Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo efetuar uma avaliação neuropsicológica da
aritmética, ramo da matemática, em alunos de segunda série do nordeste brasileiro. A importância disto
reside no fato de que esta disciplina é reiteradamente considerada como “uma matéria difícil”, apesar de
fundamental para a formação do indivíduo. A partir de uma amostra de conveniência constituída por 61
alunos de segunda série de escolas públicas do estado de Sergipe, pode-se concluir que os mesmos
apresentaram uma pontuação que indica dificuldades nas questões da Prova de Aritmética (CAPOVILLA,
MONTIEL, CAPOVILLA, 2006). De acordo com as comparações entre meninos e meninas não se
verificaram diferenças estatisticamente significativas na aritmética. Estes resultados são discutidos a luz
de pesquisas empíricas na área.
Abstract: The current research had as the objective to effect a neuropsychology assessment
of the arithmetic, section of the mathematics, among students of the second grade from the brazilian’s
northeast. The significance of this is on the fact that this subject is considerated “a difficult subject”,
despite being fundamental to the formation of the person. From a sample of suitability constituted by 61
second grade’s students of the publics school on the state of Sergipe, can be concluded that the same
presented a score that indicates difficulties on the questions of the Arithmetic’s Test (CAPOVILLA,
MONTIEL, CAPOVILLA, 2006). In accordance with the comparisons between boys and girls have not
checked differences statistically significants on the arithmeric. This results are discussed to the light of
empirical researches.
1
Professor do Curso de Psicologia da Universidade Tiradentes.
2
Aluno da Pós-Graduação em Psicologia Social, das Organizações e do Trabalho da Universidade de Brasília. Endereço
eletrônico: kdu1976@gmail.com
3
Aluno do 4º período do Curso de Psicologia da Universidade Tiradentes.
1988). Ela faz parte da matemática, ciência que é que os registros mais antigos de distúrbios
mais geral e envolve, além da aritmética, outras aritméticos datam por volta do ano de 1800. Esses
áreas como álgebra, geometria e trigonometria. A registros envolveram pacientes adultos que
Aritmética, portanto, se define como um ramo da sofreram danos cerebrais que primeiramente
matemática que trata de determinadas operações afetaram funções de linguagem, mas que também
sobre numerais, como a adição, a subtração, a apresentaram sérias perdas ou deterioração da
multiplicação e a divisão. habilidade de cálculo.
De acordo com Raad (2005), a origem Conforme revisão feita por Pineda e
do número perece ter surgido da necessidade que o Ardila (1991), a primeira descrição de alterações
homem tem de contar, visto que os seres humanos específicas de cálculo observadas após dano
na idade antiga intuitivamente usavam técnicas de cerebral foi realizada em 1920, por Henschen.
contagem em que registravam a quantidade de Vinte anos mais tarde, Gerstmann (1940)
animais que tinham por meio de, por exemplo, descreveu a síndrome que levou seu nome, e que
empilhamento de pedras. Pode-se notar que, se caracteriza pela presença da agrafia, agnosia
usando das faculdades que lhes eram peculiares, digital, confusão direita-esquerda e acalculia. Em
faziam associações em que, a cada objeto, era 1926, Berger distinguiu pela primeira vez as
atribuído um outro diferente, até que um desses se desordens primárias em cálculo (chamadas de
esgotasse. acalculia primária) das acalculias derivadas de
Dominar o conceito de número implica outros distúrbios cognitivos (chamadas de
a posse de dois atributos. O primeiro é uma acalculias secundárias). Em 1961, Hécaen e
“familiaridade” com números e a habilidade de colaboradores (apud PINEDA, ARDILA, 1991)
fazer uso de habilidades aritméticas, capacitando o denominaram a acalculia primária como anarritmia
indivíduo a enfrentar as demandas aritméticas e reconheceram dois tipos de acalculia secundária;
práticas de sua vida cotidiana. O segundo é a uma delas associada com a incapacidade para ler e
habilidade de ter alguma apreciação e escrever números (acalculia afásica, aléxica e
compreensão das informações que são agráfica) e a outra relacionada com a perda da
apresentadas em termos matemáticos, por ordem e da posição dos números (acalculia
exemplo, em gráficos, mapas e tabelas ou por espacial).
