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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

QUESTIONÁRIO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO


PROFESSOR MS. JOSÉ LUIZ ANTIGA JUNIOR

1) Diferencie senso comum de ciência.


Senso comum é o conhecimento que qualquer pessoa pode ter sobre
qualquer assunto, mediante atividade intelectual corriqueira, ao passo que a
ciência busca organizar e sistematizar o conhecimento do homem. O
cientista é um ser preocupado com a veracidade e a comprovação de seu
conhecimento, o que faz com que construa uma série de enunciados e
regras rigorosas, que permitem a descoberta e a prova desse conhecimento

2) O estudo da norma jurídica é suficiente para o profissional do Direito?


Explique.
Não. A norma jurídica é o principal objeto de estudo do profissional do
Direito, mas não pode ser o único. Isso acontece porque o profissional do
direito deve conhecer todos os fatores sociais que circundam o direito e que
o influenciam, tais como fatores políticos, religiosos, econômicos, etc.

3) Quais são os objetos de estudo da ciência do Direito?


Os objetos de estudo do Direito são classificados como imediatos e
mediatos. Como objeto imediato da ciência do direito temos a norma
jurídica. O que os cientistas do direito fazem, em grande maioria, é estudar
a norma jurídica existente. Já o objeto mediato de estudo da ciência do
direito se resume a todos os aspectos sociais que circundam o direito, tais
como os fatores sociais, econômicos, religiosos, políticos.

4) Por qual motivo dizemos que o Direito é uno e indivisível?


Porque existem alguns elementos que são próprios do direito, e que o
tornam diferentes das demais experiências sociais, tais como a religiosa, a
econômica, a artística, etc.

5) O que significa multiplicidade do Direito?


Multiplicidade do Direito significa que os estudiosos dividem o direito em
vários ramos para facilitar a compreensão e o conhecimento do mesmo. É,
portanto, uma questão didática.

6) Quais são os três ramos do direito objetivo? Explique cada um deles.

O direito objetivo é dividido em três ramos: direito público, direito privado,


direito difuso. O direito público é o ramo do direito que tem normas
referentes à atuação do Estado, ao interesse público, de uma forma geral. O
direito privado reúne normas que tem por matéria o interesse privado, ou
seja, disciplina as relações entre os particulares. Por fim o direito difuso é
aquele que se ocupa das normas que regem direitos transindividuais, de
natureza indivisível.

7) O Direito possui método e linguagem próprios?


Sim, o Direito possui método e linguagem próprios, enquanto uma ciência. A
linguagem própria do direito é percebida quando nos deparamos com casos
em que o senso comum concebe um problema social diferentemente da
ciência jurídica. Ex.: geralmente o que é furto para o direito, é roubo para o
senso comum.

8) É sabido que a ciência do direito evolui de modo diferente das demais


ciências, principalmente as exatas. Explique por que isso acontece.
Isso ocorre porque a ciência do direito tem como objeto teorias que buscam
direcionar o comportamento das pessoas, ao passo que as ciências exatas
buscam apenas informar, mediante suas teorias, como as coisas
acontecem. Há, pois, na ciência do direito, a utilização da função diretiva da
linguagem combinada com a função informativa, ao passo que nas demais
ciência, mormente as exatas, há apenas a função informativa da linguagem
na comunicação das teorias.

9) Explique função informativa e função diretiva da linguagem.


A função informativa da linguagem diz respeito ao uso que os cientistas
fazem da linguagem no momento em que comunicam às pessoas suas
teorias. A função informativa tem a finalidade de mostrar, revelar como as
coisas acontecem, ao passo que a função diretiva visa direcionar
comportamentos das pessoas.

10)O que é zetética jurídica?


Zetética jurídica é um modo de se estudar questões do direito priorizando a
função informativa da linguagem, ou seja, preocupando-se em revelar como
as coisas são. É um enfoque da ciência do direito que não se prende à
nenhum dogma. Um estudo zetético do direito irá priorizar as infinitas
questões que possam existir acerca do objeto estudado, não se
preocupando em fornecer respostas práticas, em solucionar problemas. É
um tipo de estudo dos problemas jurídicos em que os dogmas não podem
ser tidos como incontestáveis.

11)O que é dogmática jurídica?


Dogmática jurídica é o enfoque de estudo do direito em que há a
preocupação em fornecer respostas práticas para os problemas. Uma
abordagem dogmática do direito irá se preocupar em solucionar os casos,
partindo, pois, e não negando, pontos de partida que são os próprios
dogmas. A ênfase é a preocupação com a solução dos problemas.

