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Processos de Trabalho em Saúde: práticas de

cuidado em saúde mental na estratégia saúde


da família1
Work Processes in Health: mental health care practices in the
Family Health Strategy

Danilo Camuri Resumo


Mestre em Psicologia. Professor da Universidade Potiguar.
Endereço: Avenida Ayrton Senna, Condomínio Parque das Flores, Objetivo: Refletir sobre processos de trabalho em
bloco “A”, apartº 104, Capim Macio, CEP 59088-100, Natal, RN, saúde na rede básica do Sistema Único de Saúde
Brasil. (SUS) em relação ao cuidado em saúde mental.
E-mail: danilocamuri@hotmail.com
Metodologia: Entrevistas com 12 trabalhadores da
Magda Dimenstein Estratégia Saúde da Família (ESF), sendo médicos,
Doutora em Saúde Mental. Professora do Departamento de enfermeiros e agentes comunitários de saúde (ACS);
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pes-
quisadora do CNPq.
observação participante do cotidiano da Unidade de
Endereço: UFRN, CCHLA, Deptº de Psicologia, Campus Universitário, Saúde da Família e visitas domiciliares. Resultados:
Lagoa Nova, CEP 59078-970, Natal, RN, Brasil. Os processos de trabalho em saúde são organizados
E-mail: magda@ufrnet.br de modo burocratizados e hierarquizados e as prá-
ticas de cuidado esquadrinham os usuários a partir
1 Esse trabalho é parte da Dissertação de Mestrado de Danilo Ca-
muri, sob orientação de Magda Dimenstein defendida em 2009 e
do saber/fazer de cada categoria profissional. Há
contou com o apoio financeiro da Capes. repetição da lógica do especialismo e as equipes não
acolhem e não se responsabilizam pela demanda,
realizando o encaminhamento para outras unidades.
Conclusão: Consideramos que a partir de um novo
modo de arranjo de trabalho e gestão é possível
interferir na subjetividade e na cultura dominante
entre os trabalhadores da saúde, potencializar o
vínculo terapêutico, a transversalidade dos saberes
e práticas e produzir processos de trabalhos que
gerem acolhimento e responsabilização pela vida
do usuário.
Palavras-chave: Estratégia saúde da família; Es-
tratégia de atenção Psicossocial; Saúde mental;
Trabalho.

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Abstract Introdução
Objective: To reflect on work processes in the prima- Este artigo está focado na articulação entre as
ry care network of the SUS (Brazil’s National Health políticas de Saúde Mental e Atenção Básica. Visa
System), focusing on the care practices in mental refletir sobre os processos de trabalho em saúde
health. Methodology: Interviews with 12 workers of na rede básica e especializada do SUS, especifica-
the Family Health Strategy: physicians, nurses and mente em relação às práticas de cuidado em saúde
community health agents; participant observation mental desenvolvidas nessa interface, ancorando-
of the daily routine of the Family Health Unit; home se para tanto nos conceitos propostos pela Análise
visits. Results: The work processes in health are Institucional. Objetivamos discutir as dificuldades
bureaucratically and hierarchically organized and encontradas e ajustes realizados nos processos de
the care practices scrutinize users based on the trabalho das equipes de saúde da família no cuidado
knowledge/action of each professional category.  aos portadores de transtornos mentais. Nesse pro-
The specialism logic is recurrent and the teams, cesso nos interessou mapear as forças, as linhas e
in general, do not receive the users well, do not instituições que atravessam esse fazer, para pensar
attend to the demands and end up referring users na gestão do cotidiano em saúde, na cristalização
to other units. Conclusion: We believe that with a dos modelos de atenção e nos processos de mudança
new work and management arrangement mode it que permitem instituir novos arranjos de cuidado
is possible to interfere in the subjectivity and in em saúde mental.
the culture that prevails among the health workers, Nossa investigação foi realizada em um muni-
intensify the therapeutic bond and the intersection cípio do nordeste brasileiro a partir de observação
between knowledge and practices, and produce work participante, realização de entrevistas semi-estru-
processes that result in receptivity and responsibi- turadas e visitas domiciliares com equipes de saúde.
lity for the user’s life. Neste trabalho buscaremos discutir os seguintes
Keywords: Family Health Strategy; Psychosocial aspectos: o cotidiano das equipes, as demandas de
Care Strategy; Mental Health; Work Processes.  cuidado, o saber/fazer de cada categoria profissional
e as relações hierárquicas que organizam os proces-
sos de trabalho.

