Matrícula: 218081120
1 - Em termos de Dinâmica de Grupo, quais são as principais dificuldades que escolas públicas
enfrentam, no Brasil? (Considerar o conceito de atmosfera grupal). Quais são as principais
características do ambiente escolar, das salas de aula e das relações entre os atores da escola em
termos da atmosfera grupal? (autocrática, democrática, laissez-faire)
É de conhecimento geral que o Brasil é considerado um país com alto índice de violência, questionar
isso é necessário para que possamos entender a verdadeira história dessa terra e o que ela nos deixou.
As instituições públicas brasileiras apresentam falhas estruturais que se perpetuam e devem ser
analisadas, um exemplo disso é o ambiente educacional, onde crianças e jovens passam a maior parte
do tempo aprendendo e socializando. As realidades sociais são multidimensionais e não devem ser
desvalidadas em nenhum contexto, pois é através delas que compreendemos que o campo social é um
instrumento crucial para a análise da vida em grupo. Atualmente, o ensino público é o reflexo do
descaso e sucateamento que transformam um ambiente que deveria ser proveitoso e saudável em um
espaço desgastado, sem recursos e alarmante. Quando localizadas em áreas periféricas onde a
violência é ainda mais presente, a preocupação com o que as escolas estão enfrentando dobra de
tamanho, escancarando o que a falta de políticas públicas causa na vida cotidiana da população,
principalmente na dos mais pobres.
Pensar dinâmica de grupo é pensar em possibilidades que englobam a subjetividade de cada indivíduo
e dentro da dinâmica existem conceitos fundamentais que nos proporcionam enxergar amplamente o
problema em questão. A atmosfera grupal nos atenta aos sentimentos e ânimos de um determinado
grupo, onde o ambiente e o sentimento de pertencimento (ou a falta dele) são capazes de influenciar
positivamente ou não. Em uma sala de aula, deve-se observar o comportamento de alunos e
profissionais, se estão satisfeitos com o que lhes é ofertado ou se existe uma lacuna que impede o
processo de evolução e a produtividade . Criar um bom ambiente é explorar o que há de diferente e
melhor em cada pessoa presente naquele espaço e por vezes, essa não é a realidade. É desanimador ter
que lidar com a falta de recursos básicos como água e merenda e ainda sim, conseguir trazer coisas
novas para uma turma onde os próprios alunos já se veem sem grandes expectativas.
O sistema educacional brasileiro é baseado dentro de um padrão autocrático, onde existe uma espécie
de autoridade em sala (o professor) e os alunos sentam enfileirados, respondem a chamada de
presença em ordem alfabética, pedem autorização para ir ao banheiro ou até mesmo beber água e
devem ser disciplinados e ensinados para realizar provas e atividades que serão devolvidas com notas
que decidem se eles estão aptos de avançar com a turma no ano seguinte ou se precisarão repetir o
mesmo ano. Na contramão disso, o laissez-faire é um modelo onde o grupo fica à deriva de seus
próprios movimentos, ou seja, por conta própria e aderir a isso sem um planejamento seria agravar
uma situação que já é crítica pois entende-se que a organização é fundamental para alcançar bons
resultados em um grupo. No documentário, a escola em destaque tenta fugir um pouco da
padronização familiar de ensino e mostra ter uma aprovação por parte dos alunos que passam a se
sentir mais em casa nesse espaço, o que é um bom sinal, visto que o ambiente quando começa a tomar
formas democráticas consegue ter muito mais produtividade e rendimento para os alunos e uma maior
proximidade dos pais e da comunidade com a escola, onde todos são devidamente escutados sobre
suas necessidades e trabalham em conjunto com objetivos similares.
2 - Como esses fatores de Dinâmica de Grupo ajudam a explicar as dificuldades enfrentadas pelas
escolas descritas no documentário, incluindo a relação com as comunidades e o fenômeno da
violência?
