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Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas

Disciplina: ECO143 – Economia Política


Felipe Petri Correa da Silva 16.2.3750

A concentração de riquezas no sistema capitalista tem sua origem nas corporações de ofício,
a principio essas organizações ensinam profissões urbanas e mercantis em oposição ao campesinato
medieval ainda no século XII. Esse movimento cultural no mediterrâneo é a gênese do sistema de
crédito, de banco e posteriormente ao uso da terra como meio de produção. Tal dinâmica caracteriza
o acumulo primitivo de capital; conceito estabelecido por Marx como ponto de partida para a
divisão da sociedade moderna em classes. Os descendentes dos primeiros acumuladores, possuem
ou tem acesso facilitado aos meios de produção, uma vez com essas ferramentas, a disparidade
entre classes tende a se agravar e acelerar, gerando a polarização do acumulo de riqueza.
“O ponto de partida do desenvolvimento que deu origem tanto ao trabalhador assalariado
como ao capitalista foi a subjugação do trabalhador. O estágio seguinte consistiu numa mudança de
forma dessa subjugação, na transformação da exploração feudal em exploração capitalista. Para
compreendermos sua marcha, não precisamos remontar a um passado tão remoto. Embora os
primórdios da produção capitalista já se nos apresentem esporadicamente, nos séculos XIV e XV,
em algumas cidades do Mediterrâneo, a era capitalista só tem início no século XVI. Nos lugares
onde ela surge, a supressão da servidão já está há muito consumada, e o aspecto mais brilhante da
Idade Média, a existência de cidades soberanas, há muito já empalideceu.” (O Capital p.515, Cap
XXIV, Ed. Boitempo)
No limiar das revoluções burguesas na Europa (séc XVIII) ocorre uma migração em massa
dos camponeses para as cidades devido ao reflexo das crises feudais, o fato é que a oferta de
emprego nas cidades é muito maior nesse período, porém a remuneração relativa ao poder de
compra desse novo proletariado é menor, pois o custo de vida nas urbes é bastante alto. Acrescido a
isso, a aglomeração de pessoas em espaços pequenos diminui a qualidade de vida ainda mais. O
resultado é uma precarização do trabalho. Vemos descrito aqui dois processos importante para
compreender O Capital como obra de seu tempo. Primeiro, o proletário não tem possibilidade de
guardar reservas que seriam importantes em uma futura obtenção dos meios de produção,
investimentos em mercado financeiro ou mesmo industrial está reservado ao topo da piramide
produtiva, ligado a isso o aumento da quantidade de funcionários eleva a concentração de riquezas
através do mais-valor coletivo, a soma do mais-valor de todos os proletários de uma empresa
aumenta a margem de lucro do capitalista. Ocorre um sistema de castas, no qual o proletário não há
nada a oferecer, a não ser sua força de trabalho (tempo) e seus filhos como futuros proletários, por
sua vez os capitalistas podem manejar o mais-valor investindo em produtividade: maquinaria,
treinamento, ou mesmo usando o desemprego como precarização do trabalho, diminuindo salários,
e aumentando o mais-valor ainda mais. É bastante interessante o fato de que o capitalista não pode
deixar de reinvestir parte do seu lucro em mais produtividade, pois de forma alienante também faz
parte deste ciclo vicioso. O proletário não tem valor na forma dinheiro para investir em
produtividade, o capitalista não tem escolha em não investir parte do mais-valor alienado em mais
produtividade.
“Da consideração da produção do mais-valor que realizamos até agora resulta que nem toda
quantia de dinheiro ou valor pode ser convertida em capital, pois, para isso, pressupõe-se, antes, um
determinado mínimo de dinheiro ou de valor de troca nas mãos do possuidor individual de dinheiro
ou mercadorias. O mínimo de capital variável é o preço de custo de uma força de trabalho
individual, que, para a obtenção de mais-valor, é consumida dia a dia, durante o ano inteiro. Se esse
trabalhador possuísse seu próprio meio de produção e se contentasse em viver como trabalhador,
bastar-lhe-ia o tempo de trabalho necessário para a reprodução de seus meios de subsistência,
digamos, 8 horas por dia.” (O Capital p.262, Cap IX, Ed. Boitempo)
A transmissão de valor do proletario para o capitalismo se dá através do trabalho. Trabalho é
uma mercadoria, assim como dinheiro e bens de consumo, ou mesmo os meio de produção, têm um
valor de troca, o elemento que caracteriza o valor-trabalho é o tempo. A quantidade de tempo gasto
