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Prefácio – Queimando.

Inglaterra – Século XVII


O aperto em seu braço não era nada gentil, e os empurrões em suas costas a guiando
bruscamente para frente muito menos. E se não houvesse uma venda em seus olhos e algemas
em seus pulsos, ela definitivamente teria socado o pré-histórico que a estava arrastando e
simplesme se deliciado com a visão de seu sangue escorrendo. Bom, e aí ela correria, é claro.
Mesmo que em todas as línguas conhecidas pelo homem ela quizesse gritar de forma nada
gentil que era um engano, gritar o mais alto que conseguisse para os desocupados que se
queriam ver alguém queimar, jogassem suas mães no forno. Ela sabia. Sabia que não era um
engano. Corra, idiota! você pode se salvar! o instinto primitivo de sobrevivência gritava para
ela tão alto que era difícil ignorá-lo, mas ela tinha. Mas era verdade, ela podia. Ela podia
simplesmente desaparecer em uma cortina de fumaça se quizesse, podia matar a todos eles
com um só pensamento. Então por que não era isso que ela estava fazendo?
Simples. Por que se ela fizesse, Gaspard seria condenado por compactuar com uma bruxa. Foi
o acordo que os vermes ignorantes a ofereceram quando o trancaram naquela cela imunda: ou
ela queimava por bem, ou ele era queimado por mal. Simples assim. E mesmo sabendo que ele
nunca a perdoaria pela decisão de se entregar, ela também sabia que ele faria o mesmo por
ela, ele também queimaria na fogueira com um sorriso no rosto se isso fosse mantê-la segura.

E era justamente esse pensamento que acabava com ela. Quando ele finalmente souber, já vai
ser tarde demais.

Com um ultimo empurrão brusco em suas costas, os guardas pararam de andar. E ela soube
pelos gritos da multidão e pelo cheiro de palha e fumaça que tinha chegado a hora.

"Queime a bruxa!"
"Mate a esposa do demonio!"
"Faça ela pagar"

Eram as frases mais ouvidas. Pagar pelo que? ela se perguntava. Era tão deplorável a tentativa
daqueles seres miseráveis de depositar a culpa por todos os seus problemas nela, que ela
sentiu nojo da própria espécie.
A venda foi retirada ao mesmo tempo em que outros puxões a levavam para cima de um tipo
de plataforma, seus olhos ainda se ajustavam quando o guarda torceu bruscamente seus
braços para trás e a acorrentou em uma espécie de tronco envolto em um círculo de
palha...muita palha. um círculo de cerca de cinco metros de altura feito completamente de
palha, como uma fogueira. Pena que ela era o combustível ou teria apreciado muito mais o
trabalho das pessoas em construir aquilo.
Seu vestido tornava extremamente fácil a locomoção, já que tudo que se encomodaram em
acorrentar foram seus pulsos. com as saias de estufamento retiradas, só havia sobrado o
veludo verde pesado, era como uma camisola de tão confortável e se ela quizesse, ela podia
desaparecer com ainda mais facilidade... Mas Gaspard também desapareceria. E ele não
desapareceria do jeito bom. O pensamento a manteve firme no lugar, mesmo quando ela
ouvia o prefeito recitar seu discurso sobre como ela era uma profana seguidora das
trevas...francamente, quem escrevia essas coisas tinha a intenção de fazer parecer com que
ele tivesse cérebro? por que não estava funcionando. Ela não ia chorar. Mesmo quando ela
pensava em tudo que simplesmente receberia um ponto final agora.

Gaspard sorrindo, a levantando no ar em um abraço no meio do campo. As idas dele...e


também as voltas. Quando ele disse a ela que a amava. Quando ela experimentou pela
primeira vez o vestido de noiva. O casamento em si. Tudo isso era tão vivo, tão claro na mente
dela, que as pessoas discutindo e a morte iminente pareciam não passar de um sonho ruim.
Um do qual ela acordaria.
Mas as próximas palavras do prefeito, acabaram com a doce ilusão. "Rosella Baker Lanchaster,
por nossas leis tu és condenada à morte por uso da bruxaria e magia negra, e será executada
em forma de que as chamas purifiquem seus ossos e sua carne, livrando-nos de teus males."
O prefeito levantou a tocha principal, e foi quando a ficha finalmente caiu. Ela definitivamente
estava ferrada. Gaspard, Gaspard, Gaspard, Me perdoe. A tocha foi derrubada no chão e o
coração dela batia tão forte no peito que parecia estar sendo esmagado por vários cavalos
enquanto o fogo percorria as linhas da palha rapidamente...não demoraria muito agora até
que a alcançasse.
E então começou. Uma segunda multidão surgiu de lugar nenhum e começou a atacar os
presentes. Eram facas, sangue e gritos para toda parte, e ela não conseguiu entender nem
mesmo uma parte daquilo. A fumaça começou a sufocá-la antes mesmo que ela sentisse o
calor do fogo. Era como se o ar estivesse sendo arrancado dela todo de uma vez, e então
devolvido, e então arrancado denovo, e a nuvem de fumaça nublou completamente sua visão
do massacre. Ela sentia o fogo agora, mesmo com seus membros começando a ficar
dormentes, ela o sentia consumir as bordas de seu vestido e lentamente seus tornoze-los. Mas
a dor em seus pulmões era tão forte que nem mesmo sua própria carne queimando parecia ter
importância. Tudo estava ficando escuro agora, e nem mesmo a núvem de fumaça podia ser
vista. Ela desmaiaria, se não estivesse sendo obrigada pelas correntes a ficar em pé.
E então, no meio de um mínimo surto de clareza, ela viu o rosto dele. Gaspard aqui! A moça
sendo queimada viva! Aqui! Ele cortava caminho pela multidão em direção a ela gritando algo
que ela não podia ouvir. A dor do fogo em sua pele era muito, muito forte agora, e ela não
sabia se desmaiaria pela dor ou pelo fato de ainda não conseguir respirar. Qualquer que fosse,
ela não queria fazer isso agora. Ela queria pelo menos por uma ultima vez, ver o rosto dele
vindo ao seu encontro.
Gritos horríveis enchiam o ar, e ela demorou mais do que devia para perceber que vinham dela
mesma. Gaspard ainda estava preso a meio caminho, e ela não conseguia mais manter seus
olhos abertos por mais que tentasse, a tosse a impedia de pronunciar qualquer coisa além de
gritos, e ela ainda não conseguia escutar o que ele dizia. Então o mundo se desfez em sua
volta, em um inferno de fogo e escuridão.

No meio da névoa que ela sabia que não conseguiria sair, finalmente conseguiu entender o
que ele estava gritando.

"Você prometeu que não ia a lugar nenhum sem mim, e está muito enganada se pensa que a
morte pode te fazer quebrar essa promessa."