A Estratégia Saúde da Família e a


Estratégia da Atenção Psicossocial:
interfaces nos processos de
trabalho
A partir da municipalização da saúde e do fortale-
cimento dos sistemas locais de saúde no Brasil, em
1994, nasceu o Programa Saúde da Família (poste-
riormente nomeado de Estratégia Saúde da Família)
como uma estratégia de mudança da estrutura da
rede de serviços e dos modos de trabalho em saúde.
Fazia-se necessário:
[...] Transitar de um modelo de atenção médica,
fruto do paradigma flexneriano, para um mode-
lo de atenção à saúde, expressão do paradigma
da produção social da saúde. É nesse sentido,
que os reformistas ingleses falam hoje de uma

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imprescindível “revolução silenciosa” no sis- resolutividade, carente de uma eficiente articulação
tema de saúde que derive as preocupações da em rede, hierarquizada por complexidade, e sem
atenção médica para resultados medidos em criação de vínculos de cooperação e coresponsabi-
melhoria da qualidade de vida da população. Tais lidade com os usuários (Brasil, 1994, 2000).
considerações permitem, mais uma vez, susten- A proposta de reordenação dessa lógica de traba-
tar a pertinência do SUS como processo social de lho e de organização da assistência em saúde é a que
construção da saúde. (Mendes, 1996, p. 9.) também orienta os processos de transformação da
O Ministério da Saúde apontou a Estratégia assistência psiquiátrica em curso no país. Com base
Saúde da Família (ESF) como sua principal tática nos mais variados autores e atores do campo da re-
para reorganização do acesso da população aos forma psiquiátrica é possível dizer que a implemen-
serviços de saúde básicos (Brasil, 2005). Nesse sen- tação de uma nova lógica de cuidados ao portador de
tido, foi criada para responder à crise do sistema transtornos mentais implica na superação do modo
de saúde provocada pela assistência centrada no asilar e na implementação do modelo de atenção
modelo biomédico (medicalizante, verticalizado psicossocial. Concebido enquanto Estratégia de
e focalizado na produtividade). Foram propostas Atenção Psicossocial (EAP), esse modelo paradigmá-
modificação das diretrizes do trabalho em saúde, tico vem evidenciando que para além de mudanças
voltados para a doença, reorientando-o para um restritas ao aparato assistencial é preciso avançar
modelo que privilegiasse parcerias com as famílias, na construção de uma diversidade de dispositivos
tendo-as como importantes aliadas para efetivar um territorializados de atenção e cuidado. Dessa forma,
trabalho baseado na promoção da saúde. Esse dispo- a EAP é uma lógica baseada na “integralidade das
sitivo visava à resolutividade do sistema e à prática problemáticas de saúde e na ação territorializada
assistencial em equipe, centrada nas necessidades sobre elas” (Yasui e Costa-Rosa, 2008, p. 36).
da população, considerando-a como participante A superação da lógica tradicional que orienta
do processo de produção de saúde, através de seus os processos de trabalho em saúde impõe a neces-
saberes e práticas sociais. Foi ainda proposta uma sidade de discutir o planejamento, a organização
atuação centrada no vínculo e na responsabiliza- dos serviços e as formas de gestão (Santos-Filho,
ção das ações coletivas e individuais (Matumoto, 2008), enfim, os processos de trabalho em saúde. Em
2003). Assim, destacamos que o objetivo da ESF função disso consideramos que a Estratégia Saúde
destinava-se à: da Família e a Estratégia de Atenção Psicossocial
apresentam-se atualmente como forças instituintes
Reorganização da prática assistencial em novas que buscam a modificação das práticas de cuidado
bases e critérios, em substituição ao modelo seja na atenção básica, seja na atenção especializa-
tradicional de assistência, orientado para a cura da, tendo como foco de intervenção os processos de
de doenças no hospital. A atenção está centrada trabalho e de gestão aí desenvolvidos.
na família, entendida e percebida a partir do seu Desse modo, tal transformação implicará na
ambiente físico e social, o que vem possibilitando substituição dos modelos assistenciais hierarquiza-
às equipes da Família uma compreensão amplia- dos, fragmentados e calcados em uma perspectiva
da do processo saúde/doença e da necessidade de técnico-burocrático, por tecnologias de escuta,
intervenções que vão além de práticas curativas. acolhimento/diálogo e negociação. Implica também
(Merhy e Franco, 2000, p. 145.) na produção de um modelo de gestão em saúde, no
Compõe atualmente o cenário de uma política qual gestores, trabalhadores e usuários sejam do
intersetorial centrada na produção social de saúde, setor saúde e do campo intersetorial, possam dialo-
como um modelo tecnoassistencial que se apoia nas gar e deliberar sobre a condução, implementação,
ações de saúde que sejam resolutivas e integradas financiamento e avaliação das políticas públicas
com a rede de serviços de saúde. Propõe-se a substi- de saúde, bem como sobre os processos de trabalho
tuição do modelo tradicional da assistência à saúde, realizados no cotidiano dos serviços, produzindo
curativo, hospitalocêntrico, de alto custo e baixa assim uma gestão dos modos de cuidado, para além

