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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professora: Ana Carolina Mrad

RESENHA DESCRITIVA E RESENHA CRÍTICA

Resenha descritiva
A resenha descritiva – também chamada de resenha-resumo - tem a função de resumir um texto apontando
todos os aspectos relevantes do mesmo e enumerando as posições defendidas pelo autor. Para tanto é
necessário que se observem alguns aspectos como:
1) Qual o assunto tratado no texto?
2) Quais os pontos ou problematização levantados pelo autor?

É importante ressaltar que na resenha descritiva o objetivo é apenas resumir conforme as posições do autor, ou
seja, não se deve tomar partido de nenhuma crítica ou apontar opiniões que não estejam de acordo com o
original.

Resenha crítica
A resenha crítica, assim como a descritiva, também apresenta o assunto sobre o qual o texto resenhado trata.
No entanto, essa não se detém apenas em traçar uma descrição, mas busca tecer uma crítica, uma opinião
acerca de pontos abordados no texto original. Percebe-se, assim, que a diferença entre uma resenha descritiva e
uma resenha crítica está no fato de aquela apenas informar sobre algum assunto e essa tecer uma crítica acerca
do que for relevante no texto.
Pode-se levantar alguns questionamentos a serem feitos quando o objetivo é escrever uma resenha crítica:
1) Qual o tema tratado pelo autor?
2) Qual o problema que ele coloca?
3) Qual a posição defendida pelo autor com relação a este problema?
4) Quais os argumentos centrais e complementares utilizados pelo autor para defender sua posição?

Uma resenha crítica, além dos questionamentos apontados acima, deve conter ainda alguns outros tópicos a
serem desenvolvidos no texto, como:
1) Informações sobre o autor, suas outras obras e sua relação com outros autores;
2) elementos para contribuir para um debate acerca do tema em questão;
3) condições de escrever um texto coerente e com organicidade

A resenha crítica deve conter uma síntese, um resumo do texto resenhado, com a apresentação das principais
ideias do autor, além de uma análise aprofundada de pelo menos um ponto relevante do texto, escolhido pelo
resenhista. É importante também que a resenha apresente um julgamento do texto, feito a partir da análise
empreendida.

Resenha descritiva
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. Loyola, São Paulo, 1999.

Marcos Bagno, autor de "Preconceito linguístico: como é e como se faz", é professor da Universidade de
Brasília. É, também, doutor em Filologia e Língua Portuguesa e autor de uma série de obras que tratam de
fenômenos linguísticos, especialmente aqueles em que há variação, histórias infanto-juvenis e materiais
didáticos que auxiliam nas aulas de Língua Portuguesa do ciclo básico da educação brasileira. Em seu livro
"Preconceito linguístico: como é e como se faz", trata de questões relacionadas ao preconceito linguístico
presente em alguns indivíduos e meios da sociedade brasileira. O autor tem como intenção tornar seu livro
um instrumento de combate a esse preconceito linguístico.
O autor traz, nessa obra, uma reflexão detalhada sobre alguns aspectos do uso da língua e leva-nos a
pensar, analisar e ver o preconceito linguístico como resultado de um embate histórico entre a língua e a
gramática normativa. Ele faz críticas, principalmente, àqueles que tratam a gramática da língua portuguesa
como se ela fosse o deus maior. Marcos Bagno aborda no primeiro capítulo do livro que a existência da
permanência desse preconceito se dá devido a oito mitos que estão presentes na fala e na vida cotidiana
dos brasileiros, sendo eles: "A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente";
"Brasileiro não sabe português. Só em Portugal se fala bem português"; "Português é muito difícil"; "As
pessoas sem instrução falam tudo errado"; "O lugar onde melhor se fala português no Brasil é no
Maranhão"; "O certo é falar assim porque se escreve assim"; "É preciso saber gramática para falar e
escrever bem"; e "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social". É relevante destacar
dentre esses mitos, o primeiro que diz respeito à questão de que "A língua portuguesa falada no Brasil
apresenta uma unidade surpreendente", pois esse mito não leva em consideração a questão de que o
brasileiro descende de povos diferentes e que não é possível falar a mesma língua.Também é importante
citar o oitavo mito "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social", onde o autor coloca
que a norma culta de nada adianta a uma pessoa que não tenha direitos, instrução ou boas condições
financeiras. Esses oito mitos refletem o pensamento que muitos brasileiros possuem sobre a questão da
língua falada no Brasil, pois o preconceito linguístico, segundo o autor, é alimentado diariamente em
programas de televisão e de rádio, em colunas de jornais e revistas e em livros e manuais que querem
ensinar o que é "certo" e o que é "errado".
No segundo capítulo "O círculo vicioso do preconceito linguístico" pode ser observado um alerta que o
autor faz para a existência de determinados elementos, onde estes, unidos, funcionam eficientemente para
manter o círculo vicioso do preconceito linguístico. Este sendo composto por três elementos, a saber: a
gramática tradicional; os métodos tradicionais de ensino; e os livros didáticos. Por fim, no terceiro capítulo
cujo título é "A desconstrução do preconceito linguístico", Marcos Bagno reconhece a existência de uma
crise no ensino da língua portuguesa e sugere alternativas de mudança de atitudes, inclusive
questionamentos com relação à noção de "erro". Essa noção de "erro" também vale para a desconstrução
desse círculo vicioso, pois se deve desmanchar assim, o conflito entre língua escrita, que é norteada pela
ortografia.
Outro fator interessante que o autor aborda em sua obra é que devemos nos assumir como falantes
convictos da língua materna; analisar criticamente os comandos paragramáticos; e usar somente as
informações relevantes que eles possam conter, sem levar em consideração a visão preconceituosa que
carregam.
Adaptação da Resenha descritiva escrita por Barbara Maria Melo Silva, aluna do curso de Português
Instrumental-Serviço social, na Universidade Federal do Permambuco.