Eu sinto muito.
O1- Dejavú
Toc. Toc. Toc. Me deixe em paz, por que ninguém me deixa em paz? Ela pensava enquanto
cobria os ouvidos com o travesseiro, ainda não tinha amanhecido, então nada podia ser tão
importante que não pudesse esperar, podia? Haviam quase três noites que ela não havia
pregado os olhos...esperando na maldita janela. Só a imagem do estúpido jardim, com as
mesmas estúpidas árvores e estúpidamente vazio a faziam amaldiçoar qualquer um que
ousasse interromper seu breve descanço.Toc. Toc. Toc. Vá embora, inferno, vá!
Foi só quando uma voz baixa, aveludada e extremamente conhecida lhe respondeu, que ela
percebeu que tinha dito essa ultima frase em voz alta.
“Curioso,” ele começou, instantaneamente o coração dela pulou uma batida. Será possível que
ela tinha chegado ao patético nível de imaginá-lo aqui? Ela tinha ficado sem dormir tanto
assim? Deus, as pessoas sempre dizem que loucos começam alucinando coisas pequenas, e
se... Não. Definitivamente foi uma impressão. “ os criados me reportaram que sua vontade era
contrária a mim indo embora, mas já que quer assim” a voz continuou, e ela teve certeza,
certeza que não era um sonho. Ou ilusão. E definitivamente não estava ficando louca...pelo
menos não mais do que já era.
“Os criados também lhe reportaram as milhares de maneiras que febrilmente me imaginei te
matando?” ela murmurrou, derrepente perdendo todo o sono. Uma risada abafada pelo
travesseiro em seus ouvidos chegou até ela, e no instante seguinte, o travesseiro estava sendo
atirado para a escuridão do quarto. Ela o sentiu subir na cama e puxá-la para seus braços, mas
não abriu os olhos. O calor dos braços dele e o cheiro do seu perfume já tornavam difícil o
suficiente para que ela mantivesse a posição de ‘Quero empurrá-lo de um penhasco, estúpido’,
coisa que ela sabia que não ia conseguir manter por muito tempo. Mas se ela se permitisse
olhar para ele, para os perfeitos olhos azuis e o cabelo negro, a pele pálida e os músculos
fortes de um caçador, ela estaria completamente perdida e não conseguiria argumentar de
nenhum jeito. E ela tinha que argumentar.
Ele riu denovo, dessa vez sua respiração quente batendo de encontro com a pele dela. Os
dedos dele percorriam suas costas em uma carícia lenta, morte ao torturador. “Princesa, abra
os olhos” Dessa vez os lábios dele roçavam contra a pele do pescoço dela...argumentar com
que mesmo? “Eu prometo que não vou me opor a nenhum castigo que queira impor, só por
favor abra os olhos.”
Antes que ela pudesse se bater mentalmente para forçar seu corpo a obedecê-la, e não
obedecer a ele, ela abriu os olhos. E aí as malditas ondas de fogo e gelo invadiram todas as
partes de sua pele.
“Também senti sua falta, Princesa” Ele sorriu. E qualquer argumento que ela tivesse, morreu
derretido. Desde a primeira vez que ela pôs os olhos no caçador, ela soube que estava perdida.
Assim como ela sabia agora. Com os olhos azuis sendo a unica coisa que a separava da
escuridão do quarto, ela levou os dedos até o rosto dele, ela não tinha a certeza do por que. A
primeira coisa que qualquer um notaria naquele rosto perfeito, é o quanto ele parecia
inocente. Covinhas destacadas pelo sorriso que ele usava tão simplesmente pareciam gritar
essa inocência inexistente, mas os cachos grossos e negros iludiriam até o melhor dos juízes de
que a inocência estava lá...e estava, ele só não fazia uso dela. “Apreciando a raridade de minha
existência? Cuidado, assim fico convencido.”
Ela sorriu e revirou os olhos, desejou que ele pudesse ver o gesto. “Você não precisa da minha
ajuda para iludir a si mesmo sobre suas qualidades. “ Ela cruzou os poucos centímetros
restantes e cobriu os lábios dele com os dela, cada parte dela explodiu em um estranho
frenesi, e ela o sentiu ofegar antes de apertar mais ainda seu abraço, quase esmagando-a
contra seu peito.
E ela não podia se importar menos.
“Você.Não.Voltou” Ela gaguejou entre os lábios dele, um instinto primário nela rzava que ela
não fosse ouvida, mas a voz da razão queria que fosse. Mas foi quando ele ficou rígido por um
segundo quase imperceptível. Quase. Que ela soube que tinha sido ouvida. Muito lentamente,
ele separou os lábios deles, passando os dedos distraídamente sobre uma mecha do cabelo
dela. “Eu esperei, mas você não voltou.” Ela repetiu.
“Eu estou aqui agora, não estou?” ele disse simplesmente, como se estivesse explicando algo
tão obvio. Ela ergueu uma sobrancelha. Ele estava desviando. “Sei que sentiu minha falta,
mesmo querendo entregar minha cabeça para os abutres” ele sorriu, maldito sorriso.
“Sim, está correto” ela, se limitando a colocar toda a frustração em palavras em vez de em um
vaso sendo atirado na cabeça dele “Senti sua falta todos os dias. Principalmente naquele em
que você deveria estar aqui...A UM MÊS ATRÁS!”
Ela se lançou fora da cama mais rápido do que ele conseguiria segurá-la no lugar, e mais por
impulso do que outra coisa, ele se levantou com a mesma rapidez. Quando ela finalmente
conseguiu fazer seus olhos funcionarem no escuro, a primeira coisa que notou é que ele
também estava em pé... do lado oposto da cama. Ela também notou que tinha um vaso na
mão. Bom, talvez aquela idéia sobre o vaso e a cabeça dele não tenha sido tão esquecida
afinal.
“Princesa, me escute!” ele tentou, com as mãos no ar. Ela atirou o vaso, errando por poucos
centímetros. Ele amaldiçoou baixinho e tentou contornar a cama para alcançá-la, mas ela deu
exatamente os mesmos passos na direção oposta a ele e agarrou o próximo objeto que
encontrou: um peso de papel de cristal. É, iria servir.
“NÃO ME CHAME DE PRINCESA!”
“Rosella, me escute!” ele tentou denovo. Era estranho ouvir seu nome inteiro na voz dele, ele
nunca a chamava assim. Então o próximo grito saiu antes que ela pensasse nele.
“NÃO ME CHAME DE ROSELLA!” O chão frio machucava seus pés descalços, e ela começava a
se amaldiçoar por não ter pulado na direção de um par de sapatos.
“POR DEUS, MULHER, QUER QUE EU TE CHAME DE QUÊ?” O grito dele tinha um tom
divertido, não parecia irritado, parecia estar controlando um riso. Desgraçado.
“DE...” ela parou, do que ele chamaria? “De...” Ella, talvez? “Bom, NÃO ME CHAME!”
Agora ele não controlou. Ele realmente gargalhou.
