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capiruLo vi A inteligéncia 1. A percepeio das relacies uando se consultam, s6bre a questo da inteligénciaycertas obray lan encontama nls dss cass de don bastante dispares. Do’ ponto de vista tedrico, estamos em presenga de tum capitulo que parece extraido de um tratado de ldgica, € que no tem ligagio direta com os capitulos sobre a percepcio, sobre a memiéria, etc. Os conceitos e os problemas mudaram; parece Que se aborda um problema absolutamente névo, e numa linguagem nova, Do ponto de vista pritico, a obra oferece uma contribuicio experimental, sob forma de’ testes destinados a fo dos nivels e das aptiddes, provas freqiientemente enge Inhosas, mas escolhidas a0 acaso, sem principio diretor, sem 1e- laglo bem definida com a parte tedrica désse estudo, Essa descontinuidade entre o capitulo sobre a inteligéncia 05 outros no é acidental; € imposta pela anilise associacio- nista que s6 conhece, entre os fatos psiquicos, relagdes extrin. secas € prepara mal para o estudo do pensamento logico; mito resta senio 0 recurso de declarar irredutiveis as duas ordens de fatos. © arbitririo, na escolha dos testes, provém igualmente de que nfo se possuem nogbes teoricas verdadeiramente aph civeis a ése problema, porque a légica qual se tomam esas hnogGes estuda um ideal e nfo um fato, assenia regras do pensie ‘mento, em ver de estudar-lhe as condigoes. Uma distingio na psicologia, importada da logica ¢ da tcoria do conhecimento, & a das relagdes e dos térmos, Um onto de vista simplista muito difundido faz da fungio inte Tectual 0 pensamento das relagées. Os termos originals, futuros @ quando 0 ar consceutivas. Mas, em que consistia ésse @ A inteligéncia Wl @ materiais intelectus “ , seriam percebidos, “dados’, mas nfo suas Telagées._ Estas serfam “apercebidas” pela inteligencia que tra batha com esses dads.) Amide acrescentase que esta funclo @ puramente humana, enquanto o pensamento. animal (ca ‘séies 0 pesisamento human nos estos de menor tens) seri ‘ tonstituldo pela jistaposiglo de_puros “contetdes”, imagens tou petcepgtes, sem que sejam_pensadas relagBes entre exes conteidos 2 indi] indstr sbbre a impossbilidade, do ponto de vista igestaltista, de um pensamento assim constituido. Nio hi ma- ferias emu forma, mas sbmente organizacBes mais ow menos primitivas: | A categoria Topica das relaghes fo corresponde (Bm nh pict. No se’ podem por tis ae velacin ae ay pice mena ahd ss “eal Cate lagies primitives ado’ perecbtday, enqoanto sens times, to ads absolutamente, nfo foram dissoclados e nao ttm realidade te Komeen 2) com a Podese treinar animais a se comportarem diferentemenie, frente a dois objetos que no se distinguem senio por um tinico cardter; basta que a Yeagio frente a0 primeiro objeto seja sem: pre recompensada, ¢ que a reacio a0 segundo jamais o seja. Koutrr treinou simios e galinhas a reagirem a um cinza-claro © a nfo reagirem a um cinza-eecuro; naturalmente foram to das tOdas as precaugdes de costume, para que essa diferenc de cbr f6sse 0 iinico eritério utilizivel. Os macacos tinham de cscolher uma de duas caixas idénticas que levavam, sobre seu tado para o animal, um papel retangular cinza-claro ow lado @ Ginzaescuro, (As galinhas bicavam gr‘ios colocados sObre papéis désses mesmos cinzas.) O adestramento foi considerado perleito al nfo cometeu nenhum érro em dex escolhas lestramento, do ponto de vista psicoldgico ? Podiamse fazer dus hipsteses: 18) Ou bem a tinta cinza-claro Gy, empregada nesses expe- rimentos, tinha tomado um valor positive, © a tinta cinza- escuro G, um valor negative; cada uma das reagdes do animal pegar ou nao pegar — correspondia separadamente a uma qualidade absoluta; 2.8) Ou bem o animal reagia a certa relagao das duas tintas, 4 uma certa oposigio de claridades; escolhia a mais clara das fo 12 Psicologia da forma duas tintas apresentadas, independentemente das qualidades absolutas de Gy € Gs. © experimento podia decidir entre essas duas hipéteses, Nas provas criticas, consecutivas 20 adestramento, uma das caixas levava 0 papel cinzaclaro Gy, 2 outra um papel Gy ainda mais claro e completamente novo para os animais. Se a primeira hipbtese fosse verdadeira, deveriam continuar a reagir positivamente a Gy, como anteriormente, Se a segunda hipdtese ins a fosse verdadeira, deveriam, a0 contririo, escolher Gy que, em- bora névo, era, no par GG» “o mais claro” dos dois cinzas, € desprezar Gy, que tinham até entdo escolhido pela mesma razio. De fato, a preponderincia das escolhas é sempre claramente a favor desta segunda hipétese; € verificada em 20 provas contra 2 em 19 contra 1, para o macaco, em duas diferentes formas d Portanto, 0 teinamento nio tinha tornado res. ppectivamente positiva € megativa duas qualidades absolutas} tinha criado uma tendéncia a escolher de acdrdo com a