eletrônicos de terceiros, mas somos alertados sobre o rastreamento do acesso?
Continuando a narrar a minha experiência de jovem advogado lembro
o dia que tive que pesquisar o processo de um cliente e me deparei com essa mensagem: "Conforme a Resolução CNJ n.º 121 e o PCA 0000547-84.2011.2.00.0000, o acesso aos autos de processo de que o advogado não faz parte será registrado para fins de eventual responsabilização civil, administrativa ou criminal. Continuar?"
Confesso que me preocupei, afinal responsabilização independente da
esfera jurídica é algo sério ainda mais quando estamos engatinhando na profissão. Todavia, decidi CONTINUAR e depois quando o cliente se retirou do escritório busquei saber o motivo daquela mensagem e principalmente o que dizia, respectivamente, a Resolução n.º 121 do CNJ e o PCA 0000547-84.2011.2.00.0000.
Quando digitei na pesquisa tive acesso imediato ao ato normativo do
CNJ que datava de 05 de outubro de 2010. Entendi que a Resolução regulamentava especificamente a divulgação de dados processuais eletrônicos na internet, a expedição de certidões judiciais e o acesso dos advogados aos processos eletrônicos. Era esse terceiro assunto abordado que mais me interessava.
Quando finalizei a leitura continuei com algumas dúvidas e parti para a
busca pelo Procedimento de Controle Administrativo cujo número aparecia na mensagem de advertência. Foi nesse momento que compreendi de fato como funcionava o acesso dos advogados aos processos eletrônicos, haja vista que no PCA havia uma discussão de mérito bastante pertinente sobre a aplicação prática dos termos contidos na supracitada Resolução.
Ocorre que a OAB/RJ ajuizou o procedimento de controle em face da
Corregedoria Geral da Justiça Federal da 2a Região e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em razão do Provimento da CRJF da 2ª Região e da Resolucao TJ/RJ haverem supostamente violado a Resolução nº 121 do CNJ.
Os atos impugnados pela OAB/RJ determinavam que, para ter acesso
aos autos do processo eletrônico, o advogado sem procuração deveria peticionar ao juiz competente. De forma razoável o conselheiro do CNJ Nelson Tomaz Braga, relator do processo, entendeu que o pedido de acesso por escrito dificultava as pesquisas feitas pelos advogados, sobretudo as emergenciais, e que a burocracia prejudicaria o cumprimento de prazos processuais.
Ao final, votou pela suspensão dos dispositivos que determinavam a
exigência de procuração e imediata retificação dos mesmos de acordo com a resolução 121 do CNJ, firmando o entendimento de que não é preciso a autorização prévia para pesquisa dos advogados. O voto foi tão brilhante (minha opinião) que foi acompanhado unanimemente pelos demais conselheiros.
O relator aduziu que a discussão dizia respeito a questão específica e
prática: os advogados que não possuem procuração no processo eletrônico precisam da autorização do juízo ou de cadastramento na secretaria do juízo para obterem acesso amplo aos autos?
Acrescentou que a Resolução n. 121/2010 do CNJ foi resultado do
processo ATO 0001776-16.2010.2.00.0000, de relatoria do Conselheiro Walter Nunes e que e que no acórdão que levou ao Plenário a minuta da resolução, o mesmo ofereceu uma interessante discussão sobre os dilemas que o impacto da virtualização do processo poderia trazer aos sujeitos direta ou indiretamente envolvidos, assim como a divulgação de suas informações.
O mencionado Conselheiro na ocasião expôs alguns direitos e garantias
assegurados pela Constituição Federal:
O princípio da publicidade dos atos processuais (art. 5º, LX);
O direito de acesso à informação (art. 5º, XXXIII);
O princípio da publicidade, orientador da Administração Pública
(art. 37, caput);
O dever do Poder Judiciário de motivar e fundamentar suas
decisões, além de tornar seus julgamentos públicos, salvo exceções (art. 93, IX);
E em seguida apontou as consequências institucionais destas garantias
são:
A regra do processo judicial é a sua publicidade.
Os dados, registros e informações de posse do agente público ou do
serviço estatal ou judicante, não pertencem ao Estado nem ao juiz ou às partes, mas à sociedade.
O fornecimento da informação processual é um dever do Estado.
Todavia, sustentou que a pesquisa anônima deveria ser
vedada, mesmo que de advogados, a processos a que não estejam vinculados. Desse modo, concluiu que não haveria necessidade de prévia manifestação de interesse nem tampouco de decisão judicial para que tal acesso ocorresse, harmonizando-se tal dispositivo com o Estatuto da Advocacia. Por conseguinte, nos debates da sessão de julgamento para a aprovação da Resolução foi informado que qualquer documento copiado seria registrado no sistema, de forma a definir responsabilidades eventuais de danos por divulgação de informações devidamente.
Ademais, os Conselheiros Milton Nobre e Walter Nunes reiteraram por
diversas vezes nessa mesma oportunidade a impossibilidade de que o juiz realizasse qualquer tipo de juízo de admissibilidade, pois tal prática iria gerar uma burocratização excessiva e desnecessária.
Por essa razão, o relator do PCA 0000547-84.2011.2.00.0000 concluiu
que os dispositivos impugnados (art. 7º do Provimento 89/2010 da Corregedoria-Geral do TRF-2 e art. 19 da Resolução TJ/OE nº 16/2009) não possuíam redação compatível com a Resolução CNJ n. 121, razão pela qual deveriam ser retificados.
Portanto, devemos ter a consciência de que a Resolução do CNJ
assegura a todos os advogados o acesso automático aos processos alheios, entretanto promove um rastreamento instantâneo para fins de responsabilização por eventuais condutas ilegais.