Resenha crítica
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 49ª ed. São Paulo: Loyola, 2007.
O livro apresenta-se dividido em quatro capítulos, mais um anexo carta do autor à revista Veja. O primeiro
divide-se em tópicos que apresentam mitos sobre a língua portuguesa. Num total de 185 páginas, o autor
apresenta um trabalho, por vezes com expressão indignada, sobre o preconceito linguístico (sociopolítico) na
sociedade brasileira.
Preconceito linguístico trata em seus capítulos da exposição de mitos frequentemente adotados como verdade
na fala dos brasileiros. O autor discorre sobre a não homogeneidade da língua falada no Brasil e suas variações
que decorrem, entre outros fatores, das divergências sociais e da posição geográfica do indivíduo. Adota um
discurso incisivo no tocante às diferenças dialetais existentes entre Brasil e Portugal que, segundo o autor, não
devem ser levadas em conta no sentido de "inferiorização" de determinados grupos sociais. Bagno afirma que "o
brasileiro sabe português" porque consegue estabelecer práticas comunicativas, afirmação que quebra a
suposta teoria de que falar português é muito difícil.
É levantada a questão da "gramática intuitiva do falante", termo cuja idealização foi proposta por Noam
Chomsky e que é caracterizador da capacidade do nativo conseguir comunicar-se pela intuitividade que lhe é
nata desde tenra idade independentemente de uma escolarização. A prática preconceituosa se dá a partir do
momento que um falante coloca outro (de forma singular ou em grupo) num patamar inferior pela sua
incapacidade de entender o idioma brasileiro seguindo os "dogmas" da gramática normativa e do triângulo
ESCOLA-GRAMÁTICA-DICIONÁRIO, como acontece na prática do fenômeno linguístico, comum às classes sociais
menos abastadas, chamado de rotacismo.
Outros pontos importantes também são relatados, inclusive a determinação de que nesta ou naquela região o
português é "melhor falado", na ocasião em que o autor cita o estado do Maranhão como modelo dialetal mais
idealizado pelo senso comum e desvirtua essa corrente quando afirma que "não é essencial falar do jeito que se
escreve" porque a fala é inevitavelmente distorcida por transformações decorrentes da sua prática ao longo do
tempo e estas não se enquadram nos padrões gramaticais que devem ser exigidos apenas para a escrita,
resgatando o seu valor originário a partir do pensamento grego de que a gramática é a arte de escrever bem.
Na obra ainda há uma referência à falsa ideia de que há relação entre boa locução verbal e escrita com ascensão
social: os argumentos dispostos nesta parte do livro tentam provar que nem sempre o primeiro serve de
alavanca para o segundo, pois há exemplos de seres sociais que tem prestígio sem necessariamente serem
eloquentes e com plenas capacidades de escrita e oratória e vice-versa. Como trata curiosamente em seu artigo
"Brasileiro fala português", Gilvan Müller de Oliveira utiliza o termo "glotocídio" para caracterizar as tentativas
de "assassinar" as línguas que sejam diferentes do que se tem como língua-padrão. O mestre em história e
filosofia, graduado em linguística pela UNICAMP, aborda a ideia de que sempre foi essa a política do Estado,
desde os tempos da colonização brasileira, quando o interesse maior era o de fazer o português superior, em
detrimento dos idiomas indígenas. Alocando esta concepção dentro da temática de Bagno, notamos aí um
pesado preconceito linguístico de caráter histórico que é, em parte, uma das razões motivadoras dessa
problemática da sociedade atual.
A linguagem utilizada por Marcos Bagno durante todo o texto tem uma intenção provocativa e de
convencimento. Seus argumentos são coerentes e caracterizam bem a sua discussão. O leitor, especialmente os
licenciandos, é levado a se questionar, muitas vezes, do quanto se encaixa como praticante dos preconceitos e
mitos destacados na obra. Obviamente, existem situações menos genéricas nas quais não se pode ignorar o fato
de que a gramática normativa existe e, como o seu próprio nome determina, é a ela que se deve recorrer para a
instituição de regras de base para a construção do pensamento, da escrita e da oralidade em determinados
ambientes, como o acadêmico, por exemplo. Todavia, no espaço interpessoal é muito mais confortável e
amigável aceitar e respeitar a fala do outro, ainda que a consideremos deficiente em um ou outro aspecto, para
que as relações sociocomunicativas se tornem possíveis.
Marcos Bagno é um tradutor, escritor e linguista mineiro, doutor em filologia e língua portuguesa pela USP. Atua
nas áreas de sociolinguística e literatura infanto-juvenil. Bagno leciona na Universidade de Brasília. Autor de
títulos como "A língua de Eulália" (1997) e "Português ou Brasileiro?" (2001).
Daniel David e Vinícius Sampaio são acadêmicos do curso de Letras-Inglês pela Universidade Tiradentes,
Aracaju/SE.
Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/resenha-critica-preconceito-linguistico-marcos-
bagno/62922/#ixzz2JERaakCQ

