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IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
COIMBRA UNIVERSITY PRESS
VOL. I
LIÇÕES DE
PEDIATRIA
GUIOMAR OLIVEIRA
JORGE SARAIVA
COORDENAÇÃO
Capítulo 4.
História Clínica
4
Guiomar Oliveira
DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-1300-0_4
CAPÍTULO 4. HISTÓRIA CLÍNICA 43
grupo I, II ou III – serviço de urgência ou ato médico. Deve iniciar-se de um modo formal e
consulta de agudos e internamento); se- amistoso, em espaço próprio e condigno. O mé-
guimento hospitalar em colaboração com dico, previamente, deve saber quem vai receber,
os cuidados de saúde primários (doença e estar a par da informação disponível. Deve estar
crónica, preocupação…). identificado e apresentar-se. É útil saber o nome da
criança, idade, de onde vem, uma ou outra carate-
Em Portugal a CSIJ tem por base uma es- rística “positiva” que possa ser utilizada como frase
trutura organizativa bem sedimentada, com uma inicial “quebra gelo”. Deve falar calmamente e com
experiência de quase 25 anos, através da imple- linguagem adaptada à circunstância (cuidado com
mentação do Programa Nacional de Vigilância a utilização de termos médicos não compreensíveis,
em Saúde Infantil e Juvenil (PNSIJ) (primeiro em mas deve-se utilizar linguagem diferenciadora da
1992) pela Direção Geral da Saúde do Ministério população geral; é um médico…). Saber ouvir sem
da Saúde. As revisões subsequentes deram-se em pressas (ou pelo menos não dar a perceber…).
2002, 2005 e a última em 2013. Registar (pode ser mentalmente) o importante da
No atual PNSIJ (http://www.dgs.pt/?cr=24430) história e também as preocupações dos pais ou da
o número e a periodicidade de consultas de vigilân- criança, que deveremos reter, para esclarecimento
cia recomendadas são: primeiro ano de vida – sete posterior. Mostrar conhecimento e profissionalis-
(primeira semana de vida, 1, 2, 4, 6, 9 e 12 meses de mo, dirigir o “diálogo” sem ser fundamentalista.
idade); entre o 1 e os 3 anos – quatro consultas (15 e Deve seguir-se uma ordem, mas poderemos usar
18 meses, 2 e 3 anos); dos 4 aos 5 – duas consultas o oportunismo “se vier à conversa”. A experiência
(4 e 5 anos); entre os 6 e os 9 anos – duas consultas mostra que devemos ser cautelosos nas conclu-
[6 ou 7 anos (final 1º ano do 1º ciclo) e 8 anos]; sões, o que parece à primeira informação, pode
dos 10 aos 18 anos - três consultas [10 anos (início não ser; aguardar a emissão de “opinião” para o
2º ciclo),12/13 anos e 15/18 anos]. Detalhes dos fim, depois da história completa. Até lá, vamos
objetivos, estrutura, temas de conversa e cuidados formulando hipóteses que vamos rejeitando ou
antecipatórios destas consultas, constam na última apurando, mas só para nós. A família espera que
edição do Boletim de Saúde Infantil e Juvenil (BSIJ) no final se comprometa com um parecer clínico,
que deve ser de leitura obrigatória (disponível mas fundamentado (pela história natural, pela fi-
nas maternidades ou centros de saúde). siologia ou fisiopatologia). Se explicarmos de um
modo compreensível a fundamentação para a nos-
Apesar desta calendarização prévia da cro- sa hipótese, a consulta torna-se psicoterapêutica.
nologia das consultas, não deveremos perder o Este nível exige muito conhecimento e experiência.
sentido do oportunismo e examinar a criança
quando for conveniente. A mensagem a reter para os alunos é
que PRATIQUEM a HC, sempre que possível,
O diálogo entre o médico e a família/criança, quanto mais vezes, melhor. Não há histórias
para realização da HC, deve ser encarado como um iguais.