referencia a aumento ou redução de porcentagem Distúrbios aritméticos específicos em
(COCHEROEFT, 1982, apud VASCONCELOS, crianças, de origem desenvolvimental em vez de
FALCÃO, 2005). Segundo Vasconcelos e Falcão adquirida, não têm recebido muita atenção
(2005), a expressão máxima da atividade investigadora, havendo uma descrição clínica
aritmética é a resolução de problemas, que exige antiga de um distúrbio aritmético na infância
procedimentos seqüenciais e simultâneos, como publicada nos anos de 1930. Desde aquela época,
por exemplo, compreensão do enunciado, estudos de caso e estudos retrospectivos têm
levantamento da hipótese, utilização de estratégias, dominado a escassa literatura nessa área
organização e ordenamento dos procedimentos, (NOVICK, ARNOLD, 1988). Segundo Wechsler
planejamento da ação, monitoramento da ação, (1981), deve ser considerado que problemas com
manutenção da atenção e da atitude cognitiva, e aritmética em crianças podem refletir uma
verificação e compreensão dos resultados obtidos. variedade de distúrbios, tais como um distúrbio
global (por exemplo, inteligência rebaixada), um
Distúrbios da aritmética distúrbio específico (por exemplo, distúrbio
visoespacial ou lingüístico), ou um verdadeiro
No contexto neuropsicológico, os distúrbio em aritmética. Na neuropsicologia, os
distúrbios aritméticos adquiridos são chamados de três quadros de acalculia também são aplicados às
acalculia (NOVICK, ARNOLD, 1988) que, crianças, sendo chamados de discalculia quando
segundo Pineda e Ardila (1991), refere-se a uma correspondem a distúrbios do desenvolvimento.
alteração tanto no manejo dos números como nas
realizações de operações aritméticas conseqüentes
a dano cerebral. Novick e Arnold (1988), afirmam
4
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008
_____Psicologia &m foco
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008
protagonismo neste campo sustentado na hipótese SHERMAN, 1977, 1978). No entanto, as jovens
de que as atitudes, as crenças e as emoções participantes na pesquisa declararam que a
influenciam quer o sucesso, ou o baixo rendimento matemática era mais apropriada para os homens
e fracasso na aprendizagem da matemática. que para as mulheres. Estes dados recolhidos na
McLeod (1992) e Koehler e Grouws (1992) população jovem, a sua influência e o seu impacto
defendem, com dados das suas investigações, o diferencial nas mulheres e nos homens, foram
papel prioritário da dimensão afetiva no ensino da confirmados posteriormente (LEDER, 1992;
matemática. São inquestionáveis os insucessos SILVA, 2005).
escolares nos mais variados níveis instrutivos Willis (1995) e Fullarton (1993), entre
alocados à matemática. Entre as diversas variáveis outros autores, afirmam que esta atitude negativa
que influenciam esse insucesso encontram-se as das mulheres perante a aprendizagem da
atitudes negativas dos alunos em face desta área de matemática contribui para o seu menor
estudo. Watt (2000), por exemplo, realizou um investimento e sucesso nas disciplinas que
estudo que tinha como principal objetivo conhecer impliquem a mestria de conteúdos matemáticos.
