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CRIMES VIRTUAIS: UM NOVO MUNDO DE CRIMINALIDADES REAIS Artigo diz respeito

ao mundo "virtual", alguns de seus crimes e como punir seus autores.

Texto enviado ao JurisWay em 18/8/2008.

Indique aos amigos


Quando falamos em crimes virtuais automaticamente os associamos à internet, um
mundo sem fronteiras que permite que determinados indivíduos ajam pensando que estão
em um mundo diferente do mundo real, assim utopicamente quando estamos conectados
à internet deixamos de ser cidadãos de nossas cidades, de nossos países, enfim, para
um mundo distante das responsabilidades sociais e jurídicas.

Todavia, a realidade é que os atos que praticamos quando estamos conectados ao


estonteante mundo virtual não nos isenta de sanções previstas no mundo jurídico, uma
vez que são as possibilidades de sanções que garantem a eficácia do direito (NADER,
2004; DOWER, 2005).

Muito embora alguns, ainda, acreditem que muitos atos praticados naquela esfera não
sejam passíveis de punição pela lei, o contrário é uma realidade, vários atos ali praticados
já foram qualificados como atos ilícitos e contrários a leis escritas, ou contrárias aos bons
costumes e ao campo ético ou moral. Alguns deles inclusive, já tendo encontrado guarida
perante aos nossos tribunais.

A título de mero exemplo, poderíamos citar: o furto de uma determinada importância de


uma conta bancária efetuado pelas vias do mundo virtual, seria desqualificado como tal
somente pela peculiaridade das vias eleitas para a prática do ato? ...seria furto ou roubo?
Sob as cortinas do direito penal roubar é: subtrair (coisa alheia móvel) para si ou para
outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistir, Art. 157 do CP, nos parece que no
caso em tela ocorreu as circunstâncias constantes no artigo, mas com certeza opiniões se
destoariam no tocante à: mediante grave ameaça ou violência à pessoa. Certo que o
elemento “grave ameaça”, não fez parte deste palco maquiavélico, mas, se levarmos em
conta a violência que no caso em discussão, sequer se deu a mínima chance de defesa
ao ofendido... então, o requisito violência se faz presente... principalmente se levarmos
em conta a significância que o termo carrega em si: violência = constrangimento físico ou
moral.

Se pensarmos em furto, e na sua significação: subtração, para si ou para outrem, de coisa


alheia móvel, Art. 155 do CP, a reflexão da conotação jurídica se esvairia a anos luz, mas,
a suma é: a subtração de importância alheia aconteceu, e não poderia de forma
nenhuma, o mundo jurídico se furtar a uma adequação para punição correspondente,
somente por se levar em consideração os meios pelos quais se efetivou a prática
antijurídica... a internet. Recentemente, para dirimir dúvidas, há uma decisão do STJ que
diz: “fraude eletrônica na internet com transferência de valores mantidos em conta
corrente sob a guarda de instituições bancárias caracteriza furto qualificado”. (CC
86421/PR - DJ 20.08.2007 p. 237).

O que algumas pessoas não perceberam ainda, é que a internet nada mais é do que um
meio de comunicação, faz tanto sentido dizer que se está na internet como dizer que se
está no telefone, ou estelionato pelo telefone nos casos de falsos seqüestros também
precisam de legislação própria? O que, na nossa visão deve e precisa ser levado em
conta é o ilícito penal, e não por que meios se efetivou o ilícito, ou seja, o estelionato não
deixa sua natureza jurídica apenas por que foi praticado no mundo virtual, o estelionato
continua sendo o ato de obter, para si ou para outrem, vantagem patrimonial ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo em erro alguém mediante artifício, ardil ou
qualquer outro meio fraudulento. A nosso ver crimes são crimes independentemente do
meio utilizado para que tal ato seja realizado, o que temos a analisar é o fato de na
internet haver condutas que não são praticadas fora dela, e são nesses casos de que
precisamos de legislação própria, pois por razões especificas do código penal o que não
estiver definido na lei como sendo criminoso não pode ser punido como tal, Art. 1º do CP,
pois, de outra forma estaria à longa manus do direito na pessoa do estado se tardando e
até se furtando em perceber as mudanças da sua época e do seu povo, deixando seu
efetivo papel de punir com vistas à efetivação do direito mesmo diante da resistência dos
seus jurisdicionados.

O crime virtual mais comum é o furto de identidade, no qual pessoas mal intencionadas se
apropriam de informações da vítima para que possam fazer compras em sites de
comércio eletrônico ou realizar transferências de valores. Comparando-se com fatos
corriqueiros do nosso dia-a-dia é o mesmo que se apossar de um cartão de credito ou de
débito e começar a fazer compras ou sacar dinheiro em caixas automáticos, a diferença
está no fato de que, em rede, seus agentes, não necessitem do cartão físico, apenas do
seu número e outros dados específicos.

