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ESTADO DEMOCRÁTICO
andersongm94@hotmail.com
gibrs@uol.com.br
Resumo
Este artigo tem como objetivo esclarecer os pontos de vista a respeito do período
final do regime militar brasileiro, onde existe um maior debate sobre a influência,
vigilância e atuação do estado ditatorial até o saída para a redemocratização oficial em
1988, com a promulgação da 7º Constituição federal no Brasil. O principal período de
análise neste artigo é entre 1979 e 1988. Para isso, vamos analisar textos e teorias de
historiadores contemporâneos acerca das posições controversas de como se deu o
retorno à democracia depois de mais de duas décadas sob um regime militar.
Abstract
This article has the objective to enlighten the viewpoints about the period final
of brazilian military regime, where there is a major debate about the influence, the
surveillance and acting of the dictatorial state until the exit to the official
redemocratization in 1988, with the promulgation of 7º Brazil Federal Constitution. The
main period of analysis in this article is between 1979 e 1988. Thus, we will analyze
texts and theories of contemporaries historians about the controversial positions how
had been the return to democracy after more of decades under a militar regime.
Para Arendt é necessário que certas etapas sejam seguidas para que se tenha um
regime totalitário, e conforme visto na descrição dela, a ditadura militar brasileira não se
enquadraria nestas etapas, visto que algumas estruturas existiram enquanto o regime já
estava implantado.
Daniel Aarão, em outras palavras, explica que nós tínhamos, naquele momento,
saídos de um regime ditatorial, mas não tínhamos entrado num regime democrático. A
Constituição, que normalmente era o marco da redemocratização, só viria em 1988.
Durante nove anos ficamos num período, no qual ele chama de “transição democrática”.
Essa transição, segundo Reis Filho, não estava claro no período anulação dos dezenove
atos institucionais. Tanto é que havia o medo e o risco de a linha dura voltar ao poder e
reiniciar o período mais sombrio do regime. Reis também crítica a ideia de que o regime
militar teria acabado em 1985. Para ele, o isso seria apenas colocar sobre os holofotes
da história os militares, deixando de lado os civis presentes nas entranhas do regime.
Seria criar, nas palavras dele, um “bode expiatório” para falar dos anos de chumbo.
Claro que nessa discussão também entra a questão do caráter da ditadura. Se ela foi
apenas militar ou cívil/militar.
A outra censura que Fico (2004, p-88) aborda e comenta em seu livro é a
censura das diversões públicas. Essa censura era de caráter mais moral do que
propriamente política, mas Fico diz:
É esse segundo tipo de censura que Fico mais se atêm, por considerar uma
censura não muito analisada pela historiografia. Ela surgiu nos anos 40, durante o
Estado Novo Varguista, e permanecerei até o regime militar, onde seria intensificada.
Agora era uma questão de tempo. O golpe final veio com a constituição de 1988.
Cinco meses antes de sua promulgação, praticamente, a Censura Federal já tinham
encerrado suas atividades.
Este artigo não pretende se ater a origem da polícia no Brasil, mas o interessante
é ver que tais permanências, como diria Marc Bloch, ainda existem na sociedade
brasileira. Se em momentos de paz e a exclusão social houve de forma clara, num
regime de exceção, essas atribuições e arbitrariedades da polícia seriam ampliadas para
que o braço espião e investigativo pudesse estar em todos os lugares. Sobre este soldado
irei citar a forma de produção descrita por Foucault, na qual ele diz que o soldado, a
partir do séc. XVIII se torna algo que se fabrica de uma massa informe, desenvolve o
automatismo dos hábitos. Foucault chama isso de corpo dócil, capaz de ser manipulado
na criação de maquinas que farão comandos sem questionar o porquê de fazer tais
ações.