fungiok que a cor preenchia no par; o habito respondia a uma forma transportével, independente dos valores absolutos das céres que tinham servido 20 treinamento, Gabers dizer que, nessa situacio, os animais s6 podem perceber contrastes, relagdes ¢ no qualidades absolutas? ‘Nio. K6uxR mostrou que 0 macaco pode ser treinado a reagir as céres absolutas, outros psicélogos indicaram métodos de teinamento favoriveis a um ou a outro resultado, Mas a reagio i relagio das tintas é mais facil de constituir que a reagio as tintas absolutas; é também mais estavel na meméria. ‘Tratase de dois modos de organizacio da percep¢io; porém € digno de nota que o mais primitivo é, neste caso, precisamente aquéle que uma psicologia nutrida de Igica considerava como resul- tando de uma complicagio do outro, pela intervencio de uma faculdade superior. 0 caso de uma ielagio de dvi nfo tam vada de (BL excepcional. Um segundo exemplo é ainda mais instrutivo. Koutrr treinou macacos a distinguirem duas caixas, cujas di ‘mensbes respectivas eram 9X 12 ¢ 12 X 16, e a escolher cons tantemente a segunda. Nos experimentos eriticos propovihes a escolha entre duas caixas de 12X16 © de 15 X 20, O pro- blema é andlogo ao precedente, mas tata-se aqui de uma relagko geométrica. O macaco aprende ficilmente a escolher a maior das duas caixas, independentemente dos seus tamanhos abso- inteligéncia i duas so novas para Ele, escolhe de “maior do que”, /e niio a que tem ha 14 30 uum certo tamanho absol absoluto.) escolhas segundo a estrutura, contra 2 € 0 segundo o tamanho ae. Podemse, sem diivida, propor aqui questées de termino- logia, ‘Teme o ditcito de reservar a expressio de percepcio de tuma relaglo para o caso em que os térmos, assim como a relaclo, tém uma existéncia psicoldgica, cm que séo pensados como obje- {os distintos eestavels, 20 mesmo tempo que se pensa sua relacto, Nio ha pensamento de relacio, dirse-d, enquanto na unidade indivisa da percepeio ésses térmos no tenham adquirido tam ‘bém sua identidade e sua independéncia. O pensamento da re lago supée, simultineamente, uma anilise © uma sintese. — Esas disting6es so muito legitimas, mas deixam intacto o resul- tado dos experimentos. Estes condenam, a nosso ver, a idléia de que a qualidade absoluta possuiria uma espécie de ante- rioridade psicolégica geral. Podese limitat, como se acaba de dizer, o sentido da expressio:Cpereepcio de relacio? mas entio ‘serd preciso outro nome para designar a organizacio que se ma- nifesta nos experiments de K6uLen. Podese distinguir, com le, a percepcao de uma relagio, que implica a existencia psi. coldgica prévia dot térmos isolados, e a de um (its ; talves se poderia tradusir essa palavra pelas palavras contraste[ eIeV0, fazendo-assignificar que uma opotigho transportivel se manifesta numa percepgio global, sem. que ot ‘lementos opostos existam ainda por si mesmos. “Tis “fungées estruturais” serio as vézes muito primitivas; modificagBes ulte es poderZo fazer aparecer nelas qualidadgqmyigmiutas e suas relagées !). (B justamente essa plasticidade iagio que caracteriza os niveis intelecluais superiores) de da onganizagio™ a(posibilidade de mu He vevelam novos obfetox €novas relagBex fda inteligencia, esta nfo se define pela 2 A invencao no animal ¢ na crianca Se-a faobil Rupees see io ape cost mm do inde- 1) to a rr feterminn, (omeoney ee", atamen de wpe cexistencia de tais e tais categorias, de tal ¢ tal tipo de pensa mento, mas pela adaptabilidade désse pensamento, pela possi- Dilidade de inventar e de resolver problemas, # necessirio que haja problema, ¢ nfo ha problema quando uma resposta instintiva ou habitual, quer dizer, uma adaptagio preexistente, basta para a satislagio dasnecessidades. Reciprocamente, Ind inteligeiiia con tecCadaitopio now ‘A teoria da Forma nega a adaptagio por selegio automatica de reagées fortuitas cegas, Essa critica, especialmente Koner (#) e em KorrRa(!?), recorda as critieas clissicas ‘idas 4 teoria da selegio darwiniana; nos dois casos a discussio tem por objeto menos a. possibilidade légica de uma tal adaptacio, que sua probabilidade; 2 questio é, sobretudo, Saber se, nos casos concretos que analisamos de perto (2), essa probabilidade nio ¢ tio fraca que 0 éxito se torne absoluta- inverossimil. A teoria da Forma, estabelecendo como principio que as reagies esto sempre ligadas de modo intrin. Seco as excitagies € tendem a resolucio de certas tensdes, submi- nistra, A nogio de selegio das variagbes acidentais, uma correcto {que se poderia comparar & que uma teoria como a ortogénese fray 4 tearia earwiniana de evolucio. U4 Psicologia da forma i oe ihe EET raf en i oe Sob a influéncia da teoria veinante dos “ensaios ¢ erros”) cempregouse, para as provas de inteligéncia, um material que ‘excluta, precisamente, tdda comprcensio verdadeira da situacko. Nas célebres jaulas