A presença da dinâmica de grupo nas escolas têm sua importância ressaltada nos aspectos mais
significativos. No documentário, conseguimos ver duas realidades: a primeira, revela um ambiente
hostil onde a violência encontra brechas para se inserir, visto que a vida dos alunos fora dali não se
diferenciava tanto da negligência daquele espaço e isso ocasionava que até mesmo os profissionais
sofressem com as alterações de humor, a rispidez e os comportamentos agressivos por parte dos
estudantes. Junto a isso, a forma como os conteúdos são repassados em sala é um forte ponto quando
se trata da falta de interesse pelas disciplinas, pois deve-se considerar que as formas de aprender,
desenvolver e mostrar esse aprendizado são singulares e devem ser incitadas de maneira criativa. A
segunda realidade mostra como a mudança de ambiente e de práticas feita pela equipe de profissionais
foi positiva para todos os pertencentes do lugar, tanto para os membros da escola quanto para os
moradores da comunidade. Propor projetos de escuta para as famílias que sofrem com a violência
doméstica visando entender melhor aquelas vivências, criar eventos participativos e incluir atividades
ligadas à arte torna o lugar mais amistoso e aconchegante, trazendo uma sensação de segurança que
antes não se tinha e estimulando nos alunos a vontade de frequentar esse espaço como uma forma de
escapar da própria realidade.
3 - Que intervenções envolvendo grupos foram feitas, nessas escolas, para transformação da dinâmica
institucional e comunitária? Uma(um) psicóloga(o) poderia ter facilitado esse processo? Se sim,
como?
As propostas apresentadas pela escola foram: comunidade presente, parceiros do futuro e jovem
protagonista. Ademais, também foram incluídos atividades esportivas, aulas de informática e
formação de coral. Para inserir a comunidade de maneira efetiva, a escola decide abrir aos sábados e
domingos, proporcionando um maior engajamento dos pais e moradores nas dinâmicas e na ajuda da
constituição dos sujeitos em formação. Um exemplo disso é o “comunidade presente”, onde o corpo
docente faz daquele espaço até então escolar, um lugar também de acolhimento para mostrar quão
importante é se dedicar e cuidar dos ambientes que frequentamos.
Apesar dos inúmeros avanços conquistados, é inegável a falta de um profissional de psicologia para
atendimento com os frequentadores do local: alunos, profissionais, pais e comunidade. Existem
muitas feridas para serem tratadas de forma qualificada e competente, visto que a vida periférica é
majoritariamente marcada por estereótipos, feridas existenciais, negligência estatal e apagamentos. A
escuta atenta que essas pessoas precisam está em um serviço que dificilmente elas teriam acesso e
condições de bancar, portanto, cabe ao Estado garantir a presença de um psicólogo que supra essas
necessidades e trabalhe em conjunto com a escola a fim de ser um amparo para essas pessoas.
4 - Como agiram, nessa intervenção, os vetores do processo grupal? (tais como descritos na
abordagem dos Grupos Operativos)
Dentro da psicologia, entende-se que estar inserido em um grupo é fazer parte de um processo
conflituoso e plural. Para Pichon-Rivière, psicanalista argentino, aprender em grupo manifesta
criatividade diante das diferentes realidades e uma abertura para novas inquietações, onde
conseguimos encaixar o que ele denominava como grupos operativos e seus vetores: afiliação,
cooperação, pertinência, comunicação, aprendizagem e tele.
A afiliação se dá pela sensação de fazer parte do grupo e mostrar o grau de identificação entre os
integrantes e as tarefas. No documentário, isso é identificado no processo de mudança do
funcionamento do ambiente escolar, onde os alunos passam a olhar uns pros outros com mais atenção
e para as tarefas com mais agrado. Já a cooperação, refere-se às trocas entre os participantes, aquilo
que cada um oferta ao grupo além das tarefas propostas e ao sentimento de empatia que é a
capacidade de se colocar no lugar do outro, como o exemplo do morador da comunidade que admirou
o esforço dos profissionais na criação de projetos e passou a se envolver com a instituição por
oferecer dar aulas de futebol para os alunos que quisessem participar de atividades esportivas.
