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Aconselhamento e Orientação em Psicologia

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Nesta webaula, conheceremos o aconselhamento psicológico, uma prática muito importante para a atuação
profissional em Psicologia. Ele pode ser realizado nos mais diversos contextos e nas mais variadas formas.

Introdução ao aconselhamento psicológico

Aconselhamento psicológico: o que é?

Vamos, neste momento, definir a prática de aconselhamento psicológico, uma atividade, como já introduzimos,
relevante para o exercício profissional do psicólogo.

De acordo com Scorsolini-Comin (2014, p. 4), podemos compreender aconselhamento pscicológico,


genericamente, como:

“[...] uma experiência que visa a ajudar as pessoas a planejar, tomar decisões, lidar com a rotina de pressões e crescer, com
a finalidade de adquirir uma autoconfiança positiva. Pode ser considerada uma relação de ajuda que envolve
alguém que
busca auxílio, alguém disposto a ajudar e apto para essa tarefa, em uma situação que possibilite esse dar e receber apoio.

Além desta definição, o aconselhamento psicológico pode ser compreendido como a


“relação face a face de duas pessoas, na qual uma delas é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional,
profissional, vital e a utilizar melhor os seus recursos pessoais.


— (SCHEEFFER, 1980, p. 14 apud SCORSOLINI-COMIN, 2014, p. 4)

Para Rogers (1942), criador da abordagem centrada na pessoa, o aconselhamento deve ser uma situação que
favoreça o autoconhecimento, o crescimento pessoal, a autonomia, a autorrealização e a liberdade.

Como veremos, Rogers tem historicamente um papel importante no desenvolvimento e na compreensão da


prática do aconselhamento psicológico.

Histórico do aconselhamento psicológico

O processo surgiu, em 1909, com Frank Parsons, que objetivava auxiliar jovens que precisavam realizar a escolha
de carreira.

Com um viés marcadamente positivista e adaptativo, e fundamentado na teoria do "traço e fator", buscava
identificar a profissão ideal para o adolescente com base no levantamento psicométrico das características
pessoais dele. Era
comum o uso de testes e demais instrumentos padronizados.

Como pode-se observar, considerando-se as características descritas, tratava-se de uma prática bem diretiva e
ligada à psicologia industrial. Necessitava-se “encaixar” o “homem certo” no “lugar certo”.

Com o tempo, o campo do aconselhamento se ampliou, passando a designar uma relação de ajuda com a qual a
pessoa em busca de atendimento procurava alívio para as próprias tensões em diversos domínios da vida, como o
educacional,
o profissional e o emocional, sem envolver apenas o fornecimento de informações, a aplicação de
testes psicológicos e a orientação considerada diretiva.

Foi o estudo de Carl Rogers (1942), especificamente a publicação da obra Counseling and psychotherapy, que
promoveu essa ampliação no campo do aconselhamento e a maior aproximaçãodeste com a área da
psicologia
clínica e, consequentemente, da psicoterapia, que já tinham bastante tradição à época.

Aconselhamento psicológico e psicoterapia

Alguns autores diferenciam ambas as práticas traçando entre elas um continuum no decorrer do qual o
aconselhamento educacional e profissional estaria em uma posição inicial, realizado quando há maior
diretividade,
brevidade e menor grau de sofrimento. "A psicoterapia seria um processo derivado do
aconselhamento, representando um atendimento mais intenso e aprofundado, embora com os mesmos
objetivos" (SCORSOLINI-COMIN, 2014,
p. 9).

Fonte: Shutterstock.

Segundo Scorsolini-Comin (2014, p. 9), o "sucesso de uma intervenção, para Rogers [...], dar-se-ia por certas
atitudes básicas que se formam na relação com o cliente, entre elas a congruência ou autenticidade, a
consideração positiva
incondicional e a postura empática [...]", razão pela qual, então, desde o primeiro encontro
entre psicólogo e cliente, há uma experiência de crescimento.

Controvérsia:

Aconselhamento psicológico: mais breve e superficial.

Psicoterapia: mais intensa, profunda e duradoura.

A diferença básica entre as duas mencionadas práticas, de acordo com Schmidt (2012 apud SCORSOLINI-COMIN,
2014, p. 7), poderia ser sumarizada em três elementos:

a. "No tempo requerido em cada um dos processos".

b. "No grau de aprofundamento proporcionado por cada técnica".

c. "No tipo de problema trazido pelo cliente, se mais situacional ou de caráter mais permanente, ligado a
alguma patologia ou desconforto emocional".