CAPÍTULO 4. HISTÓRIA CLÍNICA 45
emocional do médico deve ser adequado à situa- bem com a alimentação, o sono, o crescimento,
ção, não pode perder o domínio. o neurodesenvolvimento e o comportamento de
O curso do interrogatório é uma arte. O entre outros temas pediátricos.
equilíbrio entre o dirigismo necessário do médico,
naquela circunstância clínica, e a permissividade 5.Antecedentes pessoais
da catarse “daquele doente” deve ser conseguido. 5.1. Pré e perinatais
Mais uma vez as perguntas “oportunas - fora de Pré e perinatais: Gravidez (gesta nº) - du-
guião” podem ajudar nesta relação. Um cuidado ração, incidentes e factores de risco, ecografias,
que recomendo é que não se deve repetir per- diagnóstico pré-natal; parto (para nº), local, tipo,
guntas que obriguem a respostas já múltiplas intercorrências, qualidade da adaptação imediata
vezes dadas, e que podem ser facilmente obtidas à vida extrauterina (índice de Virgínea Apgar),
em documentos escritos fiáveis (por exemplo no cuidados na sala de parto, necessidade de rea-
BSIJ, os factos relativos ao período pré-natal…). nimação, somatometria (classificação de acordo
Podemos esclarecer dúvidas, mas já neste en- com idade gestacional - assinalar tabelas usadas);
quadramento…anteriormente referiu que, está primeiros dias de vida - permaneceu junto da mãe?
registado que…pode-me esclarecer se… (ou necessidade de internamento em unidade de
Nesta fase ir observando o estado emocional cuidados intensivos neonatais? Motivo e evolução
da criança e da família…(tranquilos, preocupados, a - ver resumo de alta - normalmente anexo no
confiar?), de modo a adequar os passos seguintes. BSIJ), quantos dias permaneceu na maternidade,
Os dados semiológicos “chave” devem ser se mamava bem. Incidentes neonatais: icterícia
escalpelizados: o quê, quanto, quando começa- (história, níveis máximos de bilirrubina, necessi-
ram (primeiro dia de doença – nem sempre fácil dade de fototerapia ou exsanguíneotransfusão).
de obter, cabe ao médico essa decisão), 2º, 3º… Resultado de otoemissões acústicas. Registar as
onde, como (súbito, progressivo) … vacinas administradas na maternidade a idade do
A interação semiológica, evolução e sequência “rastreio neonatal” e o resultado.
dos acontecimentos: primeiro a febre ou o exante-
ma? Primeiro o vómito ou a dor? (ajudar a esclarecer, Muito importante: integrar aqui os conhe-
mas não se deve sugerir ou induzir a resposta…). cimentos de obstetrícia e neonatologia.
Questionar sobre a medicação prescrita (regis- Consultar lição de neonatologia.
tar o fármaco por denominação comum internacio-
nal – DCI), a posologia (mg/Kg/dia), se conseguiu 5.2.História alimentar
tomar (vomitou, cuspiu…) e outras medidas tera- História alimentar: aleitamento - tipo;
pêuticas instituídas. Registar o efeito verificado. diversificação alimentar - quando e como,
Apesar da história se dirigir para uma situa- reações adversas. Alimentação atual (exem-
ção clínica específica, não deveremos deixar de plo da véspera, se padrão normal). Especificar
fazer brevemente uma revisão por sistemas or- suplementos mineralo - vitamínicos e respe-
gânicos e perguntas genéricas sobre se está tudo tivas doses.
CAPÍTULO 4. HISTÓRIA CLÍNICA 47
Muito importante: integrar aqui os conhe- Muito importante: integrar aqui os conhe-
cimentos de alimentação. cimentos de vacinas.
7.6 Avaliação clínica da acuidade auditiva 7.12 Períneo, genitais e ânus: inspeção e
e visual (ver lição de neurodesenvolvimento palpação (ver lição patologia frequente em
e comportamento). cirurgia de ambulatório), avaliar estadío
pubertário (ver lição de adolescência).
