Você está na página 1de 2

Lição 2

09 de julho/2021

Inquietos e rebeldes
Introdução:
A jornada do povo de Israel do Egito para Canaã contém muitas lições preciosas para o povo de Deus que
está na jornada deste mundo para a Canaã celestial. Por causa de sua imparcialidade, a Bíblia não
ocultou os fracassos de seus personagens. Dessa forma, ao analisarmos os momentos de derrota do povo
de Deus, podemos aprender por contraste, ou seja, os erros nos ensinam o que não devemos fazer.
Dentre os erros cometidos pelo povo de Israel destaca-se o sentimento de insatisfação, mesmo diante de
todas as bênçãos recebidas de Deus. Ao longo de sua jornada do Egito a Canaã é possível enxergar que,
embora eles tivessem saído do Egito, o Egito não havia saído deles. A exemplo da esposa de Ló, a
maioria olhava para trás, sem sentir gratidão pelo futuro apontado por Deus.

1. Insatisfeitos:
O povo de Israel tinha como líder um homem manso e humilde, contemplou enormes milagres, recebeu
revelações diretas de Deus, porém, mesmo com todos esses benefícios, nunca estava satisfeito. Sempre
achavam defeito em algo ou em alguém. Sempre tinham um motivo para reclamar.

Em Êxodo 14, lemos o relato do grande milagre de Deus ao abrir o Mar Vermelho diante do povo de Israel,
mostrando que Ele tinha poder sobre as águas. Porém, poucos dias depois, quando chegaram ao deserto
de Sim, o povo começou a reclamar, como que se esquecendo do poder do Deus que os havia resgatado.

No capítulo 17 lemos: “Tendo partido toda a congregação dos filhos de Israel do deserto de Sim, fazendo
suas paradas, segundo o mandamento do Senhor, acamparam-se em Refidim; e não havia ali água para o
povo beber. Contendeu, pois, o povo com Moisés e disse: Dá-nos água para beber. Respondeu-lhes
Moisés: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao Senhor? Tendo aí o povo sede de água,
murmurou contra Moisés e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a
nossos filhos e aos nossos rebanhos? Então, clamou Moisés ao Senhor: Que farei a este povo? Só lhe
resta apedrejar-me” (Êx 17:1-4, ARA).

No Novo Testamento, o apóstolo Paulo usa o exemplo do povo de Israel como alerta para o atual povo de
Deus. Em 1 Coríntios 10, ele aponta para o pecado da murmuração como um dos principais erros que
levou a nação à destruição: “Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo
exterminador. Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de
nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (1Co 10:10, 11, ARA).

Diante do exemplo negativo, Paulo apontou para um segredo, a confiança de que Deus não permitirá que
vivamos situações cujas provações sejam maiores que as nossas forças: “Não vos sobreveio tentação que
não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo
contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co
10:13, ARA).

Assim, a insatisfação e a murmuração são sintomas da falta de fé na providência de Deus. A verdadeira


confiança no Criador desenvolve um sentimento de contentamento mesmo em meio ao sofrimento. Afinal,
o Senhor do Universo nunca abandonará Seus filhos no meio da tempestade.

2. A bênção do não de Deus:


Em 2003, foi lançado um interessante filme, “Todo Poderoso”, dirigido por Tom Shadyac e estrelado por
Jim Carrey. A trama apresenta um homem que, por um período, ficou com os poderes de Deus. Em certo
momento, incomodado com tantas vozes em sua cabeça, as quais vinham das orações, ele decidiu dizer
sim para tudo. Porém, o filme retratou o caos que veio após tal decisão. No fim, todos perceberam que
nem sempre o que pedimos é o melhor para nós, ou para a sociedade.

Em Números 11, Deus respondeu à oração do povo que desejava comer carne em vez do maná celestial.
Porém, o texto revela que o pedido do povo não foi bom, tanto é que, logo após o banquete, seguiu-se
uma terrível praga. Essa cena nos lembra de que nem sempre a melhor resposta para o que pedimos é o
sim. Muitas vezes, o não de Deus é a bênção de que precisamos.
Vale lembrar que Deus sempre responde às nossas orações. Porém, às vezes Ele diz “sim”, outras vezes
diz “não” e outras vezes pode dizer “espere”. E o que aprendemos do estudo da Bíblia é que, tanto o “sim”,
quanto o “não” ou o “espere” de Deus são bênçãos para a nossa vida.

3. O perigo da projeção:
Projeção é um termo usado na Psicologia para a tendência de enxergar nos outros defeitos que estão em
nós. Tal princípio pode ser visto no caso dos espias enviados por Moisés, conforme registrado em
Números 13. Dos doze espias enviados, dez trouxeram um relatório negativo. Eles reclamaram da terra,
supervalorizaram os inimigos, e no fim do discurso, declararam: “Éramos, aos nossos próprios olhos, como
gafanhotos e assim também éramos aos olhos deles” (Nm 13:33).

Perceba que eles disseram como as pessoas os viam. Segundo eles, os inimigos os olhavam como
insetos, pequenos e frágeis. Porém, a incoerência é que muitos anos depois, não mais Moisés, mas Josué
enviou novamente espias para ver a terra de Canaã. E ao conversar com uma mulher que era do povo
inimigo, ela deu um relato totalmente contrário ao que os primeiros espias haviam dito.

Raabe declarou: “Bem sei que o Senhor deu esta terra a vocês, e que o pavor que vocês estão causando
caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão se derretendo de medo. Porque ouvimos que o
Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vocês, quando saíram do Egito. Também ouvimos o
que vocês fizeram com os dois reis dos amorreus, Seom e Ogue, que estavam do outro lado do Jordão, os
quais vocês destruíram. Quando ouvimos isso, o nosso coração se derreteu, todos ficamos desanimados,
por causa da presença de vocês. Porque o Senhor, o Deus de vocês, é Deus em cima nos Céus e
embaixo na Terra” (Js 2:9-11).

O que percebemos é que os inimigos, na verdade, não viam o povo de Israel como inferiores. Eles tinham
medo, pois sabiam qual era o Deus que estava com eles. Esse é um triste exemplo de como nos
enganamos ao achar que temos certeza do que os outros estão pensando de nós.

Weverton de Paula Castro


Pastor e Professor de Teologia na FAAMA

Você também pode gostar