"Nessa perspectiva mais generalista, o aconselhamento estaria ligado a atividades de orientação, focado em
problemas específicos e que demandem soluções pontuais ou que não ensejem a necessidade de um
acompanhamento mais longo
e aprofundado." (SCORSOLINI-COMIN, 2014, p. 7)

Entretanto, independentemente de encaminhar o cliente para um tratamento psicoterápico ou para uma


prática de aconselhamento psicológico, o objetivo é sempre o mesmo: a experiência de crescimento pessoal
do cliente. Sendo
assim, é extremamente crucial e importante que o profissional de psicologia, em sua
formação, conheça e domine técnicas tanto da psicoterapia quanto do aconselhamento psicológico, de
caráter mais generalista, para poder
identificar e encaminhar diferentes demandas para diferentes
modalidades de atendimento.

A saúde mental e as demandas dos pacientes de aconselhamento


psicológico

Saúde mental e aconselhamento psicológico

Quando se fala em saúde mental, é sempre importante lembrar que, no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS)
regulamenta o trabalho de profissionais da mencionada área com base nas leis da chamada Reforma Psiquiátrica,
cujo modelo é o antimanicomial. Nesse contexto, em 2010 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) produziu um
material denominado “Práticas profissionais de psicólogos e psicólogas a atenção básica à saúde”, no qual
registra
os mais diversos fazeres dos psicólogos no Brasil atuantes na atenção básica do SUS. Entre essas práticas,
encontramos algumas voltadas especificamente para a saúde mental.

Fonte: Shutterstock.

De acordo com o mencionado material do CFP (2010, p. 45-47), os principais desafios encontrados pelo
profissional de psicologia da saúde mental são: i) o preconceito das próprias equipes de profissionais da atenção
básica com relação
aos usuários de serviços da saúde mental; ii) a falta de compreensão e o preconceito com
relação à importância da psicologia como prática científica e promotora de saúde.

Saúde mental: experiências inovadoras

É apontado, também no já referido material (CFP, 2010), que há a possibilidade de desenvolver atividades
inovadoras de aconselhamento psicológico no âmbito da saúde mental. Os exemplos citados, são, entre outros:

Grupos de orientação com familiares de portadores de transtornos psiquiátricos.

Oficinas terapêuticas com os próprios usuários dos serviços de saúde mental. [Aumentam os vínculos deles
entre si, com o serviço e o território.]

Grupos de saúde mental com pacientes com transtornos graves. [Promovem a saúde mental com a
participação de profissionais de diversas áreas.]

Essas atividades podem ser desenvolvidas no contexto dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou outros
equipamentos da rede de saúde.

Possibilidades de ação com famílias

Entre as possibilidades de ações que podem ser desenvolvidas com as famílias, no âmbito da saúde, podem ser
citadas:

Visitas domiciliares: previstas como atribuição do psicólogo em serviços de saúde, principalmente na


Estratégia Saúde da Família (ESF).

Grupos de pais: nos quais se desenvolvem orientações sobre papéis parentais e comportamentos
promotores de saúde.

Essas atividades são apontadas como efetivas, principalmente, para diminuir filas em UBS (por focarem na
mudança de comportamentos relacionados à saúde) e também para desmistificar o papel do psicólogo e para
quebrar resistências
quanto à profissão.

Demandas da saúde mental

Entre algumas demandas de saúde mental que o psicólogo pode encontrar estão os possíveis públicos com os
quais deve fazer um trabalho de aconselhamento psicológico:

Vítimas de violência (doméstica, sexual, etc.): especificamente as vítimas de violência doméstica podem ser
um público frequente e presente em UBS, em razão das sequelas e comorbidades advindas do contexto
violento que vivenciam.

Adolescentes: um trabalho possível e necessário é o aconselhamento e a orientação sobre gravidez e ISTs em


virtude do início da vida sexual e da ausência de referências de comportamentos saudáveis no âmbito sexual,
uma vez
que esse assunto ainda é considerado tabu para determinados grupos e indivíduos.

Âmbitos de atuação

Na saúde pública, o psicólogo pode atuar:

“Na atenção aos usuários e familiares, o publico alvo [sic] é: jovens, crianças, adultos, idosos, comunidades e familiares dos
usuários, sendo que além de atender a esse público, as ações oferecidas por este profissional também se estendem
para
educação, assistência social, conselho tutelar, judiciário, as equipes do Programa Saúde da Família (PSF) e do Núcleo de
Apoio a Saúde da Família (NASF), estagiários ou cursos de extensão que executam atividades na Atenção
Básica a Saúde.