O plantonista sumiu!
Por Lígia Bahia, no jornal O Globo.
Tropeça-se a cada passo em relatos de pessoas desassistidas pelos serviços de saúde. Mas encontrar os
responsáveis pela omissão de socorro ou imprudência, imperícia ou negligência, especialmente no Brasil,
constitui um fato extraordinário.
A principal razão da dissociação entre a frequência dos danos causados a crianças e adultos por instituições que
deveriam proteger-lhes e o indiciamento de quem os causou é a finitude da vida. Separar acertos e erros da
intervenção médica em casos de sucessos e desfechos indesejados requer um sólido conhecimento sobre as
possibilidades e limites do repertório de alternativas diagnósticas e terapêuticas e muita ênfase na qualidade da
atenção.
A avaliação permanente da qualidade das atividades da saúde é a ferramenta adequada para distinguir e afirmar
boas práticas, que, por sua vez, pressupõem compromissos e responsabilidades explícitas pelas ações e cuidados
prestados. Os esforços para organizar um sistema de avaliação de qualidade pressupõem a perspectiva de
atingir crescentes níveis de saúde e melhoria do desempenho dos serviços assistenciais.
Sem saber exatamente em que ponto estamos na construção de nosso sistema de saúde e para onde vamos –
ora somos o farol do mundo com nosso sistema universal e igualitário, ora o país que desponta como sede de
um portentoso mercado de planos de saúde -, a definição de encargos é uma missão quase impossível. A
necessidade de proteção simultânea de interesses públicos e privados, incluindo aqueles que extrapolam os
limites do sistema de saúde, funciona como um poderoso escudo antirresponsabilidade.
Como ninguém é responsável, todos denunciam. O preâmbulo de qualquer discurso sobre saúde é a denúncia
sobre faltas. O que varia é a ênfase na falta. Uns preferem a falta de gestão; outros, de financiamento. São essas
falsas pistas que estimulam temporadas de caça sazonais e seletivas aos médicos, aos medicamentos, aos leitos,
aos equipamentos e resguardam a troca de uma política de saúde por um punhado de interesses particulares e
imediatistas.
O caso Adrielly-Adão é insólito porque rompeu com as desculpas sobre a quantidade de recursos. O sumiço do
substituto do neurocirurgião no plantão da emergência que deveria ter socorrido uma criança baleada
horrorizou porque desvela o estado de corrupção, no sentido do processo ou ato de tornar-se apodrecido, da
rede assistencial pública e privada.
Adrielly chegou viva ao Hospital Salgado Filho, seu quadro clínico era de extrema gravidade, e exatamente por
isso foi encaminhada para um serviço de emergência. Em circunstâncias habituais, riscos à vida, sobretudo de
uma criança, comovem e mobilizam solidariedade imediata. Contudo, usos e costumes aceitos e as normas
oficiais que regem a dinâmica interna dos serviços de saúde nem sempre permitem uma interação humana
entre pacientes e quem os atende.
A existência de rotinas largamente disseminadas, como a sublocação da vaga de médicos e enfermeiros nos