de THoxxorxe, o abrir da porta dependia de Inccanisinos em grande parte ocultos, que o animal no podia por em agio a nao ser por acaso, no decorrer de movimentos Uesordenaos. ‘Um verdadeito test uma situagio intciramente inteligivel; se, nos tipos superiores de problemas, certos elementos podem ser substituidos pela me- ‘métia, nos tipos simples todos os elementos devem estar pre Sentes no campo atual de percepgio, de modo tal que seu con- junto possa ser abarcado com um 96 olhar. (A solucio sera ime- diata se resultar da organizagio espontines désse conjunto; poder comportar etapas, ow deterse numa dessas etapas, se Implicar modificagées da estrutura primitiva.) Em seus Tamosos experimentos com macacos superiores, _Kéuniex (*) caracterizon a inteligéncia pelo rodeio. )Uma grade 2) Yer, por cremplo, cm KoWn, 4 diewsto da soluglo do problema do bar (2 erie diagonal ‘pelo chimpancé, : aqui aparece ¢ uma intuigio (Binsicht), Es A inteligéncia 15 impede, por exemplo, o animal de ir diretamente a0 objeto que dlesej, tal como lio leva impulso instintivo, quer dizer, a orka- inizafto primitia de sua pereepaio.-Deverd contomar a grade c Gaia por se antar do objet Ge quer pegar, fase ato nso tem sentido se € encarado ioladamente; adquire sentido no to total do rodeio, do qual no 6 se ales clean Teorey. hizaglo. do. ato corresponde a. uma nova onganizacio di per. Cepqio do campo e day elagbes de situaglo do objeto, do sujeito Sea Um_ato_pode ser mais ou menos inteligente, Koren insist mas Choe lala que se apresentam, amide, como faes do progresso solucio definitiva. Querendo servirse de Leas « banco, e achandoa demasiado baixa, am chim: a obliquamente sobre uma de suas arestas. £ falta, jf que a caixa, em equilibrio instivel, ¢ imprép edade intrinseca do objeto, no problema, 0 comprimento de sua » diagonal, aparcceu claramente. Outro simio levanta a caixa, mantendo-a apertada contra 0 muro: ato absurdo, posto que 6 animal nao pode, nessa posicio, subir na caixa que so é man- Hida por seu esfOrco; ato inteligente, j4 que tende a reme- diar-a insuficiéncia de altura do instrumento. Outro, que- rendo servir-se de uma escada, aplica-a verticalmente contra 0 muro, como um objeto qualquer, como por exemplo uma caixa comprida © muito estreita; no percebe a estrutura especial désse insrumento, que permite darthe equilibrio estivel, apoiando-o contra 0 muro sbmente pela extremidade superior dos dois montantes; contudo, percebeu bem uma propriedade I do objeto, que o faz apto ao papel intermeditirio, ¢ soube fe sua dimensio maior. Em suma, nessas boas faltas, 0 animal divisa algumas pro- priedades do objeto em suas relagée, com alguns tragos do = problema; stia percepgio da situacio experimental é sumaria, grosseira, pouco diferenciada; alguns axpectos, essenciail problema, nao tomam wm relévo suliciente; 0 progresso cons tira em uma torganizagio da_percepciol (A inteligéncia q ‘outras palavras, no, hha uina percepsio “dada” de uma vez por todas, dos clementos de um problenia, © depois, consecutivas a essa percepcio, “ope- races intelectaais” pelas quais certas conseqiténcias_seriam tiradas désse dado, 0 qual seria suposto invaridvel do principio 146 Psicologia da forma a fim do trabalho de intuigio e de reflexio. A psicologia da invengio deve, portanto, descrever transformagSes orginicas da percepgio, para as quais a teoria da Forma criow conceitos segregacio, figura ¢ fundo, articulagio do campo, io figural, fungio de contro, de quadro, de cixo, de centro, etc. O estudo da percepeio pés em evidéncia algumas das condigdes objetivas e subjetivas dessas transformagées, Re- encontramolas aqui, mas submetidas 2 influéncia de vetores especiais provenientes do_problema, que impéem ao’ eammpo novos modos de articulacio, sa teoria nfo exclui, de modo algum, como o disseram ais vézes, fatdres como 0 acaso ou a experiéncia anterior. Ela _afirma, somente, por um lado, que ées fatdres no slo. neces- Sdrios, © por outxo que nao atuam_seno em virtude das Tels gerais de organizacio. Um acidente feliz s6 € um aux Seu alcance é compreendido. Os efeitos dos atos do ani podem instrut-lo, mas contribuindo a “estruturar” a percepcio; lum movimento acidental do instrumento para 0 objeto pode fazer aparecer no campo uma diregio, um caminho, O éxito © 0 fracasso nio agem por si mesmos, mas na medida em que re- velam ou sublinhtm um sspecio da'situagio, Ocorre o mesmo com a experiéneia anterior: uma recordagio inorginica nfo pode organizar uma situacio atual, ¢ 0 recutso a0 passado so faz recuar a dificuldade. Se a situacio antiga s6 ¢ eficaz com a condigéo de ter sido compreendida, 0 que na situagio atual se Ihe asemelha pode ser, também, compreendido diretamente, © interésse tedrico das provas de inteligéncia nos animais | superiores era atrair a atengio para problemas to simples que, para