emergenciais, e que a burocracia prejudicaria o
cumprimento de prazos processuais.

Ao final, votou pela suspensão dos dispositivos que determinavam a


exigência de procuração e imediata retificação dos mesmos de acordo
com a resolução 121 do CNJ, firmando o entendimento de que não é
preciso a autorização prévia para pesquisa dos advogados. O
voto foi tão brilhante (minha opinião) que foi acompanhado
unanimemente pelos demais conselheiros.

O relator aduziu que a discussão dizia respeito a questão específica e


prática: os advogados que não possuem procuração no processo
eletrônico precisam da autorização do juízo ou de cadastramento na
secretaria do juízo para obterem acesso amplo aos autos?

Acrescentou que a Resolução n. 121/2010 do CNJ foi resultado do


processo ATO 0001776-16.2010.2.00.0000, de relatoria do
Conselheiro Walter Nunes e que e que no acórdão que levou ao
Plenário a minuta da resolução, o mesmo ofereceu uma interessante
discussão sobre os dilemas que o impacto da virtualização do processo
poderia trazer aos sujeitos direta ou indiretamente envolvidos, assim
como a divulgação de suas informações.

O mencionado Conselheiro na ocasião expôs alguns direitos e garantias


assegurados pela Constituição Federal:

O princípio da publicidade dos atos processuais (art. 5º, LX);

O direito de acesso à informação (art. 5º, XXXIII);

O princípio da publicidade, orientador da Administração Pública


(art. 37, caput);

O dever do Poder Judiciário de motivar e fundamentar suas


decisões, além de tornar seus julgamentos públicos, salvo exceções
(art. 93, IX);

E em seguida apontou as consequências institucionais destas garantias


são:

A regra do processo judicial é a sua publicidade.

Os dados, registros e informações de posse do agente público ou do


serviço estatal ou judicante, não pertencem ao Estado nem ao juiz
ou às partes, mas à sociedade.

O fornecimento da informação processual é um dever do Estado.

Todavia, sustentou que a pesquisa anônima deveria ser


vedada, mesmo que de advogados, a processos a que não
estejam vinculados. Desse modo, concluiu que não haveria
necessidade de prévia manifestação de interesse nem
tampouco de decisão judicial para que tal acesso ocorresse,
harmonizando-se tal dispositivo com o Estatuto da Advocacia.
Por conseguinte, nos debates da sessão de julgamento para a aprovação
da Resolução foi informado que qualquer documento copiado seria
registrado no sistema, de forma a definir responsabilidades eventuais
de danos por divulgação de informações devidamente.

Ademais, os Conselheiros Milton Nobre e Walter Nunes reiteraram por


diversas vezes nessa mesma oportunidade a impossibilidade de que
o juiz realizasse qualquer tipo de juízo de admissibilidade,
pois tal prática iria gerar uma burocratização excessiva e
desnecessária.

Por essa razão, o relator do PCA 0000547-84.2011.2.00.0000 concluiu


que os dispositivos impugnados (art. 7º do Provimento 89/2010 da
Corregedoria-Geral do TRF-2 e art. 19 da Resolução TJ/OE nº
16/2009) não possuíam redação compatível com a Resolução CNJ n.
121, razão pela qual deveriam ser retificados.

Portanto, devemos ter a consciência de que a Resolução do CNJ


assegura a todos os advogados o acesso automático aos processos
alheios, entretanto promove um rastreamento instantâneo para fins de
responsabilização por eventuais condutas ilegais.

Disponível em: https://limaviusmars.jusbrasil.com.br/artigos/710172682/por-que-nos-


advogados-podemos-acessar-processos-eletronicos-de-terceiros-mas-somos-alertados-sobre-o-
rastreamento-do-acesso

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