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de um controle de dados, índices e planilhas, tal leve-duras e duras”. Estas últimas são as que estão
como se observa comumente. inscritas nas máquinas e instrumentos, ou seja,
Contudo, para que essa proposta seja efetivada nos equipamentos. As “tecnologias leve-duras” são
e assuma seu estatuto de política, são necessários os saberes bem estruturados, os quais podem se
processos de subjetivação transformadores, ou seja, observar, por exemplo, na clínica, na epidemiolo-
“sujeitos coletivos que nas práticas concretas e co- gia, nos diagnósticos. Finalmente, as “tecnologias
tidianas transformam o modo de produzir cuidados leves” são as chamadas tecnologias das relações, do
em saúde, transformando-se a si também” (Deslan- acolhimento e do cuidado.
des, 2005, p. 402). Enfim, significa produzir um O trabalho em saúde é essencialmente relacional
novo modo de gestão do cuidado em saúde e novas e intercessor, no qual as “tecnologias leves” devem
relações entre trabalhadores e usuários. conduzir a produção do cuidado, atuando na função
Nesse encontro, diversas instituições (saúde, criativa dos serviços/estabelecimentos de saúde.
família, trabalho e comunidade) entram em cena e Essas tecnologias, entendidas como o conjunto de
processos tecnológicos operam para que a prática conhecimentos e ações aplicadas à produção de algo,
de cuidado seja efetivada (Franco e col., 1999). Nes- têm a potência de criar estratégias para a produção
se encontro entre trabalhador e usuário está sendo de processos cuidadores como o acolhimento e os
produzido um “trabalho vivo em ato”, que objetiva vínculos a partir das relações e dos afetos resultan-
a produção de escuta e responsabilização, a consti- tes dos encontros entre os trabalhadores da saúde e
tuição de vínculos e de compromissos em projetos os usuários (Matumoto, 2003). Essas tecnologias das
de intervenção (Merhy, 2002b). O “trabalho vivo” em relações acontecem no momento de interação/cone-
saúde a partir desse autor é entendido como trabalho xão entre trabalhador e usuário no ato da produção
em ação. Isso, por sua vez, possibilita a expressão de saúde, cujo total controle escapa do trabalhador
da inventividade/criação por parte do trabalhador por envolver processos de subjetivação. Desse modo,
que o realiza através da utilização de determinados na relação atenção básica e saúde mental, o ponto
instrumentos materiais e de certo saber operante crucial está nos processos de trabalho que são
(instrumentos imateriais), atendendo às suas neces- desenvolvidos cotidianamente junto aos usuários
sidades cotidianas. Ao contrário do “trabalho vivo”, portadores de transtornos mentais. Em outras pala-
há o “trabalho morto” (Merhy, 2002a) que são todos vras, tanto a reforma sanitária quanto a psiquiátrica
os produtos que estão relacionados ou com a maté- partilham a ideia de que a produção de saúde implica
ria-prima ou com as ferramentas utilizadas. Para na produção de sujeitos (Brasil, 2004b).
Merhy (2002a; 1999) qualquer abordagem assisten-
cial dentro de um serviço de saúde, seja ele de saúde
mental ou de atenção básica, produz-se através de
Estudo de Campo
um “trabalho vivo em ato”, em uma relação. Quando Buscamos mapear os processos de trabalho de uma
trabalhador e usuário se encontram, operam um equipe de Estratégia Saúde da Família diante da
sobre o outro, há uma confluência de expectativas e demandas de saúde mental em torno das seguintes
produções, criando-se, intersubjetivamente, alguns indagações: “Que demandas em saúde mental che-
momentos importantes, como o acolhimento, a pro- gam ao serviço?”, “Que dificuldades encontram para
dução de responsabilização e a confiabilidade, que esse acolhimento?”, “Que problemas a gestão e a rede
dão sustentação às relações de vínculo e aceitação de saúde apresentam nesse sentido?”, “O que esse
(Merhy, 1999). trabalho convoca e exige dos técnicos?”.
Assim, o “trabalho vivo” em ato deve ser a fi- Com base na Análise Institucional, entendemos
nalidade de qualquer ação em saúde. Isso, porém, que as relações que se engendram no cotidiano
demanda o uso de tecnologias de trabalho, bem movimentam um conjunto de forças, tanto instituin-
como um conjunto de conhecimentos e ações que tes quanto instituídas. As forças que propiciam a
se materializam em recursos teórico-técnicos, ins- transformação das instituições, ou mesmo as forças
trumentos e máquinas. São as “tecnologias leves, que tendem a fundá-las, quando ainda não existem,