o homem, néles nZo existia problema aparente. Essa sim: \ jlicidade_pern infelectuais_para_o: ‘privilegiados. O mesmo interésse com criangas normais ¢ anormais, Gorrscsator (") repeti com quatro categorias de eriangas, normais, débeis, imbecis ¢ idiotas, experimentos completamente anilogos aos que tinham sido feitos com monos superiores e que constituem excelentes testes de retardamento. Porém, 0 principal mérito désse estudo reside na descricio qualitativa das diferencas entre normals € anotmais. No normal, a_atividade_consagrada_ao_problemia € ovginica, Nela podese distinguir uma série de etapas corres: ppontentes a transtormagées sucessivas do. problema, O experi- nnalisar mais claramente_os_primeiros_atos ulase aos experimentos is ésses experimentos constituem casos / A inteligéncia 7 mento, apresentado como jOgo, consiste, por exemplo, em cons- cruir uma t6re que deve elevarse a uma certa altura, com materiais de um Jgo de construgio (pecas oblongas, ‘das idénticas). A crianga normal comega por ensaiar solugdes sim: plistas, utilizando somente as propriedades mais rudimentares dos materiais; empilha.os deitados uns sobre os outros. Com 0 pequeno mimero de elementos disponiveis, a construgio fica demasiado baixa, Bsse fracasso faz ressaltar a diferenca entre as duas principais dimensdes das pecas e a ctianga pensa em far seu comprimento, construindo uma coluna vertical que atingiria rapidamente uma grande altura, mas que se mostra excessivamente instivel. Bsse ndvo fracasso faz ressaltar a insu ficiéneia da base: a crianga entio imagina construir um pér- tico composto de dois pilares afastados um do outro e supor- tando uma travessa que serviri de base ao andar seguinte, ¢ assim sucessivamente, Mas a instabilidade ainda persiste no sentido transversal ao plano do pértico, 0 que sugere cons. wuir cada andar sobre quatro pilares unidos por travessas. Vése como o problema se transforma ¢ como os fracassos, éles mesmos, contribuem para dar, & situagio percebida, sua nova estrutura. sujeite tem, alids, © sentimento désse_progresso: ‘0 objeto a construir ganha, subjetivamente, em realidade e em proximidade, Idéntico progresso no dinamismo aletivo que Tege 0 comportamento; a personalidade é progressivamente ‘empenhada no sroblema; sucessos ¢ fracassos sto sentidos como| aumentos ou diminuigdes do valor do eu; 0s fracassos podem conduzir a atos substitutives (Ersatz), que, aliis, dio somente uma satisfagio ainda incompleta. No anormal, o desenvolvimento da percepgio € da moti- vagio permanece bem mais rudimentar, No se encontra trans formagio progressiva do problema, nem ligio dos fracassos. A ‘rianga persevera, indefinidamente, nas formas de construgio inferiores ineficazes; estas nfo tardam a-perder sua significagio no problema e a repetigio do ato (empilhar pegas em monte) continua por si mesma; bastase e satislaz A crianga. No se trata de um ato substitaido, no mesmo sentido que acima, de uma pseudosolugio do verdadeiro problema, a qual suporia tum estado mental complexo, uma relagio sentida entre a ati- Vidade ¢ o problema sempre presente. Hi desorganizagio do campo instivel criado pelo problema; ruina dessa estrutura Aelicada, em proveito de formas mais estiveis e mais. primi Psicologia da forma is. Se 4 erianga é indieada a forma de construir s6bre quatro res, é as vézes, capa de imitar, mas em seguida recai nas formas de atividade mais grosseiras (simples amontoamento).A signilicagio do exemplo, no problema, nfo Tot apreendida ¢ 0 éxito momentneo nfo foi explorado. Para que haja selecio ‘de_variagies vantajosas, nfo basta que a_vantagem_exista, & necessario que seja compreendida, quer dizer, que sua percepcio se organize na do todo, com uma fungho delinida. 3. As formas superiores de invencao Os experimentos com animais ¢ com criangas no permi tiam, ainda, propor o problema da inteligéncia, em toda a sua extensio, Resta demonstrar, por experimentos no homem adulto e cultivado, que as nogdes trazidas pela teoria da Forma se aplicam aos alos intelectuais superiores, a0 raciocinio, & Wencio racional. Utilizaremos aqui um curto e sugestivo esbéco de Wexratimer e um trabalho experimental de DuN- ean, rico de fatos © de ide Werrieintex retoma, no problema do raciocinio, a eétebre controvérsia de Mixx. (!). Para o lgico inglés, 0 silogismo ser tautologia ou circulo vicioso; é necessirio que eu ja saiby que Sécrates é mortal, para ter o diteito de afirmar que todos {05 homens 0 sio. A ciitica de Mint. seria justa se, picoldgica- ‘mente, cada térmo conservasse sempre o mesmo valor. Ti pro- gresso do pensamento porque um térmo que aparece em dois juizos néles estd em relacio com um térmo diferente e preenche, nese todo, uma funcio diferente. Eu via o homem sob diferente aspecto quando pensava na mortalidade dos homens e quando pensova na humanidade de