Mas ela também não controlou. E o peso o atingiu no ombro esquedo antes mesmo que ela
notasse que havia deixado sua mão. Ele gemeu e caiu sentado na cama. Oh deus, o que eu fiz?
Ela pensou enquanto pulava na cama e se ajoelhava ao lado dele.
“Gaspard?” ela sussurrou, ainda sem conseguir ver seu rosto, seus dedos escorregaram plo
ombro dele procurando por ...sangue, talvez? Se não tinha sangue, ela lhe tinha quebrado
algum osso? Céus, por que eu não fiz o curso de enfermagem? Ele não olhou para ela, mesmo
quando ela tocou uma área em que ele soltou um breve gemido. Há. E então lhe ocorreu outra
coisa: Ela o teria atingido no rosto também? E por isso ele não queria mostrar? Será que a dor
era assim tão grande? Podia ter deslocado algo? “Eu sinto muito, muito, muito” Sua voz era
um fio “Gaspard?”
Ele se moveu tão rápido, que ela estava em seu colo, com as mãos presas pelos pulsos por
uma só mão dele antes de sequer piscar. Ele tinha o sorriso sínico mais lindo do mundo, e ela
não precisava ver todos os sorrisos do mundo pra ter certeza. Por que ninguém ficava melhor
usando isso, do que ele nesse momento. “Achei que tinha dito para não chamá-la, Princesa”
Ela sorriu, percebendo a armadilha. Bom, ele não estava machucado , afinal. “Isso foi antes de
eu quase arrancar seu ombro com uma pedra de meio quilo”
Ele bufou, o que aumentou o sorriso dela.
“Meio quilo e acha que arrancaria meu ombro? Devia então ter se carregado para fora da
igreja no nosso casamento, aí sim saberia o verdadeiro significado de peso pesado.” Ela o
atingiu com um pequeno chute no tornozelo, o que era o unico lugar que ela conseguiu atingir,
ele riu, os inclinando sobre a cama “Sabe que eu não falo sério.”
Seus lábios se encontraram por um milésimo de segundo, um selinho rápido o suficiente para
trazer devolta as ondas instaveis de temperatura no estômago. “Sabe que ainda vai me
explicar o por que do atraso.”
Ele levou os lábios até o pescoço dela, estendendo-a na cama presa sobre seu peso, agora
tudo nela parecia envolvido em uma núvem de neblina, uma que tinha nome e sobrenome, e
um ego enorme. Nada além dele era claro. Seu estômago se contraiu e sua pele queimou,
provocando milhões de sensações que iam a todos os lugares em que ele tocava. Ela quas
havia se esquecido do que tinha dito, quando ele murmurrou uma resposta contra a pele dela
“O que quiser, Princesa...amanhã.”
Amanhã. É. Não parecia tão ruim.
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O despertador a jogou da cama direto no mundo real sem nem sequer um aviso prévio. Os
detalhes do sonho tão claros que pareciam vivos, queimando em sua memória. Pela primeira
vez em semanas ela acordou perfeitamente disposta, e não conseguia nem se lembrar do por
que não deveria estar. Amy tateou na mesinha de cabeceira o botão para desligar o
despertador e o encontrou na primeira tentativa, alcançando o celular na seguinte e discando
o número mais conhecido por ela desde os cinco anos de idade. Lisa iria adorar saber que o
principe dos sonhos a tinha visitado denovo. Era assim que tinham resolvido chamá-lo.Principe
dos Sonhos. E todas as vezes que os pesadelos a perseguiam por três dias seguidos, ela sabia
que no quarto, sonharia com ele. Não fazia sentido, apesar de tudo, ela nunca nem o tinha
visto. Mas tinha sonhado com ele vezes o suficiente para conhecê-lo. O que realmente não
fazia sentido nenhum. Mas ele era o unico caso onde ela realmente apreciava sua imaginação.
Coisa que na verdade ela não fazia muito uso.
O telefone tocou três, quatro, cinco vezes, até que ninguém atendeu e a ligação caiu. E foi só
quando o telefone ficou mudo que ela conseguiu se lembrar, Lisa nunca atenderia o telefone.
Lisa nunca acordaria tão cedo. Na verdade, Lisa nunca acordaria. E era exatamente esse o
motivo de ela se sentir tão miserável nos ultimos dias. Lisa, estava morta. Por isso ela nunca
atenderia o telefone.
Derrepente ela se sentiu muito, muito mal. Como, por um segundo sequer ela podia ter
esquecido disso? Como um estúpido sonho podia ter feito ela esquecer? Como qualquer coisa
no mundo podia ter feito ela esquecer? Lisa era muito mais do que sua melhor amiga. Era sua
irmã não-nascida, e ela esteve lá no ultimo momento. Na verdade, ela esteve no banco do
passageiro quando viu as luzes do outro carro refletirem em Lisa, e foram a ultima coisa que
Lisa viu. Todo seu corpo se retraiu com a memória, e ela puxou os cobertores até a cabeça
esperando se esconder do mundo, mesmo que ela soubesse que não podia fazê-lo por muito
tempo.
E uma leve batida na porta comprovou isso. Debaixo de sua fortaleza de algodão, ela tinha a
vaga noção da sua mãe entrando no quarto e abrindo a janela...pra que sol?
“Amy, querida, acorde” sua mãe tinha uma voz melódica, que era perfeitamente proporcional
com seus meros 1,60cm, e cabelos ruivos cortados curtos sobre olhos verdes incríveis. Amy
não conseguia se lembrar da ultima vez que havia visto sua mãe gritar, ou se isso ao menos
tinha acontecido. Ela sempre tinha paciência demais, e gentileza demais para levantar a voz
“Vai chegar atrasada no consultório”
Aí. Aí estava o maldito consultório. Desde que Lisa morreu, Amy tinha deselvolvido transtorno
de estresse pós-traumático, ela nem conseguia entrar em um carro ou andar em uma avenida
movimentada sozinha. O que não era nada agradável considerando que ela tinha que ir á pé
para todos os lugares e que seu corpo todo parecia preso em um bloco de gelo todas as vezes
que ela tentou superar a fobia e usar o carro da mãe. Era difícil o bastante fazer qualquer coisa
sem lembrar de Lisa, difícil o bastante. Mas mais difícil ainda era ter que falar sobre isso com o
maltido psicólogo que a mãe a obrigava a frequentar uma vez por semana.
“E você fala como se isso fosse uma grande coisa” ela murmurrou enquanto empurrava os
lençóis de lado e se levantava, e sentiu o olhar de sua mãe pesar vagamente ao parar em seus
pulsos, mas a mulher continuava tentando não pressionar sobre aquilo, e lançou a Amy um
sorriso fraco.
“E é uma grande coisa,” Sua mãe andou lentamente até a porta, hesitando como se quizesse
dizer algo, mas ela não disse. Em vez disso ela apenas lançou a Amy outro olhar triste “Se vista,
tudo bem?”
A porta se fechou. E Amy assentiu para o vazio.