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chamam-se instituintes (Baremblitt, 1992). Essas lizado treinamento com os ACS e demais técnicos.
forças são produtoras de lógicas institucionais. O Esse treinamento tinha como objetivo possibilitar a
instituído, porém, é o efeito da atividade instituin- identificação de usuários que necessitassem de aten-
te, ou seja, do processo ininterrupto de produção, dimento especializado em saúde mental e instruir os
de criação de instituições, gerando um resultado, agentes a como proceder nesses casos. Além disso,
um produto que será o instituído. Por instituinte, no levantamento preliminar de campo, diversos
compreende-se ao mesmo tempo a diferença e a técnicos relataram a existência de uma considerável
capacidade de renovação ou inovação. Em geral, o demanda em saúde mental, com elevada utilização
instituído é uma prática política como significante de benzodiazepínicos, bem como dificuldades no
da prática social. trabalho com usuários portadores de transtornos
No que se refere ao instituído, pondera-se que mentais. Essas dificuldades referem-se ao diagnosti-
esse não se trata apenas da “ordem estabelecida, os co e terapêuticas a serem realizadas, como trabalhar
valores, modos de representação e de organização com a família do usuário e intervir em situações de
considerados normais, como igualmente os proce- crise. Os trabalhadores ainda relataram que na área
dimentos habituados de previsão (econômico, social de abrangência da USF ocorrem diversos casos de
e político)” (Lourau, 2004, p. 47). Para exemplificar, tentativas de suicídio, transtornos de humor, esqui-
lembremos da reforma sanitária, que foi uma in- zofrenia, transtornos de ansiedade.
venção de forças que se colocaram instituintes, as Delimitamos como ferramenta de pesquisa a
mesmas que já estão instituídas como Sistema Único entrevista semiestruturada, por meio da qual ana-
de Saúde, no qual operam novas forças instituintes, lisamos a micropolítica dos processos de trabalho.
que posteriormente ficarão instituídas (Fortuna, Entrevistamos 12 trabalhadores de três equipes,
2003). Como outro exemplo temos o processo de sendo um médico, um enfermeiro e dois ACS por
reforma psiquiátrica como uma invenção de forças equipe. As entrevistas foram realizadas na própria
primeiramente instituintes, materializadas nos unidade no turno em que a equipe atuava, com dura-
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) que são alvos ção média de uma hora e 30 minutos a duas horas.
de preocupação atual em termos de processos de Não participaram deste estudo o dentista, o auxiliar
cronificação em curso (Barros, 2003). de consultório dentário e o técnico em enfermagem,
O nosso local de estudo foi uma Unidade de Saúde pois priorizamos os trabalhadores que em sua práti-
da Família (USF), situada em um município do nor- ca cotidiana fazem visitas domiciliares, trabalham
deste brasileiro com precário serviço de saneamento com o diagnóstico de problemas de saúde mental,
básico, elevados índices de violência, desemprego prescrevem medicamentos e modos como a família
e consequentemente pessoas com reduzido poder deve conduzir o cuidado com os usuários portadores
de compra. A USF conta com seis equipes de Saúde de transtornos mentais.
da Família. Cada equipe é composta de um médico, Além da entrevista utilizamos como ferramenta
um enfermeiro, um técnico em enfermagem, um de pesquisa a observação participante e os diálogos
dentista, um auxiliar de consultório dentário e seis informais, bem como participamos de visitas domi-
ACS. Ressalvamos que a ESF só foi implantada nesta ciliares à casa de usuários portadores de transtorno
localidade há cinco anos, mas a Unidade Integrada mental. Destacamos que foi imprescindível utilizar
de Saúde, com a qual compartilha o espaço físico, já essas ferramentas para analisar os processos de tra-
funciona desde 1986. balho em curso nessa unidade e nas visitas que rea-
Dessa forma, a inserção dos trabalhadores na lizamos, pois essas técnicas possibilitavam adentrar
ESF deu-se de duas formas: através de convite para no mundo das intensidades e presenciar o encontro
os trabalhadores que já atuavam na Unidade Inte- entre subjetividades, uma vez que esse campo de for-
grada e por meio de contratação através de concurso ças ultrapassa os limites das palavras, dos afetos que
público. A escolha dessa USF se deveu ao fato de, atravessam as relações, de múltiplas interconexões
em 2006, a Secretaria Municipal de Saúde ter rea- que se estabelecem em cada encontro.