serviços públicos de saúde, provocou espanto, em função da associação automática entre alteração de
identidades com a desonestidade e inaplicabilidade da regra a profissionais tão dedicados como os de saúde.
Mas as explicações para a existência de um mercado colateral de trabalho são banais. Quem obtém melhor
remuneração em outros postos opta por manter o cargo com o intuito de obter vantagens na aposentadoria, e
contrata seus substitutos, mediante a transferência do salário para colegas geralmente situados em posições
iniciais na carreira. Trata-se de uma autorregulação consentida e legitimada, que falha quando as oportunidades
de maiores remunerações permitem a recusa de plantões em feriados, fins de semana, locais distantes da
residência etc. O segundo motivo de assombro para quem acompanha o desenrolar da apuração do não
atendimento a Adrielly foi a apelação para o álibi de inexorabilidade da morte.
A intenção de espanar a ignorância (como se alguém acreditasse que os serviços de emergência realizam
milagres) e apaziguar os ânimos exaltados pelo descaso só serviu para expor ainda mais as entranhas pútridas da
rede assistencial. O terceiro motivo de perplexidade deveu-se à constatação, particularmente dos leigos, de que
as engrenagens, movidas a pagamentos por plantões de gente desconhecida pelos chefes, atendendo pessoas
como coisas, traduzíveis em procedimentos remunerados e metas de produção, revelam a péssima
administração da saúde.
As soluções apresentadas pela prefeitura do Rio de Janeiro e pelo Ministério da Saúde também assustam.
Implantar métodos de apuração de presença de médicos não responde sequer à preservação do decoro perante
a tragédia, quanto mais ao enfrentamento real da situação da saúde. Apertar os controles da presença de quem
não existe é completamente desnecessário. A introdução de artefatos tecnocráticos hi-tech, como o ponto
biométrico, e a imposição de indicadores artificiais de performance prenunciam uma nova sequência de
sofrimentos e escândalos.
Os plantões continuam esvaziados e os prazos para o acesso de pacientes com câncer no SUS e para consultas
nos planos privados de saúde não estão sendo cumpridos. A sugestão dos parentes das vítimas de mau
atendimento parece mais promissora. O desejo manifesto por quem experimentou a mistura da dor decorrente
da perda de familiares com a humilhação do mau atendimento é que os casos não se repitam. A diferença entre
a reiteração de alternativas irreais e as perspectivas construídas com sentimentos e valores genuínos é cristalina.
Médicos não somem, não deixam de trabalhar. Adão seguiu exercendo importantes atividades como cirurgião
de coluna de um hospital privado. A responsabilidade direta pela omissão de atendimento de Adrielly será
apurada. Porém, sem o exame criterioso e das responsabilidades indiretas de professores, pesquisadores,
entidades profissionais e empresariais e dos políticos, as urgentes tarefas de organização de um sistema público
democrático de qualidade ficarão mais uma vez adiadas.

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