a relação entre as atitudes e o rendimento Mais recentemente, Schmader, Johns e Barquissau
acadêmico na área da matemática, investigando de (2004) analisaram a variabilidade individual na
que modo esta se encontra influenciada pelos anos representação dos estereótipos de gênero nas
de escolaridade dos indivíduos. Os seus resultados competências para a matemática, concluindo que
foram consistentes com estudos anteriores, uma percentagem significativa de mulheres
assinalando uma mudança de atitudes face à assume a idéia de que os homens são superiores na
matemática ao longo da escolaridade; isto é, à matemática. Não obstante, nem todos os dados da
medida que se avança na escolaridade observam-se literatura apontam a favor da hipótese da
atitudes mais negativas face à aprendizagem dos “matemática como um domínio masculino”. Por
conhecimentos matemáticos, assim como uma exemplo, Forgasz (2000) realizou uma revisão
tendência para a ascendência masculina neste extensa para tentar contrastar a hipótese das
domínio (PIENDA et al., 2006). supostas diferenças de gênero a favor dos homens
Visão esta que difere da deste autor na aprendizagem da matemática. Os seus dados,
que considera os dados mais consistentes com estudantes australianos, revelaram que os
encontrados na literatura refere à diferença na rapazes consideravam a matemática mais difícil do
atitude face à matemática em função do gênero que as mulheres, necessitando, inclusive, de ajuda
(PIENDA et al., 2006). Nos primeiros estudos adicional para superar os problemas propostos
realizados por Fennema e Sherman (1977; 1978) (PIENDA, 2006).
foram relatadas diferenças entre sexos relacionadas Além disso, as mulheres interessavam-
com o sucesso na matemática. Estas investigadoras se e apreciavam mais a matemática do que os
analisaram a relação entre variáveis afetivas ou rapazes. Estes resultados parecem, claramente,
atitudinais e as crenças em face deste domínio de desafiar a hipótese da matemática como um
aprendizagem, a percepção da utilidade dos domínio masculino. Neste mesmo sentido,
conhecimentos matemáticos e a confiança dos Kloosterman et al. (2001) realizaram uma pesquisa
alunos na sua competência para estas comparando as percepções de estudantes do
aprendizagens. Os seus dados sugerem que os Secundário e da Universidade sobre a relação entre
homens mostram mais confiança face às tarefas gênero, aprendizagem e rendimento na
escolares relacionadas com a matemática e matemática. Estes autores concluíram que os
acreditam que esta disciplina tem mais utilidade grupos de estudantes, de zonas rurais e urbanas,
para eles do que para elas. Outros dados referem acreditavam que, em geral, o desempenho na
que os rapazes não sugerem qualquer estereótipo matemática não se resumia a uma questão de
face à matemática como pertencendo a um gênero. As mulheres defendiam, inclusivamente,
“domínio masculino” (e.g., um pensamento do esta posição com mais firmeza do que os homens.
tipo: “matemática é coisa de homens”, “para ter Estes autores concluíram que os alunos e alunas
sucesso em matemática é preciso nascer homem” gostam identicamente da matemática, não se
etc.) (FENNEMA, 1993; FENNEMA, diferenciando relativamente à sua crença no que
6
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008
_____Psicologia &m foco
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008
8
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008
_____Psicologia &m foco
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008
9
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008
_____Psicologia &m foco
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008
11
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008
_____Psicologia &m foco
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008
Proporção de
Tipos de Problema homens para
mulheres
Transtorno de Conduta, incluindo delinqüência 5:1
Ansiedade e depressão na pré-adolescência 1:1
Ansiedade e depressão na adolescência 1:2
Transtorno de Défict de Atenção e Hiperatividade (TDAH) 3:1
Número estimado de crianças com todos os diagnósticos 2:1
atendidos em clínicas psiquiátricas
Retardo Mental 3:2
Incapacidade de Aprendizagem 3:1
Cegueira ou problemas visuais significativos 1:1
Prejuízo auditivo 5:4
Quadro I: Proporção de transtornos de aprendizagem em homens e mulheres (adaptado de BEE, 2003).
Tabela 2. Teste t com amostras independentes para comparação de médias entre os sexos.
Sexo N Média DP T df P
Masculino 32 26,30 6,74 1,015 58,940 0,314
Feminino 29 24,17 5,66
Tabela 3. Teste t com uma única amostra para médias dos participantes no Teste de
Aritmética.
Questões Médias DP t P
1b 2,82 1,73 12,818 0,000
2b 2,08 1,42 11,564 0,000
3 3,98 0,13 247,000 0,000
4 6,35 4,44 11,271 0,000
5 5,31 4,08 10,232 0,000
6ª 0,44 0,49 7,017 0,000
6b 0,26 0,44 4,695 0,000
6c 0,09 0,30 2,601 0,012
13
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008