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Resultados e Discussão lidade, através do preenchimento da folha de regis-
tro do Sistema de Informação da Atenção Básica e de
Como indicado anteriormente, nossa discussão se suas experiências nesse campo. Os problemas mais
dará em torno de quatro eixos: 1. O cotidiano e as de- graves são encaminhados e agendados para a equipe.
mandas em saúde mental; 2. Acolhimento em saúde Esses trabalhadores são os elementos principais na
mental na ESF; 3. Modos de gestão e a rede de saúde; articulação do serviço com a comunidade.
4. Processos de subjetivação e trabalho. As equipes relatam que em média cada agente é
No que se refere ao cotidiano, às atividades reali- responsável pela visita domiciliar mensal de 150 fa-
zadas e às demandas recebidas, as equipes relataram mílias, como cada equipe possui seis agentes, perfaz
destinar a maior parte de seu tempo de trabalho uma média de 900 famílias acompanhadas por cada
a atendimentos individuais. Entretanto, também equipe. Essas ações da Estratégia Saúde da Família
desenvolvem atividades como grupos, reuniões de têm potencial para deflagrar ações onde sujeito está
equipe e visitas domiciliares. Destinam pelo menos localizado, fazendo com que ele deixe de ser apenas
um turno semanal para atividades coletivas, desen- um prontuário e passe a ser uma biografia (Lancetti,
volvendo trabalhos nas áreas do cuidado à saúde da 2001). Através da descentralização da relação médi-
mulher, criança e do adulto. A reunião semanal de co–paciente para a relação usuário–equipe, as equi-
equipe foi referida por alguns trabalhadores, porém, pes podem desenvolver maiores vínculos com os usu-
outros mencionaram que a reunião não ocorre de ários e a comunidade, em especial, com a ajuda dos
maneira sistemática. agentes comunitários de saúde. Contudo, os agentes
No que se refere às atividades desenvolvidas no comunitários de saúde e os enfermeiros relatam um
cotidiano com os usuários observamos: prescrição descontentamento por realizarem várias atividades
e administração de medicação; atendimento a usuá- burocráticas em seus turnos de trabalho, desde o
rios diabéticos e hipertensos; cadastro e entrega de registro das atividades, recebimento e solicitação
preservativo; consultas médicas e de enfermagem; de materiais e medicações, até o preenchimento do
consulta de pré-natal; consultas na área de saúde Sistema de Informação da Atenção Básica e outros
da mulher; fornecimento de medicação; orientação formulários da EDF, em vez de investir seu tempo em
puérpere; orientação para uso de métodos con- outras atividades, como, por exemplo, articulações
traceptivos, planejamento familiar e prevenção com equipamentos comunitários, atividades com as
DST/Aids; puericultura; exames de prevenção ci- famílias ou com grupos de usuários.
tológica-oncológica; revisão ginecológica; revisão Vale ressaltar que, anteriormente, nessa região,
puerperal; vacinação; consulta acompanhamento existia apenas o Programa de Agentes Comunitário
da família; grupo de crianças (acompanhamento do de Saúde e a implementação da ESF ocorreu nessa
crescimento e desenvolvimento); grupo de crônicos Unidade Integrada de Saúde, no ano de 2002. Des-
(hipertensos e diabéticos); grupo de gestantes; gru- se modo, todo o espaço físico antes destinado às
po de mulheres; grupo semanal de planejamento e atividades específicas da Unidade Integrada, teve
visitas domiciliares. que ser dividido a partir da implantação da ESF.
Os ACS relataram participar de várias dessas Compreendemos que o órgão gestor decidiu assim
atividades, colaborando com os auxiliares de en- para se evitar gastos com a locação ou construção
fermagem, médicos e enfermeiros, na entrega de de um espaço específico para as equipes de saúde
preservativos e no acompanhamento das gestan- da família. Fato que, segundo os trabalhadores en-
tes e crianças em situação de risco e desnutrição. trevistados, é uma questão problemática, pois em
Especificamente, a atividade por excelência desse muitos momentos eles necessitam de mais espaço
trabalhador é a realização das visitas domiciliares, para realizar suas tarefas, em especial as atividades
que devem ser de no mínimo oito visitas diárias. em grupo.
Nessas visitas, por meio de diálogos com as famílias, Com efeito, compartilhar esse espaço comum
o agente comunitário de saúde procura identificar os possibilita vantagens e desvantagens para as ações
problemas de saúde da microárea de sua responsabi- de saúde das equipes de saúde da família, pois

