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1. DOS FATOS
Como se pode observar Excelência, só houve agressão por parte do Réu, porque ele
teve que repelir injusta agressão da vítima. Uma vez que, Claique não foi com a intenção de
iniciar uma briga, muito menos matar a vítima, somente queria pedir para que ela deixasse a
casa. Portanto, só teve início as agressões quando Isaque o ameaçou com “pedaço de pau” e
uma faca.
Nesse ínterim, ambos entraram em vias de fato. Porém, em um certo momento a
vítima ainda conseguiu pegar novamente o referido “pedaço de pau” e a faca, mas desta vez, o
Réu simplesmente deixou a vítima no local e se evadiu.
Importante salientar que, em nenhum momento Claique teve o dolo para matar, visto
que se ele quisesse, mesmo repelindo a uma injusta agressão, ele poderia ter continuado a
bater, ou ter voltado para matá-lo. Muito pelo contrário, ligou preocupado e pediu pra Jurema
ir ao local verificar como Isaque estava.
Ora Excelência, uma pessoa que quer a morte de outra, não pede para outra pessoa
verificar como a vítima estava, ou dá a possibilidade de alguém ir até o local chamar o
socorro. Além disto, uma pessoa que tem o dolo de matar, não se arriscaria se quer a falar pra
a outra onde está a vítima, e que deixou ela em determinado lugar.
Então, é possível afirmar que Claique não agiu com o propósito de matar, o que
desclassifica a conduta dele referente ao animus necandi – vontade de matar, pois foi
totalmente ao contrário disto. Assim, explica o Dr. Prof. e Advogado André Peixoto De
Souza, o que é animus necandi:
Vontade consciente de matar. Elemento volitivo e consciencioso de agir
contra vida humana. Dolo no homicídio implica, necessariamente, o desejo
de matar, e não só o desejo, como a plena consciência – refletida e meditada
– de agir nesse propósito: matar. (SOUZA, A. P. Dolo no homicídio. Canal
Ciências Criminais, 2016.)
Portanto, é explícito que Claique não quis a morte da vítima, ele somente repeliu a
injusta agressão, ele desejava apenas que Isaque saísse da casa, dito isto percebe-se que a sua
conduta foi fundada na Legítima Defesa, visto que havia um perigo prestes a acontecer
naquele momento. Assim expõe o artigo 25 do Código Penal:
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele a injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem.
Assim, no caso em análise, seria impossível exigir que o Réu agisse de maneira
diversa, pois já havia sido ameaçado diversas vezes pela vítima, que inclusive era usuária de
drogas. Dessa forma, o réu foi agredido e reagiu em legítima defesa, logo cabe perfeitamente
a absolvição sumária.
Assim, deve se dar o reconhecimento da legítima defesa, causa de excludente da
ilicitude (art. 23, II, do Código Penal), com a consequente ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do
acusado, nos termos do art. 415, IV, do Código de Processo Penal.
Art. 23, CP: Não há crime quando o agente pratica o fato: [...]
II - em legítima defesa;
Art. 415, CPP: O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado,
quando: [...]
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Caso assim não entenda Excelência pela absolvição, deve, então, o Réu
ser responsabilizado tão somente pelo delito de lesão corporal seguida de morte. Haja vista
que, por conta das vias de fato, o certo seria falar em lesão corporal, e não tentativa de
homicídio, pois como dito anteriormente, o Réu não quis a morte da vítima, isto é, não houve
animus necandi, mas sim, somente animus laedendi, isto é, vontade de lesionar,
configuradora do crime de lesão corporal.
A lesão corporal seguida de morte é um crime de preterdoloso, isto é, o agente possui
dolo na ação (lesionar) e culpa no resultado (morte). Assim, oportuno mencionar o
entendimento do eminente doutrinador Rogério Greco, em sua obra Código Penal Comentado,
sobre o crime preterdoloso, in verbis:
Eliminar a chamada responsabilidade penal objetiva, também conhecida
como responsabilidade penal sem culpa ou pelo resultado, evitando-se, dessa
forma, que o agente responda por resultados que seque ingressaram na sua
órbota de previsibilidade. (GRECO, R. Código Penal Comentado, Ed. 11º,
rev., ampl. e atual. Niterói, RJ: Impetus, 2017, p. 128.)
Logo, como a vítima veio a óbito, passível falar de lesão corporal seguida de morte,
pois por mais que se resultou a morte da vítima, Claique não quis tal resultado, e as
circunstâncias ocorridas após as lesões, evidenciaram isto, pois ele em ato contínuo ligou para
Jurema, e pediu a ela para que fosse verificar como a vítima estava, então houve uma
preocupação com a vida de Isaque. Assim evidencia tal artigo:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: [...]
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo;
Isto posto Excelência, com a ausência do Animus Necandi comprovada, deve ser
desclassificado o crime de homicídio qualificado, imputado ao Réu, para lesão corporal
seguida de morte.
5. PEDIDOS
Diante do exposto requer se digne Vossa Excelência:
a) Seja rejeitada de plano a denúncia contra a Ré, com fulcro nos art. 395, e incisos,
do Código de Processo Penal, eis que objetiva a denúncia imputar responsabilidade
penal sob conduta atípica;
b) Caso Vossa Excelência não entenda pela rejeição da denúncia, seja dada a
absolvição da Ré, com fundamento no art. 386, V do Código de Processo Penal;
_________________________________________
EVELYN AMANDA GUTH
XXXXX OAB/GO
_________________________________________
NYCOLE OLIVEIRA DIAS
XXXXX OAB/GO
ROL DE TESTEMUNHAS
1) Benoni Pereira da Silva, qualificado à fl. 69;
2) Valdelson Muniz do Prado, qualificado à fl. 285.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da
União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> Acesso em: 10 de
junho de 2019.
GRECO, R. Código Penal Comentado, Ed. 11º, rev., ampl. e atual. Niterói, RJ: Impetus,
2017, p. 128.