— (CONSELHO..., 2010 apud BARRETO et al., 2016, p. 234)

Concepção de atuação e saúde

É apontado como crucial para a atuação do psicólogo conselheiro, no contexto da saúde mental, que ele se
aproprie da concepção de saúde e de doença como determinadas por questões sociais. Modelos a-históricos
e
descontextualizados de formação de subjetividades não auxiliam o trabalho com a saúde mental no âmbito da
saúde pública (BARRETO et al., 2016; SCORSOLINI-COMIN, 2015).
Fonte: Shutterstock.

Aconselhamento psicológico: contextos de atuação

No contexto de "delimitação" do papel e da atuação dos profissinais de saúde, veja a relevante definição de clínica
ampliada dada pelo Ministério da Saúde:

“[A Clínica Ampliada] busca integrar várias abordagens para possibilitar um manejo eficaz da complexidade do trabalho em
saúde, que é necessariamente transdisciplinar e, portanto, multiprofissional. Trata-se de colocar em discussão
justamente
a fragmentação do processo de trabalho e, por isso, é necessário criar um contexto favorável para que se possa falar
destes sentimentos em relação aos temas e às atividades não-restritas à doença ou ao núcleo profissional.


— (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009, p. 14)

De acordo com Scorsolini-Comin (2014), o aconselhamento psicológico, no contexto da clínica ampliada, pode ser
considerado preventivo, pois sua prática permite o encaminhamento para outros serviços, de acordo com a
demanda do atendimento.

Desse modo, o aconselhamento seria uma possibilidade dentro da clínica, mais ampla, estando a serviço da
psicoterapia para encaminhar a ela os casos que demandam uma atenção mais específica, aprofundada e a longo
prazo, bem como
encaminhar a serviços de atenção especializados os casos que tratem de demandas que não
sejam abarcadas pelo aconselhamento.

Aconselhamento psicológico: educação e saúde

O aconselhamento psicológico desde sempre esteve numa área limítrofe entre os fazeres da saúde e da educação.
O nascimento e o fortalecimento da área, no Brasil especificamente, está ligado ao aconselhamento profissional.

Por se localizar nesse limite, atende as mais diversas demandas de ambas as áreas, procedendo aos
encaminhamentos que julgar necessários.

O psicólogo, nesse sentido, funcionaria como um facilitador que oferece um tempo e um espaço nos quais a
elaboração da experiência ocorre por meio da escuta e do diálogo.

Aconselhamento psicológico: o social

De acordo com Scorsolini-Comin (2015, p. 138): 

“Os estudos internacionais enfatizam a justiça social e a competência multicultural como características dos processos de
aconselhamento psicológico, destacando que a sua prática está mais aberta à consideração dos aspectos culturais
do
cliente e do grupo no qual está inserido. A chamada competência multicultural (Sehgal et al., 2011), ou seja, a capacidade
para atuar com minorias étnicas e raciais é uma ferramenta que deve perpassar toda atividade clínica.

Ainda segundo o mesmo autor, os estudos brasileiros que abordam o aconselhamento psicológico referem que

essa prática é desenvolvida essencialmente em serviços-escola de universidades, com destaque para a USP,
pioneira
na área. Ou seja, há todo um campo de atuação social a ser conquistado e construído pelos psicólogos
que desejam atuar nessa área.

Fonte: Shutterstock.

A prática do aconselhamento psicológico é considerada de fronteira, "justamente por se constituir entre o modelo
médico e a educação e por 'ser capaz de acolher, num primeiro momento, a ação de vários e diferentes
profissionais
tais como educadores, psicólogos, assistentes sociais, religiosos, entre outros, configurando-se como
área multiprofissional'" (SCORSOLINI-COMIN, 2014, p. 12).

Aconselhamento psicológico: o contexto forense

Segundo Sigler et al. (2011, p. 179):

“O psicólogo, junto a [...] pessoas atendidas pelo Poder Judiciário, pode escutá-las como sujeitos, desconstruindo lugares
marcados socialmente, tais como os lugares de adolescente infrator, perigoso, marginal, vítima da sociedade,
lugar de mãe
ou pai negligente, abusador, lugar de criança incapaz, abusada, difícil.


Lembre-se de que o aconselhamento psicológico é uma relação de ajuda destinada às pessoas com o
objetivo de ajustá-las ao próprio ambiente e promover a aprendizagem, podendo ser empregado para
auxiliá-las em diferentes
contextos, como o emocional, o profissional e o educacional, etc.

Aconselhamento psicológico: o contexto organizacional

Historicamente, uma das modalidades do aconselhamento psicológico que mais se consolidou foi a de orientação
profissional destinada a jovens com dúvidas quanto à escolha de profissão.

Atualmente, esta modalidade de aconselhamento pode ser oferecida também a profissionais que buscam
recolocação, bem como àqueles que estão no momento da preparação para a aposentadoria.

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