Sécrates. Tomo consciéncia de sua identidade, como descubro a presenga de wma figura em outta figura, O_progresso serd evidente: quando. &ses ay tenham sido pereebicos em momentos bem diferentes e sua identidade 36 se revelard mais tarde. Fago um experimento com um corpo caja composi¢éo me € desconhecida; aqueco-o, desprendese um gés amarelado, mais tarde aparece um gis ‘uulaclo, No fim do experimento, 0 gis amarclado esti acima do gis azulado, A constatacio relativa & superposigio dos dois {gases no Gpago apenas ocorren no final; € posterior & da sua A inteligéncia 149 ordem de aparigio. Quando.o gés amarelo apareceu, ew nada sabia da sua leveza; quando constato essa propriedade, posso ter perdido de vista a aparigio precoce désse gis. Quando coneluo que 0 gis que s¢ desprendeu primeiro ¢ 0 mais leve, hi pro- ‘gresso real do pensamento, 4 que a identidade do objeto per- Cebido sob dois aspectos diferentes se revela nesse momento, ‘Tomemos alguns exemplos matemiticos. Seja avaliar a superficie de um tiingulo retingulo isdsceles, cujo lado € a. Depois de ter procurado noutra diregio, percebo, de repente, nesse tridngulo, a metade de um quadrado; a superticie é, ento, a metamorfose da figura que constitu’ o raciocinio, — z Gontase a seguinte anedota, da infiincia do mateméticn Gauss. Freqiientava ainda a escola primaria; o professor, para exercitar sets alunos no efleulo mental, pergunta qual € somade 1+ 2-+3+4+5+6 4748 O jovem Gavss anuncia 0 resultado tio depressa que o mestre, espantado, interroga-o, O menino responde que tinha achado mais cbmodo agrupar os niimeros assim: 1 + 8 (=9), 2 + 7 (=9), 3+ 6 (=9), etc. Asoma vale 4 pares iguais a 9. Ti Iherto a regra da soma dos térmos de uma progr (0 essencial é, aqui, uma nova segregagio dos térmos da soma, luma nova organizacio psicolégica de um mesmo complexo objetivo. Se se recoloca 0 racicinio no curso real do_pensamento, hi, pois sempre tin progreso, Prem, nowos exemplos si0 edb espaces, Em alguns: a metamorfoe sujetiva do objeto du, se ne quiner a liga de suas propriedades, nfo € senfo um ditapie tho empleo” (o gas dexprendido em primelro lugar Fevelonae o mai lve): nos autres, os dos aspetton sf Tigaos por uma felagio necessinia, sua, identidade € inteligivel (0 ingulo retingulo isdsceley & necesriamegte, um semigua dada), Veltatemes a eon diferenga exec), 4 propdnivo da fmemévia de Duveren. Doxexre () aborda 0 problema por meio de experimentos. Propde, a pessoas adultas ¢ instruidas, diversos problemas pri- ‘0s € cientificos. Por exemplo: quer-se destruir, por meio de jos X, um tumor interno inoperdvel; como impedir a destrut jo «los tecidos sios, que circundam 0 tumor por todos os laclos? 108, desde logo, que a melhor solugio seria concentrar, 150 Psicologia da forma sobre 0 tumor, a radiagio de varias fontes de fraca intensidade, Ox de lados diferentes. Os sujeitos ou nfo encontram essa solugio, ou nfo chegam a ela senio depois de terem proposto outras, inoperantes ou mediocres. Como Tes foi pedido para “pensar em voz alta”, podese notar o desenvolvimento de suas reflexes € assistir & génese da solugio, DUNoKER reencontra, primeiramente, ¢ precisa os resultados obtidos por Sez ('") em suas investigacées actrca do pensa- mento produtivo, A descrigio associacionista: produgio exube- rante de associagOes em todos os sentidos, seguida de uma selecao eritica, corresponde mal_aos_fatos observados. No ha tatea- mentos completamente cegos, mas uma evolucio continua do problema; cada fase é solugio em relacio a precedente, pro- Dblema em relagio A seguinte. Os erros so (como as\ boas faltas dos macacos de KOuteR) solugbes parciais. O progreso vai, freqiientemente, do geral a0 especial (a idéia: nao lesar 05 tecidos sos faz-se concreta: abaixar a intensidade); o fracasso nessa diregio (j4 que os raios nfo teriam mais efeito sobre o tumor) faz voltar ao ponto de partida ¢ tomar outras divegbes (por exemplo, proteger os tecidos sios insensibilizando-os, des- Tocar a foiite de raion io que mio se trata, aqui, de “ensaios e eros" desordenados, Quer uma s6 direcio do pensamento conduza 4 meta, quer seja neces. sirio seguir diversas, o progreso do pensamento comporta, sei pre, as mesmas etapas: consciencia e delimitagio do conflito e de sua’ causa, determinacio funcional da solueio, realizacio_pré- ‘estudo empirico sobre a marcha do pensamento na invengio; queremos chegar 20 que, na sua interpretagio, pertence pro- priamente & Gestalttheorie Sexz teve 0 mérito de libertarse das descrighes associacio- nistas ¢ de dar um lugar is relacbes intrinsecas dos _pensa- ‘mentos sucessivos, Em esséncia diz que eventos adquiriram, em, ‘experiéndias anteriores, o cariter geral de eventos “conducentes’ ao efeito A". Quando se propde um problema em que &se efe ‘A deve ser obtido, a reprodugio désses eventos é possivel s6bre ‘a