Trazendo para mais perto do contexto brasileiro, nós tivemos no Brasil, durante
o período de Figueiredo um abrandamento das ações e formas de repressões existentes
no Brasil. E isso não se deu por vontade dos militares. Na verdade, era inevitável que a
ditadura perdurasse por muito mais tempo além do que já tinha existido. Tal
abrandamento já tinha começado com o governo de Geisel. Ele tinha, em seu último ano
de governo, revogado o banimento de quase todos os exilados políticos, exceto Leonel
Brizola e Luiz Carlos Prestes. Com o fim dos atos institucionais, essa abertura estava se
aproximando. Mas como já dito, esse abrandamento já era planejado. Em conversa com
os ministros em 1974, ele decidiu por uma abertura descrita por ele como “lenta,
gradual e segura”. A ideia era a institucionalização do regime entendida como
“incorporação, na constituição, da possibilidade de aplicação de medidas repressivas e
uma indicação de que a imaginação política criadora teria de dar forma a esse propósito
contraditório, o de constitucionalizar atos excepcionais” (FICO, 2015, p-94).
Com a abertura iminente, houve a ideia de que muitos policiais passaram a rever
o comportamento que tiveram ou que seus antecessores tiveram a frente do DOPS, SNI,
DOI-CODI e DIP. O pensamento moldado no período de grande terror entre os
governos de Costa e Silva e Ernesto Geisel, agora se tornava algo passivo de reflexão.
Na verdade, esse foi um discurso feito por Geisel para tentar manter o regime o mais
longo possível, dizendo que apenas aconteceram alguns excessos por partes de alguns
soldados ou praças e que agora estavam sob investigação:
De fato, muitos dos atos feitos pelos militares no final do regime foram apenas
para postergar o final do regime e a saída para a democracia. Outro exemplo claro disso
está no medo dos militares numa possibilidade de ter um governo mais de esquerda,
ainda remontando o medo do comunismo. As eleições indiretas para a escolha de
Tancredo Neves pelo Colégio Militar denotam essa preocupação de escolher um
presidente mais moderado, do antigo PSD. Este plano de transição foi pensado antes
mesmo do governo de Figueiredo começar.
Mas o maior medo dos militares foi de uma futura apuração de violação dos
direitos humanos após a passagem do poder para os civis. A Lei da Anistia foi criada
para imunizar os militares que cometeram barbáries durante o regime sobre o argumento
que os guerrilheiros e manifestantes também cometeram atos criminosos e que com o
perdão das ações dos grupos de oposição, os militares também deveriam ser perdoados.
A anistia, no final das contas, não foi “ampla, geral e irrestrita”, mas ao contrário,
permitiu a perdão de torturadores.
1
Trecho tirado do projeto e do Livro Brasil Nunca Mais, organizado pela Arquidiocese de São Paulo,
tendo sua conclusão em Março de 1985.
pesquisas existem acerca deste tema, mas um debate muito intenso é feito sobre eles
sempre aceitarem as ordens e seus “corpos dóceis” foram sempre manipulados por
hierarquias acima deles. Assim, como no início do golpe, João Goulart acreditava ter o
aparelho de defesa com militares que ele julgava ser sempre fiel a sua pessoa, mas
muitos militares se recusaram, anos depois, de cometer atentados aos direitos humanos.
É certo, que muitos militares foram contra o regime, mas até onde isso vai e de onde
isso veio? Perguntas que a historiografia não se debruçou muito para responder e cabe
uma ampla pesquisa.
Sobre os resquícios desta polícia, nós podemos ver, na atualidade, que elas ainda
estão no comportamento social da instituição nas ruas do país. Policiais produzidos em
massa que não tem um bom preparo físico, ético e psicológico. Desta forma, a polícia
ainda é militar, repressiva e pró-ativa, agindo antes das ações acontecerem com medo de
que atividades “suspeitas” possam lesar a sociedade, ou melhor, a ordem pública.
Voltando a base da polícia, ela sempre procura um inimigo para vigiar. No Império
foram os escravos, nas ditaduras foram os comunistas “subversivos”, atualmente o
negro e o pobre que não podem frequentar determinados lugares. Permanências de um
Estado controlado pelo Exército. Reis (2014, p-170) fala do Exército como um Estado
dentro do Estado:
Isso não significa que melhorias não aconteceram, mas o caminho ainda é longo
para termos uma polícia mais reativa e não pró-ativa como comumente vemos na
sociedade.
Considerações Finais
Referências
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
825p.
ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil: nunca mais. 41º ed. Petrópolis: Vozes,
2014. 312p.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42º ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2014. 303p.