Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Entratanto, para os autores, antes do séc. 17 'o peso do passado acabou monopolizando o
sentido da história'. Isto teria ocorrido, pois neste período 'a sucessão de idades era concebida
como uma sequência imóvel e a natureza humana permanente'. Resumindo a história - por
dezessete séculos - foi uma disciplina que fazia do passado 'um poço de exemplos a ser
seguido'.
Além desta concepção antiga, os autores destacam que desenvolveu-se também uma
'concepção cristã do tempo histórico', que estava 'fundada na Bíblia' cuja noção de cronologia
se encerrava no Apocalipse. E, até meados do séc. 16 'o tempo era linear, mas também
destruidor'. Segundo esta ótica 'tanto os católicos como os protestantes estavam convencidos
de que o fim do mundo estava próximo. E a história era espera ou esperança do fim dos
tempos'.
Por volta do séc. 17 a espera do fim dos tempos começa a não fazer sentido diante da
perseguição religiosa e política, sendo então possível 'pensar em um tempo sem limites, aberto
ao inédito', criando condições para o surgimento de um novo regime de historicidade, fato que
representou uma importante ruptura epistemológica, onde 'não era mais no tempo, mas pelo
tempo que a história se fazia'.
'A partir do humanismo já se constata a presença dos conceitos de: Tempos Antigos, Idade
Média e Tempos Modernos - e no Século das Luzes, o homem passa a ter 'perfeitamente
consciência de que estava vivendo há trezentos anos num tempo novo'. 'Com esta mudança no
tempo histórico, ocorre uma profunda transformação na maneira de conceber a história'.
Os autores ressaltam que, a partir deste momento, o ʻrelato passou a ser explicativo,
diminuindo o papel da cronologiaʼ e o ʻenfoque dos historiadores passou dos grandes
personagens ao conjunto da sociedadeʼ. Em suma: ʻdo acontecimento à estruturaʼ. A obra mais
marcante e que praticamente define esta nova forma de historiografia é O Século de Luis XVI,
de Voltaire, que passa a ser considerado pela Escola dos Annales, ʻo pai da escrita moderna da
históriaʼ.
Para eles, a obra O Mediterrâneo, de Fernand Braudel (um dos integrantes mais expressivos
dos Annales), também caracteriza um marco na moderna historiografia, por considerar o
tempo como protagonista da história capaz de traduzir perfeitamente esta ʻnova concepção
históricaʼ. Com Braudel e os Annales o conceito de tempo único para os historiadores se
dissipa, ganhando importância a noção de três temporalidades:
Portanto, para os autores, estamos falando agora de ʻritmos e não de duraçãoʼ, onde a
ʻestrutura prevalece sobre a conjunturaʼ.
Deste modo - ressaltam os autores - que no fim do Séc. 20, a história definitivamente se liberta
do ʻdomínio tirânico do tempo linear. ʻPassamos do estudo do político e do militar ao estudo da
sociedade e da economiaʼ.
Aqui neste ponto cabe uma pergunta. Mas o que vem a ser realmente estrutura e
acontecimento? Entender estes conceito torna-se imprescindível para se compreender o
conceito de ʻcamadas de históriaʼ. Para Koselleck - conforme descrito pelos autores -
ʻtradicionalmente a estrutura está mais próxima da descrição, e o acontecimento, do relato,
mas ambas estão interligadasʼ. E, ʻconservam sua finalidade cognitiva para favorecer a leitura
das múltiplas camadas de históriaʼ .
O texto analisado, menciona ainda que na década de 60, a história quantitativa ou história
serial, levaria a história de longa duração ao seu apogeu. E, que ainda nos anos 60, o
estruturalismo passa a denunciar ʻa história como um relato e somente como talʼ. Assim, para
Roland Barthes (semiótico estruturalista), ʻreconstruir um fato não era nada mais do que lhe
atribuir uma existência puramente lingüística, proibindo qualquer objetivaçãoʼ. Nos EUA esta
abordagem torna-se ainda muito mais radical com Hayden White, afirmando que ʻa narração
histórica era pura ficção verbal elaborada ou descoberta cujas manifestações corresponderiam
mais a seus equivalentes literários que científicosʼ.
Com a chegada dos anos 80, há uma reação definitiva contra o estruturalismo e a história
científica. Na revista Le Debat, Lawrence Stone denuncia o fim da ʻHistória Científicaʼ e Carlo
Guinzburg destaca a importância do indivíduo na história.
Já na parte final do capítulo em referência, os autores destacam que hoje ʻa cronologia suscita
novamente o interesse da classe historiadora, que finalmente reconheceu a importância de seu
papel no ofício do historiadorʼ. Para os autores ʻo interesse recente pelo acontecimento
inscreve-se no desenvolvimento da história do “tempo presente”, que parece ser móvel e pode
ter o seu início delimitado a partir da identificação de um acontecimento ʻoriginalʼ (exemplos:
1917, 1945,1989,etc) e que dependendo da sua proximidade pode ampliar ou reduzir o campo
do historiador do tempo presente.
Ainda na parte final do Cap IX, os autores tecem comentários sobre a tese de Francis
Fukayama (que particularmente escreveu sobre o caráter infindável do Liberalismo e formulou
a tese de que ʻa história humana terminaria definitivamente com o desaparecimento auto-
programado do homem sob ameaça da biotecnologia) e outros historiadores sobre um novo
regime de historicidade. Ao concluírem o capítulo, afirmam que ʻos historiadores de hoje se
interessam pela maneira como o tempo é vivido, seja ele como memória, compreensão
do passado ou representação do futuroʼ.