base do acordo entre a qualidade adquirida por éles e a qua- lidade exigida pelo problema, Um meio apresentase num problema atual porque jé foi experimentado numa circuns- tancia andloga, na qual adquiriu a qualidade de meio especitico, Essa teoria ulltapassa, de certo modo, a nocio clissica de asso- A 151 inteligéncia iacio por semethanca, porque a ligagio do semelhante ao seme. Thante se faz por intermédio de um conceit do carter geral comum. Mas nao explica, segundo Dunexrk, mais que 0 que podemos chamar de invencia por meio de(Fessondncia) Em suma, Setz descreve 0 que ocorre quando se prociira uma so lugfo jé feita na meméria, em que os fatos jé estao clasificados sob certas rubricas gerais. Os conceitos, de que se trata aq} pparecem todos ter por orige®t a puras correlagdes experi ‘de que fax Hw; 16da a funcio da inteligéncta parece ser a de notar €ssas correlagies, de generalizé-las, depois concretizi-tas novamente. Mas néo se trata ainda da invengio propriamente dita, Cumpritia explicar como algo pode adguirir a qualidade dle melo, nfo por uma experiéncia cega que sbmente demons ttaria que ésse meio teve éxito, mas por um processo intelectual que demonstre que fle deve ter éxito, Mas podemos fazer & tese de Seiz ainda uma segunda cri- tica. Dissemos, acima, que qualidades gerais de uma solugio podem preceder suas qualidades especiais; a invencio pode ir do esquema 2 imagem, do principio & sua realizagio pratica, Ocorre assim nos exercicios Iégicos que constituem os experi- mentos de SeLz (encontrar 0 nome do todo partindo do nome de uma parte, achar um género coordenado ou subordinado a um género dado, etc.) € que, num espirite cultivade, nio provocam seniio buscas metédicas nos quadros de uma classi- ficagio ja feita. Mas essa idéia no se aplica senfio em parte quando se trata de problemas verdadeiramente novos, A desco- berta do valor funcional do meio no problema continua ligada & representagio da situago; nao implica, de maneira geral, passagem por um conceito abstrato desprendido e desligado do problema concreto, Duvexer demonstrou-o em outro tra- balho (), propondo as mesmas pessoas diversos problemas cujo principio & o mesmo, com variagbes da situagio concreta, Assim, depois de ter feito resolver o problema dos raios X (¥. pig, ante rior), prope o seguinte: prevé-se que uma multidose vai rigir, no mesmo momento, a um ponto da cidade, pela rua que medicas cumpre tomar para evitar 0 congestiona ‘mento? Esses sujeitos resolveram ésse problema sem pensar no sua analogia sendo numa segunda re- atenglo para essa questo, O mo- inyengio é um fato de pensimento concreto; néle a dedugio ¢ insepardivel da intuicio (Einsicht). i 152 Psicologia da forma Para descrevéla cumpre recorrer 3s transformagdes estruturais que a Gestalttheorie estuda Para melhor compreender essa idea, dirijamo-nos primeira- mente a problemas cuja solucio seja puramente racional, como ¢m matemitica. Seja um niimero de tipo abeabe, por exemplo \ 5, 276.276, tal que a classe dos milhares seja igual 4 das unidades, ‘"Tratase de provar que é divisivel por 13. Nenhum dos sujeitos era matemético, e no pode encontrar a solugio sbzi tho; certos mods de auxilio mastraram-e elicazes, outros, nfo. A discussio pormenorizada dos easos particulares, ‘na. qual no podemos entrar, demonstra que a dificuldade consiste essen ialmente numa certa transformacio da nocio do niimero estu- dado, num descentramento que the di uma nova estrutura. A ‘lasse dos milhares, désse_niimero, esereveste como a das uni- -ades;mas vale mil vézes mais: abcabe convertese em abe X 1000 + abe, ou abe X 1001. ‘Quando 0 mimero se apresenta sob ése aspecto, pBsto que abe € qualquer, a propriedade da divisibilidade por 13 s6 pode repousar sobre 0 fato de que 0 mimero é multiplo de 1001. Assim orientado, verilicase ficilmente que 1001 € divisivel por 13; portanto, seus méltiplos também 0 serio. Devese demonstrar que as trés alturas de um. triingulo ABC sio bissetrizes dos angulos do tringulo D £ F obtido lunindose os pés desas alturas. A maioria dos sujeitos procura comparar entre si os Angulos ém relagio possivel com a e 8 (ig. 32) € vé ficilmente, na figura, a igualdade dos Angulos y ¢ 6, Bastaria agora provar que x= e que @ — 2 Aqui ha uma dificuldade, posta em evidencia pelos fracassox, De onde provém ? # necessirio apoiarse nas propriedades dos Guadriliteros inscritiveis (por exemplo BD OF). fsses qua drildteros existem objetivamente na figura: nenhuma “cons- ‘Tugio” de linhas novas € necessiria; mas estio primeiramente wisiveis e, de certo modo, “dissimulados", Nao se tornam manilestos seno por uma transformagio estrutural, semelhante das figuras ambiguas que serviam em nossos experimentos sobre a percepgio. ‘Toda figura geométrica que sirva para uma demonstragio € figura ambigua désse género; téda demons tragio