12) Qual a importância das disciplinas do curso do direito que possuem um


enfoque zetético do problema jurídico?
As disciplinas que estudam o direito sob a ótica zetética visam conhecer a
fundo o que está sendo estudado, independentemente dos dogmas já
postos pelo direito vigente. A idéia de se estudar questões do direito sob o
enfoque zetético é possibilitar um conhecimento crítico, não embasado em
dogmas de maneira cega e incontestável. São as disciplinas zetéticas que
formam um profissional crítico, capaz de conhecer o direito antes de tudo
como uma manifestação social, complexa, e que nem sempre pode ser
resumida à dogmas imutáveis.

13)Explique a teoria do mínimo ético.


A teoria do mínimo ético surgiu para tratar da relação entre Direito e Moral.
Para tal teoria, o Direito seria um conjunto de regras morais indispensáveis
para a sociedade. Há inúmeras regras de Moral tratando de inúmeros fatos
sociais. Porém, as questões mais importantes disciplinadas pela Moral
deveriam se tornar questões de Direito. Em outras palavras, se a regra de
moral é essencial para a sociedade, ela deve se tornar uma regra de Direito.
O Direito disciplina aquilo que é mínimo existencial para a sociedade, ou
seja, sem tais regras a sociedade não subsiste. Daí a teoria se chamar
teoria do mínimo ético. Entretanto é uma teoria que trata da relação ideal
entre direito e moral. A teoria não se verifica na realidade, pois muitas vezes
o direito protege algo que é imoral e também, por necessidade de
organização, questões amorais, como dos prazos processuais, estruturas
dos órgãos do Estado, etc.

14)Explique as diferenças entre direito e moral.


As diferenças entre Direito e Moral são inúmeras. Primeiramente podemos
dizer que a Moral é um conjunto de regras que se cumpre de modo
espontâneo, ao passo que o direito se resume à regras obrigatórias. Além
disso o Direito pode ser valer da força organizada pelo Estado, que
chamamos de coação, para que seja cumprido, ao passo que a moral é
incoercível. Ademais, o cidadão que cumpre uma regra de direito cumpre
algo feito por terceiros (legisladores representando o Estado), o que
representa a heteronomia do Direito. Já a moral é um conjunto de regras
que é cumprida pelo próprio indivíduo que a criou, sendo, pois, autônoma.
A moral não é coercível, ou seja, não pode se valer da força. Se alguma
pessoa utiliza da força para obrigar alguém a ser moral, a moral que estará
sendo seguida é a de quem obriga, não de quem é obrigado. O direito tem
bilateralidade atributiva, ou seja, sempre será uma relação entre duas ou
mais pessoas e, dessa relação, surgirão direitos e deveres de maneira
objetiva, independentemente da vontade das pessoas. Já a moral nunca
terá atributividade, pois os direitos e deveres podem ficar apenas na
consciência individual.
Por fim, a sanção moral não é organizada e, quando coletiva, é difusa pela
sociedade, de forma não predeterminada. A sanção jurídica é sempre
organizada e predeterminada.

15)Todas as regras sociais são cumpridas de maneira espontânea? Por quê?


Nem todas as regras sociais são cumpridas de maneira espontânea. Há
regras que não podem depender da vontade das pessoas para serem
seguidas ou não, e, por isso, impõe-se a necessidade da obrigatoriedade.
Em outras palavras, as regras mais importantes da sociedade precisam ser
impostas obrigatoriamente, inclusive mediante o uso da força.

16) A frase “o direito é a ordenação coercitiva da sociedade” está correta?


Explique.
Não, a frase não está correta, pois o Direito é uma ordenação coercível, não
coercitiva. Isso significa que o direito sempre poderá se valer do uso da
força, mas nem sempre se valerá. Há casos, e são a maioria, em que as
pessoas cumprem as regras sem que seja preciso o uso da força. Portanto,
há uma possibilidade do Direito utilizar a força, não uma necessidade. Se
dizemos que o direito é uma ordenação coercitiva, estamos afirmando que
ele sempre se valerá da força, o que não é verdadeiro.

17) O Direito sempre utiliza a força para impor o cumprimento da regra? Por
quê?
Não. O Direito apenas se utilizará da força quando as pessoas não
cumprirem as regras (jurídicas) espontaneamente.

18)Explique a teoria da coercibilidade.


A teoria da coercibilidade implica na aceitação de que o Direito é coercível,
ou seja, sempre poderá se valer da força. Essa teoria rejeita a tese de que o
direito é coercitivo. O direito, de acordo com essa teoria, não se resume à
força, não é a mesma coisa que força. Da mesma forma, para essa teoria é
errada a afirmação de que direito nada tem a ver com força. Assim, o
correto seria considerarmos que o direito é a ordenação coercível da
conduta humana.