Um casaco rasgado, botas ensopadas e o cabelo lembrando mais um ninho de passarinho do


que cabelo. Foi esse o estado em que Amy empurrou as portas para a recepção do consultório
Do dr. Fell, ela não ligou para os olhares que a seguiram e simplesmente caminhou até a
recepcionista.
“Dia difícil querida?” Layle, a recepcionista, lhe perguntou assim que colocou os olhos em Amy.
Que forçou um sorriso de volta.
“Nem imagina” Amy se sacodiu, tentando tirar pelo menos um pouco da neve no casaco e
cabelo. Se ela entrasse na sala do Facista Psicótico desse jeito, ele provavelmente já teria
ligado para o manicômio antes mesmo de ela se sentar “Odeio neve. É tão...gelada”
Isso arrancou uma risada de Layle.
“É, muito gelada.” Ela concordou, e então digitou ágilmente algo no computador...
francamente, se essa mulher tivesse um Twitter, ela digitaria mais do que as pessoas
pudessem acompanhar. “Você pode entrar, ele está esperando por você”
Oh, tenho certeza que ele está, é por minha causa que ele consegue pagar as contas. Amy
forçou um sorriso. “Claro, obrigada Layle”
E com um breve aceno de cabeça, se dirigiu para o segundo conjunto de portas duplas que
levava aos consultórios. Em seguida, empurrou a conhecida segunda porta á esquerda. A
semanas ela não se dava mais ao trabalho de bater na porta, ele sempre sabia que ela estava
vindo mesmo, então simplesmente empurrou a porta aberta e se jogou na poltrona limpando
as mãos nos jeans.
“Amelia” O doutor cumprimentou de trás da mesa, abaixando seu jornal “Que prazer em revê-
la! Como está hoje?”
E não é que o cara parecia mesmo animado? É, quem disse que o dinheiro movia o mundo,
nunca esteve mais certo. “Não entendo” ela se limitou a dizer.
“O que não entende?”
“Por que continua fazendo essa pergunta.” Ele abriu a boca para responder mas ela foi mais
rápida “Se eu estivesse supostamente bem, não estaria aqui para começo de conversa, certo?”
Dr. Fell deu um sorriso cansado, largando de vez o jornal em cima da mesa e se levantando. Ele
andou até a janela, como se apreciasse a paisagem lá fora.
“Está ótima, como eu posso ver.” Ele concluiu, virando o olhar para ela “Então, o que tem pra
me contar hoje?”
Que seu carro idiota prendeu meu casaco e você me deve um novo. “Não.”
“Nada?” ele repetiu com descrença “Nenhum pesadelo, experiência ou mesmo sonho que
gostaria de compartilhar?”
Ela parou para pensar. Da ultima vez que ela tinha contado ao doutor sobre o garoto em seus
sonhos, ele parecia bem interessado, Talvez só para acrescentar no relatorio de milhões de
motivos por que Amelia Lanchaster ficaria melhor presa em uma camisa de força, o que, só pra
constar, ela não tinha certeza se discordava. Mas ainda era estranho ter que pagar alguém
para te ouvir quando antigamente tinha alguém bem melhor que faria isso sem os 300 dólares
a hora. Mas se ela estava pagando...por que não? Além disso, ela queria falar com alguém. E
ela não tinha ninguém.
“Bom...” ela começou, e mordeu o lábio em seguida, se arrependendo de ter falado. A que
ponto tinha chegado seu isolamento pra que ela realmente considerasse falar sobre seus
sonhos para um médico?
“Sem medo, Amy, estou aqui pra te ouvir.”
“Eu sonhei com ele denovo. O garoto, quero dizer” as palavras sairam sem antes passarem
pelo concentimento do cérebro, acontecia as vezes, então se a merda já estava feita... “Um
bom sonho.”
“Hmm” Dr. Fell se sentou na mesa com uma pensativa mão no queixo. Ele era alto, e tinha
cabelos grisalhos que sempre combinavam com os ternos cinzas, mas hoje ele estava com um
azul marinho e gravata preta. Por alguma razão ele a lembrava outra época. Algo de um filme,
talvez. “O garoto dos pesadelos?”
“Não” ela disse sem pensar e então se corrigiu “Bom, sim. Também, mas é mais como se...”
“Como se...?” Ele realmente parecia interessado.
“Como se ele me salvasse dos pesadelos.” O silêncio caiu, assim como o olhar de Amy caiu
para seus próprios pés. O quão estúpida ela soava?
“Conte-me sobre o sonho”
Automaticamente, imagens vivas e as sensações quentes dos braços dele a envolveram em
uma névoa que a isolava mais ainda do mundo. Mas como ela poderia contar sobre o que
sonhou quando o sonho era daquele jeito? Por fim, ela lhe respondeu. “Eu não me lembro”
“Curioso” foi tudo que ele disse antes de voltar para trás da mesa e se sentar
confortávelmente em sua cadeira. O relógio parecia sufocá-la, o quarto parecia sufocá-la. Ela
puxou desconfortávelmente as mangas do casaco sobre as palmas das mãos. Por um longo
tempo,ninguém disse nada, ele realmente espera que eu comeceuma conversa?
“Posso ir embora?” ela disse por fim.
“Mas Amy, mal começa...-”
“Posso ir?” ela o cortou. Ouvindo-o suspirar alto, soube que a batalha estava ganha.
“Claro.”
Mas ela já estava do lado de fora antes mesmo que ele tivesse dito a palavra. O corredor
parecia de algum jeito maior e algo estava gritando “diferente” mas ela não conseguiu
perceber o que era. Então ajeitou o casaco e seguiu em direção ás portas duplas que levavam
para a recepção. As luzes piscaram assim que ela pisou na sala. Merda, a nevasca devia ter
ficado pior.
E ela tinha tanta certeza disso, que não precisou ir até a porta checar antes de decidir se sentar
em um dos bancos mais afastados da sala de espera. Não tinha muita gente, talvez três ou
quatro pessoas, mas haviam muitas cadeiras, então era quase impossível que alguém viesse se
sentar justo do lado dela. Isso mesmo, saiam daqui abutres. E as luzes piscaram outra vez, ela
lançou um olhar derrotado para as lâmpadas quando elas se apagaram, mantendo o olhar fixo
nelas até que voltaram à vida. E então, tão pontualmente como se tivesse sido planejado, uma
brisa de ar a atingiu no mesmo momento em que as portas se abriram e um garoto vestido em
preto cruzou a sala de espera. Timing perfeito, Chris Angel. Ela não tinha se dado ao trabalho
de olhar para o rosto dele, realmente não estava interessada em nenhuma novidade no
momento, mas algo segurou o olhar dela nos sapatos dele(não, não que fosse consumista ou
algo assim) ou melhor dizendo, botas. Botas do tipo que você viu no principe da branca de
neve. E o modo com que ele se movia parecia familiar. Besteira.
Ela abaixou a cabeça, e derrepente se encontrou muito fascinada com seus próprios pés. Um
floco de neve derretido, dois flocos de neve derretidos, trê...
“Este lugar está ocupado?” A parte dela que se assemelhava a um bicho do mato quis virar e
dar uma boa resposta para o infeliz que ousava interromper sua contagem interessante...ok,
não tão interessante, mas mesmo assim. E ela o teria feito. Se as outras partes dela não
tivessem congelado completamente ao ouvir a voz dele e ela não tivesse descoberto que não
tinha realmente uma resposta. Ele se sentou. “Por que se estava, creio que agora seja um
pouco tarde.”
Um nó sem explicação se formou em sua garganta e ela não conseguia levantar a cabeça nem
se tentasse. A voz dele. Boa noite, princesa, a memória do sonho reacendeu em sua mente,
quais eram as probabilidades? E o que tinha de errado com ela? Por que não conseguia olhar?
“Estou lhe importunando, senhorita?” O tom era divertido, exatamente como ela se lembrava
dele. Se lembrava dele? Oh merda. Só olhe pra ele, vai ver, ele não vai ser nada parecido.
Mas acontece que não foi bem assim. Assim que os olhos de Amy cruzaram com os do
estranho, um muro dentro dela se partiu em mil pedaços e caiu no chão.Ele não era nada
parecido. Ele ERA o garoto nos sonhos dela. Os mesmos olhos azuis, os mesmos cachos negros,
as covinhas em um sorriso irônico, tudo nele era familiar. E isso assustou ela como o inferno.

Mas foi aí que ela percebeu que o muro que desabou, era o que estava ajudando ela a ficar em
pé. Muito tarde para avisos prévios. A ultima coisa que ela notou foram os olhos azuis se
tornarem alarmados e braços cercando-a antes que ela pudesse atingir o chão. E foi aí que
tudo ficou escuro.
O2 – Impossível
“Queime a bruxa!”
“...está muito enganada se pensa que a morte pode te fazer quebrar essa promessa.”
“Este lugar está ocupado?”