repousa sobre uma mudanga das propriedades funcionais das linhas, superficies, etc., que so partes da figura. Mas essas transformagées no so quaisquer; no dependem simente A inteligéncia 153 das condigées que, na percepgio ordiniria, fazem prevalecer éste ou aquéle medo,de segregagio e de organizagio; a redis: posigio figural operase sob influéncia de um certo campo etiado. pela hip6tese e pelo problema, Froims 82 ‘Ora, essas mucancas na organizagéo da figura ou dla expres- Mio matematica posiuem um privilégio essencial, A identidade do elemento continua sendo perceptivel, apesar de sua mudanga de fungio e de aspecto. As mesmas linhas que eram os lados de tridngulos tornamse os do quadrititero inscritivel, Essa identidade dos clementos nas metamorfoses do conjunto fund: & Possibilidade de aperceber, num objeto, propricdades neces sivias novas. )f Detenhamo-nos nessa conseqiiéncia capital, Kant havia distinguido juizos analiticos ¢ juizos sintéticos, A evi- déncia dos primeiras é tautoldgica'e no propde nenhum pro- Dlema, Ao contririo, nos segundos, o atributo parece acres eentar algo névo & nogio do sujeito. Podemt ter por base a expe- rigncia, a qual mostrou que um objeto possuiuma propriedade (0 chumbo funde a 394°); mas tratase, af, de uma simples relagio npitica contingente, Ao contririo, em matemdtica, encon. \ frame juizos sintéticos necessitios. ‘Cada demonstracao rela iva ao circulo mostra uma nova propriedade dessa figura, dedu- la da sua definicdo, mas no compreendida analiticamente st definigio, Para explicar essa necessidade, KANT acre- itou dever construir toda uma metalisica. Os objetos das iéneias de raciocinio puro seriam dados por uma. intuigio x st Psicologia da forma especial que nio diria respeito a uma coisa exterior a0 ‘spirito, mas sim a uma forma imposta pelo proprio espirito a tudo 0 que pode tornarse, para éle, objeto de conhecimento. © espivito investiria nas coists uma ordem que seria estranha ‘elas; € porque nfo faria sendo enunciar suas proprias leis que nelas encontraria a evidéncia e a necessidade. — A teoria da Forma di outra resposta ao problema proposto por Kant. Os julzos sintéticos @ priori estio fundados na possibilidade de diversas estruturas ‘do mesmo objeto em nossa percepcio, 0 {que acarteta varios enunciados possiveis de suas propriedades. (Sabemos, por outro lado, que essas leis de organizagio nao sio réprias de nosso pensamento.) Isto se aplica & inteligibilidade total de que a matemitica nos di exemplos. Mas hi toclo um dominio que é o da inteligi- Dilidade parcial. Em geral, a causa a de um efeito b s6 pode ser encontrada por inducio, quer dizer por abstragio do que € comum a tidas as situagdes b e que falta em todas as situagbes niio b. Mas o efeito ea causa no conterdo alguma propriedade comum que assinale a causa procurada e a distinga de um evento qualquer ? Fregiientemente ocorre assim e é o que nos faclita O aprendizado de ccrtas relaybes de causalidade. A causalidade fenoménica deve uma notivel simplicidade a lei de proximidade, ‘ou de eoineidéncia da causa e do efeito no espago eno tempo. Por outra parte, freqiientemente existem, entre a causa ¢ 0 cfeito, certas relagies de semelhanca formal. (comespondéncia Ge ritmo entre os choques e os ruidos, de figura entre o objeto ea marca, ete.). As relagies de causa a efeito so, assim, par cialmente inteligiveis no seu contetido. Certas qualidades pas sam de uma a outra de maneira que nossa percepcio pode Captar;_certas relagdes de causalidade tém um cardter de sim. plicidade e de pregndncia, Assim, a teoria da Forma traz novas restrigbes & eélebre critica de Hume. Nao somente admite que nossa consciéncia do encadeamento dos fendmenos corresponde a relagbes dindmicas reais, nos processos individuais de nossa percepcio, de nossa emocio e de nossa agio (pig. 121), mas tambem estende propria natureza 0 campo da inteligibilidade € restringe o ntimero das relagBes objetivas que sé se revelam por pura indugio, Essa limitagio assinalase ainda na maneira como compre- ende o papel da experiéncia, Se o individuo consegue produzir, por movimentos particulates, um efeito interessante, nfo sb: A inteligéncia 155 ‘mente aprendeu ésses movimentos particulares, mas também uma estrutura causazfeito suscetivel de certas transposicaes ‘Todo aprendizado motor comporta, de golpe, umia quantidade de variantes. O macaco que aprende 2 servir'se de um bastio assimila, por experiéncias particulares, uma_ técnica mais ou ‘menos geral. A aprendizagem nao exige identidade, mas somente a semelhanga estrutural das experiéneias. Hé passagem gradual da plena e imedia:a inteligibilidade as “ligbes da experiéncia". De onde provitio, pois, as dificuldades dos problemas, as limitagdes de Taic_e a desigualdades da inteligéncia? Da esistEncia das forrias as reorganizagBes exigidas pelo problema, Essa