por um trabalhador médio na produção de uma quantidade estipulada de mercadorias é o valor
desse trabalho, supostamente o trabalhador deve receber em valor moeda (dinheiro) sua parte
equivalente nesta troca, no entando, como podemos observar na obra marxista, o lucro se dá pelo
excedente de trabalho, ou seja, tempo de trabalho não pago. Um exemplo emblemático desse efeito
é o fordismo, ou segunda revolução industrial, uma vez que um trabalhador só realiza parte da
produção de diversos produtos em uma linha de série. Não vê sua força de trabalho representada no
objeto final, realizada a venda, o objeto se torna então mercadoria e o mais-valor se concretiza. É
impossível para o proletário compreender de forma instintiva, a alienação de seu trabalho, pois
muitas etapas ocorrem entre o investimento de seu tempo (venda da sua força de trabalho) e a venda
da mercadoria (realização do mais-valor em si).
“Na produção capitalista, portanto, economia do trabalho por meio do desenvolvimento de
sua força produtiva não visa em absoluto a redução da jornada de trabalho. Seu objetivo é apenas a
redução do tempo de trabalho necessário para a produção de determinada quantidade de
mercadorias. Que o trabalhador, com o aumento da força produtiva de seu trabalho, produza em 1
hora, digamos, 10 vezes mais mercadorias do que antes, e, consequentemente, precise de 10 vezes
menos tempo de trabalho para cada artigo, não o impede em absoluto de trabalhar as mesmas 12
horas de antes, tampouco de produzir, nessas 12 horas, 1.200 artigos em vez de 120. Mais ainda, sua
jornada de trabalho pode ser prolongada, ao mesmo tempo, de modo que ele passe a produzir 1.400
artigos em 14 horas etc.” (O Capital p.272, Cap X, Ed. Boitempo)
Após analisarmos esse processo local da dinâmica do valor-trabalho com a mercadoria-
dinheiro podemos extrapolar esse conceito para descrever o acumulo de riqueza pela parte
capitalista. Em uma ponta a massa de desempregados que não pode ser absorvida pela sociedade é
usada como ameaça, Marx chama esse efeito de : exercito industrial de reserva, esse elemento se
faz como um escudo protetor da precarização do trabalho, por consequência aumento do mais-valor,
em outra esfera, o capitalista mesmo ao perder margem de lucro, não perde Capital, sendo que, pode
transferir o menor mais-valor precarizando ainda mais o proletário, sempre se faz necessário
reinvestir capital, apenas parte do seu lucro pode ser consumido, e não há possibilidade de estanque
de crescimento, de forma que o sistema econômico capitalista não funciona com estagnação de
capital. Na contra parte, o proletaŕio não tem a possibilidade de sair de sua condição pois usa todo o
seu valor-trabalho vendido para sua própria subsistência, impossibilitado de se tornar também um
capitalista.
“Se a quantidade de trabalho não pago fornecida pela classe trabalhadora e acumulada pela
classe capitalista cresce com rapidez suficiente de modo a permitir sua transformação em capital
com apenas um acréscimo extraordinário de trabalho pago, o salário aumenta e, mantendo-se
constante as demais circunstâncias, o trabalho não pago diminui proporcionalmente. Mas tão logo
essa redução atinja o ponto em que o mais-trabalho, que alimenta o capital, já não é mais oferecido
na quantidade normal, ocorre uma reação: uma parte menor da renda é capitalizada, a acumulação
desacelera e o movimento ascensional do salário recebe um contragolpe. O aumento do preço do
trabalho é confinado, portanto, dentro dos limites que não só deixam intactos os fundamentos do
sistema capitalista, mas asseguram sua reprodução em escala cada vez maior.” (O Capital p.453,
Cap XXIII, Ed. Boitempo)
Esse mecanismo descrito polariza a riqueza, concentrando-a nas mãos de poucos
capitalistas, em momentos de fartura e aceleração economica os países centrais do capitalsimo, e
tambem alguns periféricos podem negociar uma melhora de vida, em uma política social-
democrata, ou mesmo social liberal, porem, nas crises a luta de classes se acirra pois as
contradições do capitalismo se tornam mais claras. O mundo contemporaneo foi moldado pelas
revoluções burguesas, liberdade foi a palavra em muitos movimentos da terceira modernidade, mas
não há liberdade na exploração. Não existe forma de corrigir as distorções criadas pelo próprio
sistema, tornando o capitalismo um sistema frágil e instável, com crises cada vez mais frequentes e
agudas.

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