Calem a boca! Ela ordenou para os próprios pensamentos. Não conseguem ver que eu estou
tentando acordar?

Mas eles não calaram. E suas pálpebras não ajudaram. A inconsciência continuava puxando-a
tão fundo que se seu corpo estivesse em cima de uma cama de pregos, ela não teria notado.
Um vale. Um vale muito grande. Um vale muito grande e muito, muito vazio.
Árvores verdes forneciam distintos pontos de sombra sobre a grama fresca. Ela adorava esse
lugar, desde pequena, ela sempre adorou o lugar. Foi onde sua mãe foi criada, e foi onde seus
pais se casaram –sim, você pode achar pouco convencional que uma senhorita respeitável não
tenha se casado em uma igreja, mas sua mãe nunca foi do tipo que era contida por paredes,
fossem elas quais fossem. E mesmo que ela tivesse visto pouco do mundo, sabia que não
encontraria em lugar nenhum um lugar mais familiar.
Dessa distância, a mansão Lanchaster parecia nada mais do que uma casinha de bonecas, e
com nada além do céu azul e a solidão acompanhando seus passos, ela se jogou na grama sem
cerimônias, seu fofo vestido azul amortecendo a queda. Haviam dias em que ela odiava ter
nascido uma garota, ela pensou enquanto fechava os olhos e tomava uma longa respiração,
quer dizer, qual é a graça em usar um espartilho que esmaga suas costelas e carregar quase o
dobro de seu peso na saia do vestido só para parecer agradável? O século XVII não parecia
uma boa época para se viver. Pelo menos não para seres do sexo feminino. Se você se
compromete cedo demais, fica mal falada. Se é muito tarde, “mal” é uma diminuição
realmente otimista do quão afiadas serão as línguas. E se você não se compromete ao todo,
como eram os planos de Ella, olhares de pena a seguiriam pelo resto da vida. E isso era o mais
humilhante.
Ela sentiu o cheiro dele antes que sua sombra dançasse sobre as pálpebras fechadas dela. Seus
olhos se abriram de imediato, e de longe a criatura mais divina em que ela já tinha posto os
olhos a encarava de cima com um sorriso divertido. Longos cachos negros e um rosto que se
assemelhava à imagem que vinha em sua cabeça quando você pensava na palavra “Anjo”, não
eram tudo que ele tinha. Ele também tinha olhos azuis, como o céu noturno pouco antes do
amanhecer.E por longos segundos, ela se perguntou se estava sonhando. Deus, se foi o senhor
que atendeu o meu pedido de ‘moça-procura-rapaz-no-mínimo-perfeito- e – com- uma- grande
- fortuna’,Nem precisa se preocupar com a ultima parte, esse já está ótimo. MUITO obrigada.
“Seria de grande importuno se eu me juntasse à senhorita?” a voz aveludada combinava
perfeitamente com o dono. Tanto que ela quase se distraiu o bastante para esquecer de
responder. Quase.
“Isso depende,” ela começou, faltou muito pouco para que ela acrescentasse ‘se casar comigo
está nos seus planos’, mas conseguiu se segurar, e tentou uma vez na vida agir como se tivesse
a educação que nunca teve. “De quem seria meu acompanhante.”
O rapaz riu, se sentando no chão bem ao lado dela, uma sensação estranha e desconhecida
dominou seu estômago, como um choque térmico mil vezes mais potente. E ela se colocou
sobre seus cotovelos mais por hábito do que por real vontade de se levantar, esperando sua
resposta.
“Eu sou Gaspard” Ele passou a mão pelos cabelos, e em seguida a estendeu em um gesto
formal. Um que Ella fez questão de ignorar. “Gaspard Lee-Baker”
“E o que faz aqui, Gaspard Lee-Baker?” ela perguntou com um sorriso, ele pareceu pensativo
por um segundo, como se debatesse internamente consigo mesmo.
“Estou tentando entregar uma mensagem, por assim dizer.” Um mensageiro. Ok Deus, talvez
não seria tão mal assim acrescentar a ele aquela fortuna incalculável. Mas se não for possível,
tudo bem então.
“Á menos que sua mensagem tenha ‘Lanchaster’ no destinatário, creio que desviou o
caminho.” Ela retrucou incapaz de controlar a língua. Wee, Rosella-espanta-marido estava de
volta.
Mas para sua surpresa, ele apenas riu.
“É, você não imagina o quanto.”