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apesar de ser uma unidade para o nível primário de vessam esses discursos estão permeadas de con-
saúde, apresenta serviços de média complexidade. frontos, disputas e jogos políticos que ocorrem no
No tocante às vantagens apresentadas, referem-se campo da saúde e, como consequência, atribui valor
principalmente à utilização da estrutura física da à vida humana, e até mesmo acarreta influências
Unidade Integrada para a internação e realização sobre a enorme fatia de dinheiro investido na saú-
de exames clínicos, o que possibilita para os usuá- de pelo setor público e privado que tem um grande
rios não serem encaminhados para outros serviços destaque na economia do município em questão, ou
de saúde, em especial a hospitais gerais, seguindo seja, essa problemática se refere tanto às questões
assim a lógica do cuidado no território. da esfera dos projetos político, econômico, social,
Outro ponto analisado nessa configuração são como, por exemplo, as políticas de financiamento
as forças institucionalizadas no modelo de trabalho e investimento para a atenção básica, através do
hospitalocêntrico se fazendo presente na reprodu- Piso de Atenção Básica (PAB), quanto às questões
ção das hierarquias entre os profissionais das equi- dos embates políticos, ideológicos que atravessam
pes de saúde da família. Hierarquias delimitadas a as práticas em saúde e ordenam o valor da vida
partir da prescrição dos saberes, fazeres e poderes (Matumoto, 2003).
constituintes de cada categoria profissional. Equi- Percebemos esse ordenamento do valor da vida
pes que metaforicamente se hierarquizam: tenentes, humana nas prescrições do atual jeito de viver, na
sargentos, cabos e soldados, isto é: médicos, odon- percepção do corpo como mercadoria, bem como
tólogos, enfermeiros, técnicos/auxiliares e agentes no modo como a vida e a saúde são tratadas como
comunitários de saúde. produtos. A saúde é um “objeto” conquistado com
Nessa configuração, no trabalho em saúde na dificuldades e por isso se torna desejada e passa
atenção básica, o saber médico e biologizante “im- a ser explorada por todos os meios, como busca de
pede” outra produção de cuidado em saúde por parte usufruto de um bem social (Silva, 1994).
de outros trabalhadores, em especial os ACS que não Em relação às demanda em saúde mental rece-
se sentem empoderados para realizar práticas de bidas, as equipes, de modo geral, relataram receber
cuidado, acolhimento e estabelecimento de redes de diversos casos de sofrimento psíquico, como, por
circulação para os usuários a partir do conhecimento exemplo, problemas associados ao uso prejudicial
que adquirem com a experiência diária no território de álcool e outras drogas, egressos de hospitais
onde trabalham. Nessa circunstância, a equipe de psiquiátricos, transtornos mentais graves, trans-
saúde da família entra em antiprodução, que é um tornos de humor, transtornos de ansiedade, fobias
processo de destruição das realidades produzidas específicas, situações decorrentes de violência
ou impedimento de sua produção (Baremblitt, 1992). familiar, sexual e exclusão social. Em especial, os
A antiprodução é explicitamente nociva, destrói e trabalhadores relataram o significativo número de
impede a produção do trabalho, ou seja, a equipe em usuários que tentam cometer suicídio, sendo que
anti-produção se autodestrói. já houve casos de concretização desse ato, fato que
Desse modo, na atual conjectura de expansão da percebemos provocar nos técnicos um extremo des-
ESF, podemos ver tanto perigo quanto oportunidade. conforto, disparando um sentimento de impotência
As oportunidades de modificação da assistência à e dúvidas sobre os processos de trabalho realizados
saúde trazem como perigo os “vícios ideológicos”, com os usuários.
como, por exemplo, a compreensão que a atenção Foram realizadas pesquisas na área da saúde
básica é uma “tecnologia simplificada” (Ayres, mental em diversos países e observaram que cerca
2004). Esses vícios podem tornar as propostas da de dias ou semanas antes de cometer o ato suicida,
ESF apenas mais um rearranjo político-institucional cerca de 40% dos sujeitos procuraram algum serviço
no sistema de saúde brasileiro, o que o tornaria um de saúde em busca de ajuda, mas sem mencionar
sistema demasiadamente excludente sob a ótica da especificamente o que estão sofrendo e que estão
organização social. próximos de cometer tal ato. Segundo essa pesquisa,
Problematizamos que as instituições que atra- essa procura pode “ser um último pedido de socorro”