idéia ¢ ilustrada, em DUNCKER, por bom mimero de enge- nnhosos experimentos. Alguns consistem simplesmente em pro- curar um objeto que corresponda seja a uma identificagio dada, seja &s exigéncias de um problema pritico. O problema ow a identificagao ‘azem construir um modélo mental do objeto procurado; 0 momento decisive € sempre uma metamorlose subjetiva do modélo mental ou do objeto, um descentramento, uma mudanca simultinea da fungio e do aspecto. Numa mest! encontram-se diferentes objetos: verruma, caixa de f6sforos, alicate, pesos, alfinétes, etc. Em um primeito tipo de exper ‘mento, um objeto é apresentado, primeiamente numa funcio F,, antes que se proponha o problema em que deve intervir a fungio Fe (0 alicate é empregado para arrancar um prego, antes de servir de marte'o; a tibua de logaritmos é empregada pata tum cilculo, e em seguida deverd servir de suporte ou de contra- péso). Num segundo tipo de experimento, essa utilizacko prévia de Fy no ocorre. A solucio do problema é bem mais facil no segundo tipo do que no primeiro. O uso anterior do objeto, uma fungio estova a invengio, na qual outra fungio deve intervir. Do mesmo modo, a fungio habituat'do objeto tora is dificil a fungé> insdlita. Achar uma tiova fungio (racional) «lo objeto & mais dificil se éle nfo tem senioruma funcio ordi- nidria, do que se ja tiver vdrios usos. A mesma dificuldade ocorre ‘quando a nova fungio que se trata de divisar € preenchida, ordi firiamente, por uma tinica espécie de objeto, que dela tem mo- hopolio, E que a fungio nao acrescenta ou associa somente ima- gens, mas traz, & representagio do objeto, verdadeira mudang: estrutural : Em resumo, a propria descoberta por meio de ressondncia jornase mais dificil pelo fato de o objeto estar englobado num rgd 16 Psicologia da forma todo, polarizado numa funcio. A descoberta depende de uma libertacio dessas fixacbes prévias, de uma nova estruturagio do objeto, sob influéncia dos sinais de identificacio ou do pro- blema, As dificuldades sio da mesma ordem que as dos pro- bblemas de matemitica. Linhas sio “dadas” em sua fungio de lados de um tiingulo; “a solugio do problema exige, por exemplo, que uma delas se converta numa reta indefinida, numa secante, que corte os lados de um névo triingulo (no dado como tal, no enunciado) do qual fazem parte as outras linhas; a dificuldade reside nessa mudanga de funcio; no fundo é da mesma ordem que a de divisar no que, hi pouco, tinha funcio e aspecto de alicate, 0 martelo ot o contrapéso possiveis. Tanto no bom matemitico, como no inventor pritico, © material do pensamento mostrase mais plistico, mais liber tado das fixagdes inerentes ao modo inicial de apresentacio (!), Para melhor fazer ressaltar as conseqiiéncias que a teoria da Forma extrai das diversas pesquisas experimentais que rest mimos, tentemos fixar, sucintamente, sua posigio em relagio 4s outras concepgdes de inteligéncia, 18) Ni faz da inteligencia um dominio separado;_rejeita toda distingfo entre fungdes sensitivas e fungdes intelectuais, porque rejeita o dualismo da matéria e da forma. A inteli- ‘géncia no é criadora de uma ordem estranha a natureza de seus elementos; mio é seno a expresso da organizacio espon- tinea e manifesta de um todo, em virtude de suas leis internas; 28) A teoria da Forma opdese, igualmente, a toda tenta- tiva de derivar a inteligencia de relagées acidentais histéricas cestabelecidas entre as representagdes. A inteligéncia ngo é um habito individual ou ancestral, reflexo da natureza exterior, mas antes uma parte dessa naturera, homéloga do todo; 38) Os conceitos de inteligéncia ¢ de percepglo sto soli- darios. Quando relagées novas slo apercebidas entre objetos, éstes so percebidos de outra maneira, e reciprocamente; no ha anterioridade de um désses fatos em relacto 20 outro, mas solidariedade necessiria. Por ai a teoria da Forma afastase (©) Ram eben aue ge lawl nes dian, emlan, aaia e die dates E geoittatsnenan’ “Teapprenenion’ des figures Homatiguets Jee Pee 1957) A inteligéncia 137 das teorias que farem consistir o fato intelectual num fato de “significagao" ¢ de linguagem. Sem por em diivida a impor. tincia dessa ferramerita intelectual, a teoria da Forma consi- dera como central o problema do fundamento concreto désse emprégo dos signos, da reorganizagio da representagio, do qual © simbolismo niio é senfio a expressio. 4.) Se essa reorganizaglo tem um aspecto cerebral, 0 antigo antagonismo entre as fungdes aperceptivas ou lgicas ¢ os “me- canismos” fisioldgicos desaparece. A substituicio de um meca- nismo, no sentido estrito e preciso dessa palavra, por um dina. mismo obediente as leis formais de organizagio, levanta essa oposicio. A ordem que Se exprime nas leis fisicas assemelhase A que'se traduz em nossa inteligéncia, W

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