Luzes piscavam sobre suas pálpebras fechadas, e uma voz distante começava a soar entre a
escuridão. Seus olhos não estavam mais pesados, porém seu corpo parecia feito de pedra. Por
que eu não estou me mechendo?
“Sabe,” aquela voz familiar soou novamente, como no sonho...aquilo tinha sido um sonho? Por
quanto tempo ela esteve desacordada? “A qualquer hora que queira acordar, seria bom pra
mim.”
Seu corpo voltou a funcionar como uma máquina reiniciada. Ela não precisou de outro aviso
para se levantar em um pulo de onde quer que estivesse deitada. Por que ela estava, só não
tinha certeza de como aconteceu. A primeira coisa que seus olhos registraram foi ele, o garoto
nos sonhos, sentado a pouca distância do do –agora que ela conseguia ver denovo, sofá- onde
ela estava em uma poltrona larga.
“Gaspard” a palavra que deixou os lábios dela saiu sem aviso prévio. E por um minuto, os frios
olhos azuis protestaram como se ela acabasse de dizer que viu um par de asas nascendo na
sua testa. “Oh, quero dizer... eu ainda estou um pouco tonta...Gás...acho que foi algum
vazamento” ela acrescentou, imediatamente se dando um tapa mental. Gás? Pelo amor de
deus, uma criança teria desculpa melhor!
Ele estreitou os olhos, mas em seguida balançou a cabeça, desviando os olhos dela como quem
espanta uma memória ruim. Aquilo por alguma razão a fez se sentir mal. Sua voz se endureceu
para a próxima pergunta. “Onde estou?”
O garoto se levantou e ela imitou o gesto, amaldiçoando mentalmente quando seus pés
ameaçaram falhar. Mas as mãos dele estavam no ombro dela antes mesmo que ela perdesse o
equilíbrio.
“Woa, calma” a voz dele não era muito mais do que um sussurro baixo.
Ela ignorou a corrente que a atingiu quando as mãos dele a tocaram ”Onde eu estou?”
“Eu sequestrei você, e esse é seu novo cativeiro.” Os olhos dela se arregalaram tanto que ela
se perguntou quanto faltava para saltarem das órbitas, as aulas de defesa pessoal da oitava
série estavam sendo arrastadas para fora do baú quando ele explodiu em uma gargalhada.
“Céus, foi uma brincadeira. Não achei que você fosse o tipo de pessoa que não reconhece uma
piada quando ela dança na sua frente”
Ela rangeu os dentes. Idiota. “Onde?”
“Bom, eu imagino que em um escritório desocupado, você não adora essa decoração? É
tão...ridícula.” Ele sorriu convencido, enquanto tirava as mãos cuidadosamente de seus
ombros. “Sinto muito. Está se sentindo melhor?”
Não, mas vou me sentir muito, muito melhor quando eu parar de olhar para você. A imagem de
sua melhor criação imaginária saindo de sua mente para o mundo real ainda a assustava, era
possível que ela simplesmente tivesse visto o garoto antes dos sonhos começarem e só aí
começou a imaginar ele com uma armadura brilhante? Talvez.
“Sim” ela baçançou a cabeça. “Acho que não devo ter comido direito essa manhã, ou talvez a
neve tenha haver com isso de alguma maneira”
“Não acho que a neve seja um problema tão grande assim” ele cruzou os braços sobre o peito
e ela revirou os olhos, levando as mãos ao próprio cabelo louro tentando arrumá-lo. Ou pelo
menos fazer com que ele não parecesse pertencer a um morto vivo. Como a neve NÃO era um
problema? As luzes piscando eram obra da fiação então? Agora ela se arrependia por não ter
ido lá fora olhar.
“As luzes piscaram,” ela disse, soando estúpidamente como uma criança tentando
argumentar.
O sorriso dele era malicioso em um tom que ela não conseguia entender. “Não creio que a
neve tenha nada haver com isso.”
“Não creio que você seja um bom eletricista pra saber.” Ela retrucou, arrumando o casaco em
sua volta e cruzando os braços sobre o peito exatamente como ele. Agora ela tinha
definitivamente voltado aos cinco anos.
Ele sorriu, dessa vez um lindo sorriso inocente esculpido por covinhas. “Não, mas sou um bom
observador, e eu sei que não está mais nevando lá fora”
Oh. Ok então.
“Então...” ela começou “Você me trouxe para cá quando eu desmaiei, foi isso?”
“Sim” ele continuava sorrindo. Obviamente não querendo dar a ela um assunto para mudar.
Por que o idiota continuava sorrindo? Estaria ele rindo da cara dela ou o que?
“E por que?”
“Por que eu não podia deixar que se recuperasse no chão e as cadeiras não me pareceram
realmente confortáveis” ele deu de ombros, se jogando novamente na poltrona. Ela
permaneceu no lugar, acompanhando as bizarras semelhanças dele não só na aparência, mas
no jeito. “Não é como se eu tivesse realmente sequestrado você, no entanto, você continua no
mesmo prédio, pode verificar se quiser.”
Aquela parte dela que discordava por simplesmente discordar, queria mesmo verificar. Mas aí
ela parecia ainda mais infantil. Além disso, por que alguém como ele precisaria sequestrar
alguém? E era meio obvio que essa sala tinha uma certa semelhança com a do dr. Fell, então
ela simplesmente engoliu as palavras. “Como se chama?”
“Interessada em me chamar?” Ela fez uma careta de desgosto e ele riu, as covinhas o tornando
extremanente infantil como uma criança, e ergueu as mãos como quem se rende. Ele era
estranho. Ela só não conseguia saber s isso era uma coisa ruim. “Hayden Threaux, a quem devo
a honra?”
Ela mordeu o lábio. É claro, o que ela esperava? Que ele se chamasse Gaspard e a convidasse
para uma volta em seu cavalo? É só uma estúpida coincidência de aparência. E jeito. E talvez
também de cheiro. NÃO que ela tivesse cheirado ele, é claro. “Amy”
Os olhos dele tinham um brilho que ela não conseguiu identificar, triste mas não era só isso,
mas ele sorriu de qualquer jeito, imitando uma reverência que fez aquela dor na cabeça dela
começar a incomodar denovo. “Amy, quer que eu te leve em casa?”
“Não!” ela exclamou antes de poder se controlar. O que tinha de errado com ela? O sorriso
dele enfraqueceu mas não saiu do rosto. Ela começou a brincar com o próprio cabelo
esperando que isso lhe desse uma luz. Não deu. “Quero dizer, não quero encomodar. Você já
fez demais por mim me trazendo até aqui. Alguns garotos me deixariam lá mesmo no chão,
então...”
“Eu nunca deixaria você.” A intensidade das palavras a vez vacilar enquanto uma voz no fundo
da cabeça dela gritava alguma coisa que ela estava muito entorpecida para ouvir. A porta.
Cadê a porta?
“Uh, eu...obrigada” A porta pareceu criar uma luz em torno de si quando ela finalmente a
localizou. Sem dizer nenhuma outra palavra, ela foi aos tropeços até a marçaneta, sem
realmente ligar para a falta de educação que aquilo pareceria. Mas o problema, é que ela
ligava.
Amy virou a cabeça para encontrar o garoto de preto com os olhos fixos nela. Ela não tinha
certeza do por que fez aquilo, ou o que dizer, então ela simplesmente engoliu em seco e
mordeu os lábios. Aquilo pareceu divertir ele por alguma razão. Mas pela primeira vez em
semanas, ela não se sentia deslocada, e isso assustava ela mais do que o fato de sua
imaginação estar saindo de sua cabeça. “Obrigada, mesmo.”
Foi tudo que ela disse antes de sair pela porta, meio andando, meio correndo, pelo corredor
largo do prédio. Se Lisa estivesse aqui, a chamaria de covarde. Quer dizer, era o garoto dos
sonhos, literalmente! Não era? Então por que o espanto sobre as sensações? Qualquer pessoa
na situação dela também ficaria espantada, aliviada. Se Lisa estivesse aqui, diria isso a ela.
Mas ela não estava. Então nada impediu Amy de continuar correndo até sair do prédio -ela
teve a breve impressão de ouvir a recepcionista perguntando-lhe se estava tudo bem, mas as
idéias na cabeça dela na hora eram tão confusas que não a deixaram responder. Ela continuou
correndo quando chegou lá fora, se amaldiçoando por ter se sentado na cadeira evitando uma
nevasca inexistente. Se eu não tivesse dado uma de mulher do tempo, eu não o teria visto. E o
pior é: ele tinha razão. A neve não estava mais caindo, haviam montes brancos de gelo por
todos os lados em todas as direções mas nenhum floco novo caindo do céu. Pelo menos isso.
É, se ela ainda tivesse alguém para contar, dizer que viu o garoto dos sonhos andando e
falando fora de sua cabeça, seria chamada de louca. Ainda bem que ela não tinha.