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(Brasil, 2006). Assim, o Ministério da Saúde aponta encaminha-se o usuário para o psiquiatra da referida
que um profissional de saúde capacitado para traba- Unidade Integrada, e/ou para o Centro de Atenção
lhar com essa questão tem condições de identificar Psicossocial/CAPS II-Norte.
a situação-problema, acolher esse usuário e realizar Entendemos que os modos como vem sendo
terapêutica adequada ou encaminhar a uma e com operado o cuidado aos usuários portadores de trans-
isso tentar evitar que o suicídio ocorra. tornos mentais na ESF extrapolam os discursos que
Contudo, observamos, a partir das narrativas dos os trabalhadores apontaram sobre a falta de capaci-
trabalhadores entrevistados, que eles não se sentem tação para realizar essa atividade. Ocorre a repetição
preparados para o cuidado com essa demanda, pois da lógica do especialismo biomédico com esquadri-
ela exige a utilização de outras tecnologias de tra- nhamento do sujeito e de seu sofrimento a partir de
balho, ou seja, “tecnologias leves”, “tecnologias rela- determinado campo de saber. Assim as equipes, de
cionais” (Merhy, 2002a). A partir dessa experiência modo geral, não acolhem e não se responsabilizam
no campo de pesquisa, entendemos que trabalho e pela demanda e encaminham para quem foi delegado
vida são instâncias indissociáveis. O trabalho afeta o poder de cura. A institucionalização desse arranjo
a vida do trabalhador, e seus modos de gerir sua vida de trabalho com o psiquiatra da Unidade Integrada
afetam suas práticas de trabalho, ou seja, a afetação não deixa de ser um modo para que esses usuários
provocada pelos diversos encontros com a diferença, sejam atendidos. Contudo, está produzindo croni-
seja ela com relação ao território em que habitam os cidades nas ações dos trabalhadores da ESF com
usuários, a forma de vida deles, as articulações que a demanda saúde mental, ou seja, cronicidades no
os usuários fazem para viver, as suas condições de sentido de que esses trabalhadores não articulam
vida e até mesmo a forma com eles governam suas ou planejam uma estratégia de cuidado territorial,
vidas, irão reverberar em suas práticas cotidianas, fixado-se no modelo hospitalocêntrico e no especia-
mais especificamente nas práticas de cuidado, aco- lismo para o trabalho com os usuários portadores
lhimento e responsabilização pela demanda. de transtornos mentais. Como consequência, isso
No que se refere às outras demandas em saúde propicia a falta de vínculos e a responsabilização
mental relatadas no início dessa sessão, observamos por esses usuários e seus sofrimentos.
nas narrativas dos trabalhadores que a maioria dos É nesse sentido que articulamos os problemas
usuários que requerem cuidado de saúde mental é indicados à institucionalização dos CAPS discutida
enquadrada na nosografia depressão, bem como é por Barros (2003). Fazendo esse paralelo, no trabalho
perceptível o elevado número de usuários que utiliza em saúde mental na ESF estão se processando coti-
antidepressivos, anticonvulsivantes e ansiolíticos. dianamente cronicidade dos modos de gestão, dos
Em geral, esses usuários fazem uso dessas medica- dispositivos profissionais, com pouco comprometi-
ções de modo indiscriminado, deslocando-se para a mento com os princípios da reforma psiquiátrica,
unidade apenas para solicitar a renovação de sua re- e ainda, a cronicidade produzida pela falta ou pela
ceita e pegar mais medicamentos. Os trabalhadores fragilidade da rede de atenção em saúde e em saúde
relataram não fazer o acompanhamento sistemático mental. Avançando um pouco mais, diríamos que a
da utilização desses medicamentos na USF, não relação do órgão gestor com as equipes é da ordem
alteram a dosagem nem suspendem a medicação, o da gestão dos dados, em detrimento da gestão de
que ocorre é um encaminhamento para o psiquiatra modos de cuidados. Ainda na esteira da discussão
da Unidade Integrada de Saúde e as equipes ficam sobre cronicidade, observamos que as demandas
apenas renovando as receitas. Observamos que a em saúde e as que as equipes recebem, de modo
substância amitriptilina é bastante prescrita para geral, estão vinculadas aos programas do Ministé-
os casos de usuários com depressão, pois, segundo rio da Saúde e ofertados pela ESF. As propostas de
os médicos entrevistados, esse medicamento se intervenções observadas e de acordo com a opinião
encontra disponível na unidade e possibilita “avan- dos trabalhadores visam ao cumprimento desses
ços no quadro”. No entanto, quando se percebem programas instituídos, por exemplo, o cumprimento
agitações psicomotoras fala desordenada e confusa das indicações do programa de saúde da mulher, do