A pertinência diz respeito ao centramento da tarefa, isto é, analisar se ela está sendo ou não cumprida
e entender que pode ocorrer oscilações implícitas ou explícitas nas equipes, nesse caso é possível
encaixar o papel do professor, onde ele é responsável por auxiliar os alunos mas também compreender
os diversos fatores que podem ocasionar o atraso ou o não cumprimento das tarefas. O vetor
considerado mais importante é a comunicação, ela é vista como um privilégio por ser capaz de
expressar todas as questões do grupo, principalmente as dificuldades. Diante dessa afirmação, é de
extrema importância os alunos e moradores da comunidade se sentirem confortáveis para falar sobre
seus questionamentos e vivências, pois possibilita que eles e os profissionais trabalhem em conjunto
para tornar esses cotidianos menos maçantes.
Ligada à comunicação, a aprendizagem vem para entender as fragmentações e soluções que causariam
o rompimento de estereótipos prejudiciais ao grupo, como por exemplo, afirmar que em regiões
periféricas só tem violência, vandalismo e bandidagem, quando na verdade existem muitas realidades
que se diferem e se destacam por ir na contramão desses estigmas sociais. Por fim, o tele é o vetor que
analisa o clima afetivo e a fluidez do grupo, podendo ser positivo ou negativo. No início do
documentário, é mostrado quão pesado o espaço pode ser na vida dos
alunos-comunidade-profissionais se for explorado de maneira repulsiva, mas também mostra como a
instituição é capaz de abraçar e criar soluções que tornem a existência dessas pessoas mais
esperançosa e saudável.
5 - Quais eram as tarefas explícitas e implícitas das escolas? (conceitos de tarefa explícita e implícita
segundo a teoria dos Grupos Operativos)
A tarefa explícita é aquilo que vemos e que se manifesta, onde se promove mudanças. No
documentário essa tarefa se apresenta através da transformação que a equipe da escola realizou
naquele ambiente, tanto na estrutura quanto nas práticas aplicadas. A criação de projetos, atividades e
atrativos para se obter uma maior aproximação de alunos, pais e comunidade foi um desafio que teve
bons resultados, visto que todos saíram beneficiados com essa organização e dedicação.
6 - A tarefa implícita envolve enfrentar os medos básicos de perda e ataque e questionar estereótipos
sociais, gerando práticas de transformação social. No caso das escolas descritas, quais estereótipos
foram questionados e que tipos de processos de transformação social foram iniciados?
Para entender os medos básicos e questionar os estereótipos sociais, é preciso pensar no coletivo e em
sua relação. O documentário apresenta uma situação que por anos se repete e se intensifica no Brasil:
a generalização das comunidades e a banalização do ensino público.
O medo da mudança e do desconhecido é comum, visto que não se sabe o que virá depois. Analisando
o vídeo, podemos ver no início uma espécie de resistência por parte dos alunos e da comunidade
quando a escola decidiu pôr em prática algumas mudanças e só no meio do processo que começaram a
entender e ajudar para que aquelas propostas funcionassem. Os profissionais envolvidos precisaram
enxergar aquele espaço além dos estereótipos, da violência marcante e do medo. Apostaram em
intervenções e aos poucos, foram conquistando pequenas vitórias que aproximavam aquelas
realidades com o intuito de acolhê-las. Abrir espaço para o desconhecido não é tão simples quanto
parece, principalmente quando sua vida é vista de uma maneira genérica e agressiva, como se você
não tivesse direito a ter bons espaços e oportunidades por viver nas mazelas onde o Estado te jogou.
Ser discriminado por sua condição socioeconômica e raça é uma realidade no Brasil. Favelado,
bandido, perigoso, sem futuro e sem valor, são uns dos muitos adjetivos que crianças, jovens e adultos
periféricos ouvem a vida inteira. Por isso, para muitos a escola é só mais um lugar visto como hostil.
O envolvimento dos pais com a escola, despertou nos alunos um sentimento de pertença e segurança,
onde o estudo deixa de ser visto como uma obrigação e passa a ser visto como uma oportunidade para
além daqueles muros e daquela comunidade.