Já passava do meio dia quando ela cruzou os portões do cemitério local e começou a vagar
entre as lápides. Não era qualquer garota de 17 anos que considerava andar entre os que não
podiam mais fazer isso o ápice do seu domingo, mas ela não se importava, mortos ou não, aqui
era o unico lugar onde ela não se sentia sozinha.
O vento frio era cortante, e era tão forte que seu prendedor saiu voando junto com ele.
Quando ela se virou para alcançá-lo, todo seu cabelo caiu sobre o rosto, uma cortina quase tão
branca como a neve interrompendo sua visão. Merda, quem precisava dele mesmo? Ela
xingou, mas sua própria consciência a respondeu: aparentemente, você precisava. Se passaram
longos segundos até que ela conseguisse envolver todo o cabelo entre as mãos e enfiar por
baixo do capuz do casaco escuro. Melhor. As vezes sua mãe dizia que não conseguia entender
por que ela tinha nascido com aquele cabelo rebelde, quer dizer, seus pais eram ruivos, e seu
cabelo era quase branco...a pior parte é que o cabelo não era rebelde só na cor. Ela enfiou as
mãos no bolso do casaco, seguindo o caminho deserto por entre as lápides. As vezes ela se
pegava olhando para as lápides com datas mais antigas, e não conseguia se impedir de
imaginar como tinha sido a vida deles, daqueles que morreram mais jovens, e dos que
morreram apenas por idade avançada. Haviam várias criptas também, espalhadas por lados do
cemitério que ela nunca tinha andado, mas podia ver suas silhuetas ao longe cobertas pela
insistente camada de gelo. Havia uma delas que era como um mini castelo, com torres altas de
tijolos brancos e orquídeas desenhadas em uma sequência perfeita em sua lateral, bom, se era
para morrer, que fosse com estilo era o que aquela cripta gritava. Ao lado dela, uma feita
inteiramente de tijolos negros parecia como o santuário gótico da branca de neve envolto na
delicada camada branca de neve, uma outra rajada de vento cortante a lembrou seu destino, e
ela acelerou o passo virando por três corredores à esquerda repetidamente.
Um corredor inteiro com lápides de mármore trabalhado seguia em sua frente, cada uma
parecendo tão isolada quanto a outra. Não haviam flores ou pessoas em absolutamente
nenhuma delas. Bom, quase nenhuma. A ultima lápide negra do corredor era a unica que não
tinha nem mesmo um floco de neve cobrindo, o que era estranho considerando que as outras
estavam tão cobertas que mal se podia dizer onde começavam ou terminavam, e uma unica
flor branca que Amy não conseguia se lembrar o nome estava exatamente no centro dela. Amy
caminhou até a frente, subindo em cima do monumento até se deitar exatamente ao lado da
foto da pessoa que estava ali. Uma garota ruiva com grossos cachos e um sorriso gentil
estampava a foto tão alegremente que era o tipo de foto que você não queria ver em um
cemitério.
Era fácil lidar com certas coisas sozinha.
Outras, não.
“Hey Liss” Amy murmurrou para o vazio enquanto seus dedos encontravam as palavras
‘Elisabeth Westenberg’ em um dourado berrante pouco abaixo de sua cintura “Você não vai
acreditar no que eu tenho pra te contar.”
Ela sorriu, fechando os olhos. E pela segunda vez no dia, não se sentiu deslocada.
O3 – Outsider
Amy andava o mais rápido que podia pelos corredores, mas a cada passo que dava, a sala
parecia mais longe. Ela já o tinha ouvido chamá-la, Steve, o garoto grudento. E ela tinha
certeza mesmo sem olhar que ele estava correndo pela multidão agora para alcançá-la, se ele
chegasse mais perto, ela não poderia mais fingir que não estava ouvindo.
A pior parte de não querer ninguém perto de você, é que isso parece atrair mais ainda as
pessoas, como um alvo enorme escrito “coitadinha” na testa. E só sendo MUITO coitadinha
que ela realmente aceitaria o ombro DELE para chorar. Ele sempre estava atrás dela, era
incrível que quanto mais patadas ela dava, mais ele não se tocava.
Certo estava quem disse que homem é igual cavalo. Quando cisma com você, não tem chicote
que afaste.
“Amy! Ei Amy!” agora ele parecia a poucos passos de distância, merda. Ela parou de andar, pra
que prolongar se a tortura ia chegar de todo jeito? E girou o corpo na direção da voz –Só para
ser empurrada para a frente denovo quando braços envolveram sua cintura e a giraram para o
lado oposto novamente.
“Encontrei você” Aquela conhecida voz aveludada sussurrou um pouco alto demais para ser
algo realmente pessoal, em seguida ele bufou. “Atirado”
E ao que parece, ele foi ouvido. Steve passou direto por eles como se ela nem estivesse
lá...graças a todos os santos! E graças a seu príncipe dos sonhos. Ela ergueu a cabeça apenas
para ver aquele sorriso debochado estampado em um rosto inocente, os olhos azuis eram tão
divertidos que ela soube imediatamente que o ato foi calculado. Ela riu.
“Salvando a mesma donzela em perigo em dois dias seguidos” ele disse sorrindo enquanto
largava sua cintura lentamente, ela mordeu os lábios para não deixar que alguma besteira
como ‘largando por que? Ficam perfeitas aí’ saísse deles sem sua permissão, e continuou
andando ao lado dele “Vou começar a cobrar.”
Agora ela riu um pouco mais alto “Não pedi pra me salvar, esqueceu esse pequeno fato”
“Não, mas todo bom cavalheiro não precisa ser chamado”
“Ok, então onde você estava quando eu precisei abrir o pote de maionese hoje de manhã?”
Ele gargalhou, o som tão familiar que fez o sorriso dela diminuir, ela franziu as sobrancelhas
parando bruscamente de andar, ele parou também, os olhos azuis a observando
furtivamente.“Aliás, o que diabos você está fazendo aqui?”
“Além de protegendo você de machos no cio?” ela revirou os olhos e o sorriso dele aumentou
enquanto ele gentilmente colocou uma das mãos nas costas dela fazendo-a continuar a andar.
O toque, mesmo que breve formou um nó em sua garganta e arrepios por toda sua pele que
ela agradeceu por ele não perceber. É, isso ia ser bem complicado.“Estudo aqui, princesa”
Aí, tá vendo? ele fez denovo. Acabou com todas as chances de ela imaginar ele com um
indivíduo real e que não existia só na sua imaginação. Com tanto jeito brega de chamar uma
mulher no mundo, por que esse? Mas, novamente, que prova ela tinha que não tinha ficado
completamente louca sem perceber e só estava imaginando ele aqui? Difícil dizer. Dessa vez
ela não notou que tinha parado de andar até que ele tocasse seu braço com um olhar
interrogativo, é, ele cutucou. Isso devia servir de prova contra a teoria da imaginação. “Tudo
bem com você?” ele indagou, parecendo realmente preocupado, para seu crédito.
“Claro, é só...” Que tenho fantasias onde sou casada com você. Espera, ele estuda aqui!. Seria
possível que ela o tinha visto antes e não notado –Claro, cegueira é um caso comum, ou
quase– e foi aí que os sonhos começaram? Uma chama de sanidade brilhou no fundo de uma
mente perturbada “Eu não me lembro de ter te visto antes. A quanto tempo estuda aqui?”
Ele sorriu, e de algum jeito, ela previu que a resposta seria o balde de água fria que apagaria a
chama “Duas horas, se contar com o tempo que eu tentei achar vaga no estacionamento”
Aí. Precisava apagar a chama e jogar terra em cima?
“Tá tirando uma com a minha cara?” ela bufou.
“Na verdade sim” ele deu de ombros “Eu não tenho um carro.”
Amy revirou os olhos, um sorriso inesperado apareceu no rosto dela antes que ela continuasse
andando em direção à sala de Inglês. Ele não disse mais nada, mas ela ainda podia sentir
levemente o cheiro de chocolate e menta dele, o que deu a ela certeza de que ele ainda a
estava seguindo. “Hayden Threaux...soa um pouco inglês” ela observou, no segundo seguinte
ele estava do lado dela denovo, como se fosse exatamente o que ele estava esperando: que
ela falasse. Eles viraram o corredor, subindo as escadas lentamente enquanto ele pensava.
“Afinal, estamos na Inglaterra,” ele por fim deu de ombros “O que esperava?”
Ela levou um segundo a mais do que necessário para mudar de degrau “O sobrenome soa, o
seu nome parece ser de algum prostituto de Nova York” ele levou uma mão ao peito fazendo
uma dramática cena de ‘eu estou ofendido’, porém seus olhos ainda eram divertidos, o que
mostrava que ele se ofenderia mais se ela tivesse lhe dado um soco no estômago, NÃO que ela
fosse fazer isso. “Ofendido?”
“Eu supero” eles chegaram ao fim das escadas agora, onde provavelmente teriam que ir por
caminhos diferentes...novatos sempre pegavam Artes como primeira aula. Algum jeito bizarro
da diretoria de fazer eles parecerem legais. O que aliás, nunca funcionava. “Porém, devo
acrescentar, um prostituto de Las Vegas teria o glamour mais adequado para usar meu nome”
Ela riu, revirando os olhos “Devo concluir que o prostituto de Las Vegas seria você?”
“Talvez” o maior dos sorrisos cínicos apareceu no rosto dele “Com o pagamento certo”
“E estando na cidade certa” ela lembrou “Sem ofensas, gogoboy, mas está do outro lado do
oceano”
“Talvez eu seja um nadador muito bom” ele lhe deu um leve empurrãozinho com o ombro, e
ela lançou a ele um olhar com o canto do olho antes de balançar a cabeça. “Ou talvez eu
devesse me tocar que entretenimento definitivamente não é meu ramo”
Ela riu. Concordando com a cabeça. Nunca foi, realmente. O pensamento lhe surgiu tão rápido
quanto a pontada que o seguiu fazendo o equilíbrio dela sofrer um atentado. Um choque
elétrico anunciou que Hayden a segurava pelo braço antes mesmo que ela avançasse um
centímetro em direção ao chão, ela não podia ver, mas podia sentir o olhar preocupado que
ele estava lhe dando, e tratou de recuperar o equilíbrio, se livrando do breve apoio dele em
seguida. “Você deveria –“
Ir para casa? Nunca. Todos diziam isso a ela o tempo todo, que ela devia tirar férias, ela já
tinha aprendido a reconhecer pelo tom das pessoas quando eles iam lhe dizer isso, por isso o
interrompeu na metade da frase “Eu estou bem.”
Amy desviou novamente quando Hayden fez a menção de tocá-la novamente “Huh –acho que
te vejo por aí”
Ela não esperou a resposta, antes que ele sequer tivesse a chance de escutar direito –ou de
responder –ela já estava no fim do corredor não tendo a mínima idéia de como foi parar lá tão
rápido, mas assim que ela entrou na sala e foi ocupar a unica mesa vazia –que aliás, deveria ser
ocupada por duas pessoas, mas com o tempo ela conseguiu evitar que qualquer um se
sentasse com ela –no fundo da sala, se sentiu dez vezes pior.
Agora o que eram pontadas, se transformaram em verdadeiras facas atravessando sua cabeça
com vozes altas gritando pra ela que só existiam lá: na sua cabeça. Amy levou as duas mãos
para os ouvidos, abaixando a cabeça como se pudesse fazer os sons desaparecerem. O que foi
tão útil quanto usar papel alumínio como guarda-sol. As vozes só aumentaram e agora todas
as vezes que ela tentava abrir os olhos, flashes de luz a obrigavam a fechá-los denovo. O que
tinha de errado?