19) O Direito é autônomo ou heterônomo? Explique.


O Direito é heterônomo, pois quem cumpre uma regra de direito cumpre
algo feito por terceiros (legisladores, Estado), não uma regra feita por si
mesmo. Pouco importa a vontade da pessoa de se submeter ou se escusar
do cumprimento de uma regra do Direito. Ou seja, o direito não depende da
vontade das pessoas, ele existe objetivamente.

20) O que você entende por bilateralidade atributiva?


Por bilateralidade atributiva entendo que haverá sempre uma relação entre
duas ou mais pessoas e, dessa relação, surgirão direitos e deveres para os
envolvidos no problema. Porém, esses direitos e deveres são atribuídos
pelo ordenamento jurídico, de forma objetiva, pouco importando a vontade
ou as características das pessoas envolvidas na relação jurídica.

21) As normas de trato social são idênticas às normas da moral?


Não, as normas de trato social são heterônomas, ou seja, são feitas pela
sociedade, não pelo individuo que no caso concreto irá cumprir a regra. Já a
moral pode ser individual, ou seja, o sujeito cria e segue suas próprias
regras.

22) Forneça alguns conceitos possíveis de Direito.


O direito pode ser tido como a ordenação coercível da conduta. Também
podemos ter o direito como a ciência que estuda o conjunto de regras
sociais que disciplinam o comportamento humano em sociedade. Podemos,
ainda, ter o direito como sinônimo de justiça, o que ressalta um caráter
valorativo do mesmo. Podemos, por derradeiro, encarar o direito como um
fato que acontece na sociedade.

23) Explique a estrutura tridimensional do Direito.


Para Miguel Reale, criador da teoria da tridimensionalidade do Direito, o
Direito se manifesta na sociedade sob três formas: fato, valor e norma.
Primeiramente é necessário, para que haja direito, haver um fato social. Se
esse fato social possui valor para a sociedade, ela deve criar a norma para
proteger tal valor. Logo, não há Direito desprovido de fato, de valor ou de
norma. Ex.: o homicídio é um fato. Inúmeros são os homicídios, crime que
nasceu com a humanidade. Diante disso, a sociedade percebe que deve
proteger a vida. O valor, portanto, a ser protegido nesse fato é a vida
humana. Surge, portanto, a necessidade de se criar uma norma que proteja
a vida e imponha, mediante a possibilidade do uso da força, uma sanção
que estimule as pessoas a cumprirem a regra ou as desestimule a não
cumprir.

24) O que é coação?


Coação é a violência física ou psíquica que pode ser exercida contra outra
pessoa. Essa acepção de coação é tida como ilícita, e pode viciar o
ato/negócio jurídico, tornando-o anulável. Porém, a coação pode ser
também encarada como força organizada para o cumprimento das regras.
Nesse sentido a coação é favorável ao direito e visa o uso da força pelo
direito para que a força contrária ao direito não prevaleça.

25) O que é sanção?


Sanção é uma garantia de que uma regra social será cumprida, seja ela
moral ou de direito. Logo, a sanção pode ser moral ou jurídica. No primeiro
caso (moral), a sanção é difusa, desorganizada. Já a sanção jurídica é
organizada e predeterminada pelo Estado.

26) A sanção é sempre uma pena?


Não. O Direito pode tentar garantir que se cumpram as regras mediante
incentivos, prêmios. Trata-se da sanção premial, também chamada de
sanção positiva. Esse tipo de sanção revela uma técnica de encorajamento:
cria-se para o destinatário da regra a coragem para que ele a cumpra. É o
contrário do que ocorre com a pena, que é uma sanção punitiva: nesse
caso, desencoraja-se o indivíduo a descumprir a regra.

27) A sanção jurídica universal pode ser imposta por qualquer ordenação
jurídica? Explique.
Não. A única sanção proveniente de um ordenamento jurídico e que pode
ser imposta a todos é a sanção do Estado. Apenas o Estado detém o
monopólio da jurisdição, logo, a sanção universal só pode ser imposta por
quem cria o ordenamento jurídico, que é o Estado.

28) Qual o papel do Estado frente a sanção? Fundamente.


O Estado é o único ente capaz de impor a sanção jurídica universal. Há
outros ordenamentos jurídicos que coexistem com o Direito do Estado, mas
nenhum deles tem a característica de ser universal, ou seja, ser aplicado a
todos independentemente da vontade dos indivíduos.

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