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hipertenso e diabético, dentre outros. Não obstan- dos e calcados em uma perspectiva técnico-burocrá-
te, outros tipos de demanda que escapam a esses tico, por tecnologias de escuta, acolhimento/diálogo
programas, como é o caso dos usuários portadores e negociação para que se possa produzir uma gestão
de transtornos mentais, ficam sem um sistemático do cuidado, para além da apenas gestão de dados, tal
e eficaz cuidado, pois tanto o Ministério da Saúde como observamos ocorrer em Teresina-PI.
quanto a Fundação Municipal de Saúde não delimi- Desse modo, podemos concluir a partir dessa
taram a obrigatoriedade de ações específicas para rica experiência pelo território da atenção básica e
as equipes trabalharem com esses usuários. saúde mental que o ponto crucial para a efetivação
Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 1994), dessa proposta está na transformação dos proces-
a ESF deveria priorizar atividades voltadas ao sos de trabalhos em saúde que são desenvolvidos
trabalho com a vulnerabilidade dos grupos e com cotidianamente com os usuários portadores de
riscos populacionais, tendo como foco a coletivida- transtorno mental, bem como do modo como vêm
de que vive em determinado território ou convive sendo conduzidas as políticas e a gestão em saúde
em algumas organizações. Contudo, essa antipro- no município, ou seja, o projeto de reforma psiquiá-
dução entorno da segmentação do cuidado pelos trica brasileira só terá êxito a partir do momento em
programas instituídos é apontada e reconhecida que os coletivos de trabalhadores compreenderem e
pelos próprios trabalhadores, que indicam a exis- atuarem a partir da concepção que atenção em saúde
tência de diversos casos de usuários portadores e gestão, clínica e política são movimentos indisso-
de transtornos mentais que utilizam de maneira ciáveis, inseparáveis, bem como entenderem que a
indiscriminada medicamentos psicotrópicos em produção de saúde implica na produção de sujeitos
suas áreas; alguns trabalhadores ainda relataram (Brasil, 2004a).
que realizar atividades com os usuários portadores Por fim, o trabalho em saúde deve ser passagem
de transtornos mentais é um trabalho a mais e não para o inédito, para o novo, isto é, ser processo con-
vão ganhar mais por isso. tínuo de gestação do novo como engendramento das
Diante dessas questões observamos que o tra- diferenças/singularidades absolutas em qualquer
balho em saúde na atenção básica junto aos porta- realidade. Deveria ainda possibilitar a criação,
dores de transtornos mentais não tem conseguido encaminhando o trabalho para a produção de vida,
produzir efeitos que fortaleçam os processos de de cuidados e cidadania, pois é no dia a dia que os
desinstitucionalização, nem tampouco de produzir trabalhadores e suas práticas são vivenciadas e
um aprimoramento do cuidado com a incorporação reproduzidas.
de novas tecnologias e sensibilidades. Como uma
potente estratégia para modificação desses proces-
sos de trabalho, apostamos na Política Nacional de
Considerações Finais
Humanização do SUS/PNH (Brasil, 2004a), que tem Nossa pesquisa reitera a literatura do campo que
como uma de suas diretrizes a alteração dos mode- aponta os inúmeros problemas vividos pelas equipes
los de atenção e de gestão das práticas de saúde, da ESF no país quando se trata da atenção em saúde
da relação entre usuários, destes com suas redes mental. Essas equipes atendem cotidianamente
sociais, com os trabalhadores, bem como a criação uma demanda importante de transtornos mentais,
de vínculos solidários. Propõe, ainda, um trabalho sejam comuns e/ou graves, muitos dos quais ficam
acolhedor, resolutivo e confortável, com valorização fora de seu âmbito de atenção porque essas equipes
e promoção da autonomia e protagonismo dos dife- não sabem o que fazer diante dessa demanda. Além
rentes sujeitos. Instiga o compromisso pela reivin- disso, são equipes que estão inseridas em áreas po-
dicação de melhores condições de trabalho. bres, com poucos recursos sociais e comunitários,
Sendo mais específicos, a PNH propõe a indisso- afetadas pela violência, pelo tráfico de drogas e pelo
ciabilidade entre atenção e gestão, a substituição dos desemprego, indicando um cenário complexo de
modelos de assistências hierarquizados, fragmenta- problemas. Os transtornos mentais aparecem nesse

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cenário associados à exclusão social histórica vivida dos trabalhadores e com mecanismos institucionais
por essas populações, à falta de uma rede de cuida- claros que articulem essas equipes cotidianamente
dos em saúde integrada, bem como à dissociação tra- em relação à organização do trabalho.
dicional entre condições de vida e saúde, que marca
de forma indiscutível a formação dos profissionais
de saúde e as políticas públicas.
Referências
Nesse contexto, observamos entre os trabalhado- Lourau, r. O instituinte contra o instituído.
res, desconforto, impotência, indiferença e muitas In: altoé, s. (org.). René Lourau: analista
dúvidas sobre o que fazer com a demanda de saúde institucional em tempo integral. São Paulo:
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instituído, dentro dos padrões conhecidos e pouco ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.
inovador. Os processos de trabalho são esquadrinha-
dos a partir de cada categoria profissional e o usuá- Barros, R. B. Reforma Psiquiátrica Brasileira:
rio não é compreendido a partir das problemáticas resistências e capturas em tempos neoliberais. In:
sociais do território onde vive. Loucura, Ética e Política: escritos militantes. São
Paulo: Casa do Psicólogo. 2003. p. 196-206.
Por parte da Fundação Municipal de Saúde, não
observamos um estímulo à criação de espaços para Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional
reflexão e problematização acerca dos processos da Saúde. Programa de saúde da família. Brasília:
de trabalho desenvolvidos na USF. Além disso, Âncora Comunicação, 1994.
os participantes deste estudo apontaram outras Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria
questões centrais na discussão atual da atenção de Assistência à Saúde. Coordenação de
básica e sua integração com as equipes de saúde Atenção Básica. Avaliação da implantação e
mental: a falta de clareza acerca das atribuições funcionamento do Programa de Saúde da Família:
da ESF em saúde mental, os limites da sua atuação análise por Estados. Brasília: Ministério da Saúde,
nesse campo, o papel dos ACS como mediadores do 2000.
processo, a necessidade de formação continuada
Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de
para essas equipes, a redefinição da perspectiva de
Atenção à Saúde/ DAPE. Saúde Mental no SUS:
matriciamento que tem se mostrado pouco eficiente
os centros de atenção psicossocial. Brasília:
na implementação de práticas de cooperação entre Ministério da Saúde; Secretaria de Atenção à
as equipes desses dois níveis de atenção, bem como Saúde/DAPE, 2004b.
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ção adequadas, além de criar redes de cooperação e avaliação e desafios. Brasília: Ministério da
coordenação entre os dois níveis, com a participação Saúde, 2005.

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Recebido em: 13/08/2009
Reapresentado em: 14/05/2010
Aprovado em: 02/08/2010

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