“Você é minha”

“Não consegue sentir esse cheiro? É o cheiro de quando se é derrotado por uma garota,
Gaspard”

“Queime a bruxa!”

Pare! Pare! Pare!


Um toque cobriu sua mão direita, e de uma só vez, as vozes pararam. Pararam como se nunca
tivessem estado lá. A dor desapareceu no mesmo instante, a deixando mais tonta ainda com a
velocidade. A mão se fechou em volta da dela, mandando sensações de calor e frio por todo
seu corpo, e ela forçou seus olhos a se abrirem. A primeira coisa que ela notou foram Jeans
escuros ocupando a normalmente vazia cadeira paralela a ela, e então sua cabeça se ergueu
aos poucos, encontrando os cabelos negros e bagunçados de Hayden cobrindo os olhos azuis
enquanto ele levemente afastava a mão dela do ouvido, largando-a delicadamente em
seguida.
Ela respirou fundo, tentando entender por que exatamente tinham lágrimas em seus olhos
para serem contidas, a dor teria sido tão forte? Confusão, curiosidade, e um estranho tipo de
alegria a atingiram ao mesmo tempo quando ela olhava para ele. A expressão dele era tão
vazia quanto se podia ser, e algo nela, de algum jeito, lhe tranquilizava. Vários minutos se
passaram antes que ela pudesse obrigar sua boca a se abrir, e foi só quando o professor bateu
a porta que ambos desviaram os olhos um do outro.
“O que faz aqui? Sua primeira aula deveria ser artes” ela murmurrou por debaixo da
respiração. Hayden se inclinou para trás na cadeira, dando de ombros, enquanto sr. Donald, o
cara baixinho e gordinho com os cabelos grisalhos que ensinava inglês, fixava seus olhos
redondos em Hayden pela primeira vez.
“Ora, parece que temos um novo aluno” ele disse com animação exagerada “Qual o seu nome,
rapaz?”
Amy não olhou para ele, mas pode sentir o sorriso em sua voz quando ele falou “Hayden G.
Threaux”
Foi só a voz dele preencher o ar, que cerca de 95% do público feminino da sala virou para
encará-lo, cada uma delas com um olhar mais interessado que o outro, era quase nojento,
como um bando de vira-latas apreciando a bisteca na vitrine do açougue. Vadias. Amy xingou
enquanto mordia a língua para não ser aquela que realmente latiria alguma coisa. Por alguma
razão, ela se encontrou imaginando uma morte dolorosa para cada uma das garotas,
especialmente para Christina Dyn, a loura na primeira fila que aparentemente considerava que
roupas íntimas deveriam aparecer mais do que o resto de seu figurino. E por outra razão que
ela também não conseguiu explicar, sentiu a necessidade de olhar para Hayden para ver qual
dos olhares ele correspondia. E se deu um tapa mental por isso.
“Ah, mas é claro!” o professor exclamou “li seu relatório na diretoria hoje de manhã, devo
dizer, impressionante! Como conseguiu tantas atividades extra-curriculares?”
Amy miraculosamente tinha conseguido manter seus olhos nas próprias mãos. Que diferença
fazia que ele recebesse tantos olhares? Ele era um garoto bonito. Mais que isso, ele era
deslumbrante. Além disso, ela não sabia nada sobre o garoto. Pelo menos nada real.
“Muito tempo livre” ele disse por fim, e ela podia jurar, algumas garotas suspiraram. Que
ridículo.
“Impressionante” a animação na voz do sr. Donald era quase grande demais para ser posta em
palavras, como se alguém tivesse acabado de dar a uma criança um brinquedo novo “em quais
atividades pretende dar continuidade aqui?”
Amy inclinou a cabeça levemente para o lado, o suficiênte para descobrir que o olhar que o
garoto de olhos azuis retornava, era o dela própria. “Não” ele disse, por um segundo ela tinha
esquecido que havia uma pergunta para se responder “Nenhuma, quero dizer. Aparentemente
meu tempo livre foi extinto”
Ele sorriu, e o professor deu de ombros e se voltou para a própria mesa “Uma lástima. Tenho
certeza que sua determinação iria incentivar alguns outros alunos” e principalmente as alunas,
mas ele era legal demais para dizer que dava aula em um centro de vadias, Amy pensou.

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