7.7 Pele, mucosas e fâneros (cabelos, pelos
e unhas): morfologia, cor, hidratação, 7.13 Membros, coluna e articulações:
tumorações, angiomas, alterações da morfologia geral (dismorfologia), simetria,
pigmentação. mobilidade, sinais inflamatórios, pesquisar
sinais de anomalias do desenvolvimento da
7.8 Cabeça/face: morfologia geral (ver anca. Pulsos femorais. (ver lição de Ortopedia
dismorfologia), fontanelas e suturas, olhos variantes da normalidade e problemas
(distância interocular, pálpebras, estrabismo, frequentes).
epicanto, nistagmos, pupilas, córnea,
conjuntiva e esclerótica), ouvidos (morfologia 8. Resumo
pavilhões auriculares, otoscopia), nariz Deve ser conciso e conclusivo. Deve relevar
(morfologia, permeabilidade aérea), boca os factos que pela sua positividade, ou negativi-
(morfologia, mucosas, dentes, úvula, palato, dade, sejam importantes relativamente à queixa
orofaringe, amígdalas e pilares amigdalinos). que traz a criança ao médico e aos dados que
foram detetados através da anamnese e da ob-
7.9 Pescoço: morfologia geral (ver servação global.
dismorfologia), mobilidade, tumefações,
adenopatias, tiroide. 9. Lista de problemas
A flexão da nuca é por sistema verificada, Escrevê-los por ordem de relevância no con-
assim como a pesquisa dos restantes sinais texto “desta” história.
meníngeos (de relevo em contextos febris).
10. Hipóteses de diagnóstico
7.10 Tórax: morfologia geral (ver Destacar apenas as plausíveis “desta” his-
dismorfologia), sinais de dificuldade tória.
respiratória, auscultação cardiopulmonar Discuti-las “telegraficamente” tendo em
(ritmo cardíaco, sopros, murmúrio vesicular conta os diagnósticos diferenciais. Ou seja em
e ruídos adventícios) e percussão. cada uma das hipóteses de diagnóstico do pro-
blema ou “doença”, listar os dados que estão a
7.11 Abdómen: inspeção geral, palpação favor e os que estão contra.
superficial e profunda (fígado, baço, massas, Poderá ser necessário realizar exames com-
defesa, dor – caraterísticas), percussão e plementares de diagnóstico (ECD) ou NÃO…
auscultação. Verificar sinais de irritação Ter em conta que a requisição de um ECD
peritoneal. (decisão médica exclusiva) deve ser justificada.
50 GUIOMAR OLIVEIRA
Ou seja, o seu resultado deve interferir na deci- prescritos em SOS devem seguir o mesmo rigor e re-
são médica subsequente, senão for o caso, pedir gistar uma informação clara de quando administrar.
para quê? Situações clínicas a vigiar: especificar.
Sinais ou sintomas de alarme que devem
11.Exames complementares motivar nova observação médica, “neste” con-
de diagnóstico texto: especificar.
O pedido deve ser adequado à situação clí-
nica (i.e. radiografia do tórax projeção póstero- 15. Informação sobre prognóstico
-anterior ou antero-posterior? Sumária de urina História natural da doença ou problema (por
- método de colheita?) e a sua justificação ex- exemplo: variante do normal).
pressamente assinalada.
Leitura complementar
Mota HC. Para uma história clínica (I). Acta Pediatr Port
2011;42(1):43-8.
Mota HC. Para uma história clínica II. Acta Pediatr Port
2011:42(2):84-9.
Carrilho EM. História clinica em pediatria. In: Palminha JM,
Carrilho E. Orientação diagnóstica em pediatria: dos si-
nais e sintomas ao diagnóstico referencial. Lisboa: Lidel;
2002-2003.
Mota HC. Bases do raciocínio clinico. In: Palminha JM, Carrilho
E. Orientação diagnóstica em pediatria: dos sinais e sin-
tomas ao diagnóstico referencial. Lisboa: Lidel; 2002-
2003. p 57-60.
History and examination. In:Lissauer T, Clayden G. Illustrated
Textbook of Paediatrics. 4th ed. Elsevier Health Sciences.
2011. p 13-29.