Segundo o IPDI (Instituto de Peritos em Tecnologias Digitais e Telecomunicações),


pessoas que utilizam a informática para se apossar de identidades podem responder por
estelionato, furto mediante fraude, interceptação de dados, quebra de sigilo bancário e
formação de quadrilha. Citaríamos, sem dificuldades, vários outros crimes virtuais, a
exemplo a pedofilia, violação de direitos autorais, calúnia e difamação, discriminação,
ameaças, espionagem industrial, dentre várias outras. Percebe-se que a esses atos
ilícitos, a punição tem vindo sem detrimento da sua instrumentalização, ou seja, pouco
importando se em rede ou não, o que nos leva a crer que se em rede, a pena deveria ser
acentuada, dada à facilidade de pulverização da atitude ilícita e disseminação de vítimas,
e ainda da apologia intrínseca ao ilícito penal.

Em conformidade com o Cert.br (Centro de Estudos, Respostas e Tratamentos de


Incidentes de Segurança no Brasil), braço do comitê gestor da internet no Brasil, na
grande maioria dos casos é possível adaptar-se à legislação antiga, a exemplo, a calúnia
pode ser praticada tanto em um jornal quanto na internet, é o mesmo crime, muda-se
apenas o meio de sua efetivação potencializando a sua comunicação. O Cert.br prefere
ainda o termo “crimes informáticos” a “crimes virtuais”, uma vez que na maioria dos casos
a tecnologia foi usada apenas como ferramenta para a prática do delito.

Seguindo a mesma opinião está Demi Getschko, conselheiro do comitê gestor de internet,
quando fala que uma legislação especifica para a internet se faz desnecessária. A internet
é muito dinâmica, o que facilmente tornaria as leis especificas obsoletas em um curto
espaço de tempo. O que temos que analisar são as atitudes praticadas na rede, por
exemplo, no caso de uma difusão de vírus, a tipificação se justifica, uma vez que esse é
um crime restrito a rede, já para os outros crimes deve ser aplicada a legislação vigente.

O que não pode ser feito é tentar se criar uma lei abusiva, na qual as pessoas sejam
obrigadas a se identificar para utilizar a rede, fazer isso significa abrir precedente alhures
para que se altere a legislação atual, teríamos que, por exemplo, ter essa mesma conduta
quando uma pessoa vai ao correio postar uma carta ou então utilizar um telefone público,
atualmente não se exige identificação nenhuma nesses procedimentos e o que não
impede a eleição destas vias para prática de atos ilícitos.

Diante desses fatos levanta-se a questão, será que existe mesmo um mundo virtual, ou
seria este apenas uma tecnologia capaz de facilitar a vida das pessoas. Até o momento o
único mundo virtual que se tem conhecimento é o “Second Life”, em que as pessoas
criam um personagem (avatar) e vivem realmente uma segunda vida, mas querer criar
uma legislação apartada para esse mundo é, no mínimo, insano, oras, crimes virtuais são
virtuais, não existem realmente, e neste caso podemos perceber o porquê do Cert.br
preferir o termo “crime informático”. O que tem a nossa concordância, pois, o termo virtual
não pode ser visto como algo irreal, sendo que atrás das teclas, seu agente com o
elemento da vontade de praticar a ação... é real!

O que precisa ser feito é desmitificar a internet, temos que a ver como um recurso
tecnológico, um meio de comunicação moderno, que pode ser utilizado de forma legal ou
ilegal, assim como todos os outros meios. Existe hoje a certificação digital ou identidade
digital que pode ser adquirida por qualquer cidadão, empresa ou entidade, diretamente de
uma das autoridades certificadoras (AC) que fazem parte da Infra-estrutura de Chaves
Públicas Brasileiras (ICP-Brasil).

A aquisição dessa identidade digital já trará grandes benefícios à rede mundial, pois será
possível verificar se, por exemplo, o e-mail que você recebeu veio realmente da pessoa
que está anunciada como o emissor.

Hoje já temos alguma informatização no judiciário, o TCU (Tribunal De Contas da União)


já estuda a implantação da certificação digital e o sistema da universidade para todos
(ProUni) está totalmente desmaterializado, sendo sua documentação toda assinada
digitalmente.
A suma é: os crimes virtuais ou crimes informáticos podem e devem ser punidos
aplicando para tanto e utilizando a legislação atual, sendo desnecessário uma legislação
específica, pois o ato ilícito não perde a sua natureza jurídica apenas pela forma da sua
instrumentalização. O que precisa ser feito, e com urgência, é criar mecanismos seguros
onde esses crimes sejam minimizados, tecnologias que tornem as pessoas mais seguras
e começar a tratar a internet como um meio de comunicação, e não como um “novo
mundo” fora das realidades humanas.

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS

CARPANEZ, J. Conheça os crimes virtuais mais comuns


Folha Online – Informática, Disponível em
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u19455.shtml) Acesso em 11 Ago.
2007.

Jurisprudência/STJ,
Disponível em (http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?
livre=furto+internet&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1). Acesso em 29 Ago. 2007.

CARPANEZ, J. Legislação tradicional - “julga” crimes de internet.


Folha Online. Disponível em
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u19453.shtml). Acesso em 11 Ago.
2007.
DOWER, N.G.B. Instituições de direito privado. São Paulo: Saraiva, 2006.

NADER, P. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 2004.

TERRA, Redação. Projeto pretende controlar livre acesso à Internet.


Terra Notícias.
Disponível em (http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1231864-EI306,00.html).
Acesso em 11 Ago. 2007.

Aluno: Carlos Crepaldi Jr.


Orientadora: Prof. Ms. Rosangela Paiva Spagnol
FB – Faculdade Barretos

http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=785

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